domingo, outubro 19, 2025

Curiosidade do dia

No jornal(?) Público "Bancos vêem risco de queda de preços da habitação e temem crise no emprego"


Engraçado ver esta dança: políticos e cidadãos clamam todos os dias que ‘é preciso baixar o preço das casas’, enquanto os bancos, com ar grave, anunciam que ‘há risco dos preços das casas caírem’.

Afinal, estamos todos de acordo… mas em lados diferentes do mesmo espelho: uns falam de acesso à habitação, outros falam de rácios de capital.

Ironia suprema: quando o preço sobe, é um problema social; quando o preço desce, é um problema financeiro. Parece que só não é problema quando fica parado — e isso, como sabemos, não acontece.

Isto é um não estratégico


No jornal The Times do passado dia 14, o artigo "Charlie Bigham: We don't do ready meals" é mais um exemplo de como o quotidiano está sempre pronto para nos oferecer estórias da vida real sobre estratégia.

O artigo apresenta Charlie Bigham, fundador da marca homónima de refeições premium no Reino Unido, que rejeita categoricamente a designação de “ready meal” para os seus produtos. Bigham defende que o objectivo da sua empresa é oferecer uma alternativa de elevada qualidade à restauração, centrada no prazer de comer, e não em substitutos como os batidos da Huel.
"The 58-year-old sours at the mere mention of an all-in-one Huel meal shake. "I'm sure they're great guys and they've worked brilliantly — you know, clever them," he says.
"For me it's the antithesis of everything I believe in. They're about food as fuel, we're about food for pleasure. They don't care what it looks like, what it tastes like, anything," he claimed.
Huel would no doubt disagree." [Moi ici: Bom para ilustrar que uma estratégia genuína é assim mesmo. O seu contrário não é absurdo, é outra estratégiaOu seja, Bigham dá corpo ao que Roger Martin defende: uma estratégia credível exige dizer não a opções aparentemente tentadoras (volume de mercado em “ready meals”) para criar uma identidade distinta e sustentável.]

"Don't use the term "ready meal" in front of Bigham, though. "There's a category called ready meals, we're not really part of that, we sit adjacent to it," he says, adding: "It sounds like maybe a bit weird and pedantic. Surely you make ready meals? It's like, no, we don't."" [Moi ici: Isto é um não estratégico. Ele recusa alinhar a sua marca com um espaço competitivo saturado e de baixo valor (comida pronta de supermercado). Em vez disso, posiciona-se como uma alternativa de elevada qualidade a comer fora, e não como um produto barato ou funcional. A direcção não é "comida pronta" em geral, mas comida premium que oferece prazer, qualidade e experiência, mesmo que isso implique excluir segmentos de mercado.

"While certain industry colleagues have been quick to issue dire warnings about the nation's economic outlook, Bigham is a glass-half-full type and has little time for the "doom merchants", as he calls them. "I think our job is to face the facts and ... adapt accordingly rather than lament it and say, 'Oh the sky's going to fall on our heads." 

sábado, outubro 18, 2025

Curiosidade do dia

Na revista The Economist desta semana um aviso, "The coming debt emergency".

O artigo alerta para a emergência da dívida pública nos países desenvolvidos, que vivem muito acima das suas possibilidades. Governos enfrentam défices insustentáveis, envelhecimento populacional, aumento de despesas sociais e defesa, bem como pressão para reduzir impostos. A inflação surge como a via mais provável - ainda que destrutiva — para lidar com a dívida. O texto discute os limites do crescimento, as políticas populistas e a dificuldade de equilibrar receitas e despesas, lembrando os riscos de seguir o caminho de países como a Argentina. Conclui que o futuro dependerá da forma como sociedades ricas gerirem esta encruzilhada: aceitar medidas de austeridade e responsabilidade ou deslizar para crises repetidas.

"It is therefore increasingly likely that governments will instead resort to inflation and financial repression to reduce the real value of their high debts, as they did in the decades after the second world war. The machinery for such a strategy is in place at central banks, which have a large footprint in bond markets. Already, populists such as Mr Trump and Nigel Farage in Britain attack their country's central banks with proposals that would weaken the defences against inflation.

...

All the more reason to think ahead and reflect on how inflation harms the economy and society. It redistributes wealth unfairly: from creditors to debtors; from those with cash and bonds to those who own real assets such as houses; and from those who agree on contracts and wages in cash terms to those wily enough to anticipate higher prices.

...

In the 20th century Argentina, plagued by inflation, went from being one of the world's richest young countries to a middle-income economy that lurched from one crisis to the next. The competition that raged in Buenos Aires was not over who could innovate or be the most productive, but over who could capture the state and exploit its power to help them avoid inflation's confiscatory effects. That is the future for places where leaders deny or avoid budget constraints in their pursuit of redistribution." 

Ninguém dá descanso ao meu gato virtual, são horrores atrás de horrores.


 Aquilo a que alguns chamaram de "rinocerontes cinzentos".

E quem pensa no futuro da empresa?

