Mostrar mensagens com a etiqueta exportações vinho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta exportações vinho. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, janeiro 08, 2025

Uma das piores coisas na cultura portuguesa

Escrevo muitas vezes aqui no blogue que defender o passado impede-nos de abraçar o futuro, mesmo um futuro cheio de incertezas. O passado é já certeza de um buraco.

Acerca do vinho, alguns postais recentes sobre a infantilidade de produtores e políticos:

Vamos a outra mentalidade.  

No FT do passado dia 4 de Janeiro no artigo, "French red wine in 'existential' decline as young tastes change":

"Consumption of red wine in France has fallen about 90 per cent since the 1970s, according to Conseil Interprofessionnel du vin de Bordeaux (CIVB), an industry association.

Total wine consumption, spanning reds, whites and roses, is down more than 80 per cent in France since 1945, according to data from Nielsen, and the decline is accelerating, with Generation Z purchasing half the volume bought by older millennials.

"The issues with wine - particularly red wine - are becoming existential now and have been problems for more than a decade," said Spiros Malandrakis, analyst at Euromonitor International.

...

The change in French consumption exacerbates global trends hurting the sector, such as people drinking less and changes in tastes. Red wines in particular are falling out of fashion among young people in favour of rosé, beer, spirits and alcohol-free options.

"With every generation in France we see the change. If the grandfather drank 300 litres of red wine per year, the father drinks 180 litres and the son, 30," CIVB board member Jean-Pierre Durand said. The industry is also grappling with a sharp fall in demand from China, one of its main export markets, and the impact of climate change. The challenges have not hit all categories of wine equally.

"High volume, heavily tannic reds are in strong decline and it's accelerating with generational change," said wine buyer Thomas Castet.

...

The pressures have led the Bordeaux region to begin uprooting up to 9,500 hectares of vines to curb overproduction and prevent the spread of disease through under-maintained vineyards. The plan, initiated in 2023, offers €6,000 per hectare to be uprooted, from a €57mn budget funded largely by the government and the CIVB.

"We can't continue to produce wines that don't get drunk," said Durand. "When the model is broken, we adapt."" [Moi ici: Este tipo de pragmatismo não é francês. Conseguem imaginar alguém com responsabilidades no sector falar claramente, falar com esta assertividade? Recordar aquele primeiro postal da lista: E dizer a verdade?]

Entretanto, no WSJ do mesmo dia 4 de Janeiro apareceu o artigo "Surgeon General Seeks Alcohol Cancer Label":

"The U.S. surgeon general said alcoholic beverages should carry cancer warnings to increase awareness that the drinks are a leading cause of preventable cancers.

An act of Congress would be required to change the existing warning labels on bottles of beer, wine and liquor.

...

Alcohol consumption is the third leading preventable cause of cancer in the U.S., after tobacco and obesity. The link between alcohol consumption and cancer risk has been established for at least seven types of cancer, including breast, colorectum, esophagus, liver, mouth, throat and voice box, Murthy said."

Claro que a gente olha para isto e estranha, basta pensar na longevidade dos povos do Mediterrâneo. No final acrescento um tweet de Nassim Taleb sobre este tema. A verdade é que o FT de 07 de Janeiro na sua última página incluiu um texto sobre o impacte deste assunto nos investidores "Alcohol health warnings are an alert for investors too":

"Few purveyors of alcohol will be toasting the new year.

Just three days in to 2025, the US surgeon-general was advocating labels to warn drinkers of the link to cancer. This time next year, Ireland will be health labelling its drinks.

The sector has little to be merry about in any case. Abstinence is in vogue, at least in swaths of the developed world.

The ranks of US adults aged 18-34 who have "ever" drunk an alcoholic beverage has fallen from 72 per cent to 62 per cent over the past two decades, according to Gallup polling. As if lower sales are not headache enough, tariffs mooted by US president-elect Donald Trump stand to erode earnings.

This starts to smack of structural decline."

Por fim, no FT do passado dia 3 de Janeiro, o artigo "Social pressure hits low-alcohol drinks market":

"Most consumers say it is acceptable to have no- or low-alcohol drinks when they go out but some opt for alcohol anyway because of social pressure, according to research by Heineken and the University of Oxford.

