A apresentar mensagens correspondentes à consulta calçado bessa ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta calçado bessa ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, março 04, 2013

"Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?"

A revista Exame traz um artigo sobre as diferenças e semelhanças entre os sectores do calçado e do têxtil português "Tão iguais, tão diferentes".
.
No passado dia 20 de Fevereiro, na viagem para este evento em Felgueiras, tive oportunidade de conversar com alguém que conhece o sector do calçado há muitos anos, chegou a referir-me conversas da associação do sector, a APICCAPS, com o então ministro da Indústria Mira Amaral.
.
Uma das perguntas que lhe fiz foi "Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?"
.
.
.
Precisamente a pergunta a que o artigo da Exame pretende dar resposta.
"Mas porque é que a imagem dos têxteis está a demorar mais tempo a descolar dos anos de declínio, marcados pelo impacte da concorrência asiática e da deslocalização de empresas e encomendas?"
O designer Miguel Vieira confirma essa diferença:
""os dois sectores estão em estádios diferentes de desenvolvimento". "O calçado deu o salto, percebeu a importância da tecnologia, da marca, da embalagem, da imagem, enquanto que o têxtil adormeceu, ficou mais estagnado no private label""
Como referi neste postal, esta figura conta a primeira parte do que aconteceu ao sector, às empresas do calçado:
Menos empresas, empresas mais pequenas, menos produção em pares e menos pares por trabalhador.
.
O artigo dá um exemplo concreto:
"Há 12 anos éramos 500 pessoas e tínhamos cinco clientes activos. Hoje somos 160 e temos mil clientes activos"
Os números retratam uma mudança formidável!!! Passámos da quantidade, de grandes séries e poucos modelos, para uma produção mais diversificada e flexibilizada. É como passar de um extremo para o outro do espectro competitivo:
 BTW, recordar o postal de onde tirei a imagem... escrito em Janeiro de 2007.
.
Os cinco clientes de há 12 anos não desapareceram, foram para a China.
.
Nesse mesmo evento de 20 de Fevereiro, uma das pessoas presentes, exterior ao sector do calçado, verbalizou para a plateia o seu espanto com o que via, algo que a minha companhia de viagem tinha referido menos de uma hora antes. Essa pessoa, tinha estado em várias dezenas de sessões do mesmo tipo noutros sectores industriais e o do calçado tinha algo que o diferenciava... a quantidade de gente nova à frente de novas empresas, ou de empresas de 2ª e 3ª geração. O que diz o artigo da Exame?
"Poder de atracção de novos talentos Até no poder de atracção de jovens designers o calçado tem marcado a diferença, visível em números como a criação de mais de 300 marcas desde 2005 ou em histórias como a de João Pedro Filipe, que lançou a primeira colecção da marca Sr. Prudêncio na London Fashion Week, em Londres, depois de vencer o prémio Young Creative Fashion Entrepeneur da Plataforma de Moda - Fashion Hub Guimarães 2012 e do British Council. "Sempre estudei vestuário, mas em Paris decidi apostar no calçado. pela consciência de que parecia mais aliciante para o futuro". diz o jovem designer." 
Em Fevereiro de 2011 escrevi "Não é impunemente que se diz mal" e julgo que não é preciso dizer mais nada.
.
Ao longo dos anos sempre chamei a atenção para a diferença de discurso entre a APICCAPS e a ATP. Nunca encontrei um texto da associação do calçado a apelar ao proteccionismo, a defender barreiras alfandegárias, a invectivar os chineses. Pelo contrário, ao longo dos anos tenho chamado a atenção para a inelasticidade do tempo e para o excesso desse recurso que é gasto pela ATP a combater os chineses, a combater os pobres paquistaneses, a pedir proteccionismo e a defender o levantamento de barreiras alfandegárias.
.
O artigo também refere o trabalho de 30 anos da APICCAPS com sucessivos planos estratégicos para o sector. Recordar o que escrevi sobre o tema em 2009.

É sempre engraçado encontrar entrevistas a Daniel Bessa sobre o calçado... e acho que já é maldade da minha parte relembrar este postal: "Para reflectir"
.
E agora, coisas que os membros da tríade (políticos, académicos e paineleiros) precisam de aprender sobre os patrões do calçado:
"Há números que ajudam a compreender o percurso da indústria portuguesa de calçado, a investir, em média, 16% do seu valor acrescentado bruto por ano, quase o dobro dos concorrentes Italianos.
...
Sob o lema "A indústria mais sexy da Europa", os sapatos made in Portugal acompanharam a recuperação das exportações com a qualificação dos seus recursos humanos: a percentagem de trabalhadores qualificados subiu de 28% para 48% e o valor acrescentado bruto por trabalhador cresceu 34% em 10 anos." (Moi ici: Recordar o segundo conjunto de gráficos deste postal)
Para terminar, uma parte do artigo que está menos conseguida... é quase caricata:
"Se há uma guerra entre os sectores, o calçado terá tido o tempo a favor. Ao contrário dos têxteis, obrigados a enfrentar a liberalização do mercado apenas em 2005, os sapatos começaram a competir com os grandes asiáticos mais cedo, uma vez que não beneficiaram de um período de transição, com quotas de exportação para a Europa."
A pessoa que me acompanhou na viagem, respondeu-me aquela pergunta lá de cima, "Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?", com esta diferença. O calçado teve de conquistar o futuro porque não tinha experiência, histórico, tradição de estar protegido por barreiras alfandegárias. O têxtil tem gasto demasiado tempo e outros recursos a defender o passado, a pedir proteccionismo... não lhe sobra tempo para abraçar o futuro
.
Esta argumentação da revista, põe em causa todos os programas sectoriais de transição... muito poucas empresas mudam por causa de relatórios ou de avisos, a esmagadora maioria só muda pressionada pelas circunstâncias. Por isso, é que a desvalorização da moeda cria uma adição perversa que impede a subida de uma economia na escala de valor. 
.
Por fim, algo verdadeiramente preocupante, o equivalente a ter um Ferrari e não ter mãos para o controlar:
"Na contagem de armas, não há um só representante do calçado no top das 10 maiores empresas de moda, mas os responsáveis da fileira têxtil vêem o peso da sua dimensão como uma fraqueza potencial"
Ainda continuam a sonhar com o modelo mental de há vinte anos... dimensão, quantidade, ... não conseguem perceber e passar à acção, e implementar, e operacionalizar os estudos sobre o sector que o próprio sector financia, ver "A teoria não joga com a prática".
.
.
.
.
BTW, é sempre reconfortante ver o futuro muito tempo antes da multidão.
.
BTW, sempre que ouvirem André Macedo falar sobre um qualquer assunto com um ar de superioridade intelectual e moral... não esqueçam isto "Cuidado com as generalizações, não há sunset industries"

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Um adepto e promotor incondicional da concorrência imperfeita

