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sábado, novembro 02, 2019

Está aqui a ilustração do que Mongo traz aos gigantes

Pesquisando Kraft aqui no blogue encontro, como os postais mais recentes:
Agora no Wall Street Journal de ontem leio "Kraft Heinz Is Cooking Up a Fresh Strategy". Apetece dizer: Duh!
"Investors are celebrating signs of stabilization at Kraft Heinz, [Moi ici: A empresa no primeiro semestre do ano caiu 1,5% nas vendas e agora, no terceiro trimestre só caiu 1,1%] as well as fresh thinking from its new leadership.
...
The new leadership team, though handpicked by the company’s Brazilian private equity owners 3G Capital, shows refreshing signs of understanding what went wrong.
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They plan to unveil a detailed new strategy early next year but gave preliminary thoughts on a  conference call with analysts Thursday.
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Mr. Patricio spoke of the need for a “mental change” at the company. He seeks to shift its focus from short-term cost cutting and growth through acquisitions toward investing for long-term organic growth.
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Still, the company isn’t abandoning frugality.
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Mr. Patricio stressed the need to cull unprofitable or low-volume products from Kraft Heinz’s portfolio. “Innovation is an area that we have to increase, we have to improve dramatically,” he said when pressed by analysts to elaborate on his views on research and development, which prior  management shortchanged.
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However, he said R&D spending would be focused on a few big bets rather than spread far and wide— a similar stance to his predecessor, Bernardo Hees."
Transcrevi os trechos acima, sublinhei-os ... e agora estou encostado à cadeira a admirar o espectáculo.

Tanta coisa para escrever, tanta turbulência na minha cabeça. Está aqui tudo. Está aqui a ilustração do que Mongo traz aos gigantes.

Mongo ou Estranhistão, o mundo económico para onde caminhamos não é o mundo do mass market do século XX que criou os gigantes do século XX. Os gigantes procuram as grandes quantidades, apostam nas big bets. Cometem o erro da VW:
"turned down requests to build the electric vans in what are limited numbers by their standards."
 Em Mongo é inevitável descrevo a explosão de marcas e sabores, a explosão de apreciadores-contrarians. Em Não acredito nestas relações simplistas escrevi:
O que digo aqui sobre Mongo? Mais variedade, mais tribos, mais flexibilidade, mais rapidez, ... menos friendly para gigantes e mais pró marcas independentes.
É claro que a inovação é a porta para o futuro, duvido é que consigam encontrar uma ou mais "big bets". O mundo está diferente, o mundo já não é o do século XX.

Solução que me vem à cabeça, crescer por aquisição de marcas independentes e mantendo-as como independentes, na gestão e na produção.

domingo, janeiro 22, 2017

"awesome people with awesome interests"

Quando era miúdo, tinha para aí uns 10 ou 11 anos, ouvia a minha mãe falar ao telefone com os meus avós que viviam em Angola, a aconselhá-los a regressar à metrópole porque as coisas em África iam dar para o torto. Os meus avós não acreditavam nesse cenário até que, no meio de uma guerra civil em Luanda, tiveram de regressar com uma mão à frente e outra atrás.

A lição que retirei desses acontecimentos traumáticos foi a de que, muitas vezes, o estar próximo das coisas retira-nos alguma capacidade de reflexão e de apreensão da realidade. O estar próximo prende-nos demasiado aos modelos mentais a que estamos habituados e dificulta-nos o partir dessas grilhetas. Como era possível alguém a milhares de quilómetros ter percebido o que quem estava lá não percebeu? Muitas vezes perdemos-nos nos detalhes dando demasiada atenção a coisas menos relevantes e perdemos a capacidade de processar o que corre em fundo.

Quando ontem sublinhava:
"people don’t have average interests"
Pensei logo nesta ideia de 2010 "Mais uma sugestão de modelo de negócio".

Muitos autarcas quando olham para a sua região no interior vêem: desertificação, clima pouco ameno, falta de empregos, divergência face a Lisboa e Porto, ...

