Mostrar mensagens com a etiqueta subir na escala de valor. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta subir na escala de valor. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, julho 26, 2023

Luxo, ambiente, massas, caça, salários e calçado

(X) Por que é que os portugueses, genericamente falando, não compram sapatos Made in Portugal?

(Je) - Por que são demasiado caros para a bolsa-tipo portuguesa.

(X) Por que é que as fábricas portuguesas não produzem calçado mais barato que possa ser comprado por portugueses?

(Je) - E depois, como se pagavam os salários e as matérias-primas?

Para que os salários possam subir há que aumentar o valor acrescentado. Para aumentar o valor acrescentado  há que aumentar o preço médio de cada par de sapatos. Para aumentar o preço médio de cada par de sapatos há que procurar clientes que os possam pagar.

Claro que há outra forma de aumentar o valor acrescentado: reduzir o custo unitário, praticar preços mais baixos e aumentar a quantidade produzida e vendida. Só que isso implica ter vantagem competitiva no custo e isso é incompatível num produto com muita mão de obra incorporada e situado na Europa Ocidental.

Escrevo isto a propósito de um texto publicado no semanário Expresso no Sábado passado: "Especulação Já não há hotéis na terra da fraternidade e uma noite num dos empreendimentos de luxo pode chegar a €1650 - Zeca Afonso teria de "montar uma tenda para dormir" " em Grândola""

Estou a lembrar-me dos anos a seguir à revolução de 74 e dos milhares de caçadores anónimos que íam caçar para o Alentejo em regime de caça livre (não havia outro e era um direito de Abril).

Eu nunca ocuparei esses empreendimentos turísticos em Grândola, porque não tenho dinheiro para isso e porque não fui educado nesse estilo de gasto e de vida, mas não consigo deixar de pensar que talvez esse nível de preços proteja a região do turismo de massas e permita pagar melhores salários.

quinta-feira, julho 20, 2023

"Como aumentamos os salários?"

O jornal Público de ontem trazia um interessante artigo com o título "A pergunta é: como aumentamos os salários?"".

Claro que uma tentativa de resposta há anos que é esboçada neste blogue. Mergulhemos primeiro no artigo:

"A região norte é a mais exportadora do país. Mas medir o pulso ao estado da nação a partir desse retrato é esquecer que o Norte também é a região mais pobre do pais. O que está a falhar? [Moi ici: Já abordei o tema em Por que é então uma das [regiões] mais pobres de toda a UE?]

Paula, 47 anos, gaspeadeira, Santa Maria da Feira. Trabalha há 32 anos na indústria do calçado, mas há um mês ficou no desemprego, "A meu ver, o que falha é que as empresas tiram o lucro todo para elas. Estávamos a fazer sapatos que chegam a ser vendidos por 800 euros. Isso é o que cada um de nós ganhava de salário num mês." [Moi ici: Recordo as contas deste postal Quantas empresas? (parte III) ]

O preço do sapato na loja não reflecte necessariamente a receita da empresa que o produz, contrapomos. "Mas a empresa ganha mais do que aquilo que nos paga", responde Paula, certa de que a riqueza gerada pelos trabalhadores "é mal distribuída". [Moi ici: A distribuição é a possível, o problema é o que o valor criado é muito limitado. A situação só melhorará quando as empresas existentes forem substituídas por empresas com outros modelos de negócio] Paula ganhava 914 euros iliquidos. Feitos os descontos, levava para casa "800 e pouco". 

...

O que dirão os empresários perante a mesma questão. Por que razão a região mais exportadora e industrializada é também a mais pobre, senhor Albano Miguel Fernandes, da AMF Shoes, em

Guimarães?

"Está a faltar valor acrescentado às exportações. A maioria das empresas de calcado) trabalha em regime de private label, 'vendendo' minutos do seu tempo ou das suas máquinas", responde. [Moi ici: O que o engº Albano está a falar é ... do modelo de negócio. Só que no mesmo sector de actividade, nem todas as empresas conseguem dar esse salto, nem existe mercado para todas elas se derem esse salto]

...

"Vender minutos também é o modelo de muitas empresas noutras indústrias, como no téxtil. "A competição é feroz e por isso dá origem a uma baixa remuneração para as empresas, o que tem por consequência um poder muito limitado para remunerar os seus colaboradores. Estamos também dependentes de grandes multinacionais, que direccionam os seus centro de custos [para] países com sistemas mais competitivos do que o português", [Moi ici: Aqui há que ter cuidado com o uso da palavra competitividade, recordar o Uganda e os quadrantes do primeiro artigo citado lá em cima


...

"A pergunta é: como aumentamos os salários dos portugueses?" José Teixeira, presidente do grupo DST, de Braga, está a falar há cerca três minutos. Até chegar à questão que elegeu como crucial, o gestor invocou "o novo iluminismo de que a Europa precisa" e que "tem de ser agarrado", porque pressupõe "outro modo industrial, social, de relações dos trabalhadores com os accionistas, de usar recursos".[Moi ici: O que ele não diz é que são precisas outras empresas... percebem a enormidade disto? As empresas podem ser mais eficientes, podem ser melhor comercialmente e extrair mais valor, mas originar mais valor... isso só a produzir outras coisas com outro modelo de negócio. Volto a Larreché e aos Flying Geese e o exemplo do calçado em St. Louis, tão rico que pagou uns Jogos Olímpicos de Verão em ... 1904]

...

A empresa [Moi ici: Riopele] continua relevante, apesar de mais pequena. Exporta directamente 98% da sua produção, emprega 1102 pessoas e em 2022 fixou o salário de entrada em 780 euros, 20 euros acima do salário mínimo que, entrou em vigor no inicio de 2023. As despesas de inovação e desenvolvimento equivalem a 20% da receita anual, afiança. Quem conheça a indústria sabe que é uma percentagem que mete respeito. [Moi ici; Eu se dirigisse a empresa até teria vergonha de divulgar estes números. Torrar 20% da receita anual e não conseguir gerar valor acrescentado é um sinal claro de falhanço. O que interessa são os resultados, não o que se gasta. Fizeram-me lembrar a Raporal] Se tivesse voz no debate do estado da nação, a sua mensagem seria: aliviem o IRS dos trabalhadores, isentando os salários até 1200/1300 euros."