Lembram-se de "1 O exemplo do calçado"?
.
Por que é que o calçado português consegue ter o desempenho ilustrado no texto acima referido?
.
Então não ouvimos e lemos que é preciso sair do euro para sermos mais competitivos nas exportações?
Então não ouvimos e lemos que é preciso reduzir salários para sermos mais competitivos nas exportações?
Então não ouvimos e lemos que temos de trabalhar mais horas para sermos mais competitivos nas exportações?
Então não ouvimos e lemos que temos de mexer na TSU para sermos mais competitivos nas exportações?
Então não ouvimos os dirigentes do sector do calçado dizer que o objectivo é continuar a aumentar os preços de venda?
O que é que não bate certo entre a realidade dos números e a narrativa sobre o aumento da competitividade?
.
Por que é que a narrativa que tem acesso aos media tradicionais não consegue enquadrar o desempenho do sector do calçado?
.
Por que razão as soluções encontradas pelas PMEs portuguesas para terem sucesso no mercado internacional, não passam pelas medidas previstas na narrativa que tem acesso aos media tradicionais?
.
Por que é que pessoas como Daniel Bessa foram incapazes de adivinhar o sucesso do calçado português?
.
Os seguidores da narrativa oficial, sejam eles de direita, defendendo a redução de salários, ou de esquerda, defendendo o retorno ao escudo, foram educados numa escola de pensamento económico que entende que os mercados de concorrência perfeita, porque permitem uma eficiência superior das empresas, são o modelo a seguir, são o modelo mais adequado. Esta ideia da concorrência perfeita tornou-se no modelo mental da gestão anglo-saxónica que permeia e molda o pensamento dos autores da narrativa oficial, aqui e no resto do mundo.
.
Qualquer livro de Economia não só descreve a concorrência perfeita como o modelo económico a seguir, como associa a concorrência imperfeita a situações extremas, associadas a práticas monopolistas formais, que devem ser evitadas num mercado que se quer livre.
.
Na pátria do capitalismo, havia mesmo um académico americano, nos anos sessenta, que era contra a existência de marcas porque, dizia ele, as marcas introduzem fricção na concorrência que se quer perfeita. E, havia mesmo leis que impediam que um mesmo produto pudesse ser vendido a diferentes preços a diferentes clientes, porque isso não seguia o modelo da concorrência perfeita.
.
Adiante.
.
Por que é que o calçado português consegue ter o desempenho ilustrado no texto acima referido?
.
Porque abandonou a concorrência perfeita. Se estivesse a competir na grande arena onde estão os fabricantes asiáticos o negócio seria decidido pelo preço e, aí não têm hipóteses.
.
Fabricantes portugueses e chineses podem estar no mesmo sector, podem partilhar a mesma classificação estatística mas pertencem a mercados distintos.
.
Os analistas "oficiais" não têm tempo para descer ao terreno e perceber o quanta heterogeneidade existe dentro de um mesmo sector, por isso, recorrem a modelos cegos que fazem sorrir quem está no mercado, como este exemplo da Reuters ilustra:
"as mudanças na estrutura da economia portuguesa sob o acordo de resgate estão a ajudar as exportações, embora os trabalhadores estejam a pagar um preço elevado, pelo menos a curto prazo.
.
As reformas dolorosas exigidas pela UE e pelo FMI melhoraram a competitividade sobretudo através da redução dos custos laborais. Os patrões podem agora contratar e despedir pessoas de forma mais simples e pagam menos pelas horas extraordinárias. Os portugueses têm também de trabalhar mais dias por ano.
.
Os salários são baixos e estão a descer."
Como se os salários portugueses baixassem o suficiente para competir com a Ásia. Não é a fazer mais do mesmo cada vez mais depressa, é com sexo, muito sexo.
.
Prefiro outra narrativa, mais cheia de diversidade, mais heterogénea, mais pessoal, mais carregada de imperfeição nos mercados, mais carregada de Davids e as suas fundas. Este texto "McLaren, Guarda Real de Omã e mineiros mongóis usam calçado português da Lavoro" exemplifica o que penso ser a resposta à pergunta inicial:
"Segundo o empresário, o segredo do sucesso da marca passa pelo desenvolvimento, quase personalizado, (Moi ici: Recordar o poder da interacção...
referido aqui e, recordar os fundamentos da Service-Dominat Logic) do calçado mais adequado a cada tipologia de ambiente de trabalho, recorrendo, para isso, a um Centro de Estudos de Biomecânica (SPODOS) que é "a única no sector" a possuir.
 .
"Por exemplo, no Médio Oriente o segmento em explosão é o petróleo e o gás, pelo que tivemos que nos adaptar desenvolvendo uma gama de calçado profissional adequado a esse segmento", explicou.
 .
Já para os engenheiros e técnicos de mecânica automóvel do Grupo McLaren, sediado no Reino Unido, a Lavoro desenvolveu para "um sapato leve, flexível e desportivo", que se adaptasse ao espírito da empresa, mas cujas biqueira em compósito, para proteger do impacto, e palmilha resistente à perfuração asseguram a necessária segurança.
 .
No caso da empresa mineira que a Lavoro fornece na Mongólia, os rigores da actividade e do clima extremamente frio são contornados com "uma gama de calçado com forro em pelo de carneiro verdadeiro, que resiste a temperaturas de -20 ou, mesmo, -30 graus", precisou José Freitas."
Personalização, customização, domínio técnico, tudo coisas que encarecem os custos de produção e desenvolvimento e, paradoxalmente, para os adeptos da concorrência perfeita, deviam tornar o produto menos competitivo.
.
Faz-me lembrar o empresário que exporta portões e gradeamentos para Malta. Como é que o conseguiu, como é que ultrapassou os italianos? Porque fez algo que os italianos nunca tinham feito, meteu-se no avião e foi visitar o primeiro potencial cliente.
.
É por isto que sou um adepto incondicional da concorrência imperfeita, gente que consegue vender areia com marca. Os que vendem areia como comodity, concentram-se na areia. Os que vendem areia com marca, concentram-se no cliente, concentram-se no serviço que o cliente vai fazer com a areia, concentram-se na razão que leva o cliente a comprar areia e, descobrem que ele pode precisar de muito mais do que areia.
.
Não se esqueçam que se podem comprar botas de segurança na net por 30 euros ou menos, a cumprir as normas e com marcação CE.

quinta-feira, agosto 22, 2013

O pensamento dominante é incapaz de ver as reconversões em curso

Como é que o pensamento dominante encara as transformações como as que foram vividas pelo sector do calçado?
.
A tabela que se segue ilustra a transformação vivida pelo sector do calçado entre 1998 e 2006:

Uma quebra de 32% na quantidade produzida!
Uma quebra de quase 34% no emprego!
Uma quebra de 22% na facturação!
Uma quebra de 10% no número das empresas!
.
Tudo isto, para quem faz uma análise superficial, ou para quem está demasiado preso a modelos mentais do passado, só tem uma interpretação: é o descalabro!
.
Assim, começa logo a procissão das previsões da desgraça. A minha preferida é esta, de Março de 2005, publicada em editorial pelo Jornal de Negócios:
“Só não é ainda uma catástrofe, porque vai ficar pior: o sector do calçado, ex-libris da nossa indústria tradicional, um caso exemplar de modernização, caminha silenciosamente para a morte.
.
Os últimos anos já estão marcados pelo definhamento. A produção regrediu 4% em meia década.
O sector atravessa, portanto, uma crise bastante mais grave do que a média do país.
.
O que torna tudo isto muito mais inquietante é ver que, entretanto, aos outros aconteceu pior.
Na União Europeia, um quarto do sector foi varrido do mapa em cinco anos. E na América do Norte, Estados Unidos e Canadá, pura e simplesmente já não se fabrica um par de sapatos.
.
O colapso dos outros é uma angústia apenas e só porque mostra o destino que espera por nós. As nossas empresas de calçado fizeram a reestruturaração necessária, modernizaram-se e reduziram custos. Mas isso já não chega para sobreviver.
.
Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas."
.
Este texto sempre me fascinou pelo espectacular tiro ao lado (e não o digo agora, já o dizia em 2008)
.
Outro exemplo de como o pensamento dominante, superficial, ou incapaz de interpretar o que se está a passar a uma nova luz, se engana completamente, é ilustrado por esta sentença de André Macedo num editorial do Diário Económico em Fevereiro de 2008:
“Acontece que o abandono progressivo das actividades com baixo valor acrescentado (têxteis, calçado) é uma estrada sem regresso possível e sem alternativa. Vai doer, mas só assim o país ficará mais forte e competitivo.”
.
Perante a evolução do quadro acima e, imbuídos do pensamento retratado nestes editoriais, o pensamento dominante começa a propagar uma imagem negativa do sector, concentra-se em amplificar a mensagem dos que perdem com esta mudança: os empresários falidos e os trabalhadores desempregados. Essa amplificação do negativo não deixa largura de banda para salientar o lado positivo, para mostrar o exemplo dos que estão a dar a volta por cima e porque é que estão a dar a volta por cima. Assim, por falta de amplificação dos exemplos positivos, a velocidade da reconversão é mais lenta.
.
E o que aconteceu com o calçado, sujeito ao choque chinês, que fez as multinacionais aqui instaladas debandarem para a China, é, de certa forma, o que está a acontecer com a nossa economia desde o fim do crédito fácil e barato para o Estado e para os privados (por exemplo, o peso do crédito a particulares no total do crédito interno chegou a atingir 46% em 2006).
.
O fim do crédito fácil e barato tornou insustentável a situação de muitas empresas, em muitos sectores. O pensamento dominante entretém-se com o cortejo dos coitadinhos, amplificando a mensagem dos empresários que faliram e dos trabalhadores que ficaram desempregados. Mais uma vez, essa amplificação do negativo não deixa largura de banda para salientar o lado positivo e mostrar que há alternativa. Depois, ficam surpreendidos, quando as estatísticas começam a traduzir uma realidade incompatível com o seu modelo mental e, só mais tarde, contrariados, vencidos, é que são obrigados a reconhecer uma realidade até então incompatível com os seus modelos mentais.
.
Continua com: O que é que acontece durante uma reconversão.

