domingo, abril 07, 2013

they don’t sell physical goods so much as the notions that the goods are supposed to represent

Julgo que se trata de uma boa sequência para estes postais "Uma minoria com potencial para fazer a diferença":
"Moleskine’s operating margin, its profit as a percentage of revenue, was 41.7% last year. That compares favorably—indeed, very favorably—to the luxury brands the company considers to be peers, like luggage-maker Tumi (19.7%), fashion firm Prada (27.2%), and beauty-product boutique L’Occitane (16.7%). It’s not hard to see why. The raw goods of Moleskine’s paper products, which represent 93% of the company’s revenue, are cheap compared to most luxury wares, so there’s more room to mark up the price.
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The higher margins are being used by Moleskine’s bankers to justify a valuation between 22 and 29.1 times the company’s earnings last year, which is higher than brands like Burberry and Richemont. But is Moleskine best compared to all these luxury brands, which sell clothing and accessories, or companies that actually make, you know, paper? An illuminating chart from the company’s IPO prospectus makes the case that Moleskine is actually the opposite of a stationery company:
 Wrap your head around that for a second. Here is the company acknowledging that it doesn’t so much sell notebooks as it does a sense of identity and culture. But that’s the essence of luxury brands: they don’t sell physical goods so much as the notions that the goods are supposed to represent. These intangibles - ”culture, design, imagination, memory, and travel,” according to the company’s bankers - are a better business to be in than paper."
Quais são os intangíveis que oferece? Em que acontecimentos na vida dos clientes é que entra a oferta da sua empresa?

Trechos retirados de "Everything you need to know about Moleskine ahead of its IPO"

sábado, abril 06, 2013

Curiosidade do dia

A propósito da bomba relógio que é a França, 57% do PIB já é capturado pelo Estado, em "The nature of French austerity" cheguei a este texto:
"French young people must face the "embarrassing truth" that they lived in a "sclerotic gerontocracy that is collapsing a little more every day".
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The "Barrez-vous" trio said this was not about "tax evasion, but escape plain and simple" that applied as much to "apprentice restaurateurs, hairdressers and chauffeurs as to bankers".
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 "We're not going to tell young people to be masochists and stay put in a country that clearly doesn't like them," she said.
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Critics of the campaign were quick to brand the trio unpatriotic and lacking moral fibre."
Trecho retirado de "'Get out of decaying France while you can', campaign warns"

Perigosa propaganda liberal que quer promover a precariedade (parte IV)

"As one executive told me, ‘We can teach new hires the content, and we will have to because it continues to change, but we can’t teach them how to think - to ask the right questions - and to take initiative.’ ” (Moi ici: Recordo o desabafo de um empresário-gestor, esta semana, desanimado por reconhecer que as entrevistas de recrutamento que fazia não cumprem a finalidade. Contrata altos CVs com, descobre depois, deficiente espírito de iniciativa)
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 My generation had it easy. We got to “find” a job. But, more than ever, our kids will have to “invent” a job. (Fortunately, in today’s world, that’s easier and cheaper than ever before.) Sure, the lucky ones will find their first job, but, given the pace of change today, even they will have to reinvent, re-engineer and reimagine that job much more often than their parents if they want to advance in it. If that’s true, I asked Wagner, what do young people need to know today?
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Every young person will continue to need basic knowledge, of course,” he said. “But they will need skills and motivation even more. Of these three education goals, motivation is the most critical. Young people who are intrinsically motivated - curious, persistent, and willing to take risks - will learn new knowledge and skills continuously. They will be able to find new opportunities or create their own - a disposition that will be increasingly important as many traditional careers disappear.”
E, relaciono isto com:
" Technical knowledge is like the recipes in a cookbook. It is formulas telling you roughly what is to be done. It is reducible to rules and directions. It’s the sort of knowledge that can be captured in lectures and bullet points and memorized by rote.
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Right now, online and hybrid offerings seem to be as good as standard lectures at transmitting this kind of knowledge, and, in the years ahead, they are bound to get better — more imaginatively curated, more interactive and with better assessments.
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The problem is that as online education becomes more pervasive, universities can no longer primarily be in the business of transmitting technical knowledge.
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Practical knowledge is not about what you do, but how you do it. It is the wisdom a great chef possesses that cannot be found in recipe books. Practical knowledge is not the sort of knowledge that can be taught and memorized; it can only be imparted and absorbed. It is not reducible to rules; it only exists in practice. (Moi ici: Este parágrafo devia ser lido por tantos e tantos empresários que só sabem competir pelo preço, ou que são incapazes de competir no mercado onde o preço reina. O low-cost lida com o matematizável, lida com o que aparece numa receita, lida com o objectivo... uma forma de fugir do low-cost é apostar no que é subjectivo, no que não se reduz a um algoritmo, é apostar no mistério, na arte, na experiência)
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So far, most of the talk about online education has been on technology and lectures, but the important challenge is technology and seminars. So far, the discussion is mostly about technical knowledge, but the future of the universities is in practical knowledge." (Moi ici: Se ler isto, quem se vai passar com isto de contente é a Sandra Alves, alguém que pensa nestes moldes há muito tempo e que já me ensinou a visualizar uma nova realidade para a escola e para a formação do futuro. Como ela disse, conjugar a Kahn Academy com a escola: O TPC é estudar a matéria, as aulas são para praticar e tirar dúvidas)
Trecho inicial retirado de "Need a Job? Invent It" e trechos seguintes retirados de "The Practical University".
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BTW, por que é que eterno candidato à presidência da república é muito mais popular que os catedráticos nos cursos de pós graduação de algumas universidades? Os alunos gostam das aulas dele porque o homem transpira casos práticos, os catedráticos não têm esse conhecimento... do que eu me fui lembrar. Eheheh e falam da escola que temos para massificar a educação de adultos.