The study, based on an Ipsos survey of 11,842 adults of a range of ages in the UK, US, Spain, Japan and Brazil, found that 68 percent had tried no- or low-alcohol alternatives and 80 per cent believed that drinking them was more acceptable than it was five years ago." 

É curioso como, no sector vinícola, o ministro da Agricultura parece aplicar um modelo antigo: evitar mexer no barril, mesmo quando o vinho está claramente a azedar. Enquanto outros países — França, Irlanda e até os EUA — já estão a engarrafar a dura realidade sobre o futuro da indústria, nós ficamos a assistir a discursos que mais parecem rótulos publicitários do que uma análise crua das vinhas.

Se um responsável francês pode dizer, com a franqueza de quem já sentiu a pressão de 9.500 hectares a serem arrancados, que "não podemos continuar a produzir vinhos que não são consumidos", por cá o debate parece envelhecer sem esclarecimento. Será que o ministro receia que, ao abordar o tema, o vinho nacional seja confundido com vinagre? 

E que dizer das mudanças nos hábitos de consumo globais? O vinho não é apenas uma vítima da nova geração "Z" que bebe menos; é também um sector afogado em produções que já não encontram mercado, enquanto as gerações mais jovens optam por rosé, bebidas sem álcool ou até nada.

Ironia das ironias, é que até um simples acto de "poda" no discurso do ministro poderia fazer mais bem do que mal. Reconhecer que o modelo actual é insustentável seria como arrancar videiras velhas para abrir espaço para uma nova geração de ideias. Mas parece que por cá preferimos brindar à espera, enquanto o mundo já está a fazer planos para vinhas mais sustentáveis — económica e ambientalmente.

E o que dizer do senhor das selfies? Se há algo que não falta ao presidente da república é capacidade para nos brindar com gestos simbólicos. Entre selfies, abraços e discursos, o presidente é um verdadeiro especialista em palavras agradáveis e gestos populares. Mas quando o tema é o vinho — símbolo da identidade portuguesa e agora símbolo de uma crise estrutural —, o silêncio torna-se ensurdecedor, como um brinde que nunca chega.

O Presidente, sempre atento às tradições, poderia perfeitamente discursar numa adega e citar Camões, mas talvez fosse mais útil citar o Conselho Interprofissional do Vinho de Bordéus, que já arrancou as vinhas da negação e plantou a semente da adaptação. Em vez disso, parece que a postura é a de quem prefere contemplar as colinas de vinhedos enquanto o sector tropeça em sobreprodução e mudança de hábitos de consumo.

Será que o Presidente tem receio de se aproximar do tema? Talvez, por achar que questionar o modelo de negócio do vinho é tocar num pilar da cultura portuguesa. Mas será que não é precisamente o contrário? Defender o sector, como um verdadeiro chefe de estado, não significa apenas beber um copo ao lado dos produtores; significa alertar para a insustentabilidade, apoiar a modernização e promover mentalidades que enfrentem a realidade global.

Uma das piores coisas na cultura portuguesa. Não enfrentar o touro, desviar para canto.



sábado, abril 07, 2018

A economia não é um jogo de soma nula.

Recordo o que escrevi sobre o alvarinho de Monção e Melgaço:

"Nos primeiros três anos da aplicação da nova lei que permitiu o alargamento a toda a região da possibilidade de comercializar vinhos verdes da casta alvarinho, que era um exclusivo dos municípios de Monção e Melgaço (MM), as vendas deste valioso produto naquela sub-região afectada pelo acordo subiram 32,3% em volume, de 1,41 para 1,87 milhões de litros, sobretudo no mercado nacional.
...
Os dados divulgados esta quarta-feira, 4 de Abril, pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) comparam com o aumento de "apenas" 5% nas vendas globais da região durante este mesmo período de três anos. "Quando se pensava que o acordo era a grande derrota de Monção e Melgaço, verifica-se que eles são os grandes vencedores", sublinhou ao Negócios o presidente deste organismo com sede no Porto, Manuel Pinheiro.
.
"Ao fim de três anos, sendo possível fazer uma primeira avaliação, a grande surpresa é que os grandes vencedores foram os produtores de MM e não os outros. Aumentam as suas vendas muito acima da média do vinho verde.
...
Como há escassez de matéria-prima – o vinho verde está a vender toda a produção –, os produtores [fora de Monção e Melgaço] estão a plantar outras castas mais produtivas."
A economia não é um jogo de soma nula.