quinta-feira, março 20, 2008

Para reflectir

No livro “How we compete” de Suzanne Berger and the MIT Industrial Performance Center, publicado em Janeiro de 2006, pode ler-se:
.
Na página 255: “… there are no “sunset” industries condemned to disappear in high wage economies, although there are certainly sunset and condemned strategies, among them building a business on the advantages to be gained by cheap labor”
.
E na página 257: “If they prosper despite competition from foreign companies with very low-paid workers, it is because they bundle into the products they sell other desirable features, like speed, fashion, uniqueness, and image.”
.
Recordo isto porque ontem, ao arrumar uns papeis, encontrei este recorte do Jornal de Negócios de 30 de Março de 2005: "Um colossal problema" assinado por Sérgio Figueiredo, onde se pode ler:
.
"Só não é ainda uma catástrofe, porque vai ficar pior: o sector do calçado, ex-libris da nossa indústria tradicional, um caso exemplar de modernização, caminha silenciosamente para a morte.
.
Os últimos anos já estão marcados pelo definhamento. A produção regrediu 4% em meia década.
O sector atravessa, portanto, uma crise bastante mais grave do que a média do país.
.
O que torna tudo isto muito mais inquietante é ver que, entretanto, aos outros aconteceu pior.
Na União Europeia, um quarto do sector foi varrido do mapa em cinco anos. E na América do Norte, Estados Unidos e Canadá, pura e simplesmente já não se fabrica um par de sapatos.
.
O colapso dos outros é uma angústia apenas e só porque mostra o destino que espera por nós. As nossas empresas de calçado fizeram a reestruturaração necessária, modernizaram-se e reduziram custos. Mas isso já não chega para sobreviver.
.
Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas."
.
Realmente dá que pensar...
.
Basta escolher o marcador "calçado" neste blogue, para descobrir que afinal havia outra conclusão: "Importa destacar que o preço médio do calçado que exportamos é de 18 euros e do calçado que vem da China é de três euros"
.
Se há sector que está a dar a volta é o do calçado!
.
Nem de propósito, ainda esta semana recordei este artigo da Harvard Business Review na internet "Lean Consumption" de James P. Womack e Daniel T. Jones, onde se pode ler:
.
"Shoe stores don’t do any better. By relocating most production for North America and Europe to Southeast Asia and putting retailers on 150-day order windows, the shoe industry has created a marvel of low cost at the factory gate in combination with an extraordinary array of styles (about half of which only endure for one three-month selling season). But suppose you want the size nine “Wonder Wings” in gray? The chances are only 80% (an industry average) that they will be in stock; and there is a good possibility (because of the long order window) that they will never be in stock again. Not to worry, though. There are millions of size nine Wonder Wings in pink available and many more on the way because the order flow, once turned on, cannot be turned off and the replenishment cycle is so long. As a result, the shoe industry fails to get one customer in five the product he or she actually wants, while it remainders 40% of total production (pink Wonder Wings, for example) through secondary channels at much lower revenues."
.
E ainda o início da coluna "The perils of efficiency" neste outro artigo da Harvard Business Review de Outubro de 2004 "The Triple A Supply Chain" de Hau Lee
.
Num mundo em que só conta o preço só há duas hipóteses: um ganha e os outros perdem.
Num mundo em que se tem em conta o valor, em vez do preço, há uma panóplia de possibilidades que se abre, há sempre um nicho temporário onde se pode fazer a diferença.

sábado, junho 08, 2013

Tanta superficialidade

O JN de notícias na passada Quarta-feira publicou a manchete "Desemprego cai 20% em Felgueiras" (BTW, uma boa notícia na 1ª página!!!! Pode ser um nicho de mercado a explorar: notícias positivas sérias), que tinha sido publicada umas semanas antes num semanário de Felgueiras, recolhi-o no dia 30 de Abril num café... tenho-o algures.
.
Claro que esta manchete gerou várias notícias noutros media. Por exemplo "Felgueiras Milagre da multiplicação dos empregos em concelho do Norte" onde se pode ler:
"Felgueiras parece ser o único lugar onde o desemprego não é a principal preocupação das famílias portuguesas. Graças à indústria do calçado a falta de trabalho no concelho caiu 20% desde 2008."
E como era o desemprego no concelho de Felgueiras em 2008?
.
Pesquisemos aqui no blogue... et voilá: "Desemprego: por que não investigar estes oásis?"
.
O que me faz espécie mesmo é este trecho:
"O calçado é dos poucos sectores que não foi devastado, ou, pelo menos não em tão grande dimensão, com a crise, e Felgueiras só tem a agradecer, tendo passado de 3.944 desempregados em 2008 para 3.116."
Vou repetir para não haver dúvidas:
"O calçado é dos poucos sectores que não foi devastado, ou, pelo menos não em tão grande dimensão, com a crise"
Tanta superficialidade, tanta falta de memória, tanta falta de pesquisa... um bom exemplo da causa-raiz das ruas da amargura em que anda o jornalismo.
.
O calçado não foi devastado pela crise? Claro que foi, só que não foi esta crise... foi a crise do choque dos produtores de transaccionáveis com a entrada da China nos circuitos comerciais em força no início do século XXI. Só que, como era uma crise longe de Lisboa e da economia em que as elites dominam, não era notícia, não interessava.
.
Até parece que Daniel Bessa e André Macedo não escreveram o que escreveram (slides 8 e 9) até parece que (slide 10):

  • o número de empresas não caiu, 
  • o número de trabalhadores não caiu, 
  • as empresas não ficaram mais pequenas; e
  • a produção de pares de sapatos não caiu.
Esquecem-se da cultura instalada neste país no tempo do dinheiro fácil e barato. Não consegues ser competitivo? Faliste? Azar! O país fica melhor sem ti! Recordar: "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!"
.
O calçado foi devastado pela crise, SIM!
Entre 1999 e 2008, o sector perdeu 15% das empresas.
Entre 1999 e 2010, o sector perdeu 18% das empresas.
Entre 1999 e 2010, o sector perdeu quase 40% dos trabalhadores!!! 
.
Pelos vistos perder 40% não é nada... e isto é o que os "stimulus junckies" não querem perceber. O sector do calçado ficou diferente para poder sobreviver e passar a ter sucesso. Os apoios apenas reduzem os sinais de dor e iludem provisoriamente a pressão para mudar, condenando os apoiados a uma morte quase certa pois, quando o dinheiro do apoio acabar e ele acaba sempre, já outros sem amigalhaços nas carpetes e corredores do poder, se anteciparam e ocuparam as novas zonas lucrativas na nova paisagem competitiva.
.
O que aconteceu foi que a crise do calçado começou primeiro e, como ainda foi no tempo do "Faliste? Azar!" o sector pôde reconverter-se rapidamente ("Stressors are information" conjugado com "A Via Negativa"), porque o Estado não apareceu a ajudar. Foi neste postal que primeiro escrevi o que já sentia e não via em nenhum lado.

terça-feira, novembro 11, 2008

Quantas pessoas se aperceberam desta revolução?

