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segunda-feira, fevereiro 05, 2024

Por que motivo protestam os agricultores?

O que é que aconteceu na Europa nos últimos dois/três anos?

Um aumento generalizado de preços, um aumento do custo de vida e dos factores de produção, um aumento de exigências "woke-like" por parte da União Europeia.

Acabo de ler "Por que motivo protestam os agricultores?", o autor responde:

  • Redução dos preços agrícolas
  • Dependência de subsídios
  • Aumento das exigências regulamentares
  • Ineficiências e atrasos nos pagamentos
  • Desejo de produzir com menos burocracia
  • Necessidade de infraestruturas para aproveitamento de água
  • Combate aos oligopólios na distribuição
Quem sou eu? Um anónimo da província que acrescenta uma outra razão, muito mais profunda, fruto da aprendizagem com a leitura de "The Visionary Realism of German Economics: From the Thirty Years' War to the Cold War" de Erik S. Reinert.

Lei dos Rendimentos Decrescentes na Agricultura
Na agricultura, a Lei dos Rendimentos Decrescentes é frequentemente observada. Isso significa que adicionar mais recursos (como trabalho ou capital) a uma quantidade fixa de terra agrícola eventualmente leva a rendimentos menores. Por exemplo, continuamente adicionar mais fertilizantes ou trabalhadores a um campo não continuará a aumentar a produção de forma proporcional. E quando o aumento do custo de vida é muito rápido a realidade manifesta-se em toda a sua crueza.

terça-feira, abril 11, 2023

Os culpados são os outros

"A falta de competitividade, de tecnologia, de trabalhadores qualificados e o excesso de legislação são os principais obstáculos para o crescimento da agricultura portuguesa. O problema não é a falta de dinheiro, mas sim a escassez de visão e de capacidade para utilizar os recursos disponíveis, alerta a Confederação dos Agricultores de Portugal."

Tantos culpados, todos externos. 

Estranho, os agricultores portugueses não têm nenhuma responsabilidade no estado da agricultura portuguesa. A culpa é dos outros, aka locus de controlo externo.

Trecho retirado de "Não há um rumo para a agricultura, é um barco à deriva, alerta CAP"

No Sábado passado, a propósito deste tweet:

Escrevi:

"agora fiquei no meio da ponte. trabalhar e ter de receber ajuda é também um subsídio a uma empresa que não consegue gerar riqueza suficiente para pagar aos seus trabalhadores. talvez seja um sinal de que a empresa precisa de mudar de vida ou fechar"

Uma pessoa que trabalha e é apoiada é uma pessoa que não procura um emprego melhor, é um empregador que não se esforça para aumentar a rentabilidade do negócio, é um outro empregador capaz e disposto a pagar mais que não encontra trabalhadores. Mas afinal o país que se queixa da baixa produtividade está cheio de exemplos do que dificulta a subida na escala de valor, e o aumento da produtividade. Empresas e sectores pouco produtivos são apoiados para manterem o perfil de produção actual e os modelos de negócios obsoletos. Como não recordar Spender e o seu trabalho dos anos 80:

sábado, agosto 27, 2022

Tanta estupefacção, tantas questões ...


Não há maneira desta aberração sair da minha cabeça este Verão, "Norte da Europa vive à custa da agricultura intensiva portuguesa". Um produto típico do ecossistema coordenado pelos Desventuras e Zés Reis da academiade Coimbra.

Este texto gera-me tanta estupefacção, tantas questões. Vamos à primeira:

  • O sentimento de locus de controlo no exterior
Há anos que milito contra a floresta intensiva, por isso, fui fundador da Quercus (outra Quercus mais ingénua e ligada à Natureza e não o actual lobby político), contra a agricultura intensiva (basta pesquisar aqui no blogue o que escrevi acerca do azeite, das amêndoas, da agricultura de joalharia... até o que escrevi acerca de Jaime Silva, ministro da Agricultura de Sócrates e detestado por todos, a começar pelos socialistas, mas defendido aqui: Ter razão antes do mainstream é tramado. Recordo o que escrevi aqui acerca da destruição da marca Portugal no que à agricultura diz respeito, com a construção do Mar de Plástico do lado de cá da fronteira. Ver A marca Portugal.

O meu ponto aqui é: as asneiras são nossas.

A académica posiciona o problema como se fôssemos escravos sem vontade própria, obrigados pelos orcs do Norte da Europa a produzir estes produtos. 

Não! Nós é que somos os responsáveis por destruir a nossa terra, por abastardar a marca Portugal -Todos vão perder - A má moeda expulsa a boa moeda

Ter o locus de controlo no exterior é típico das so-called elites tugas. Nunca é nada com elas, é sempre culpa dos outros. Assim, nunca precisam de fazer um acto de contricção. No entanto, assim, nunca aprendem com os erros que cometemos como sociedade. Há sempre um Passos a quem atribuir as culpas.

quarta-feira, junho 08, 2022

Pensamento mágico



Voltamos à campanha do trigo do tempo de Salazar? Que solos e que clima tem Portugal? Então, com o aquecimento global recomendam a aposta em culturas de sequeiro?

Pensamento estratégico requer constância de propósito. Que reflexão estratégica da parte de um agricultor poderia resultar no desafio de produzir cereais? Economicamente não faz qualquer sentido!

Como refere José Martino:
"A estratégia de Portugal tem de passar por promover a exportação das produções hortofrutícolas, produtos de qualidade DOP e IGP; produtos biológicos, vinho, azeite, etc., atividades onde há sustentabilidade, e utilizar a mais valia gerada para fazer face ao incremento do valor do trigo no mercado internacional. Tenho a certeza absoluta que esta é a estratégia que sai mais barata a Portugal e a que defende os superiors interesses dos portugueses."




sábado, setembro 25, 2021

Contrarian!


"Tudo está a mudar e nós também precisamos de mudar e é nos períodos de dificuldades que devemos apostar em sermos diferentes"

Nope! 

É nos períodos de facilidades que devemos apostar em sermos diferentes. É nesses períodos que temos mais flexibilidade para falhar. Fazer experiências em períodos de dificuldade é arriscar tudo. A boa lição dos estóicos: aposta só o que podes perder na totalidade sem pôr em causa o teu empreendimento

""Numa feira deste género tem de haver um esforço da comunidade empresarial para garantir uma boa representação que dignifique a indústria. As pessoas têm que se saber reinventar, com stands mais pequenos, mas têm de estar presentes. Senão não dão força ao país nem motivação às outras empresas", defende."