Há cerca de um ano escrevi este postal: Unreasonable hospitality - parte VI onde citei um outro postal de Maio de 2023 onde escrevi:

"Então com empresas familiares é muitas vezes doloroso ... A única pessoa que pode dedicar tempo a isto está a conduzir um empilhador para arrumar paletes, ou está a substituir um operário especializado que está de baixa... e quem pensa no futuro da empresa? Quem encara de frente o monstro da erosão competitiva?" 

Usei a palavra erosão porque nunca esqueço aquele album de Neil Young e Crazy Horse, "Rust Never Sleeps". 

Na passada quinta-feira o JdN trazia um artigo de Luís Todo Bom, “Gestão corrente vs. gestão estratégica”. Nele o autor reflecte sobre os maiores problemas das empresas familiares, destacando a ausência de processos de gestão estratégica. Enquanto a gestão corrente foca a eficiência operacional no curto prazo, a gestão estratégica visa antecipar mudanças no ambiente empresarial, diversificar e garantir a sustentabilidade futura. 

O autor defende que muitos insucessos resultam mais da falta de estudo e planeamento estratégico do que de conflitos sucessórios.

"O maior problema destas empresas, não está, em geral, na sucessão, nem nos conflitos, contrariamente à perceção generalizada. (…) [Está na] ausência de processos de gestão estratégica, uma concentração, em exclusivo, na gestão corrente das suas empresas."

Para Luís Todo Bom a gestão corrente tem a ver com a otimização da relação com clientes, marketing, produção, finanças e gestão de pessoas.

"Nos processos de gestão corrente, a empresa otimiza a relação com os clientes, na função de marketing, o processo produtivo, na função de operações, o controlo dos principais rácios financeiros, na função financeira, e a gestão dos talentos na função de pessoas."

Para o autor, gestão estratégica tem a ver com antecipar tendências e preparar o futuro.

“No processo de gestão estratégica (…) a empresa avalia os recursos de que dispõe, que pode transformar em competências capacitantes, difíceis de imitar e valorizadas pelos clientes, e, a partir dessa análise, toma decisões sobre o rumo a seguir.”

Aquele "a empresa avalia os recursos de que dispõe" fez-me recordar um postal de Outubro de 2015 "Do concreto para o abstracto e não o contrário" e um outro de Agosto de 2024 sobre a effectuation: "Começar de onde se está"

Escrevo aqui no blogue com frequência sobre a importância de mudar de vida para evitar a comoditização, o tal "Subir na escala de valor". A diversificação e migração para novos negócios exige modelos de gestão estratégica:

"A utilização correta dos modelos de gestão estratégica é particularmente crítica nos processos de diversificação ou de migração para novas áreas de negócio, com períodos de aprendizagem longos e complexos, e com perfis de risco mais elevados."

"Os grandes insucessos nos processos de sucessão das empresas familiares, em que poucas sobrevivem à terceira geração, têm por base, esta falta de visão e de gestão estratégica."

A falha comum é a falta de estudo e preparação estratégica

"Os erros, alguns de palmatória, incorridos nesta área, resultam, sempre, da falta de estudo."


sexta-feira, outubro 17, 2025

Curiosidade do dia

Começo pelos romanos e por Bismarck (este via Joaquim Aguiar em 2019):

"A ideia de que "a política é a arte do possível" foi expressa por Bismarck em 1867

...

A arte do possível é a capacidade para identificar o possível, para depois estabelecer as estratégias que permitam a concretização desse possível que se identificou. E se esta segunda leitura serve para que quem exerce o poder saiba realizar o que anuncia, também serve para avaliar quem exerce o poder em função do que for a sua capacidade para identificar o possível. Por isso mesmo, também serve para denunciar os que, no exercício do poder ou na campanha para a conquista do poder, não sabem distinguir entre o impossível e o possível. Os que não sabem separar o impossível do possível condenam-se ao destino de Ícaro, que vê o calor do Sol derreter a cera do mel das abelhas com que colou as penas de pássaros para fazer as asas que lhe permitiram sair do labirinto em que estava preso."

Escrevo isto a propósito de:

"O que vai acontecer é que a população vai continuar desprotegida. E vamos continuar a ter as grávidas e bebés a correrem quilómetros e quilómetros para serem assistidos, para terem que ir para a Almada, e vamos continuar a ter os bebés a nascer nas ambulâncias. Já nasceram 63", sublinhou a médica do IPO do Porto." 

Se não há médicos em número suficiente, não se pode manter o impossível, tem de se tentar o possível. 

Entretanto, à hora do almoço li no FT um texto de Dani Rodrik, "We should seek local solutions to global issues" com o qual concordo em muitos pontos. A certa altura aparece a palavra que usei em relação aos romanos:

"Pragmatic policymakers around the world, often operating at the subnational level, have long engaged in experiments that yield a glimmer of hope. We can build a better future if we set aside entrenched habits of thinking and take the lessons of these policies to heart."

BTW, sublinho que vejo com muito maus olhos uma ideia que ele propõe e que Sócrates aplicou com os resultados que se conhecem: 

"The bulk of future jobs will be in nontradeable sectors of the economy such as care, retail, personal and food services." 

Recuo a 2008, a mais de 2 anos de distância do célebre "Estou bem assim Luís": O meu baú de tesourinhos deprimentes (parte II).

O meu gato virtual volta a assustar-se com certas ideias.