Agora voltando atrás no artigo sublinho:

"Quando me chamarem, vão-me propor o salário mínimo. Para quem ganhava 914 euros, não é nada motivador. Vão querer pagar-me o que se paga a um aprendiz. Não é este o futuro que eu desejo para as minhas filhas."

Recordo que em Maio passado escrevi aqui:

"No ECO o meu lado cínico foi despertado em "Calçado entra em 86 escolas para atrair jovens para as fábricas". Como é que o marketing abalroará a experiência que os jovens têm com os familiares que trabalham ou trabalharam no sector do calçado?" 

Sublinho: Como é que o marketing abalroará a experiência que os jovens têm com os familiares que trabalham ou trabalharam no sector do calçado? 

Como se aumentam os salários? A minha resposta amedronta os incumbentes, sobretudo as associações patronais:


Eu sei que as pessoas têm compromissos, têm amigos, têm custos afundados…
Eu sei que promover a mudança a sério tem um custo social no curto prazo que os políticos não estão dispostos a assumir.

Por isso, não vão encontrar respostas mais directas noutro lugar. Por isso, vão encontrar muita conversa da treta.

quinta-feira, junho 22, 2023

A concorrência "desigual" ou A evolução da produtividade (parte VII)

 Parte VI,  Parte VParte IVParte IIIParte II e Parte I.

A desglobalização em curso e as barreiras à entrada de emigrantes nos Estados Unidos geram este resultado inevitável. Por isso, é que o patronato é tão adepto da imigração.

O aumento dos salários na base da pirâmide não só beneficia as pessoas que o recebem, como promove a morte das empresas incapazes de os pagar, podendo contribuir para o aumento real da produtividade agregada do país (nos Estados Unidos ainda não está acontecer porque o numerador não está a crescer mais do que o denominador). Esta morte, como é natural, e não imposta por um governo, liberta recursos para outras empresas quando são precisos e sem que fiquem por aplicar. É, sem tirar nem pôr, ao vivo e a cores, o Flying Geese a funcionar.

Os responsáveis pelas empresas que vão morrendo argumentam como o actual governo de Portugal:

"A secretária de Estado da Promoção da Saúde admitiu esta quarta-feira dificuldades em contratar especialistas de obstetrícia e ginecologia para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), alegando a concorrência "desigual" do setor privado.

...

Segundo disse a governante, o "problema" na contratação destes especialistas para os hospitais públicos reside na "concorrência com os privados que é desigual"."

Havendo mão de obra barata ao preço da chuva ... Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”

Não há acasos, está tudo relacionado.

quarta-feira, maio 24, 2023

Fora do mainstream

Este postal foi escrito antes de ter publicado Consultor de empresas versus consultor do governo. Por isso, alguns links são repetidos em dias seguidos.

Há vários anos li James March sobre exploitation versus exploration, (recordo de 2008, Jongleurs (parte II) ), sobre a necessidade das empresas serem ambidestras. Lidar bem com as duas caixas na base da figura:

Agora leiam um pouco do mainstream sobre os salários baixos. No Sábado passado no Dinheiro Vivo podia ler-se em "Um país viciado em salários baixos":
"posso também afirmar que o nosso país é viciado em salários baixos. [Moi ici: Acho a afirmação incorrecta e injusta. As empresas no terreno só fazem o que lhes permitem fazer, se não fazem mais é porque não são obrigadas a isso, se não fazem mais é porque não sabem] Estamos todos acomodados a níveis de remuneração ridículos face ao potencial de criação de riqueza: as empresas estão acomodadas, [Moi ici: As empresas, como os outros seres vivos, estão sujeitas às pressões evolutivas, um bailado entre os factores internos e externos. Recordo, a economia é uma continuação da biologia. Se as condições externas o permitirem, podemos encontrar "crocodilos" que já existiam antes dos dinossauros e ainda cá estão, se as condições externas o permitirem as empresas não sentem pressão para evoluir, praticam exploitation e nenhuma exploration.] o Estado idem aspas e os trabalhadores também.
...
A verdade é que com o nível atual de criação de riqueza a margem para aumentar os salários é diminuta. 
...
A solução não passa por aumentar salários à custa dos lucros de hoje - até porque ninguém nos garante que esses lucros se mantenham no futuro. O desafio passa por aumentar de forma sustentável a geração de riqueza, aproveitando todo o potencial que possuímos. E isso não se consegue com decretos (do governo), greves (dos sindicatos) e oportunismo (das empresas).
...
Consegue-se, sim, com mais produtividade dos serviços públicos e maior competitividade das empresas. [Moi ici: A maior contribuição do Estado para o aumento da produtividade, e esta é uma opinião completamente fora do mainstream, passaria pelo fim dos apoios estúpidos que se limitam a subsidiar os custos de operação de empresas que de outra forma morreriam. Por exemplo, quando uma empresa recebe um apoio por dar formação aos seus trabalhadores essa formação na maioria das vezes é para apoiar a estrutura de custos da empresa. Há outros apoios ainda mais estúpidos, "No país do Chapeleiro Louco". A maior contribuição do Estado seria "deixar as empresas morrer". Claro que deixar as empresas morrer pressupõe criar as condições para que outro tipo de empresas apareça, aquilo a que chamo a receita irlandesa. Não criar estas condições e pressionar as empresas existentes a subirem para níveos de produtividade que nunca conseguirão atingir é suicídio tipico da mentalidade socialista]
...
Por outro lado, às empresas pede-se que sejam mais eficazes, acrescentando mais valor aos produtos e serviços que vendem, [Moi ici: Não esqueçam esta frase acabada de sublinhar. Olhem primeiro para a figura abaixo. Acham que conseguimos dar o salto que é preciso, na produtividade agregada do país, acrescentando mais valor aos produtos e serviços que já vendemos? Reparem neste título "Subida de salários superior à produtividade retira competitividade às empresas" retirado da capa do semanário Vida Económica da passada semana (imagem abaixo). Acham que o sector do calçado não tem trabalhado para acrescentar mais valor aos produtos e serviços que vendem? Claro que o têm feito e bem, não sei se alguém conseguiria fazer melhor. Agora pensem no preço máximo que estariam dispostos a dar por um par de sapatos de couro? E aí chegamos ao tecto de vidro da produtividade portuguesa. De vidro porque ninguém fala dele, não faz parte do mainstream. O problema não são as empresas que já existem e que dão o seu melhor para lidar com o ambiente. O problema são os mastins de Baskerville!!! O problema são as empresas que faltam, que não estão presentes no mercado. O problema são as empresas que se seguem na pirâmide dos Flying Geese não estarem por cá] assegurando níveis de produtividade que tirem partido efetivo da evolução tecnológica e, last but not least, adotando estratégias de marketing que conduzam à criação de marcas internacionalmente fortes."


