quarta-feira, fevereiro 22, 2017

Pessoa e os clientes

O @joaops mandou-me um interessante texto de Fernando Pessoa sobre o estar atento aos clientes e à sua realidade e não ficar pelo vómito industrial crente que o preço resolve tudo, o exemplo encontra-se em "A essência do comércio":
"Esta história, em aparência tão simples, encerra um ensinamento que todo o comerciante, que o não seja simplesmente por brincar às vendas, devia tomar a peito, compreender na sua essência. Um comerciante, qualquer que seja, não é mais que um servidor do público, ou de um público; e recebe uma paga, a que chama o seu “lucro”, pela prestação desse serviço. Ora toda a gente que serve deve, parece-nos, buscar agradar a quem serve. Para isso é preciso estudar a quem se serve — mas estudá-lo sem preconceitos nem antecipações; partindo, não do princípio de que os outros pensam como nós, ou devem pensar como nós —porque em geral não pensam como nós —, mas do princípio de que, se queremos servir os outros (para lucrar com isso ou não), nós é que devemos pensar como eles: o que temos que ver é como é que eles efectivamente pensam, e não como é que nos seria agradável ou conveniente que eles pensassem.
Nada revela mais uma incapacidade fundamental para o exercício do comércio que o hábito de concluir o que os outros querem sem estudar os outros, fechando-nos no gabinete da nossa própria cabeça, e esquecendo que os olhos e os ouvidos — os sentidos, enfim — é que fornecem os elementos que o nosso cérebro há-de elaborar, para com essa elaboração formar a nossa experiência.
O estudo do público, isto é dos mercados, é de três ordens — económico, psicológico e propriamente social. Isto é, para entrar num mercado, seja doméstico ou estranho, é preciso: 1) saber as condições de aceitação económica do artigo, e aquelas em que trabalha, e em que oferece, a concorrência; 2) conhecer a índole dos compradores, para, à parte questões de preço, saber qual a melhor forma de apresentar, de distribuir e de reclamar o artigo; 3) averiguar quais as circunstâncias especiais, se as houver, que, de ordem profunda e social ou política, ou superficial e de moda ou de momento, obrigam a determinadas correcções no resultado dos dois estudos anteriores."
BTW, ontem, de manhã estive numa reunião numa empresa. Quando me ofereceram um café disse que tinha acabado de tomar o pior café da minha vida num tasco a cerca de 2km da fábrica. O meu interlocutor sorriu e disse-me que entrou uma vez nesse tasco e viu um pequeno templo dedicado ao Benfica, saiu e nunca mais entrou.
"O comerciante não pode ter opiniões como comerciante nem deve fazer comercialmente qualquer coisa que leve a crer que as tem. Um comerciante português que faça um rótulo encarnado e verde, ou azul e branco, comete um erro comercial: quem segue a política das cores do rótulo não lhe compra o produto por isso, e quem segue a política oposta deixa muitas vezes de o comprar. Por um lado não ganha, por outro perde.
Mais incisívamente ainda: o comerciante não tem personalidade, tem comércio; a sua personalidade deve estar subordinada, como comerciante, ao seu comércio; e o seu comércio está fatalmente subordinado ao seu mercado, isto é, ao público que o fará comércio e não brincadeira de crianças com escritório e escrita."

Para reflexão

Em "Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província" (Maio de 2013) expus a minha divergência face aos gurus do reino acerca das pequenas empresas.

Em Agosto de 2015 voltei à carga por causa desta afirmação factualmente errada:
"«austeridade tem consequências benéficas, ao eliminar as empresas pequenas»"
Agora que acabei a leitura de "The Great Fragmentation : why the future of business is small" de Steve Sammartino, um livro que suporta a minha teoria sobre Mongo, o que pensar sobre o quão longe este anónimo da província está dos gurus do reino... e nem uma voz, das reunidas na tal Junqueira, ousou sair do alinhamento mental do século XX.


