quinta-feira, junho 08, 2023

Are you prepared to walk the talk? (parte II)

No Verão de 2019 escrevi aqui no blogue sobre a ironia da Inditex querer apostar na sustentabilidade. Recordo Are you prepared to walk the talk?

Em Março passado "Presidente da Inditex e dona da Zara, Marta Ortega, defende que não produz fast fashion". Parece um político vestido de amarelo a dizer-nos que não está vestido de amarelo. 

No entanto, toda a gente vê o amarelo, "How Zara's strategy made her the queen of fast fashion"

"Europe's policy makers have called to "end fast fashion" as they push to toughen oversight of the industry.
On Thursday, the EU parliament voted strongly in favour of a suite of recommendations designed to force the fashion industry to operate more sustainably and help consumers to make more responsible and ethical choices, pushing to bolster the scope and ambition of a regulatory roadmap laid out by the European Commission last year.
Parliamentarians called for a clear definition of fast fashion focused on low cost, low quality, high volume production and tougher measures to fight excessive production and consumption of textiles."

E já agora, "Chile’s Atacama Desert: Where Fast Fashion Goes to Die" e "The fashion industry's dirtiest secret":

"The fast-fashion brand Zara produces 450 million garments, with 20,000 new styles each year, which remain in fashion for a limited amount of time until they're replaced by new styles the following year."

Recordar: Para macro-economistas, políticos e comentadores de coisas económicas acerca do modelo de negócio da Zara.

quarta-feira, junho 07, 2023

A evolução da produtividade (parte II)


Parte I.

Originalmente a parte II metia Seth Godin e Porter, mas vamos ter de fazer uma alteração.

No passado dia 5 o WSJ publicou um artigo intitulado "Productivity Drop Blurs Economic Picture" de onde sublinho:

"You would think from May's blowout jobs report the economy was booming.

Here's the puzzle: Other recent data suggest it is in recession.

The dichotomy emerges from the divergent behavior of employment and output, two key indicators of economic activity.

...

The economy has gone through periods where output has expanded faster than employment, but seldom the other way around,

...

What explains these dissonant signals is productivity, or output per hour worked: It is cratering. That raises questions about whether the much-hyped technology adoption during the pandemic and, more recently, artificial intelligence are making a difference.

...

Labor productivity fell 2.1% in the first quarter from the fourth at an annual rate, and was down 0.8% in the first quarter from a vear earlier, the Labor Department said Thursday. That is the fifth-straight quarter of negative vear-over-year productivity growth-the longest such run since records began in 1948.

...

Usually, employment plummets during recessions because as factories, offices and restaurants produce less, they need fewer workers. That clearly isn’t happening.

...

One reason could be labor hoarding. [Moi ici: LOL. Acho esta explicação tão inverosímil] After struggling to hire and train workers during the pandemic-induced labor crunch, employers are now balking at letting them go, even as sales slip, given the labor market's unusual tightness.

...

It's "not that technology got worse in the last year, but that businesses were selling less stuff and they're nervous about their ability to attract employees, so they're holding on to their employees,"

...

A more imminent concern is that when workers produce more, companies can raise wages without increasing prices. When productivity falls, it is harder to keep inflation in check."

Ontem durante caminhada matinal li este artigo e tweetei:

Qual é a receita que proponho para o aumento agregado da baixa produtividade portuguesa? Aplicar a receita irlandesa e seduzir empresas de elevado valor acrescentado a estabelecerem-se em Portugal (ver Parte I por exemplo).

Ora o que andam os americanos a fazer? O Financial Times de ontem dá uma ajuda, Gideon Rachman escreveu uma crónica do tempo que passa com o título "How America is reshaping the world economy". Antes de irmos à crónica pensemos por um momento nos fanáticos do Excel quando chegam ao comando das empresas. O que costumam fazer? 

Cortar! Despedir e subcontratar! 

Quanto mais a empresa subcontrata mais a sua produtividade cresce.

Agora voltemos a Gideon:

"An unheralded revolution has taken place in America's approach to international economics. As the new thinking emerges, it is reshaping the global economy and the western alliance.