domingo, janeiro 07, 2018

O caminho do vinho

Como não recordar os marcadores:

  • aumentar preços
  • subir na escala de valor
Ao ler:
"Vários produtores do Douro, do Alentejo ou dos Vinhos Verdes (principalmente os que trabalham a casta Alvarinho) perceberam há muito que a única forma de um país que produz apenas 2% do vinho mundial sobreviver no mercado global é apostando no valor acrescentado. “Ao contrário dos países do Novo Mundo, na Europa a cultura da vinha é condicionada e não podemos acreditar que vamos ser capazes de aumentar muito a nossa produção”, lembra Jorge Monteiro, para logo depois acrescentar: “O caminho é, por isso, o valor acrescentado do que produzimos”. Os números do ano passado indicam que esse caminho está a ser percorrido. Enquanto os volumes de vendas de vinhos certificados (com as denominações de origem Douro ou Alentejo ou com indicações geográficas de proveniência do tipo Alentejano ou Terras Durirenses) cresceram entre 7 e 22% em volume (até Setembro), os vinhos indiferenciados aumentaram as suas vendas em apenas 1.9%."


Ao ler "Exportação de vinho regressa aos recordes e aproxima-se dos 800 milhões de euros" apenas tenho reticências sobre:

  • uma futura abordagem coerciva sobre os que ainda vendem vinho a granel. Os macacos não voam! A seu tempo, ao seu ritmo, farão a sua evolução, ou não;
  • uma busca desenfreada por produtividade volumétrica. Não adianta comparar produtividades volumétricas com a de outros com outras castas, com outros climas, com outros terroirs.
Um dia conseguiremos ultrapassar esta mentalidade cancerosa do século XX de que o crescimento sem limites é o único caminho.

terça-feira, junho 13, 2017

Portugal continua a fazer bem!

"As exportações portuguesas de vinho estão a crescer 8,1% em valor e 3,9% em volume. Os dados são do primeiro trimestre e mostram que Portugal vendeu 625 983 hectolitros no valor de 163,3 milhões de euros."
Sinal de subida na escala de valor. Um bom sinal!

Recordar:


terça-feira, abril 11, 2017

Portugal faz bem. Não esquecer!

Em "Espanha, França e Itália têm quase três quartos da área de vinha da UE" pode ler-se:
"Espanha sozinha tem quase um milhão de hectares de vinha: são 941 mil hectares, o equivalente a 30% da área total da União Europeia. Castilla-La Mancha é a sua maior região, com 46,1% do total da vinha espanhola. O facto de ser o país com mais área dedicada à produção de uva para vinha não o impede de estar também no topo dos que dedicam mais espaço à produção de vinho de qualidade: quase 900 mil hectares, 95,6% do total da sua vinha, está afeta a esta produção mais exigente.
...
Em Portugal, por exemplo, dos 198,6 mil hectares ocupados com vinha, 87,8% estão dedicados ao vinho de qualidade.
...
Os dados do Eurostat mostram ainda que Portugal está entre os países com maior número de proprietários e vinhas mais pequenas."
Uma coisa são as estatísticas. Nunca esquecer como Aznar enganava os burocratas agrícolas de Bruxelas como fotografias aéreas manipuladas.

Outra coisa é a realidade. Recordar "Portugal faz bem"

domingo, agosto 28, 2016

Viemos de longe e o que nós andámos para aqui chegar!