Muita gente devia meditar sobre isto

"Robert Schaffer has identified “seven deadly sins” of demand making, all of which are motivated by the desire to avoid confrontations with subordinates. As you read the following descriptions, ask yourself whether you recognize any of them in your own work.
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No. 1: Backing away from expectations so that a goal really becomes a wish that people can choose to ignore.
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No. 2: Engaging in charades, which conveys that the goal is just an exercise that you have to do for appearances’ sake, but you know it’s not really going to happen.
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No. 3: Accepting seesaw trades so that if your people take on one goal, they’ll get relief on another.
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No. 4: Setting vague or distant goals by putting the time frame far out into the future.
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No. 5: Not establishing consequences, so it’s impossible to differentiate between those who successfully achieve goals and those who do not.
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No. 6: Setting too many goals, which allows subordinates to pick and choose the goals they either want or find easiest to meet, but not necessarily the ones that are most important.
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No. 7: Allowing deflection to preparations and studies, which delays the moment of commitment to a real goal." 
Trechos retirados de "The Seven Deadly Sins of Making Demands"

Uma minoria com potencial para fazer a diferença.

Começando por este postal "Curiosidade do dia" e a sua figura inicial:
E, por este comentário:
"Se é difícil aceitar esta simples ilusão imagino como deve ser no "campo de batalha", convencer clientes, administradores, gerentes, etc... desta questão do valor.
Como é que se desbloqueia o Paint cerebral para comparar as cores do valor?
Tens de saber que existe um Paint cerebral.
Tens de saber que existe uma ferramenta "borracha".
Tens de querer apagar todos os quadrados menos aqueles que te interessam.
Tens de te sentar e encostar bem à cadeira quando aceitares que os quadrados são exactamente iguais."
Esta semana trabalhei com uma empresa num projecto para lançamento de uma nova marca no mercado. A reunião começou com a referência a micro-marcas, marcas para nichos, que se vendem a 700 euros o par e, terminou, já à porta da empresa a falar da invasão literal que Felgueiras está a ter de representantes de importadores que querem fazer sapatos em Portugal a 12 euros a unidade à saída da fábrica.
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Neste sítio, eu tento focar-me nos quadrados A e B e abstrair-me de tudo o resto para conseguir convencer o meu cérebro de que A e B são iguais, perante a imagem completa... às vezes parece que consigo... por breves instantes.
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Voltando ao projecto da nova marca, o exercício de convencimento passa por perceber o que outros estão a fazer, para mostrar que não é impossível. Passa por auto-disciplinar a mente, não estamos a falar de uma marca para acudir a uma necessidade, estamos a falar de uma marca para participar num sonho, para alimentar uma paixão (a conversa do almoço da última terça-feira). Daí, passamos a concentrar-mo-nos na "persona" que vai usar o artigo: Quem é? Que paixão é essa? Quem a influencia? Que locais frequenta? Em que circunstâncias usa o produto? O que sente e experiencia ao usar o produto? Não é para calçar os pés, para isso, pode ir à feira de Estarreja ao Sábado e comprar uns sapatos muito baratos nos ciganos.
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Como dizia alguém, julgo que no tal almoço de terça-feira, o problema é que a maior parte dos decisores não tem a paciência estratégica para fazer o caminho, quer logo "dar o golpe" e passar para a frente da fila... e como se constrói a autenticidade?
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Apelar à tradição com um "since 2013"?
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Sistematicamente, em velocidade de cruzeiro, a mente da maior parte das pessoas nas empresas está formatada para pensar que satisfaz necessidades, que compete num mercado homogéneo onde tudo é fungível (ganhei o gosto pela palavra) e, quando encontro um gestor ou um empresário que, por vontade própria, quer ver-se a produzir para servir mais do a satisfação de necessidades, o meu coração bate de uma forma diferente porque sei que essa pessoa pertence a uma minoria com potencial para fazer a diferença.