Nope!

As empresas vão a uma feira para tratar da sua vida, não para representar a indústria ou o país. É como a treta dos agricultores terem de alimentar o mundo. Como escrevi aqui:

""A agricultura é a arte de produzir alimentos para a sociedade, [Moi ici: Estou farto de escrever aqui no blogue que a função do agricultor não é alimentar a sociedade, a função do agricultor é ganhar dinheiro através da prática da agricultura. A sociedade não quer saber dos agricultores, quer produtos agrícolas baratos nem que venham da Ucrânia. Por isso, o agricultor não deve ser trouxa e deve trabalhar para quem valoriza o fruto da sua actividade. Adiante]" 

Trechos retirados de "Sinais de retoma dão confiança aos industriais de calçado"

terça-feira, setembro 14, 2021

Era uma questão de tempo. Todos vão perder!

Ontem encontrei "Alemães contra agricultura intensiva boicotam fruta de estufas do Alentejo e Algarve"

Era uma questão de tempo

É a generalização do que me aconteceu "E sem intenção, e sem querer, apareceu na minha mente a decisão de pôr de lado o azeite alentejano" (Junho de 2019)

No entanto, havia uma alternativa. Nunca morri de amores por Assunção Cristas. No entanto, nunca me esqueci de um discurso que alguém lhe terá escrito(?) e que ela proferiu enquanto ministra da Agricultura. Na altura, Dezembro de 2014, escrevi este postal, "Ter razão antes do mainstream é tramado" onde escrevi:

"Ontem, li que a ministra da Agricultura disse "Cristas quer colar a Portugal o rótulo de país da "joalharia da agricultura"".

Alto e pára tudo!

Joalharia?!

Segundo a wikipédia: Joalharia é a arte de produção de jóias que envolve todos os aparatos ornamentais, tipicamente feitos com gemas e metais preciosos.

Ou seja, uma metáfora para significar que o que a agricultura produz é algo de precioso, é algo de valioso. Para ser valioso, tem de ser escasso..."

Um país pequeno não pode competir pelo preço mais baixo, não pode seguir a estratégia cancerosa das produções intensivas e super-intensivas.

Algo na linha do que aprendi em Junho de 2014 e registei neste postal "A marca de Portugal", onde citei:

"O cliente era russo. E a distinção que desejava era anti-massificação. "Vendemos hortícolas para a Rússia em que nos exigiram a colocação de uma bandeira portuguesa para não sermos confundidos com os produtos espanhóis que naquele mercado estão muito massificados""

Entretanto, o rumo da agricultura em Portugal foi outro. Avançou-se para um paraíso de culturas intensivas e super-intensivas. A nova "Galinha dos Ovos de Ouro" (Novembro de 2019).

Não é preciso ser bruxo para adivinhar onde esta abordagem nos vai levar. Escrevi sobre ela em "Todos vão perder" (Maio de 2019). 

quarta-feira, setembro 02, 2020

Mongo na agricultura

"Qual é a relevância de ter esta fábrica, em vez de, como sucedia antes, importar os materiais de Espanha e França? “A primeira razão é uma otimização logística. Há sempre capacidade industrial disponível, mas nos momentos de consumo há grande dificuldade em responder às necessidades do terreno. E depois é poder encontrar soluções à medida do país, adaptadas à realidade local. Há uma série de especificidades em termos de culturas, do momento de o fazer ou do tipo de solos, por exemplo, que em Portugal são maioritariamente ácidos”, respondeu Rui Rosa."
Recordei-me logo do exemplo da Coloplast.

Trecho retirado do JdN de ontem em "Gigante da agropecuária expande logística em Setúbal"

segunda-feira, agosto 31, 2020

Acredita que o preço é a única forma de competir?

"Not so very long ago, almonds were grown in a number of places in America and across the world. But some places are better than others for growing almonds, and as with most production contexts, there are economies of scale to consolidation. In this case, the Central Valley of California is perfect—totally perfect—for growing almonds. Consequently, over 80 percent of the world’s almonds are now produced in this one valley. This is what agricultural scientists would call a monoculture, and they are a common outcome in systems that maximize efficiency. A factory produces a single product, a single company dominates an industry, a single piece of software dominates computer systems. We remove unhelpful inefficiencies and get more productive.
.
But with that high efficiency comes an inherent vulnerability to shocks, with potentially catastrophic results: one extreme local event—a wind-swept fire, say, or a pernicious virus—could wipe out 80 percent of global almond production all at once. And there are knock-on effects. All of the almond blossoms need to be pollinated in the same narrow window of time, because all the almond trees grow in the same soil and experience the same weather. The huge volume of simultaneous pollination necessitates shipping in beehives from all over America for the short pollination window. There is an epidemic of honeybees dying in America, creating concerns about the US honeybee population’s ability to pollinate the wide variety of plants that need the bees’ busy work. One theory for the elevated honeybee mortality rates is that beehives are trucked around America for these monoculture pollinations like never before, and that this is stressful for the bees.
.
Rather than producing resilient ecosystems, our obsession with efficiency proxies is producing fragile monocultures, potentially vulnerable to catastrophic failure. No doubt the monocultures are efficient in a narrow sense, but that efficiency has a dark side."
Dois temas:
  • o risco das monoculturas; e
  • como fugir à guerra da eficiência?
Acerca do risco das monoculturas - "Quando a Xylela lá chegar vai ser rápido (parte II)"

Acerca do risco das monoculturas e de fugir à guerra da eficiência - ""E sem intenção, e sem querer, apareceu na minha mente a decisão de pôr de lado o azeite alentejano"". 

Neste texto, sobre o azeite alentejano, escrevo sobre a marca "azeite not-intensivo", como escrevo sobre Monção e Melgaço aqui sobre a marca.

