sábado, abril 14, 2012

Justo, injusto, who cares, é a vida!

Ontem estive em Braga.
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Ao circular por uma das suas muitas rotundas, deparo com uma senhora de idade a cuidar do jardim no centro da rotunda, depois, verifico que está uma carrinha de caixa aberta com equipamento de jardinagem estacionada na faixa exterior da referida rotunda. E, sou surpreendido por um senhor de idade avançada, pelo menos pelo aspecto, a retirar materiais de dentro da carrinha.
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Já passei a rotunda, dentro de um táxi, mas a minha mente continua lá...
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Aquele casal tinha idade para estar reformado... será que constituem um casal de empreendedores que, com a sua empresa, prestam serviços à câmara de Braga? Será que a sua empresa é subcontratada por uma outra empresa que tem um contrato com a câmara de Braga? Será que são funcionários de uma destas empresas?
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Imaginem que são reformados e que recebem a sua reforma ou pensão. Depois, recebem dois salários por este serviço...
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Se calhar é, também assim que os salários da economia que vive do mercado interno baixam. Um fluxo interminável de gente que se reforma, no público e no privado, por volta dos cinquenta e muitos e sessenta e poucos, com boa constituição física e de saúde, e que entra no mercado de trabalho para compor a sua reforma. Com uma reforma garantida, é mais fácil arriscar e ser empreendedor, é mais fácil aceitar um salário baixo, ou o trabalho a meio-tempo, ou o trabalho temporário.
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Quem não está reformado e precisa de um salário "normal" não consegue competir...
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Justo, injusto, who cares, é a vida!

6 comentários:

lookingforjohn disse...

Saber se é justo ou injusto é missão difícil... (implica conjugar a moral, a ética, e a lei, e saber de todos estes bastante.)
No entanto, em termos mais terrenos, pode perceber-se que custe muito, p.e. a um recém-licenciado que procura uma primeira oportunidade, saber que muito do trabalho na sua área de competências é assegurado por pessoas que o acumulam com pensões do Estado.

Carlos Albuquerque disse...

Não é só uma reforma garantida que torna mais fácil arriscar e ser empreendedor, aceitar um salário baixo, ou o trabalho a meio-tempo, ou o trabalho temporário. Qualquer outro rendimento desempenha um papel semelhante.

Não será verdade que quem tem outras seguranças económicas pode muito mais facilmente arriscar e falhar e aprender pelo caminho do que quem ao primeiro falhanço fica sem capacidade para voltar a tentar?

Por outro lado a existência de pessoas que precisam de complementar o rendimento é sempre uma forma de baixar salários. Os países pobres podem oferecer mão-de-obra mais barata e com isso baixam os salários. O mesmo acontece com os pobres do país.

E se quisermos abordar a justiça na economia será que podemos limitar-nos à concorrência entre quem oferece o seu trabalho?

CCz disse...

Concordo com tudo o que escreveu até ao último parágrafo.
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Quase não passa uma semana em que não penso ou uso a frase que aprendi com Guterres "É a vida!" Ou seja, querer fazer, ou pensar em justiça na economia é, perigoso.
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Quem quiser fazer justiça tem que usar o seu critério pessoal ou de grupo sobre o que é justiça. E o que é justiça para uns é injustiça para outros. Depois, o jogo das compensações... até tudo ficar encasinado.
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É a vida! Uma empresa pode ter feito tudo certinho e direitinho, by the book, como a Toshiba (?) e pôr cá fora o ultimate VCR, uma maravilha da tecnologia... e, na mesma feira em que o apresentou... alguém aparece com o DVD...
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Obrigado por ter aparecido e comentado.

CCz disse...

Mas john, será que o reformado e o recém-licenciado são concorrentes directos?
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Passo-me quando oiço profissionais com 10 de experiência queixarem-se da mão-de-obra barata que todos os anos saem das universidades para lhes fazer concorrência. Pergunto-lhes logo, e não aprenderam nada nestes 10 de trabalho? Não criaram um nicho, uma experiência que possa ser usada como arma diferenciadora? Se não criaram, têm um problema, mas a culpa é vossa não dos recém-licenciados.
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Será que um recém-licenciado compete mesmo com um aposentado que faz uns extras?

lookingforjohn disse...

É um plano diferente... Eu não estou a comentar desse ponto de vista, do da teorização em termos concorrenciais. Também não estou a comentar do ponto de vista de quem já está há 10 anos.
Estou a comentar do ponto de vista do impulso e da percepção do indivíduo, que com um pensamento que lhe foi induzido e desenvolvido em torno da moderna moral democratizada, quer uma oportunidade mas vê a sua vaga, a sua possível oportunidade, preenchida por alguém que "devia" ali não estar.
Isso eu compreendo.
Aquele é o seu obstáculo. :|

P.S.: Talvez seja melhor esclarecer que, desde o primeiro comentário, estão no meu pensamento instituições públicas que recorrem a reformados, a título de prestação de serviços, para preencher horários que, de outra forma, teriam que ser preenchidos via contratação de novos funcionários (recém-licenciados ou outros).
Em linguagem corrente, uns tapam a entrada dos outros. :P

CCz disse...

"People who are poor think like traders, but the dynamics are quite different. Unlike traders, the poor are not indifferent to the differences between gaining and giving up. Their problem is that all their choices are between losses. Money that is spent on one good is the loss of another good that could have been purchased instead. For the poor, costs are losses."
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"Thinking Fast and Slow de Daniel Kahneman