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terça-feira, agosto 27, 2013

As opções durante uma reconversão

Quando penso em reconversão económica em Portugal identifico 2 momentos:
  • a reconversão das empresas que operam no sector transaccionável da economia e que ocorreu sobretudo com o fim das barreiras comerciais entre a China e o resto do mundo; e
  • a reconversão das empresas que operam no sector não-transaccionável da economia e que começou com a entrada da troika no país.
Concentremos-nos primeiro no sector transaccionável.
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Em 2006 o pensamento dominante sugeria a redução de salários como a solução fundamental para voltar a pôr a economia do sector de bens transaccionáveis num rumo de retoma.
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Por exemplo, o FMI afirmava:
"o aumento da competitividade, através da redução dos salários, é a melhor forma de estimular o crescimento, a curto prazo." 
 Por exemplo, João DuqueVítor BentoFerraz da CostaFerreira do AmaralDaniel Amaral,Teixeira dos Santos e o jogo do gato e do rato, todos associaram o aumento da competitividade nas exportações à redução de salários, para reduzir os custos. Todos eles, quando pensam no aumento da produtividade, cometem o erro de assumir que se mantém constante o valor do que se produz e que basta aumentar a eficiência para se chegar lá:
Decididamente não percebem a diferença que existe:

Recordo sempre este postal de 2006, "Redução dos salários em Portugal", acerca dos jogadores de bilhar amador que recomendam a descida dos salários como a próxima jogada e se esquecem das jogadas seguintes que os outros jogadores podem desencadear. Como se estes comentadores, professores... em suma a tríade, não percebesse as lições 1 e 4 da "Teoria dos Jogos":
"Lesson #1: Do not play a strictly dominated strategy
...
Lesson #4: Put yourself in others' shoes and try to figure out what they will do"
Voltemos a 2001, e coloquemos-nos na posição de um decisor que está prever o problema chinês e a equacionar quais as avenidas de actuação para o futuro. Há um esquema de 2006 que pode ser útil, "Faz sentido continuar a apostar num negócio?":
O decisor haveria de concluir que iria viver uma situação em que a sua empresa seria uma formiga num piquenique, incapaz de competir num mercado e com uma estratégia que daria vantagem competitiva a outros. Assim, teria de chegar à conclusão de que teria de fazer com que a sua empresa migrasse para uma outra situação competitiva onde pudesse ter uma hipótese de futuro.
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Usemos o esquema da figura para perceber as opções que se colocaram às empresas do sector de bens transaccionáveis, após a entrada da China no jogo:
Em que quadrante situar a empresa portuguesa típica e a empresa chinesa típica?
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Esta reflexão de Maio de 2010, "O choque chinês num país de moeda forte (parte II)", descreve, recorrendo ao exemplo do sector do calçado, o que aconteceu e as opções que as empresas tinham.
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O pensamento dominante, como analisa a situação numa perspectiva estática, nem equaciona movimentos no eixo das ordenadas, só admite variações no eixo das abcissas. Como, quer a empresa portuguesa-típica, quer a empresa chinesa típica, estavam no mesmo quadrante, o quadrante A:

A empresa portuguesa típica não tem qualquer hipótese de sobreviver a lutar de igual para igual, num confronto directo, com os seus concorrentes chineses.
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Assim, a reconversão das empresas que sobreviveram e das que prosperaram, passou por fugir do quadrante A. Evoluindo para estratégias associadas a entregas rápidas, a diferenciação, a marca própria, a flexibilidade, a customização, a inovação, a proximidade, a design, a autenticidade, a co-criação, a co-produção.
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Qual o impacte de uma eventual redução de salários na capacidade competitiva das empresas para fazerem frente ao chineses no quadrante A?
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Irrelevante, a competir com os mesmos produtos, o modelo de negócio é muito mais favorável aos chineses.
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Continua com: e as opções durante a reconversão no sector não-transaccionável?

sexta-feira, junho 21, 2013

"podem não ser sustentáveis"

A propósito do artigo publicado no JdN de ontem, "Estratégia de desvalorização interna é cada vez mais questionada", reforço a minha opinião de que, neste ponto, o FMI anda há vários anos a apanhar bonés.
"o FMI considera que o ajustamento será muito lento caso não ocorram "mudanças induzidas por políticas que facilitem quedas nominais de salários" e defende que "mais ajustamentos salariais poderão ser precisos para melhorar a competitividade." 
O artigo termina com um subtítulo interessante "E se a desvalorização prejudicar a produtividade"?
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Parece esquisito? Não, basta recordar a adição das desvalorizações cambiais...
"Utilizando um modelo relativamente simples para a economia portuguesa, Elsa Vaz (Universidade de Évora) e Paula Fontoura (ISEG) simulam um corte salarial de 14% no sector privado em Portugal e chegam a impactes positivos na produção, emprego e exportações em todos os sectores da economia, com excepção dos sectores assentes em investigação e desenvolvimento.
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(Moi ici: Tomar nota da rodada seguinte) Contudo, há um reverso da medalha: a médio e longo prazo os impactes da desvalorização interna podem não ser sustentáveis. Não só a economia privilegia sectores não tecnológicos como a produtividade baixa, com as empresas a não traduzirem o aumento de emprego em aumentos equivalentes de produção." (Moi ici: Recordo logo a sucessão de rodadas de 2006)