P.S. Extraordinário! As tais "local solutions": "Bruxelas quer pôr regras ao alojamento local e proteger "direitos dos inquilinos""

Acerca do futuro do vinho

 


"THE U.S. WINE INDUSTRY hasn't had it this bad since Prohibition.
The list of problems is long in California, the cradle of American wine. Vineyards have an oversupply of grapes. People are drinking less, especially younger drinkers, and tariffs have caused the biggest foreign market for U.S. wine, Canada, to dry up overnight. With this year's grape harvest in full swing, way too much wine from previous years still hasn't been sold.
Meanwhile, the unusually good weather is adding to the glut. The temperature was cool most of the year, without frost or heat, an environment that allows grapes to grow in abundance-and slowly develop the concentrated flavors that wine drinkers covet.
That's leaving growers across Northern California's wine country unsure about how they will unload a bountiful harvest of grapes.
...
Many of the factors afflicting the California wine industry are also hurting winemakers in other parts of the world-and those winemakers have also been ripping out vines. The total surface area of vineyards worldwide has fallen for at least the last four years, according to the International Organisation of Vine and Wine, with France, Spain, Portugal,"
As colheitas abundantes acumulam-se porque a procura está em declínio e o clima ajuda. Os americanos bebem menos vinho, preferindo alternativas sem álcool ou outras bebidas. A geração mais jovem mostra menos interesse em vinho, enfraquecendo o consumo interno. As tarifas impostas pelo Canadá reduziram drasticamente as exportações; outros mercados também estão a enfraquecer. Algumas marcas reduziram o preço por garrafa para manter consumidores em tempos de inflação, uma péssima decisão em termos financeiros, embora possa baixar o stock. Vinicultores como Balletto ou Jackson Family Wines enfrentam milhões em perdas, com parte significativa da produção sem comprador.

Opções difíceis: produtores consideram arrancar vinhas e substituir por variedades mais populares (ex. Sauvignon Blanc) ou culturas alternativas.

Recordar o que se passa por cá, em vez de enfrentar a realidade, pedir ao papá-Estado que saque dinheiro aos saxões do costume para que os produtores não tenham de mudar.

Trechos retirados de "California's Wine Country Is in Big Trouble" publicado no WSJ do passado dia 11 de Outubro.

quinta-feira, outubro 16, 2025

Curiosidade do dia

Há quase dois anos escrevi Depois não se venham queixar das empresas zombies (parte II). A partir de um artigo do New York Times sobre o estado de Vermont, mostro exemplos de empresas a adaptarem-se à falta de trabalhadores.

A mensagem central é que a escassez prolongada de mão-de-obra exige adaptação estrutural das empresas: quem não se adaptar perderá competitividade. Os “vencedores” serão os trabalhadores, que ganham mais poder de negociação (recordar as partes I e II de "Tratados como Figos").

Ontem no FT li "Germany to let retirees earn €2,000 a month and not pay tax"

A Alemanha enfrenta graves desafios demográficos, com a saída gradual dos baby boomers do mercado de trabalho e a escassez de jovens trabalhadores. Para mitigar a falta de mão de obra qualificada e aliviar pressões sobre o sistema de pensões, o governo vai permitir que reformados continuem a trabalhar, podendo ganhar até €2.000 por mês sem pagar impostos. A medida faz parte de um pacote mais amplo de reformas e visa manter mais pessoas activas, ao mesmo tempo que apoia as finanças públicas e dá um impulso psicológico e económico à sociedade.

O ponto em comum é claro: a escassez de mão de obra não é conjuntural, é estrutural. Tanto na Alemanha como nos EUA, a adaptação passa por valorizar mais o trabalho, repensar modelos de negócio e incluir grupos até aqui afastados do mercado laboral.

Entretanto, em França cozinha-se uma catástrofe: https://x.com/faureolivier/status/1978173237206135128





O único caminho é a diferenciação.



Gosto de ler um artigo de jornal e fazer uma exegese: a partir do caso particular, destacar a tendência e os vectores que estão por detrás do que se observa.

Há dias no The Times (11 de Outubro), um pequeno artigo, "The corner shop owners who defied slump with local flavour":
"British high streets have been in slow decline for years. From department stores to hollowed-out retail parades, boarded shopfronts have become a familiar sight. Yet while chains falter and online giants devour market share, one corner of retail is thriving.
Corner shops and convenience stores, once seen as relics of a bygone era, are enjoying a renaissance
...
between 2018 and 2025, the number of local shops increased nearly 10 per cent to more than 50,000. In the past year, the sector has added almost 100 stores. One of the reasons for the revival is Generation Z, who are spending nearly £1,000 a year at their local stores, more than any other age group, according to research by Coca-Cola.
Innovation has been at the heart of this success story. More than half of convenience store owners surveyed said they have invested in improving the in-store experience, while others have introduced services such as parcel collection, fresh coffee, cash machines and home delivery. Some have spaces for social contact and support in areas where services have vanished.
...
For many consumers, especially younger urbanites, corner shops offer something that the algorithms cannot: human connection."

O artigo ilustra uma regra fundamental da estratégia: os pequenos não sobrevivem copiando os grandes, mas sim diferenciando-se.