Ontem, ao preparar elementos para uma acção de formação, fui vasculhar uma das pastas de recortes de jornais que guardo, às tantas, encontro o seguinte editorial de Sérgio Figueiredo no Jornal de Negócios no distante dia 30 de Março de 2005 "Um colossal problema", onde se pode ler:
.
"Só não é ainda uma catástrofe, porque vai ficar pior: o sector do calçado, ex-libris da nossa indústria tradicional, um caso exemplar de modernização, caminha silenciosamente para a morte. Os últimos anos já estão marcados pelo definhamento. A produção regrediu 4% em meia década"
.
"O sector atravessa, portanto, uma crise bastante mais grave do que a média do país.
O que torna tudo isto muito mais inquietante é ver que, entretanto, aos outros aconteceu pior. Na União Europeia, um quarto do sector foi varrido do mapa em cinco anos. E na América do Norte, Estados Unidos e Canadá, pura e simplesmente já não se fabrica um par de sapatos.
O colapso dos outros é uma angústia apenas e só porque mostra o destino que espera por nós. As nossas empresas de calçado fizeram a reestruturaração necessária, modernizaram-se e reduziram custos. Mas isso já não chega para sobreviver.
Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas. Deslocalização. Sim, essa evidência que o Presidente da República se limitou a observar na recente viagem à China e que, então, irritou os ignorantes e despertou os inconscientes.
Porque, se Jorge Sampaio então indicava as vias da viabilização aos empresários nacionais do têxtil, também poderia fazer o mesmo no calçado. E numa série de sectores que produzem bens transaccionáveis – sujeitos, portanto, à tal concorrência desleal dos chineses e indianos.
É este o grande, o grandessíssimo problema que está colocado à nossa economia, à nossa sociedade e, naturalmente, ao nosso poder político."

.
3 anos depois, o que se pode ler no mesmo jornal?
.
Consideremos o artigo de 16 de Janeiro de 2008 "Calçado sabe nadar, yô?!"
.
"Um par de sapatos exportado por Portugal tem um preço médio de 18 euros, enquanto um par importado da China custa 3 euros. Com números destes, o normal é que a indústria portuguesa de calçado estivesse a ser massacrada, num “remake” dos problemas do sector"
.
"Afinal aconteceu o contrário. As exportações aumentaram (em 2007 mais de 90% da produção foi para o exterior), apesar da valorização do euro face ao dólar. As vendas para os EUA foram desviadas para os mercados europeus.
O que aconteceu? O que sempre sucede quando as empresas são largadas no mar: ou aprendem a nadar, ou vão ao fundo. Algumas afogaram-se, a esmagadora maioria safou-se. Perdida a vantagem preço, foram obrigadas a mudar o modelo de negócio. Resultado: a imaginação ganhou à fatalidade (em 2007 quase 50% das empresas já tinham marcas próprias).
É claro que esta revolução não se fez sem dor. Quem não se lembra dos apelos à intervenção do Estado quando a Clarks e a Bawo fecharam as portas? Num país onde um dos passatempos favoritos é a autoflagelação, vale a pena estudar este caso. Pode ser que deixemos de gritar pelo Estado? por tudo e por nada."
.
Quantas pessoas têm consciência desta revolução e do seu sucesso no calçado?
.
E no têxtil? A mesma revolução e sucesso!
.
E no mobiliário? A mesma revolução e sucesso!
.
Não precisámos de mudar de empresários por decreto, o mercado (que não liga a cunhas) encarregou-se disso; não precisámos de levantar barreiras alfandegárias; não precisámos de seguir os conselhos Olivier Blanchard no caderno de Economia do semanário Expresso de 18 de Novembro de 2006: "Salários têm de cair 20%"
.
Em vez de atacar o custo pensaram no valor para vencer a batalha da produtividade

domingo, novembro 20, 2011

Sacerdote não-praticante

O número de Setembro último do jornal da APICAPS pergunta a Daniel Bessa o que diferencia o sector do calçado. Como é que nos últimos 4 anos, com uma crise internacional pelo meio, um sector consegue crescer o triplo da média do país praticamente só à custa de exportações.
.
Eis alguns excertos da resposta:
.
"Na sua opinião, que mais-valias apresenta o sector de calçado para, num clima de forte concorrência, conseguir um desempenho relativo melhor do que a média dos sectores da economia portuguesa?
.
Alguns anos atrás, na sede da APICCAPS, disse que o meu sonho era ver a indústria do calçado portuguesa atacar directamente os mercados italiano e espanhol, dois grandes mercados europeus onde se encontravam, então, e ainda se encontram (sobretudo em Itália) os nossos principais concorrentes. Por “atacar directamente” esses mercados queria significar “bater à porta dos clientes dos nossos concorrentes, dentro da sua própria casa, e dizer algo do género: aqui estamos nós, capazes de produzir tão bem ou melhor do que o seus actuais fornecedores, e mais baratos”. (Moi ici: Por mais tempo que passe... 2 falhas graves: 1ª Não rever os modelos mentais, não confrontar o que pensamos com a realidade; 2ª Mandar postas de pescada, a técnica portuguesa de não suportar o que afirmamos com números. Ora vejamos, World Footwear Yearbook 2011 Qual o preço médio? Um par de sapatos produzido em Portugal tem o preço médio de 29,65 USD. Qual o preço médio de um par de sapatos produzido em Espanha? 16,36 USD. Qual o preço médio de um par de sapatos produzido em Itália? 33,36 USD. O calçado português está a ganhar quota de mercado a Espanha e a Itália. Qual é o sonho da APICCAPS? Que dentro em breve Portugal tenha o preço mais elevado... como é que isso se relaciona com o "e mais baratos"? Não tem nada a ver com isso e Bessa não o percebeu há 6/7 anos e continua a não perceber. O truque não é a concentração no custo, o truque é a concentração no valor aos olhos do cliente)
.
O ponto a que chegamos está muito perto de realizar este sonho, então perfeitamente descabido. Os ingredientes, foram os necessários, na dose necessária. Ambição. Estratégia, começando por questões
de posicionamento. Uma associação sectorial imparável e um centro tecnológico do que há de melhor no nosso País. Uma mão-de-obra competente e sacrificada (a quem, um dia destes, teremos de começar a pagar melhor, compartilhando o sucesso)." (Moi ici: O mesmo Daniel Bessa que diz isto é o mesmo que há dias disse que era preciso embaratecer a economia portuguesa... go figure)
.
Nunca esquecer este "Para reflectir"
.
Poucas coisas são piores do que um sacerdote de uma religião (inovação), continuar a servir a Cúria e, no entanto, não acreditar na mensagem que se prega.

terça-feira, junho 10, 2014

"power can come in other forms as well - in breaking rules"