sexta-feira, abril 05, 2013

Curiosidade do dia

"Vendas do comércio a retalho crescem em Portugal em fevereiro"

"Portugal com a segunda maior queda nas vendas a retalho da UE"


Outra vez a fungibilidade, agora com paineleiros e salário mínimo

Já sabem o que penso sobre salários e custos laborais versus exportações.
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Este blogue há anos e anos que defende que não temos futuro a competir no mercado internacional pelo preço mais baixo, pelo custo mais baixo, ou seja com salários baixos.
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Este blogue brinca, às vezes se calhar até estupidamente, responsabilidade do seu autor que com quase 49 anos não tem, infelizmente, a capacidade de ser mais diplomata e educado, com os economistas, políticos e comentadores de painel - os famosos paineleiros da tríade - que há anos nos martelam a cabeça nos media a dizer que é preciso reduzir os custos unitários do trabalho para exportarmos mais.
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Por tudo isso, comecei a leitura do artigo com este título "Redução dos custos salariais “não é o factor chave de competitividade”" com um sentimento de concordância.
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Contudo, bastou-me ler o texto para perceber que estava em total desacordo com o autor:
"Economista Manuel Caldeira Cabral recusa que a redução de custos seja o principal factor para as empresas portuguesas ganharem competitividade. E reconhece que a proposta da UGT para subida do salário mínimo é “equilibrada”."
É outra vez a história da fungibilidade!!!!!!!!
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Faz sentido olhar para a economia portuguesa como um todo fungível?
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Não, por isso escrevo sobre 3 economias e não uma!
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Não, por isso escrevi e escrevo que baixar a TSU para ajudar os exportadores é treta! Mas, e segue-se algo que nunca nenhum político da oposição ou situação disse, baixar a TSU para ajudar as empresas que vivem do mercado interno faz todo o sentido.
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Agora imaginem o que é numa conferência intitulada “A Competitividade das Empresas e do Estado - Os Imperativos da Internacionalização e Eficiência” misturar-se:
  • salário mínimo e internacionalização;
  • salário mínimo e competitividade;
  • UGT e e economia transaccionável;
E, falar e falar de salário mínimo e exportações. E, esquecer que a maioria das empresas não exporta e vive do mercado interno...
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Há 3 economias
  • a do estado, protegida por ayatollahs e que paira como uma carraça sobre as outras duas; (lá vou ter o Mário Cortes à perna)
  • a economia dos bens não-transaccionáveis; e
  • a  economia dos bens transaccionáveis.
A economia de bens transaccionáveis nunca esteve isolada da competição internacional, já passou as passas do Algarve, já deu a volta e está muito bem (ontem mais três empresas - juro - que visitei ou falei que estão com problemas de falta de capacidade para as encomendas que têm).
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Agora, falar do salário mínimo e dizer que pode aumentar porque não é relevante para as exportações (e acredito que sim, para a grande maioria das empresas exportadoras) e não mencionar o impacte que terá para as empresas que vivem do mercado interno... é uma homogeneização enganadora... 
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Por muitos jogos que as exportadoras portuguesas ganhem a jogar andebol, isso significa pouco para a maioria que vive do mercado nacional e joga futebol.


    BTW, aquela "eficiência" em “A Competitividade das Empresas e do Estado - Os Imperativos da Internacionalização e Eficiência” encerra toda uma visão do mundo competitivo à la século XX.

