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domingo, abril 15, 2012

Há gente a fazer pela vida!

Lembram-se deste postal "Acham isto normal?" não consigo deixar de ser cínico e pensar que havia ali algo que trazia água no bico, mas adiante.
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"Douro Boys promovem vinhos lusos na China"
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Acerca dos "Douro Boys":
"É que, num país tão habituado a subsídios e privilégios, numa sociedade tão habituada a mendigar por benesses, subvenções e auxílios do estado, os Douro Boys são uma saudável e salutar excepção, não reclamando por qualquer ajuda ou patrocínio dos dinheiros públicos, vivendo de um esforço financeiro individual, sem desbaratar um cêntimo do dinheiro dos contribuintes. Porém, e apesar do tremendo esforço financeiro pessoal a que são obrigados, os Douro Boys não se entretêm somente a promover os vinhos dos cinco associados, dos que pagam as contas, convidando regularmente outros produtores para as suas provas. É todo o Douro que é promovido, é toda uma região que ganha em reconhecimento, é todo um país que ganha em imagem. Directa e indirectamente, todo o sector do vinho beneficia da acção conjunta dos Douro Boys."
"Adega da Ervideira já exporta 50% da produção e quer aumentar vendas para a China, Angola e Brasil"

Há gente a fazer pela vida!

quinta-feira, setembro 07, 2023

Vamos ver qual é o passo seguinte

Recordo muitas vezes uma série de documentários semanais que passaram na RTP nos anos oitenta e que divulgavam o conteúdo do livro "A Terceira Vaga" de Heidi e Alvin Toffler.



Por exemplo, foi nesse livro que li pela primeira vez a referência à "cottage industry" (aquilo a que chamamos hoje de teletrabalho). Dos documentários recordo um episódio em que os autores, de certa forma, "gozavam" com as instituições que herdámos do século XX e que não acompanham o ritmo da vida no século XXI. Por que o trago aqui? 

"Em contraste, houve um conjunto de profissões nas quais o decréscimo das ofertas de emprego superou a fasquia dos 90% trabalhadores manuais de artigos têxteis, couro e materiais similares, trabalhadores de vidro de ótica, salineiros, fogueteiros, revestidores manuais e escolhedores, trabalhadores qualificados da floresta e similares, técnicos e assistentes de veterinários, operadores de máquinas para o fabrico de produtos têxteis, de pele com pelo e couro.
O setor do couro, vestuário e têxtil tem sido dos mais afetados pelo desemprego, o que é explicado pela quebra das encomendas motivada pela conjuntura internacional."

Ontem, no mesmo ECO li "Novo contrato coletivo no setor do calçado aumenta salários em 4,2%".

Acrescento os dados sobre o crescimento homólogo do desemprego em Julho, publicados pelo IEFP, e que referem um crescimento superior a 15% no sector "Indústria do couro e dos produtos do couro".

Num momento de retracção da procura, de encerramento de empresas, aumenta-se o salário. Se é para desbastar o sector e matar as empresas menos produtivas, é uma opção política. Se é para depois aplicar a ajuda do Chapeleiro Louco... mal!!!

Recordar Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!

quinta-feira, janeiro 03, 2019

Back to 2009!

Ontem ao princípio da noite enquanto corria e ouvia o noticiário das 19h na Antena 1 senti-me a regressar a 2009.

Em Agosto de 2009 escrevi "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!".

Então, os deputados às segundas, terças e quartas aumentavam o salário mínimo, e às quintas, sextas e sábados preocupavam-se com o estado do sector.

Ontem ouvi um deputado do PCP preocupado com a situação das empresas de vestuário que estão muito dependentes do grupo Inditex. Ao procurar uma ligação para o que ouvi, verifiquei que a cena não é virgem, em Janeiro de 2018 tivemos "PCP alerta para dificuldades das empresas de Vizela que trabalham para a Inditex".

Reparem no discurso de há um ano:
""Têm-nos chegado enormes preocupações de pequenas e microempresas que trabalham a feitio ou à peça, em regime de subcontratação, para o grupo Inditex"
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"É preciso romper-se com estas políticas monopolistas dos grandes grupos que encontram neste distrito [de Braga] formas de explorar os micro e pequenos empresários", declarou."
Qual a resposta?