sexta-feira, abril 05, 2013

Outra vez a fungibilidade, agora com paineleiros e salário mínimo

Já sabem o que penso sobre salários e custos laborais versus exportações.
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Este blogue há anos e anos que defende que não temos futuro a competir no mercado internacional pelo preço mais baixo, pelo custo mais baixo, ou seja com salários baixos.
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Este blogue brinca, às vezes se calhar até estupidamente, responsabilidade do seu autor que com quase 49 anos não tem, infelizmente, a capacidade de ser mais diplomata e educado, com os economistas, políticos e comentadores de painel - os famosos paineleiros da tríade - que há anos nos martelam a cabeça nos media a dizer que é preciso reduzir os custos unitários do trabalho para exportarmos mais.
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Por tudo isso, comecei a leitura do artigo com este título "Redução dos custos salariais “não é o factor chave de competitividade”" com um sentimento de concordância.
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Contudo, bastou-me ler o texto para perceber que estava em total desacordo com o autor:
"Economista Manuel Caldeira Cabral recusa que a redução de custos seja o principal factor para as empresas portuguesas ganharem competitividade. E reconhece que a proposta da UGT para subida do salário mínimo é “equilibrada”."
É outra vez a história da fungibilidade!!!!!!!!
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Faz sentido olhar para a economia portuguesa como um todo fungível?
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Não, por isso escrevo sobre 3 economias e não uma!
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Não, por isso escrevi e escrevo que baixar a TSU para ajudar os exportadores é treta! Mas, e segue-se algo que nunca nenhum político da oposição ou situação disse, baixar a TSU para ajudar as empresas que vivem do mercado interno faz todo o sentido.
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Agora imaginem o que é numa conferência intitulada “A Competitividade das Empresas e do Estado - Os Imperativos da Internacionalização e Eficiência” misturar-se:
  • salário mínimo e internacionalização;
  • salário mínimo e competitividade;
  • UGT e e economia transaccionável;
E, falar e falar de salário mínimo e exportações. E, esquecer que a maioria das empresas não exporta e vive do mercado interno...
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Há 3 economias
  • a do estado, protegida por ayatollahs e que paira como uma carraça sobre as outras duas; (lá vou ter o Mário Cortes à perna)
  • a economia dos bens não-transaccionáveis; e
  • a  economia dos bens transaccionáveis.
A economia de bens transaccionáveis nunca esteve isolada da competição internacional, já passou as passas do Algarve, já deu a volta e está muito bem (ontem mais três empresas - juro - que visitei ou falei que estão com problemas de falta de capacidade para as encomendas que têm).
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Agora, falar do salário mínimo e dizer que pode aumentar porque não é relevante para as exportações (e acredito que sim, para a grande maioria das empresas exportadoras) e não mencionar o impacte que terá para as empresas que vivem do mercado interno... é uma homogeneização enganadora... 
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Por muitos jogos que as exportadoras portuguesas ganhem a jogar andebol, isso significa pouco para a maioria que vive do mercado nacional e joga futebol.


    BTW, aquela "eficiência" em “A Competitividade das Empresas e do Estado - Os Imperativos da Internacionalização e Eficiência” encerra toda uma visão do mundo competitivo à la século XX.

    quinta-feira, março 07, 2013

    Acerca da desvalorização interna

    "27,8 euros é o preço médio por quilo exportado de t-shirts em 2011. Desde 2008, o preço médio deste item subiu 47%" 
    Também sobre o calçado, nos últimos dias, têm aparecido vários textos com números sobre o aumento dos preços praticados.
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    Entretanto, recentemente li "“Espanha, Portugal e Grécia necessitam de uma desvalorização interna de 30%”". Julgo que Hans-Werner Sinn está certo e errado ao mesmo tempo, tal como as pessoas que defendiam a redução da TSU estavam certas e erradas.
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    Defender a redução de salários e da TSU, para ajudar a exportar mais é não perceber o que tem estado a acontecer em Portugal, com a reconversão desde o embate chinês:

    É não perceber que para ter sucesso na exportação, a regra tem de ser apostar no valor e não no preço mais baixo, no final de contas, agora "somos todos alemães":
    Se me falarem em reduzir salários e a TSU para recuperar as empresas dos sectores não transaccionáveis e tornar menos arriscado a criação de emprego para o mercado interno, então, a coisa muda de figura. Afinal de contas, só 40 e pouco por cento do PIB é que está relacionado com exportações.
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    Por exemplo, no comércio, quantos postos de trabalho e empresas poderiam ter sido salvas se fosse possível negociar reduções salariais empresa a empresa?
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    A coisa também se ajusta sem essa redução salarial, demora é mais tempo.

    terça-feira, fevereiro 26, 2013

    Custos e competitividade

    “Não pensem que é pelos baixos salários que se garante a competitividade da economia”.
    Não podia estar mais de acordo como é fácil de perceber, pesquisando o assunto neste blogue.
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    O que eu não consigo vislumbrar é a coerência entre esta afirmação e o pedido insistente para o abaixamento da cotação do euro, para aumentar a competitividade da economia.
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    BTW, para muitas empresas que vivem do mercado interno, nos próximos anos, sem baixos salários não têm hipótese de sobreviver.
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    Citação retirada de "“Não pensem que é pelos baixos salários que se garante a competitividade da economia”, diz Cavaco"

    quarta-feira, janeiro 30, 2013

    Aumentar o "producer surplus", o caminho menos percorrido (parte III)