    Gente que faz pela vida

    "Mobiliário português senta-se na mesa grande em Milão"
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    "Exportações estão sólidas como rochas"
    "O sector das rochas ornamentais foi responsável em 2012 por um volume de exportações que chegou aos 324 milhões de euros, uma subida de 5% face ao ano transacto, de acordo com indicadores preliminares do INE."

    Fungibilidade e anátemas

    Depois de terminar a redacção deste postal "Comparações enganadoras (parte II)" li este artigo "Presidente da República sublinha necessidade de "produzir mais para exportar mais"" onde tropecei nisto:
    ""Portugal no ano que terminou importou cerca de 7100 milhões de euros de produtos alimentares de origem agrícola, exportou 4200 milhões de euros de exportações de origem agrícola. Portanto, nós temos de conseguir produzir mais para exportar mais e importar menos", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, durante a apresentação da nova plataforma Peço Português."
    A minha mente de não-economista foi ao arquivo mental e desencantou uma palavra:
    FUNGIBILIDADE 
    Até parece que faz sentido no campo agrícola produzir para substituir importações... por que havemos de destruir os nossos pobres solos a produzir mais cereais e oleaginosas, que podem ser comprados a preços sempre mais baixos no mercado internacional, e não devemos antes produzir mais daquilo em que somos bons ou podemos fazer a diferença?
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    Temos de produzir mais vinho para importar menos "água escocesa"?
    Temos produzir mais pêras para importar menos mangas?
    Será que são fungíveis? Será que se podem comparar e meter no mesmo saco golos numa partida de andebol e de futebol? Temos de jogar muito melhor para que a média de golos nas partidas de futebol se aproxime da média de golos nas partidas de andebol... pois!
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    Por que é que os políticos, e não só, são capazes de, na mesma frase, anatemizar as importações e abençoar as exportações?
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    As exportações que esse político A abençoa são importações de outro país B... o que diria esse político A de um político B no país B que fizesse uma campanha violenta anatemizando as importações feitas do país A? Será que gostava?

    Comparações enganadoras (parte II)

    Parte I.
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    Entretanto, antes de mostrar como isto se relaciona com o calçado português, lembrei-me de mostrar outra ilusão:
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    No momento t tínhamos este desempenho:
    Imaginemos que no momento t+1 tínhamos este cenário para o desempenho das equipas por país:
    No país B houve festa e celebração, entre t e t+1, aumentou a média global de golos por equipa!!!!
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    Agora, olhem para o que aconteceu às equipas em cada modalidade no país A e no país B entre t e t+1.
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    No país A as equipas mantiveram ou melhoraram a sua média de golos por jogo.
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    No país B todas as equipas pioraram a sua média de golos por jogo. No entanto, como aumentou a quantidade de equipas a jogar basquetebol, apesar da média de golos por jogo ter baixado, a média global por equipas deu um salto muito bom.
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    Vejamos então, como é que isto se aplica ao calçado português.
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    Continua.

    quinta-feira, abril 04, 2013

    Subir na escala de valor na mente do cliente

    "To name a price is to build a valuation (rather than to excavate deep into the psyche and uncover one).
    ...
    Analogously, we can describe three different views about the nature of values. First, values exist - like body temperature - and people perceive and report them as best they can, possibly with bias (I call them as I see them). Second, people know their values and preferences directly - as they know the multiplication table (I call them as they are). Third, values or preferences are commonly constructed in the process of elicitation (they ain’t nothing till I call them).
    ...
    The research reviewed in this article is most compatible with the third view of preference as a constructive, context-dependent process. What did gain support was the relativity of prices. What people want, and how much they’re willing to pay, depends on the granular details of how you phrase the question."
    Ontem, recebi um comentário a esta "Curiosidade do dia" que suporta esta ideia da relatividade... o valor não existe, o valor é uma construção mental mais ou menos atabalhoada, mais ou menos organizada. Se a nossa mente consegue enganar-se numa coisa tangível como uma imagem e, levar-nos a concluir que coisas iguais são diferentes, o que dizer, o que imaginar sobre como podemos ser levados a construir diferentes valorizações em função "das sombras escuras de cilindros" que nos coloquem, "inocentemente", no caminho.
    .
    E é aqui que as PMEs têm de apostar, na subida na escala de valor na mente dos clientes...

