sábado, outubro 05, 2024

Unreasonable hospitality - parte IV

Há dias encontrei esta citação no livro "Unreasonable hospitality: the remarkable power of giving people more than they expect" de Will Guidara.

No capítulo 18, "Improvisational Hospitality" o autor descreve como nasceu e se desenvolveu o programa Legends. Um programa dedicado a criar experiências que ficam na memória dos clientes. 

"I hear this a lot: "Well, of course you could afford to pull those tricks at an expensive restaurant."

And I always think: Are you sure you can afford not to?

It's true-these gifts cost money, in labor if nothing else. But I'm my dad's son, and I reviewed the Dreamweaver line item in the P&L every month with an eagle eye. There was never any question: given the word-of-mouth marketing this bought us with our guests and the excitement this kind of gift-giving created among the team, the program was worth every penny.

[Moi ici: Segue-se agora o trecho que merece reflexão. É disto que falo quando penso na doença anglo-saxónica, quando menciono os Muggles, quando penso em "optimismo não documentado"] Anyway, as a leader, you can't rely solely on your spreadsheets. You have to trust your gut-and what you feel when you're in the room with people, giving and receiving these gifts. Is there a traditional return on investment with a program like this? No. Am I confident that each dollar I spent here did as much or more than the ones I spent on traditional marketing? Absolutely."

Um convite para:

  • Confiar na importância de criar experiências memoráveis para os clientes.
  • Pensar para além das folhas de cálculo para não perder a visão geral. Uma dependência excessiva da análise pode levar a decisões que reduzam os custos em detrimento da satisfação dos clientes ou da motivação dos trabalhadores, o que pode prejudicar o negócio a longo prazo.
  • Pensar em evitar decisões tomadas unicamente com base em projecções financeiras, sob pena dos líderes tornarem-se avessos ao risco, evitando abordagens inovadoras que podem produzir ganhos a longo prazo. As PME, em particular, precisam de se manter flexíveis e abertas a estratégias criativas que as possam ajudar a competir e a crescer.

Recordo este postal sobre a Viarco - "Nós fazemos as contas ao contrário"


Parte IIIParte II e Parte I.

sexta-feira, outubro 04, 2024

Curiosidade do dia

2008 - Tanta despesa para "fazer o país crescer". Não terá consequências?

Maldita troika e maldita austeridade!


2018 - Reduzir a dívida à custa de cativações. Não terá consequências?


O SNS não dá confiança nem serve os utentes.

2024 - Tanto dinheiro para tantas corporações. Não terá consequências?




Unreasonable hospitality - parte III

Há dias escrevi este postal, "Preocupante" onde sublinhei acerca de um retrato das PME em Portugal:

"O estudo conclui ainda que 33% das empresas não usam ou usam muito pouco análises de dados para tomar decisões importantes na empresa."

Vou citar mais uns trechos de "Unreasonable hospitality: the remarkable power of giving people more than they expect" de Will Guidara.

"Where do the highest-paid people in the company work? In the restaurants themselves, or in the corporate offices? That says a lot about how the company is run.

...

In restaurant-smart companies, members of the team have more autonomy and creative latitude. Because they tend to feel a greater sense of ownership, they give more of themselves to the job. They can often offer better hospitality because they're nimble; there aren't a lot of rules and systems getting in the way of human connection. But those restaurants tend not to have a lot of corporate support or oversight-the systems that make great businesses.

Corporate-smart companies, on the other hand, have all the back-end systems and controls in areas like accounting, purchasing, and human resources that are needed to make them great businesses, and they're often more profitable as a result. But systems are, by definition, controls-and the more control you take away from the people on the ground, the less creative they can be, and guests can feel that. Restaurant-smart companies can be great businesses, and corporate-smart companies can deliver great hospitality. But their priorities are different, in ways that fundamentally affect the guests' experience.

...

whatever terrifying statistic you've heard about how many restaurants fail in the first year has a lot more to do with the people who open restaurants without understanding the business part of the business."