"Os volumes de vinho do Porto colocados nos mercados de França, da Holanda, da Bélgica, do Reino Unido, dos Estados Unidos e da Escandinávia traduzem-se quase numa linha reta, sempre a subir até ao ano 2000. Foi muito bom para mim, claro, mas não sou o responsável - o setor é que conseguiu esse período de grande expansão. Desde 2000 para cá, os volumes têm caído no vinho do Porto mais corrente, digamos assim, mas não nas chamadas categorias especiais, nos nossos topos de gama... Perdemos no rubi, nos Tawny"s, mas ganhamos nos premium, que representam cerca de 28% das vendas e, naturalmente, mais ainda em valor. Estando agora em 2016, claro que já abraçámos novos desafios..."
Uma entrevista cheia de optimismo:
"Começámos na década de 1990 a estudar as potencialidades daquilo que se designa por vinhos do Douro DOC (Denominação de Origem Controlada). Revelou-se uma aposta certa: passados pouco mais de 15 anos, é fantástico aquilo que se conseguiu.
...
Agora, o Douro DOC está a crescer 8% ao ano em valor desde há cinco anos... É espetacular.
...
Nós abrimos um turismo no Bonfim - começámos com cinco guias, já vamos em nove, tivemos de instituir as visitas só com reserva, tanta era a gente que ia aparecendo...
...
Em resumo, o turismo não só nos ajuda a transmitir a imagem dos nossos vinhos para o estrangeiro como traz dinheiro para a região." 
Outra vertente de "Viemos de longe e o que nós andámos para aqui chegar!"
.
Recomendo começar pela leitura do postal de 2011, comparar o sentimento de então com o de agora:
BTW, reparem nos comentários e recomendações que fazíamos em 2011.

domingo, março 06, 2016

Para fazer crescer a auto-estima

O @pauloperes chamou-me a atenção para este artigo "This Country Is Now the World's Most Popular Maker of Wine".
.
Como não recordar o caso recente Mattel vs Lego e o desafio lucro ou quota de mercado.
.
Nunca esquecer a lição de Hermann Simon e o ditado australiano de Julho de 2006:
"Volume is Vanity, Profit is Sanity"
O presidente-eleito ameaça que nos quer fazer crescer a auto-estima, imagino que com prelecções e catequese laica. Obrigado, não precisamos!
.
Basta publicitar os muitos bons exemplos do país, como é o caso do vinho. Recordar

E emprenhar menos pelo ouvido o cântico das cassandras preguiçosas.
.
BTW, o espanhol entrevistado no artigo da Fortune não está a ver bem o filme... subir preços num mercado concorrencial não é tão fácil como os governos a aumentarem impostos, com o auxílio implícito das várias organizações armadas a quem paga o soldo e controla hieraquicamente. Aumentar preços implica trabalhar na co-criação de valor junto dos clientes e abandonar um ADN entranhado. A vantagem portuguesa é que começamos mais tarde e o Mar del Plastico não é em Portugal:
ADENDA: Acabo de receber dois tweets:

segunda-feira, setembro 28, 2015

Vinho do Porto e Evangelho do Valor

Quando apareceu a ISO 9001:2000 uma das empresas com que trabalhei, na implementação de um sistema de gestão da qualidade, era um dos líderes da produção e venda de vinho do Porto.
.
Estávamos em plena época de escoar vinho do Porto através das grandes superfícies europeias, o BRC ainda era um papão por domar. Uma das novidades da versão de 2000 da ISO 9001 era a cláusula sobre a satisfação dos clientes.
.
Recordo as discussões que tive na altura sobre a melhor forma de aplicar o espírito dessa cláusula a um produtor de vinho do Porto de topo. A tentação por dar a resposta rápida e simples era grande, ou seja, fazer o mesmo que os outros estavam a fazer: enviar um inquérito de avaliação de satisfação aos clientes. O que é que o cliente "distribuição-grande" quer, procura e valoriza? Se formos por esse caminho só iríamos exacerbar a dependência então existente para escoar litros a baixo preço. Estava sempre a ouvir estórias sobre os "impostos revolucionários" que as cadeias grandes impunham, ir por esse caminho era uma forma de alimentar mais o monstro.
.
No entanto, com o partir de pedra, conseguimos alargar os indicadores para mais duas ou três acções. Uma delas, recordo, passava por conseguir estar no top 10 em pelo menos x provas de revistas internacionais. Era um maçarico mas já percebia o poder de seduzir o consumidor, o único capaz de "mandar" na prateleira da distribuição-grande.
.
Ainda não tinha tido a experiência/desafio de 2004 que me despertaria para o mundo dos ecossistemas da procura mas o bichinho já lá estava.
.
Hoje, em "França escolhe hoje o “Master of Port”" é tudo tão claro, para mim e para o sector. Além do buzz, este trabalho junto dos escanções é trabalho junto de influenciadores capazes de, em momentos-chave, aconselharem clientes premium para vinhos do Porto premium. E não pensem que é irrelevante, nunca me vou esquecer desta frase tão em linha com o Evangelho do Valor:
«O lucro de 10 mil garrafas de LBV é o mesmo de 400 mil garrafas de Tawny.» 