terça-feira, fevereiro 21, 2017

Curiosidade do dia

Isto é tão claro, tão evidente que até doi:
"Para João Duque, daqui a 15 anos vamos assistir a um grave problema social quando os jovens tiverem de sustentar “um exército de população envelhecida” e o Estado não tiver dinheiro para pagar as reformas. No entender do economista vai ser impossível o segmento mais novo da população não se revoltar.
...
daqui a 15 anos, o número de jovens com 18 anos vai ser metade dos que vão fazer 66. Ou seja, aqueles que vão chegar ao mercado de trabalho vão ser metade dos que vão ser aposentados. Serão os jovens que vão aguentar o esforço. Como é que eles vão viver? Vai ser impossível eles não se revoltarem, mas vão ser a minoria. Estou para ver o que é que vai dar, vai dar um problema social gravíssimo.
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Poderemos assistir a uma “guerra civil”?
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Vai criar um problema social gravíssimo.
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Como se pode explicar a uma pessoa que fez descontos durante toda a sua vida ativa que não vai ter direito à reforma?
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As pessoas vão fazer as contas e vão dizer que descontaram xis e, como tal, têm direito a esse valor. As pessoas vão dizer que não têm culpa de o dinheiro ter sido mal gasto. Mas nessa altura também se pode mudar a idade da aposentação para os 70, 80 anos ou até nunca mais. E essas pessoas, que são a maioria dos votantes, como é que vão votar? Vamos ter um potencial problema demográfico que já deu mau resultado quando o governo de Passos Coelho atacou as pensões e os funcionários públicos. Atacou dois universos populacionais muito significativos que se zangaram seriamente com ele e lhe retiraram a confiança. Portanto, no futuro é facílimo termos situações que, face à impossibilidade de distribuir para mantermos os compromissos, para mantermos os pagamentos das dívidas que temos, etc., ou pagamos os juros ou não pagamos os juros e a dívida para servir o interesse das pessoas."
Nunca tive ilusões desde o meu primeiro recibo de salário. Juro que olhei para ele, em S. cosme do Vale, e disse para comigo olhando para o desconto para a Segurança Social
- Eis o maior roubo!

Como nunca tive ilusões não me posso sentir iludido ao contrário da maioria dos meus concidadadãos, embalados na doce ilusão dos Vieiras da Silva et al. Só espero que a minha geração, ao chegar a sua vez de receber a reforma, tenha a inteligência de não fazer o mesmo que os egoístas da geração de Maio de 68 (geração Tu-Tu-Tu) e aceite viver com muito menos do que julga que vai ter, para não transformar as gerações mais novas em escravos dos velhos que não souberam defender os seus direitos quando era tempo disso.

Trecho retirado de "João Duque. “Estado não vai ter dinheiro para pagar reformas daqui a 15 anos”"

Dá que pensar...

Há dias escrevi "Os indicadores também ficam obsoletos quando o mundo muda".

Ontem, ao redigir um texto num relatório para uma empresa escrevi qualquer coisa como: O pico do Normalistão, o pico da força massificadora gerada pela Revolução Industrial terá atingido o seu apogeu nos Estados Unidos por volta dos anos 50 do século passado.

Entretanto à noite, durante uma caminhada li "America Isn’t Out Of Ideas. In Fact, A New Era Of Innovation Is About To Begin" onde encontrei:
"In a recent article, he points out, correctly, that total factor productivity growth has “steadily fallen” since its peak in the 1950’s and 60’s."
Dá que pensar... talvez as duas coisas estejam correlacionadas

Não há só um caminho!

"O circuito da criação até ao mercado está próximo do modelo de produção industrial, onde o verde dos campos e o bucolismo do mundo rural têm cada vez menos espaço. O tempo em que o dono do talho comprava um animal ao criador, abatia-o e vendia a sua carne é cada vez mais distante. Hoje, o negócio dos bifes e costeletas é dominado por grandes empresas dedicadas à engorda e ao processamento. Um negócio onde a eficiência é crucial."
Este sublinhado dá que pensar. Fico com a ideia que quem escreveu isto ainda está preso às sebentas que os professores formados no Normalistão aprenderam e continuam a espalhar contaminando gerações e mais gerações de estudantes com modelos obsoletos.

"Um negócio onde a eficiência é crucial" é o caminho seguido pela Monte do Pasto. Não é necessariamente o único caminho!

Um caminho alternativo passa por fazer exactamente aquilo que o sublinhado diz que está cada vez mais obsoleto. Acrescentando mais marketing, acrescentando autenticidade, contando a estória da exploração, dando nomes às pessoas, convidando os clientes a visitar a exploração ... engraçado, sem querer fui novamente parar a Adria.

