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sexta-feira, janeiro 19, 2024

Explicar o mais importante

"Predating Raymond Vernon's work (Vernon, 1966) on the product cycle theory by several decades, Kaname Akamatsu identified two empirical regularities of industrial development (Akamatsu, 1935, 1937).' One is a time-series pattern of a given industry, shifting from imports to import-substitution for the domestic market, and exports (Figure 1, Panel A). The other is a time-series production pattern across industries, in which a series of industries appear, prosper, then decline and finally disappear one after another (Figure 1, Panel B). Because these patterns reflect wild geese flying in ranks, they are called flying geese patterns of industrial development and are referred to extensively in explaining the production patterns of the East and Southeast Asian countries.

Recordo a primeira vez que mencionei os Flying Geese aqui no blogue - "why some countries grow faster than others" (parte II)

Recordo outro postal sobre os Flying Geese e a evolução dos sectores industriais - The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!

"An FG analogy came originally from Akamatsu's empirical findings of the sequential development pattern of imports (M) leading to domestic production (P) and then to exports (X). The sequence involved thus goes beyond a process of import substitution under protection (i.e., infant industry protection) and ultimately leads to exporting.
...
It should be noted, however, that in this age of globalization multinationals (MNCs) can now create new export industries instantly via foreign direct investment (FDI) in the developing host countries (i.e., FDI → P → X) that is, gradual industry building under protection (MPX) is replaced by instant industry building via FDI. [Moi ici: Recordo postais sobre a importância do investimento directo estrangeiro como A receita irlandesa, como Tamanho, produtividade e a receita irlandesa]
...
A second FG pattern is a sequence of structural change in industrial development, not only in the order of 'capital goods following consumer goods', but also 'in the progression from crude and simple goods to complex and refined goods'."
Trecho inicial e figura retirados de "Industrial Upgrading in a Multiple-cone HeckscherOhlin Model: The Flying Geese Patterns of Industrial Development" de Kozo Kiyota e publicado por Review of Development Economics, 18(1), 177-193, 2014.

Trechos finais retirados de "The (Japan-Born) 'Flying-Geese' Theory of Economic Development Revisited - and Reformulated from a Structuralist Perspective" de Terutomo Ozawa e publicado por Global Policy Volume 2 . Issue 3 . October 2011.

Recordo de ontem o final deste postal - Heterogeneidade e produtividade: Julgo que ajuda a explicar o mais importante, o salto de produtividade que falta a Portugal.

Por exemplo, este artigo de ontem "Discoteca Amália fecha portas após 30 anos de vendas de CDs e vinis". Negócios que não conseguem aumentar o seu valor acrescentado, com o tempo, deixam de poder pagar salários competitivos, daí a falta de pessoal, e deixam de poder pagar rendas, ou matérias-primas de qualidade. Por isso, este postal A brutal realidade de uma foto.

quinta-feira, dezembro 12, 2024

Flying Geese ao vivo e a cores

O meu modelo mental sobre a economia foi estilhaçado sem salvação quando li "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert com trechos como os citados em Para reflexão e em The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!

O meu grito "Deixem as empresas morrer!" é anterior a conhecer a Reinert.

Há quem acredite que o progresso de uma economia como a portuguesa depende de "melhorar" o que já existe. A mesma cantilena de sempre: fundir PMEs, formar empresários, investir em tecnologia e simplificar processos. Mas e se o verdadeiro problema for a própria natureza dos sectores em que tantas dessas empresas operam? 

Hoje acredito que o aumento da produtividade que o país precisa não pode ser pedido ao tecido produtivo existente (Think again! e Vamos repetir outra vez: Um oxímoro!), mas tem de vir seguindo o modelo "flying geese", ou seja, fazendo que empresas de sectores com maior valor acrescentado ganhem preponderância e peso na economia. A teoria dos "Flying Geese" ensina-nos que a solução não está em insistir em sectores maduros de baixa margem, como o calçado e o têxtil, mas em migrar para indústrias de maior valor acrescentado. Portugal não pode pedir aos seus sectores mais tradicionais que liderem o aumento de produtividade de que tanto precisa. Eles já deram o que tinham a dar. Insistir neles é como tentar tirar água de um poço seco. Sim, empresas individuais nesses sectores vão sobreviver, vão subir na escala de valor e ter sucesso, mas o peso deses sectores em termos de emprego vai cair.

Deixar as empresas morrer, significa assumir um período de transição dolorosa que gera desemprego e que só pode ser reduzido pela entrada das empresas da nova economia. Por isso, escrevi Menos dor na transição como um exemplo do que se pretende.

Entretanto, por estes dias li no JN "Insolvências em fábricas fustigam o Norte do país" e "Lufthansa cria 700 postos de trabalho com nova fábrica de reparação de peças de aviões na Feira".

O investimento da Lufthansa em Santa Maria da Feira e o da Coloplast em Felgueiras exemplificam perfeitamente a lógica da teoria dos "flying geese" para minimizar a dor da transição económica. Ambos representam movimentos estratégicos para trazer indústrias de maior valor acrescentado a regiões tradicionalmente dependentes de sectores mais maduros, como o calçado e o têxtil.

No caso da Lufthansa, o foco em reparação de motores e componentes de aviação coloca a região no mapa de uma indústria de alta tecnologia, exigindo competências especializadas e oferecendo melhores condições laborais. Já o investimento da Coloplast em Felgueiras, na área da tecnologia médica, promove um salto semelhante, tirando partido de uma força de trabalho local que pode transitar para funções de maior produtividade e remuneração.