Como se consegue combater quem, à custa da eficiência da monocultura, tem o preço mais baixo? Com uma marca que se diferencie. Por exemplo, Portugal em 2019 importou 801 milhões de euros de cereais e... exportou 98 milhões de euros. Como é que este país consegue exportar cereais? Então não é o preço o factor decisivo? Como é que podemos ter preço?
"Os chamados cereais btp (baixo teor de pesticidas) têm como finalidade a produção de baby food. O nosso país tem condições climatéricas e de solos que permitem a produção em condições competitivas deste tipo de cereal, que tem um valor de mercado superior ao do trigo panificável corrente. A produção nacional representa 25% das necessidades do mercado interno.
A cadeia de valor tem dois clientes principais, a Nestlé e a Danone, e a procura tem aumentado. Trigo e cevada são os principais cereais btp, com um prémio associado de +30 €/t, mas a certificação é obrigatória para comercializar junto da indústria."(fonte)
E voltando ao texto inicial sobre a produção intensiva de amêndoas? Reparar neste exemplo, "To Protect its Supply, Kind Speaks for the Bees", como as conservas de atum que ostentam a certificação quanto aos métodos de captura.


Recordo Malcolm Gladwell no seu livro extraordinário livro (adjectivo atribuido de forma consciente) "David & Goliath":
"Why has there been so much misunderstanding around that day in the Valley of Elah? On one level, the duel reveals the folly of our assumptions about power. The reason King Saul is skeptical of David's chances is that David is small and Goliath is large. Saul thinks of power in terms of physical might. He doesn't appreciate that power can come in other forms as well - in breaking rules, in substituting speed and surprise for strength. Saul is not alone in making this mistake."
A concorrência imperfeita passa por esta capacidade de quebrar as regras cristalizadas nas mentes dos incumbentes.

O preço não é a única forma de competir!

quinta-feira, fevereiro 20, 2020

O que mais ninguém lhe conta (parte II)

Parte I.

Num relatório de 2007, (infelizmente não encontro nada mais recente), intitulado "Leite e Lacticínios - Diagnóstico Sectorial, elaborado por Gabinete de Planeamento e Políticas, descobri esta figura:
Estão a imaginar o que é competir pelo preço e ter menos de 9 vacas enquanto que outros têm mais de 60?

Quando mostrei este gráfico, mostraram-me fotos de uma vacaria portuguesa com cerca de ... mil vacas.

Bodes expiatórios e sintomas

A subida do salário mínimo em Espanha está a pôr a rua em guerra com manifestações diárias dos agricultores.

Um dos bodes expiatórios que o governo rapidamente lançou nos media foi a distribuição grande. A culpa é da distribuição grande que não paga o preço justo aos agricultores.

Entretanto no jornal El Economista de 17.02.2020 encontrei um texto muito interessante que vem recordar a importância de não tentar resolver um problema sem primeiro olhar para os factos. Como se trabalha nos projectos de melhoria da qualidade: primeiro recolher, medir e analisar os sintomas.

Segundo o artigo “Los Precios En Origen” de Mariano Íñigo temos os seguintes números: Do total da produção agrícola espanhola 70% é para exportação e 30% é para o mercado interno. Primeiro choque de realidade.

Desses 30%, 20% são consumidos na indústria agroalimentar e só 10% vão parar à distribuição grande para venda aos consumidores. Portanto, acerca da culpa da distribuição grande estamos conversados.

Todos os dias, como consumidores, como cidadãos e como trabalhadores nas organizações somos comidos por quem usa estes chavões, intencionalmente ou inadvertidamente.

BTW, o autor chama a atenção para o modelo das exportações espanholas, baseado mais no preço do que na diferenciação. Recordar o que os russos pensavam delas.

segunda-feira, fevereiro 10, 2020

A lição do canadiano

Acompanho os jornais espanhóis há cerca de semana e meia (El País, ABC e El Mundo). Impressionante, todos dias um ou mais artigos sobre a situação de crise que varre a agricultura espanhola.

Aumento do salário mínimo para 950 euros, taxas alfandegárias nos Estados Unidos e abaixamento dos preços pagos pela distribuição grande estão entre os principais motivos avançados.

Ontem, no ABC encontrei "El campo mira a los Países Bajos para solucionar su crisis" e fiquei a pensar num filme que tinha visto ao princípio da tarde sobre a crise de 2008. A certa altura perguntam a um cientista nuclear porque estava a trabalhar para uma empresa financeira. Ele responde que é tudo uma questão de números. Eis alguns trechos:
"En España hay más de 3.500 cooperativas (asociaciones de agricultores que producen conjuntamente y luego se reparten el beneficio), de las cuales casi un millar son de aceite, según datos del Observatorio Socioeconómico del Cooperativismo Agroalimentario.
...
Frente a esta dispersión, hay casos como el de Holanda, un país que, para la mayoría de las fuentes consultadas, es un ejemplo de organización en el campo. Hay pocas cooperativas pero grandes. Tiene cuatro que facturan lo mismo que las 3.500 españolas. Destacan Arla y Friesland Campina, por ejemplo, que son de las que más facturan en Europa.
...
Si en España hay 3.500 cooperativas, en Dinamarca hay 28. La facturación media de una cooperativa en nuestro país es de siete millones de euros mientras que en estos países está entre 300 y 400 millones.
...
«Una estrategia de integración de la actividad agraria permite reducir costes y mejorar la rentabilidad de los agricultores en dos direcciones: actuando sobre los costes de producción a través de compras conjuntas de carburantes, fitosanitarios, abonos, maquinarias, etc. y, de otro lado, participando de los procesos de transformación y comercialización de los productos», señala Aurelio del Pino, presidente de Aces, la asociación de cadenas españolas de supermercados."
Acham mesmo que o sucesso das cooperativas holandesas se deve só à dimensão? Acham que os produtos são os mesmos? Come on!

Quando se vende um produto básico, por mais produtivo que se seja, o que vende é o preço mais baixo.

O primeiro artigo que li foi no passado dia 3 no El País, "Crisis agraria":
"Las causas de fondo están en un mercado desequilibrado que opera siempre en contra de la renta de los agricultores sin que favorezca en demasía los intereses de los consumidores. Las grandes cadenas de distribución ejercen un dominio de mercado que les permite comprar a la baja a las pequeñas y medianas empresas dedicadas a la producción agraria. Este sistema ha acabado por deprimir las rentas y contribuir, junto a políticas de ayudas públicas mal diseñadas, a la persistencia en el campo de un minifundio empresarial, obligado en ocasiones a mantenerse vendiendo a pérdidas.
.
La crisis de la agricultura en España solo tiene una respuesta: aumentar la rentabilidad de las explotaciones agrarias y equilibrar las condiciones de mercado.
...
las explotaciones agrarias españolas tienen que aumentar de tamaño para ganar en competitividad. El campo español se merece estudios de rentabilidad, favorecer la creación de más cooperativas, oportunidades de venta directa a los consumidores, planes para elevar el valor añadido de la producción y mejores condiciones de empleo para asentar la población."
Sempre que penso em subir na escala de valor na agricultura recordo um exemplo, "Agricultura com futuro" e este trecho:
""Instead of growing crops and then finding a buyer, Mr. Menzies said the farm had to start looking for customers first. The typical farm model is “backward to everything I ever did in the engineering and technology side,” he said in an interview. “We looked for a need and we filled it. And where we found that need was from the world.”"
Precisam de crescer e emparcelar terrenos? Quase de certeza.
A produzir o que já existe em excesso? Não me parece.