Durante anos, as lojas de bairro pareciam condenadas. As grandes cadeias de supermercados e as plataformas online, com o seu poder de escala, dominaram o jogo dos preços baixos e da eficiência logística. Concorrer com eles no mesmo campo seria suicídio. E, no entanto, contra todas as previsões, o número de lojas de conveniência no Reino Unido não só não diminuiu, como cresceu.

A explicação está nas escolhas estratégicas. Estas lojas reinventaram-se: ofereceram experiências humanas que os gigantes digitais não conseguem replicar; apostaram em produtos autênticos e locais em vez da uniformidade global; criaram novos serviços como entregas, café fresco, recolha de encomendas; e souberam usar as redes sociais para dar voz e proximidade à sua comunidade.

É exactamente o que Michael Porter ou Seth Godin sempre afirmaram: competir pelo preço é a race-to-the-bottom; o único caminho é a diferenciação. 

O caso das corner shops mostra que as limitações de escala podem transformar-se numa força. A fragilidade diante dos grandes torna-se irrelevante quando se muda o jogo — quando a competição deixa de ser pelo preço e passa a ser pelo significado.

Num tempo em que tantas PME enfrentam gigantes globais, a lição é clara: não é na imitação que está a sobrevivência, mas na coragem de assumir uma direcção estratégica própria, diferente e inegável.

E os académicos que acreditam que se duas, ou três, ou quatro PMEs se fundirem ficam mais competitivas... go figure!!!

quarta-feira, outubro 15, 2025

Curiosidade do dia



No The Sunday Times do passado Domingo este título que dá que pensar, "Go figure - Poland is nearly as rich as the UK. How has it caught up so fast?":
"In 1995 Poland's GDP per capita was $13,600 in today's money - about 36 per cent of Britain's and roughly the same as Brazil's. Today Poland's figure is $44,500, or 81 per cent of ours. It may soon pull level. Since the end of 2019 Britain's GDP per capita has grown by less than 1 per cent in real US dollars. Poland's has grown almost 18 per cent, nearly twice as much as that of the US.
...
The brain drain of young talent to countries like Britain and Germany was a problem throughout the 2010s but several factors have turned things around. Since 2019 Poland has had a lower income tax for workers under 26; a recent study found it to be the thirdbest European country for young adults to live in. 
...
Wages, adjusted for prices, are now neck and neck with those in Italy.
...
Strikingly, it reveals many parts of Britain have been overtaken by Poland's more successful areas. The greater Warsaw region has a GDP of €67,000 per capita, adjusted for prices, which is bettered only by central London.
Capital cities typically have strong economies. But 12 of Poland's 17 regions are now richer than west Wales, the poorest part of Britain. Dolnoslaskie - or Lower Silesia - in Poland's southwest is better off than Greater Manchester. In fact if we were to strip London out, Britain's output per head would be just 3 per cent ahead of Poland's."

Recordar "Poland wealthier than Portugal for the first time, show EU data

Tratados como Figos (parte III)

Parte I, parte II e parte (II e 1/2) e parte (II e 3/4).

O Japão deixou há muito de competir em têxteis de baixo custo. A produção massificada emigrou para a China, para o Sudeste Asiático e para o Bangladesh. Ainda assim, a Matsukawa Rapyran — fundada há mais de um século — não apenas sobreviveu: modernizou-se, especializou-se e hoje paga salários dignos porque vende exactamente onde o preço deixa de ser o único critério. Fê-lo através de uma combinação de nicho, integração e reputação. Em vez de disputar a t-shirt de dois euros, orientou-se para tecidos e artigos de maior valor acrescentado, com qualidade de tecelagem elevada, desenho cuidado e identidade cultural “made in Japan”. 

Hoje, o coração do negócio é B2B e técnico: a empresa tece labels/etiquetas de marca em gamas que vão da alta à ultra-alta densidade, capazes de reproduzir logótipos e padrões finos com precisão. Acrescenta “inteligência” ao tecido com soluções funcionais como QR codes tecidos (patente JP-5038915), numeração/serialização e códigos de barras, bem como fios com propriedades desodorizantes (M-Clear) e 100% reciclados (PET) para aplicações em gestão de activos, uniformes e indústrias que exigem rastreabilidade e sustentabilidade.

Para sustentar a reputação e ampliar a marca junto do consumidor, a empresa desenvolveu uma linha B2C sob a insígnia Rapyarn Ribbon: ribbons de várias larguras e padrões e pequenos artigos feitos com ribbon — carteiras/bolsas, camera straps, fukusa e outros acessórios — vendidos a preços que reflectem um posicionamento artesanal-premium. Outras lojas próprias e parcerias (ORI-EN, Fu-Wappen, Minne) oferecem máscaras, omamori, emblemas e chaveiros, reforçando a ligação entre a tradição local de Fukui/Echizen e um design contemporâneo que o público reconhece.