O que aprendemos em certos momentos da nossa vida fica marcado para sempre, fica a fazer parte de nós, cristaliza dentro de nós e faz parte dos mapas cognitivos que nos ajudam a lidar com o quotidiano da realidade onde vivemos.
.
Acontece que a realidade não é estática, a realidade é uma paisagem enrugada em constante movimento. Houve um tempo em que a paisagem podia ser representada, sem grande erro, pela figura da esquerda:
Hoje, a paisagem competitiva é mais semelhante à da figura da direita.
.
No tempo em que economia era transacção de commodities, escreveram-se as suas leis e teorias bem como as suas regras de polegar.
Continuam a existir commodities mas hoje, a economia é muito mais do que transacções e do que commodities.
.
Por isso, quem foi educado num outro tempo, continua com os mecanismos do passado a interpretar uma realidade muito diferente. Por isso, Daniel Bessa em 2005 previa o fim do calçado (recordar "Quantas pessoas se aperceberam desta revolução?")
.
Ontem, o Boletim Mensal do INE sobre o comércio internacional trazia um anexo dedicado ao calçado onde se pode ler o bom momento atravessado pelo sector. Além do calçado, com frequência podemos encontrar números animadores sobre muitos outros sectores.
.
O que diz Daniel Bessa, guiado pelo que aprendeu quando era muito mais novo e o mundo era diferente?
"“Não tenho a certeza de que estas empresas que estão a exportar estejam a ganhar dinheiro. Perderam o mercado interno, viram-se aflitos e viraram para o exterior”, começa por afirmar na Renascença, no programa “Conversas Cruzadas”.
.
“Fizeram muito bem, mas talvez estejam a vender a preços muito esmagados e não estejam a ganhar dinheiro. Essa, para mim, é que é a pedra de toque", insiste, sublinhando que “se não estão a ganhar dinheiro, não têm dinheiro para investir”."
Eu sou o primeiro aqui no blogue, há vários anos a lamentar a quantidade de dinheiro que os empresários deixam em cima da mesa (por exemplo aqui) por não perceberem quais são as suas vantagens competitivas. Contudo, a experiência que tenho no terreno não é a de que sistematicamente as empresas não ganham dinheiro.
.
O que ficou a ocupar o espaço no palco da minha atenção mental foi um pequeno trecho de Malcolm Gladwell no seu livro "David & Goliath":
"Why has there been so much misunderstanding around that day in the Valley of Elah? On one level, the duel reveals the folly of our assumptions about power. The reason King Saul is skeptical of David's chances is that David is small and Goliath is large. Saul thinks of power in terms of physical might. He doesn't appreciate that power can come in other forms as well - in breaking rules, in substituting speed and surprise for strength. Saul is not alone in making this mistake."
Será que Bessa é uma espécie de Rei Saul incapaz de perceber que existem outras formas de competir, para além do preço puro e duro?
.
Esta manhã no Twitter apanhei uma série de pérolas em torno das conversas de Tom Peters, coisas como:
"Creativity is ruthlessly inefficient" 
No tempo das commodities reinava a eficiência pura e dura.
Será que as PMEs portuguesas podem competir com a eficiência da escala, da disciplina, do volume das empresas que operam na Ásia dos dinossauros azuis?
.
Claro que não! O campeonato é outro, o fuçar e o desespero permitiu-lhes descobrir alternativas de vida. E volto a Gladwell:
"To play by David's rules you have to be desperate. You have to be so bad that you have no choice."
Será que Bessa acredita no que disse, ou fê-lo como táctica para evitar um choque frontal e, esvaziar o discurso de Carvalho da Silva?
.
BTW, na legislação portuguesa, não é fiscalmente lesivo para as empresas investirem com o seu próprio dinheiro em vez de o usarem dinheiro emprestado? E os bancos emprestam dinheiro? De onde veio o dinheiro que as empresas usaram para pagar dividas fiscais no final de 2013?


terça-feira, novembro 08, 2011

Gente que é desmentida pelos empresários no dia-a-dia

Quem é o Director-Geral da COTEC Portugal?
.
Daniel Bessa!
.
Qual a missão da COTEC Portugal?
.
"Promover o aumento da competitividade das empresas localizadas em Portugal, através do desenvolvimento e difusão de uma cultura e de uma prática de inovação, bem como do conhecimento residente no País."
.
O que é que pensa Daniel Bessa?
.
""O economista Daniel Bessa afirmou hoje que Portugal deve "encarar com mais frontalidade a necessidade de uma desvalorização da sua economia".
.
"Acredito que o embaratecimento da economia portuguesa pudesse dar um contributo significativo" para Portugal sair da actual situação económico-financeira,"
.
OK, percebo, Daniel Bessa acha que a COTEC Portugal é treta mas continua como Director-Geral.
.
Triste é que Daniel Bessa não esteja atento à realidade da indústria portuguesa:
.
.
O que seria de esperar de alguém que em 2005 previa o fim do calçado em Portugal, um elemento da tríade por excelência, atentem:
.
"Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas."
.
Como é que esta gente continua a dizer estas coisas e a ser desmentida pelos empresários no dia-a-dia e é incapaz de fugir da ortodoxia obsoleta?

quinta-feira, abril 10, 2014

Acerca do custo de oportunidade

"A vida vai correr-nos bem, portanto, em 2014. Tudo junto, a economia portuguesa vai beneficiar de compras que excedem em 5530 milhões de euros, as realizadas em 2013 — 3565 milhões de euros vindos do estrangeiro e 1965 milhões de euros vindos das famílias, das empresas e do Estado residentes. Para quem teve, em 2013, um PIB de 165.666 milhões de euros, este acréscimo de procura determinaria uma taxa de crescimento de 3,3%, acima dos míticos 3% de que tanto falamos. 0 ânimo esmorece-nos quando damos conta de que, nestes novos 5530 milhões de euros de compras, as empresas residentes não se mostram capazes de satisfazer mais do que 1996 milhões de euros. Na falta de oferta interna, o resto, leia-se 3534 milhões de euros vai ter de ser satisfeito por importações. E, com isto, os belos 3,3% transformam-se nuns modestos 1,2% de taxa de crescimento. 'Não nos faltará procura; falta-nos oferta, com o que desperdiçaremos 64% do potencial de crescimento prometido pelo aumento da procura interna e externa, em 2014. Sucederá o mesmo em 2015 e em 2016.
...
Esta é a minha história. Espero que gostem. Diz muito, ou pelo menos alguma coisa, sobre aqueles que passam o tempo e ganham a vida a dizerem que nos falta procura — por causa da troika, do Governo, da austeridade. Penso, pelo contrário, que nos falta oferta, e que é nisso que deveríamos concentrar-nos."
Compreendo esta reflexão de Daniel Bessa no Caderno de Economia do semanário Expresso do passado Sábado, na coluna intitulada "O regresso das importações".
.
Contudo, vem-me logo à mente uma expressão "Custo de oportunidade" e pensei logo no exemplo da Autoeuropa e a Associação Portuguesa de Fundição, recordar "Mais um exemplo da subida na escala do preço".
.
Recordar também, que exportamos cada vez mais calçado e mais caro e, no entanto, continuamos a importar calçado.
.
Recordar também, que exportamos cada vez mais mobiliário e mais caro e, no entanto, continuamos a importar mobiliário.
.
O calçado, o mobiliário, e muitos outros materiais que importamos, ao serem importados são uma boa escolha económica.
.
O calçado que importamos é muito barato e é para consumidores que não valorizam o calçado o suficiente.
.
O mobiliário que importamos é muito barato e é para consumidores que não valorizam o mobiliário o suficiente.
.
Pôr empresas portuguesas a produzir em Portugal para esses segmentos muito económicos é cada vez mais impraticável, não têm custo laboral, custo energético e escala para estarem nesse campeonato. É mais adequado que o escasso capital português seja aplicado em actividades económicas com retorno mais interessante.



sexta-feira, abril 24, 2015

Evolução do desemprego no sector do Couro

Parte I (Construção),
.
Este postal refere-se ao desemprego no sector da "Indústria do couro e produtos de couro" onde se salienta a produção de calçado e marroquinaria.
.
Acerca da evolução do sector do calçado, convém recordar estes gráficos destes postais:

De acordo com a primeira figura acima, o pico do número de empresas de calçado terá sido atingido à volta de 1993, recordo que nessa altura a taxa de desemprego chegou a atingir os 3,9%.
.
Os números do desemprego do IEFP que consegui recolher começam em 2002.
.
Antes de haver China, Portugal era a China da Europa.
Incapazes de calçar os sapatos do outro e ver o mundo a partir do seu ponto de vista, poucos portugueses são capazes de admitir que muito do crescimento industrial, baseado em investimento estrangeiro, durante os anos da EFTA  e os primeiros anos da CEE, aconteceu porque éramos o paraíso dos salários baixos na Europa. Muito desse investimento, assim como veio para cá, rumou à Ásia quando lá ofereceram melhores condições.
.
Aqui vai a evolução dos números do IEFP:

A - Março de 2005, Sérgio Figueiredo e Daniel Bessa declaram a morte do calçado em Portugal. 
B - Junho de 2005, atinge-se o pico do número de desempregados registados no IEFP, um crescimento que terá durado 10 a 12 anos. Recomendo a leitura das palavras de Mira Amaral, sobre a globalização ter chegado atrasada ao Norte. As pessoas debitam conversa da treta, sem estudar, sem investigar, porque sabem que ninguém as vai questionar, é o reino dos Baptistas da Silva e do lero-lero.
.
C - Fevereiro de 2008, André Macedo em editorial do Diário Económico declara a morte do sector do calçado.
D - Março de 2008. Num postal escrevi: 
"Como temos referido aqui no blogue, vários sectores industriais estão a dar a volta, a micro economia está a resolver os seus problemas concretos.
...
No limite pode acontecer, sair duma crise estrutural e cair numa crise conjuntural."
E assim foi. Em 2008 o sector já tinha dado a volta, a crise estrutural estava ultrapassada, o sector tinha aprendido a trabalhar sem competir com a China. Contudo, a crise internacional provocaria um dano conjuntural que se traduziu num novo crescimento do desemprego durante 2009, o annus horribilis do comércio internacional.
.
E - Completamente a Leste, o jornal Público, em Setembro de 2009, ainda só apanhava parte da história, sem ver o filme todo.
.
E estamos, em Março de 2015 com desemprego no sector do couro inferior a Janeiro de 2002.
.
Já com os números do desemprego no sector da Construção fiquei com a sensação, não documentada, de que quando se cria procura de trabalhadores, quando se cria emprego num sector, o desemprego nesse sector baixa lentamente, parece que o novo emprego vai preferencialmente para outras pessoas.
.
A seguir, a evolução na indústria do vestuário.

ADENDA:Há um fenómeno importante que não referi ainda. Olhando para a primeira figura deste postal, para o gráfico do canto superior direito, percebe-se como as empresas do novo modelo, após a reestruturação do sector, são mais pequenas. Ou seja, a redução do desemprego é ainda mais significativa. As empresas de 2012 não são as mesmas de 2002, não têm o mesmo ADN, foi uma verdadeira revolução estrutural e não uma mera quebra conjuntural. Mesmo mais pequenas, em média, mesmo sem os gigantes das multinacionais, o desemprego baixou.

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Os que não tiveram capacidade de sair do território nacional foi quem nos salvou

"An important paper, “The China Shock”, published by economists David Autor, David Dorn and Gordon Hanson, showed convincingly that US manufacturing sectors that have been particularly exposed to competition from China have been hurt deeply and lastingly. Just like Harfordia’s childcare sector, they’ve been wiped out. That’s not a surprise to an economist. What is a surprise is that, many years after the initial shock, people hadn’t managed to retrain or relocate and find good new jobs. The US economy, more flexible than most, is less flexible than we’d thought.
.
One can’t help wondering how easy it will be for the UK economy to replace deeply established patterns of inter-EU trade with something more global. Such changes can be wrenching."
Há muito que exponho aqui no blogue algo que serve de explicação simples para esta falta de flexibilidade da economia dos EUA.
.
Lembram-se do que dizia Daniel Bessa em 2005 acerca do futuro do calçado?
"Só não é ainda uma catástrofe, porque vai ficar pior: o sector do calçado, ex-libris da nossa indústria tradicional, um caso exemplar de modernização, caminha silenciosamente para a morte.
...
Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas."
O ponto é aquele "As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas"

As empresas americanas perante o choque chinês, tiveram capital para seguir o conselho de Daniel Bessa. Não mudaram nem de estratégia nem de posicionamento, para isso deslocalizaram-se para a China.

As empresas portuguesas não tinham capital para se deslocalizarem. Assim, muitas morreram, outras encolheram, e alguns dos desempregados criaram novas empresas baseadas em novos modelos de negócio e/ou novas propostas de valor. Alguns anos de fuçar, de bater contra a parede, de tentativa e erro geraram algumas hipóteses bem sucedidas, depois o spillover fez o resto.

Exagerando, podemos dizer que nos EUA não ficou capital e/ou know-how para fazer o mesmo que foi feito em Portugal.

Recordo do início do livro “How we compete” de Suzanne Berger and the MIT Industrial Performance Center, publicado em Janeiro de 2006, a estória de uma empresa têxtil americana que nos anos 70 e 80 ganhava prémios. Depois, a procura começou a baixar. A gestão acreditou que a culpa era do custo/preço. Por isso, deslocalizaram-se para a Mongólia. Berger relatava que tinha encontrado um dos elementos da equipa de gestão num aeroporto e que da conversa tinha percebido que a empresa se encontrava em adiantado estado de decomposição. Segundo ela, o problema não tinha passado elo custo/preço mas pelo não acompanhamento das tendências da procura.

Trecho inicial retirado de "Remind me what was so great about trade?" e BTW, não percam a ironia de Tim Harford.

BTW2, num lado conspirativo, já aqui defendi que a celeuma que se vive agora nos EUA por causa da globalização, tem tudo a ver com o fim da vantagem de produzir na China, que estava na mão dos grandes grupos económicos. Finda essa vantagem, esses grupos precisam de protecção para regressar a uma produção nos Estados Unidos sem serem massacrados pelas empresas europeias.

sábado, novembro 29, 2008

A microeconomia é mais importante que a macroeconomia

Já reflecti várias vezes aqui sobre este tema, por exemplo: Macro economia vs micro economia?
.
O que dizem os macroeconomistas?
.
"Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas.
Deslocalização. Sim, essa evidência que o Presidente da República se limitou a observar na recente viagem à China e que, então, irritou os ignorantes e despertou os inconscientes." (aqui, este é um exemplo da memória acrescida e reforçada que se adquire com um blogue como base de dados). (texto de 2005)
.
O que fazem os microeconomistas?
.
"O calçado português continua a dar cartas nos mercados internacionais. Nos primeiros oito meses, as exportações cresceram 2%, para cerca de 952 milhões de euros. De Janeiro a Agosto, o sector do calçado contribuiu muito positivamente para a balança comercial nacional, com um saldo de 600 milhões de euros, de acordo com a APICCAPS. A indústria do calçado posiciona-se como uma das mais internacionalizadas de todo o tecido económico, com mais de 90% da produção colocada no exterior. Nos dois últimos anos, verificou-se um aumento superior a 8% nas respectivas exportações. Os maiores crescimentos, nos primeiros oito meses, couberam aos mercados espanhol (com mais 5,1%) e alemão (mais 4,7%). Fora do espaço europeu, destaque para o acréscimo de 14% nas exportações para Angola." (no semanário Vida Económica)
.
"Suplemento Metal
Mobiliário de escritório cresce 42% nas exportações" (no semanário Vida Económica)
.
Simplificando: os macroeconomistas usam fórmulas e estão prisioneiros das regras do jogo, os microeconomistas usam a imaginação e alteram as regras do jogo e criam jogos novos.