Ambos os casos alinham-se com a ideia de "migrar valor" para novos sectores, aliviando o impacte do declínio dos tradicionais. Em vez de tentar melhorar o que já existe nesses sectores maduros (sapatos e têxteis), estas empresas estão a criar novas "profissões", aumentando a competitividade local e a atractividade económica de Portugal. 

A estratégia reduz a dor da transição porque oferece aos trabalhadores locais oportunidades concretas para sair de sectores de baixa margem para indústrias com elevado valor acrescentado – tudo sem depender apenas de formação genérica, mas sim de modelos de negócio que incluem formação específica e know-how transferido directamente pelas multinacionais. Este ponto é crucial porque quebra o ciclo vicioso identificado por Reinert, no qual o investimento em educação ou tecnologia não resulta em grandes ganhos em sectores de baixa margem. Em vez disso, o investimento em sectores de alto valor cria oportunidades reais para os trabalhadores deslocados (recordar a caridadezinha e o lerolero).




domingo, agosto 27, 2023

Falta a parte dolorosa da transição

 Um artigo interessante na revista The Economist, "Britain | The low-wage economy - Britain's failed experiment in boosting low-wage sectors":

"Choking off immigration to make low-wage sectors more productive was never going to work

The BREXITEER plan to end free movement from the European Union was not only about satisfying popular hostility to immigration. Leavers also talked of fixing Britain's perennial productivity problems. Boris Johnson, as prime minister in 2021, described a future that was "high wage, high skill, high productivity", and would be realised only if Britain kicked its addiction to cheap foreign labour.

...

Businesses show little sign of investing more or raising wages to attract more domestic workers, says Jonathan Portes, a professor of economics at King's College London.

...

A lack of commitment was not the only reason the Brexiteers' experiment failed. The thinking behind it was also faulty. The real productivity problem starts at home. A significant factor is the poor quality of British managers, according to John Van Reenen and Nick Bloom, two economists who have conducted international surveys. Other research suggests that this is especially true in low-wage sectors."

Portanto a ideia de Boris Johnson era:
  • 1.A produtividade é baixa porque o acesso a mão de obra barata não impele as empresas a aumentarem a sua produtividade. 2.Então, se cortarmos o acesso a mão de obra barata as empresas vão ter de aumentar a sua produtividade para poderem pagar salários mais altos. 3.Assim, os britânicos poderiam aspirar a "high wage, high skill, high productivity".
De acordo com a minha experiência, na frase acima:
  • O período 2 é verdadeiro. Mas é insuficiente. Pagar melhores salários implica cobrar preços mais elevados aos clientes e os clientes não estão para aí virados se não houver uma vantagem competitiva por parte das empresas. É o quadrante da baixa produtividade e baixa competitividade. O aumento do preço é feito sem contrapartidas para os clientes, e esse aumento não é desviado para melhorar a competitividade da empresa via produtividade, mas para pagar os custos mais altos. Nunca esquecer o caso do Uganda. É tão fácil e comum os políticos (e não só) confundirem mais competitividade com mais produtividade. O problema é o quadrante do empobrecimento.
  • O período 3 é falso, é rotundamente falso porque falta a parte dolorosa da transição. Falta criar as condições para os flying geese (A mudança bottom-up!The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!). É preciso deixar as empresas morrer (e como isto é dificil politicamente, os desempregados são eleitores). No entanto, o que se faz é apoiar essas empresas para que dêem o salto de produtividade ... a sério?! Quantas usam o apoio, (sem maldade, simplesmente porque é a única coisa que sabem fazer), para manter os preços baixos e aguentar mais um ano, como Spender ilustrou com as fundições inglesas.
        O Japão não ficou rico a produzir vestuário de forma muito, 
        muito eficiente. Taiwan não ficou rica a produzir rádios 
        de bolso de forma muito, muito eficiente.

O tema dos flying geese ilustra bem a quase irrelevância desta frase tão comum em Inglaterra e em Portugal: "The real productivity problem starts at home. A significant factor is the poor quality of British managers". Acham que os melhores gestores do mundo iriam conseguir pôr o sector do vestuário com um nível produtividade capaz de ombrear com a média europeia? Só no Batalha e no Largo do Rato (e na sede nacional do PSD, et al também).

"high wage, high skill, high productivity" tem de ser resultado de outro perfil de economia... olhar outra vez para o esquema dos flying geese. BTW, nem pensem que conseguem aumentar a produtividade para o nível médio europeu com o mesmo perfil de sectores económicos mas em grande.

Recomendo recordar a noite em que, na minha leitura, morreu a chama de primeiro-ministro de Cavaco Silva em Também estava escrito nas estrelas.

sexta-feira, março 31, 2023

A mudança bottom-up!

Flying geese!
Descobri esta expressão há poucos anos, mas foi com Reinert que percebi o seu significado profundo e as suas implicações para a produtividade agregada dos países.

Em tempos de inflação elevada toda a gente quer ver o seu salário aumentado. Qual o problema disso? O nosso tradicional progresso de caracol no aumento da produtividade que gera a famosa guerra do gato e do rato. O pouco que se aumenta em produtividade é comido pelo magro aumento dos salários e "rouba" o capital para pagar os custos do futuro (segundo Schumpeter).
 