 

Em Depois do hype: O mastim dos Baskerville! recordo as palavras de Ferreira do Amaral ... como é possível?

A sério, gostava que alguém fizesse um traçado com uma corda oferecida por Ariadne que mostrasse como é que com as empresas existentes seria possível fazer a transição.

BTW, como é que começam os bons livros sobre "pricing"? O preço não tem nada a ver com os custos, mas com o valor para o cliente-alvo.

Uma empresa em particular tem de pensar: quem são os meus clientes-alvo? O que é valor para eles? Quanto é que estão dispostos a pagar pela entrega dos meios que permitem ao cliente criar e percepcionar esse valor na sua vida? Qual é a dimensão potencial do mercado? Esse preço e esse volume sustentam que tipo de empresa e com que dimensão?

terça-feira, maio 16, 2023

Acerca de custos de oportunidade

Volta e meia aqui no blogue recordo as tontices de Paulo Portas e muitos outros que querem substituir importações por produção nacional, como o bicicletas.

A explicação do problema da substituição das importações por produção nacional faço-a aqui em Live and let live (Fevereiro de 2022) e em Como se pode ser tão burro e cometer sempre os mesmos erros??? (Agosto de 2020).

Por que volto ao tema? Por causa de um artigo publicado ontem no Correio da Manhã, "País compra cada vez mais peixe e conservas lá fora":

De acordo com os dados do INE:

  • as exportações homólogas de peixe no 1º trimestre deste ano cresceram 17%, e as de conservas cresceram 20%
  • as importações homólogas de peixe no 1º trimestre deste ano cresceram 6%, e as de conservas cresceram 15%

Nunca esquecer que exportamos produtos de gama superior aos que importamos. Se ocupamos capacidade produtiva com margens baixas, não a temos para produzir gamas mais altas.

As primeiras semanas de lockdown em 2020 mostraram o quanto o peixe da gama alta vai para fora a bom preço, preço que os tugas nunca poderão suportar.

domingo, maio 14, 2023

Confundir efeito com causa (parte I)

Há dias, neste postal, Emprego, marketing e subida na escala de valor, escrevi algo que me tem martelado o cérebro:
"Parece que o ministro da Economia não percebe a pirâmide dos Flying Geese: "A questão dos salários é decisiva para o futuro dos trabalhadores e das empresas. Se tivermos salários baixos, a economia nunca se vai desenvolver. Esse problema está umbilicalmente ligado com algum esforço que tem vindo a ser feito para aumentar os salários""
Este trecho: "Se tivermos salários baixos, a economia nunca se vai desenvolver" ...

Será que ele pensa que se os salários aumentarem a economia desenvolve-se? Julgo que ele está a confundir efeito com causa. Por que a economia não se desenvolve, não evolui, os salários continuam baixos porque não há produtividade que sustente o seu aumento. Os salários baixos são mais um sintoma de uma economia subdesenvolvida do que a causa direta de sua falta de crescimento.

Qualquer empresa tem uma estratégia, mesmo que a própria gestão de topo não tenho consciência dela. Uma estratégia bem sucedida assenta num alinhamento interno. Recordo: Alinhamento das operações com a estratégia (Março de 2011).

Recordo também o tema da competitividade, uma empresa pode ser competitiva e estar a empobrecer progressivamente, Não, não pode ser uma repetição do que já se faz (Agosto de 2022).

O que acontece quando o contexto muda?
O que acontece quando se tem de aumentar a produtividade? Recordo Marn e Rosiello e Simon e Dolan e o Evangelho do Valor.
A empresa portuguesa-tipo, do sector transaccionável, não tem hipóteses se se põe a competir pela eficiência e essa é a reacção fácil e instintiva.

Subir na escala de valor implica apostar na "exploration"

Continua.

sexta-feira, maio 12, 2023

Emprego, marketing e subida na escala de valor

Ontem escrevi Momento, preço, valor, modelo de negócio e futuro sobre o quanto em Portugal se patina quando o tema é subir na escala de valor.

Ontem no JdN em "Emprego de licenciados com destruição recorde" podia-se ler:

"Num ano, desapareceram 105 mil empregos de licenciados.

...

O emprego só atingiu novo máximo no primeiro trimestre - crescendo menos do que o desemprego - por ter sido puxado por sectores como o alojamento e restauração ou a construção. Em ocupações mais qualificadas, pelo contrário, o emprego recuou.

...

nos dados mais detalhados, surgem assimetrias em função do nível de escolaridade. O emprego até cresce para menos qualificados, mas destaca-se a quebra de 6,1% entre quem tem o ensino superior. Apesar disso, o desemprego entre os licenciados não aumenta tanto (+2.7%). É que tanto na população ativa como na população total, os licenciados sofrem quebras próximas de 6%.

...

"Aquilo que temos visto é a subida dos salários de sectores menos qualificados, pelo salário mínimo e pela própria dinámica de procura de emprego do turismo, dirigida a pessoas menos qualificadas, que tem aumentado o salário. Por outro lado, os salários reais dos qualificados com formação superior, têm vindo a cair. O prémio salarial associado à escolaridade caiu para os mais jovens de forma muito significativa nos últimos anos. E um incentivo adicional à emigração". Há, segundo economista. uma "recomposição do mercado de trabalho" Torna-se mais atractivo para imigrantes não qualificados - os salários dos não qualificados estão a subir e há oportunidades de emprego -e torna-se menos atractivo para os mais qualificados".

No ECO o meu lado cínico foi despertado em "Calçado entra em 86 escolas para atrair jovens para as fábricas". Como é que o marketing abalroará a experiência que os jovens têm com os familiares que trabalham ou trabalharam no sector do calçado?

"preço médio de venda dos sapatos portugueses para os mercados internacionais ascendeu a 26,40 euros em 2022. Um crescimento de 8,7% em relação ao ano anterior"

Quanto é que aumentaram as matérias-primas e a energia? Quanto sobrou para o aumento dos salários? Quanto maior o sucesso das empresas a captarem os futuros trabalhadores para estes sectores, menos haverá para os outros sectores com mais valor acrescentado bruto.

