terça-feira, agosto 10, 2021

Esqueçam o subsídio para compensar o custo mais elevado, trabalhem para merecer um preço mais elevado


Terminei o último postal com esta frase:
"When something is commoditized, an adjacent market becomes valuable"
No tempo de Jaime Silva e de Conceição Cristas eu escrevia aqui sobre o futuro da agricultura. Um país seco, um país pequeno, deveria apostar na agricultura de joalharia, deveria apostar na marca Portugal, deveria apostar na agricultura sustentável.

De então para cá os governos de turno têm apostado na direcção oposta, agricultura intensiva, agricultura que exige muita água, agricultura de volume elevado e margem baixa.

Oliveira, amêndoa, abacate, são alguns exemplos. Há duas semanas vi uma plantação intensiva de amendoal em Idanha-a-Nova que metia impressão, a densidade e o verde. Quanta água estará a ser gasta naquela zona? 

Claro que quem produz através da agricultura intensiva, ao externalizar os custos ambientais, consegue custos mais competitivos do que quem pratica a agricultura tradicional.

Como é que quem pratica a agricultura tradicional pode competir?

No semanário Vida Económica da passada semana encontrei este artigo "Urge criar uma “Estratégia Nacional para a Valorização do Olival Tradicional Português” escrito pelo Presidente da Direção da APPITAD – Associação de Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A certa altura pode ler-se:
"Relativamente à fileira do olival e do azeite, as preocupações são enormes. Se o olival intensivo e superintensivo de regadio apresentam maior rentabilidade, a realidade do olival tradicional é bem diferente."
Depois, o autor avança com ideias e sugestões para subsídios e apoios ao azeite de produção tradicional.

Primeiro, voltemos à frase "When something is commoditized, an adjacent market becomes valuable"

Segundo, esqueçam a "Estratégia Nacional", é muita gente, é muito heterogeneidade, não vão conseguir fazer nada, a não ser tornarem-se ainda mais reféns do governo de turno e da máquina burocrática normanda. O vosso cliente passará a ser o estado, o vosso produto será abastardado em termos de valor. Esqueçam o subsídio para compensar o custo mais elevado, trabalhem para merecer um preço mais elevado.

Terceiro:



Criem uma marca associada à produção do olival tradicional transmontano. Comecem a colocar nas garrafas informação sobre a localização da produção, sobre o tipo de azeitona usada/produzida, sobre o tipo de produção, sobre o ano da produção. Trabalhem para valorizar o vosso produto, trabalhem para educar, criar o vosso cliente-alvo. Participem em concursos que tragam notoriedade e valor. Estudem o artigo referido neste postal de Janeiro de 2020: Azeite e Trás-Os-Montes.

O olival intensivo e superintensivo de regadio apresentam maior rentabilidade, porque têm custos mais baixos. OK, recordemos os números de Marn e Rosiello e de como o burro era eu. O olival tradicional pode aspirar a praticar preços mais altos se trabalhar para desenvolver o gosto dos seus clientes-alvo. 

Usem as redes sociais para começar a seduzir clientes, o vosso alvo tem de ser o consumidor final. Na actual situação não têm qualquer hipótese de convencer a distribuição grande a aceitar preços superiores. Por isso, impõe-se paciência estratégica e trabalhar para que sejam os consumidores a pressionar a distribuição grande a aceitar as vossas condições. Estudem o exemplo da Purdue

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