    Continuado daqui parte I e parte II (originalmente esta estava para ser a segunda parte)
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    Enqunato desenhava a parte I, o @Pauloperes chamou-me a atenção para um artigo sobre a mensagem de Clayton Christensen em Davos "Q&A: Why U.S. Companies Fail to Innovate".
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    Sublinho estas passagens:
    ""In the auto industry, Mercedes and BMW (Moi ici: Repare, a escola alemã) are integrated. They make almost everything they use. In contrast, Chrysler outsources everything. (Moi ici: Repare, a escola americana) When an innovation emerges, it’s very hard for Chrysler to respond to the opportunity, because they can do it only when a group of independently operated suppliers agrees on a common course of action. Also, most American companies look at profitability in terms of the return on capital invested, (Moi ici: Afirmação 1) which prioritizes short-term investing and outsourcing. Mercedes measures profitability by dollars per car. (Moi ici: Afirmação 2)
    ...
    American executives say they are imprisoned by the way equity analysts measure profitability, and that discourages integration and long-term thinking. Measuring profitability in terms of the return on capital invested was the right thing to do from the 1930s to 1960s, when capital was scarce. But now capital is abundant, and it doesn’t make sense to measure profitability that way. If the cost of capital is zero, investments that don’t pay off for five years look the same as those that pay off sooner. So there’s less risk in investing for the long-term." (Moi ici: Afirmação 3)
    Concordo com a afirmação 2 e desconfio da afirmação 3.
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    Vamos à afirmação 3 primeiro.
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    Para quem trabalha Clayton? Quem são os seus clientes? Quem o contrata?
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    Empresas grandes, corporações, multinacionais. Estas empresas com sede nos Estados Unidos, pelo que tenho lido, estão sentadas em cima de muito dinheiro que é seu, não precisam de dinheiro emprestado. Para estas empresas talvez a afirmação 3 seja aplicável.
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    Antes da crise do euro, os governos portugueses, de todas as cores partidárias, eram adeptos da afirmação 3. Assim, endividaram-se massivamente, para financiar grandes investimentos públicos em infraestruturas e, com isso maquilharem os números do desemprego e do PIB. Agora, essas obras estão feitas, têm de ser pagas e não geram retorno para as pagar. Pois, o custo do capital era quase zero...
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    As PMEs não estão sentadas em cima de capital e, para elas, o crédito é escasso e caro. Daí que antes da crise do euro já tivesse previsto o que iria acontecer com este esquema:
    Se o capital ia ficar mais caro, as empresas teriam de apostar em estratégias mais arriscadas, com grau de pureza mais elevado, para poderem pensar em rentabilidades mais altas. (postais de 2008 aqui e aqui)
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    Vamos à afirmação 2.
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    Aqui eu acho que Christensen acerta em cheio com jackpot e tudo!!!
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    Quando dou o exemplo do sucesso do calçado português neste texto de 2010 gosto de confrontar os retratos que os dois conjuntos de gráficos compõem.
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    O primeiro conjunto leva a pensar num cenário de desgraça:
    Menos empresas, menos trabalhadores, menos produção em quantidade, menos produtividade (medida em nº de pares produzidos por trabalhador). Este cenário poria qualquer gestor da escola americana em pânico, menos produção, menos volume, custos unitários mais altos... a solução seria fechar e deslocalizar a produção para outras paragens mais baratas.
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    O segundo conjunto, leva-nos à afirmação 2 de Christensen:
    A quantidade produzida baixa mas... a facturação sobe!
    A quantidade produzida por trabalhador baixa mas a facturação por trabalhador aumenta!
    A quantidade produzida baixa mas o preço de cada par aumenta! (Resultados de 2012)
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    Aumenta o valor reconhecido pelo cliente em cada par produzido!
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    E essa é a receita alemã!!!
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    Os economistas e políticos estão sempre a dizer que Portugal, para ser competitivo, tem de baixar os seus Custos Unitários do Trabalho (CUT), o que para eles quer dizer, os salários reais têm de baixar! E dão como exemplo o gráfico dos CUT da Alemanha, passando implicitamente a mensagem de que os salários alemães não subiram na última década.
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    Assim, o actual governo português, como outros o fizeram, ou pelo menos pensaram (com a velha guerra do gato vs rato) no passado, anda nesse campeonato da redução dos custos salariais, através do corte de feriados e do corte da remuneração do trabalho extraordinário, entre outras coisas. Recordar o irónico postal recente "Agora imaginem..."
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    O que estes economistas e políticos não vêem, ou não querem ver é a formula de cálculo dos custos unitários (além de que nem reparam que estão a comparar velocidades de evolução e não valores absolutos). Com a fórmula 1, por exemplo:
    Se os meus custos do trabalho (numerador) subirem, por causa dos salários, por exemplo, os CUT podem, ainda assim, baixar, se aumentar o valor do que se produz (denominador)
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    Baixar os CUT administrativamente, via salários, aponta para uma race-to-the-bottom e não obriga as empresas a trabalharem e a melhorarem, é a mesma treta do tempo do escudo (moeda portuguesa antes do euro), os empresários queriam sempre desvalorizações para poderem ser mais competitivos nas exportações sem qualquer esforço interno.
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    Daí que esta conversa de alemão "Christian Dreger: Estratégia de Portugal para reduzir custos do trabalho não é a melhor" não seja entendida em Portugal. No entanto, esta outra do mesmo senhor, "Portugal exporta para mercados com menor potencial de mercado e deveria direccionar as exportações para a tecnologia de ponta, acrescentou." seja perigosa porque os macacos não voam.
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    Voltando a Christensen e à afirmação 1, não creio que o problema seja da forma como se mede a rentabilidade. Essas empresas grandes, essas multinacionais estão cotadas na bolsa e, por isso, não têm tempo para ter paciência estratégica (aqui e aqui).
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    Apostar na afirmação 2 implica paciência estratégica:
    "On the other side, we have a CFO, who has been given the mandate to cut down on cuts. This is fair enough in tough times, but the problem is that the CFO and his alliance do not really know much about innovation. They cut too deep. They lose their patience. No wonder. You get immediate results by cutting costs and – if successful – you have to wait 3-7 years to see the results of innovation. If you don’t know how innovation works, this becomes a no-brainer."
    Continua.

