quarta-feira, abril 03, 2013

Cargo cult

O que me chamou a atenção foi esta citação sem hiperligação:
"«Por cada hora de trabalho só produzimos 17 euros»
Professor do ISEG diz que actual crise está na origem da baixa produtividade dos trabalhadores de Portugal."
Pesquisando cheguei a «Por cada hora de trabalho só produzimos 17 euros» de onde retirei:
"No programa Olhos nos Olhos, na TVI24, nesta segunda-feira, Avelino de Jesus defendeu ainda que na origem da crise portuguesa esteve a produtividade reduzida dos trabalhadores, uma das mais baixas da Europa.
...
«A crise atual repousa na baixa produtividade do país. Em cada hora de trabalho nós só produzimos 17 euros», afirmou o catedrático, que considerou ainda que a «austeridade tem consequências benéficas, ao eliminar as empresas pequenas»."
Ontem, enquanto viajava de carro cometi o erro de ligar para a TSF à hora do forum. Apanhei Peres Metelo a dizer esta barbaridade para o meu modelo mental:

"vivemos abaixo das necessidades da economia"
  A economia não está separada da vida, a economia é uma consequência da vida. Separar a economia da vida leva a maus resultados, sobretudo quando se praticam rituais que confundem correlação com causalidade: "cargo cult"
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Ainda há menos de uma semana apareceu um título nos media que dizia que em percentagem, Portugal tem menos funcionários públicos que os restantes países da zona euro. A mentalidade de cargo cult queria com isto dizer: para aspirarmos a sermos mais ricos como país, como os outros da zona euro, temos de ter ainda mais funcionários públicos.
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Como é que um país saudável paga aos seus funcionários públicos?
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Com base na riqueza gerada pelo sector privado!
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Se a riqueza gerada pelo sector privado é mais baixa não se pode querer copiar modelos que resultam noutros países com outra capacidade de gerar riqueza.
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Pegando nas palavras de Avelino de Jesus, será abusivo concluir que ele pensa que a culpa é da actividade privada que não gera a riqueza suficiente para sustentar o Estado que temos? Não deveria ser ao contrário, não deveria a dimensão do Estado ser a que é permitida pela riqueza gerada pela comunidade?
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Ou então, também se pode seguir outra via: se a baixa produtividade, só produzimos 17 € por hora trabalhada, foi o que nos trouxe até aqui, como se explica que países como a Espanha com 30 € por hora trabalhada, ou a Irlanda com mais de 50 € por hora trabalhada, ou a Itália, ou a França, também estejam a passar por crises mais ou menos semelhantes, mais ou menos graves? Se calhar estamos a falar da mesma doença, a hipertrofia do Estado. Na primeira década do século XXI o Estado inglês cresceu 50%!!!! E á como cá a austeridade é para os cidadãos não para o Estado..
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Um reparo ao texto da Agência Financeira:
"Professor do ISEG diz que actual crise está na origem da baixa produtividade dos trabalhadores de Portugal"
Pessoalmente acredito que se devia deixar de falar na produtividade dos trabalhadores, devia-se falar na produtividade das empresas. Trabalhadores preguiçosos a produzirem artigos de elevado valor acrescentado potencial terão sempre produtividades superiores a trabalhadores virtuosos e dinâmicos a produzirem artigos que se vendem a preços de caca. O factor que mais influencia o nível de produtividade dos trabalhadores está fora do seu nível de actuação: para quem vender, como vender e o que vender.
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Um último reparo às afirmações de Avelino de Jesus:
«austeridade tem consequências benéficas, ao eliminar as empresas pequenas»
Olhem para a foto de Avelino de Jesus! Que idade terá? Que modelos económicos, que teorias, que Leis Universais e Eternas reinavam quando, qual ganso, saiu da casca e entrou no mundo da economia? Foi isso que o enformou, que aprendeu a apreciar, que fez dele alguém bem sucedido na sua carreira. Avelino de Jesus sabe tudo sobre o Fordismo, sabe tudo sobre produção em massa, sabe tudo sobre a vantagem de se ser Golias num mundo em que a eficiência é rainha e senhora do tabuleiro económico.
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Por isso, acredito que lhe seja difícil perceber como se compete no Estranhistão a que chamo Mongo em que "small is beautiful".
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2 comentários:

lookingforjohn disse...

"Trabalhadores preguiçosos a produzirem artigos de elevado valor acrescentado potencial terão sempre produtividades superiores a trabalhadores virtuosos e dinâmicos a produzirem artigos que se vendem a preços de caca."

Brilhante. Podia fazer um blog só com esta frase.

Bruno Fonseca disse...

exactamente.

há alguns anos atrás, foi feito um teste "cego" à qualidade dos fatos de uma série de marcas. entre elas estava a antiga Maconde. e nesse teste cego, foi a preferida pelos consumidores, em Londres.
fizeram o mesmo teste, mas desta vez com as marcas, e ficou em último. literalmente em último.

o funcionário da Maconde que fornece uma qualquer marca, fazendo um produto de elevada qualidade, terá uma produtividade X. o funcionário que terá apenas que receber a encomenda e enviar para determinada loja, terá uma produtividade > a X.

não são os trabalhadores que são mais ou menos produtivos. é o resultado desse trabalho que é mais ou menos produtivo.