...

The US intends to use a new strategic industrial policy to simultaneously revitalise the American middle-class and US democracy, while combating climate change and establishing a lasting technological lead over China.

...

Many of America's allies fear that the bit that slipped off the table was the interests of foreigners. They worry, in particular, that subsidies worth hundreds of billions of dollars to American industry and clean technology, set out in the Inflation Reduction Act, will come at the expense of producers and workers in Europe and Asia."

Volto agora ao tema do artigo no WSJ, o abaixamento da produtividade. A minha tese é que na base desta evolução estará o regresso aos Estados Unidos de produção anteriormente fabricada na Ásia. Produtos de valor acrescentado mais baixo, mas protegidos do mercado do preço pelo mesmo fenómeno que salvou o calçado português,  mas protegidos do mercado do preço pelo medo de uma China que pode invadir Taiwan, mas protegidos do mercado do preço pelos "hundreds of billions of dollars" que subsidiam produções que de outra forma seriam incapazes de competir. Esta produção vem diluir a produtividade anteriormente atingida pela economia americana.

Continua.

terça-feira, junho 06, 2023

Curiosidade do dia

"Chama-se empréstimo, mas sabíamos que o dinheiro não seria devolvido."

"Não há mais nenhum governo e não há mais nenhum ministro que se possa gabar de ter deixado a TAP e a CP com lucro"

Um artista português!




A evolução da produtividade

Comecemos por um artigo publicado ontem pelo JN, "Salários de mil euros perderam 42% de poder de compra":

"Nestes vinte anos, os salários pouco subiram e muitos congelaram, principalmente no periodo da troika. A grande exceção foi o salário mínimo nacional, que duplicou. Em 2022, 56% dos trabalhadores recebiam um salário inferior a mil euros. Nos mais jovens, a percentagem era de 65%.

...

O professor da Universidade do Minho [Moi ici: João Cerejeira?] lembra que o número de alunos do Ensino Superior registou um crescimento exponencial e o efeito foi o aumento da oferta no mercado de trabalho dos mais qualificados. [Moi ici: Eheheheh esperar que, por artes mágicas, mais formação académica se traduza em mais produtividade. A tal caridadezinha que menciono aqui desde 2008]

...

No cerne, temos "o fraco crescimento da economia portuguesa desde 2000 até à pandemia", diz. São 20 anos "de crescimento muito lento" ) em que "o emprego aumenta, mas o valor gerado por trabalhador sobe muito pouco. [Moi ici: Muito bem, sem aumento do valor gerado não aumenta a produtividade e, por isso, não podem aumentar salários. Elementar! Vamos tomar nota deste ponto e chamar-lhe ponto 1] E isso está associado a um crescimento muito lento dos salários".

O crescimento quase anémico da economia deve-se ao seu padrão de especialização, que se caracteriza pela "presença muito forte no conjunto da atividade económica de ramos com baixa produtividade", aponta o economista José Reis.  [Moi ici: Será que este José Reis é o famoso Zé Reis da Universidade de Coimbra? Uma zona do país conhecida pela pujança da sua economia industrial ...] A realidade é que "75% do emprego está em ramos com produtividade igual ou inferior a 90% da produtivida de média, alguns até bastante inferior". A consequência é a emigração. José Reis lembra que, desde 2011 para cá, a média anual de emigrantes aproxima-se dos 100 mil. As empresas "acantonam-se no lado fácil da economia. [Moi ici: Olha, o "experiente" Zé Reis acha que a vida das empresas é fácil. Extraordinário]

...

José Reis defende "a óbvia necessidade de industrialização em setores de criação de valor e de uma terciarização qualificada" [Moi ici: UAU! Finalmente Zé Reis diz algo com que concordo. Não sei é se Zé Reis concorda com a receita irlandesa que proponho, desconfio que não, desconfio que vai contra o seu modelo ideológico. Vamos chamar a este tema o ponto 2 ]."

Ponto 1 

Para aumentar salários há que aumentar a produtividade a sério. Para aumentar a produtividade a sério há que aumentar a sério o valor gerado por trabalhador. Como é que isso pode acontecer?