É assim que a Matsukawa Rapyran permanece competitiva: não porque concorra com o Bangladesh, mas porque ocupa um espaço próprio onde qualidade, design, funcionalidade e tradição permitem praticar preços compatíveis com salários competitivos. A integração vertical reduz desperdícios e falhas; a automação sustenta produtividade; a diferenciação técnica — densidades elevadas, QR tecido, fios funcionais e reciclados — resolve problemas concretos de clientes empresariais; e a narrativa “Echizen-ori / feito em Fukui” dá coesão à marca. Resultado: uma empresa centenária que soube evoluir do volume para o valor, do barato para o criterioso — e que prova, com factos, que herança cultural e inovação podem caminhar lado a lado com lucro.

Tradução de trechos a partir da página da Matsukawa Rapyran na internet.



terça-feira, outubro 14, 2025

Curiosidade do dia

Bom, na verdade, hoje não é uma, mas são duas curiosidades. 

Primeiro, no Jornal de Notícias de hoje o artigo, "ETAR de Ermesinde 50% acima do limite". 

Por um lado, saúdo esta transparência. Quando há um problema, deve-se ser claro, ponto.

A ETAR de Ermesinde, em Valongo, está a funcionar 50% acima da sua capacidade, o que pode provocar descargas de águas residuais insuficientemente tratadas no rio Leça. Esta situação agrava a poluição já existente no rio e representa um risco ambiental sério. A Câmara de Valongo prevê um investimento de 17,75 milhões de euros (70% financiados por fundos europeus) para modernizar a estação. O objectivo é melhorar a qualidade da água do rio e transformar a estação de um problema em parte da solução.

Por outro lado, fiquei a pensar ... Ermesinde não é um OVNI no país.

Agora especulo inocentemente: o facto da ETAR de Ermesinde estar sobrecarregada e lançar efluentes insuficientemente tratados no rio Leça sugere que situações semelhantes podem estar a ocorrer noutras ETARs do país, sobretudo em zonas costeiras. Isso ajudaria a explicar por que várias praias foram interditadas a banhos: quando as estações de tratamento não conseguem dar resposta ao volume de águas residuais, a qualidade da água nas linhas de água e no litoral degrada-se, levando as autoridades de saúde a proibir temporariamente a utilização balnear. Será?

Segundo, o filme "The Lost Bus" começa com um mega incêndio na Califórnia iniciado por um evento na rede eléctrica. Em Portugal essa hipótese nunca aparece no discurso público.

O foco mediático e institucional está quase sempre em causas como negligência (queimadas, fogueiras, cigarros) ou condições climáticas (vento, calor, seca). Levantar a possibilidade de falhas na rede elétrica implicaria directamente empresas grandes (como a EDP ou REN) e abriria debates sobre responsabilidade civil, indemnizações e manutenção da infraestrutura. Isso é política e economicamente sensível.



Acerca do Nobel da Economia

Há dias o JdN publicou, "Líder do FMI sugere "czar do mercado único" para UE. "Já chega de retórica sobre competitividade"" onde se podia ler esta pérola:

"A diretora-geral do FMI sugere a nomeação do que chama "czar do mercado único" para impulsionar as reformas no bloco, afirmando que "já chega de retórica sobre competitividade.""

Não sei o que é que a líder do FMI tem realmente em mente, mas entretanto, acerca do Nobel da Economia li:

"Philippe Aghion and Peter Howitt also studied the mechanisms behind sustained growth. In an article from 1992, they constructed a mathematical model for what is called creative destruction: when a new and better product enters the market, the companies selling the older products lose out. The innovation represents something new and is thus creative. However, it is also destructive, as the company whose technology becomes passé is outcompeted.

In different ways, the laureates show how creative destruction creates conflicts that must be managed in a constructive manner. Otherwise, innovation will be blocked by established companies and interest groups that risk being put at a disadvantage.

“The laureates’ work shows that economic growth cannot be taken for granted. We must uphold the mechanisms that underly creative destruction, so that we do not fall back into stagnation,” says John Hassler, Chair of the Committee for the prize in economic sciences."

Os políticos europeus têm medo desta fase destrutiva. Por isso, correm a proteger as empresas ultrapassadas. Nunca esqueço o relato do jovem Spender que publiquei há quase 10 anos "Apesar das boas intenções"

Não esquecer a mensagem do livro de Phil Mullan "Creative Destruction". Por exemplo: Em vez de abraçar a destruição criativa ...

segunda-feira, outubro 13, 2025

Curiosidade do dia


""Ou damos o salto com este dinheiro, porque são muitos milhares de milhões de euros ou é uma operação desperdiçada", alertou Marcelo Rebelo de Sousa."

Depois de décadas a explicar-nos que a Europa é a cornucópia sem fundo, eis o momento pedagógico: cuidado, não estraguem as mesadas. A república da rotunda e do passadiço com selfie-spot agradece a chamada de atenção.

A verdade é simples e incómoda: Portugal continua refém da mentalidade do pedinchar. Pedimos a Bruxelas, distribuímos pelas autarquias, cortamos fitas, tiramos fotografias, e chamamos a isso “estratégia”. Quando alguém pergunta pelos resultados — produtividade, valor acrescentado, exportações com cérebro dentro — responde-se com metros de obra e número de candidaturas aprovadas.

O PRR não é um plano; é um espelho. Nele vemos a nossa obsessão por obra visível e a alergia a reforma invisível.


Ouro puro!