Por exemplo, hoje no JN aparece um artigo sobre a guerra entre as vacarias e a indústria de lacticínios, "Indústria desce preço do leite e coloca vacarias em risco":
"A dona dos queijos Limiano e Terra Nostra já anunciou uma descida de 7,8 cêntimos no preço do leite pago à produção. A Penlac vai baixar cinco. Os produtores acusam a indústria de estar "aproveitar-se" das ajudas anunciadas pelo Governo para "esmagar a produção" , garantem que vai voltar a haver fecho de vacarias e falta de leite nos supermercados. Exigem a intervenção do Executivo de António Costa.
"As indústrias pretendem aproveitar-se das ajudas anunciadas para voltar a espremer a margem dos produtores. Qualquer descida no preço do leite levará ao abate de animais, abandono da produção e à falta de leite nas prateleiras", afirma, em comunicado, a Aprolep -Associação dos Produtores de Leite de Portugal."

Agora vou ironizar: Malditas vacarias que esquecem o seu papel social (apesar dos impostos, taxas e taxinhas ainda têm de ser Misericórdias) 

Por alguma razão associo os flying geese ao meu tradicional grito aqui no blogue "The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!"

Se uma vacaria não consegue ser competitiva ou muda de vida ou tem de fechar. As pessoas não estão dispostas a pagar mais ou, simplesmente não podem pagar mais. Os recursos aplicados numa vacaria que fecha vão para outra aposta mais produtiva.

Voltemos à produtividade agregada de um país. Como aumenta? Volto sempre a Maliranta. Na imagem dos flying geese:
O Japão deixou de produzir vestuário porque as empresas produtoras de vestuário deixaram de poder gerar rendimento suficiente que pagasse salários competitivos aos seus trabalhares. Por isso, esses trabalhadores migraram, primeiro para a metalomecânica, depois para a electrónica e assim sucessivamente. 

Há dias no Eco li um artigo que ilustra a mudança que o país precisa de ver acontecer, "De estofador a programador. Eles (re)programaram as suas carreiras para a indústria tecnológica":
"Em comum têm a decisão de reconverter as suas carreiras. Hoje em dia, são os quatro programadores em empresas de diferentes setores. Ganharam em salário e qualidade de vida. São mais valorizados e respeitados profissionalmente do que nunca, dizem."

A mudança bottom-up! Uns mudam de carreira, outros mudam de país. A maioria definha a proteger o passado. 



quinta-feira, março 06, 2025

A China e a receita Irlandesa


Mão amiga mandou-me uma cópia de um artigo que vai merecer mais do que um postal aqui no blogue, "China has embraced creative destruction, says Tom Orlik" publicado no número de Março de 2025 da Bloomberg Businessweek.

Primeiro, recordar estes números sobre algumas produtividades por hora em euros:
No artigo da Bloomberg Businessweek encontramos este gráfico eloquente:


O gráfico mostra a evolução da contribuição de dois sectores para o PIB da China: o sector imobiliário (linha preta, em queda) e o sector de alta tecnologia (linha vermelha, em crescimento). Prevê-se que, por volta de 2026, o sector de alta tecnologia ultrapasse o imobiliário em termos de contribuição para o PIB.

E de que é que falamos quando falamos em Teoria dos Flying Geese?

A Teoria dos Flying Geese descreve um padrão em que países seguem uma sequência de industrialização, movendo-se de sectores menos sofisticados para sectores mais avançados. O gráfico acima ilustra como a China está a migrar de uma economia baseada na construção civil, no betão tão querido dos nossos políticos, para uma economia mais tecnológica, seguindo os passos de países como o Japão e a Coreia do Sul.

A China já terceiriza parte da sua produção de baixo valor (como têxteis e manufactura simples) para alguns países do Sudeste Asiático, como o Vietname, Bangladesh e Indonésia. Enquanto isso, foca-se cada vez mais na produção de chips, inteligência artificial, eletrónica avançada e robótica, subindo na hierarquia global da inovação.

O gráfico acima ilustra a Teoria dos Flying Geese e também ilustra como se aumenta a sério a produtividade de um país.

O crescimento do sector de alta tecnologia implica maior produtividade, pois esse sector gera muito mais valor acrescentado por trabalhador e por unidade de capital investido. Enquanto a construção civil depende de grandes volumes de matéria-prima e mão de obra intensiva, o sector de tecnologia avança com inovação e eficiência. Isso reflecte uma mudança estrutural na economia chinesa, orientada para indústrias mais avançadas.

"O Japão não ficou rico a produzir vestuário de forma muito, muito eficiente. Taiwan não ficou rica a produzir rádios de bolso de forma muito, muito eficiente."

Qual o impacte da evolução do gráfico acima nos salários e nível de vida dos chineses? O sector de alta tecnologia paga salários mais elevados do que o sector imobiliário e a manufactura tradicional, pois exige trabalhadores mais qualificados. A crescente procura por engenheiros, programadores e cientistas de dados impulsiona os rendimentos dessas profissões.

Que melhor ilustração para a frase ""It's no longer about how you do it; it's about what you do.""? Que melhor ilustração para a diferença entre trabalhar o denominador (melhorar a eficiência) ou trabalhar o numerador da equação da produtividade:


Por que nos admiramos? É a mesma receita que a seguida pela Irlanda. Acham que a "DVD leadership team" tem voto na matéria?

Por cá temos um gráfico semelhante para o turismo, por exemplo. Acham que é um sector que contribui para o aumento da produtividade agregada do país? Acham mesmo? Mas atenção, as pessoas do turismo estão a fazer a sua parte, o problema são os ausentes, os mastins dos Baskerville.