Recorro agora a um artigo assinado por uma das pessoas que mais respeito quando o tema é "produtividade", Mika Maliranta. O artigo em causa é, "Firm lifecycles and evolution of industry productivity". Nele pode ler-se:

"Our analysis shows that the average productivity growth of firms (the within component) is unsurprisingly the most important component of industry productivity growth." 

O maior contribuinte para o aumento da produtividade na Finlândia são as empresas existentes com o seu esforço interno de aumento da produtividade. Em 2010 a Produtividade do trabalho, por hora de trabalho na Finlândia era de 114,9, quanto que em Portugal era de 70,1 (UE27=100).

Por muito esforço de melhoria da produtividade que seja feito pelas empresas portuguesas, empresas que não competem pelo volume, ele vai sempre embater na capacidade de aumentar preços de venda. Por exemplo, o calçado em 2012 exportava sapatos a um preço médio de 22,7€ por par, em 2021 esse preço médio era de 24,6€. Recordo o que aprendi sobre o calçado em St. Louis.

Ponto 2

Se as empresas que temos estão concentradas em sectores de baixo valor acrescentado, o aumento agregado desejado terá de vir de empresas novas de outros sectores de actividade.

Continua.

segunda-feira, junho 05, 2023

"What do humans need?"

"For a century, consistent industrial work was a straightforward path to create value. Productivity was simply the measure of how much better we did today than yesterday, always faster and cheaper.

Computers and outsourcing changed this metric.

...

Now industrial work often becomes a race to the bottom. The first thing any scaling company does is outsource its industrial activities (including assemblyline manufacturing and frontline customer service) to cheaper options, automating them as much as possible. If it's all created to spec, with a stopwatch, why bother paying extra?

...

Real value is no longer created by traditional measures of productivity. It's created by personal interactions, innovation, creative solutions, resilience, and the power of speed.

...

An organization of any size can effectively move forward by asking, "What do humans need?" What will create significance for those who interact with us?

This certainly isn't what industrialists have traditionally been asking. It isn't even what internet entrepreneurs have been asking. Going forward, the questions we have to ask aren't about feeding the stock market, the local retailer, or the cloud of internet servers. We're not here to fill self-storage units or simply gain market share. Instead, we're asking what our people need."

Trechos retirados de "The Song of Significance: A New Manifesto for Teams" de Seth Godin.

domingo, junho 04, 2023

Curiosidade do dia

 

"It takes three to tango in employment"

"Over the past few decades, a large number of empirical studies have been conducted to examine how the increasing supply of educated workers affects the economic growth of the nation or the returns on educational investments reaped by the individual and the whole society 

...

This paper aims to contribute to this body of literature by using an extensive set of linked register data on students, educational organisations and their institutions as well as companies. These data offer a unique opportunity to study empirically how various quantitative and qualitative aspects of the resources used in the educational organisations (and in their institutions/establishments) affect the probability of a student entering into employment or further studies rather than into non-employment upon graduation from initial vocational education.

...

Our study departs from the prevalent main strand of the literature in two important respects. Firstly, the educational outcome is here gauged on the basis of employability (or further education ability) rather than test scores. Measures that describe students' post-school performance are probably more relevant in the context of vocational education, which is primarily aimed at producing skilled labour (and pushing students into further studies).

...

Our main findings are the following. Teaching expenditures do not seem to matter but teachers' skills do. The student's characteristics and performance in comprehensive school play an important role in directing his or her choices. Parental background has strong effects even after careful control for the other factors. Local business conditions affect the outcomes of boys but little of girls. The official quality evaluations implemented by the Finnish Ministry of Education seem to pay attention especially to those aspects of initial vocational education production that are important for providing the students with capabilities for further education but less so for their employability. Finally, the performance indicator ("tulosrahoitusmittari") currently used in Finland as one of the decision-making tools for distributing funds to initial vocational education organisations does not predict well the students' propensity of employment or further studies."