    Trecho retirado de "Priceless The Myth of Fair Value (and How to Take Advantage of It)" de William Poundstone.

    assistia do seu acampamento, amedrontado, acobardado, aos desafios arrogantes do gigante Golias e...

    Normalmente, quando faço parte da equipa incumbida com o desafio da formulação da estratégia para uma empresa, procuro seguir um percurso, que pode ser mais ou menos ajustado em função da empresa em particular e do que ela já interiorizou sobre ela própria, que passa por:

    • fazer a análise SWOT;
    • fazer a análise PESTEL;
    • criar um gerador de cenários; e
    • fazer a análise TOWS.
    Gosto, como oleiro, como artesão de estratégias, com cada vez mais tarimba, de criar geradores de cenários a partir da informação das análises SWOT e PESTEL.
    .
    Um fragmento de um dos últimos que criei tinha uma parte muito generalizável para vários sectores de actividade que operam no mercado interno:
    Breve legenda: Se a "economia" baixar -> a "facilidade de financiamento de empréstimo" baixa. Se essa baixa -> baixa a taxa de "sobrevivência das empresas do sector". Se essa baixa -> aumenta o "esforço para a redução de custos", e assim por diante.
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    Uma das vantagens destes geradores de cenários é a facilidade com que mostram as armadilhas sistémicas em que uma empresa pode cair:
    Se o esforço para reduzir custos aumenta, cortam-se benefícios, atributos e experiências a serem vividos pelos clientes (o exemplo dos jornais por exemplo) logo, a atractividade das empresas para os clientes baixa. Se baixa, os clientes opta-se pelo mais barato, o oferecido pelo low-cost... o número de clientes baixa, a receita baixa desproporcionadamente (recordar o Evangelho do Valor)... se a receita baixa, aumenta o esforço para reduzir ainda mais os custos e, assim, começa uma espiral que vai levar as empresas que não saírem deste atractor, para o baú das recordações.
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    A grande vantagem de uma imagem destas é que permite aos intervenientes verem o resultados das suas decisões várias jogadas à frente (há que recordar que somos quase todos, nesse campo, péssimos jogadores de bilhar) e, ficar claro que o campeonato do low-cost não é a solução para a maioria das empresas.
    .
    Escrevo tudo isto por causa deste artigo "Pequeno retalho em perigo":
    "Para os retalhistas especializados da Europa e EUA, os tempos estão difíceis. O clima económico instável é um fator crítico, mas um problema não menos importante para milhares de empresas em dificuldades é a transferência de poder da loja física para o retalho on-line.
    ...
    Do outro lado do Atlântico, muitos retalhistas consideram que a concorrência do e-commerce, e cada vez mais do m-commerce, está a acelerar tão rapidamente que já não é uma questão de saber se vão cortar volume de vendas, mas de quanto vai ser o corte.
    ...
     para os retalhistas especializados mais pequenos, na medida em que a maioria simplesmente não possui economias de escala para
    ...
    As margens são já demasiado apertadas para a maioria dos pequenos atores independentes competirem com a Primark (ou a Old Navy nos EUA), enquanto o retalho na Internet evoluiu de tal forma que é agora praticamente impossível alguma iniciativa ser bem-sucedida se não for nas plataformas mais sofisticadas. O aumento de escala para a maioria dos retalhistas especializados é demasiado dispendioso."
    Quem escreveu isto está na mesma posição de quem, há muitos dias, assistia do seu acampamento, amedrontado, acobardado, aos desafios arrogantes do gigante Golias e, não vislumbrava alternativa para o combater senão de igual para igual... mas como é que um normal pastor hebreu podia combater um gigante experimentado em muitas batalhas, um profissional da guerra?
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    Quem escreveu isto está na mesma posição da equipa que fez uma análise SWOT por fazer e não deu ouvidos ao que o resultado grita:
    "NÃO VÃO POR AÍ!!! NÃO PODEM COMPETIR NO MESMO TERRENO QUE DÁ VANTAGEM AOS "INIMIGOS""
    O que dizem os pontos fracos? O que dizem as ameaças?
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    A única forma de fugir ao atractor, ao buraco negro da figura lá de cima é virar o tabuleiro como fez o jovem David e, com base em pequenas pistas dos pontos fortes conjugados com as mais ou menos ténues oportunidades, vislumbrar uma alternativa que não seja fácil ou cómoda para os Golias deste mundo (nisso é que a análise TOWS é muito útil).
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    Na minha opinião, como outsider, uma das alternativas possíveis está à vista no texto:
    "O desaparecimento dos pequenos retalhistas de vestuário especializados é negativo para a indústria da moda. As lojas independentes são muitas vezes a única via de acesso ao mercado para os novos designers e desempenham um papel incontornável no mundo da moda em geral."
    Os pequenos retalhistas podem criar alternativas estratégicas em torno de jovens designers desconhecidos que apelem a tribos, a gostos diferentes da maioria massificada e uniformizada. Lojas com produtos exclusivos que transpiram autenticidade e que podem ser de rua, de centro comercial ou online, ou tudo ao mesmo tempo. O Estranhistão, Mongo, tem de ser encarado de outra forma pelos pequenos.