Como não recordar as palavras de Jesus em Mateus 11, 25:
"Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos."
Não há só um caminho. Mongo é este enrugamento da paisagem competitiva:

Trecho inicial retirado de "Um negócio de peso"

Custo de oportunidade

"o mercado que mais valoriza os sapatos portugueses é o chinês. A região administrativa especial de Hong Kong comprou, no ano passado, três milhões de euros em sapatos, a um preço médio por par de 44,99 euros. Quase o dobro do preço médio global de exportação do setor, que foi de 23,74 euros. Em segundo lugar surge a Coreia, com 42,59 euros e, em terceiro, a China. A quarta posição no ranking é ocupada pelos Estados Unidos/ /Canadá a uma distância considerável: 34 euros. O preço final ao consumidor é, normalmente, o triplo do preço de saída de fábrica."
Estes dois sublinhados são apenas um appetizer para ilustrar a vantagem de quem segue este blogue em obter informação muito antes do mainstream:


 Mas a piéce de resistance é este trecho sublinhado:
"A verdade é que, apesar de o potencial ser enorme, a realidade é complicada. Não só pela distância, mas pela própria estrutura do mercado, onde o conceito de loja multimarca não existe ainda. Questões que levam Sérgio Cunha, da Nobrand, a assumir que a China "vai ser um mercado enorme, mas faltam anos para isso". Embora tenha lá um showroom, em Xangai, para ir marcando terreno.
Já a Profession Bottier fechou, em dezembro, o seu showroom local. Não por desinteresse no mercado, que Rúben Avelar classifica de "fascinante", mas por "falta de capacidade de investimento para alavancar o crescimento"."
Estratégia a sério é isto! Decisões dolorosas. Decisões que invertidas (não esquecer o teste de Roger Martin) não são estúpidas. Talvez a empresa sinta que nesta fase o investimento que poderia fazer na China nunca poderia ter o rendimento de outro num outro mercado: custo de oportunidade.

Trechos retirados de "Portugal já é o 5.º fornecedor de sapatos da China"

Apesar dos governos portugueses

Ontem fiz este comentário no Twitter:



Toda a gente sabe que não sou fã da geringonça mas acredito que o tsunami do reshoring é mais forte do que todos os obstáculos lançados pelos governos portugueses.

Há dias fiz esta Curiosidade do dia, depois complementada por este tweet no dia seguinte:



Ontem, o Bruno Fonseca fez um comentário que ilustra bem o que está a acontecer:
"curiosamente estive em Oliveira de Azeméis na passada semana, e o sentimento foi bastante similar ao que refere. há inúmeros investimentos em curso, algo que se repete um pouco por todo o lado. aliás, estive numa fábrica que referiu que estava a expandir instalações e foi complicado arranjar construtor para as mesmas. um bom exemplo é o distrito de Viseu, onde há já falta de mão de obra. se pensarmos que vai inaugurar uma nova fábrica de escapes em Tondela, uma fábrica de interiores para automóvel em Mangualde, uma nova queijaria em Mangualde, uma fábrica de maçã desidratada em Viseu, uma nova fábrica de têxtil lar em Viseu, a Finsa a aumentar recursos em Nelas, a Aquinos a fazer uma nova fábrica em Carregal do Sal... é incrível. e não vamos para casos ainda mais fulgurantes, como Águeda onde a falta de mão de obra vai ser patente daqui a nada. um bom sinal para o futuro, esperamos"
Mais outra referência:
"No distrito da Guarda, há empresas que fecham porque não conseguem recursos humanos qualificados." 