Recordar:

  • "Falta de mão-de-obra dificulta resposta à procura crescente da produção nacional. Salário médio no setor cresceu 40% numa década, situando-se nos 871 euros em 2019" (fonte)
  • "Há empresários preocupados com o efeito do aumento do salário mínimo na competitividade na indústria portuguesa" (fonte)
Ainda de ontem:
  • "Key to artisanship is there being few artisans. Specifically, the existence of scarcity." (fonte)
Parece que o ministro da Economia não percebe a pirâmide dos Flying Geese:
"A questão dos salários é decisiva para o futuro dos trabalhadores e das empresas. Se tivermos salários baixos, a economia nunca se vai desenvolver. Esse problema está umbilicalmente ligado com algum esforço que tem vindo a ser feito para aumentar os salários", apontou Costa Silva, em resposta ao PCP, na comissão parlamentar de Economia." (fonte)


terça-feira, maio 02, 2023

Como é que ninguém fala disto?

Recordo o postal recente O que será utilizar bem os fundos comunitários?

O que será preciso para aumentar a produtividade num sector tradicional como o têxtil?

Não é preciso inventar, basta olhar para o sector têxtil alemão, sim alemão.

Recuo a 2015 e ao artigo citado em Diferenciação permite coabitação:

"Estive há tempos num congresso da indústria em Dresden [Alemanha] e quase não se falou de roupa. Falou-se sim da indústria automóvel, da aeroespacial ou da construção", nota Braz Costa, administrador do Citeve e do Centi, um centro de investigação nas áreas da nanotecnologia e dos materiais inteligentes com sede em Famalicão. Não admira por isso que o maior produtor e exportador têxtil da Europa seja a Alemanha. Não de peúgas ou de t-shirts, mas de materiais com que se fazem os painéis dos automóveis, próteses médicas, peças de motores ou asas de aviões."

Qual o salário médio de um trabalhador têxtil alemão? Em 2020 foi de 2971 euros de acordo com dados do Statista. Qual o salário médio de um trabalhador têxtil português? Em 2020 foi de 939 euros de acordo com dados do INE.

Como é que ninguém fala disto?

Cada vez mais vou-me convencendo que os fundos comunitários funcionam como algo que torna esta evolução mais, muito mais lenta.

Mais uma vez, não se chega lá trabalhando no denominador da equação da produtividade, mas no numerador.

sábado, abril 29, 2023

O que será utilizar bem os fundos comunitários?

Em julho passado escrevi aqui no blogue este postal: Por que é então uma das [regiões] mais pobres de toda a UE?

Nele voltei a usar esta imagem:

Muita gente usa indistintamente as palavras competitividade e produtividade. Fui recordado disso ao ler no semanário Vida Económica este texto "Empresas enfrentam obstáculos ao aumento da competitividade" sobre uma intervenção do presidente da AEP na Ordem dos Economistas. Confesso que não sei se a responsabilidade é do orador ou do jornalista.

Vejamos:
"A situação das empresas e da indústria, em especial no Norte do país, levanta preocupações. Há falta de competitividade e de produtividade e estamos ainda longe da convergência com as regiões mais desenvolvidas da União Europeia. As políticas públicas não têm ajudado a tornar o tecido empresarial mais competitivo
...
o PIB per capita é maior nas regiões mais competitivas, os jovens desempregados praticamente não existem e são regiões muito atraentes para os recém-formados. Portugal melhorou em termos de competitividade, mas a região Norte e Centro teve um crescimento anémico nas duas décadas antes da pandemia. [Moi ici: Ver na figura acima a imagem que ilustra a conjugação de competividade sem produtividade]
...
O problema continua a ser o mesmo, que é o da produtividade. O país está cada vez menos competitivo e atrativo, tem cada vez menos pessoas e terá dificuldade em atrair quadros de outros países."

Como se compara a produtividade entre países? Podemos acompanhar as estatísticas e analisar os resultados. E percebemos que em 25 anos a produtividade agregada do país não saiu da cepa torta.

Como se compara a competitividade entre países? O BdP usa um indicador compósito, eu prefiro comparar a evolução das taxas de crescimento das exportações.

Entre 2004 e 2019 as exportações portuguesas de bens e serviços cresceram 68%, as alemãs 60%, as italianas 45%, as francesas 38%.

Somos competitivos, mas não somos produtivos. O tal reparo que Reinert faz sobre o Uganda...

Vamos a uma segunda parte do artigo:

"Para Luis Miguel Ribeiro, as empresas são o fator principal para criarmos condições para sermos competitivos. "A criação de riqueza deve ser um desígnio nacional, não se pode continuar a viver num sistema de subsidiação. [Moi ici: Será do orador ou do jornalista? A criação de riqueza não tem sido facilitada pelo sistema de subsidiação de fundos comunitários? É isto que o orador está a dizer?]

...

Para o presidente da AEP, um outro problema é a falta de atratividade para captar mais investimento. [Moi ici: Não podia estar mais de acordo. E este é um factor mais importante, na minha opinião, para fazer aumentar a produtividade agregada do país. Não o peçam aos empresários portugueses. Recordar a lição irlandesa

...

Também se coloca a questão do que se anda a fazer, na indústria, em termos de formação e qualificação ao nível dos recursos domunitários. É preciso apostar na valorização dos recursos humanos. [Moi ici: Brincamos!!! Quantos milhões foram distribuídos ao longo dos anos para formação. Formação que acredito foi dada na esmagadora maioria dos casos. De pouco serve dar formação e esperar que a produtividade dê um salto. A formação pode contribuir para incrementos marginais de produtividade, mas não para ganhos "quânticos" como os que precisamos quando nos comparamos com a média europeia, por que isso requer outro tipo de empresas, com outro tipo de produtos e de preços] "Este problema coloca-se com maior impacto no Norte do país, ainda que contribua com 35% para as exportações. Esta é uma região que tem sido altamente penalizada. Temos agora mais uma oportunidade que é utilizar bem os fundos comunitários, [Moi ici: O que será utilizar bem os fundos comunitários? Usá-los de forma limpa e transparente? Claro, mas e usá-los de forma eficaz? Usá-los para chegar aos tais ganhos de produtividade desejados? Como dizer aos associados que distribuir os fundos tal como têm sido distribuídos até aqui não resulta? Eheheh seria apeado em três tempos. Qualquer coisa em torno de "It is difficult to get a man to understand something, when his salary depends upon his not understanding it". Fundos comunitários atribuidos e usados de forma limpa, transparente e honesta acabam por servir de apoio à competitividade como tão bem explicou Spender] no sentido de uma maior coesão territorial. São grandes desafios que se colocam. Ainda vai demorar algum tempo para a situação se altere, mesmo com algum otimismo", concluiu Luís Miguel Ribeiro."