Para as PME, estar atento ao contexto não é apenas uma vantagem, é uma questão de sobrevivência. Num mundo onde dados e decisões informadas fazem toda a diferença, ignorar a importância da análise de informação é ficar para trás. Para crescer e inovar, é essencial combinar autonomia e criatividade no terreno com o suporte e sistemas robustos que sustentam negócios bem sucedidos. Não basta ser excelente no que se faz – é preciso também entender o negócio por trás do negócio e antecipar oportunidades. O futuro pertence a quem está preparado.

Está a ser a melhor leitura deste ano. Um livro para decisores no mundo empresarial.

Parte IIParte I.

quinta-feira, outubro 03, 2024

Curiosidade do dia

 


"Tribunal declara prescrição de 11 crimes do processo BES/GES. Salgado vê cair três crimes"

Oh! Não estava nada à espera.

De liana em liana

A vida empresarial é este saltar de liana em liana sem pôr os pés no chão. Quem acredita que a liana actual (estratégia) é eterna ou morre, ou pede um apoio, ou uma protecçãozinha ao papá-estado.

Primeiro algo para contextualizar. Uma citação escrita aqui em 2007:

"What was the best strategy in the end? What Lindgren found was that this is a nonsensical question. In an evolutionary system such as Lindgren’s model, there is no single winner, no optimal, no best strategy. Rather, anyone who is alive at a particular point in time, is in effect a winner, because everyone else is dead. To be alive at all, an agent must have a strategy with something going for it, some way of making a living, defending against competitors, and dealing with the vagaries of its environment.

Likewise, we cannot say any single strategy in the Prisioner’s Dilemma ecology was a winner. Lindgren’s model showed that once in a while, a particular strategy would rise up, dominate the game for a while, have its day in the sun, and then inevitably be brought down by some innovative competitor. Sometimes, several strategies shared the limelight, battling for “market share” control of the game board, and then an outsider would come in and bring them all down. During other periods, two strategies working as a symbiotic pair would rise up together – but then if one got into trouble, both collapsed.

We discovered that there is no one best strategy; rather, the evolutionary process creates an ecosystem of strategies – an ecosystem that changes over time in Schumpeterian gales of creative destruction."

Agora, dois artigos que encontrei na imprensa recentemente.

Primeiro, no último Dinheiro Vivo, o artigo "8beaufort. Hamburg Lonas de velas velhas ganham nova vida em sapatilhas". O que retiro dele?

Clientes-alvo - um nicho de mercado:
  • A 8beaufort. Hamburg actua no nicho do calçado sustentável, com um foco em consumidores conscientes das questões ambientais. A marca diferencia-se ao utilizar velas de barcos recicladas para criar as suas sapatilhas, posicionando-se no segmento premium de calçado ecológico.
Vantagens competitivas:
  • A principal vantagem competitiva é o foco na sustentabilidade, usando velas descartadas e coletes salva-vidas para fabricar produtos únicos, o que ajuda a reduzir o desperdício e a poluição marinha.
  • A fabricação em Portugal reforça o compromisso da marca com a redução da pegada de carbono, já que evita o envio de materiais para a Ásia e cria uma cadeia de produção mais eficiente.
  • O uso de lonas de velas e outros materiais reciclados oferece aos clientes um produto exclusivo, com uma história de impacto ambiental positivo, o que pode atrair consumidores premium dispostos a pagar preços mais altos (159 a 249 euros).
  • A marca procura afirmar-se como uma escolha sofisticada para consumidores que buscam produtos sustentáveis e de alta qualidade.
Riscos:
  • A marca depende da aceitação dos consumidores no mercado de calçado sustentável, que, embora em crescimento, ainda pode ser limitado em comparação com mercados tradicionais de moda.
  • O posicionamento premium pode limitar a base de consumidores, especialmente em tempos de crise económica.
  • A recolha de materiais reciclados, como as velas, pode ser um desafio em termos de consistência no fornecimento. A dificuldade em obter matéria-prima suficiente ou de qualidade pode afectar a produção.
  • O mercado de moda sustentável tem atraído cada vez mais marcas, o que pode aumentar a competitividade e pressionar a 8beaufort.Hamburg a continuar a inovar para se diferenciar.
Acerca dos clientes-alvo recordo o que escrevi relativamente à APICCAPS. Eu aposto nisto:
"O sector do calçado vai encolher, e vai ter de subir ainda mais na escala de valor, ou seja, vai ter de anichar e trabalhar para segmentos de muito maior valor acrescentado, luxo mesmo talvez."