Quando me falam da falta de potencial de uma região do interior como contrarian que sou salto logo da cadeira e começo a pensar nas oportunidades que um outsider consegue visualizar mais facilmente do que um insider. Muitas dessas oportunidades não são para servir "average people with average interests". O meu pensamento salta logo para o que nessa região é diferente ou pode fazer a diferença para "weird people with weird interests". Logo agora que estamos a caminho do Estranhistão (Mongo, outra forma será o Weirdistão).

Azeite de Trás-os Montes pode não competir com o azeite industrial do Alqueva mas pode à la David, viver bem e deixar viver, como azeite transmontano para "awesome people with awesome interests" e quem diz azeite diz: fumeiro; bísaro; castanha; amêndoa; cerejas, vinho, turismo baseado em águias, vinho, paisagens, tradições culturais.

Depois, é confiar na função exponencial e no efeito de uma narrativa positiva suportada em estórias que ajudam a promover uma mudança cultural.

BTW, sem skin-in-the-game não funciona:

segunda-feira, abril 27, 2015

Acerca da evolução da competição (parte II)

Quando em "Acerca da evolução da competição" escrevi:
"Em próximo postal voltarei a Favaro e à minha reflexão pessoal sobre a evolução da estratégia."
Ainda não tinha lido "Terroir" de Seth Godin:
"Heinz ketchup has no terroir. It always tastes like everywhere and nowhere and the same. A Dijon mustard from a small producer in France, though, you can taste where it came from. Foodies seek out this distinction in handcrafted chocolate or wine or just about anything where the land and environment are thought to matter.
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But we can extend the idea to you, to your work, to the thing you're building.
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It's not like anyplace else. It's not like everyplace else.
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Consistent doesn't mean, "like everybody else."[Moi ici: Cá está o ponto que eu critico na Qualidade, a demasiada concentração na normalização]  Consistent in this case means, "like yourself." If we took just one drop of your work and your reputation and the trail you leave behind, could we reconstruct the rest of it?
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The pressure on each of us to fit in, to industrialize, to be more like Heinz--it's huge. But to do so is to lose the essence of what we make."
Terroir é uma palavra que o meu pai me ensinou acerca dos vinhos e da sua diferenciação... é uma palavra que vai ficar a fazer parte do léxico deste blogue e do meu trabalho. O que eu pensava acerca das palavras de Favaro, reforçado com o texto de Godin é o que relato aqui "O meio pode albergar posições intermédias viáveis".

sábado, março 07, 2015

Mongo, Estranhistão, Weirdistão

Há anos que cunhei a designação de Mongo para significar o modelo do século XXI, por contraponto a Metropolis, ou Magnitogrado, para significar o modelo da escala, do volume, da eficiência, da linha de montagem, do século XX.
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Mongo é um conceito teórico, é uma abstracção. Eu sei o que quero dizer com a designação mas a sua abstracção não ajude a tornar concreto o impacte da democratização da produção para o modo de vida, para o modo de organização da sociedade, para o emprego, para os impostos, para as empresas, para a economia, para o marketing, para a educação formal centralizada a que chamamos universidades.
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Hoje, li algo que me surpreendeu pelo impacte que teve em mim, porque ajudou a concretizar o que é isso de Mongo, ajudou a arranjar uma referência que permite fazer uma comparação. E essa comparação chocou-me, não estava preparado para o embate, apesar de falar e escrever sobre Mongo:
"3-D printing is starting to do something amazing. The technology is transforming physical stuff into data, much the way digital technology over the past 20 years changed things like newspapers and phone calls into data.
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Once anything turns into data, it becomes cheap and easy to send anywhere over networks, and cheap and easy for anyone to manipulate using software. So imagine a world where physical stuff - chairs, shoes, sex toys, Jeeps - can be sent around the world instantly and at almost zero cost. And imagine a world where the design of those chairs, shoes, sex toys or Jeeps could be altered and customized by any suburban mom on her iPad while fighting boredom at her kid’s soccer game.
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Another effect of turning stuff into data will be mass customization. You may never again have to own anything that looks like anybody else’s.
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Because the products are data, they don’t have to be static. The designers can constantly tweak them in response to customer input. “It’s iterative—I’ve seen some products go through 30 versions in a couple of months
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Everybody’s empowered to solve their own problems,” he says.
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Industrial-scale 3D printing will get increasingly sophisticated, rendering one physical thing after another into data that can be sent anywhere, modified by anyone, and printed and assembled locally. In another decade, shoes, chairs, bicycles or who knows what else will become data.
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[Moi ici: O trecho que se segue é aquele que motivou o texto inicial deste postal acerca da surpresa] There’s an industrial side to this, too. This process is going to open up physical-product industries the way the Internet and blogs opened up the business of news. [Moi ici: Basta recordar as imagens da redacção do Daily Planet com centenas de pessoas e o que é uma redacção hoje. Ou comparar a bosta que muitos jornais clássicos produzem, com a excelência que projectos digitais conseguem atingir. Ou comparar como, num mundo cada vez com mais informação, cada vez menos gente comprar jornais. O mundo do cidadão jornalista. O mundo do cidadão prosumer... ] ... “New tools for democratized production are boosting innovation and entrepreneurship in manufacturing, in the same way that the Internet and cloud computing have lowered the barriers to entry for digital startups.”"