Repito-me ... Zombies, produtividade e subsídios


terça-feira, abril 25, 2023

Conversa de académico

"Perante isto, a minha expectativa é que vamos manter algum consumo e as exportações continuarão a crescer razoavelmente bem. A actual política monetária vai afectar as famílias mas de um modo geral eu penso que podemos sobreviver. Precisamos de sair para uma economia diferente.[Moi ici: Sim, concordo, precisamos de uma economia diferente. No entanto, como é que se consegue isso sem deixar morrer as empresas da economia de baixa produtividade?]

O que é que defende para se conseguir essa saída diferente?

Os empresários portugueses têm que ter uma noção muito clara que têm que investir em valor acrescentado por unidade de posto de trabalho. [Moi ici: Recordo Maliranta e Nassim Taleb em Deixar a produtividade aumentar] Porque só assim é que conseguem remunerar bem o trabalhador. Qual é a diferença entre um café no centro de Lisboa ou na Praça de São Marcos, em Veneza? O café é igual, mas lá paga-se cinco euros porque se consome um enorme intangível, [Moi ici: Eheheheh! Baboseiras!!! Paga-se 5 euros pela mesma razão que um motorista de autocarros tuga sai de Portugal e vai para a Suécia conduzir autocarros e recebe 4 ou 5 vezes mais por fazer o mesmo, ou um barbeiro tuga sai de Portugal e vai para Londres ganhar 5 ou 6 vezes mais. Como escreve Reinert "Why is the real wage of a bus driver in Frankfurt sixteen times higher than the real wage of an equally efficient bus driver in Nigeria, as the World Bank recently calculated? I set out to find an answer, and this book is the result." Ver citação abaixo] além de que nós ainda não temos marca. É esse valor acrescentado por posto de trabalho que depois permite remunerar bem. Alguns sectores conseguiram, como o tecnológico, o calçado, o vinho.[Moi ici: Eheheheh! A sério?! Produtividade é uma coisa, competitividade é outra. Pode-se ser competitivo sem ser produtivo. Recordo o Uganda. Acerca do vinho recordo Subir na escala de valor. Acerca das tecnológicas recordo "É só fazer as contas!". E sobre o calçado, volto a Reinert e à cidade de St. Louis, "The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!"]

O que defende é sempre um trabalho em valor. O tecido empresarial português ainda olha mais para o volume em detrimento do valor?

De um modo geral, sim. Olho para a economia portuguesa e o que vejo é que o valor acrescentado, nomeadamente nas nossas exportações, não é o que poderia ser. Se todos os sectores fossem exportadores de elevado valor acrescentado por unidade produzida ou trabalho criado. Mas há bons nichos e esses sectores deviam ser estimulados. Devia-se estimular a escala das empresas." [Moi ici: Acreditar que são as empresas nos sectores existentes mas maiores que resolvem a baixa produtividade é ... desesperante. Não é isso que nos conta a experiência irlandesa e os flying geese]

Eis o que escreveu Erik Reinert em "How Rich Countries Got Rich . . . and Why Poor Countries Stay Poor":

"Rising wages and inflation made it very profitable to substitute capital for labour. Higher real wages came back as increased demand and consequently created more jobs, while the very same increasing wages also gave incentives for new mechanization, which created new productivity increases, which again increased wages, all in an ever increasing spiral of increasing welfare. People employed in sectors with little productivity increase, such as barbers, got richer by increasing their prices in step with increasing industrial wages. Even if the barbers have experienced relatively little productivity increase, barbers in rich countries could improve their welfare dramatically compared to their equally productive counterparts in poorer countries. In other words, wage increases in the service sector rode on the wave of the productivity increase of the industrial sector. The real wages of a barber became dependent on who he shared a labour market with, not on his own efficiency. Based on these mechanisms, wages in the richest and poorest countries thus went from a ratio of 1 to 2 to one of 1 to 16 over time. Barbers who had no manufacturing in their labour markets stayed poor."

Trecho inicial retirado de entrevista com João Duque no número de Fevereiro deste ano da Executive Digest.

segunda-feira, abril 17, 2023

Há falta de trabalhadores?

"The conventional wisdom in retail and other low-margin service industries has been that bad frontline jobs - with low pay, unpredictable schedules, and few opportunities for advancement are necessary to compete. Yet for decades a handful of companies - including Costco and QuikTrip in the United States and Mercadona in Spain - have been proving that false. They remain market leaders in their very competitive industries without the bad jobs on which those industries supposedly depend - and it's no secret how they do it: by adopting "good jobs" systems. Meanwhile, in a tight labor market, organizations with bad jobs are finding it hard to stay open because they can't attract and retain workers.
If good jobs can make companies more competitive, more resilient, and more humane, why don't more companies create them? I see doubt, fear, and a lack of imagination - which stem from misguided views of the value of frontline workers, how to make business decisions, and the risks of system change as the reasons. 
In my earlier work I have found that companies that continually improve the value and service offered to their customers and the productivity of their employees operate in a system with two key-and mutually dependent-components: (1) A heavy investment in people, in the form of higher-than-market pay, better-than-usual benefits, predictable schedules, full-time jobs whenever possible, and clearly described opportunities for advancement; and (2) an operational model that helps those workers be more productive and serve customers better. The system includes (a) identifying the value proposition and simplifying operations to eliminate wasteful and low-value-added activities, respect workers' time, and enable employees to serve customers well; (b) standardizing processes when that makes sense and empowering employees to help customers, improve their work, and manage customer flow; (c) cross-training employees to perform both customer-facing and noncustomer-facing tasks in an area they own; and (d) staffing units with enough people to handle unexpected surges ant allow time for developing employees and improving work. Companies with a good-jobs system have high customer satisfaction and loyalty, superior productivity, low employee turnover, and greater resilience. Those that rely on bad jobs risk falling-or have already fallen -into a vicious circle of high turnover, poor operational execution, customer dissatisfaction, low unit sales and profits, and vulnerability to a better-run competitor."