    Como é que a "narrativa" da espiral recessiva explica isto?

    Estatisticamente até pode ser um acidente.
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    Sim, uma andorinha não faz a Primavera, mas para a narrativa da espiral recessiva... "Consumo de electricidade volta a subir depois de 26 meses a cair":
    "O consumo de electricidade em Portugal subiu 4,7% em Março face ao mesmo mês de 2012. Uma parte substancial deste aumento deve-se a dias mais frios, mas, mesmo corrigido o efeito da temperatura e dos dias úteis, os dados da REN (Rede Eléctrica Nacional) revelam um crescimento real de 1,6% o mês passado.
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    É preciso recuar até Dezembro de 2010 nas estatísticas para encontrar um mês com um crescimento real da procura de energia eléctrica em Portugal, ou seja, descontado os efeitos de feriados e variações de temperatura. Isto significa que há 26 meses consecutivos que o consumo eléctrico em Portugal caía face ao mesmo mês do ano anterior."

    Comparações enganadoras (parte I)

    Imaginem que os países começam a fazer comparações entre si e a dizerem: "a nossa indústria desportiva é melhor do que a do país do lado".
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    Qual é o critério para avaliar "ser o melhor"?
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    Os "sábios" reúnem-se e determinam: o país com a melhor média de "golos por jogo" ganha!
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    Os desportos considerados são: o futebol; o andebol e o basquetebol (onde 1 cesto é igual a um golo). Eis o desempenho comparativo dos países A e B:
    Conclusão?
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    O país B tem o melhor desempenho desportivo!
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    O país B tem o melhor desempenho desportivo? O melhor?!?!?!
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    Mas as equipas do país B têm piores médias...
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    O país B só ganha por causa da composição da sua "indústria desportiva".
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    Vejamos como isto se aplica ao sector do calçado português.
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    Continua.

    quarta-feira, abril 03, 2013

    Curiosidade do dia

    Actualização dos números do crédito às famílias, daqui passamos a "PME são quem mais reduziu dívidas desde a chegada da troika":
    "CRÉDITO ÀS FAMÍLIAS Já em relação à dívida dos particulares, os dados do Banco de Portugal mostram que desde o final de 2010 o endividamento tem vindo a cair a pique. O tipo de crédito mais afectado é o financiamento a título individual para actividades empresariais, que recuou 27%, para cerca de 4,4 mil milhões. Seguem-se os empréstimos ao consumo que nos últimos dois anos caíram 11,2%, ou seja, menos 6,12 mil milhões de euros. Os portugueses deviam no final do ano passado 48,1 mil milhões neste tipo de créditos."

    Populismo com o dinheiro dos contribuintes

    Perante esta proposta "É o Disparate Mínimo Nacional: Impostos a financiar subida dos salários?" (é tão sexy gerir com o dinheiro dos outros) o que dizer disto "Reino Unido equaciona reduzir o salário mínimo"?