Trecho retirado de "3-D Printing Will Make Your Stuff Data, and Then Make It Unique" [Moi ici: O que importa reter é o "make it unique"]

sexta-feira, setembro 12, 2014

Acerca do caminho para Mongo (parte VII)

Parte I, parte II, parte IIIparte IVparte V e parte VI.
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O relatório da Deloitte (ver parte V) prevê, como o fazemos aqui há vários anos, a fragmentação da oferta e procura em nichos e tribos que constituirão Mongo, o Estranhistão:
"Fragmentation will occur at different rates and to varying degrees across the economy. Much of the fragmentation is likely to occur in product design and commercialization activities.
...
As fragmented players focus on product innovation and commercialization, what will happen to the established companies of today, and how will they capitalize on their advantages of scale or scope?"
Um exemplo interessante pode ser encontrado aqui "A Big Mac, Coke and side order of decline":
"Have many big consumer brands peaked? I ask this question because I believe a number of the world’s biggest products appear to be in structural decline....Sugary, carbonated beverages are seen by the younger generation as unhealthy. Once such trends become established they are difficult to reverse....younger customers are visiting McDonald’s less, and going instead to rival fast-casual chains. Diners want fresher, healthier food and a more bespoke offering. And what happens in America is likely to be followed in other territories....It may be that the health issues challenging Coca-Cola and McDonald’s are specific to those market leaders. But I suspect other factors are at play too. Customers younger than 30 are more promiscuous in their brand choices and have less product loyalty. The digital revolution has brought almost total price transparency, diminishing the ability of brands to charge more. Retailers are embracing own-label to defend their margins....
In both alcoholic and soft drinks, for example, almost all the growth is coming from smaller, independent producers."

terça-feira, setembro 09, 2014

Acerca do caminho para Mongo (parte V)

Parte I, parte II, parte III e parte IV.
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A pressão sobre as empresas e os indivíduos e o abaixamento das barreiras e a democratização da produção e comercialização, criam o caldo perfeito para o que se segue "Fragmentation: Staying niche, nimble, and small is the new goal for many". Por isso, é que durante as caminhadas de Agosto, enquanto lia o relatório pela primeira vez, não me cansava de brincar a dizer que estes tipos me tinham copiado o blogue:
"The erosion of barriers to forming and pursuing a business venture will lead to increasing fragmentation in certain parts of the economy.
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As barriers fall, many small yet viable players will emerge, with increasing influence on the economy
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This proliferation of individual and small business ventures addressing highly differentiated industry and consumer needs will drive significant fragmentation in certain parts of the business landscape. Fragmentation (within a domain) is defined by the following characteristics:
• Each player within the domain has a small, addressable market and is focused on a specific niche
• Collectively, players address a diverse spectrum of customer and market needs
• Both players and niches are proliferating within the domain
• No single player has enough market share to influence the direction of the domain
long term
• A relatively modest level of investment is sufficient to enter and sustain position
• “Diseconomies of scale” are in play—it is more challenging for large players to stay in business
...
Fragmentation is likely to be most pronounced in the design, development, and
production of new products and services for specific markets.
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As consumer demand for uniqueness or other specialized attributes causes product
fragmentation, another type of fragmentation will occur in the retail space, as retailers cater to specific consumer preferences with a targeted set of niche products.
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They will increasingly offer targeted experiences to niche customer segments
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the number of small investors could grow with the emergence of a different type of angel investor—one who, now that it is easier for individual investors to connect with individual makers, artists, or entrepreneurs, values his or her connection to a specific product or mission more than tenfold returns.
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Fragmentation will be a permanent feature of the business landscape
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Today’s consumers expect offerings that exactly fit their needs and lifestyle requirements. The good news is that digital technologies allow niche products to reach consumers. The bad news is that, given the fragmentation of the consumer base, it is harder to get an offering adopted by the mass market, earn market share, and generate large returns. Indeed, the whole idea of the “mass market” may become less relevant as niche market proliferate. Revenue opportunities may be limited to capturing a relevant niche segment instead of an entire market.
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Increased competition and disruption are shortening product life cycles, reducing the total return for each product.
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a decrease in consumer loyalty. Consumers are increasingly willing to switch between brands to find products that best address their needs.
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Niche players that scale will have difficulty retaining creative talent, given the
increasing ability of talent to pursue other ventures.
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As an organization scales, it often becomes focused on efficiency, tightly scripting processes and governance models and thus limiting workers’ autonomy and creativity.
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fragmentation will be a sustained and even desirable outcome in the new business landscape."