    quinta-feira, setembro 13, 2012

    Ele que prepare uma nova rodada

    Recomendo a leitura prévia de "Redução dos salários em Portugal", escrito em Julho de 2006.
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    Depois, recordo a justificação para a redução da TSU, tantas vezes repetida desde Maio de 2011 pelos políticos e, recordada por Carlos Moedas, engenheiro civil com experiência de vida no sector imobiliário, na SICN ontem à noite: " a redução da TSU vai permitir que as empresas exportadoras ganhem quota de mercado porque poderão baixar os seus preços".
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    Portanto, Carlos Moedas vê o preço como o "order winner" para as empresas portuguesas exportadoras, podia ao menos tentar perceber o exemplo do calçado.
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    Pois bem, na senda do postal de 2006, encontro isto:
    "China anuncia medidas de apoio às exportações"
    Bom, lá vai Carlos Moedas ter de voltar a estudar mais medidas para criar uma nova rodada.
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    É claro que brinco, as PMEs não competem com a China pelo preço... se bem que mais do que uma pessoa este ano já me deu exemplos de PMEs a competirem no têxtil pelo preço (não sei se cumprindo as leis todas) e a ganhar encomendas... é uma versão mexicana na Europa:
    "Made in Mexico gains ground on China"
    Quando o dinheiro está caro e não o há, pagar a 3 e 4 meses  antes de receber a mercadoria não está com nada.

    terça-feira, julho 17, 2012

    Eheheh com que então não percebem...

    Vale a pena continuar à espera?
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    Aqui "Portugal: Fourth Review Under the Extended Arrangement and Request for a Waiver of Applicability of End-June Performance Criteria—Staff Report; Press Release on the Executive Board Discussion; and Statement by the Executive Director for Portugal.", pode ler-se esta pérola:
    "46. Nevertheless, the challenges facing Portugal remain formidable, and the reform effort should not be allowed to wane. While the “flow imbalance” may be attenuating, some adjustment still lies ahead. In particular, with improvements in competitiveness indicators to date very limited, the factors behind the narrowing of the external current account deficit remain unclear. Further declines in the current account deficit could prove elusive, necessitating deeper structural reforms to improve competitiveness. More daunting still is the large “debt imbalance” faced by both the public and private sectors. The appropriate solution to this is sustainable economic growth, which is best facilitated through an enduring and comprehensive reform effort."
     Ehehe com que então não percebem...
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    Aprenderam na escola, no tempo em que a oferta era menor que a procura, que o custo, a eficiência era fundamental para ganhar dinheiro e sustentar as empresas. Por isso, não conseguem perceber que hoje, quando a procura é menor que a oferta, não basta ser eficiente e ter baixos custos, é preciso seduzir clientes oferecendo-lhes experiências diferenciadoras que não passam, necessariamente, pelo custo mais baixo.
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    O sucesso do nosso calçado, a recuperação do nosso têxtil e vestuário, o crescimento do mobiliário e maquinaria, ... tudo, eloquentes exemplos de que a "competitividade" não passa pela receita da troika.
    "48. Recent labor market reforms should help attenuate further increases in unemployment. Some of the increase in unemployment is unavoidable as domestic demand is affected by ongoing fiscal adjustment and resources shift towards the tradable sector. But the rise has also been exacerbated by long-standing labor market rigidities."
    Ás vezes penso que eles escrevem estas coisas para não nos envergonhar perante o resto mundo... ainda ontem ouvi o Dr. Alexandre Patrício Gouveia na TVI24, com o Dr. Medina Carreira, a quantificar algo que digo aqui no blog há muito tempo. Os políticos, para embelezar as estatísticas, andaram mais de 10 anos a torrar dinheiro no betão, a mascarar os números do desemprego. Segundo ele, sem a "torrefacção" de impostos em betão o nosso desemprego hoje seria cerca de 33% mais baixo. Segundo ele, só no espaço de um ano e só do sector da construção vieram 230 mil desempregados. Como é que uma legislação laboral mais flexível evitaria isto? Não estou contra a sua liberalização, estou é contra estas justificações.... é a mesma conversa da TSU.