domingo, julho 17, 2016

Do mobiliário para as elites que nos pastoreiam

Tenho sempre dupla precaução em relação ao que diz Daniel Bessa. No entanto, dessa vez em 2005 estávamos em sintonia:
"Se tudo correr bem", para a economia, "o desemprego vai subir."
Recordar o exemplo do calçado: "Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?".
.
Recordar o exemplo do têxtil e vestuário: "Iliteracia estratégica nos jornais"
Recordar o exemplo do mobiliário: "O exemplo do mobiliário". Acerca do mobiliário recordar também:

Por isso, tudo em sintonia com estes números:
"Em 10 anos, o sector de mobiliário para o lar perdeu mais de 2000 empresas, segundo um estudo da Informa D&B divulgado esta quinta-feira.
.
Em 2015, a indústria registava 3850 empresas em atividade (22145 assalariados), um universo que compara com 6000 fabricantes em 2004."
Havia quem interpretasse a previsão de Daniel Bessa desta maneira:
"Segundo aquele dirigente patronal, esta subida [dos salários] estará ainda relacionada com a modernização tecnológica na indústria e com a escassez de mão-de-obra especializada, o que obriga a pagar melhor aos trabalhadores especializados. De acordo com Van Zeller, este processo traduz o início da transição de uma economia baseada na mão-de-obra pouco qualificada para uma mais especializada. «É um processo que já aconteceu noutros países, é positivo, mas tem como contraponto o aumento do desemprego». Para não perderem competitividade, «as empresas emagrecem para compensar os custos salariais e o desemprego aumenta», [Moi ici: Completamente ao lado, completamente absurdo. Quase diria ... infantil!!! As empresas não encolheram porque os salários subiram!!! As empresas encolheram porque tiveram de mudar de estratégia. Recordar "Há 12 anos éramos 500 pessoas e tínhamos cinco clientes activos. Hoje somos 160 e temos mil clientes activos". A figura abaixo remete-nos para ""despedir é sempre resultado de uma maldade ou de preguiça da gestão"". Como é possível pensar que se mantém a estratégia quando entra uma China no jogo... e é isto o pensamento das elites iluminadas que nos pastoreiam. Bem podiam recordar o exemplo dos sapatos que não se vendiam a 20€ e passaram a vender a 230€. Não são os mesmos sapatos, não são os mesmos clientes, não é o mesmo modelo de negócio] explica. «É nesse sentido que Daniel Bessa diz que, se tudo correr bem, o desemprego vai subir»" 


Trecho retirado de "Mobiliário. Em 10 anos desapareceram mais de 2000 empresas"



terça-feira, março 25, 2014

"E isso assusta-me"

Sabem o que por aqui se tem escrito ao longo dos anos sobre Mongo, sobre um futuro de PMEs, e mesmo artesãos modernos, para servir um mundo cada vez mais povoado por tribos e com cada vez menos gente dentro da caixa, o tal estranhistão.
.
Por isso, sorrio ao ler isto:
"o caminho da economia passe a estar no futuro menos ligado a capital estrangeiro e grandes empresas."
Está escrito nas estrelas.
""Eu acho que o ciclo que vamos ter não vai ter essas grandes empresas, criadas por investidores estrangeiros e que mudaram acentuadamente perfil da economia". "Eu gostava que tivesse", assumiu, mas tal dificilmente vai acontecer, defendeu. "De futuro, "não vai haver grandes empresas. Receio que não se possa ir por aí", disse. "E isso assusta-me", reconheceu." [Moi ici: Mongo mete medo aos incumbentes, aos formatados no século XX]
E ainda:
"O caminho da economia portuguesa "será feito por muitas e pequenas e médias empresas". Porque para a economia do País crescer 3% ao ano, contextualizou o economista e líder da COTEC "eu preciso de três indústrias de calçado por ano de crescimento"." 
BTW, recomenda-se a Daniel Bessa a leitura do artigo mencionado em "O offshoring mudou o mundo"
.
BTW1, estas empresas grandes que são muito boas para o PIB e acarinhadas pelos políticos com benesses fiscais, são muito pouco criadoras de emprego.


Trechos retirados de "Daniel Bessa: Para crescer 3% Portugal precisa de mais três indústrias do calçado por ano"

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

O peso dos salários

Nunca me esqueço deste gráfico, ainda esta semana o apresentei a um grupo de empresários.
.
Eu sei que prometi não mais escrever sobre Daniel Amaral aqui no blogue mas como ele hoje escreve sobre o referido gráfico, cá vai "O peso dos salários".
.
Ainda há minutos no twitter Umair Haque escreveu o que falta a Daniel Amaral e Daniel Bessa:
.
"Love: a dirty four-letter word in the corridors of power of industrial age institutions. But it's the right end of humanity. See the point?"
.
Onde é que um economista aprende sobre relações amorosas com clientes, produtos e serviços? Só no terreno, pondo as mãos na massa, longe dos gabinetes, das redacções, dos corredores e carpetes do poder e próximo dos clientes, queimando as pestanas a resolver problemas e apaixonando-se por desafios.
.
Ao mesmo grupo de empresários, todos do calçado, entreguei o artigo de Sérgio Figueiredo sobre a previsão de Daniel Bessa e disse-lhes:
.
"Sempre que ouvirem um economista, um consultor, um ministro, botar faladura sobre o que devem ou não deve fazer, lembrem-se sempre deste texto"

domingo, janeiro 02, 2011

Medo...

Medo!!!
.
"A França e a Alemanha deram no final de Dezembro sinais de quererem avançar para uma nova coordenação das políticas económicas, cujas diferenças estão na base de muitos dos problemas estruturais da zona euro, a começar pelas disparidades de competitividade. Os dois países deram como exemplo algum tipo de harmonização fiscal e de políticas sociais, como a idade da reforma."
.
Quem acompanha este blogue já sabe qual é a nossa opinião acerca destas políticas económicas...
.
Medidas de macro-economista, gente que não percebe, por que não concebe, que a diferença de competitividade e produtividade entre as empresas de um mesmo sector de actividade, é maior que as diferenças entre sectores de actividade.
.
Gente que não abre a caixa negra e, por isso, não percebe de mosaicos estratégicos e, por isso, não imagina o papel do modelo NK de Kauffman.
.
Trecho retirado de "Crise do euro corre o risco de se arrastar em 2011"
.
Representação de um macro-economista e dos seus problemas (na sua, dele, óptica):
Para um macro-economista todos os problemas são custos ou preços...
.
Como é que um macro-economista explica o sucesso do calçado português? Como é que um macro-economista explica o "comeback" do têxtil? Como é que um macro-economista explica a explosão nas exportações de mobiliário? Como é que...
.
Basta pensar nas previsões de Daniel Bessa acerca do futuro do sector do calçado em Portugal, publicadas no editorial do Jornal de Negócios de 30 de Março de 2005.
.
O falhanço rotundo destas previsões deveria levar os macro-economistas a reflectirem sobre o que falha na sua explicação do mundo... e reparem como esse modelo mental só leva à depressão!!!
.
E eu? Acham que estou deprimido?
.
Deprimido eu?
.
Entusiasmado!
.
Excitado!
.
Animado!
.
Estou a assistir ao vivo, estou a participar, estou a viver o comeback das PMEs exportadoras do Norte de Portugal!!!
.
E tudo, mas tudo o que escrevi, tudo o que defendi neste blogue desde 2004 está a cumprir-se!!!
.
ADENDA: E tudo, mas tudo o que escrevi, tudo o que defendi neste blogue desde 2004 está a cumprir-se!!!

domingo, maio 01, 2011

É impossível matematizar a realidade... ainda bem!!!