segunda-feira, setembro 08, 2014

Acerca do caminho para Mongo (parte IV)

Parte I, parte II e parte III.
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O segundo capítulo do relatório "The hero’s journey through the landscape of the future", intitula-se "Pressures on individuals".
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As medidas de curto prazo para aumentar a eficiência das empresas (ver parte III) levaram a:
"have eliminated many of the benefits of working for a large organization and undermined the financial and emotional security of many workers. ...Workers no longer have the historical safety nets they once did, such as life-long employment and pension plans....No one - not even top talent - is safe.Without the benefits of stability and security once associated with employment by a large, established company, many individuals will find themselves pursuing alternative career paths, not always by choice."
No entanto, esta pressão sobre as empresas e os indivíduos, e  "Eroding barriers: Lowered barriers to entry, commercialization, and learning" (terceiro capítulo) cria oportunidades novas.
"The somewhat surprising effect has been to tap into workers’ latent desire for autonomy. In the past, workers sacrificed autonomy for the security and compensation associated with working for a large enterprise.
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Many are driven by a desire for autonomy, flexibility, or alignment with personal values. Talented, high-performing workers are taking their increased negotiating power to pursue independent ventures or to work at companies where work is more tailored to individual priorities, values, and interests.
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In parallel, individuals are also beginning to move away from seeking status and meaning through consumption ... many are seeking status and meaning through the ability to create or participate.
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The good news is that the same technological and political forces causing increased pressures and challenging traditional structures and practices have also created the tools and opportunities for participation, commercialization, and learning.
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Times have changed. Today the barriers between the inventor and the market are diminishing, and individuals can own the full lifecycle of their products. Individuals are also finding that as barriers erode they have the ability to participate in numerous communities, unlimited by geography, where they can build knowledge, develop skills, and find collaborators.
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The means of production are becoming more accessible to individuals and smaller companies.
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Tools and physical infrastructure are becoming increasingly accessible. Liberalization in certain areas of public policy is reducing some of the regulatory barriers that have hindered the creation of new businesses.
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it is becoming easier for individuals to independently experiment with and prototype ideas, leading to breakthroughs in physical product design and even medicine. As technology continues to become better and cheaper, more individuals will be able to create small but sustainable economic entities. Even for technologies that have not become affordable, the emerging “sharing economy” is helping to make them accessible.
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The confluence of cheap and accessible technology, shareable tools and infrastructure, and supportive public policy has made it more attractive for individuals to leave large organizations and create their own fragmented businesses.
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With the path to market entry more accessible, technology has again been instrumental to lowering barriers to commercialization, largely through online platforms that connect individuals and organizations to the resources they seek."
Parece uma repetição de conceitos e sintomas que ao longo dos anos temos aqui relatado no blogue sobre o advento de Mongo.
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Continua.



sexta-feira, agosto 29, 2014

Bem vindo ao Estranhistão

"There is no more everyone. Instead, there are many pockets of someones."
Em linha com aquela tendência da fragmentação.