A tentar subverter a relação com a distribuição grande?

Esta imagem:

Retirada do ABC de ontem em "El campo español afronta la tormenta perfecta". Como não re

Entretanto, no Público de ontem podia ler-se:
"A produção de azeitona para azeite na campanha de 2019 deverá ultrapassar “as 900 mil toneladas”, “posicionando esta campanha como uma das mais produtivas dos últimos 80 anos”.
Se colocarem muitos entraves à distribuição grande ela deixa de comprar em Espanha e passa a comprar mais em Portugal.

segunda-feira, fevereiro 03, 2020

Para reflexão

"À titre de contre-exemple, il cite la Nouvelle-Zélande, un pays qu'il connaît autant qu'il affectionne. «Là-bas, ils sont parvenus à concilier, l'image, la marque et le développement durable tout en disposant de cahiers des charges très ouverts, reprend-il. En outre, ils n'oublient jamais qu'ils font du business et ne s'endorment pas. » Et d'ajouter «Aujourd'hui, l'organisation des filières agricoles en France ne nous permet pas d'avoir une vision globale. Les règlements sont de plus en plus restrictifs, alors que les enjeux mondiaux nous imposent de produire plus. Et pour produire plus, il s'agit de produire autrement. Il faut se remettre en question. J'ai parfois le sentiment qu'ici, le changement effraie. On a peur de tout en France. Le charme de notre viticulture se résume à deux phrases "On n'a jamais fait cela" et "On n'a jamais fait comme ça". Enfin, trop de gens pensent que nous pouvons régler les problèmes de qualité avec des lois, des règlements et de la lourdeur administrative. Nous voulons trop nous protéger et, à la fin, nous nous fragilisons. Nous avons besoin d'un grand débat viticole en France.» 
Trecho retirado de "Coup de colère à Chablis"

sexta-feira, janeiro 31, 2020

Em quem é que eles vão votar?

Ontem ao ler o tweet de resposta:


Fiz logo a ponte para o pensamento que me percorria enquanto lia "Lab-grown food will soon destroy farming – and save the planet".

Lembram-se da série sobre o avanço do partido de Salvini no terreno onde a esquerda operária era forte? Aqui: Curiosidade do dia - comunismo e Chega (parte III).

Leiam o artigo do Guardian, jornal conotado com o Labour, e comecem a pensar nos agricultores ingleses:
"Before long, most of our food will come neither from animals nor plants, but from unicellular life.
...
Research by the thinktank RethinkX suggests that proteins from precision fermentation will be around 10 times cheaper than animal protein by 2035. The result, it says, will be the near-complete collapse of the livestock industry.
...
RethinkX envisages an extremely rapid “death spiral” in the livestock industry.
...
Dairy farming in the United States, it claims, will be “all but bankrupt by 2030”. It believes that the American beef industry’s revenues will fall by 90% by 2035."
Em quem é que eles vão votar?

quarta-feira, janeiro 29, 2020

Fugir da race-to-the-bottom


O amigo @walternatez chamou-me a atenção para este artigo muito interessante:

Há uma frase acerca do leite que já citei aqui muitas vezes:
"Milk is the ultimate low-involvement category, and it shows. Only 10% of the international sample (in Denmark, Germany and Spain the number is less than 5%) would expect the private label version to be of a lesser quality."
Cito-a, embora não a pratique. Há muitos anos que prefiro leite dos Açores.

Outra citação deste blogue é:
"When something is commoditized, an adjacent market becomes valuable"
Como fugir à comoditização? Apostando na diferenciação. Recordo este exemplo francês do leite integral que descrevi no ano passado em "Cambão versus estratégias baseadas nos clientes-alvo".

O artigo conta uma estória sobre como fugir da race-to-the-bottom:
"“Someone said, would I please have a look at milk,” Chabanne said. “So I did. It was an
absolute disaster. Dairy farmers were desperate, losing money on every litre; prices werebeing driven down mercilessly by the big retail groups.”
Chabanne did the arithmetic: a mere eight cents (6.8p) a litre was the difference between
a milk producer going bust (or worse: the suicide rate among French dairy farmers is30% higher than in the general population) and making a decent living. [Moi ici: A distribuição grande consegue este poder negocial porque há produtores muito grandes que conseguem ganhar dinheiro mesmo com preços muito baixos. Recordo o tamanho médio das produções leiteiras em Portugal e na Europa. No texto sobre Portugal escrevi "Explorações com menos de 10 cabeças podem ser rentáveis, não podem é seguir o mesmo modelo de negócio das que praticam a produção à escala industrial."]
...
“The average French consumer buys 50 litres of milk a year,” he said. “That meant that if consumers spent just €4 more on their milk per year, the producer might actually survive. I was convinced people would be prepared to do that.”
.
His hunch has proved right. French consumers have bought 123m litres of milk labelled C’est qui le patron?! (Who’s the boss?) since its launch in November 2016, making it the fourth-biggest milk brand in France, outsold only by the most cut-price supermarket-own brands. [Moi ici: Como não recordar o tema da polarização dos mercados]
...
As with all of the cooperative’s products, neither was advertised on TV, promoted instore or pushed by a sales team. [Moi ici: Notável]
...
The basic assumption by supermarkets is that all consumers want competitively priced produce. The cheaper, the better. CQLP might have just rewritten that rule. [Moi ici: Como não recordar a ideia de que quem trabalha prefere trabalhar para uma empresa que dê sentido ao seu esforço. Como não recordar que na língua inglesa "patron", patrono, é também sinónimo de cliente regular. Aquele que patroniza]
...
In just three years, CQLP has won over nearly 11.5 million French consumers – about one in five adults. It has also boosted the incomes of more than 3,000 farmers and manufacturers, all of whom benefit from the pledge emblazoned in big, bold capitals on the brand’s packaging: “This product pays its producer a fair price.”
...
C’est qui le patron?! is “basically about consumers both taking control of what’s on our plates, and supporting producers”, he said. “There will always be people, for all kinds of reasons, for whom price matters most. But there are also more and more who feel maybe slightly guilty when they shop for food – and would like to do better.”"
Lembrei-me da estória dos pêssegos:
"A informação que o gerente me deu não devia estar escondida. A caixa de pêssegos devia ter uma foto do agricultor, um mapa da região onde foram produzidos e uma mensagem pessoal dele para os consumidores.
.
Voltando ao segundo tweet, citado lá em cima, o século XX enterrou-nos no Normalistão, encarcerou-nos num modelo mental em que só o preço conta, e só nos ensinou uma forma de fazer preços: custo mais uma margem.
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No Estranhistão, os actores económicos vão aprender que o preço não tem nada a ver com o custo e tudo a ver com o valor percepcionado pelos clientes-alvo."