Os primeiros 4 minutos deste vídeo: 

São ouro puro:

"Every business needs to solve four major problems in order to grow and scale profitably. The first one is identifying the customer you are actually going to serve.

In the beginning, most entrepreneurs don’t know who that customer is—and that’s perfectly normal. At the start, you’re just trying to keep the lights on. Anyone with a pulse and a credit card seems like the right customer, and you take whatever business comes your way. You overpromise, you customize everything, you serve people in unscalable ways—because in those early days, you just need income, testimonials, and word of mouth.

But eventually, usually around $1 million a year in revenue (sometimes closer to $3 million), the business starts to feel overwhelming. You’ve accumulated a wide variety of customers, all with different needs, different expectations, different price points, and different promises you made along the way. Operational complexity explodes, and it becomes clear that the real sticking point is this: you must learn how to say no to the wrong customers.

The question then becomes: who is your ideal customer? To figure this out, look at your entire customer base and analyze it with four lenses:

  • Which customers did you genuinely enjoy working with?
  • Which customers spent the most money with you?
  • Which customers gave you the highest operational profit?
  • Which customers were the easiest to deliver for?

When you compare these columns, you’ll usually notice patterns. Some customers show up in two or three columns—they were enjoyable, profitable, and easy to serve. Often, these customers aren’t even in the segment you thought was your main business focus. Yet they represent the hidden gold.

Now imagine this: if only 10% of your current customers fall into that “ideal” bucket, what would happen if 100% of your customers were like that? With the same infrastructure and the same number of clients, you would probably earn five to ten times more money. The systems you already have could support it—you’re just currently serving the wrong people, because you haven’t yet learned to say no.

Ironically, one of the most attractive messages in sales and marketing is being able to say: “I don’t need your money.” It positions you with strength and scarcity. To harness this, you clearly state who you do not serve, and instead describe the very specific traits of the customer you are uniquely positioned to help. When that right customer hears your message, it feels as if you’re speaking directly to them: “This is exactly what I’ve been looking for.”

The result? You attract more of the right type of customer. You can charge premium prices while operating more efficiently. Because you’re solving the same problem, for the same type of client, over and over again, you get better at it. Your success rates go up, your costs go down, and your margins increase.

This is how you solve problem number one: stop trying to serve everyone, and learn to say no. Most businesses never master this lesson—but those that do unlock the path to scalable growth."



domingo, outubro 12, 2025

Curiosidade do dia

"Redes ajudaram à "fuga" de migrantes marroquinos: dos 38, apenas quatro menores estarão em Portugal"

Um exemplo daquela frase:

"We're running a 21st century economy on 20th century promises...and the people paying for it weren't even born when the rules were written." 

Faz-me lembrar uma imagem que vi há muitos anos:

"Há muitos anos, o canal 1 da RTP passou uma versão televisiva do livro “A Terceira Vaga”, de Alvin Toffler. Recordo uma cena a preto e branco, repetida várias vezes, para salientar o caricato da situação, em que deputados do parlamento inglês(?) se levantavam, para aplaudir efusivamente, batendo palmas e congratulando-se uns aos outros, por causa da aprovação de uma qualquer lei. No livro, Toffler compara o ritmo de decisão de algumas instituições, como adequado ao tempo em que uma mensagem de Boston para New York demorava 15 dias, não dos tempos de hoje.

Lembro-me, no início da década de 90, visitar um cliente, com um comercial da minha empresa de então. No final da reunião, um deles comentou para o outro, com indisfarçável saudade (pela entonação da frase): “Você lembra-se do tempo em que as encomendas eram feitas e recebidas por carta?”"


 

Não cola!

O FT de ontem traz uma artigo interessante "Tod's chair says prosecutor 'should be ashamed' of exploitation claims"
"Diego Della Valle, founder and chair of luxury shoe and bag maker Tod's, said the Milanese prosecutor leading investigations into worker exploitation in Italian supply chains "should be ashamed" for the damage he is inflicting on the country's luxury industry. Speaking at a hastily arranged press conference in Milan yesterday, Della Valle said "it is absolutely inexcusable for the prosecutor to wake up one day and tarnish [our] reputation, treating us like criminals and spreading falsehoods".
...
Milanese prosecutors allege that Tod's, which is famous for its pebbled rubber soles, failed to adequately oversee one of its suppliers in Italy's Marche region, which allegedly subcontracted production to Chinese firms paying workers as little as €2 per hour.
Della Valle said companies like his do not have the tools to oversee every single one of their suppliers' activities and should not be held responsible for their violations. "It is the suppliers' responsibility to inform the company if it hands off parts of production to subcontractors, but if they hide it from us... that will escape our [audits]," he said."
Esta declaração expõe bem os limites do controlo tradicional dos fornecedores e a necessidade urgente de auditorias mais fortes e inteligentes.

O que diz a ISO 9001? 

A ISO 9001:2015, em particular a cláusula 8.4 – Controlo dos processos, produtos e serviços de fornecedores externos, é clara: as organizações continuam responsáveis pelo que os fornecedores (e os seus subcontratados) entregam. A norma exige que as empresas:
  • Definam os controlos a aplicar quando subcontratam actividades;
  • Assegurem que os fornecedores cumprem os requisitos de forma consistente;
  • Verifiquem e monitorizem o desempenho dos fornecedores, não só na assinatura do contrato, mas durante toda a relação.
Em suma, passar a responsabilidade para o fornecedor não basta. Se um subcontratado explora trabalhadores ou falha nos padrões de qualidade, o dono da marca não pode alegar ignorância sem enfrentar consequências reputacionais e legais.