Trecho retirado de "The end of everyone"

sexta-feira, julho 25, 2014

Leu aqui há vários anos...

Leu aqui há vários anos... e só agora está a chegar ao mainstream.
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As implicações assimétricas de Mongo, do Estranhistão, para as empresas grandes e para as PMEs e artesãos, em "Is This the Death of the Mass Brand?":
"Brands were created to convey information about products at a time when it was hard for consumers to get information. But our hyper-networked and data-engorged era is killing the very reason for mass-market branding. This leaves big brands vulnerable to hordes of quirky little unbrands. Today’s technology gives the advantage to companies that have deep relationships with consumers, and there are two key ways to get those relationships.
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to be small and intimate enough to connect with customers on a personal level, like craft brands on Etsy or apartment owners who rent their places through Airbnb. Coke, McDonald’s, Ford and the like can’t easily go in either direction. They’re kind of screwed.
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In fact, in this age of consumer information and relationships, a big brand can be a negative. A brand conveys consistency and safety; it says a can of Coke will taste the same whether in Syracuse or Strasbourg.
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As we get better information about small-scale competing products, people feel safe seeking out the unique, the undiscovered, the unbrands. [Moi ici: We are all weird!!!] Hilton becomes vulnerable to Airbnb’s one-of-a-kind dwellings. Tiffany becomes vulnerable to jewellery makers on Etsy.
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The result is a developing societal shift, as authors Itamar Simonson and Emanuel Rosen describe in their book, Absolute Value: What Really Influences Customers in the Age of (Nearly) Perfect Information. We used to want the brands everybody else had. We’re moving toward mass individualism, wanting stuff nobody else has."
BTW, Itamar Simondson e Emanuel Rosen não me convencem, não creio que o problema seja das marcas por serem marcas, o problema está no que o marcador "hollowing" conta, marcas que para chegarem ao maior número possível de pessoas se tornaram tão ocas, tão vazias, tão medianas que já só vivem da fama de outros tempos.

BTW2, há dias no Twitter favoritei a mensagem de Saul Kaplan:
"Turns out the mass market was an industrial era illusion."

segunda-feira, julho 21, 2014

O meio pode albergar posições intermédias viáveis

Ontem, terminei o postal "Um cardume de estratégias?" com a citação:
"Por um lado, produzir com qualidade premium e, por outro, ter produtos a preço baixo, para competir com os restantes mercados. Tudo o que está a meio é perigoso."
Vou pisar gelo fino, gelo muito, muito fino... a ver se não me expresso mal.
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Aquela afirmação parece retirada deste blogue. Faz lembrar o esquema:
E há muitas empresas que falham, quando o mercado fica menos complacente porque não se definem e ficam no meio-termo:
é o que relatamos aqui como sendo (ver marcadores):
  • o efeito da polarização do mercado;
  • o stuck-in-the-middle.
Quando comecei a ter a possibilidade de trabalhar em estratégia com as empresas, eu era um porteriano, todo racional. E postulava, existirem três tipos de clientes:
  • os que querem o melhor preço ou custo;
  • os que querem o melhor serviço; e
  • os que querem o melhor produto ou serviço.
Isto levava ao extremo de podermos formular uma estratégia sem olhar para os clientes efectivamente. Os clientes eram miudagem (ver marcador) que se distribuía por três gavetas. Formular uma estratégia era escolher a gaveta adequada e alinhar a empresa para isso.
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Algures no tempo, na evolução do meu pensamento comecei a perceber que a realidade era muito mais complexa... aí, como químico que fui, nasceu o diagrama ternário.
Não podia conciliar Mongo com as suas tribos fora da caixa com uma visão tão arrumada.
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Depois, o ró (ver estes postais aqui e aqui) veio ajudar a perceber que:
"A explosão dos atributos e a redução progressiva do ró, ao aumentarem o número de posições intermédias viáveis, significa um afastamento dos extremos no diagrama ternário... há cada vez mais posições híbridas viáveis."
Ou seja, os clientes-alvo deixam de ser os que pertencem a uma de três gavetas e passam a ser qualquer tribo com dimensão atraente e que possa ser servida com vantagem competitiva. Assim, vemos empresas que não têm nem o melhor preço, nem são as mais flexíveis, a servir com vantagem competitiva uma qualquer tribo eleita.
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Por que os clientes não querem o fornecedor mais eficiente... querem o melhor fornecedor para si.
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Assim, o meio pode albergar posições intermédias viáveis se os clientes-alvo estiverem no centro da atenção.

sábado, julho 19, 2014

Em Mongo pode dizer-se "We're not in Kansas anymore!"