Finalizo com uma citação de 2007:

"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."

Mas, e como isto é profundo:

"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."


segunda-feira, novembro 15, 2021

The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!

No início deste ano ao ler "Windows of Opportunity: How Nations Make Wealth" vi este esquema que reproduzi neste postal:

Há dias, ao continuar a leitura de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert voltei a encontrar a mesma imagem.

Tudo começa com:

"Figure 8 shows productivity development for a standard pair of men's shoes in the United States between 1850 and 1936. In 1850 15.5 work hours were required to produce a pair of standard men's shoes. Then a productivity explosion took place in shoe production, and rapid mechanization made it possible to employ only 1.7 labour hours to produce an identical pair of shoes fifty years later, in 1900. St Louis, Missouri, in this period became one of the wealthiest cities in the USA, based on production of shoes and beer: `First in shoes and beer, last in baseball' was the saying about the city that showed the world its wealth when hosting both the Olympic Games and a world fair in 1904. After 1900 the learning curve for shoes flattened out. In 1923 1.1 working hours were needed to produce the same pair of men's shoes. In 1936 0.9 hours were needed. As the learning curves flattened out, pressure on wages increased, and gradually shoe production was moved to poorer regions. The USA was an exporter of shoes for a long time, now the country imports practically all its shoes. This phenomenon - that rich countries export where there is great technological development, and import where there is little technological development - is related to what in the 1970s was dubbed the product life cycle in international trade by two Harvard business school professors who described the phenomenon, Raymond Vernon (1913-99) and Louis T. Wells.

...

When a poor country gradually takes over shoe production, it will be close to impossible to increase the standard of living. This production is left to the poor countries, essentially because there is no more learning to be squeezed from the production process.

...

Only when the learning curves and the experience curves flatten out and knowledge gets into the public domain can poor countries compete, and then competition is based on their low wages and relative poverty.

...

Situations exist, however, where the dynamics described in the learning curves can be used for making poor countries rich, by upgrading them technologically in sequence. This model was named flying geese by the Japanese economist Kaname Akamatsu in the 1930s (see Figure 9) [Moi ici: A figura lá de cima]. Another Japanese economist and later Minister of Foreign Affairs in the 1980s, Saburo Okita, followed the `flying geese' model and theorized that a poor country is able to upgrade its technology by jumping from one product to another with increasing knowledge content. The first flying goose, in this case Japan, breaks the air resistance for the next ones, so gradually all of them can sequentially benefit from the same technological change. For example, many years ago Japan produced inexpensive garments, [Moi ici: Recordo sempre um filme de 1944, "A pricesa e o pirata" com Bob Hope. O filme passa-se no século XVIII, Bob Hope era um pirata a lutar contra outros piratas. Defendia-se com um gancho. Um pirata com um simples toque da espada deu cabo do gancho. A cena como que pára, Bob Hope olha para o gancho e lê "Made in Japan". Então exclama algo como, "não se pode confiar nestes produtos"] achieving productivity increases which boosted the standard of living ('collusive mode') so much that a relatively unsophisticated product like a garment could no longer be produced profitably there. [Mo ici: Percebem o significado deste último sublinhado? E volto ao Maliranta, a Taleb e ao exemplo do Jorge Marrão e à entrevista de Paulo Rangel referida aqui. Acham que um político de direita ou de esquerda tem a coragem de enunciar o meu conselho de Dezembro de 2018, "Deixem as empresas morrer!". Acreditar que a empresa média consegue dar o salto na escala de produtividade... só uma minoria o faz, a maioria aproveita os apoios para prolongar o modelo de negócio actual. Como não recordar Spender] Production was taken over by South Korea, while Japan gradually upgraded its manufacturing to something more sophisticated, like TV production. When South Korea upgraded, garments were then for a while produced in Taiwan, until the same thing happened there; production costs grew too high. Production then moved to Thailand and Malaysia, and history repeated itself. Finally, production of garments was moved to Vietnam. In the meantime, however, a whole row of countries had used garment production to raise their standard of living; they had all surfed sequentially down the same learning curve, and all had become richer. Of course, this game requires that the head goose continuously gets involved in new technologies."

É o velho tema do primeiro princípio de Deming, "Constância de propósito" e volto a 2009 e a Maio passado. Hoje, no JdN Francisco Assis discorre naturalmente sobre a necessidade de aumentar o salário mínimo e de ... apoiar as empresas que não o possam pagar. Acham isto normal?

domingo, março 21, 2021

"why some countries grow faster than others" (parte II)

Parte I

"As the firms in a country take advantage of the windows of opportunity for innovation to which they have access, they increase their value-added per capita, and the wages and salaries they pay their employees. And this in turn opens up a window of opportunity for countries with lower wages to exploit, provided they can develop the capability to do so. The new opportunity for these firms becomes a 'capability-destroying' challenge to the incumbents, unless the incumbents' capabilities allow them to introduce and exploit new opportunities of their own. [Moi ici: Esta é a lógica que permitiu que o Portugal dos anos 60 em diante aproveitasse a deslocalização da indústria tradicional francesa e alemã, mas que os portugueses quiseram impedir que acontecesse, quando eles próprios se transformaram em incumbentes preguiçosos]

 This is the dynamic behind the technological upgrading of countries in sequence, which was named the 'flying geese model' by the Japanese economist Kaname Akamatsu in the 1930s. Saburo Okita, another Japanese economist and later Minister of Foreign Affairs in the 1980s, adopted the 'flying geese model' and argued that a poor country is able to upgrade its technology by jumping from one product to another with increasing knowledge content.