sexta-feira, janeiro 10, 2020

Azeite e Trás-Os-Montes

Este blogue acompanha o tema do azeite há alguns anos. Apresento no fim uma lista não exaustiva de postais sobre a produção e comercialização de azeite.

No ano passado comecei a ter consciência plena dos impactes ambientais da produção e colheita no olival superintensivo alentejano. Assim, em Junho de 2019, sem planear, simplesmente aconteceu o que relato em "E sem intenção, e sem querer, apareceu na minha mente a decisão de pôr de lado o azeite alentejano".

No Sábado passado fui às compras ao mesmo sítio, ao mesmo corredor, onde tinha tido dificuldade de encontrar um azeite expressamente transmontano, seis meses antes (situação que descrevo na hiperligação anterior), e tive uma forte surpresa. No dia seguinte escrevi no Twitter:

Entretanto, na passada terça-feira fui a um supermercado da rede Coviran, especialista em verduras, perto de minha casa, e não resisti a trazer para experimentar, apesar da garrafa de plástico:
Entretanto, ontem ao final da tarde tive oportunidade de ler "Do market prices correspond with consumer demands? Combining market valuation and consumer utility for extra virgin olive oil quality attributes in a traditional producing country" de Petjon Ballco e Azucena Gracia, publicado por Journal of Retailing and Consumer Services.
"At the beginning of the 21st century, the law of demand in food production supplanted the law of supply. [Moi ici: Um tema interessante. O mundo muda quando a oferta é maior do que a procura, aquilo a que desde 2010 chamo "bolha azeiteira", nessa altura há que fugir da ideia de que se vende uma commodity] Agricultural organisations and the agri-food industry must adapt to consumers’ highly diversified expectations. In addition, consumers expect to be fully informed about the products they purchase. They demand healthy products that taste good and take into consideration social, ethical and environmental issues in terms of production practices and traditional production methods. Under this framework, the agro-food sector must continually seek strategic orientations to differentiate products, not only in the sense of increasing production but rather towards diversifying food supply by promoting attributes that are valued by consumers. Olive oil is an example of a product where greater differentiation has been associated with increased production and consumption worldwide.
...
preferences between consumers from the traditionally producing countries and those from the emerging markets have significantly changed. While in non-producing countries the consumption of olive oil has increased enormously from low levels, Mediterranean countries, where consumption was relatively high, are now facing a shift towards the consumption of higher quality olive oils and, more specifically, extra virgin olive oils (EVOOs). [Moi ici: O artigo cita 21 artigos publicados nos últimos 5 anos sobre preferências de consumo de azeite]
...
the results from the marginal WTP estimates indicated that, on average, consumers were willing to pay an additional price premium of 2.13€/L for an EVOO that carried the PDO certification compared to one without this indication. In the same way, participants were willing to pay an additional premium of 1.51€/L for an EVOO that was produced in the county, and 1.27€/L for an EVOO produced in the region relative to an EVOO from the rest of Spain. [Moi ici: O estudo foi feito em Saragoça]
...
The positive premium that the indication of olive variety had on price provides evidence that the EVOO sector has indeed increased in differentiation. Consumers’ knowledge has also increased, because depending on the olive variety (Arbequina, Picual, Hojiblanca) consumers can form expectations regarding the taste of the EVOO (i.e., fruity, pungent, etc.). This result is in line with Cabrera et al. (2015) who illustrated the importance given to the olive variety in Spain. In terms of container materials, results show that a plastic container was valued negatively in comparison to a glass container, which received a premium price.
...
Although there were relatively few organic olive oils in the Spanish market, results showed that this certification was an important quality cue that positively affected EVOO market prices.
...
Unexpectedly, the European PDO quality certification did not affect the market prices of EVOOs in Spain. This result is in line with previous research by Carbone et al. (2018) in Italy who found negative effects on price for olive oils with PDO, and Cabrera et al., 2015 in Spain who found no influence on price for EVOOs with PDO. Contrary to the PDO quality certification, the presence of production origin on the label had a positive influence on EVOO prices. As extensively shown by other authors, the origin of production is one of the most important aspects for many consumers of EVOOs
...
while we maintain that PDO certification is an important attribute that helps consumers differentiate the quality of an EVOO, at a regional level where the local producers are well known, this attribute does not add any value to the prices of EVOOs in the market. This result is in line with Cabrera et al. (2015) for EVOO in Spain, who showed that the local origin of production label had positive effects on prices in comparison to PDO certification which did not affect the price. In addition, this result was also highlighted by Marcoz et al. (2016), who suggested that PDO quality certification has higher value the further the consumer is from the area of production.
...
Consumer behavior for a typical product, such as an EVOO that is consumed on a regular basis, appears to be stable but, in reality, faces constant changes in differentiation. The most influential attributes in terms of utility and WTP estimates found were the origin of production (i.e., county and region) for EVOOs, and PDO quality certification. In the market, the attributes that influenced EVOO prices were labels that indicate the olive variety, organic certification, origin of production, sold in glass containers and in establishments with a high variety of leading brands.
...
those producers who want to gain competitive advantages, should not be satisfied by just offering products to the market, but should strive to create value for each customer specifically.The more distinctive and inimitable a product is, the more likely the company is to gain loyal customers. Furthermore, consumer awareness about olive variety and clear identification of production origin should encourage producers to develop new products based on single olive varieties characterized by different sensory attributes."
Interessante a repetida referência a: "production methods; production processes; sustainability; e organic production"

domingo, dezembro 15, 2019

Contexto, estratégia e bolha azeiteira

Tem uma PME? Está atenta ao contexto e às suas alterações?