terça-feira, setembro 15, 2015

O que dirá a UTAO?

Um grande orgulho com mais esta demonstração do paradoxo de Kaldor:
"As exportações portuguesas de vinho atingiram, no primeiro semestre, 328 milhões de euros, um acrescimo de 14 milhões face a igual período do ano passado correspondente a mais 4,6%. O crescimento em valor foi mais do dobro do aumento em quantidade. As empresas portuguesas exportaram 134 milhões de litros de vinho entre janeiro e junho, um aumento homólogo de 2,1%. Números que permitem antecipar um novo recorde de vendas de vinhos portugueses no exterior.
.
"Esta trajetória de crescimento coloca o setor em vias de atingir o sexto ano consecutivo de crescimento nas exportações de vinho."
O que dirão os burocratas da UTAO? Recordam-se de "Uma cena de um programa de Apanhados?"

Trecho retirado de "Portugal vendeu mais 14 milhões de euros de vinhos no primeiro semestre"

sexta-feira, setembro 11, 2015

Douro e o Evangelho do Valor

Ontem chamei a atenção para o poder das emoções positivas. É sempre possível olhar para o copo e vê-lo meio-cheio ou meio-vazio. Os que o vêem meio-vazio acabam sempre vítimas do cortisol. Já os que o vêem meio-cheio acabam por fazer batota e mudar o mundo em seu favor. Reparem o salto quântico que se deu desde 2011 "Reflexões e perplexidades". E se tivessem recorrido aos serviços deste anónimo da província? Já estavam mais à frente.
" «O modelo é simples: acreditar no vinho do Porto como base do negócio; trabalhar vinho de mesa com personalidade, de pequena produção e não barato; [Moi ici: A nossa cartilha] e ter turismo de qualidade.» Mas todas estas frentes têm de ser atacadas em conjunto, reunindo esforços e não são compatíveis com «cada um a olhar para o seu umbigo». Se o vinho do Porto foi em crescendo de 1995 até 2000, quando atingiu o pico no valor comercializado, de acordo com os dados do IVDP, de «2000 a 2010 desceu para níveis de 95». Manteve-se, desde então, estável. E trocou-se a quantidade pela qualidade. «Estamos a valorizar o produto. O preço médio está a aumentar e anda agora nos 4,44€ por litro, um crescimento de 1,9%», [Moi ici: A nossa cartilha dá origem a esta linguagem já tão conhecida no mundo do calçado] aponta Manuel Cabral, atestando o esforço feito nas chamadas «categorias especiais», já «cerca de 20% da quantidade e 40% do valor negociado». Adrian Bridge, diretor-geral da Fladgate (Taylor's, Fonseca e Croft), atesta ser esse o caminho: «O lucro de 10 mil garrafas de LBV é o mesmo de 400 mil garrafas de Tawny.» [Moi ici: A nossa cartilha do Evangelho do valor!!!] As margens aumentam significativamente nas categorias especiais e há garrafas a chegar aos milhares de euros.
...
a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro quer fazer do seu curso de enologia uma referência mundial. Mas há ainda «muito potencial a explorar» nas castas que o Douro oferece e no que se pode fazer com as vinhas velhas, as mais antigas e por isso menos produtivas, que podem proporcionar pequenas produções de excepcional qualidade. [Moi ici: Como eu gosto disto, desta mentalidade, de ver o lado positivo das restrições a que estamos submetidos. As vinhas não podem ser rainhas de produtividade. Então, qual é a sua vantagem? Como podem fazer a diferença? É a lição de fugir ao Mar del Plástico] E muito mercado a conquistar, como o asiático ou os Estados Unidos."