Ontem, o @pauloperes chamou-me a atenção para este texto "The Growth Share Matrix Revisited".
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Fiquei logo apanhado por um dos gráficos apresentados:


Um gráfico tão ao jeito de Mongo, um gráfico tão em sintonia com o que se escreve neste blogue há vários anos e que destoa do mainstream. Um gráfico tão ao jeito da economia como uma continuação da biologia e, que se traduz em "as estratégias não são eternas".
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Em Mongo, no Estranhistão, em que somos todos weirdos e orgulhosos disso, há mais gente fora do que dentro da caixa:
Quantos decisores, porque foram formados por quem aprendeu nos anos 60 e 70, continuam a acreditar que market share e lucro são sinónimos?
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Continua.

sábado, junho 08, 2013

Um gera o outro, que gera o outro, que gera o outro...

Mais um sintoma da construção em curso de Mongo, o Estranhistão!
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Seth Godin acerca da evolução dos nomes próprios na sociedade americana:
"Recent data on naming released by the Social Security Administration puts this into sharp relief. The top 1000 baby names include go-to standards like Zylin, Zymari, Zyrin, Zyrus and Zytaevius. That's not surprising, because, after all, 1,000 names is a lot of names.
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What's surprising is that over the last ten years, the percentage of names that don't fall within the top 1,000 keep rising. That means that more and more people are opting out of the popular naming regime, forging their own path."
O que é que isto tem a ver com as empresas?
"If you're chasing the masses, you're almost certainly heading the wrong direction. The masses are ignoring you. It's the weird who are choosing to pay attention, to seek out what they care about." 
Cada vez mais nichos, cada vez mais segmentos, cada vez menos interesse em apostar no volume puro e duro. Diferenciação, diferenciação, diferenciação, customização, customização e ainda mais customização.
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Ainda ontem no Twitter, alguém (@mattwensing) escrevia:
"Our ideal customer has a willingness to pay at least 60x more than where we started in 2009."
Qual o truque?
"Segment, then segment again." (Moi ici: E eu acrescento mais, "and then, segment again and again")
 Agora conjuguem esta evolução para um mundo em que "we are all weird and proud of it"  com esta evolução tecnológica:
"Prototyping makes sense as an area in which 3D printing can make inroads. To some extent, 3D printing in its current state is characterized by a low set up cost but a relatively high variable cost. Those costs may be high in terms of time instead of dollars. The idea is that if you are going to produce millions and millions of something (like lids for milk jugs), 3D printing is not the way to go. However, that low set up cost makes it attractive for things that are not currently produced in volume."
E comecem a imaginar a escalada simultânea, a espiral de variedade criada com o jogo entre os gostos e a capacidade de os satisfazer: um gera o outro; que gera o outro; que gera o outro; ...
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A crise é também uma manifestação do atraso com que as mentes, as instituições, os poderes, os incumbentes, ainda não se adaptaram a Mongo, continuam a pensar à moda antiga, com as receitas antigas, com o fito na massa, no volume.
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Trecho final retirado de "How is additive manufacturing adding value?"

terça-feira, abril 30, 2013

Farmacêuticas e o Estranhistão

A mesma lição em cada vez mais sectores:
"Pharma companies are slowly realising that customer experience is the way to address these difficulties. The problem is that pharma doesn't really 'get' customer experience."
Recordar:


"A great customer experience strategy focuses your efforts and resources where they will have the most impact for your business. Yet too many pharma strategies for customer experience fail to focus these efforts in any meaningful way. Doing everything for everyone is not a strategy that works. (Moi ici: Uma lição deste blogue, é preciso escolher os clientes-alvo)
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There are three easy ways to start focusing your strategy.
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First, focus on a very specific set of target customers. (Moi ici: Talvez a lição número um deste blogue. É preciso reconhecer que entramos no Estranhistão) Your limited resources are shrinking and it's a bad idea to try to reach all healthcare professionals who might use your product, or even a broad subset like GPs. Instead, identify a specific group of target customers so your strategy has a chance to mean something to them. In our engagements with pharma, we see very little evidence of this.
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Second, forget the company and focus on the drugs. Pharma companies want customers to love their company, but this is never going to happen.
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Accept this, focus on their experience with the drug, and stop wasting resources trying to make them 'love' your big pharma company.
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Third, focus on getting a single country working before you roll it out regionally. Pharma thinks it will make cost savings at the regional level, but this doesn't work with customer experience because it's so easy to get it wrong. A great experience in one country can be totally irrelevant in another, due to local expectations and regulations. Just look at all the big pharma customer experience successes from conferences and online case studies – they're all local to a particular country.
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The six pillars of customer experience for pharma
1.Focus your customer experience strategy on a specific subset of customers in a particular location
2.Invest in one-to-one qualitative studies, instead of focus groups, quantitative studies, and large sample sizes
3.Design experiences by making new things, testing them with customers, and revising them until they work
4.Measure what matters, and not what is easy; that means customer experience quality, and its effect on sales
5.Ensure you have the right qualified people in place to make sure your customer experience efforts are not in vain
6.Make it OK to fail, because even the best ideas can turn into failures, which in time become building blocks for success."
Excelente!
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Trechos retirados de "Customer experience for pharma companies"

terça-feira, dezembro 04, 2012

Cuidado com o cross-selling

O topo dos mapas da estratégia que ajudo a desenvolver nas empresas costumam ser parecidos com a figura que se segue:

A imagem traduz a ideia comummente aceite de que clientes fidelizados são clientes que compram mais, que adquirem mais produtos ou serviços da gama que o fornecedor oferece e, que isso é bom para a rentabilidade.
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Cuidado com as generalizações!!!
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Esta lógica só é válida se esses clientes fidelizados corresponderem à figura do que considerámos ser o cliente-alvo.
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Essa é a escolha central de uma qualquer estratégia, a resposta à pergunta: quem são os clientes-alvo?
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Este é um tema já abordado no passado aqui no blogue (2008 e 2009) e que agora pode ser reforçado após a leitura de "Unprofitable Cross-Buying: Evidence from Consumer and Business Markets" publicado no Journal of Marketing em Maio passado de Denish Shah, V. Kumar, Yingge Qu, e Sylia Chen.
"Conventional wisdom, marketing literature, and cross-selling practices to date are based on the notion that customer cross-buying is positively associated with customer profitability. However, this study finds that when certain customers with persistent adverse behavioral traits (e.g., limited spending, excessive revenue reversals, excessive service requests, promotion purchase behavior) engage in cross-buying, they exhibit a downward spiral of unprofitable relationship, with the losses increasing with higher levels of cross-buy. The authors analyze the customer databases of five firms and find that 10%–35% of the firms’ customers who cross-buy are unprofitable and account for a significant proportion (39%–88%) of the firms’ total loss from its customers."
O artigo procura responder a uma série de questões:
"Can customers who willingly purchase additional products and/or services of a firm be unprofitable? If so, what factors can potentially characterize customers with unprofitable cross-buy? Can the collective actions of such customers substantially affect the firm’s bottom line over time? In such a scenario, what are the implications for the firm’s current marketing practices and policies, which are typically directed at maximizing cross-buy opportunities across all the firm’s customers?
Convém recordar os gráficos de "We are all weird" acerca do Estranhistão.
"the relationship observed at the aggregate customer base level need not hold true for every customer of the firm due to the inherent differences in customers, commonly referred to as “customer heterogeneity” in the research literature." (Moi ici: E o fenómeno da heterogeneidade está a expandir-se, basta recordar a hipótese Mongo)
Assim, para reforçar a importância da escolha dos clientes-alvo e, para reforçar a coerência com essa escolha:
"First, researchers need to refine the basic understanding that not all cross-buying is profitable. The proportion of customers engaging in unprofitable cross-buying is relatively small. However, these customers account for a disproportionately high level of total losses from customers by virtue of habitual proneness of adverse behavior. Second, conventional cross-buy models that focus on the propensity of a customer to cross-buy fail to account for persistence of adverse customer behavioral traits and thus fail to detect customers who are likely to result in an unprofitable outcome. In the light of these findings, crossbuy models should make cross-sell recommendations to firms conditional on the propensity of the customer to generate more profits (after cross-buy)."
BTW, este recorte de 2004