In the case of cheap garments, the first flying goose was Japan's firms, which boosted their value-added and increased the standard of living of Japan to such an extent that production was taken over by South Korean firms, while Japanese firms moved into the more complex manufacturing of TV sets. South Korean firms then increased their labour costs, and cheap garments were for a while produced in Taiwan, until the same thing happened there and the production of cheap textiles moved to Thailand and Malaysia, and then finally to Vietnam. In this way, whole group of countries used garment production to upgrade their production capabilities and standard of living. [Moi ici: Daqui a importância de em vez de perder energia a defender o passado, abraçar a mudança para subir na escala de valor]

 In order to understand the ability of the firms and nations to innovate and grow, it is also necessary to understand the linkages between the capabilities of different industries. Beneath the surface of every product there are not just physical components, but a deeper set of hidden technological and organisational capabilities that enabled it to be created and produced. Today, for example, electronics account for about one-third of materials and labour involved in producing an automobile.

 These capabilities are also not static. 

 ...

This point about the capabilities underlying the products of a particular industry is very important when thinking about whether a new industry entering a country will be successful. A good mental image to use in such cases, as César Hidalgo has suggested, is a jigsaw puzzle. Bringing a complex industry into a new country is, according to him, like trying to move a jigsaw puzzle from one table to another. [Moi ici: Outra vez a imagem dos macacos que não voam, trepam as árvores] The more pieces are in the puzzle, the more likely it is to fall apart as one tries to move it. It is also easier, he points out, to move such a jigsaw puzzle if one only has to move a few pieces to another table, on which the remaining pieces of the same puzzle have already been assembled."

Trechos retirados "Windows of Opportunity: How Nations Make Wealth". 

 

quarta-feira, agosto 09, 2023

Prepare-se, não seja apanhado desprevenido

Na capa do WSJ de ontem, "The World's Factory Floor Struggles to Attract Workers":

"The workplace features floor-to-ceiling windows and a cafe serving matcha tea, as well as free voga and dance classes. Everv month, workers gather at team-building sessions to drink beer, drive go-karts and go bowling.

This isn't Google. It's a garment factory in Vietnam.

Asia, the world's factory floor and the source of much of the stuff Americans buy, is running into a big problem: Its young people, by and large, don't want to work in factories.[Moi ici: A minha primeira reacção é pensar que isto é um sinal positivo, um sinal do mecanismo dos Flying Geese a funcionar]

That's why the garment factory is trying to make its manufacturing floor more enticing, and why alarm bells are ringing at Western companies that rely on the region's inexpensive labor to churn out affordable consumer goods.

The twilight of ultra cheap Asian factory labor is emerging as the latest test of the globalized manufacturing model, which over the past three decades has delivered a vast array of inexpensively produced goods to consumers around the world.

...

"There's nowhere left on the planet that's going to be able to give you what you want," said Paul Norriss, the

British co-founder of the Vietnam garment factory, UnAvailable, based in Ho Chi Minh City. "People are going to have to change their consumer habits, and so are brands.""

Um extenso artigo e com vários pontos de vista:

  • banhista gordo,
  • flying geese,
  • demografia,
  • implicações no futuro do mercado e das marcas,
  • tentativa das empresas melhorarem a experiência no local de trabalho,
  • para quem não tem filhos, ou vive em casa dos pais, o dinheiro não é tudo.
"Chipmakers are rebuilding the US semicondutor industry with $231 billion in new investments spurred by the enactment of the landmark CHIPS and Science Act a year ago.
But even as Biden officials celebrate the anniversary of that legislation this week, there are mounting concerns about whether enough skilled workers will be there to run these factories once they are online.
Labor shortages have already affected the construction of one major project in Phoenix. Meanwhile, a possible national shortfall could also complicate efforts in the year ahead by
Intel (INTC) in central Ohio, Micron (MU) in upstate New York, as well as other new projects from Texas to Utah.
The issue could prove a headwind for America's efforts to reverse a decades-long decline in semicondutor manufacturing and also complicate a key tenet of Biden's case for reelection."

domingo, fevereiro 20, 2022

Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”

BTW, o tema deste postal deve ser uma preocupação da sociedade não dos empresários. A preocupação dos empresários é a sua empresa. Empresários são humanos, praticam o "satisficing", não o "maximizing of". Recordar o que eu digo aos agricultores, a sua missão não é alimentar o mundo. O mundo está-se marimbando para eles. A sua missão é proporcionarem vida à sua família.

"Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”, dependendo a retoma económica de uma “nova vaga de investimento” em bens, serviços e conceitos “diversificados e inovadores”, conclui um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, divulgado esta sexta-feira.

“No horizonte 2030, o país não pode crescer mantendo o seu foco exclusivamente no que já se exporta – exportar “mais do mesmo”, mesmo quando o ‘mesmo’ é melhorado – nem manter uma preferência por mercados europeus que, no conjunto, poderão vir a crescer muito pouco nas próximas décadas”, lê-se no trabalho, intitulado ‘Foresight Portugal2030’.

...

Para ser sustentada, a retoma do crescimento – tendo em atenção o perfil demográfico previsível – tem de assentar num investimento que permita um aumento substancial da produtividade dos fatores (conhecimento/tecnologia, trabalho qualificado, capital e terra)”, refere.