A minha é: deixar morrer essas empresas que não conseguem viver sem ser agarradas a essa suposta "relação doentia". Qual a do PCP, pelo que ouvi ontem:
- Meter o governo ao barulho a intrometer-se numa relação que se quer livre entre entidades colectivas.

sexta-feira, abril 28, 2023

O choque chinês, não o euro

Antes de mais, recuo neste blogue:

"The impact of international trade on labour markets is a classical question that is currently subject to greater interest.

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In this paper, we approach this topic from a novel perspective. In contrast to earlier research, we study the indirect effects stemming from the increased competition that one country can generate in the export markets of other economies, focusing explicitly on the effects of China's exports. In other words, China may affect the labour market of country A not only because of its exports to that country; such effects can also emerge by reducing the exports of country A to country B when China increases its exports to country B. [Moi ici: A mensagem que abre It's not the euro, stupid! (parte I)] In our study, we propose different measures of this indirect effect and analyse their labour market effects.

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Our empirical evidence on both the direct and indirect labour market effects of China's emergence in international trade is based on the case of Portugal. As a (small) open economy with a comparative advantage profile more comparable to that of China than most other developed economies, Portugal is an interesting country not only to revisit the direct relationships examined in the literature but also to illustrate the largely undocumented indirect effects that we study here.

Portuguese imports from China grew strongly over the period 1993-2008, reaching a level in 2008 that was more than eleven times higher than that of 1993. A different direct impact, also examined as a robustness exercise, comes from the enhanced export opportunities to China. Over this period, Portuguese exports to China grew strongly, but are still around six times smaller than Portuguese imports from China in 2008, suggesting that the impact of the export channel should be smaller. At the same time, the share of total employment in manufacturing in the country nearly halved over the period that we consider (1993-2008). and economic growth during this period was low (except for 1996-2000). [Moi ici: Recordar os gráficos de It's not the euro, stupid! (parte IV) ou de O desassossego é bom!]

On top of the direct effects, stemming from much larger increases in exports from China to Portugal than the other way around, Figure 2 highlights the potentially intensified competition from China faced by Portuguese firms in terms of exports to the other 14 original member states of the European Union (EU14).

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The rise of the export share of China in the EU14 market was also much stronger than the increase of China's share in Portuguese goods imports. Hence such a strong increase in competition in a key destination market like the EU14 can have a big impact in the Portuguese manufacturing sector, possibly larger than the effect of direct import competition, [Moi ici: Só não estou de acordo com o "possibly"] unlike for other countries with different exporting profiles.

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larger increases in the EU14 market shares of China’s exports tend to be associated with larger losses in the market shares of Portuguese exports."

By the way, ainda ontem escrevi em Por alma de quem? e em Novembro passado em A grande reconfiguração sobre o efeito do reshoring na inflação actual. Interessante ler neste artigo:

"study the effects of increased Chinese trade exposure on earnings and employment of US workers from 1992 to 2007. Their findings suggest that workers employed in industries that were subsequently exposed to greater Chinese import competition experienced lower cumulative earnings. [Moi ici: Bom momento para recordar as parvoíces políticas tugas, quando lhes tremem as pernas, Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador! de Agosto de 2009. O artigo cita uma série de estudos nos Estados Unidos, Alemanha, Finlândia, Dinamarca e Reino Unido, todos concluindo acerca do forte impacte chinês no emprego, e sua qualidade, dos trabalhadores com menos habilitações]

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for Portugal, we find that a rise, from the bottom to the top quartile, of an industry’s exposure to Chinese indirect import competition in a group of 14 EU countries is associated to a drop of 25% in workers' cumulative wages and a 17.4% reduction in employment years.

The negative labour market effects of increased trade exposure to China are robust to a number of tests but are also heterogeneous across individuals. The impact falls disproportionately on older workers, females and workers without tertiary education. Moreover, the negative effects are also stronger for individuals working in larger, older and domestic-owned firms." [Moi ici: Quanto maiores, menos flexíveis para um golpe de asa estratégico, com mudança de clientes-alvo, mudança de proposta de valor, subida na escala de valor. Perfeitamente alinhado com a minha experiência. Recordo o gráfico "Evolução do n° de trabalhadores nas empresas de calçado em Portugal" deste postal de 2010, O choque chinês num país de moeda forte (parte II). No entanto, julgo recordar que em alguns países (México?), quanto maiores as empresas, mais protegidas da concorrência chinesa