Trechos retirados de "It takes three to tango in employment: Matching vocational education organisations, students and companies in labour market" de Mika Maliranta, Satu Nurmi e Hanna Virtanen.

sábado, junho 03, 2023

Coincidências

Quinta-feira, durante a minha caminhada matinal li em "Lead and disrupt: how to solve the innovator's dilemma" de Charles A O' Reilly III and Michael L. Tushman:
"Amazon lost a quarter of its annual profits to turnover in 2021. According to internal documents reported by Engadget, in 2021 Amazon lost more than eight billion dollars to attrition. Only one out of three new hires stayed for more than three months. The turnover problem is so urgent that the company is beginning to worry about running out of new people to hire"

Entretanto; ontem, no WSJ do passado dia 1 de Junho li em "AI Tapped to Weed Out Products That Are Damaged":

"Amazon.com is rolling out artificial inteligence across a dozen of its largest warehouses ...

Amazon so far has implemented the AI at two fulfillment centers and plans to roll out the system at 10 more sites in North America and Europe."

sexta-feira, junho 02, 2023

Mais uma vez, biologia e economia

"Interestingly, recent research in evolutionary biology has direct relevance for understanding how some organizations survive over time and others fail. [Moi ici: O nosso velho "a economia é a continuação da biologia"] At its heart, evolution refers to change or transformation over time. Natural selection refers to the process where, over time, favorable traits (traits useful for survival) become more common and unfavorable traits become less prevalent. In commenting on this, David Sloan Wilson, an evolutionary biologist, noted that "natural selection is based on the relationship between an organism and its environment, regardless of its taxonomic identity."  Thus, it can readily apply to organizations as well as birds, insects, slime mold, and humans.

The three major underpinnings of evolutionary theory are variation (organisms or organizations differ on traits), selection (these differences sometimes make a difference in the organisms ability to survive), and retention (these useful characteristics can be passed from one generation to another). As environments change over time, the variation in traits can make organisms more or less fit, such that the former are more likely to survive. [Moi ici: A tal paisagem competitiva enrugada que se mexe] As organizations compete and struggle for existence, they clearly vary in ways that make some more competitive than others. Fitness in this case is not the reproductive success of biology but the ability to attract resources (physical, financial, and intellectual). [Moi ici: Recordo "What was the best strategy in the end?"] Less fit organisms die. Thus, survival at the organizational level is a function of the process of variation and selection occurring across business units and the ability of senior management to regulate this process in a way that maintains the ecological fitness of the organization with its environment. [Moi ici: Por isto, o team da caridadezinha, os trabalhadores não tomam este tipo de decisões] This process does not imply random variation but a deliberate approach to variation, selection, and retention that uses existing firm assets and capabilities and reconfigures them to address new opportunities."

Trecho retirado de "Lead and disrupt: how to solve the innovator's dilemma" de Charles A O' Reilly III and Michael L. Tushman.  

quinta-feira, junho 01, 2023

"Significance is inconvenient"

Volta e meia leio, ou presencio situações que me fazem recuar a 2015:


Cuidado com o eficientismo, essa doença anglo-saxónica.

Ontem, comecei a ler o último livro de Seth Godin, "The Song of Significance: A New Manifesto for Teams" onde sublinhei:
"to find the magic that happens when we are lucky enough to cocreate with people who care.
...
The choices have never been as clear as they are now:
Industrial capitalism (industrialism) seeks to use power to create profits.
Market capitalism seeks to solve problems to make a profit.
Industrial capitalism was built on the extraordinary productivity of the machine age. Feed the machine first, turn everything (including workers and customers) into machines, and scale up the enterprise. It evolved to incorporate the network effect and natural (or unnatural) monopolies to gain more power. It then used that power to capture the efforts of government to create even more power. [Moi ici: Cenas relacionadas com biombos e carpetes, aka cronyism - Cronyism e Two types of cronyism]
...
Market capitalism, meanwhile, continues to create most of the jobs and value worldwide. This is the never-ending work of finding problems and solving them. Market capitalists have no power over customers (or even, in most cases, their employees). Instead, they work to bring effort and insight to a rapidly changing marketplace in service of their customers.
The fork is right here, right now. Perhaps it's time to notice it and to choose a path.
...
the essence of productive consumer-focused industrialism. To create convenience.
To be fair, industrial capitalism works. It creates leverage and productivity then delivers expected results, all while lowering prices and increasing access to goods and services.
The modern world wouldn't exist without the progress that industry allowed, and for many, the safety these jobs offer is a lifeline and a useful way to live.
...
But late-stage industrial capitalism is different. It doesn't know where to stop. [Moi ici: Algo a que chamamos estratégias cancerosas] It not only captures those seeking safety, but also shackles those seeking significance.