quinta-feira, agosto 09, 2012

Bem vindos ao Estranhistão

Em "O triunfo da heterogeneidade" salientamos o lado positivo da existência da heterogeneidade nos mercados reais, em vez das abstracções matematizáveis e irrealistas.
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Contudo, há um lado negativo decorrente do triunfo comunicacional dos economistas com os seus mercados  perfeitos:
"Very little attention is given to differentiated internal structures since this undermines the powerful underlying requirement that competing businesses are relevantly similar, permitting the application of ceteris paribus thinking.
.It is easy to suspect that traditional economists cannot in fact explain how businesses make a sustained profit. In a world of perfect competition supernormal profits will be zero, and the suggestion of economics is that anything other than this outcome is either inefficient, transient or morally reprehensible. This failure to understand the source of sustained business profits probably arises from the focus of traditional economics on only three types of competition (monopoly, oligopoly and perfect competition — all of which are selected and investigated because they are susceptible to mathematical analysis) and associated rents.Economists also tend to regard differentiation within a product or service as a variant of price, when in fact price may not be a criterion that determines purchase."
Esta corrente dominante ocupa os modelos mentais da maioria dos agentes económicos. Assim, tolhe a sua capacidade de actuação.
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Ainda ontem recebi um e-mail que ilustrava esta situação. A certa altura descrevem-me a situação que explica um deficit estratégico:
"A desculpa que ouvimos mais frequentemente é que não temos "quantidades" e como tal preço para competir."
Um excelente retrato de uma realidade que infelizmente conheço demasiado bem. A ideia de que só se pode competir pela produção de quantidades cada vez maiores, quantidades que dão escala, que dão vantagens de custo... e claro, como isso impõe uma cultura de negócio como a de um pit da Fórmula 1...
Planeamento central, rigor, funções claramente definidas, um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar. Não há desenrascanços, não há "primma donnas", não há democracia, há uma música invisível ao som da qual todos dançam alinhados, sintonizados em prol da eficiência, da rapidez na execução daquilo que foi planeado milhares de vezes.
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Nós não temos cultura para trabalhar assim... não é, nós não temos gente para trabalhar assim, é mais, nós não temos empresários preparados para pensar assim, até porque para pensar assim, tem de se ter um arcaboiço comercial capaz de despachar o produto. Porque quem trabalha neste campeonato tem de produzir sempre o mais próximo possível dos 100% da capacidade (e, se possível, acima da capacidade nominal) e o dinheiro só se ganha quando se recebe o que se vendeu, não quando se produz.
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Claro que esta cultura de crença exclusiva na escala, no volume e na eficiência é resultado das correntes económicas que se estudam nas universidades e que têm de ser matematizáveis, que têm de ter equações e modelos matemáticos capazes de rivalizar com os da malta da Física. Para isso, fazem-se simplificações e abstracções até que se chegam aos mercados perfeitos. Esta cultura ocupa o mainstream e abafa pensamentos alternativos.
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Até parece que não conhecemos histórias de micro-produtores que triunfam... até parece que não existem histórias de empresas que apesar de pequenas, transpiram autenticidade, respiram diferenciação, são sinónimo de exclusividade.
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Lembro-me do meu pai estudar à noite. De entre a sua bibliografia havia um livro, que herdei, que se intitulava "Small is beautiful" de um tal Schumacher, para mim, na altura, "Small is beautiful" não passava de um título, não passava de um slogan.
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Hoje, percebo melhor do que nunca que small is beautiful é muito mais do que um soundbite. Small is beautiful é o caminho de Mongo.
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E como somos todos cada vez mais weirds ... cada vez haverá mais procura pelo que é único, pelo que é diferente, pelo que é tribal... bem vindos ao "Estranhistão... weirdistão"