O que acontece quando a quantidade de uma commodity que é colocada no mercado aumenta?

   O preço baixa!

O que acontece a um produtor dessa commodity com custos de produção mais elevados?

   Não consegue competir.

Quais são as alternativas para esse produtor com custos mais elevados?
  • Fechar! 
  • Ou mudar de vida e abandonar a competição baseada no preço, deixar de vender o produto puro e simples e, oferecer algo mais
"Olivicultores e lagareiros do Douro e Trás-os-Montes queixam-se de uma “campanha difícil” devido à diminuição do preço do azeite e da azeitona
...
a questão do tratamentos dos subprodutos da colheita de azeitona veio juntar-se à “baixa acentuada do preço do azeite no mercado nacional e internacional e, por inerência, da azeitona”."
Resolvi pesquisar a evolução dos preços do azeite a granel:(fonte)
"As últimas estimativas apontam para um crescimento de 25% no volume de produção de azeite, relativamente à campanha anterior. Prosseguiu a campanha de comercialização, com a oferta a aumentar e escoamento regular.
.
A cotação mais frequente a granel do azeite virgem extra foi de 2,60€/kg."
Resolvi pesquisar a evolução dos preços do azeite a granel em Espanha e Itália (fonte)
  • Itália - 4,70€/kg
  • Espanha - 2,21€/kg
  • Grécia - 2,60€/kg
Entretanto, achei interessante esta "guerra", "No request to look into different olive oil prices, Commission says":
"The issue was put forward by Spanish farming association Unión de Uniones (UDU) at the start of August, after the publication of the July monthly report on the market situation in the  EU’s olive oil and table olives sectors.
.
The Spanish press reported that the association would ask the Commission to investigate potential disruption in the olive oil market, hinting that Italy was enjoying a more favourable treatment in comparison to other producers like Spain and Greece.
...
At the same time, olive oil prices showed a 13% increase in Italy compared to the previous year, while a decrease was recorded in Greece and in Spain, at 2% and 19%, respectively.
...
EU agriculture Commissioner Phil Hogan explained in a letter sent in mid-August that the main reason behind the price collapse is a record harvest of 1.79 million tonnes for the 2018/19 marketing year, a 42% increase compared to the previous year."
Voltemos aquelas duas alternativas:
  • Fechar! 
  • Ou mudar de vida e abandonar a competição baseada no preço, deixar de vender o produto puro e simples e, oferecer algo mais
O que está a acontecer ao olival transmontano? Incapaz de competir no custo com a produção intensiva. Recordar:
"No contexto nacional, o Alentejo acabou por se tornar, desde 2007, na região com mais produção de azeitona, tendo chegado a garantir 75% do total do fruto produzido no país, em 2018, quando há 20 anos representava apenas 25% desse total. Para isso contribuiu o aumento da área de olival na região que, nos últimos 11 anos, cresceu 10%, para 172 mil hectares, assinala o estudo."
Quando não se pode competir pelo preço/custo, compete-se com uma marca. Recordo um postal publicado aqui em Dezembro de 2010:
"façam como se fez para o vinho que teve sucesso. Criem uma cooperativa da região, criem uma marca, desenvolvam uma marca, pensem em castas de azeitona, pensem em regiões demarcadas, não pensem em quantidade, isso fica para os olivais que pertencem às grandes distribuidoras de azeite. Pensem em boutique de azeite, pensem em azeite = luxo, pensem em azeite = néctar, pensem em azeite = saúde." 
Recordo o que escrevi aqui recentemente em "E sem intenção, e sem querer, apareceu na minha mente a decisão de pôr de lado o azeite alentejano" e em "Todos vão perder".

Quando não se pode competir pelo preço/custo, aposta-se na subida na escala de valor, foge-se da via cancerosa e aposta-se na joalharia, procura-se a diferenciação.

BTW, lembram-se da "indústria mais sexy da Europa"?

domingo, novembro 24, 2019

A Galinha dos Ovos de Ouro

Quando era miúdo compravam-me uns cadernos tamanho A5 com folhas fininhas e umas duas linhas para treinar caligrafia. Na contracapa desses cadernos havia sempre uma estória com uma mensagem. Lembro-me da galinha dos ovos de ouro, da força da união dos vimes, e julgo não mentir ao acrescentar o flautista que enfeitiçava os ratos.

O editorial do jornal Público de hoje fez-me logo recordar a estória da Galinha dos Ovos de Ouro, a estória do quem tudo quer tudo perde.
"O empreendimento do Alqueva pode muito bem ser o símbolo do Portugal extractivista, megalómano e irracional que resistiu à democratização, à Europa e à modernização e se consolida no Alentejo como testemunho de um passado difícil de expurgar.
...
Erguido o betão e acumulada a água do Guadiana, entrámos no desvario. Não houve um plano de ordenamento pensado e prudente e os 120 mil hectares de área regada tornaram-se uma imensa monocultura sustentada por pouca água, é certo, mas por métodos intensivos que recorrem a químicos danosos para o ambiente. Não houve prudência na leitura das tendências do clima e autorizaram-se centenas de proprietários a instalar culturas regadas fora do perímetro da rega. E numa decisão que hoje se pode erguer como um monumento à ambição desmesurada, pediram-se financiamentos para aumentar a área regada em 40 mil hectares."
Começo a discordar de Manuel Carvalho quando ele sonha:
"Precisava de um projecto incentivado pelo Estado e adoptado pelos agricultores que garantisse a diversificação de produções que faz parte de todas as economias sólidas."
O estado? Ainda ontem apanhei esta estória no Jornal de Notícias:
 No edifício dos Direitos Sociais utentes com cadeiras de rodas ficam à porta, mais, alguns trabalhadores do serviço que andam de cadeiras de rodas tiveram de mudar de serviço ou passar a trabalhar de casa. Acham mesmo que o estado consegue pensar a longo prazo?

Há dias fiz like a mais um tweet de Nassim Taleb:



Não devíamos esperar ou dar poder a um estado composto por gente de carne e osso tão falível como cada um de nós individualmente. Gostamos de dar mais poder quando lá estão os da nossa cor, os Obamas desta vida, depois segue-se um Trump e ...