O autor chama a atenção para quatro falsas ortodoxias que impedem muitas empresas de criar "good jobs" systems:

  1. Our business model won't support higher investment in people. 
  2. We can't trust frontline employees.
  3. Our financial analysis shows the investment won't pay off.
  4. Implementing system change is too risky.
Trechos retirados de "The Obstacles to Creating Good Jobs" de Zeynep Ton e publicado no número de Maio-Junho de 2023 da HBR.
  1.  

sábado, abril 01, 2023

Por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata? (Parte II)

Recordo daqui:

"Escrevi aqui algures que um dia seríamos (os nossos descendentes) todos tratados como Figos." 

Continuando Por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata? 

"When tight labor markets last, the adaptations that employers make to reel new workers in and hold on to the ones they have work to the employees' advantage. Wages, benefits, working conditions, investments in training, and options for upward mobility increase and the doors to opportunity open a bit wider than usual. These are not charity acts and while they grow when public benefits like unemployment insurance enable workers to look a bit longer for a better opportunity, they emerge without those buffers just because demand for workers has outstripped the supply. Firms have no choice: they cannot attract labor if they don't offer competitive conditions. Once in place, those benefits are hardthough not impossible-to shake.

...

Employers and intermediary organizations make use of similar strategies in cultivating workers on the margins for opportunities that are going begging in tight labor markets. But for small employers, the training functions, the monitoring required to keep people "in line," and the cultivation of opportunities for upward mobility can be too arduous. This is why these small businesses find intermediaries so important when sourcing unfamiliar workers. Larger employers appreciate the chance to outsource training in soft skills among the hard-to-employ.

...

Arguably, the most interesting feature of intermediary work is the ability to pressure employers to boost job quality. Intermediaries can—and do—make more effort to find good workers for employers who are raising wages and providing benefits. They sideline hiring managers who are fishing to fill low-quality jobs. This is a form of collective bargaining, one that worker-focused intermediary organizations are excited to engage because they can deliver greater economic opportunity to their trainees.

...

people with damaged biographies whether from long periods of unemployment or drug addiction--face steep odds against finding good jobs. But in tight labor markets, they are more likely to find work of some kind, because the demand is there and the supply is not, or at least not in as plentiful quantities as employers need. 

...

The same forces that drive tight labor markets—principally economic growth—also spur an ever-escalating cost of living."

Trechos retirados de "Moving the Needle" de Katherine S. Newman.

sábado, março 25, 2023

Por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata?

Volta e meia oiço, ou leio, líderes associativos a pedirem paletes de mão de obra estrangeira barata para resolverem o seu problema.

Qual o impacte da política de imigração de Trump nos salários dos americanos mais pobres?

Qual o impacte de um mercado laboral apertado nos salários dos trabalhadores?

"Given that inadequate employment plays such a powerful role in theories of poverty, it is surprising how little research has been done on whether, or to what extent, tight labor markets reverse these trajectories. Only recently have scholars turned their attention to the impact of tight labor markets on inequality, offering insight into how very tight labor markets have the potential to substantially close the Black-white wage, income, and unemployment gaps. If persistent unemployment or low earnings are indeed the root of most poverty problems, then truly tight labor markets that last long enough to reach those at the bottom of the economic ladder should change the equation in two ways. First, low unemployment should catalyze competition among employers to attract workers, driving them to improve job quality—including raising wages for workers on the bottom rungs. Second, low unemployment should draw jobless workers off the sidelines, transforming applicants with little formal education or employment experience into viable job candidates.

These benefits should flow into the other domains tied to poverty. As hiring managers are forced to look further afield for workers, the stigma attached to having a criminal record, especially a nonviolent one, should be less of a barrier. In theory, when men can claim steady salaries, young women have more choices in the partnership “market.” Tight labor markets provide women with more options as well, including raising children on their own in more economically secure households. As unemployment declines, neighborhood peace should be easier to secure since economic security begets residential stability, which increases social capital and peaceful streets.

...

we explore the gains that can accrue for people living in poverty when labor is scarce and jobs are going begging.

...

Poor workers are instead marked—by race, criminal records, or past unemployment—in ways that are often stigmatized by employers. Our research shows that these qualitative distinctions mean that these workers are categorically excluded from work opportunities until the labor market becomes especially tight, around 4 percent unemployment, at which point opportunities open up."

Interessante, sempre pensei isto e sempre considerei os pedidos de paletes de mão de obra estrangeira barata uma forma de manter os salários baixos. Uma forma de reduzir o imperativo desubir na escala de valor, para que a produtividade acrescida permita pagar os salários crescentes.

Trechos retirados de "Moving the Needle" de Katherine S. Newman.

sexta-feira, fevereiro 17, 2023

"Tudo depende do valor (relativo) por que se vendem"

"Não querendo ser redutor, a produtividade - especialmente ao nível empresarial - não está no quanto se produz, mas antes no valor do que se produz. Servir cafés à mesa não tem necessariamente menor produtividade que fabricar BMW. Tudo depende do valor (relativo) por que se vendem [Moi ici: Tão raro encontrar este apelo à aposta no numerador da equação da produtividade] cafés à mesa. Simplisticamente, é uma questão de modelo de negócio! Talvez seja porque em Portugal se dá pouca atenção ao modelo de negócio - i.e. o valor do que se produz - que a mão de obra mais qualificada procura oportunidades na emigração. A nossa sina parece ser a falta de um tecido empresarial que valorize as competências da nova geração, tida como a mais bem formada. [Moi ici: Não sei se será a melhor maneira de colocar o tema. As empresas não existem para dar trabalho, as empresas dão trabalho como instrumento para ganhar dinheiro. O ponto é mais a dificuldade, ou a não necessidade de subir na escala de valor (satisficing) para sobreviver. Só a aposta na subida na escala de valor traz como consequência o recurso a gente com mais competência. Não para fazer caridade, mas por puro interesse próprio] Se a maior realização é encontrada no estrangeiro, o sistema educativo fez um bom serviço. Não há como o negar A questão central talvez seja outra, relacionada com avarias noutros "elevadores sociais" de origem nacional."

Trecho retirado do artigo "Elevadores nacionais" de Álvaro Nascimento e publicado ontem no JdN.

sábado, dezembro 17, 2022

"The solution is not to reduce your prices; it’s to increase the value that you provide"

"A word of caution: not everybody is going to be willing to pay what you are worth. That doesn't mean you should lower your prices; that means you are niching correctly! The goal is to find the smaller segment of the market that will pay the higher prices because they also understand the value of the service or product you provide.