Ou seja, acrescenta, “para que haja crescimento da economia, é fundamental que as atividades mais presentes nos mercados externos sejam das que maior valor acrescentado geram”: “Essa é que é verdadeiramente a medida da competitividade. E a que estamos ainda longe de atingir”, considera."

Ontem, neste postal "deixem as empresas evoluir ou morrer, ponto!!!", referi este postal de Março do ano passado, "The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!" onde aparece o modelo "flying geese". O Japão não chegou onde chegou porque fabrica cada vez melhor vestuário ...

Percebem o que isso implica para os incumbentes e para as redes de influência instaladas em torno das fumarolas do poder? O país precisa de saltos no valor acrescentado, mas "os macacos não voam, trepam às árvores". Logo, temos de apostar na receita irlandesa, mas sem demografia e com um estado-vampiro.

Trechos retirados de "Portugal não irá crescer se continuar a "exportar mais do mesmo", diz estudo da Gulbenkian".

terça-feira, agosto 29, 2023

Falta a parte dolorosa da transição (parte III)

Parte I e parte II.

O que escrevi na parte I?
"O período 3 é falso, é rotundamente falso porque falta a parte dolorosa da transição. Falta criar as condições para os flying geese (A mudança bottom-up!The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!). É preciso deixar as empresas morrer (e como isto é dificil politicamente, os desempregados são eleitores). No entanto, o que se faz é apoiar essas empresas para que dêem o salto de produtividade ... a sério?!"

Afinal, os apoios nem são para ajudar as empresas a darem o salto de produtividade. Ontem no JN em "Desemprego atinge os concelhos industriais" li:

"TRABALHO Os concelhos com maior propensão industrial foram os que registaram os maiores aumentos do desemprego nos últimos 12 meses. Mais de metade dos novos desempregados estáno Norte, sobretudo onde predominam os setores do têxtil e do calçado, que se queixam de falta de encomendas. Para travar os despedimentos, o Governo prepara-se para suportar parte do salário dos trabalhadores que estão parados.

...

O setor do couro teve o maior aumento do desemprego, 15,4% Superior ajulho de 2022, e há empresários do calçado que pedem medidas para evitar "despedimentos em massa" (ler texto na página seguinte). Já o têxtil e o vestuário viram o desemprego subir acima dos 12%, porque "as empresas tiveram uma diminuição acentuada da procura", assinala Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. Isto deve-se à conjuntura internacional que arrefeceu os mercados europeus, o que levou a que o retalho vendesse menos do que o esperado no ano passado, gerando-se "excesso de stock" que, este ano, se repercute num travão das encomendas, acrescenta. [Moi ici: Ainda ontem à tarde na RTP 3 ouvi uma declaração do presidente da ATVP sobre o têxtil e a sustentabilidade em que, entre outras coisas, dizia que era preciso aumentar o tempo de vida do vestuário. Eu sorri e pensei no impacte desse justo objectivo na rentabilidade das empresas e no emprego têxtil]

...

O JN sabe que se trata de um programa dirigido aos trabalhadores das indústrias afetadas pela quebra de encomendas, nas quais se inclui o têxtil e vestuário.

A ideia é que o IEFP financie uma parte dos salários, desonerando as empresas que, de outra forma, teriam de recorrer ao lay-off ou despedir. A portaria que regulamenta o programa será publicada no inicio de setembro e as formações devem arrancar nesse mês. A duração prevista é até ao final do ano, mas os empresários veem vantagens em prolongá-lo a 2024. [Moi ici: Entretanto, o presidente da Associação das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC), César Araújo, diz que apesar do desemprego as empresas não conseguem contratar]"

Recordar Tudo vai depender do tal jogo de forças (parte VI)  onde se fala da inversão de ciclo nas exportações portuguesas.

É o medo atávico dos governos portugueses, que não querem deixar as empresas morrer e, por isso, amarram recursos escassos a empresas zombie.

sábado, agosto 31, 2024

Em Portugal, a conversa de café é a norma (parte IV)

No final da parte III volto a insistir num conjunto de teclas que rotulo de  importantes e que costumo referir aqui no blogue sempre que falo em aumentar a produtividade do país:

Entretanto, encontrei essas mesmas teclas no FT de 29.08.2024 no artigo "Japan must slay its start-up zombies".

Sempre que penseo em empresas zombies penso num velho esquema que desenhei em 2008:
Quando se baixa o peço do dinheiro (juros baixos, apoios e subsídios) reduz-se a exigência de rentabilidade, reduz-se o risco, reduz-se a taxa de mortalidade das empresas, mesmo quando não ganham dinheiro, ou seja ficam zombies.

Se as empresas zombies não morrem, recursos escassos ficam agarrados a projectos condenados a rentabilidades medíocres. No agregado, é o país que não vê crescimento da produtividade. O crescimento da produtividade de um país precisa de "turbulência". Ou seja empresas morrem e libertam recursos para novas empresas.

"In a courageous bit of cross-platform marketing, the chief executive of Japanese investment bank Nomura has begun appearing in adverts for the country's most aggressive online job-seeking platform, Bizreach.

...

But the message underlying the adverts is unmistakable: corporate metabolism has resumed in Japan after a long dormancy. A system that once inefficiently hoarded human resources is now watching those self-deploy elsewhere. ...