Trechos retirados de "A reinvenção do Douro" publicado pela revista Visão.


terça-feira, maio 05, 2015

Um título mal escolhido

Título mal escolhido este,"Nunca o Porto pesou tão pouco no Douro", muito mal escolhido.
"O contributo do vinho do Porto para o negócio do vinho na Região Demarcada do Douro baixou dez pontos percentuais em oito anos, segundo os cálculos do Negócios com base nos números oficiais. Em 2014, nas vendas totais de 493,4 milhões de euros - onde cabem Porto, DOC (denominação de origem controlada) Douro, moscatel, espumante e vinho regional duriense -, o peso relativo do mais famoso vinho português fixou-se nos 73,6%. Ou seja, bem abaixo dos 84% que valia em 2006, o ano em que começa a série longa de estatísticas do instituto público que controla e certifica a actividade vitivinicola na região (IVDP).
.
Para este efeito contribuiu, por um lado, a quebra de vendas de Porto neste período, de 393 para 363 milhões de euros no ano passado, em que recuaram ligeiramente (-0.5%) pela pressão dos maiores mercados externos: França e Reino Unido. Por outro lado, há uma subida consistente dos DOC Douro, que cresceram a dois dígitos (11,8%) em 2014, com as exportações a representarem já 40% da comercialização. Se não houver surpresas negativas - e elas podem chegar de Angola, o melhor mercado externo -. no final de 2015, estes vinhos tranquilos com denominação de origem podem atingir um terço do valor do vinho do Porto."
Parece que o vinho do Porto está em quebra.
.
Primeiro, o vinho do Porto tem caído, pouco, porque os produtores grandes, finalmente, abriram os olhos e deixaram de vender quantidade e passaram a apostar no preço. Recordar "volume is vanity profit is sanity". Ou seja, uma queda positiva.
.
Segundo, as vendas de DOC Douro têm crescido robustamente, em vez de granel, marcas trabalhadas com cuidado, actividade comercial e marketing como nunca se viu no passado.
.
Recordar o outro lado, o dos que se vêem como simples produtores de uvas, sempre prontos a protestar "Pior do que um governo socialista..."
.
Em suma, um título mal escolhido. Induz decadência do vinho do Porto e a realidade é bem diferente.

quarta-feira, setembro 03, 2014

Gente de parabéns

"Os vinhos do Tejo atingiram nos primeiros seis meses do ano o número recorde de 189 medalhas em concursos nacionais e internacionais, contra as 142 de 2013, no mesmo período."
"Portugal está a exportar menos vinho mas de maior qualidade e mais caro. As exportado caíram 13% entre janeiro a abril, totalizando 289,5 milhões de litros, mas o valor das vendas ao exterior cresceu 1%, ascendendo a 722,7 milhões de euros, segundo dados Eurostat, que apontam para um aumento de 16% no preço médio do litro (2,50 euros)." 
"As exportações de vinho verde cresceram 14,2% no primeiro semestre de 2014 face a igual período de 2013, disse esta terça feira à agência Lusa o presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV).
...
Dados oficiais indicam que os alemães compraram 6,9 milhões de euros de vinho verde, quase mais 40 por cento do que no mesmo período de 2013.
...
O presidente da CVRVV realçou ainda que “as exportações estão a aumentar, mantendo-se os preços, o que é saudável”. “Mas precisamos de dar um novo passo, que é a valorização do produto”, acrescentou."



1º trecho retirado de "Tejo vai produzir 50 milhões de litros de vinho em 2014"
.
2º trecho retirado de "Portugal exporta menos vinho mas a preços mais caros"
.
3º trecho retirado de "Exportações de vinho verde subiram 14,2%, Alemanha lidera compras"

sexta-feira, agosto 22, 2014

Mais gente de parabéns...