...

“Of course, you’ll eventually hit a point where people—even your biggest supporters—won’t continue paying more. At that point, you’ll fail to convert because (at least for most of us) whatever we do is not something people will pay literally any amount of money for. There’s always a point of diminishing returns.

It’s at this point that many entrepreneurs make a critical mistake. The solution is not to reduce your prices; it’s to increase the value that you provide.[Moi ici: Nunca esquecer este "truque", daí o meu milenar conselho: Subir na escala de valor (parte II), trabalhar os underserved]

... 

This is all just about perceived value and math, and that math is tied to time. Time is fleeting and, without trying to get too dark, we’re all going to die. So the most precious resource we have is time, and that’s what we’re all selling, ultimately.”

Recordando Schumpeter, o futuro tem um custo. Se não o incorporamos agora, nunca o teremos. 

Trechos retirados de "Niching Up: The Narrower the Market, the Bigger the Prize" de Chris Dreyer.

segunda-feira, dezembro 05, 2022

Estão todos de acordo?

Na passada terça-feira, enquanto viajava de comboio, vi a capa do JdN do dia e li o artigo "Calçado recebe investimento de 600 milhões até 2030". Depois, saquei da aplicação de Notas do computador e escrevi de rajada:

Subir na escala de valor, anichar. São conselhos que dou às PMEs quase desde o início deste blogue. Uma PME não pode competir pelo preço mais baixo. Assim, a subida na escala de valor permite encontrar um nicho onde uma empresa pode viver e prosperar sem precisar de ser gigante. A PME tipo não tem capital e organização, nem mentalidade para a competição séria pelo preço.

Eu, consultor, posso explicar a uma empresa que vai ter de encolher, que vai ter de trabalhar diferentes clientes e vender com base numa vantagem competitiva diferente. Eu não lhes posso mentir e dizer que podem ter o negócio actual e, ao mesmo tempo, criar um negócio à parte para trabalhar o nicho. Não há recursos. Quando discutimos estes tópicos falamos olhos nos olhos e, muitas vezes, o empresário não arrisca. Tem medo! (E quem não tem medo? Só os irresponsáveis não têm medo de uma revolução como esta). O meu ponto neste parágrafo é que lhe é dita qual é a opção e quais as suas consequências para o modelo de negócio actual. Não há nem paninhos quentes nem ilusionismo.

Quando vejo uma associação empresarial a publicar um documento estratégico a dizer que o futuro é o nicho do luxo fico com dúvidas. Será que é correcto uma associação trabalhar e usar os recursos da associação para privilegiar uma estratégia que só é útil para uma parte dos seus associados. Isto sem dizer olhos nos olhos quais as implicações para as empresas quanto à dimensão, mercado, proposta de valor, vantagens competitivas e clientes-alvo.

Guardei isto e não lhe voltei a pegar, mas o texto ficou a remoer na minha mente. Porquê? Por causa das críticas que costumo fazer aos líderes de associações empresariais que exercem o cargo para defenderem o passado, não para levar o sector a abraçar o futuro. Por exemplo, em E não tem mais nada para dizer?

Guardei porque fiquei a pensar que ser líder associativo é ser preso por ter cão ou não ter. 

Ontem, ao procurar uma coisa aqui no blogue dei de caras com este texto de 2018, Tanta coisa que me passa pela cabeça... 

Por que acabei por ir buscar o texto às Notas? Por causa de uns trechos que li no Sábado passado no livro "Step Up, Step Back: How to Really Deliver Strategic Change in Your Organization":

"The first ask of leaders when kicking off a new strategy or change - and the first way in which leaders need to step up and do more is for them to clearly tell the organization what they want.

Starting by explaining what the change should deliver and why it is needed sounds obvious, but too often gets short-changed by leaders too eager to 'just get on with it'

...

Explain why it's necessary and how it fits 

Next, leaders need to create a credible narrative for the change. A narrative understand what the future might look like. When kicking off a strategic is a story that links the past and the present and, in that context, helps us strategy why now. That's critical if people are to understand what's driving the change, leaders need to talk about why this new strategy is needed - and if they are to get a sense of urgency as to why this is now a priority for and - a context that can help them decide how to deliver it the business.

...

When leaders explain a new strategy in the context of the past, it enables managers to understand how this new strategy links with what has gone before. This is important because, other than in a brand-new business, a new strategy will typically be announced a against a backdrop of existing work. By understanding how the new strategy fits with what's gone before, managers can work i.e. the out which of their existing initiatives they will be able to keep and which ones that fit with, and may help deliver, the new strategy the parts they can stop. Knowing the parts of their existing work that can be stopped is critical if bandwidth iS to be freed up, with which to give new strategy the time and focus it needs"

Fiquei a pensar se as consequências deste "choque estratégico" foram percebidas por todos os associados. Estarão todos de acordo? Não houve discordâncias? E começo a recordar um texto de Peter Drucker que li há muitos anos sobre uma reunião numa empresa grande americana. O CEO apresentou uma proposta que ele considerava ser crítica e disruptiva. Apresentou-a e toda a gente votou a favor dela. Ele ficou incomodado e retirou a proposta dizendo. Se estão todos de acordo é porque não a perceberam. Peço que a revejam e voltamos a discuti-la na próxima reunião.

segunda-feira, outubro 17, 2022

Falta mão de obra?

Sim, eu sei que a emigração rouba mão-de-obra.

Sim, eu sei que existe imigração.

Sim, eu sei que existe competição entre sectores económicos.

Julgo que este artigo ajuda a ilustrar o que se pode estar a passar, da próxima vez que ouvirem empregadores a dizer que falta mão de obra:

"Carolina Reyes was surprised when she heard that an assistant teacher at her child care center in suburban Maryland was quitting for a job cleaning high school classrooms. The hours — 6 p.m. to midnight — seemed crummy. And the work hardly seemed more satisfying.

But then Reyes, who owns the center, heard about the salary — $24 per hour, compared with the $15 she was able to offer.

The worker was only one of several Reyes lost recently — part of a national exodus from the child care profession. The shortage is contributing to a crisis for parents, as child care providers close their doors or limit enrollment in response to a labor market in which they cannot compete.

There are 100,000 fewer child care workers than there were before the coronavirus pandemic, according to the Bureau of Labor Statistics. Even as private-sector employment fully rebounded over the summer from the job losses caused by COVID-19, the child care sector shrank and was 9.7% smaller last month than it was in February 2020, federal data shows.