    sábado, julho 14, 2012

    Estou à espera

    Vou esperar sentado:
    Estou curioso em ouvir as explicações de Vítor Bento, João Salgueiro, Pedro Ferraz da Costa, João Ferreira do Amaral, João Duque, Daniel Bessa, Daniel Amaral e tantos outros.
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    Há anos que defendem que as empresas portuguesas para serem mais competitivas e exportarem têm de baixar salários para reduzir custos.
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    Ainda não os ouvi explicarem a previsão de excedente comercial já em 2012 e mais robusto em 2013.
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    Gostava mesmo de ouvir a explicação...

    quinta-feira, junho 21, 2012

    Pessoas que teimam em não aprender

    Há pessoas que teimam em não aprender. Entrevista de António Saraiva, presidente da CIP, ao DE, ""Só o incremento das exportações permite conceber um futuro":
    "“Vencer nos mercados implica, em primeiro lugar, ir à procura desses mesmos mercados, apostar neles, aproveitar as oportunidades que encerram. Este é um esforço que, visivelmente, as nossas empresas estão a fazer. Mas o sucesso implica também maior competitividade, adequando a evolução dos custos aos ganhos na produtividade. No curto prazo, a contenção de custos é incontornável. Por isso a nossa insistência na redução da taxa social única, …”
    Como se o preço mais baixo fosse o modelo mais recomendado para o aumento das exportações portuguesas...
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    Cá vai um exemplo dos nossos vizinhos ibéricos, "Las exportaciones textiles suben en abril y recortan un 44% el déficit exterior":
    "En lo que va de año, textil, confección y calzado acumulan aumentos de sus exportaciones del 7,6%, del 10,6% y del 2,1%, respectivamente."
     Como é que os custos espanhóis se comparam com os custos portugueses?
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    Não são os custos... para custos, existe a China, a Malásia, o Bangladesh, o Paquistão, ... é a diferença.
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    Um extremo "El lujo español crecerá un 14% en 2012 por el turismo y las exportaciones"

    domingo, junho 10, 2012

    Alternativas ao desemprego

    Lembram-se do sr. Marçalo?
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    O sr. Marçalo era António Borges disfarçado!!!
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    Agora, temos novamente António Borges disfarçado, desta vez desdobrou-se em três e escreveu um artigo publicado pelo BdP "Wage rigidity and employment adjustment at the fi rm level: Evidence from survey data ".
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    O Público escreve sobre o artigo "Mais de 70% das empresas preferem despedir quanto têm de cortar despesas com pessoal". CUIDADO!!!
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    Cuidado com a leitura do Público...

    1. reparem no título "Mais de 70% das empresas preferem despedir quando têm de cortar despesas com pessoal" - qual a percentagem de empresas que tem à sua disposição outras formas alternativas de cortar as despesas com pessoal? (recordem o caso concreto do sr. Marçalo perante uma redução da facturação em 50% e o aumento das taxas e impostos)
    2. cuidado com o lead do texto. Especulo que o texto inicial tinha caracteres a mais, depois, perante a necessidade de cortar a coisa ficou sem sentido:
    "Quando se vêem a braços com a necessidade de cortar nas despesas com pessoal, 72% das empresas portuguesas optam por despedir trabalhadores. É esta a principal conclusão de um relatório divulgado pelo Banco de Portugal (BdP), que indica que, ainda assim, estas estratégias para diminuir os custos do trabalho têm um impacto positivo no emprego."
    O que os autores estudam são várias alternativas que uma empresa pode usar quando tem de reduzir as despesas com pessoal:
    • despedir;
    • cortar na componente variável das remunerações, nomeadamente nos bónus e nos benefícios concedidos aos trabalhadores, e o congelamento das promoções na carreira;
    • ontratar pessoal com salários mais baixos, quando têm de substituir trabalhadores que estejam de saída;
    • congelar as actualizações salariais que estão previstas anualmente;
    • o estudo não fala na redução de salários proposta por António Borges porque não é legal, mas essa seria mais uma alternativa ao despedimento.
    Conclusão do estudo:
    "O relatório do BdP, da responsabilidade de três investigadores, conclui que a adopção deste tipo de estratégias acaba por ter um impacto positivo no emprego. De acordo com o estudo, a probabilidade de uma empresa que corta benefícios e congela actualizações optar por despedir trabalhadores é menor, em 38 pontos percentuais, do que a de uma empresa que não toma estas medidas"
    Recordo a minha posição: faz sentido ter disponível a alavanca da redução de salários para salvar empresas e emprego que viviam de um mercado interno sobre-dimensionado numa situação de sobrevivência. Agora pensar que a redução de salários é importante para ganhar mercados na exportação é delirar e esquecer a realidade dos números:
    A única via que interessa é a da aposta no campeonato do valor.

    quinta-feira, junho 07, 2012

    Esqueçam a competitividade!