segunda-feira, fevereiro 20, 2017

Curiosidade do dia

"A elite dominante, mesmo quando não propõe abertamente a descrença nas instituições europeias, insinua que a periferia do Sul está a perder com o seu funcionamento "deficiente".
É certo que em certos aspectos, sobretudo nas áreas monetárias e do mercado único, há enorme margem para a crítica e a melhoria. Mas, nos aspectos mais básicos que fundamentam o bem-estar das populações mais carenciadas a criação do euro, trouxe vantagens enormes que não podem ser omitidas.
...
Em 2017, o salário mínimo em Portugal representa 73% do valor da média da UE. Este é o valor mais elevado desde a criação do euro (em 1999 fixava-se em 69%).
 .
Portugal conheceu um aumento de 85,3% do salário mínimo desde Janeiro de 1999 até Janeiro de 2017. No período 1999-2017, todos os países registaram ganhos muito significativos. Em média, na UE, o salário mínimo valorizou-se 49,4%, com valores individuais variando, entre o mínimo de 38,2% e o máximo de 85,3%. Este valor máximo refere-se, precisamente, a Portugal.
 .
Os países que mais beneficiaram foram os países do Sul ou periféricos: além de Portugal, já mencionado, Espanha (61,1%), Irlanda (61,6%), França (49,3%). A Grécia (34,6%) regista um valor inferior à média devido aos erros de política económica de sua responsabilidade; na verdade, no subperíodo 1999-2010, a Grécia viu valorizado o seu salário mínimo em 52,7% contra a média de 32,4% na UE.
 .
Portugal viu valorizado todos os anos o seu salário mínimo, graças à evolução dos preços que se revelou, nos anos de maior aperto, o grande aliado dos consumidores.
Nos anos da troika (2011-2014), o salário mínimo valorizou 3,9% em Portugal. Isto é mais do que a média da UE (3,4%). Neste período, dito de "austeridade", apenas a Grécia (-11,8%) e a Irlanda (-2,4%) sofreram quebras no salário mínimo."
Trecho retirado de "Salário mínimo, o euro e a "austeridade""

Uma aceleração tremenda

Outro sintoma de Mongo e da força da:

  • personalização;
  • rapidez,;
  • proximidade; e do
  • online
"Third-generation furniture maker Meganne Wecker is betting that customization will be the next big trend in home decor, and she's anted up to capitalize on it.
...
a digital textile printer capable of producing fabric in any one of 500 colors or patterns.
...
The question is how fast the market for midrange custom pieces will arrive, and how big it will be when it does.
...
Skyline's customers do not yet have websites designed to offer the "Nike experience"—so dubbed because consumers can craft and order customized sneakers online from the shoemaker. The Thornton company spent more than $1 million last year to buy the printer; it plans to offer its first customizable furniture through an online retailer sometime this year. The company expects others to follow.
...
High-end manufacturers like Lexington Furniture have offered customization for decades, if customers were willing to pay top dollar and wait four to 12 weeks. But Wecker doesn't need to order textiles from a supplier, and she doesn't need to buy in bulk. She just prints the fabric.
...
t's not just about the sales, either. It's about margin. Customization is one more way for retailers to differentiate themselves in a crowded market so they're not competing on price,"
Em todo o lado a força de Mongo e a implosão do Normalistão herdado do século XX.

Ainda acerca da segmentação

Ainda acerca da segmentação:
"If you find out that 20 percent of your customers consume 80 percent of your service time, have you incorporated that into how you set priorities, how you treat these customers, and how you price your products and services? You can look at the extremes, too. Which customers are clearly the price buyers? You have them. Every company does, and they will make up a good chunk of your customer base. Who are your value buyers, the ones who recognize the value you provide and are willing to pay for it? A good place to start is to assume that 15 to 20 percent of your customers are value buyers. Figure 4.5 gives more clues about what kinds of segments you may have within your market. 
A third common segment is speed and convenience. In some cases the company has a separate division by segment (such as Allstate; see figure 4.6).[Moi ici: O como eu gosto do exemplo da Xiameter vs Dow]
 They avoid confusing the two divisions. Sometimes your brand can't cover more than one or two segments. Trying to stretch a brand across too many segments will muddy your message. You have to make these brands and segments as watertight as possible. If you don't, you risk giving some customers cheap products with state-of-the-art service for too low a price."
Na sequência de "Em que situações ou contextos" pensar: em que situação/contexto um cliente insere-se no segmento do preço? e no segmento da qualidade e do valor? e ...

Trechos retirados de Stephan M. Liozu. em "Dollarizing Differentiation Value: A Practical Guide for the Quantification and the Capture of Customer Value"

"It's not "less."

As PME portuguesas que souberam dar a volta na maioria dos sectores transaccionáveis (recordar a quantidade de recordes de exportações sectoriais de 2016) depois do choque chinês, quase todas encolheram para se renovarem estrategicamente e subiram na escala de valor:
"Há 12 anos éramos 500 pessoas e tínhamos cinco clientes activos. Hoje somos 160 e temos mil clientes activos"
Recordar "O choque chinês num país de moeda forte (parte II)"

Por isso, esta frase de Seth Godin:
"The opposite of "more"
It's not "less."
.
If we care enough, the opposite of more is better."
Faz todo o sentido.