Trechos retirados de "Collateral Damage? Labour Market Effects of Competing with China--at Home and Abroad

sexta-feira, fevereiro 17, 2017

Os indicadores também ficam obsoletos quando o mundo muda

A propósito de "Sem rede..." e de:
"And business is really just one type of climate. It’s also a climate that’s out of our control. And the climate is going through a tectonic shift for the ages where the conditions will never be the same again, at least not in our lifetime"
Já por várias vezes reflecti aqui sobre os indicadores criados para descrever uma realidade. Depois, a realidade muda e os indicadores continuam a ser usados para a descrever. No entanto, deixam de ser representativos e na interpretação da sua evolução cometem-se erros.

A propósito dos recordes referidos em "O que os números das exportações me sugerem", como os compatibilizar com esta linguagem?
"Portugal recuou 13 posições no Índice de Liberdade Económica de 2017 e está agora no 77º lugar, de acordo com o relatório anual da Fundação Heritage. A diminuição da liberdade económica medida pelo índice é justificada por desafios que exigem um ajuste urgente da política económica e reformas que perderam impulso.
“Portugal continua a enfrentar desafios que exigem um ajuste urgente da política económica. As reformas anteriores, que ajudaram a modificar e diversificar a base produtiva da economia, perderam impulso”, refere o relatório que analisou este ano 186 economias do mundo. Os dados foram divulgados na quarta-feira pela fundação sediada em Washington, nos Estados Unidos, e citados pela agência “Lusa”.
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“Apesar dos sólidos contextos institucionais, como um quadro empresarial eficiente e um sistema judicial independente, o setor público endividado e ineficiente desgastou o dinamismo do setor privado e reduziu a competitividade global da economia”, explica o relatório sobre Portugal."
Apesar de lamentar a reversão das "reformas anteriores" acho que actualmente a situação é esta:

Os políticos podem pensar que não há trade-offs: recordar "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!"

Se as acções dos políticos na primeira década do século XXI se conjugavam com o contexto e contribuíam para dizimar as PME do sector transaccionável. Agora, com o reshoring em força em curso, alteração do contexto... os muros que os políticos levantam não são nada em frente à onda gigantesca do regresso dos clientes ao Ocidente por causa da emergência da importância da proximidade (recordar os descontos) e do aumento dos custos na Ásia.

Recordar os indicadores também ficam obsoletos.

segunda-feira, outubro 20, 2014

E voltamos à inconsistência estratégica

E voltamos à inconsistência estratégica:

  • aumentar custos para as empresas às segundas, terças e quartas;
  • ajudar empresas com dinheiro dos contribuintes às quintas, sextas e sábados.
""O Governo decidiu criar uma medida excecional que consistirá numa redução de 0,75 pontos percentuais da taxa contributiva para a segurança social a cargo das entidades empregadoras, desde que se trate de trabalhadores que auferiram a retribuição mínima mensal garantida entre janeiro e agosto de 2014", refere o decreto hoje publicado.
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Será, assim, uma medida excepcional que chega para evitar que o aumento da remuneração mínima garantia tenha o efeito contrário ao defendido pelos parceiros sociais e acabe por se traduzir num aumento do desemprego, pela incapacidade das empresas suportarem os seus custos."
Recordar Agosto de 2009 "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!"

Trecho retirado de "TSU cai para ajudar empresas a suportar o novo salário mínimo"

quarta-feira, novembro 04, 2015

Curiosidade do dia

A propósito de "A subida do salário mínimo" onde se pode ler:
"um benefício possível do aumento do salário mínimo consistia na pressão sobre as empresas para aumentar a sua produtividade por forma a sobreviverem, sendo a baixa produtividade em Portugal um problema ainda à procura de solução."
Recordando estes números:
"Em 2013, o setor exportador compreendia 5% do número  de  empresas,  23%  do  número  de  pessoas ao serviço e 35% do volume de negócios das [sociedades não financeiras] SNF em Portugal."
Portanto, 77% das pessoas empregadas estão ao serviço de empresas que operam no mercado interno. Como é que se aumenta a produtividade nas empresas que operam no mercado interno?
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Recordar:

  • "aumento da eficiência;
  • mudança de modelo de negócio; e
  • em menor escala, porque o mercado interno não é rico, subida na escala do valor"