    Cargo cult

    O que me chamou a atenção foi esta citação sem hiperligação:
    "«Por cada hora de trabalho só produzimos 17 euros»
    Professor do ISEG diz que actual crise está na origem da baixa produtividade dos trabalhadores de Portugal."
    Pesquisando cheguei a «Por cada hora de trabalho só produzimos 17 euros» de onde retirei:
    "No programa Olhos nos Olhos, na TVI24, nesta segunda-feira, Avelino de Jesus defendeu ainda que na origem da crise portuguesa esteve a produtividade reduzida dos trabalhadores, uma das mais baixas da Europa.
    ...
    «A crise atual repousa na baixa produtividade do país. Em cada hora de trabalho nós só produzimos 17 euros», afirmou o catedrático, que considerou ainda que a «austeridade tem consequências benéficas, ao eliminar as empresas pequenas»."
    Ontem, enquanto viajava de carro cometi o erro de ligar para a TSF à hora do forum. Apanhei Peres Metelo a dizer esta barbaridade para o meu modelo mental:

    "vivemos abaixo das necessidades da economia"
      A economia não está separada da vida, a economia é uma consequência da vida. Separar a economia da vida leva a maus resultados, sobretudo quando se praticam rituais que confundem correlação com causalidade: "cargo cult"
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    Ainda há menos de uma semana apareceu um título nos media que dizia que em percentagem, Portugal tem menos funcionários públicos que os restantes países da zona euro. A mentalidade de cargo cult queria com isto dizer: para aspirarmos a sermos mais ricos como país, como os outros da zona euro, temos de ter ainda mais funcionários públicos.
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    Como é que um país saudável paga aos seus funcionários públicos?
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    Com base na riqueza gerada pelo sector privado!
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    Se a riqueza gerada pelo sector privado é mais baixa não se pode querer copiar modelos que resultam noutros países com outra capacidade de gerar riqueza.
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    Pegando nas palavras de Avelino de Jesus, será abusivo concluir que ele pensa que a culpa é da actividade privada que não gera a riqueza suficiente para sustentar o Estado que temos? Não deveria ser ao contrário, não deveria a dimensão do Estado ser a que é permitida pela riqueza gerada pela comunidade?
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    Ou então, também se pode seguir outra via: se a baixa produtividade, só produzimos 17 € por hora trabalhada, foi o que nos trouxe até aqui, como se explica que países como a Espanha com 30 € por hora trabalhada, ou a Irlanda com mais de 50 € por hora trabalhada, ou a Itália, ou a França, também estejam a passar por crises mais ou menos semelhantes, mais ou menos graves? Se calhar estamos a falar da mesma doença, a hipertrofia do Estado. Na primeira década do século XXI o Estado inglês cresceu 50%!!!! E á como cá a austeridade é para os cidadãos não para o Estado..
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    Um reparo ao texto da Agência Financeira:
    "Professor do ISEG diz que actual crise está na origem da baixa produtividade dos trabalhadores de Portugal"
    Pessoalmente acredito que se devia deixar de falar na produtividade dos trabalhadores, devia-se falar na produtividade das empresas. Trabalhadores preguiçosos a produzirem artigos de elevado valor acrescentado potencial terão sempre produtividades superiores a trabalhadores virtuosos e dinâmicos a produzirem artigos que se vendem a preços de caca. O factor que mais influencia o nível de produtividade dos trabalhadores está fora do seu nível de actuação: para quem vender, como vender e o que vender.
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    Um último reparo às afirmações de Avelino de Jesus:
    «austeridade tem consequências benéficas, ao eliminar as empresas pequenas»
    Olhem para a foto de Avelino de Jesus! Que idade terá? Que modelos económicos, que teorias, que Leis Universais e Eternas reinavam quando, qual ganso, saiu da casca e entrou no mundo da economia? Foi isso que o enformou, que aprendeu a apreciar, que fez dele alguém bem sucedido na sua carreira. Avelino de Jesus sabe tudo sobre o Fordismo, sabe tudo sobre produção em massa, sabe tudo sobre a vantagem de se ser Golias num mundo em que a eficiência é rainha e senhora do tabuleiro económico.
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    Por isso, acredito que lhe seja difícil perceber como se compete no Estranhistão a que chamo Mongo em que "small is beautiful".
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    Como é que a "narrativa" da espiral recessiva explica isto?