Devíamos ter mecanismos sadios que impedissem por si só os abusos individuais, as Tragédias dos Comuns que resultam da ganância individual suportada no poder dos amigos, ou parceiros no estado.

Independentemente deste editorial, nos últimos quinze dias o Público tem publicado artigos onde por um lado se canta a canção da falta de água, das alterações climáticas, da ... para noutros a seguir se apresentarem contas e mais contas sobre mais áreas a regar, sobre a monocultura intensiva (os Amorins até sobreiros querem regar), sobre os químicos que estão a envenenar o Alentejo, sobre a desgraça da apanha nocturna, sobre a destruição de charcas, de sítios arqueológicos, tudo em nome do eficientismo.

Quem acompanha este blogue sabe que este libertário em construção nunca foi à bola com a socialista Cristas, mas há uma frase dela que retenho: "Cristas quer colar a Portugal o rótulo de país da "joalharia da agricultura"".

Um país pequeno nunca pode competir pela quantidade (preço baixo) de forma sustentável. Um país pequeno tem de competir com uma marca que signifique valor. A marca Portugal valia algo na agricultura, mas está a ser abastardada e todos vão perder. Um país pequeno tem de fugir de estratégias cancerosas.

Ia jurar que já o tinha escrito por aqui no blogue, mas a verdade é que não encontro. Neste postal refiro um livro que o amigo Serafim me ofereceu. Já lhe disse que não me devia ter oferecido o livro e  eu não o devia ter lido. O livro ilustra como a floresta é uma área da economia onde os DDT (sim, os donos-disto-tudo) continuam a mandar. É impressionante o carrocel de gente das celuloses para o governo, do governo para as celuloses, dos serviços do estado para as celuloses. Basta ler o que foi publicado ontem sobre os milhões a distribuir aos accionistas da Navigator e estas pérolas que um cínico apanha:


Quantos milhões irão para seduzir mais uns trouxas a plantarem eucaliptos, ou para que outros não abandonem a sua cultura?

Alqueva é mundo dos DDT na agricultura, assim como o saque em Odemira.

Não, não comparem estes investidores na agricultura com os meus queridos espalhadores de bosta, esses legam a terra aos descendentes, têm skin-in-the-game, estes quando a terra morrer, quando a água escassear, deitam abaixo o pau da lona e, como gafanhotos que são, vão para outro país recomeçar o saque.

terça-feira, setembro 10, 2019

Os saxões que aguentem!

Se há coisa que me tira do sério é a tentativa de fazer de mim (nós) parvo(s).

Aborrece-me solenemente o uso dos saxões contribuintes para pagar a externalização de problemas por parte de actores económicos.

Numa economia saudável o que acontece quando uma actividade económica não consegue sustentar-se com o fruto das suas operações? Fecha, e os seus recursos são transferidos para outros agentes, dentro da mesma actividade económica ou fora dela, onde supostamente são mais bem utilizados. E é assim que uma economia saudável evolui, daí o aumento da produtividade.

Daí ser adepto do: Querem aumento da produtividade? Deixem as empresas morrer!


Numa pequena economia, habituada a obter apoios e vantagens dos governos de turno, é comum assistirmos a um periódico tocar dos sinos a rebate, seguido do apelo ao actvismo do governo de turno (seja ele de um Capoulas ou de uma Cristas).

A figura que se segue ilustra o arquétipo:


Manifesta-se o sintoma de um problema! E sabem que para mim "stressors are information". Os sintomas podem ser sinais de uma situação conjuntural ou de algo mais estrutural.

O que é que um sistema saudável faz? Desenvolve uma solução interna para o problema. Por exemplo, empresas fecham e o seu espaço competitivo é ocupado por outras mais produtivas. Por exemplo, a empresa muda de produto e/ou de clientes-alvo e/ou de modelo de negócio.

O que é que um sistema doente faz? Sugere a alguém sem skin-in-the-game (a um político que manipula dinheiro impostado aos saxões) que forneça um remédio que evita que os intervenientes tenham de sofrer as dores de parto da sua própria mudança. Como os sintomas são resultado de um qualquer desajuste estrutural a situação repete-se periodicamente. Assim, o risco de uma actividade económica, algo que devia ser específico de cada actor, é transferido para agentes sem voto na matéria, os contribuintes. Desta forma, adia-se a subida na escala de valor de um sector económico, evita-se a pequena mortalidade que não afecta o todo, e vão-se acumulando desequilibrios que acabarão por estoirar quando o político deixar de ter dinheiro para actuar.

Ontem apanhei mais este exemplo:


Segundo o Anuário Estatístico - Portugal 2018, a campanha de produção de tomate em 2018 caiu quase 26% face ao ano anterior sobretudo por causa da diminuição da área instalada. Agora em 2019 temos:
"A Associação Portuguesa de Produtores de Tomate (APPT), filiada na CNA — Confederação Nacional da Agricultura, considera que este é um ano/campanha (até final deste mês de Setembro) com “muitas adversidades para os produtores de tomate para a indústria do Ribatejo”. Dizem estes agricultores que “a difícil situação reclama apoios excepcionais a atribuir pelo Governo e pela União Europeia”.
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No essencial, esta “difícil situação deve-se ao facto de os custos de produção terem aumentado muito nesta campanha — atingem os 7 mil euros por hectare — devido à necessidade de aumentar, e muito, os tratamentos nas terras e plantas invadidas por fungos e outras mazelas, a fim de se evitar a perda da produção”.
...
A direcção da CNA diz que “ainda há a esperança de existirem melhorias neste sector. Porém, tendo em conta a gravidade da situação, é necessário que o Governo intervenha para possibilitar o aumento de rendimentos da produção de tomate para a indústria.
...
Entre outras medidas, aqueles produtores reclamam a atribuição de ajudas específicas aos pequenos e médios produtores de tomate para a indústria, para os tratamentos fitossanitários desta cultura, assim como apoios para compensar baixas de preços na produção por motivos aleatórios.
...
Ainda assim, em geral, os agricultores, “com muito trabalho e com o aumento dos custos de produção devido aos tratamentos frequentes à cultura, acabaram por conseguir produtividades de assinalar, próximas às 100 toneladas de tomate por hectare, mas o preço à produção é que está muito baixo”, realça a CNA. [Moi ici: Portanto, têm de ser os saxões a pagar a incapacidade negocial dos produtores de tomate. Se não compensa, mudem de culturas de produção]
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Aqueles produtores realçam ainda que os custos reais de arrendamento da terra “à campanha”, praticados na zona irrigada mais próxima a Santarém, atingem os mil euros/ano por hectare — na Lezíria Ribatejana mais baixa chegam a dobrar este valor — o que, logo à partida, é um pesado encargo para os “seareiros” (os arrendatários da terra) para este tipo de culturas. [Moi ici: Quer isto dizer que há procura por estes terrenos, se calhar para outro tipo de culturas mais competitivas e ricas]
...
Em contrapartida, é cada vez menor o preço final do tomate para a indústria colocado na fábrica de transformação. Nesta campanha, e apesar dos problemas tidos com a cultura, os preços à produção oscilam entre 70 e 85 euros por tonelada, dependendo da qualidade apresentada à entrada da fábrica. [Moi ici: Há aqui qualquer cena que merecia ser bem investigada... desconfio que teremos uma situação semelhante à do leite, uma grande heterogeneidade de produtores. Produtores grandes e eficientes aceitam preços mais baixos e, depois, todos os outros têm de os aceitar. Se os grandes ganham alguma coisa os pequenos nunca conseguem os ganhos de escala e eficiência para conseguirem lucrar.]
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São preços que, repete-se, não compensam os produtores de tomate pelo investimento feito, e ainda menos compensadores são se entrarmos em linha de conta com a valorização do trabalho do agricultor (e família) tido na faina”, acrescenta o mesmo comunicado. [Moi ici: Se não compensam é simples, mudem de culturas, subam na escala de valor e façam pela vida. Não esperem que sejam os outros a suportar as más decisões de gestão]"
Claro que em ano eleitoral isto é trigo limpo, farinha amparo.

Não me admirava nada que por trás disto estivesse a agro-indústria do tomate para que o governo de turno lhe subsidie os produtores para que possa continuar a baixar preços de compra do tomate e gerar lucros cada vez maiores.

Situação estrutural:

terça-feira, agosto 27, 2019

Para reflexão

Há anos que escrevo aqui no blogue sobre o negócio do leite. Um mundo em mudança acelerada, um mundo cheio de equívocos, um mundo cheio de activismo de jogador amador de bilhar. Em 2015 escrevi sobre o leite e os seus substitutos vegetais em "E fechá-los numa sala durante 12 horas?"

Agora encontro "Non-Dairy Milk Alternatives Are Experiencing A 'Holy Cow!' Moment". Se o que se escreve no artigo fosse divulgado... caía o carmo e a trindade:
"A decade ago (even more recently in some places), coffee shops had, at most, one non-dairy milk alternative, and it was usually soy. Other alternatives existed, but if you wanted them, you probably had to haul to the nearest health food store.
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Things have certainly changed. Nowadays, a trendy coffee shop might offer soy, rice, oat, almond, or coconut milks – or a choice of the above.
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The global dairy alternative market was estimated at a value of $11.9 billion as of 2017, and its rapid growth has gotten the attention of those in the food industry, as has its profitability – plant-based dairy alternatives are displaying 6% better returns than traditional dairy products. Consumers are driving this trend: In Britain, for example, 25% of people are choosing plant based milks - with figures being as high as 33% for the young adults market (16-24 year olds).
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Meanwhile, dairy milk consumption has been on the decline for decades, with each generation drinking less milk than its predecessor.
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And for all the other uses we normally have for dairy, the plant-based alternatives are swooping in. Apart from changing tastes and consumers’ willingness to try new foods, there are a couple of major reasons for this swap: ethics and nutrition."
Uma amostra:
"Modern research has cast serious doubts on the health halo once held by milk. After years of ad campaigns teaching the public that milk builds strong bones, a more recent long-term study has suggested that high levels of milk consumption actually increase rates of bone fracture and mortality. The Harvard University T. Chan School of Public Health reports that various components of dairy may be responsible for higher rates of ovarian and prostate cancers. The high saturated fat content of dairy can raise levels of LDL (bad) cholesterol and may put people at greater risk of heart disease." 

quarta-feira, julho 24, 2019

Constância de propósito - falta tanta

Quando apresento o conceito de estratégia recorro ao ditado:
- Mais vale ser rico e ter saúde do que pobre e doentio!

Ninguém quer ser doente e pobre!
Toda a gente quer ser saudável e rico. No entanto, à luz do teste do algodão isso não é uma estratégia, é catequese.

Estratégia a sério dói! Implica renunciar a algo.
Ter saúde, mas ser pobre.
Ser rico, mas ser doentio.

Aos políticos quase todos falta a coragem para ter uma estratégia. Ter uma estratégia implica escolher  e fazer o lock e usar esses parâmetros para tomar as decisões a seguir. Acontece que os políticos têm medo do lado negativo de qualquer estratégia. Por isso, fazem uma escolha e logo a seguir começam a miná-la com as medidas que tomam para minimizar as consequências naturais das escolhas que fizeram. Recordo o conselho para a procura dos sacrificados. Reparem como este conselho de Abril de 2015 explica tão bem o caos nos serviços públicos (afinal os serviços públicos existem para os funcionários, como disse a ministra da Saúde recentemente, os sacrificados são os condenados a usá-los, os utentes).

Há dias recordei esta falta de constância: aumentar salários para eliminar as empresas que não podem pagar salários melhores, mas depois, face ao aumento do desemprego e encerramento das empresas, vem o apoio com subsídios.

Ontem detectei outro exemplo:
Às segundas, terças e quartas o ministério da Agricultura enterra milhões no sector leiteiro para evitar o normal funcionamento do mercado.
Às quintas, sextas e sábados o governo ataca os sectores que consomem leite:
"Entre os produtos que vão deixar de ser publicitados junto a escolar, parques infantis, redes sociais, e em programas de televisão e de rádio encontram-se chocolates, bolos, gelados, refrigerantes, bolachas, cereais de pequeno-almoço, iogurtes, fiambre, queijo ou refeições pré-preparadas." [Moi ici: BTW, e os leites achocolatados?
Brevemente teremos os cromos do karma a fazer o choradinho junto do governo, que irá desembolsar mais uns milhões para apoiar os produtores leiteiros prejudicados pelas medidas tomadas pelo mesmo governo.