Program directors point to a few explanations for the shortage: competition from other sectors, as well as regulations — including license requirements, vaccine and masking rules — that could dim the enthusiasm of some job candidates.

The typical American child care worker earns about $13 per hour, and many earn just above minimum wage. Last year, 29% were so poor that they experienced food insecurity, according to a survey conducted by researchers at the University of Oregon.

Positions stocking shelves at Target, ringing up groceries at Trader Joe’s, and packing and loading boxes at Amazon warehouses now often pay more than jobs in child care programs in many parts of the country. Working at a nail salon or managing pharmacy benefits over the phone can also lead to higher earnings."

Se falta mão de obra é porque há quem pague mais por ela. Se não dá para pagar por ela, talvez seja uma mensagem do mercado a dizer que o negócio não tem pernas para andar, talvez seja de desviar os recursos para outro empreendimento.

Trecho retirado de "Why You Can't Find Child Care: 100,000 Workers Are Missing" do New Yor Times  

segunda-feira, outubro 03, 2022

A brutal realidade de uma foto

Imaginem uma empresa sujeita ao aumento dos custos. Os aumentos podem ser mais rápidos do que a capacidade de criar valor para os suportar. Por exemplo, no caderno de Economia do semanário Expresso da passada semana, no artigo, "Gerir quando quase tudo É "volátil" e "imprevisível"", encontramos este trecho:

"Já em 2022, quando o custo do aço inoxidável aumentou 300%, voltaram a pensar na Herdmar o mesmo mas, mais uma vez, "felizmente, não se verificou". Mas, desde junho, quando terminou o contrato de preço fixo de eletricidade que tinham, a fatura aumentou 500% face ao que pagavam no início do ano, mesmo com os sistemas de produção em autoconsumo que instalaram em 2021."

Agora olhem para a foto que ilustra o artigo, uma foto da Herdmar:


Espero que a foto seja uma montagem artística e não um apanhado do quotidiano da Herdmar. Imaginem os minutos humanos incorporados na manufactura daquela colher, segundo a foto. Quantas colheres são produzidas por aquele humano por mês? Quanto valor é gerado por essa quantidade mensal de colheres?  Quanto desse valor sobra, depois de pagar matérias primas e consumíveis, para pagar salários e o custo do futuro?

Agora reparem como é o pensamento do mainstream em Portugal (no mesmo artigo):
"Por isso é que o economista Leonardo Costa diz que a prioridade do Governo devia ser o aumento da produtividade, a retenção da mão de obra qualificada no país e a melhoria da gestão nas PME, onde "há chefias que têm menos qualificações que os seus trabalhadores", comenta."

Portanto, o aumento da produtividade que o país precisa será obtido à custa da melhoria da gestão nas PMEs existentes, e para isso será fundamental a actuação do governo... 

Pois, em A amostra errada mostro como essa ideia está errada. A única actuação que vejo para o governo é a de criar condições para que empresas de outro campeonato encontrem interesse em vir instalar-se na Sildávia do Ocidente. Não cabe aos governos guiar as empresas no aumento da produtividade, ou na melhoria da gestão, não cabe aos governos escolher vencedores. Deixem as empresas morrer!!! 

Tanta gente precisava de ter esta citação afixada no local de trabalho:

BTW, olhem para os governos que temos tido... acham mesmo que são um exemplo de gestão? TAP, EFACEC, BES, ...

domingo, outubro 02, 2022

A amostra errada

Em Janeiro passado escrevi, Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas. Empresas com elevados níveis de produtividade, empresas com margens que permitem pagar muito melhores salários, têm o mundo para escolher onde se devem localizar.

Em Julho passado escrevi, Depois do hype: O mastim dos Baskerville! onde escrevi:

"Deixem os empresários que estão a trabalhar em paz. Saúdem o seu esforço. Concentrem-se no que chamo o mastim dos Baskerville. Concentrem-se nas empresas e nos empresários que não existem. As melhorias de produtividade que o país precisa dependem das empresas e dos empresários que não existem."

Recordo isto por causa de um texto no último caderno de Economia do Expresso, "Confiança na política fiscal desce para mínimos", onde encontro esta figura:

Pensem na diferença abismal entre os níveis médios de produtividade de Portugal e da União Europeia ... pensam que vai ser colmatada pelas empresas existentes? Pensam que são os incumbentes, craques na obtenção de subsídios e apoios do governo de turno, que vão fazer essa viagem? Não é que eles não queiram, não sabem. Recordar, os macacos não voam.

Portanto, podem fazer todos os inquéritos que quiserem, mas esquecem-se de uma coisa, estão a inquirir a amostra errada.




 

sábado, outubro 01, 2022

O retrato (parte III)


Resultados financeiros decorrem da capacidade de criar, capturar e extrair valor. Recuo a 2008 a Larreché em A originação de valor (parte I)

Imaginem o salário mínimo subir para 2000 euros por mês. 
O que é que isso significaria? Para muitas empresas significaria o fim, ponto. Por mais eficientes que sejam, ou passem a ser, nunca conseguiriam extrair e capturar valor suficiente para serem rentáveis. Por isso é que Taleb fala da incapacidade das empresas subiram na escala de valor quando chegamos a este patamar de exigência:
"Systems don’t learn because people learn individually – that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game"
Por isso, é que a resposta é a The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!

Não se pode capturar nem extrair mais valor do que aquele que se pode criar. Let this phrase sink in. ⚓

Assim, a primeira preocupação deve ser a criação de valor. Para termos uma empresa sustentável, uma empresa capaz de pagar os seus custos, investir no futuro e remunerar os accionistas quanto precisamos facturar. Quantas unidades temos de produzir a que preço médio? Que cenários são razoáveis?

Que tipos de clientes querem os nossos produtos que podem ser vendidos na gama dos preços que precisamos? Que tipos de construção, que quantidades, como podemos chegar até eles, ou eles a nós? 

Aqui talvez faça sentido uma regra simples para, logo num primeiro contacto contacto, evitar o investimento de tempo em projectos que nunca darão retorno positivo: quantidade vs preço vs construção vs prazo de entrega e eventualmente altura do ano (altura com menos trabalho pode levar a praticar preços mais baixo?)

A seguir: 
  • Como capturar mais valor?
  • Como extrair mais valor?