After decades of resource misallocation, risk-aversion and stagnancy, Japan's job market looks more liquid. Critically, it feels like an environment where start-ups can aspire to recruiting the nation's best people, say managers at venture capital funds.

All this provides a strong tailwind for the Japanese government, which has invested a great deal of hope and funding into transforming the country's once anaemic start-up scene. It is, on one viewing, a grasp for panacea.

The ambitions are charged with the faith that start-ups can drive GDP growth and productivity, rescue the country from a long-term innovative tailspin and channel its talent in the right — or at least less wrong - direction. It has a belated, even desperate feel to it, but start-ups now seem to be Japan's core industrial policy.

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Under heavy government pressure, Japan's three biggest banks have begun offering start-ups loans backed against current and future cash flow, breaking their entrepreneurialism crushing habit of only lending against hard collateral such as the property of a would-be start-up founder.

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Looming over this success is a coming moment when, if it wants the private sector to come in as a big investor in its start-up market, Japan must confront what it means to have a working capitalist metabolism. [Moi ici: E Portugal também, sabem o que é que isto significa? Deixem as empresas morrer!!!] After decades of holding the cost of money as low as it can go, the country has shown a high tolerance for zombies and a low tolerance for carnage. If private money is to flow, that won't work this time.

A start-up-driven economy, [Moi ici: O Japão precisa de fazer a transição dolorosa para abandonar 40 anos de estagnação e aposta em start-ups. É o mesmo que Portugal precisa de fazer, mas como a Irlanda, como se ilustra na parte II, acredito que será mais rápido com investimento directo estrangeiro. Mas o ponto principal é que o Japão já percebeu que não é com as empresas actuais que dará o salto. Algo que é bem ilustrado pela figura dos "Flying Geese"] with lots of private investment, only works if participants and overseers accept that failure is as necessary a function of this metabolism as success. Investment in start-ups is driven by a promise of extraordinary returns, but that promise can only be kept if everyone is tested against a pressing threat of demise. For too long, Japan's deflationary economy and ultra-low interest rates meant that low profitability survival was a valid corporate option: that would never - and did neverbring in the VCs and risk capital.

But Japan is now normalising, and there is a real sense that things are going to break.[Moi ici: Conseguem imaginar como seria ver isto em Portugal? Conseguem imaginar como o discurso do "Ajudem-me, sou um coitadinho, sou uma vítima de uns maus" começava a acabar em prol de um pouco português "keep a stiff upper lip" mas pragmático equacionar se a situação é estrutural ou conjuntural]  The problem with an industrial policy, for all the good intentions, is that it draws legitimacy from the pledge of long-term nurture. Japan will soon see if it has a taste for state-backed destruction."

Imaginem uma conversa destas em Portugal... imaginem dizer ao filho de cinco anos:

"- A actuação do vosso ano na Festa de Natal do jardim-escola foi uma valente porcaria!"

Parte I, Parte II, Parte III e Parte IV.

sexta-feira, junho 24, 2022

Depois do hype: O mastim dos Baskerville!

Agora que passou o hype e que as carpideiras já se recolheram, acrescento o meu comentário sobre o relatório do estado da nação publicado pela Fundação José Neves.


 Começo por este trecho que encontrei em “Carlos Oliveira. "Temos empresas demasiado preocupadas com o Estado, com os apoios, com os incentivos"” (BTW, este título remete-me para uma série de postais publicados aqui no blog ao longo dos anos, como este: “O by-pass” ao estado e ao país):

O que faz o governo de turno quando as empresas (como a Sonae, ou a Aquinos) não podem suportar os salários mínimos? Lança um apoio. Recordar “No país do Chapeleiro Louco (parte II)” em 2022, ou “Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!” em 2009. Recordo “Aspirar por objectivos sem ter coragem para a disciplina que requerem”.


O trecho acima faz-me voltar ao postal da semana passada “Competitividade sem competitividade? Mas o que é ser competitivo?” e à figura:

Enquanto escrevo estas linhas, mão amiga envia-me pelo Twitter este artigo “Grandes marcas de calçado desportivo desviam encomendas da Ásia para Portugal”. Isto é mau? Claro que não, claro que é bom ponto.


No entanto, volto ao tema dos “flying geese”:

Em “The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!” é possível ver o exemplo da história do sector do calçado na cidade de St. Louis nos Estados Unidos. 


Um país com níveis de produtividade superior não pode ser construído com base em sectores competitivos, mas com baixa produtividade.


Estão a ver a consequência imediata desta conclusão? Mata o que se segue:


Este tweet é representativo de parte das conclusões do referido relatório. Se os empresários e os trabalhadores tiverem mais qualificações as empresas alcançarão níveis de produtividade superior. Mais qualificações não permitem mais produtividade? Claro que sim, mas são aquilo a que chamo as melhorias de engenheiro. Recordo de 2009 “Actualizem o documento por favor”. 


A produtividade é um rácio entre entradas e saídas, ou um rácio entre os recursos utilizados e o valor gerado, como ilustro em “Acerca do Evangelho do Valor”:

 

Quando o relatório refere:


“e não há produtividade sem qualificações, pelo que é essencial apostar na formação ao longo da vida, na reconversão e aquisição de competências.

...

Há ainda o problema das qualificações dos gestores, em que quase não se tem visto investimento, com o país a apresentar a maior percentagem de empregadores que não terminou O ensino secundário. "Em 2021, era o caso para 47,5% dos empregadores, praticamente o triplo da média europeia (16,4%).”