    Esqueçam a competitividade!
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    Quando a alternativa é o desemprego, quando a alternativa é a sobrevivência da empresa o resultado é este:
    "De un total de 622 trabajadores, 530 emitieron su voto en relación a la reducción de salarios. Según un comunicado de UGT, 362 empleados votaron a favor del preacuerdo, 49 en contra, 18 en blanco y uno nulo."
    Quando o mundo muda, uma opção é criticar a gerência por não ter sabido preparar a empresa para os novos tempos. Outra, é a de arregaçar as mangas, arranjar um ponto de apoio de onde se possa respirar e preparar uma nova versão de empresa.
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    Muitas vezes a redução de salário não resolve nada, é mesmo preciso cortar postos de trabalho e, evitá-lo é pôr em risco todos os outros que podem ser salvos e ter futuro. (ADENDA: Desde o início do ano a empresa já cortou 244 postos de trabalho)
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    A minha mensagem é: Não há ismos que nos valham, não há receitas genéricas para empresas e pessoas concretas, cada caso é um caso.
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    Trecho retirado de "Los trabajadores de Adolfo Domínguez votan a favor de recortes salariales para evitar despidos"

    quarta-feira, junho 06, 2012

    Os modelos mentais da tríade estão obsoletos

    Realmente notável o dinamismo dos empresários têxteis portugueses:
    "Apesar do arrefecimento da economia europeia – seu principal mercado – e, em especial, da quebra verificada na economia espanhola – seu mais importante comprador -, o Sector Têxtil e Vestuário conseguiu ainda crescer 1% face ao 1.º trimestre de 2011, em que o crescimento foi de 12,8% por comparação com o 1º trimestre de 2010. Atingir 1.045 milhões de euros de exportações no trimestre, nas actuais circunstâncias, em que há uma forte restrição no financiamento às empresas e a economia europeia evidencia um significativo arrefecimento, é um bom resultado e permite acalentar a expectativa de que o Sector, à semelhança do ano anterior, supere os 4 mil milhões de euros de exportações em 2012."
    ...
    "Destaque mais relevante para o crescimento das exportações, no primeiro trimestre, dos seguintes produtos:
    - Tecidos impregnados, revestidos, recobertos ou estratificados; artigos para usos técnicos de matérias têxteis: +21%
    - Filamentos sintéticos ou artificiais: +19%
    - Vestuário e acessórios não malha: +12%
    - Artigos de lã: +12%
    - Tapetes e outros revestimentos: +11%"
    Trechos retirados daqui.
    .
    Entretanto:
    Entretanto, este especialista sobre competitividade, com uma vida inteira dedicada ao tema na indústria, faz-se ao piso para uma redução de salários:
    “o problema é que desde a primeira hora muitas pessoas levantaram o problema da necessidade de uma política que favorecesse o crescimento, mas não pode ser através da despesa pública”
    Será que acredita que se os salários baixarem a empresa de construção pode começar a dedicar-se a produzir e exportar tapetes? Ou socas?

    Entretanto, Espanha, com salários mais altos e com um trajecto mais percorrido na área do design, moda, marca e distribuição:
    "Las exportaciones textiles españolas escalaron un 8,8% interanual de enero a marzo" (BTW, com preços a subir 1,4%)
    Ouvi, na semana passada no Centro Tecnológico do Calçado, voz com autoridade dizer qualquer coisa como:
    .
    "Mesmo com crise, há muito por onde crescer na Europa"

    Pois bem... aqui vai um facto que os espanhóis demonstram: "Italia desbanca a Portugal como el segundo mercado de la moda española"

    terça-feira, junho 05, 2012

    Aleluia!

    Aleluia!
    .
    Até que enfim que começo a encontrar quem tenha coragem de dizer o que se passa com o desemprego em Portugal.
    "E se o desemprego for o sinal da cura e não da doença da economia portuguesa?
    Há meses que recomendo a quem fala sobre o desemprego a fazer o drill-down dos números, a perceber de onde vem o desemprego, de que sectores, e onde está a ocorrer.
    "O que este desemprego quer dizer é que a economia portuguesa está a mudar. Está a mudar do sector da construção e dos serviços de baixo valor acrescentado para a indústria, para o que se exporta e para os serviços de valor mais elevado. E com esta mudança muitos vão ficar sem lugar no mercado de trabalho português. O que pode fazer o Estado? Muito pouco além de oferecer formação a quem quiser mudar de profissão."
    Basta recordar:

    "a receita da 'troika' para a consolidação das contas públicas portuguesas não teve em conta a estrutura produtiva do país, constituída essencialmente por pequenas e médias empresas que, muitas delas, poderão não sobreviver às dificuldades económicas que estão a enfrentar."
    Esquece-se de estudar que empresas, de que sectores, é que estão a fechar a um ritmo "anormal". Em que é que:
     "um tratamento mais lento, mais pausado, para não matarmos o doente com o tratamento, em vez de o deixarmos morrer pela doença""
     ajudaria?
    .
    Está a propor, por exemplo, ir matando mais devagarinho as empresas de construção? Mais rotundas, mais betão, para que a transição se faça mais lentamente? Essa experiência foi feita entre 2001 e 2011 e só piorou as coisas.