...

But the stopwatch comes for all of us.

If we are going to compete with those who seek the perfection of industrial capitalism, we should know that they will out-measure, out standardize, and outmanage us. It's a race to the bottom.


The work of significance embraces the very things that industrialism seeks to stamp out.

Significance is inconvenient.

...

The answer begins simply with: we need to choose."

Esta manhã na capa do JdN leio, "Portugal é o quarto país na Europa com mais hotéis a caminho" ... um exemplo do que é uma estratégia cancerosa que não sabe quando parar, a isto chama-se a Tragédia dos Baldios!

quarta-feira, maio 31, 2023

Quando faz sentido propor acções...

Quando comecei a minha vida profissional no mundo da qualidade foi antes de conhecer a ISO 9001. Estávamos no final dos anos 80 e ainda por cima numa empresa com capital maioritariamente japonês. O meu trabalho focava-se sobretudo na redução da variabilidade dos processos e na investigação das causas das reclamações. Por isso, falar em qualidade significava falar em melhoria, significava conhecer toda uma série de nomes japoneses ligados à melhoria da qualidade, significava conhecer Deming e Juran (Crosby nunca me disse nada, falha minha certamente).

Faz-me impressão encontrar sistemas de gestão da qualidade chefiados por gente voluntariosa, gente trabalhadora, gente que procura seguir os requisitos da ISO 9001, mas que não sabe o que é a melhoria contínua, nem conhece as suas ferramentas.

Se uma empresa tem um objectivo SMART para:

  • Reduzir as não conformidades em produção; a acção proposta não deve ser “Sensibilizar os operadores para executarem as tarefas com maior atenção e brio profissional, dar formação para operar com os equipamentos e executarem corretamente as atividades”
  • Reduzir a taxa de atrasos nas entregas; a acção proposta não deve ser “Melhorar planeamento, sensibilizar responsáveis do planeamento para melhoria, dar formação ao planeamento, dar informação às secções para melhorarem desempenho”

Por exemplo, acerca das não conformidades em produção:

  • Quais os motivos mais comuns de não conformidade?
  • Quais os produtos mais afectados pelas não conformidades?
  • Em que operação se geram as não conformidades mais comuns?
  • Há alguma relação entre a frequência de não conformidades e o dia da semana ou do mês?

Por exemplo, acerca da taxa de atrasos nas entregas:

  • Quais os motivos mais comuns de atraso nas entregas?
  • Alguma relação com o tipo de produto, ou de cliente?
  • Alguma relação com a carga de encomendas e a taxa de ocupação da capacidade?
Agora admitamos que os operadores não têm a formação adequada para operar os equipamentos, ou que quem planeia também precisa de formação. Como é que estes trabalhadores são colocados a desempenhar funções sem terem a competência adequada? O que é que falhou, e falha, no sistema para que isto possa acontecer? É uma falha na admissão ou uma falha na descrição de funções?

Não faz sentido propor acções sem primeiro perceber o que se passa, para depois investigar e procurar as causas raiz. Só depois de saber quais são as causas raiz é que faz sentido pensar em propor acções.


terça-feira, maio 30, 2023

Curiosidade do dia


 "PSOE lidera sondagens a caminho das municipais, PP aposta numa coligação anti-Sánchez

O Partido Socialista espanhol parte em vantagem na última semana de campanha para as eleições municipais e autonómicas do próximo domingo, mas viu a sua liderança baixar em mais de dois pontos percentuais em apenas dez dias: segundo as previsões do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), o partido do primeiro-ministro, Pedro Sánchez, venceria em percentagem total de votos, com 30,2%, enquanto o Partido Popular teria 27,9%. O CIS projecta ainda um empate entre o Unidos Podemos (que inclui o Podemos, a Esquerda Unida e movimentos locais de cidadãos) e o partido de extrema-direita Vox, com 8% de apoios."