Em vez de produzir mais e mais, em vez de apostar na escala, no vómito industrial, encolher para subir na escala de valor e trabalhar para quem ouve os risos na vinha.

Mais um exemplo para o bicicletas

Depois de "Dedicado ao bicicletas" continua a minha missão de abrir os olhos do bicicletas. Talvez estes trechos retirados de "Exportação de gado salva Novo Banco de buraco de 53 milhões de euros" o ajudem:
"O problema principal da empresa era o seu foco. Ao tentar produzir para o mercado interno, entrou em competição com a carne importada de países como a Polónia ou a Roménia cujo preço era imbatível. “Nós não somos um país com muita sensibilidade para a qualidade: o que conta no mercado interno é fundamentalmente o preço”, nota Clara Moura Guedes. Quando a gestora é convidada pelo ainda BES a tomar conta dos destroços da SAPJU, havia já razões para acreditar que a dependência do mercado interno não tinha saída. Um estudo encomendado à AgroGés insistia ainda nesse caminho.[Moi ici: Um anónimo consultor da província sem precisar de ligações à agricultura há muito que sabe que esse não é o caminho. O negócio do preço não é para quem quer, é para quem pode] “Ainda bem que não o seguimos”, diz com um sorriso a administradora.
...
Mas, de imediato, Clara Moura Guedes e Gonçalo Macedo fizeram as malas e voaram para Telavive.[Moi ici: Interacção, contacto olhos nos olhos. Terá tido o seu papel?] ... Para sua sorte, dispunham de um trunfo inesperado: a qualidade dos animais que produziam permitia que até 95% da sua carne pudesse ser classificada como kosher (estado sanitário conforme à lei hebraica).
...
O espaço disponível, os investimentos em parques de engorda ou os contratos de fornecimento com 20 produtores da região foram as respostas encontradas para o desafio.[Moi ici: Trabalhar o ecossistema, desenvolver parcerias]"
Portugal não é país capaz de suportar salários médio-baixos, se não puder exportar para mercados que valorizem mais do que o preço resvalaremos para uma espécie de venezuelização mitigada.

domingo, fevereiro 19, 2017

Curiosidade do dia

If you build it they will not come
"As Orientações Estratégicas para o Sistema Aeroportuário Português, apresentadas em Julho de 2006 pelo então ministro das Obras Públicas, Mário Lino, previam que o aeroporto de Beja movimentasse, em 2015, cerca de meio milhão de passageiros. Entre 2011 e 2014, nos primeiros três anos de vida, o aeroporto de Beja movimentou 6624 passageiros e realizou 245 movimentos de aeronaves, a maioria de operações “charter”.
.
A previsão falhou e hoje, os aviões não sobrevoam o aglomerado urbano de Beja, quando, a uma dezena de quilómetros, está uma base militar e um aeroporto civil. O único ruído é o dos cinco aviões P-3C Cup+Orion que intervêm na vigilância marítima, na componente civil, mas aviões de passageiros raramente se ouvem ou observam."
Ter memória é mesmo castigo imposto pelos deuses. Recuo a 2008 e a "E isto não é uma bolha?" e a 2010 e a isto "Investir em 'cães rafeiros'"


Trecho retirado de "Aeroporto de Beja é como “quem tem uma piscina mas não a utiliza”"

Fragilismo e skin in the game

"Simply, my collaborators and I managed to define fragility as sensitivity to disorder
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(More technically, being fragile, it necessarily has a nonlinear reaction to stressors: up until its breaking point, shocks of larger intensity affect it disproportionally more than smaller ones).
...
Is fragile what has an asymmetric response to volatility and other stressors, that is, will experience more harm than benefit from it.
...
the operation of time is necessarily done through skin in the game. Without skin in the game, via contact with reality, the mechanism of fragility is disrupted: things may survive for no reason for a while, then ultimately collapse causing a lot of side harm.
...
Overconfidence: Fiducia pecunias amici “I lost money because of my excessive confidence”, Erasmus citing Theognis, Epicharmus"
Trechos retirados de "An Expert Called Lindy"

Cerâmica, que evolução sectorial?

