sexta-feira, junho 07, 2024

Preços e golos (parte II)

"O agravamento dos custos de produção associado à "dificuldade de aumento" do preço médio de venda "põem em causa a sustentabilidade financeira" do setor do calçado, diz a Ernest & Young"
Esta é a lógica por trás dos "Flying Geese", por mais produtiva que seja uma empresa ou um sector, os seus resultados vão sempre ser limitados pelo preço de venda. 

Numa economia que vai de vento em popa o agravamento dos custos de produção (da frase lá de cima) resulta do aumento dos salários e da incapacidade de competir com outros sectores de actividade com margens mais altas, mais produtivos. Daí a tal evolução:
"O Japão deixou de produzir vestuário porque as empresas produtoras de vestuário deixaram de poder gerar rendimento suficiente que pagasse salários competitivos aos seus trabalhares. Por isso, esses trabalhadores migraram, primeiro para a metalomecânica, depois para a electrónica e assim sucessivamente."
Uma linha de pensamento é associar a dificuldade em seguir esta evolução por causa dos apoios comunitários. Apoios que dão soro a empresas que o mercado não está mais disposto a suportar

Numa economia que vai mal o agravamento dos custos de produção resulta da incapacidade de gerar meios para pagar matérias-primas cada vez mais caras.

Numa economia socialista focada na distribuição o agravamento dos custos de produção resulta da incapacidade de gerar meios para pagar matérias-primas cada vez mais caras e salários que crescem mais do que a produtividade.
"A questão é que o aumento do custo da mão-de-obra "foi superior ao crescimento da produtividade e do preço médio de exportação, criando pressão sobre as margens e ameaçando a sustentabilidade financeira do setor", frisa a consultora. O preço médio, como referido, cresceu 18,9%, o salário mínimo nacional subiu 57% no mesmo período. O setor está, por isso, numa fase de redefinição estratégica."
Estamos no "muddling through" da FASE IV também conhecido aqui por "fuçar":
Este formato de curva não é original.

Na parte I terminei o postal escrevendo:
"para reduzir os custos de produção, ... sugere às empresas ganhar escala com a integração de vários players"


"'os produtores portugueses com mentalidade e know-how conseguirão entrar no mercado de luxo, oferecendo preços mais competitivos" do que o maior concorrente."
Ao ler isto fico convencido que deve ter havido algum erro de tradução dos jornalistas. 

Pergunto-me: Qual a experiência da EY com o sector do calçado?

O DN responde em "Para crescer, consultora sugere à indústria do calçado subcontratar lá fora e apostar no luxo":
"Encomendado pela associação dos industriais desta fileira (APICCAPS) à consultora internacional, que trabalha regularmente com os principais grupos económicos do setor como a Kering ou a LVMH, o estudo considera que Portugal é uma forte alternativa a Itália, que é líder mundial incontestável no calçado de luxo, apesar de representar apenas 1% do mercado global."
Recordar "Não é impunemente", aquilo que se aprende a trabalhar "regularmente com os principais grupos económicos do setor" muito provavelmente não funciona num universo de PMEs que terão primeiro de trabalhar o private label do luxo. E claro, eu só sou um anónimo engenheiro de província, um Zé-Ninguém, porque na minha mente ao contrário de:
"Do lado da diminuição dos custos de produção, a consultora recomenda o aumento de escala, com a integração de vários players, o aumento da produtividade e a otimização do custo da mão-de-obra, subcontratando fora. [Moi ici: Será que a APICCAPS ainda está de olho no Bielorússia?] Além disso, é preciso diminuir os custos das matérias-primas, através da inovação do produto."

Penso:

  • se o negócio é luxo a prioridade não pode ser o custo;
  • se o negócio é luxo vejo mais futuro em pequenas unidades, quase artesanais, como em:
"Wittmer makes about four pairs of shoes per month at her three-person workshop, called Saskia, starting at about 3,000 euros ($3,540) per pair, including 500 euros for the last, which always stays at the cobbler." 

  • a empresa média italiana é mais pequena que a empresa média portuguesa.
Continuo a sentir que algo não bate certo.

O que será mais fácil, conquistar clientes do segmento luxo entre marcas estabelecidas ou entre marcas que estão a começar? E quanto maior uma empresa mais as marcas que estão a começar são uma nuisance.

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