Fonte.


"Porque não crescemos mais?"

"Há um grande mistério na economia portuguesa. Nas últimas décadas temos vindo a recuperar muito em termos do nível de formação da população. A força de trabalho está cada vez mais bem formada e com mais capacidades de produção. O que tem acontecido é que também se passou a notar um fenómeno que antes não existia: cada vez há mais gente a desempenhar papéis que estão abaixo da sua formação. [Moi ici: Como não recuar a 2008 e à caridadezinha. De que serve a formação se não há onde a aplicar? O que as pessoas fazem tem o seu papel, mas é muito pequeno. Aumentos a sério da produtividade dependem de acções ao nível do numerador da equação da produtividade. Ora isso não depende dos trabalhadores mas dos gestores. E toda a gente sabe que escolaridade e empreendedorismo não costumam rimar] Esse fenómeno não existia nos anos 90. Por outro lado, a economia tem gerado cada vez mais patentes, por exemplo. Mas há uma dificuldade muito grande em passar dessa criação de patentes para mais inovação. Temos mais formação, mas acabamos por não a utilizar plenamente, porque temos trabalhadores a trabalhar abaixo da sua formação. E temos muitas patentes que acabam por não se transformar em inovação. Estamos muito aquém do potencial.

...

Onde se devem procurar explicações é no facto de haver uma diversidade muito grande de produtividade entre empresas, até no mesmo setor. [Moi ici: Parece retirado aqui do blogue"o tema da distribuição de produtividades, o tema de se encontrar mais variabilidade no desempenho entre empresas do mesmo sector económico do que entre empresas de diferentes sectores económicos. A variabilidade intersectorial é menor que a variabilidade intrasectorial."] Empresas mais exportadoras e de maior dimensão têm produtividade muito maior do que outras empresas no mesmo setor, que são mais pequenas e não são exportadoras. Pergunta-se, então, porque não vão as empresas maiores buscar os recursos às mais pequenas e coloca-os a produzir mais? Porque há barreiras à transferência de recursos, porque algumas empresas têm dificuldade em morrer, [Moi ici: Como dizemos aqui no blogue, "Deixem as empresas morrer!" e cuidado com os zombies] as outras têm dificuldade em crescer e isso tem muito a ver com a concorrência que existe. Há uma postura muito defensiva de proteger os setores e que é pouco agressiva a tentar fazer crescer as empresas e tornar os setores mais dinâmicos.

...

Porque há uma boa parte da população que, no fundo, vota para garantir um nível de segurança na sua vida e tem uma preocupação maior com isso do que em fazer crescer o seu bolo. [Moi ici: Risk averse mentality e o aumento do risco, o aumento da fagilização] Está mais preocupada em proteger-se das oscilações do ciclo económico do que em realizar o seu potencial máximo e ambicionar um nível de riqueza superior.

Trechos retirados de "Porque não crescemos mais? "O Estado dificulta", mas "há uma mentalidade corporativa nos bancos e nas empresas que permite prolongar situações menos produtivas""

segunda-feira, maio 29, 2023

Past performance is no guarantee of the future

"Survivor bias is the trap of only considering the successful entries when thinking about risk. For example, if you look at the performance of mutual funds after ten years, most of them seem to do pretty well. But that's partly because the ones that did really poorly didn't make it to ten years.
We are lucky enough to live on a planet that hasn't been destroyed by an asteroid. But that doesn't mean that other planets haven't had their life forms extinguished-we're simply unaware of them.
Past performance is no guarantee of the future. Sorry.
We should plan accordingly."

Trecho retirado de "Survivor bias and the mistake of stability.

domingo, maio 28, 2023

Porque é difícil mudar de vida (parte II)

Parte I.