    Um fenómeno interessante "Vendas de marcas de fabricantes estão a crescer mais que as marcas próprias":
    "De acordo com os dados, no final de fevereiro, as marcas de fabricantes cresciam, em valor, 2,6%, acima das marcas de distribuição, que avançavam 1,9%.
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    Em janeiro, as vendas de marca da distribuição, vendidas pelas cadeias de supermercados ou hipermercados, cresciam 3,3%, enquanto no final de dezembro o ritmo era de 5,5% e um mês antes era de 6%, o que demonstra o abrandamento na comercialização deste tipo produtos.
    ...
    Em novembro passado, de acordo com dados da Nielsen, as vendas em valor dos produtos da marca de fabricantes regressaram a terreno positivo, ao crescer 0,3%, depois de ter estado a cair durante o segundo semestre de 2012.
    .
    Em dezembro, as vendas estagnaram, tendo voltado a crescer em janeiro, a um ritmo de 1,9%, com fevereiro a representar a sua maior subida (de 2,6%) desde maio de 2012."
    Pena o autor do artigo não ter contactado a Centromarca para obter a sua opinião.
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    Este fenómeno, associado a:
    "No total, os bens de grande consumo aumentaram 2,3% a faturação em fevereiro, face ao mês anterior, o qual tinha registado um crescimento mensal de 3%.
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    Em termos homólogos, o mercado de grande consumo no final de fevereiro cresceu 2,7% para 1,2 milhões de euros."
    Leva a questionar a "narrativa" da espiral  recessiva... recordar o aumento da venda de automóveis durante o 1º trimestre de 2013.
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    Apesar do enorme aumento de impostos, houve algum grupo que em 2013 esteja com rendimentos superiores aos de 2012?

    terça-feira, abril 02, 2013

    Curiosidade do dia

    Um exemplo que me fascinou... é tão fácil sermos iludidos, é tão fácil sermos enganados, é tão fácil sermos manobrados:
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    Olhem bem para a figura que se segue:
    Acham que o cinza do quadrado A é mais escuro que o cinza do quadrado B?
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    Eu sou capaz de apostar de olhos fechados que sim, o cinza do quadrado A é mais escuro que o cinza do quadrado B.
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    Agora, com a imagem no powerpoint, vou começar a tapar toda a figura com tiras brancas até deixar só os quadrados A e B à vista:
     Agora reparem no que acontece quando tapo o cilindro:
    E, por fim:
    "It’s not hard to understand how the illusion works. The cylinder casts a shadow, darkening “white” square B (which is really gray). In terms of ink dots on paper, B is the same gray value as “black” square A. But the eye and brain have more important things to do than gauging absolute grayscale values. They are trying to make sense of the world, or in this case, a picture. That means attending to contrasts. We see a checkerboard on which all the “white” squares are the same color, and a uniform shadow with blurred edges. The contrast between light and shadow doesn’t interfere with the contrast of the checkerboard squares, or vice versa.
    ...
    Subjectively, there are no absolutes, only contrasts."
    Agora imaginem o quão fácil podemos ser iludidos mesmo...
    .
    Agora recordem "Value it's a feeling not a calculation!"
    Depois, recordem que o preço deve ser baseado no valor e não no custo...
    Conseguem ver a relação?
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    Trecho retirado de "Priceless The Myth of Fair Value (and How to Take Advantage of It)" de William Poundstone.


    Bom senso!

    "Less than 5 percent of the $800 billion Obama stimulus went to the truly needy for food stamps, earned-income tax credits and other forms of poverty relief. The preponderant share ended up in money dumps to state and local governments, pork-barrel infrastructure projects, business tax loopholes and indiscriminate middle-class tax cuts. The Democratic Keynesians, as intellectually bankrupt as their Republican counterparts (though less hypocritical), had no solution beyond handing out borrowed money to consumers, hoping they would buy a lawn mower, a flat-screen TV or, at least, dinner at Red Lobster.
    ...
     These policies have brought America to an end-stage metastasis. The way out would be so radical it can’t happen. It would necessitate a sweeping divorce of the state and the market economy. It would require a renunciation of crony capitalism and its first cousin: Keynesian economics in all its forms. The state would need to get out of the business of imperial hubris, economic uplift and social insurance and shift its focus to managing and financing an effective, affordable, means-tested safety net.
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    All this would require drastic deflation of the realm of politics and the abolition of incumbency itself, because the machinery of the state and the machinery of re-election have become conterminous.
    ...
    The United States is broke — fiscally, morally, intellectually — and the Fed has incited a global currency war (Japan just signed up, the Brazilians and Chinese are angry, and the German-dominated euro zone is crumbling) that will soon overwhelm it. When the latest bubble pops, there will be nothing to stop the collapse. If this sounds like advice to get out of the markets and hide out in cash, it is."
    Trechos retirados de "State-Wrecked: The Corruption of Capitalism in America"