    BTW, sabem o que penso da receita "redução de salários para aumentar a competitividade", já escrevi muito sobre o tema aqui no blogue. Quando há dias António Borges foi criticado por dizer que a redução de salários é uma medida de urgência, julgo que não usou a melhor palavra. Para muitas empresas que operam e vivem do mercado interno, a redução da massa salarial (via corte de postos de trabalho ou de salários) é uma questão de sobrevivência.
    .
    Dizer que a redução de salários é necessária para exportar é uma parvoíce de quem não está no terreno e não sabe como se seduzem clientes sem ser pelo preço (As empresas exportadoras fizeram essa aprendizagem nos últimos 15 anos). Contudo, para empresas que operam e dependem do mercado interno e que viram o seu mercado cair 40% num ano... se não for com corte da massa salarial como será? O corte não é para competir melhor, o corte é para sobreviver!

    terça-feira, abril 24, 2012

    EUA um país de mão-de-obra barata

    1.A maioria dos clientes (B2B) que regressaram da China desde 2006, para voltar a trabalhar com empresas portuguesas, fizeram-no por causa da rapidez, da flexibilidade, da proximidade da produção com o consumo (parte I e parte III).
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    2.Depois de 2009, com a dificuldade em aceder a crédito, outro grupo de clientes regressou porque não tinham de avançar com o pagamento à cabeça meses antes da hipotética venda.
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    3.Agora, com o acumular dos aumentos salariais na China, está em curso uma  nova maré de regressos, os que regressam porque o preço de produzir na China, mais o preço do transporte, já não é vantajoso face ao preço de produzir em Portugal.
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    Algo que no último ano tenho referido aqui no blogue com algum espanto é o do regresso da produção industrial aos estados do Sul dos Estados Unidos, não por causa dos motivos 1 e 2 mas por causa do motivo 3.
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    Aqui está um estudo que vai nessa direcção "Research shows the US is a low wage country" ... talvez porque o mercado norte-americano seja menos requintado e diversificado que o europeu, parece não haver massa crítica para o motivo 1.



    domingo, abril 15, 2012

    A história do mundo económico nos últimos 30 anos em dois parágrafos


    " First, outsourcing that is based only on labor costs is yesterday’s model."
    ...
    "In today’s economy, you can’t just compete on cost in a lot of businesses and ask “Where is the market? What is our superior customer-value proposition?”"
    Eu tento não ser anjinho, é claro que são palavras de alguém que vive também suportado pelos estímulos e apoios estaduais e federais. No entanto, são um pequeno sintoma da mudança em curso por todo o lado.
    .
    A história do mundo económico nos últimos 30 anos em dois parágrafos:
    "About 30 years ago, as the business became less profitable, GE began moving manufacturing out of Appliance Park to low-cost countries in a combination of joint ventures and outsourcing. The decision was relatively simple. We had strong brand recognition and customer loyalty—two things we believed would continue whether our products said “made in Kentucky” or “made in Korea.” We reasoned that if we could lower our costs enough, we would quickly reverse the slide in profitability. We weren’t alone: Many other businesses saw outsourcing in emerging markets as a solution.
    But for our appliances business, emerging markets eventually offered something else: competition from former suppliers of whole products, particularly in Asia. As these competitors improved their lines and lowered their prices, even customers who had grown up with and knew only GE refrigerators and dryers began to explore alternatives. Other forces were at play as well. Shipping and materials costs were rising; wages were increasing in China and elsewhere; and we didn’t have control of the supply chain. The currencies of emerging markets added complexity. Finally, core competency was an issue. Engineering and manufacturing are hands-on and iterative, and our most innovative appliance-design work is done in the United States. At a time when speed to market is everything, separating design and development from manufacturing didn’t make sense."
    Trechos retirados de "The CEO of General Electric on Sparking an American Manufacturing Renewal"

    Pedido de ajuda

    A propósito deste título "Carlos Costa: flexibilidade dos salários está a reforçar competitividade externa", gostava de pedir a ajuda a quem passa por este espaço.
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    Conseguem identificar um caso em que uma empresa tenha aumentado as suas exportações à custa de "flexibilidade táctica salarial"?
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    Se conhecerem algum caso agradecia que o listassem nos comentários, mesmo sem nomear a empresa, basta referir o sector.
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    Obrigado.

    sábado, abril 14, 2012

    Justo, injusto, who cares, é a vida!

    Ontem estive em Braga.
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    Ao circular por uma das suas muitas rotundas, deparo com uma senhora de idade a cuidar do jardim no centro da rotunda, depois, verifico que está uma carrinha de caixa aberta com equipamento de jardinagem estacionada na faixa exterior da referida rotunda. E, sou surpreendido por um senhor de idade avançada, pelo menos pelo aspecto, a retirar materiais de dentro da carrinha.
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    Já passei a rotunda, dentro de um táxi, mas a minha mente continua lá...
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    Aquele casal tinha idade para estar reformado... será que constituem um casal de empreendedores que, com a sua empresa, prestam serviços à câmara de Braga? Será que a sua empresa é subcontratada por uma outra empresa que tem um contrato com a câmara de Braga? Será que são funcionários de uma destas empresas?
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    Imaginem que são reformados e que recebem a sua reforma ou pensão. Depois, recebem dois salários por este serviço...
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    Se calhar é, também assim que os salários da economia que vive do mercado interno baixam. Um fluxo interminável de gente que se reforma, no público e no privado, por volta dos cinquenta e muitos e sessenta e poucos, com boa constituição física e de saúde, e que entra no mercado de trabalho para compor a sua reforma. Com uma reforma garantida, é mais fácil arriscar e ser empreendedor, é mais fácil aceitar um salário baixo, ou o trabalho a meio-tempo, ou o trabalho temporário.
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    Quem não está reformado e precisa de um salário "normal" não consegue competir...
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    Justo, injusto, who cares, é a vida!