"Separate from size and structural inertia, as a successful organization lives longer, it also develops norms that set expectations about those behaviors associated with success. People learn that certain behaviors are rewarded, both formally and informally, in terms of status and recognition, and other behaviors are frowned on or punished. People who comply with these norms are promoted, and new employees are selected based on their ability to fit with corporate expectations. This social control system or cultural alignment helps execute the strategy and contributes to the success of the firm. Unfortunately, it also leads to cultural inertia and makes change more difficult.

So we have a paradox: the alignment of the formal control system (structure and metrics - or organizational hardware) and of the social control system (norms, values, and behavior - or organizational software) is critical to the successful execution of the strategy. But these also foster the organizational inertia that can make it difficult to change, even in the face of clear threats. Thus, in the short term, managers work hard to align the organization with the strategy. As long as the external environment remains relatively stable, this is the key to organizational success and survival.

...

The structural and cultural inertia that its leaders had worked so hard to develop suddenly impeded their ability to experiment and adopt the new subscription business model."

Trechos retirados de "Lead and disrupt: how to solve the innovator's dilemma" de Charles A O' Reilly III and Michael L. Tushman.  

sábado, maio 27, 2023

Palco e bastidores

Muita conversa no palco sobre economia, mas nos bastidores a fuga continua, "Endividamento da economia aumenta para 335% do PIB. Atinge o valor mais elevado de sempre":

"Em março, o endividamento do setor não financeiro (administrações públicas, empresas e particulares) aumentou 99,29 milhões de euros, para o valor recorde de 802,1 mil milhões de euros, o equivalente a 335% do PIB. Há um ano, esse rácio era de 329%; em dezembro era de 332%."

Recuo a 2013:

"A luz que ilumina também produz a sombra que oculta. Esta não é a primeira crise de dívida da História, mas terá uma resolução mais complexa e demorada porque tanto as taxas de crescimento do produto como as taxas de inflação são agora muito baixas, não favorecendo o resgate da dívida pelo crescimento, nem a desvalorização da dívida pela ilusão monetária. É o paradoxo da luz e da sombra: a dívida que foi contraída para estimular o crescimento é o que se traduz agora em aumento de impostos, em aumento de encargos financeiros e em impossibilidade de crescimento. E não se quis ver que o credor ocupa sem precisar de combater." 

ADENDA das 10h30:


 

sexta-feira, maio 26, 2023

Cuidado com o eficientismo

Há anos que escrevo sobre os que olham para a Economia como se olha para a ciência de Galileu ou de Newton. Em Economia o que é verdade hoje amanhã é mentira, e vice versa.

"By concentrating production in large facilities, companies can achieve economies of scale that lower the costs of production. [Moi ici: Racional típico do século XX em que que a competição pela eficiência e custo unitário era a única possibilidade de ser bem sucedido] Large-scale equipment can be operationally more efficient than smaller units.
...
To be sure, scale does not automatically translate to lower costs. In some industries, production might be undertaken on a small scale with little or no disadvantage, and it’s possible to attain economies of scale at medium-sized production units. At times, scale can even be a problem. [Moi ici: Em Mongo a variedade é mais importante que a eficiência]
...
As we’ve seen during the pandemic, overly centralized production can create fragile supply chains
...
Research has found that companies that are big but less centralized — for instance, ones that own facilities spread across the country or around the world — enjoy more limited advantages. This type of scale can yield benefits in the form of lower costs, as a distributed network can avoid the need to transport goods over long distances, and spreading out production across multiple facilities can mitigate the consequences of a disruption at a single plant. 
...
More recent research supports ... that aggregating many production units under common ownership does not yield significant operational efficiencies. And if local and regional markets are best served through a network of local and regional distribution and production facilities, what is the public benefit of a single national corporation consolidating its ownership in place of many local and regional firms? Scale tied to the aggregation of assets comes with organizational challenges that can cause significant inefficiencies. Top-level management may have a harder time directing a dispersed team of managers, necessitating the creation of additional layers of administration to ensure that the corporation and its disparate parts are run effectively. [Moi ici: Por isso há muito tempo que escrevo que a cultura portuguesa não lida bem com as exigências de gestão das organizações grandes] And this bureaucracy can add costs and be a source of inefficiency on its own."


quinta-feira, maio 25, 2023

Curiosidade do dia

Lembram-se do cromo que chefiava a embaixada do Luxemburgo em Portugal em 2007?