Há uma realidade que descobri em 2008: Há mais variabilidade de rentabilidade dentro de um mesmo sector económico do que entre sectores económicos.

Em "O que os números das exportações me sugerem" refiro:
"Exportações da cerâmica disparam em seis anos e 2016 pode trazer recorde;"
Em "Cerâmica à procura de negócios da China" encontramos um retrato de empresas dinâmicas e optimistas que vêem na Ásia oportunidades de negócio interessantes. Em 2014 já era possível ver que a orientação estratégica estava a ganhar força, "O exemplo da cerâmica".

No entanto, em 2012 escrevia um postal com este título "Presos a estratégias obsoletas que geram margens cada vez mais comprimidas e salários cada vez mais espremidos" acerca do sector cerâmico ter conseguido barreiras alfandegárias contra os produtos chineses. E em 2016 em "Egocentrismo sectorial" surpreendia-me com a incapacidade de calçarem os sapatos do outro. Primeiro pedem proteccionismo para eles. Depois, quando os outros também o pedem ficam preocupados.

Irei ser injusto em alguns casos mas tenho uma teoria que defende que normalmente os líderes das associações sectoriais são provenientes não da vanguarda do sector mas das empresas mais débeis em termos de pensamento estratégico (o calçado, por exemplo é uma honrosa... muito honrosa excepção). Recordo "O poder das associações e nas associações" e "Mixed feelings".

Como terá evoluído o sector cerâmico?
Será que a variabilidade intra-sectorial aumentou? Será que as empresas que apostaram na exportação  estão melhor e a ganhar mais e, as empresas preocupadas com a entrada de cerâmica chinesa no nosso país também progrediram? Ou será que continuaram presas a estratégias obsoletas?

Alguém por aí tem informação que ajude a perceber a evolução dentro do sector?




Em que situações ou contextos

Muitas empresas não fazem qualquer esforço de segmentação dos seus clientes. Outras segmentam com base em factores que nada têm a ver com as suas vantagens competitivas, baseando-se em factores como a geografia, a dimensão dos clientes ou o tipo de produto que compram.

Recordar "Quem vê":
""I see a drink," I answered.
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"Exactly. You see a beverageI see a vineyard. I smell the grapes. I can picture a family meal. I see them smile. I hear them laugh.""
Stephan M. Liozu. em "Dollarizing Differentiation Value: A Practical Guide for the Quantification and the Capture of Customer Value" lista uma série de consequências associadas a uma má ou inexistente segmentação:

 Trust me! Isto é mesmo verdade!

Recordar "it is the situation rather than the customer" e pensar em que situações ou contextos vividos por potenciais clientes o nosso ADN dá-nos uma vantagem competitiva?

Em certos contextos ou situações os potenciais clientes vivem um problema. Estão num ponto e querem chegar a outro, para isso precisam de contratar um trabalho que lhes resolva o problema.

Subitamente ... recuei a 2009 e a "Don't think on innovation, think on solving a problem"

"conversa de diletante sem skin-in-the game"

"Na sua coluna no Expresso da semana passada, o jornalista Nicolau Santos
...
afirma que “o salário mínimo não pode nem tem de depender da produtividade.” Mas ele esquece-se de discutir o elo principal que liga os dois: a competitividade. O custo em produzir mais uma unidade é dado pelo rácio entre o salário e a produtividade. Se o primeiro sobe e o segundo não, a empresa tem de aumentar o preço em relação aos seus concorrentes. O salário, mínimo, médio, ou máximo, não só pode, como tem de depender da produtividade, se o trabalhador quer vender o que produz no mercado."
Recordar "Competitividade e produtividade" e "Uma das minhas missões"

Aumentar os custos laborais unitários sem aumentar o preço unitário só é possível se se conseguir aumentar a produtividade:

  • produzindo mais por unidade de tempo;
  • produzindo o mesmo com menos pessoas;
  • produzindo coisas com um valor acrescentado potencial superior.
Sem uma destas opções o destino é o desemprego.

Portanto, conversa de diletante sem skin-in-the game, o habitual nele.

sábado, fevereiro 18, 2017

Curiosidade do dia




Como é que este senhor acha que isto pode ajudar a:
"Em particular, espero que no próximo ano sejam encontradas e implementadas soluções com o duplo objetivo de restruturar e capitalizar as empresas e dotar o sistema financeiro de maior solidez. Esta é uma questão crucial para ultrapassar um dos principais bloqueios ao investimento."
Nem se apercebe que pede sol na eira e chuva no nabal. Jogador amador a praticar bilhar...