    quinta-feira, abril 12, 2012

    "Essas empresas não prestam"

    Aqui no blogue procuro pregar o Evangelho do Valor, promovendo, exortando, desafiando as empresas a subirem na escala do valor.
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    Aqui no blogue critico quem defende a redução salarial como a solução, os adeptos do jogo do "agarra-o-porco", para ajudar as empresas portuguesas a adquirirem uma vantagem competitiva com base no preço. Pode ser útil, pontualmente, para uma empresa em particular mas não funciona para o todo. Quem propõe isso não conhece os números dos outros países:
    Aqui no blogue já expliquei várias vezes a treta da conversa sobre a desvalorização salarial alemã, confundem salários nominais com custos unitários do trabalho.
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    Aqui no blogue já me insurgi muitas vezes contra os subsídios e apoios que o Estado dá para salvar empresas que o mercado resolve não sustentar.
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    Aqui no blogue sou tão crítico sobre a proposta de valor baseada no preço que, às vezes, tenho de sublinhar que o negócio do preço também é honesto e respeitável, ele não é para quem quer mas para quem pode.
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    O que nunca fiz aqui no blogue foi dizer que uma empresa não presta!!!
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    Se o mercado sustenta uma empresa que eu interiormente qualifico como "sem interesse" ou "sem préstimo", assumo a minha pequenez e calo-me. É muito fácil a quem está de fora, a quem comenta da bancada, a quem não se atravessa, a quem não queima pestanas para pagar a trabalhadores, mandar postas de pescada. Há tantos exemplos de empresas que parecem 5 estrelas e que não duram 5 anos, e de empresas de zero estrelas e que ao fim de 10 anos ainda cá andam sem roubar a ninguém.
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    Assim, foi com espanto, que descobri esta intervenção de José Reis, esse desventura sousa santos da economia, e me lembrei de uma frase de Camilo Lourenço esta semana "aprendizes de feiticeiro, com um diploma de economia e que dizem alarvidades".
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     A propósito de "José Reis: "Empresas que pagam 400 euros não prestam"":
    "o professor de Economia frisou que "não há empresas competitivas a pagar 400 euros" de salário aos trabalhadores.
    "Essas empresas não prestam. Nem se vão tornar competitivas a pagar 200 euros", acrescentou durante o mesmo debate, uma organização conjunta do Instituto da Defesa Nacional e da Fundação Eng. António de Almeida."
    Pena, muita pena! O país perde muito, porque o génio de gestão de José Reis ficou dentro da garrafa... se ele tivesse fundado umas empresas industriais, talvez hoje fosse ele o Steve Jobs...
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    Custa-me que uma empresa, com gente que não se acomodou, que não fez o mais fácil, que não aceitou o papel de funcionário, nem se tenha remetido à recolha mensal do RSI, seja tratada assim. Pena que José Reis, com o seu génio para a gestão de empresas não tenha aberto uma, para acabar com essas empresas que não prestam... se não prestam, devem ser fáceis de vergar.
    "A Alemanha fez uma desvalorização salarial fortíssima e resultou. Mas aqui não resultaria, o nível de competitividade é outro. A desvalorização salarial é o caminho para a ruína portuguesa", acrescentou José Reis."
    José Reis deve ser uma espécie de Mário Soares da Economia, estudar não é com ele, basta olhar para os gráficos...
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    O trecho que aí vem é paradigmático... ilustra como estes economistas de aviário não percebem nada da vida real, não percebem nada da competição entre empresas, eles que vomitam a palavra competitividade por tudo e por nada.
    O economista questionou ainda a sustentabilidade do aumento das exportações registado em Fevereiro, divulgado esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística. "Temos de nos interrogar como os conseguimos. Se calhar estamos a esmagar muita coisa, a começar por custos e margens, e não sei se isso é sustentável", analisou o economista."
    Portanto, para este senhor a única variável, para seduzir clientes é o preço... é um professor universitário de Coimbra e está tudo dito... "se calhar", ao menos podia pôr uns alunos a fazer uns trabalhos sobre o fenómeno, sei lá, podia procurar perceber o truque de empresas como a EFAPEL...
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    Que economistas sairão formados desta escola?

    quinta-feira, março 22, 2012

    Para macro-economistas, políticos e comentadores de coisas económicas

    Parece retirado deste blogue:
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    "Por que é que a Zara gosta tanto de Portugal?"
    " Portugal é «absolutamente estratégico» para a Inditex, dona da Zara, tanto pela «proximidade» e pela flexibilidade dos seus produtores como pela qualidade do seu produto, afirmou esta quarta-feira o responsável da empresa."
    Recordo o "activity system mapping" da Zara, recolhido de "Understanding Michael Porter" de Joan Magretta (sublinhados meus):
     O mundo do fast-fashion está aí, ainda está a crescer...
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    Lembrar esta frase:
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    "Há anos que escrevo aqui que a vantagem mais importante das nossas PMEs é a flexibilidade que a sua localização permite, muito mais importante que a flexibilidade laboral (importante sem dúvida nos momentos maus). A proximidade tem o potencial de gerar relação, gerar troca, gerar conhecimento sobre o outro, gerar cooperação, gerar parceria."