A APICCAPS aposta nisto:

"Para não concorrer pelo preço baixo, as fábricas portuguesas terão de assegurar encomendas de gama alta, moda e luxo, ou gamas específicas como o calçado técnico. Para isso, é fundamental ter capacidade de resposta a grandes encomendas. O que, por sua vez, obriga a repensar a forma como se trabalha." 

Isto faz-me lembrar o Mario Draghi e o seu "Whatever it takes", mas o anónimo da província sou eu. Ninguém quer falar do "encolhimento". 

O outro artigo encontrei no WSJ, "This Garment Maker Is Finding New York Manufacturing Is Back in Style". Pensei nas empresas de vestuário portuguesas que estão a ter um ano negativo a nível de exportações, e nos potenciais concorrentes que estão a conquistar o mercado de proximidade (nearshoring). Claro que quando não se olha para o contexto ... acredita-se que o que nos trouxe até aqui, continuará a levar-nos até ao fim do arco-íris. E não é só quota de mercado, mas também margens e preços.

A Ferrara Manufacturing sediada em New York é uma empresa de vestuário focada numa estratégia de nearshoring e fabricação local, concentrando-se na produção de roupas nos Estados Unidos, tanto para marcas quanto para contratos militares. A empresa busca capitalizar a crescente procura por produtos fabricados localmente, impulsionada por preocupações com cadeias de fornecimento globais, com sustentabilidade e com condições de trabalho.

Nicho de mercado - A empresa actua em dois nichos principais:

  • Produzir peças de luxo, como casacos de caxemira, para consumidores que valorizam a produção local e a qualidade premium.
  • Contratos militares e produtos "made in America": A Ferrara Manufacturing também serve o mercado de produtos militares dos EUA e de exportação para países como Japão e Coreia do Sul, onde há procura por itens únicos e feitos nos Estados Unidos.

Vantagens competitivas:

  • A produção doméstica torna a empresa uma escolha atraente para marcas que buscam diminuir riscos associados a longas cadeias de fornecimento internacionais e a reduzir tempos de entrega.
  • A empresa destaca-se ao oferecer uma cadeia de produção transparente, com benefícios para os trabalhadores, o que vai ao encontro das exigências das marcas que querem mostrar responsabilidade social.
  • Além do mercado interno, a Ferrara Manufacturing possui uma vantagem competitiva ao servir consumidores no exterior, especialmente no Japão e na Coreia do Sul, que valorizam e estão dispostos a pagar por produtos exclusivos feitos nos EUA.
  • O fornecimento para o sector militar oferece estabilidade e um fluxo constante de receita, diferenciando a Ferrara de empresas que dependem exclusivamente do mercado de consumo

Riscos:

  • Fabricar nos EUA tem custos mais altos em comparação com a produção em mercados com mão de obra mais barata. Isso pode impactar a competitividade de preços, especialmente no mercado de consumo em massa.
  • A empresa depende fortemente de dois nichos: produtos premium e contratos militares. Qualquer retracção na procura  por produtos de luxo ou mudanças nos contratos governamentais pode impactar as suas receitas.
  • A procura crescente por transparência e sustentabilidade, embora seja uma vantagem competitiva, também pode pressionar a empresa a manter altos padrões, o que pode aumentar os custos e reduzir a margem de lucro.
  • A produção premium pode ser afectada por flutuações económicas que impactem o poder de compra dos consumidores, tanto nos EUA quanto nos mercados internacionais.
Ontem, na minha leitura matinal de "Unreasonable Hospitality" de Will Guidara fixei esta frase de Jay-Z: 
“I believe you can speak things into existence.”
O futuro é construído sobre oportunidades, não sobre cortes nos custos. Reduzir custos pode comprar algum tempo, mas é a capacidade de identificar e agir sobre novas possibilidades que garante crescimento e sustentabilidade. O mundo empresarial está em constante transformação; o sucesso pertence àqueles que estão atentos ao contexto e preparados para inovar. Ficar preso à estratégia actual é o mesmo que ficar para trás. 

Não percamos as oportunidades que emergem – olhemos para o mercado e para os desafios como portas para o futuro, não como muros ameaçadores.

A frase de Jay-Z é importante porque o futuro não é intrinsicamente bom ou mau, é o que a nossa cabeça faz dele. Se ele mete medo, de certeza que vai ser mau.

quarta-feira, outubro 02, 2024

Curiosidade do dia


Em vez de saltar para a carruagem só porque sim, recomendo para reflexão:


Já agora, a propósito de um relatório com 400 páginas:


O que estará na cabeça de Cotrim Figueiredo quando profere a palavra "reformar"? Terá coragem para falar contra os milhões gastos a proteger incumbentes na agricultura e indústria?

Como dar este salto? (parte V)

Parte Iparte II, parte III e parte IV.

Vou agora ilustrar as imagens genéricas com algo que saiu de um projecto com quase 15 anos. Seguem-se as relações de causa-efeito entre:

  • causa(s)
  • factos negativos
  • motivo para relevância
Que depois são usadas para desenhar o tal sistema que conspira para se ter a situação actual e que ilustra como o pensamento linear é insuficiente:









Agora sim. Agora temos a matéria-prima para nos dizer o que tem de ser feito.

Continua.


terça-feira, outubro 01, 2024

Curiosidade do dia


Em 1985 houve umas eleições legislativas ganhas pelo PSD de Cavaco Silva. Nessas eleições o PS foi liderado por Almeida Santos. O mote, a frase da campanha socialista nunca mais me saiu da cabeça:

"Juntos, vamos conseguir"

Sou mesmo antigo para me lembrar destas cenas ... 

Foi esta frase que a minha mente cínica murmurou quando viu o infográfico abaixo:

Não se admite, estamos num humilhante quinto lugar, podíamos ao menos tentar chegar ao top 3. 

Julgo não errar quando digo que Almeida Santos depois de dizer o "Juntos vamos conseguir" costumava acrescentar "Estou certo, junto vamos conseguir"


Unreasonable hospitality - parte II

""All it takes for something extraordinary to happen is one person with enthusiasm."

...

Let your energy impact the people you're talking to, as opposed to the other way around."

O trecho que se segue fez-me lembrar alguns empresários de PMEs que aprenderam esta lição há uns anos:

"Randy also instilled in us a sense of ownership by finding ways to demonstrate his faith in our judgment.

"You okay if I get out of here a little early?" he'd ask, tossing me the keys to the front door. As a twenty-two-year-old, I was thrilled to be left in charge. If the boss was gone, then I was the boss-which is why I worked harder when Randy was gone than when he was there.

More important, I never forgot how much his trust meant to me, which is why developing a sense of ownership in the people who worked for me would become a priority for me as soon as I was the one tossing the keys."

Um momento de silêncio pelas PMEs que este estudo revela:

"a "cult" is what people who work for companies that haven't invested enough in their cultures tend to call the companies that have."

Paro aqui porque a próxima citação merece um postal isolado. 


Trechos retirados de "Unreasonable hospitality: the remarkable power of giving people more than they expect" de Will Guidara.

Parte I.