"As exportações de vinhos com denominação de origem Douro subiram cerca de 17%, no primeiro semestre deste ano, face ao período homólogo do ano passado."
Trecho retirado de "Vinhos do Douro conquistam consumidores. Exportações aumentam"

quinta-feira, junho 05, 2014

Prá frente é o caminho

Hoje de manhã publicamos um postal sobre o bom exemplo das exportações do sector Metalúrgico e Metalomecânico:
"O setor Metalúrgico e Metalomecânico exportou no primeiro trimestre deste ano mais de de 3.2 mil milhões de euros, valor que representa um crescimento de 4% face ao primeiro trimestre de 2013"
Agora, ao almoço encontro em "Mobiliário: Saldo com o exterior dá 14 pulos em sete anos":
"No último ano, as exportações de mobiliário de lar atingiram os 482 milhões de euros, mais 11,1% do que no ano anterior, enquanto as importações decresceram 12,6% para cerca de 100 milhões de euros."
E encontro "Portugal já vende no estrangeiro mais de 40 por cento do vinho que produz"
.
E encontro "Portugal reforça liderança nas exportações europeias de louça de mesa"
.
E encontro "Setor do calçado satisfeito com atividade até março"
.
E recordo o exemplo do têxtil e do vestuário, e tantos outros...
.
Acham que é por causa do preço mais baixo?
.
Como competir sem ser pelo preço mais baixo?
.
Estratégia, marca, foco, clientes-alvo, proposta de valor... alinhamento, equipa, feedback, ...

terça-feira, maio 13, 2014

Vinhos, um exemplo australiano

Um artigo interessante, "The Applicability of the Balanced Scorecard in Small Wineries", pelo que nos conta acerca da evolução da situação dos viticultores australianos.
.
Aqui, ouvimos, frequentemente, notícias sobre manifestações de viticultores protestando contra o abaixamento do preço das uvas, contra a diminuição da procura, contra o mundo que está contra eles e o bocado de queijo a que têm direito por graça divina. Os culpados? É o euro, é a troika, é o governo, é o aquecimento global, são os homens-maus, ...
.
Vejamos a situação na Austrália nos primeiros anos da década passada:
"Put simply, there are too many people competing for a tiny slice of the market place. The access to the marketplace for a small winery is constrained by: increased competition from other small labels; a lack of differentiation between competitors with regions; static consumption rates domestically; despite exports increasing 20%, the limited interest of overseas distributors and merchants in low volume producers; increasing competition from US, South American, and Eastern European producers; and the loss to the forces of Woolworths and Coles-Myer of independent wine merchants who traditionally took product from smaller producers.
.
The dire predicament facing the burgeoning small wine producers is emphasised by the CEO of the Victorian Wine Industry Association who has observed that many vineyards surrounding Melbourne are not viable, and in fact there are “Too many grapes…(and)…“It’s hard bloody work and not the pot of gold everyone thought its was…”. The repercussions are highlighted by the alarming estimate that “Up to 40 per cent of Australia’s wineries are tipped to fail in the next few years as conditions change”."
Em vez de manifestações, sintoma de que o locus de controlo está no exterior (?), o que há muito defendemos aqui é a via do pensamento estratégico:
"Economic success & survival in the tough economic, market and regulatory environment facing small wineries is largely contingent on having effective strategic and operational control. A key driver of effective strategic and operational control is the ability to recognise, measure and react to critical success factors (CSFs).