Ou seja, o aumento da produtividade nas empresas que operam no mercado interno, assentará sobretudo no aumento da eficiência. Ou seja, em pôr menos gente a produzir mais. Ou seja, mais desemprego, não por causa do custo da mão-de-obra, mas como consequência natural do aumento da produtividade com base na eficiência.
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Já estou a imaginar, a velocidade a que aumentará o SMN vai ser superior à velocidade a que as empresas se vão transformar. Assim, além do desemprego gerado pelas empresas que vão fazer face à mudança com sucesso e, por isso, terão pessoal em excesso, teremos de acrescentar o desemprego gerado pelas empresas que vão morrer por incapacidade de adaptação.
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O que me aborrece é recordar o choradinho que viveremos daqui a uns meses quando o desemprego voltar a subir e começarem a tremer as pernas aos deputados, recordar este postal de 2009 "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhar como um amador!":
"Contudo, depois, vem aquela impressão na barriga dos políticos, aquele tremer das pernas, quando percebem, só então é que percebem, as consequências das suas decisões. E, em vez de constância… começam a remendar e remendar e remendar."
Recordar "McDonalds to close 20,000 Restaurants and Eliminate Dollar Menu Due To $15 Wage Increase!"

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Uma lição dos adeptos da concorrência imperfeita - parte II

Parte I.
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Chega a ser irónico...
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Os jornais do dia trazem:
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"As empresas privadas que operam em Portugal não vão aplicar aumentos salariais em 2012 e, caso o façam, estes serão “escassos” e avaliados “caso a caso”, indica o estudo salarial anual da consultora Hay Group." (BTW, apreciem a composição da amostra... será representativa da realidade portuguesa? E ainda, será que usam a palavra competitividade de forma adequada?)
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"o economista [Vítor Bentoapontou que “a produtividade leva tempo a produzir efeito”, ou seja, “qualquer acção que se possa encetar leva o seu tempo a produzir efeitos, o que significa que no curto prazo a única forma que temos de reganhar competitividade é através dos custos
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Durante década e meia a evolução dos salários foi esta:
Enquanto a economia dos funcionários públicos e a dos bens não-transaccionáveis crescia, tinha aumentos salariais interessantes e níveis de emprego cada vez mais altos, a economia de bens transaccionáveis passava um período tormentoso:

Agora, a economia dos funcionários públicos, reformados e pensionistas está a ser apertada como nunca o foi. A economia de bens não transaccionáveis também sofre e muito. Como a maioria dos portugueses vive nestas duas economias, como a maioria dos encalhados da tríade vive nestas duas economias, não fazem ideia do que aconteceu à economia dos bens transaccionáveis.
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Agora, como se diz que a salvação da economia portuguesa está nas exportações, os encalhados da tríade dizem que os salários dessa economia têm de baixar para que ele ganhe competitividade...
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Não percebo é como eles explicam o aumento das exportações portuguesas em 15% durante o ano de 2011...
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E agora, o irónico da coisa, o sector exportador não vai sofrer, finalmente, nenhuma pressão "oficial" para subir salários... agora que finalmente os podia pagar. Bom para acumulação de capital... a menos que a concorrência entre empresas, pelos melhores trabalhadores obrigue a abrir os cordões à bolsa.
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Na parte III o exemplo da facturação por empresa e por trabalhador em alguns sectores exportadores.

quarta-feira, maio 10, 2017

Curiosidade do dia

Como digo há anos: somos pastoreados por jogadores amadores de bilhar.

Gente que quando prepara uma jogada, a próxima, esquece-se das consequências dessa jogada, das reacções que vai gerar. É o velho "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!"

Em Março passado tínhamos: "Brexit: Costa vai criar unidade para pensar como atrair empresas britânicas". Reforçado na semana passada com "Portugal procura atrair empresas instaladas no Reino Unido"

Ao mesmo tempo, temos ministros a lançar ameaças para quem queira vir para cá instalar empresas: "Vieira da Silva admite imposto sobre lucros das empresas para financiar Segurança Social"

A menos que claro, essas tenham um tratamento diferenciado, como de costume.

sábado, agosto 01, 2009

Weird stuff

Como se realizam, como se suportam, ano após ano, aumentos salariais sustentáveis?
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Só conheço uma forma: aumentando a produtividade!
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Quando a inflação aumenta e a produtividade de uma empresa não sobe... subir os salários só para compensar a corrosão do poder de compra, enfraquece uma empresa.
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Quando estamos num cenário de deflação, para quem consegue manter o seu emprego, a simples manutenção do seu salário representa um aumento do poder de compra.
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O que pensar quando a um cenário provável de deflação para o próximo ano, se associam aumentos salariais de 2,3%?
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Ver no Público de hoje o artigo "Empresas esperam aumentar trabalhadores em 2,3 por cento em 2010"
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Deflação significa que para a mesma quantidade que vendem facturam menos... onde vão buscar dinheiro no imediato?
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Qual o aumento da produtividade que esperam ter, para suportar esses aumentos salariais sem pôr em causa a sustentabilidade das empresas no longo prazo?
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Se calhar nem relacionam produtividade e salários... é o mais certo... e depois Gary Hamel ainda se interroga se uma empresa pode morrer prematuramente!!!
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Acham isto normal?!

domingo, abril 13, 2014

Misturar catequese e economia...

Misturar catequese e economia... dá mau resultado.
"Quem fez um negócio onde não pode pagar 500 euros a quem trabalha oito horas, deve, de facto, mudar de ofício."
Para o autor da frase, um "lesboeta", para o seu mundo, a frase pode fazer todo o sentido. Contudo, Lesboa não é Portugal.
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Será que o à vontade para pagar um salário de 500 euros é o mesma em Lesboa e na Guarda, ou em Pinhel, ou em Macedo de Cavaleiros, ou em Vilar de Maçada, ou em Portalegre?
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Poderia interpretar este movimento como uma motivação originada para promover mais um surto de drenagem de gente do interior para as cidades do litoral.
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Daqui a uns tempos vamos ter subsídios dos governos para embaratecer o emprego e tentar contrabalançar esta subida. Contudo, como os que mais precisarão não têm acesso às fábricas de apoios...
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Recordar o "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!"


Trecho retirado de "Salário mínimo: justiça ou desistência?"
Imagem retirada de "Mapa dos salários em Portugal"

domingo, agosto 28, 2016

Acerca do impacte do aumento do salário mínimo

Há dias este direitolas escreveu no Twitter:

Entretanto, um perigoso esquerdalho escreveu no seu blogue:
"É evidente que não estamos condenados a uma economia de baixos salários, mas é por demais sabido que o caminho para sair dela consiste antes de mais no aumento do valor do trabalho - pela qualificação profissional e pelo aumento da sua produtividade (que aliás depende pouco dos trabalhadores) - e menos no aumento "administrativo" dos salários, sem acréscimo de produtividade, o que pode ser contraproducente, por gerar mais desemprego, justamente nos trabalhadores de menores salários, por serem os menos qualificados, e nas empresas menos eficientes, por serem as menos produtivas."
Agora, até a Harvard Business Review vem meter-se nesta estória do salário mínimo nacional:
"Fifteen states have increased their minimum wage this year, with more on the way. In Seattle, for example, large employers will have to pay a $15 minimum wage by January 2017. These increases will seriously affect low-wage employers such as retailers and restaurants,
...
The minimum-wage hike will deeply affect low-wage employers. The companies that muster the most competence and motivation (that means leadership) in moving towards excellence will win. The others will either have to make less money or else increase their prices and lose out to their competitors." 
Recomendo a leitura do artigo, "How Low-Paying Retailers Can Adapt to Higher Minimum Wages" por causa da lista de abordagens possíveis para aumentar a produtividade quando o salário mínimo aumenta:
  • Automatização;
  • Simplificação de processos; e
  • Melhorar o desenho do trabalho
O artigo remete para o tradicional pragmatismo americano: aumenta o salário mínimo e não aumenta a produtividade, a empresa terá de fechar:
"Right now, most companies are used to operating in the realm of mediocrity — from recruiting to training to job design to performance management. I have visited many retail chain stores since I started my research in the late 1990s. It is not unusual to find stockouts, messy (or worse) backrooms, new employees who still haven’t been trained, not-so-new employees who can’t answer basic questions, and managers who know about problems that are losing the company money but feel no urgency to solve them. Lack of care and respect for employees means that employees lose concern for their work."
Em Portugal, como refere Vital Moreira aqui, somos uns tótós que não temos coragem de ir até ao fim com as implicações das medidas que tomamos: o governo aumenta o salário mínimo nacional, depois, vai ajudar as empresas que não o conseguem pagar. Inconsistência estratégica!!! A violação do primeiro princípio de Deming!!!

terça-feira, março 31, 2020

E se isto demorar?



Dedicado a todos aqueles que acham que a única solução é manter os portugueses que actuam na economia privada fechados como cordeiros durante mais três meses.

Não pedi autorização ao autor, mas faço minhas as suas palavras neste texto publicado no Facebook:

"Do que precisamos para voltar ao "normal"?
2ª Sugestão: Aproveitar o Potencial das Pessoas, que é o maior desperdício da actualidade

Para voltarmos ao "normal", seja este o que formato que tiver, vamos ter que contar com todo o potencial humano que neste momento é desperdiçado.
Precisamos de desenvolver novas competências adaptadas aos novos tempos.

Qual o plano que nos é proposto?
1- Esperar em casa no, necessário, isolamento social.
2- Esperar pelo surgimento do, necessário, milagre tecnológico, sobre a forma de vacinas ou remédios, tarefa que cabe, à ciência e à classe dos cientistas.
3- Esperar que alguém resolva este assunto e o que nós, a comunidade, temos a fazer é ficar em casa, na certeza que temos alguém a tratar do assunto.

Neste modelo de participação os cidadãos são incentivados a esperar o desenrolar dos acontecimentos, como espectadores a assistir a um "jogo da pandemia".
A maioria de nós tem a esperança, e bem, que isto vai passar rápido.
E se isto demorar?
Neste caso, este modelo da participação baseado "em esperar por algo", que não apela ao envolvimento directo dos cidadãos nas soluções, só pode ser implementado numa lógica de vigilância policiada ou de cercos sanitários radicais.

Este modelo radical, no final originará danos irreparáveis para a nossa vida em sociedade e apenas funciona em "shutdowns" consecutivos como resposta a potencias epidemias.

Este modelo não é compatível com uma vida sustentável em sociedade a médio prazo.
Ou, mudamos para um modelo de participação activa dos cidadãos que aposte na "tecnologia humana" nutrida pelo potencial humano, que permita o desenvolvimento de uma vida sustentável em sociedade.

Precisamos de competências treinadas em comunidade orientadas para a resolução colaborativa e de auto-responsabilização esclarecida de problemas complexos que nos dizem directamente respeito.
As mesmas competências colaborativas serão as mesmas que iremos precisar para resolver outros desafios futuros, que irão surgir de seguida como prioritários, como seja a sempre adiada protecção ao meio ambiente.
Nunca como agora, foi tão necessária uma verdadeira participação de todos."




quinta-feira, novembro 18, 2021

Se não fosse triste, era cómico!!!

Imaginem estar a falar com um patrão do século XX, do mais reaccionário que consigam imaginar, pode mesmo ser um patrão mitológico que só existe nos livros de contos de terror de uma qualquer central sindical.

E vocês perguntam:
- Então, como vai a produtividade da empresa?

E vem a resposta, um rosário de queixas:
- Não me fale disso!!! Malandros dos meus trabalhadores, são uns molengas! Perdem tanto tempo no café, trabalham devagar, faltam muito. Enfim!!!

O que é que você, leitor, pensa de um discurso destes? Concorda? Discorda?

Guarde a resposta para si e leia este título "Precisamos de produzir mais? É hora de trabalharmos menos". Ui! Este artigo é um espectáculo!!!
"Acredito que pequenas mudanças nas rotinas do tecido empresarial português seriam importantes para aumentar a produtividade (e, por inerência, os salários e os lucros), mas sejamos sinceros e deixemo-nos de visões utópicas. Alguém acredita que, sem incentivos, um trabalhador diminuísse o tempo e frequência da pausa do café e/ou para fumar? Ou que, durante o período normal de trabalho, passe a resistir às interrupções a que as redes sociais “obrigam” com as constantes notificações? 

Portanto, das duas, uma: ou o incentivo para melhorar os níveis de produtividade é monetário ou é ao nível do “salário emocional”." [Moi ici: A minha interpretação do que o autor está a comunicar é - a produtividade é baixa porque os trabalhadores perdem tempo na pausa do café e/ou para fumar, ou a escrever no FB. E mais, são uns autênticos mercenários, só melhoram a produtividade se forem incentivados a isso. Pode não ser numa linguagem à bruta, ao estilo do patrão mitológico, mas é o mesmo racional]

"...

Não restam dúvidas que um aumento retributivo (v.g. em função da produtividade) seria um incentivo decisivo para um trabalhador produzir mais.

...

Bom, falemos agora do “elefante na sala”. Já há muito tempo que múltiplos diagnósticos de uma miríade de especialistas identificaram o principal problema do nosso país: a produtividade.

Os dados da OCDE mostram que o país está entre os que têm uma média de horas trabalhadas por ano mais elevada, mas fica no fundo da tabela no que toca ao valor do produto interno bruto (PIB) por hora trabalhada. [Moi ici: Verdade. Mas agora preparem-se para a solução do autor]

Verifiquemos, portanto, os números, porque, esses, não mentem!

Por cada hora que trabalhamos em Portugal produzimos, em média, cerca de trinta euros. No Luxemburgo, por cada hora que se trabalha — e trabalha-se bem menos horas do que por cá — produz-se mais de oitenta euros (logo, mais do dobro e quase o triplo…). E se dúvidas ainda restam, a diferença de produtividade entre os mais e os menos “trabalhadores” é tão notória que um trabalhador luxemburguês que pare de trabalhar à quinta-feira à hora de almoço já produziu mais que um trabalhador português que cumpre uma semana inteira de trabalho. [Moi ici: Faz lembrar as contas de Vasconcellos em 2007 - "Se os nossos compatriotas viessem a Portugal fazer o nosso trabalho, entravam em fim-de-semana às 17 horas de terça-feira ou em férias anuais a 15 de Maio até 2 de Janeiro." Se as pessoas percebessem o absurdo do que escrevem... Vasconcellos dizia que os portugueses no Luxemburgo se viessem a Portugal fazer o trabalho dos portugueses em Portugal entravam em fim de semana às 17h de terça-feira. Este autor não expõe o seu erro de forma tão clara quanto Vasconcellos, mas comete o mesmo erro. Falaremos dele adiante]"

...

O facto de trabalhar menos horas permitir, em tese, aumentar a produtividade é, para mim, a pedra de toque. É uma relação direta e que não levanta dúvidas aos especialistas. Nessa sequência, só posso acreditar que testar a redução dos horários de trabalho, seja através da semana de quatro dias ou da diminuição de horas de trabalho diárias, poderia realmente mostrar-se um remédio eficaz para a produtividade. [Moi ici: Aqui é o momento em que eu perco o controlo e escrevo - quem é este tótó? Acham mesmo que trabalhar menos horas é um remédio eficaz para a produtividade? Vamos a números. Olhando para esta tabela e para este gráfico o autor acha que o remédio eficaz para a produtividade é trabalhar menos horas? Isto é tão absurdo, tão absurdo... eu se fosse empresário ou gestor e tivesse um caramelo de um escritório de advogados a fazer-me uma proposta destas... contaria até 10. Sorriria com educação e diria que surgiu um imprevisto e tinha de terminar a reunião por causa de uma urgência. Depois, trataria de nunca mais receber a pessoa ou o seu empregador]"

Qual o erro do autor e de Vasconcellos?


O autor compara maçãs com laranjas. O autor comete o erro de trabalhar abstractamente com euros por hora e assumir que o que cada um produz é indiferente. Engraçado, Reinert, acha que esse é o pecado capital de David Ricardo. Um trabalhador português-tipo não produz o mesmo que um trabalhador luxemburguês-tipo. O que as nossas unidades produtivas aqui e as do Luxemburgo produzem são diferentes.

Um trabalhador numa fábrica de medicamentos genéricos muito maduros, mesmo que trabalhe mais horas, não tem a mesma produtividade de um trabalhador numa fábrica de medicamentos patenteados.

Um "mechanical turk" a trabalhar na tradução de folhas por X cêntimos, mesmo que trabalhe mais horas, não tem a mesma produtividade que um escritor de crónicas pagas.

E volto ao artigo de 2011 que citei ontem:

"Quando as pessoas falam da produtividade partem sempre do princípio que o que se produz se mantém constante ao longo do tempo... a produtividade é vista como uma medida de eficiência porque:

Porque se assume que a qualidade das saídas se mantém constante ao longo do tempo... mas o que é que acontece, num mundo em que a oferta é maior do que a procura, se a qualidade (qualidade aqui não é ausência de defeitos, é muito mais do que isso) se mantém constante? O preço baixa por causa da concorrência. Os clientes migram para concorrentes mais baratos ou para concorrentes com uma oferta superior em qualidade."

O problema de Vasconcellos e deste autor é focar a artilharia para aumentar a produtividade no trabalhador... trabalhador não decide o que produzir. Se o trabalhador for menos preguiçoso, ou estiver mais motivado consegue passar aquela produtividade de 30 para 30,5 €/hora. Peaners!!! Tenho de ser cínico outra vez

Esforço de produtividade que não se traduza em aumento do preço de venda é ... peaners!!!


Querem saber qual é o artigo e onde foi publicado? Já não sei se vale a pena renovar a assinatura do ECO...

sábado, maio 23, 2009

Exemplo de acção preventiva (parte VII)

Continuação da parte VI.
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O que relatámos, será mesmo uma acção de melhoria?
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Há meses, dei uma acção de formação sobre "Melhoria da Qualidade e Ferramentas de Melhoria da Qualidade" numa organização, porque tinha tido uma não-conformidade numa auditoria de acompanhamento de uma entidade certificadora com um texto do género "A organização não evidencia a realização de acções de melhoria".
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Outros auditores e consultores discutem que existem:

  • acções correctivas;
  • acções preventivas; e
  • acções de melhoria.
O que é uma acção de melhoria? Uma acção correctiva não é uma acção de melhoria? Uma acção preventiva não é uma acção de melhoria?


Por que é que os auditados, quando não percebem ou não concordam com uma não-conformidade, de boa-fé, não sacam da ISO 9000 e perguntam ao auditor onde está escrito aquilo que ele está a dizer ou a escrever?
Conseguem encontrar a definição de acção de melhoria na ISO 9000? Eu não! Então como é que um auditor pode exigir evidências de acções de melhoria que não acções correctivas ou preventivas à luz da ISO 9001?


A ISO 9000 refere as definições "melhoria da qualidade" e "melhoria contínua" onde se encaixam perfeitamente não só as consequências da realização de acções correctivas e preventivas, como também as motivações para a sua realização.
Tentando ver alguma racionalidade na exigência desses auditores que passam não conformidades porque não há acções designadas "acções de melhoria", tentando perceber o que os motiva, encontro duas justificações: ou burrice pura e simples, ou incomodidade com as acções correctivas e preventivas porque são acções que levam à melhoria do desempenho mas são motivadas e desencadeadas por não conformidades reais ou não conformidades potenciais (aproveito para sugerir a ida a um bom diccionário e procurar o significado de acção potencial de um medicamento), e eventualmente sentem, pensam que também deviam ser desencadeadas acções de melhoria não motivadas por factos negativos reais ou potenciais.


Podem ter essa preocupação, mas isso não está no referencial usado. Isso é trair o referencial!!!
Uma das razões porque tenho medo dos projectos, programas e modelos para a excelência da qualidade assenta nisto, no crochet, no ponto-cruz, no fogo de vista. As empresas precisam de resultados e não de arranjos florais ainda que bem intencionados.


Durante anos trabalhei com a metodologia Juran de melhoria da qualidade. Há um gráfico de Juran que conta tudo:
A melhoria da qualidade acontece quando nós conseguimos mudar o status-quo do desempenho de uma organização, quando, através de um projecto, conseguimos passar da faixa "Original zone of quality control" para a faixa "new zone of quality control".

O que a TALQUE fez foi isso, passar de uma situação estabilizada em torno das 523 horas para uma nova situação inferior a 500 horas.

Se no dia-a-dia as organizações têm problemas e desafios destes que custam dinheiro e clientes, porque raio têm de perder tempo a pensar em jogos florais para auditores verem?

Olhem bem para a ISO 9001:2008. Olhem para o acrescento no final da Nota 1 da cláusula 4.2.1
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Olhem bem para a ISO 9001:2008. Olhem para a Nota acrescentada à cláusula 6.4
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Como diz a minha filha "Acham normal?!"
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Para que isto tenha de aparecer escrito na norma... é porque muito auditor andava a exigir coisas malucas!
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No próximo episódio vamos procurar sistematizar o que a TALQUE fez e recordar os sábios ensinamentos de Shoji Shiba.