Como devem evoluir as auditorias?
As auditorias tradicionais apoiam-se em verificações documentais, visitas planeadas e declarações dos fornecedores. Isto é necessário, mas insuficiente quando existe subcontratação oculta. Para fechar esta lacuna, as auditorias devem incluir:
  • Mapeamento multi-nível da cadeia de fornecimento – identificar não apenas o primeiro fornecedor, mas também os subcontratados, oficinas temporárias ou arranjos offshore;
  • Auditorias inopinadas ou aleatórias – para reduzir o risco de visitas encenadas;
  • Entrevistas a trabalhadores e inteligência local – falar directamente com empregados, sindicatos, ONG ou comunidades locais pode revelar práticas escondidas;
  • Monitorização baseada em dados – ferramentas digitais, rastreamento de encomendas e até dados de satélite podem detectar padrões de produção suspeitos;
  • Requisitos contratuais claros – cláusulas que obriguem os fornecedores a declarar subcontratações, com penalizações caso ocultem essa informação.
Auditar não é apenas evitar escândalos — é uma necessidade estratégica. Segundo a ISO 9001, o sistema de gestão da qualidade deve alinhar-se com a estratégia da organização (cláusulas 4.1, 4.2, 5.1). Para marcas de luxo, essa estratégia inclui proteger a reputação, assegurar produção ética e garantir qualidade consistente aos clientes.

Um processo de auditoria fraco não gera apenas não conformidades — pode destruir a confiança dos clientes, dos investidores e a própria identidade da marca.

O caso Tod’s é um lembrete: as auditorias a fornecedores não podem basear-se apenas na confiança. A ISO 9001 oferece a estrutura, mas as empresas têm de ir mais além, combinando controlos sistemáticos com abordagens criativas para detectar o que alguns fornecedores preferem esconder.

Num mundo globalizado e em cadeias de fornecimento complexas, não saber já não é uma desculpa.

Eu sei que as auditorias a sistemas de gestão não são pensadas, normalmente, para lidar com "terroristas". No entanto, uma empresa pode dizer ao seu auditor, numa auditoria de 2ª parte, que um dos objectivos da auditoria é averiguar a confiança na rastreabilidade da cadeia de fornecimento. 

Seria interessante, um auditor escolher aleatoriamente uma amostra das referências produzidas num fornecedor, e entregues ao seu cliente, e depois começar um diálogo:

- Por favor, identifique todas as instalações (incluindo subcontratados) onde estas encomendas foram produzidas ou processadas.

- Pode fornecer documentação (guias de transporte, registos de expedição, registos de produção, registos do controlo da qualidade) que mostre o fluxo dos bens desde a matéria-prima até ao produto final?

- Que máquinas e operadores trabalharam neste lote? Podemos ver os registos de turnos e de manutenção?

Estas perguntas obrigam o fornecedor a ligar encomendas → instalações → pessoas → equipamentos, deixando menos espaço para respostas vagas.

Temos dúvidas sobre se estão a dizer a verdade?

Fazemos triangulação documental: comparamos facturas, documentos de transporte/expedição, capacidade de produção e registos de salários. Se o fornecedor disser que o trabalho foi feito internamente, a capacidade (número de máquinas, turnos, trabalhadores) tem de corresponder ao volume da encomenda. Se não corresponder, é um sinal de alerta.

Percorremos a linha de produção e fazemos perguntas simples aos trabalhadores: “Participou na produção desta encomenda? Em que produtos está a trabalhar hoje?” Verificamos se o trabalho em curso corresponde às encomendas no papel.

Se o fornecedor não conseguir mostrar a continuidade dos registos, há suspeita de subcontratação não declarada.

Portanto, a frase, "It is the suppliers' responsibility to inform the company if it hands off parts of production to subcontractors, but if they hide it from us... that will escape our [audits]," não cola.



sábado, outubro 11, 2025

Curiosidade do dia

Para reflexão:

"Seniors in the U.S. and across Western developed nations are reaping a social security bonanza funded by younger workers and mountains of debt the old will never have to pay off."

Este trecho:

"We're running a 21st century economy on 20th century promises...and the people paying for it weren't even born when the rules were written." 

 



Melhorar o retorno da certificação ISO 9001 (parte zero)



Anualmente, quantas empresas não renovam a sua certificação ISO 9001?

Não existe um número único e universalmente aceite que indique, de forma exacta, quantas empresas deixam de renovar anualmente a sua certificação ISO 9001. Os dados disponíveis apontam, contudo, para uma ordem de grandeza significativa. Estudos internacionais referem que cerca de 60 000 organizações perdem o certificado por ano, num universo de aproximadamente um milhão de certificados válidos. 

Isto significa que, num dado ciclo de renovação, uma parte relevante das empresas opta por não prosseguir. Traduzido em percentagem, estima-se que entre 10 % e 20% das empresas certificadas não renovem anualmente, dependendo do país, do sector e da maturidade do sistema de gestão. 