Small wineries, like any businesses competing in dynamic and complex environments, must have a clear understanding of their objectives and the methods for efficiently and effectively attaining them." 
 E para quem acha que os empresários portugueses, agrícolas ou não, são piores do que os estrangeiros:
"The customer perspective appears to be relatively un-addressed. Whilst all interviewees speak of the importance of customers, performance measurement is largely a haphazard and random mix of occasional forays into the show circuit, cellar door customer contact, phone or email feedback from customers, and comments by distributors. For six wineries, the comments from tasters at cellar door are the only regular indicator of product and service level. Current sales-mix analysis, together with comments from trade magazines, distributors and fellow winemakers forms a very informal approach to the market demand for their regional product. The utility of much general trade information is often discounted by comments such as “…overall market trend for pinot is one thing, but ours are Macedon ranges pinots, they will stand separate from the others…”. While three wineries have comprehensive initiatives to assess and action CSFs in the customer perspective, the others had a disturbing dislocation which was often justified by views like “…if you make good wine, you will sell it…”.…"

segunda-feira, maio 05, 2014

Para animar várias reflexões

Primeira reflexão é sobre as exportações de vinho português, recordando este postal "O exemplo do vinho" e confrontando-a com "Despite Strong Currency, New Zealand Winemakers Are Thriving", onde se pode ler:
"New Zealand wine exports reached more than NZ$1.3 billion in value in those 12 months - up around 9% on the year-earlier period, according to data from Statistics New Zealand.
...
demand from the U.S., Canada and Asia represent key growth areas outside traditional export markets such as Australia.
.
In the first two months of this year, New Zealand wine exports to the U.S.—in both volume and value terms—grew by 8%"
Segunda reflexão é sobre este pormaior escondido no texto:
"The U.S. dollar has fallen a third in value against New Zealand’s currency in the past five years." 

terça-feira, abril 15, 2014

Desenvolver a relação, fugir do granel

"Como pode o vinho português continuar a crescer na Alemanha?Tem de envolver-se e trabalhar o perfil da diferença. O vinho é um negócio muito pessoal.[Moi ici: Não é um negócio para granel]
...
Quem são os principais concorrentes dos vinhos portugueses neste mercado?Portugal tem um nicho na Alemanha e concorre com todos. Mas desde que tenham um estilo muito individual, os vinhos portugueses não têm, estatisticamente, concorrentes diretos. [Moi ici: Parece Mongo, com a diferenciação acirrada, há lugar para todos]
...
O que é preciso para convencer os grandes compradores e sommeliers a colocarem os vinhos nas cartas dos grandes restaurantes?Convidando-os e ensinando-os sobre o que está a acontecer e mostrar-lhes as experiências da verdadeira cozinha portuguesa acompanhada pelos melhores vinhos. Muitos não sabem nada sobre a vossa cultura e vinhos. Se Portugal quer estar nas melhores listas de vinhos, tem de fazer acreditar quem decide nos vinhos portugueses." [Moi ici: Desenvolver a interacção, densificar a relação, alimentar as histórias e "mitos"]
Trechos retirados de "Hendrik Thoma: Vinho português "tem de envolver-se e trabalhar o perfil da diferença""

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

O título devia ser outro

Lê-se o título "Exportações de vinho aumentaram 2,4% em 2013" e não se apanha o ponto-chave, em minha opinião:
"A exportação de vinho atingiu 725 milhões de euros no último ano, mantendo o crescimento já verificado em 2012."
OK, a percentagem diz respeito à facturação, aos euros, não a quantidades.
.
Este parágrafo é o mais interessante:
"Apesar de o volume total exportado ter sido inferior a 2012, o aumento do preço médio “assinala uma maior predisposição dos mercados a pagar melhor pelos vinhos portugueses”, pode ler-se no comunicado de imprensa do IVV. O preço médio por litro situou-se nos 2,37 euros o que representou um aumento de 13,3% em relação ao verificado em 2012." 
Não sei se é uma predisposição para pagar melhor ou, sobretudo, uma quebra nas vendas dos vinhos mais baratos, e a manutenção ou aumento das vendas dos vinhos mais caros.
.
Recordar o exemplo do desporto, aplicado ao calçado para explicar estes aumentos médios.
.
Independentemente do que realmente se está a passar ao nível do preço, os membros da tríade não conseguem explicar estas coisas... produto mais barato não se vende e produto mais caro aumenta a procura...
,
O título devia ser "Preço médio das exportações de vinho cresce 13,3%", dessa forma seria valorizado aquilo que interessa, aquilo que permite melhor nível de vida para quem produz.