Para reflexão

"Success is inevitable only in hindsight. It's easy to look back on another person's path to greatness and assume that every vision was clear, every plan was perfect, every step was executed flawlessly, and tremendous success was a foregone conclusion.
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It wasn't. Success is never assured. Only in hindsight does it appear that way.
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Maybe you think the odds are against you. Maybe you think the path you've chosen is too hard. Maybe you think you may not be good enough.
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Stop thinking that way. Stop measuring yourself against other people. Stop measuring yourself against what think you deserve, or against the opportunities you think you should have.
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Pick a goal and measure yourself against that goal -- that is the only comparison that matters. Strive to be the best, at whatever you choose, that you can possibly be. Define success your way, and then work to achieve your definition of success."

Trecho retirado de "How Stephen Covey Changed Hall of Fame Quarterback Steve Young's Life"

"Agora imaginem a quantidade de Zapateros a lidar com o tema... medo!"

Ontem terminei este postal "Os indicadores também ficam obsoletos quando o mundo muda" com um texto que resume uma ideia que pode ser rastreada neste blogue até 2006:
"os muros que os políticos levantam não são nada em frente à onda gigantesca do regresso dos clientes ao Ocidente por causa da emergência da importância da proximidade (recordar os descontos) e do aumento dos custos na Ásia."
Este texto "Ver agora/comprar agita produção" ajuda os menos atentos a situarem-se um pouco melhor e a perceberem a alteração de contexto em curso:
"Para acelerar a velocidade de chegada das coleções ao mercado, muitas empresas de vestuário vão ter de reestruturar as cadeias de aprovisionamento, afirmou David Sasso, vice-presidente de vendas da Buhler Quality Yarns of Jefferson. Fiações como a Buhler estão a perceber o seu papel como parceiro no processo produtivo e a explorar questões que passam por descobrir as quantidades de fio e tecido necessárias para reagir à procura, adiando, por exemplo, o tingimento até ao último minuto. «Isso não acontece por acaso», reconheceu Sasso. «Precisamos de um compromisso com as marcas e retalhistas para podermos afirmar “isso fará com que a sua cadeia de aprovisionamento seja a mais eficiente”», explicou.
...
A estamparia digital permite que as marcas de moda planeiem de forma inteligente, mudem rapidamente os seus estilos e tenham ainda o benefício adicional de serem sustentáveis. Na verdade, trata-se de um regresso aos bons velhos tempos, quando os clientes tinham um determinado artigo encomendado a um alfaiate ou costureira, [Moi ici: Uma analogia que uso aqui com frequência] apontou Arthur Friedman, editor do WWD.
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No êxodo das fábricas de vestuário das Américas para a China e outros destinos na década de 1990, as empresas perseguiram preços de mão-de-obra mais baixos, referiu David Sasso. Muitas marcas tentaram «economizar 10 centavos e perderam um dólar ou dois, porque perderam também a capacidade de acompanhar o consumidor atual», [Moi ici: Além da lição que aprendi em 2006 ao ler o relatório aqui citado] explicou, acrescentando que muitas empresas subestimam o efeito que a velocidade pode ter na maximização das margens e na redução das promoções. Com efeito, stocks pequenos no retalho podem encorajar o consumidor a comprar “agora”, porque o produto pode desaparecer da loja rapidamente, admitiu Kai Chow, diretor de serviços criativos da consultora The Doneger Group.
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[Moi ici: Isto que se segue foi roubado aqui do blogue ;-)] A obsessão com o custo negligencia muitos outros fatores que podem ser mais importantes. Mesmo que a produção doméstica acarrete maiores custos, fatores como mínimos elevados e prazos longos no exterior significam, muitas vezes, que a produção local é mais rentável. Trabalhar com fábricas de proximidade possibilita maior controlo e flexibilidade, permitindo que os designers façam mudanças que seriam mais caras em fornecedores no exterior, defendeu Tara St James."
É isto que está a acontecer a uma velocidade cada vez mais rápida. 2006 era só o começo. Agora imaginem a quantidade de Zapateros a lidar com o tema... medo!