sexta-feira, abril 05, 2013

Outra vez a fungibilidade, agora com paineleiros e salário mínimo

Já sabem o que penso sobre salários e custos laborais versus exportações.
.
Este blogue há anos e anos que defende que não temos futuro a competir no mercado internacional pelo preço mais baixo, pelo custo mais baixo, ou seja com salários baixos.
.
Este blogue brinca, às vezes se calhar até estupidamente, responsabilidade do seu autor que com quase 49 anos não tem, infelizmente, a capacidade de ser mais diplomata e educado, com os economistas, políticos e comentadores de painel - os famosos paineleiros da tríade - que há anos nos martelam a cabeça nos media a dizer que é preciso reduzir os custos unitários do trabalho para exportarmos mais.
.
Por tudo isso, comecei a leitura do artigo com este título "Redução dos custos salariais “não é o factor chave de competitividade”" com um sentimento de concordância.
.
Contudo, bastou-me ler o texto para perceber que estava em total desacordo com o autor:
"Economista Manuel Caldeira Cabral recusa que a redução de custos seja o principal factor para as empresas portuguesas ganharem competitividade. E reconhece que a proposta da UGT para subida do salário mínimo é “equilibrada”."
É outra vez a história da fungibilidade!!!!!!!!
.
.
.
Faz sentido olhar para a economia portuguesa como um todo fungível?
.
Não, por isso escrevo sobre 3 economias e não uma!
.
Não, por isso escrevi e escrevo que baixar a TSU para ajudar os exportadores é treta! Mas, e segue-se algo que nunca nenhum político da oposição ou situação disse, baixar a TSU para ajudar as empresas que vivem do mercado interno faz todo o sentido.
.
Agora imaginem o que é numa conferência intitulada “A Competitividade das Empresas e do Estado - Os Imperativos da Internacionalização e Eficiência” misturar-se:
  • salário mínimo e internacionalização;
  • salário mínimo e competitividade;
  • UGT e e economia transaccionável;
E, falar e falar de salário mínimo e exportações. E, esquecer que a maioria das empresas não exporta e vive do mercado interno...
.
Há 3 economias
  • a do estado, protegida por ayatollahs e que paira como uma carraça sobre as outras duas; (lá vou ter o Mário Cortes à perna)
  • a economia dos bens não-transaccionáveis; e
  • a  economia dos bens transaccionáveis.
A economia de bens transaccionáveis nunca esteve isolada da competição internacional, já passou as passas do Algarve, já deu a volta e está muito bem (ontem mais três empresas - juro - que visitei ou falei que estão com problemas de falta de capacidade para as encomendas que têm).
.
Agora, falar do salário mínimo e dizer que pode aumentar porque não é relevante para as exportações (e acredito que sim, para a grande maioria das empresas exportadoras) e não mencionar o impacte que terá para as empresas que vivem do mercado interno... é uma homogeneização enganadora... 
.
Por muitos jogos que as exportadoras portuguesas ganhem a jogar andebol, isso significa pouco para a maioria que vive do mercado nacional e joga futebol.


    BTW, aquela "eficiência" em “A Competitividade das Empresas e do Estado - Os Imperativos da Internacionalização e Eficiência” encerra toda uma visão do mundo competitivo à la século XX.

    5 comentários:

    Carlos Albuquerque disse...

    Seja coerente. As carraças devem ser removidas. Todas. Deixe as duas economias a funcionar. Sem estado nenhum.

    Este tipo de pensamento neoliberal é tão realista como a sociedade comunista sem classes. E é uma utopia tão perigosa como o comunismo. E não é por acaso que muitos ex-MRPP são agora defensores de tal tipo de pensamento.

    Tanta falta de coerência e de cultura política e histórica.

    CCz disse...

    eheheh Mário Cortes... tão previsível!

    Carlos Albuquerque disse...

    A previsibilidade não altera a sua incapacidade de argumentar. Limita-se a insultar. E contudo se tiver um acidente, vai ser tratado pelas carraças. E são carraças que lhe asseguram a segurança.

    Há muitos anos não havia estado, havia sim senhores feudais. E foi precisamente para acabar com os privilégios do tipo medieval que se desenvolveram os estados democráticos modernos. O poder do estado é controlado (ainda que com muita imperfeição) pelos cidadãos. E num estado democrático moderno as pessoas devem valer por si, não pelo seu poder económico.

    Mas o que defendem os atacantes irracionais do estado? A supressão do estado. Como o poder nunca ficou vazio, a supressão do estado não resulta em mais liberdade mas sim na transferência de poder para senhores escondidos. Que aliás são quem em Portugal já controla muito do estado a partir de fora.

    Aliás o absurdo ficou patente naquele post mais abaixo sobre os EUA: tirar o estado da saúde ou da segurança social não é dar liberdade a ninguém a não ser aos novos donos: os bancos, claro. Depois vem dizer que não gosta dos bancos? Não vê que são os bancos quem vai ficar com a saúde (quem controla os grupos de saúde privados em Portugal?) e com os seguros todos? E julga que no fim haverá para os pequenos mais espaço do que o que convier a estes senhores? Não vê que as PMEs já pagam as estradas, a energia e as telecomunicações aos grandes e mais pagarão? Com ou sem estado?

    Tirar o poder da democracia para o entregar a uma oligarquia muito restrita pode ser cool em certos meios, mas é um enorme retrocesso civilizacional.

    CCz disse...

    http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/2323363.html

    Carlos Albuquerque disse...

    Confunde toda a administração pública com as empresas públicas? Não sabe que as empresas públicas não têm as regras com que os serviços do estado se regem?

    Nunca reparou que os negócios mais ruinosos para o estado foram feitos transferindo para empresas públicas competências que eram dos serviços do estado? Porque é que julga que apareceram a Estradas de Portugal, EP ou a Parque Escolar EP?