Quais os principais motivos para a não renovação?

Os estudos mais recentes confirmam que as causas para a não renovação podem ser agrupadas em cinco grandes categorias:
  • Em primeiro lugar, os custos financeiros e de recursos representam o motivo mais citado. As despesas associadas às auditorias de acompanhamento, aos ciclos de recertificação de três em três anos, às taxas do organismo certificador e ao tempo interno dedicado são muitas vezes vistas como demasiado pesadas, sobretudo para pequenas e médias empresas, que consideram que os benefícios não compensam o esforço. 
  • Em segundo lugar, surge a falta de valor percebido. Após ganhos iniciais em termos de melhoria de processos ou acesso a mercados, muitas organizações deixam de encarar a certificação como uma vantagem competitiva e passam a vê-la como um exercício burocrático, optando por não renovar. 
  • Seguem-se as mudanças organizacionais, como fusões, aquisições, reestruturações internas ou alterações na liderança, que podem levar a despriorizar a norma, sobretudo se a empresa adquirida já possui outro sistema de gestão. 
  • Os factores de mercado e clientes também desempenham um papel determinante: algumas empresas certificam-se apenas para satisfazer exigências específicas de clientes ou para entrar em determinados mercados e, quando essas condições deixam de existir, abandonam o certificado.
  • Por fim, destaca-se a substituição por normas sectoriais ou a maturidade interna. Em sectores regulados, como o automóvel, aeronáutico, alimentar ou médico, é frequente a substituição da ISO 9001 por referenciais específicos, como a IATF 16949, a EN 9100 ou a ISO 13485. 
Noutras situações, após anos de experiência, algumas organizações entendem que já internalizaram a cultura da qualidade e consideram que o certificado externo deixou de ser necessário.

Em síntese, as principais razões para a não renovação combinam factores económicos, estratégicos e de percepção de valor. Na maioria dos casos, a decisão não significa abandono da qualidade, mas antes uma reavaliação do equilíbrio entre custos e benefícios e do alinhamento da certificação com as necessidades reais do negócio.

Como aumentar o retorno económico da certificação?

Esta série tem tentado dar uma resposta. Falta a parte XIII com a ligação aos processos. 



sexta-feira, outubro 10, 2025

Curiosidade do dia

 


A propósito de "Carneiro associa Passos a dias de "desesperança""

É quase cómico — ou trágico — ouvir quem esteve sempre colado ao PS, partido que deixou o país de joelhos perante a troika, vir agora posar como paladino da esperança. 

Curioso… Quem chamou a troika? Quem deixou o país de rastos antes de 2011?

É como o incendiário que acusa o bombeiro de não ter trazido água suficiente.

Eficiência versus resiliência


No WSJ no passado dia 7 de Outubro li "Fire at Plant Disrupts Auto Industry":
"A late-night fire leveled a key part of a New York aluminum plant in hours. Its absence is going to disrupt business at Ford Motor and other automakers for months to come.

The plant's operator, Atlanta-based Novelis, supplies about 40% of the aluminum sheet used by the auto industry in the U.S., according to industry analysts. Novelis said the Oswego, N.Y., plant has been knocked offline until early next year."

Quando a lógica dominante é escala + volume = menor custo unitário, as cadeias de fornecimento acabam inevitavelmente concentradas em poucos gigantes capazes de operar com produção massiva. Para os fabricantes, parece racional: o preço unitário baixa, as margens sobem, os accionistas ficam satisfeitos.

Mas o incêndio na fábrica da Novelis em Oswego, responsável por cerca de 40% do alumínio usado pela Ford e outros construtores, mostrou o outro lado da moeda. Uma falha localizada — neste caso, um incêndio no hot mill — foi suficiente para paralisar cadeias de produção globais durante meses. O que era visto como eficiência transformou-se em vulnerabilidade estrutural.

Já vimos esta mesma dinâmica nos semicondutores (durante a pandemia de COVID-19, a escassez global de semicondutores obrigou fábricas automóveis na Europa e nos EUA a suspender produção durante semanas) ou nas terras-raras: quanto mais se persegue o preço mais baixo, mais se concentra a produção, e mais frágil se torna todo o sistema. A dependência deixa de ser apenas económica e passa a ser estratégica. E os riscos de disrupção não se resolvem com inventários ou contratos de emergência.

A competição pelo preço conduz inevitavelmente ao gigantismo produtivo. Recordo uma unidade leiteira nos EUA com mais de 30 mil vacas numa única exploração. O crescimento reduz custos unitários, mas aumenta a exposição a falhas catastróficas — aquelas “fat tails” de que Nassim Taleb nos fala: eventos raros, mas devastadores.

É aqui que entra uma palavra quase esquecida, mas essencial: temperança.

Temperança não é recusar a eficiência, mas saber equilibrá-la com resiliência. É não ceder à obsessão pelo preço mais baixo, ignorando os riscos ocultos. É cultivar diversidade na cadeia de fornecimento, aceitar redundâncias saudáveis e resistir à sedução da escala infinita.

Interessante, esta manhã, durante a caminhada matinal ouvi: