terça-feira, outubro 27, 2015

Portugal: exportações e o euro (parte III)

Parte I e parte II.
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No documento "Análise das empresas do sector exportador em Portugal", publicado pelo Banco de Portugal em Junho último, pode ler-se:
"No  setor  exportador  são  consideradas  as empresas para as quais o mercado externo tem maior relevância. Para o efeito, pertencem a este setor  empresas  em  que,  em  cada  ano,  pelo menos 50% do seu volume de negócios provém de exportações de bens e serviços ou em que pelo  menos  10%  do  seu  volume  de  negócios provém  de  exportações  de  bens  e  serviços quando estas são superiores a 150 mil euros.
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Foram identificadas, em média, 19 mil empresas exportadoras por ano.
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Em 2013, o setor exportador compreendia 5% do número  de  empresas,  23%  do  número  de  pessoas ao serviço e 35% do volume de negócios das [sociedades não financeiras] SNF em Portugal. Face a 2007 registou-se  um acréscimo da sua representatividade em 1 p.p. no número de empresas, 3 p.p. no número de pessoas ao serviço e 8 p.p. no volume de negócios."
Olhando para estes números "5% do número  de  empresas,  23%  do  número  de  pessoas ao serviço e 35% do volume de negócios", como não recordar um desaparecido Paul Krugman que em 1994 escreveu "Competitiveness: A Dangerous Obsession" ou o Pop Internationalism.

Quando olhamos para os dados do IEFP (desempregados inscritos como candidatos a novo emprego) e esmiuçamos a proveniência do desemprego:
Entre 2002 e 2015, o desemprego proveniente de:
  • Restauração;
  • Comércio;
  • Construção; e
  • Imobiliário
Passou de cerca de 38% para 55% do desemprego.
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Recordo também um célebre relatório sobre o desemprego que teve o mesmo destino do relatório Porter... como revelou uma realidade que não convinha ao discurso político foi esquecido e escondido:
"Quanto mais um sector económico da economia portuguesa é aberto ao exterior, à concorrência internacional, menor é o aumento do desemprego"
"O emprego evoluiu de formais favorável nos sectores transaccionáveis.
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Entre os sectores que apresentam variações percentuais do emprego mais positivas ... estão alguns dos mais transaccionáveis e com elevados graus de abertura""
O sector exportador em Portugal está de saúde e recomenda-se, até à próxima crise (impossível de evitar a nível macro. Será sempre assim). O que me surpreende são os líderes associativos do sector não-transaccionável que acreditam que um aumento do salário mínimo em 20% vai fazer mais bem que mal às empresas que operam no mercado interno.
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Este postal foi uma interrupção do tema principal (euro e exportações) a que voltaremos na próxima parte. No entanto, quero salientar que a mesma receita que as exportadoras seguiram terá de ser seguida pelas empresas que operam no mercado interno. É interessante como as empresas do sector não transaccionável não têm sido despertadas para o desafio da renovação da estratégia e dos modelos de negócio, toda a atenção está no sector exportador que está a bombar e representa apenas 5% do tecido empresarial. Estranho.
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Aquele aumento de 20% vai ocorrer a uma velocidade muito superior à velocidade a que as empresas conseguem transformar-se... não vai ser bonito.
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Ao contrário do sector exportador, onde a receita passou quase sempre pela subida na escala do valor, as empresas que operam sobretudo para o mercado interno terão mais alternativas:

  • aumento da eficiência;
  • mudança de modelo de negócio; e
  • em menor escala, porque o mercado interno não é rico, subida na escala do valor

Continua.

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