Podemos acreditar que a produtividade cresce com mais qualificações, mas esse crescimento é pouco para o que o país precisa, esse crescimento é baseado sobretudo na melhoria da eficiência, na redução das entradas. As melhorias de produtividade que o país precisa são aquelas que são baseadas em brutais aumentos do valor criado. Mais valor criado traduz-se em preços mais elevados. As melhorias de produtividade que o país precisa são baseadas no gráfico de Marn e Rosiello como explico em “Para aumentar salários ... (parte IV)”:

 

E isto leva-nos à lição dos finlandeses que aprendi em 2007:


"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."
Mas, e como isto é profundo:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."


E isto leva-nos a um pedido que faço aqui no blogue há muitos anos: DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!!!


Mais formação para os trabalhadores actuais ou futuros não resolve o problema porque o problema não está na oferta do mercado de trabalho, o problema está na falta de procura para trabalhadores mais qualificados. Mais formação dos trabalhadores num país sem procura por ela promove a emigração. Recordar o postal “Lerolero”: 


“In my experience, well-educated Haitians are very easy to find as taxi drivers in the French-speaking part of Canada. An estimated 82 per cent of Jamaican medical doctors practise abroad. Seventy per cent of all inhabitants of Guyana with a university education work outside the country. North American hospitals vacuum up poor English-speaking countries like Trinidad for nurses, while in many places in the Caribbean Cuban nurses are the ones that keep the health sector functioning.”


Mais formação para os trabalhadores actuais é um tema que sigo no blogue desde a primeira década deste século com as promessas de amor de Sócrates. Recordar o tema da caridadezinha em “Caridadezinha strikes again”:


"The problem is that poverty and unemployment are not much influenced by the qualities and qualifications of the workforce. They depend, rather, on the state of demand for labor. They depend on whether firms want to hire all the workers who may be available and at the pay rates that firms are willing, or required, to offer, especially to the lowest paid."

Neste podcast, “Formação e salários: não podemos nivelar por baixo”, João Ferreira do Amaral pede estudos, sector a sector, para comparar as empresas mais produtivas de outros países com as empresas portuguesas, para retirar ensinamentos. E regresso a 2011 e a uma tarde de Verão em Guimarães a fazer horas para entrar numa empresa, e ao que aprendi com mais uns nórdicos em “Acerca da produtividade, mais uma vez (parte I)”. Comparar sector a sector é, inconscientemente, assumir que as saídas de cada empresa são semelhantes e que as diferenças estão na forma de gerir as entradas para produzir as saídas. O que os nórdicos me chamaram a atenção é que não faz sentido comparar a produtividade de quem faz sapatos que saem de uma mini-fábrica-ateliê a 600 euros o par com quem faz 2000 pares de sapatos por dia a 25 euros o par. Recordo de 2010, “As anedotas”. 


Percebo que a Fundação José Neves e outras entidades se foquem na formação porque é algo que se pode planear e porque é algo que agrada a uma vasta fauna de partes interessadas instaladas no terreno e habituadas a viver da formação.


Então quem vai dar formação aos empresários? Daniel Bessa? Alguém de entre estes outros 24 cromos?


Deixem os empresários que estão a trabalhar em paz. Saúdem o seu esforço. Concentrem-se no que chamo o mastim dos Baskerville. Concentrem-se nas empresas e nos empresários que não existem. As melhorias de produtividade que o país precisa dependem das empresas e dos empresários que não existem. Recordo “Empresários e escolaridade ou signaling”. 


Por fim, volto ao exemplo irlandês. Acredita que o brutal salto de produtividade na Irlanda foi conseguido à custa dos empresários irlandeses? Se acredita que sim, pense outra vez. Recordo, “Tamanho, produtividade e a receita irlandesa”. 


Lembre-se do mastim dos Baskerville.

 

segunda-feira, dezembro 16, 2024

Flying Geese ao vivo e a cores - outro exemplo

Depois de Flying Geese ao vivo e a cores segue mais um exemplo da transição: Avincis quer "helis" de Itália e Suécia a fazer manutenção em Portugal

A Avincis está a expandir suas operações em Portugal, especialmente no campo de manutenção de aeronaves e serviços aéreos de emergência. Este movimento reflecte a mesma lógica estratégica que foi mencionada no texto inicial sobre a Lufthansa e a Coloplast:

  1. Transição para sectores de alto valor acrescentado: Assim como os investimentos da Lufthansa em motores de aviação e da Coloplast em tecnologia médica trazem indústrias de alta tecnologia para regiões tradicionalmente focadas em sectores maduros, a Avincis também está a promover um avanço ao transformar Portugal num centro relevante para manutenção aeronáutica de grande escala.

  2. Valorização da mão de obra local: A reportagem destaca que a Avincis treina e emprega técnicos locais, criando novas oportunidades em áreas de maior produtividade e remuneração. Este alinhamento com a formação especializada e transferência de know-how segue a mesma lógica das multinacionais mencionadas no texto inicial.

  3. Reforço da competitividade/produtividade e resiliência económica: Ao trazer operações de manutenção avançada de outros países para Portugal, a Avincis aumenta a atractividade económica do país, tal como ocorre nos exemplos da Lufthansa e Coloplast.

Portanto, a expansão da Avincis em Portugal ilustra mais um caso de "migração de valor" para novos sectores, minimizando os impactes de declínios em áreas tradicionais e contribuindo para um desenvolvimento económico mais sustentado.