sexta-feira, outubro 18, 2024

Curiosidade do dia




No JdN de ontem Luís Todo Bom escreveu um artigo, "O último ministro da indústria" que é um elogio a Mira Amaral como ministro da Economia de Cavaco no final dos anos 80, princípio dos anos 90. O artigo começa assim:
"O último ministro da indústria do Governo português ocupou aquela pasta durante oito anos e saiu do Governo no final de 1995. Ou seja, há trinta anos que o sector industrial não está representado no Governo, ao mais alto nível."
A certa altura o autor escreve:
"Os nossos empresários industriais são uns verdadeiros heróis, lutando sozinhos pela manutenção das suas empresas. Não viram nenhum ministro preocupado com a concorrência chinesa à indústria dos moldes e plásticos, com as ameaças ao nosso "cluster" de componentes automóveis, ou com as necessidades de maior automação e robotização, naqueles sectores e nos nossos sectores tradicionais de têxtil, calçado, madeiras e cortiça."
Li o artigo e fiquei dividido. Sei que tenho algumas críticas a Mira Amaral. Por exemplo:
No entanto, também sou capaz de reconhecer que muitas coisas boas foram feitas e algumas são listadas por Todo Bom no início do artigo. 

Penso que Todo Bom está a ser demasiado exigente no que gostaria de ver num futuro ministro da Economia. O contexto em que Mira Amaral actuou já não é relevante nos dias de hoje. Naquela época, Portugal beneficiava de ser a "China da Europa", competindo através de baixos custos de produção, o que facilitava decisões simples e instintivas para empresários e governo. 

Actualmente, a economia global mudou drasticamente, e a estratégia de competir apenas por custo ficou obsoleta para um país da UE. Hoje, as empresas portuguesas precisam de desenvolver inovações e formular as suas próprias estratégias, adaptando-se a nichos de mercado, tecnologia e especialização. 

Um ministro da Economia moderno não pode seguir uma abordagem única, pois há múltiplas estratégias empresariais em jogo. Por isso, qualquer intervenção governamental correrá sempre o risco de ser ou ineficaz ou quando muito diluída porque só é relevante para alguns.

Talvez o ministro da Economia que Portugal precisaria hoje fosse alguém que não tivesse receio de deixar morrer empresas, que não as enganasse com histórias de festas de Natal e dissesse a verdade ao filho de 5 anos:
- A actuação do vosso ano na Festa de Natal do jardim-escola foi uma valente porcaria!"

Talvez o ministro da Economia que Portugal precisaria hoje fosse alguém que dissesse claramente que muitas empresas actuais, se não se reinventarem, não poderão continuar a existir num Portugal com uma produtividade a 75% da média da UE. E a reinvenção de cada uma não é geral e feita por template como no tempo da "China da Europa", agora cada caso é um caso

Mas isto sou eu que sou um anónimo da província com mau feitio.

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