Há livros que quando chegam, ao abrirmos a caixa da Amazon, parecem que ganham uma aura especial. Quinta-feira passada ao chegar a casa, ao final do dia, tinha à minha espera uma caixa com dois livros: "Enchantment" de Guy Kawasaki e "Artistry Unleashed" de Hilary Austen.
.
Sei que vou gostar de ler e que vou aprender algo com as reflexões de Guy mas a minha opção de leitura recaiu logo sobre "Artistry Unleashed". O que faz falta, acima de tudo, é criar valor. E valor cria-se com arte!!!
.
Na sexta de manhã, cheguei cedo a Pedras Rubras, para fugir ao trânsito, e deliciei-me como o prefácio de Roger Martin que começa com esta citação de Elliot Eisner:
.
"The kinds of nets we know to weave determine the kinds of nets we cast. These nets, in turn, determine the kinds of fish we catch."
.
Dá logo para pensar nos modelos mentais dos macro-economistas. Esses modelos só lidam com mundos simplificados em que os agentes são racionais e tudo se resume ao preço... onde é que os sentimentos entram nesses modelos?
.
"We live in a world preoccupied with science, predictability, and quantitative analysis. Economic forecasters crank out precise predictions of economic growth using massive econometric models."
.
Eu já fui assim! Despedi-me do meu primeiro emprego por causa disto. Eu vivia apaixonado pelo meu trabalho, desenhar receitas para produtos a oferecer ao cliente mais inteligente e exigente do ramo automóvel: a VW. E despedi-me quando a empresa me propôs começar a trabalhar com o mundo da moda, o mundo mais subjectivo que se possa imaginar. Enquanto a VW queria medir a cor, a moda não gostava do toque.
...
"Where has this obsession gotten us? Not far, I would argue. The slaves to the quantitative world have gotten it consistently wrong. Take the economists: As late as the middle of 2008, none of the world's leading macroeconomists or forecasting organizations were predicting that the economy would shrink that year, let alone crater as disastrously as it did."
...
"Our deep-seated desire to quantify the world is not surprising: given the complexity we face on a regular basis, we naturally seek ways to understand and control whatever we can. But, as is painfully apparent, the world isn't responding well to our attempts. Instead, it is making it clear that it refuses to be organized, understood, and controlled in a purely quantitative fashion.
...
All of this is not to dismiss the strengths of the quantitative paradigm: when used in a suitable context, its methods produce reliable data. However, the paradigm breaks down when the phenomenon under study is complex and ambiguous. The greatest weakness of the quantitative approach is that it takes the context out of human behavior, removing an event from its real-world setting and ignoring the effects of variables not included in the model. (Moi ici: Como se o mundo dos humanos fosse um universo newtoniano onde o tempo não conta porque não há aprendizagem)
...
The fundamental shortcoming is that all of these scientific methods depend entirely on quantities to produce the answer they were meant to generate. (Moi ici: Please rewind and read at least three times this sentence) They were blissfully ignorant of qualities."
.
Com esta mensagem ainda fresca, aconselho a leitura dos gráficos com a evolução do calçado aqui, a leitura deste postal sobre o amor, e a leitura destas reflexões de Daniel Bessa de 2005 e de André Macedo de 2008 sobre o futuro do calçado português.
.
Quando Arroja começa com as suas reflexões cath vs prot é disto que me lembro, da competição num mundo de quantidades, num mundo de planeamento e rigor, versus a competição num mundo de artistas, de flexibilidade, de intuições, de rasgos, de qualidades.
...
"Why are qualities so important? Because to make sense of an ambiguous and uncertain world, understanding, measuring, modeling, and manipulating quantities just won't cut it.
...
We need to have a much deeper understanding of their qualities - the ambiguous, hard-to-measure aspects of all of these features. To do so, we need to supplement the quantitative techniques brought to us by the march of science with the artistic understanding of and facility with qualities that have been brushed aside."
.
Total sintonia com Greg Satell: "True knowledge begins with wonder"

quarta-feira, abril 15, 2015

Curiosidade do dia

"focando-se no facto de as taxas de juro estarem muito baixas, Bessa assinalou que "estes tempos são muito perigosos". "Gosto muito de Fórmula 1", modalidade onde um dos pontos mais importantes é "os pneus que vou colocar". "Ando sempre calçado com pneus de chuva. Quanto mais baixo vejo as taxas de juro, mais correntes e pneus de chuva" coloco, contou. Aludindo ao facto que, quanto mais baixas forem as taxas de juro, mais precauções devem existir, pois os juros irão voltar a subir."
Este é o tempo em que os futuros "lesados de (qualquer coisa)" embalam docemente nas patranhas que interessam aos aprendizes de feiticeiro. Depois, virão de calças na mão argumentar que não sabiam, que foram enganados, que têm iliteracia financeira, que ...

Trechos retirados de "Daniel Bessa: “Quanto mais baixo vejo as taxas de juro, mais correntes e pneus de chuva” coloco""

segunda-feira, fevereiro 27, 2017

Do not try this at home


Recuo a Agosto de 2008 e a esta especulação:
"A China aproxima-se rapidamente de um cenário em que terá uma parte da população (cerca de 400 milhões de habitantes, números do The Mckinsey Quarterly) com um rendimento médio semelhante ao das famílias na União Europeia. Especulemos pois!
.
E se...
.
... algures entre o final dos Jogos Olímpicos e o final deste ano a China deixar de apoiar a moeda americana, resolvesse apreciar o renminbi e optasse por fazer da sua procura interna o motor do crescimento da economia?
.
Mesmo sem este cenário especulativo o The McKinsey Quarterly prevê que em 2025 os lares chineses consumam tanto como os lares japoneses."
Quem acompanha este blogue sabe a importância do marcador reshoring.  Por exemplo, os últimos postais:

Ou por exemplo recuar a Maio de 2006, quando ainda não havia marcadores e recordar "O regresso dos clientes".

De há cerca de 3 anos para cá comecei a sentir, de forma ténue inicialmente, o regresso de clientes não por causa da rapidez, da flexibilidade, da proximidade, da marca Portugal mas por causa do ... preço, por causa da China estar mais cara e do efeito do banhista gordo.

Eis que agora o Financial Times aparece para se juntar ao coro com "Chinese wages now higher than in Brazil, Argentina and Mexico":
"Average wages in China's manufacturing sector have soared above those in countries such as Brazil and Mexico and are fast catching up with Greece and Portugal after a decade of breakneck growth that has seen Chines pay packets treble.
.
Across China's labour forces as a whole, hourly incomes now exceed those in every major Latin American state apart from Chile, and are at around 70 percent of the level in weaker eurozone countries, according to data from Euromonitor International, a research group."

Como não recordar esta tabela e este título de 2011 "It's not the euro, stupid! (parte I)":


Percebem agora porque usei esta figura há dias:
Mesmo com a geringonça a erguer barreiras ...

Cuidado, não cometam o erro do consultor-criança, o de querer usar o que resulta num país com um mercado interno de 1400 milhões de consumidores e que valoriza o lucro, a acumulação de capital e o sucesso empresarial, num país de mentalidade socialista e que adora rendas e incumbentes.

Recordo agora o empresário de calçado que em 2009 acreditava que o futuro eram mais 5 anos no máximo, porque os chineses acabariam com tudo... gente que não lê e dedica o pouco tempo que tem a ouvir os supostos sábios que regista sem capacidade de crítica:
"Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas."
Como não pensar neste anónimo da província versus estes engravatados e sorrir ao ler "Surgeons Should Not Look Like Surgeons".

Termino com "Turn, turn, turn" e os mundos de Lindgren.

Este postal será provavelmente o único que será escrito esta semana, por causa de uma mudança de casa em curso que altera rotinas e rouba tempo dedicado à reflexão e leitura.