Em Aprenda a duvidar dos media (parte XXV) recordo um postal de 2007, Ainda a produtividade luxemburguesa vs a portuguesa, onde o embaixador do Luxemburgo de então elegia a motivação e o elevado sentimento de saudade para explicar a elevada produtividade dos portugueses a trabalhar no Luxemburgo.

Agora encontro mais um cromo luxemburguês do mesmo calibre; o comissário europeu do Emprego e Direitos Sociais, Nicolas Schmit (outro embaixador).


Porque é difícil mudar de vida

Quando os "experts" proclamarem que as empresas são viciadas em salários baixos talvez fizesse sentido que reflectissem nas dificuldades da mudança. Parece que Aristóteles terá dito "A quem os deuses querem destruir, eles enviam previamente quarenta anos de sucesso".

"Imagine that you are running a large, mature business with a well-known technology and proven business model. Furthermore, let's assume that because the business is mature and competition is intense, the strategy of the business is to compete on low costs. Imagine, for example, a semiconductor plant at Intel or a manufacturing plant at Toyota. In these instances, the key success factors are around efficiency and productivity, driving costs down (maybe through quality improvement and lean manufacturing), and incremental innovation (faster, cheaper). The skills needed for this include great operational expertise, a disciplined approach, rapid problem solving, and a short-term focus. The formal organization to promote increased efficiency and productivity typically emphasizes a functional organization (manufacturing, engineering, product development, sales, R&D with clear metrics and rewards for incremental improvement and short feedback loops to promote fast learning and the implementation of improved methods. ... this is about exploitation with an emphasis on efficiency, control, certainty, and variance reduction. [Moi ici: "variance reduction" ... como não recuar a Redsigma - O fim da linha] Improvement is a function of ever increasing alignment. With a low cost strategy, the winners are those organizations that are best able to drive out inefficiencies.

...

Now consider the challenge facing the leader of an emerging organization where the future of the business or technology is uncertain - perhaps Twitter or other social media companies. The overarching strategy is to scale quickly based on innovation and flexibility. Here the key success factors are growth, flexibility, and rapid innovation. What types of skills are needed? Clearly technical skills are important, but so is the ability to adapt and move quickly. Given the uncertainty in the technology and the market, the structure of the organization needs to be flat and able to respond quickly to new initiatives. ... The standardization and processes that help a mature organization can be deadly here.

...

To promote speed and flexibility, the culture needs to emphasize norms and values like initiative, experimentation, and speed. ... this is the alignment that promotes exploration. It's about search, discovery, autonomy, and innovation.

A couple of things are worth noting about these examples. First, although the alignments are very different, each is necessary for the successful execution of a particular strategy. When competition is based on efficiency and cost, the winner will most often be the organization that is most successful at reducing variance and promoting incremental innovation. When the market is changing rapidly, the alignment needed to succeed is one that is best able to experiment and adapt quickly. Second, attaining alignment is the primary role of the manager and it isn't easy. Setting up the systems and processes, structuring the work, motivating people and holding them accountable, and promoting constant improvement is a challenge. Third, the alignment that promotes success for one strategy may be toxic for another. And here is the rub: the alignment that makes a mature organization successful can kill an emerging business. And in the same way, the alignment that makes an emerging business work can make a mature business inefficient."

Pois, voltamos a Aristóteles::

"the alignment that has made an organization successful at one point may put it at risk in another. Great companies - those with a proud tradition - are potentially the most vulnerable to what we have labeled the success syndrome"

Não é impunemente que se tem sucesso. Por isso, não é fácil mudar. 

Trechos retirados de "Lead and disrupt: how to solve the innovator's dilemma" de Charles A O' Reilly III and Michael L. Tushman.