domingo, dezembro 19, 2010

Lições de uma ida às compras

Ontem fui a um centro comercial fazer umas compras de Natal. Comecei pelo hipermercado:
  • Depois de ter estado largos minutos especado a apreciar as prateleiras do azeite vim embora com uma garrafa. O meu filho mais novo perguntou-me "Tanto tempo e só trouxeste uma?". Respondi-lhe "Estive a apreciar a variedade de azeites. Os azeites têm de começar a ser tratados como os vinhos, tal é a variedade e diversidade." 
  • No corredor das conservas fui buscar uma prenda de Natal para o mais novo, uma lata de "tintenfich" (private joke)... há anos numa formação que dei, no intervalo, comentei com uma formanda que trabalhava num produtor de conservas: "Em minha casa o atum que se come vem todo do Lidl, só porque têm a opção de vir em salmoura e não em óleo". Ontem reparei como o mundo mudou... n marcas, n embalagens com referências ao uso de azeite ou de salmoura, com referência à menor quantidade de sal, com referência ao ómega-3 ou 6. É a lição dos morangos ou como lhe chama Youngme Moon "break-away brands" e de Lincoln & Thomassen.
  • Dois exemplos quotidianos e próximos de como vamos a caminho de Mongo. Um planeta sem moda (vão à definição estatística), um planeta de tribos... Se trabalhasse numa destas empresas começaria a apresentar os produtos por tribos. Por exemplo: Conseguem fazer o retrato-tipo do(a) comprador(a) que escolhe conservas por causa do preço? Por causa de um piquenique? Por causa de um prato diferente? Por causa da saúde? Que mensagens têm para cada um? 
No centro comercial tive duas experiências negativas que me deixaram a pensar na maldade que o economicismo provoca nos resultados das empresas, sobretudo nestas épocas de grande afluência.
  • Um consumidor está repleto de oportunidades de escolha e, de entre esse universo de escolhas ele optou pelo centro comercial onde está a sua loja.
  • Dentro do centro comercial ele tem muitas escolhas e ele optou por entrar na sua loja.
  • Dentro da sua loja ele tem algumas possibilidades de escolha e ele optou por retirar um produto da prateleira e convenceu-se a fazer a troca do seu dinheiro pelo produto.
  • Dentro da sua loja, com o produto na mão, ele dirige-se à caixa para fazer a compra e coloca-se na fila à espera.
  • Na fila à espera, o tempo passa e ele começa a verificar que a fila não se move, que estão sete ou oito pessoas à sua frente e só há uma caixa.
  • Na fila à espera, começa a duvidar da validade da sua opção de compra. Não, não é nada contra o produto que tem na mão... é mais contra a empresa, contra a sua loja que não se importa de fazer os clientes pagarem esta taxa em tempo.
  • Na fila à espera, o cliente descobre que o seu tempo é demasiado precioso para estar numa fila para lhe fazer o favor de comprar um artigo da sua loja. 
  • Modalfa, passe bem. Por mim desisto!
Outro exemplo:
  • Um consumidor está repleto de oportunidades de escolha e, de entre esse universo de escolhas ele optou pelo centro comercial onde está a sua loja.
  • Dentro do centro comercial ele tem muitas escolhas e ele optou por entrar na sua loja.
  • Ao apreciar o interior da loja,  um aviso em letras garrafais e demasiado impessoal começa por lhe chamar a atenção a si para que não hesite em pedir outros modelos e números... leitura do cliente carregada de subjectividade: um aviso da gerência que não confia nos funcionários da loja para que estes façam o seu papel.
  • A propósito, onde estão os funcionários da loja? Só há uma funcionária na loja.
  • Onde está e o que está essa funcionária a fazer? Atrás do balcão concentrada a escrever nuns papéis, parece que está a fazer contas, nem cumprimentou os clientes, nem deu sinal da sua existência, nem fez contacto visual... não, não a culpo a ela. Culpo a gerência desta loja Lanidor que, tudo indica, sobrecarrega as pressoas com multi-tarefas. OK, nem vale a pena continuar a pesquisa. Saio sem perturbar as contas da funcionária.
Apetece-me recordar a equação de Drake que o mestre me deu a conhecer num longínquo sábado à tarde de à mais de 30 anos:

Também podemos fazer uma equação que represente o fenómeno da compra numa loja de um centro comercial:

É impressionante como o dia-a-dia está repleto destas coisas da estratégia.
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Já agora este trecho de Seth Godin: Cherish my time.

5 comentários:

Miyuki Creative Studio disse...

:) mas quem frequenta um centro comercial já está à espera disso...o cliente tipo está bem definido por eles, alguém que quer oferta, preço e comodidade em detrimento de um atendimento X.

A mim por exemplo não me apanham no mês de Dezembro em qualquer shopping, quem perde com isto é a FNAC pois se fosse na rua era onde faria muitas das compras, mas eu não sou target.

A próxima vez que entrar num C.Comercial e sentir essa "experiencia" pense que é essa a experiência faz parte, afinal, quem não sabe logo de inicio que será esse o atendimento do um Centro Comercial nesta altura?

Eles continuam cheios...mesmo sabendo de antemão que é o tratamento que se terá :)

CCz disse...

Mas João estamos a falar de um Centro Comercial de uma cidade pequena-média. O centro não estava nada cheio.
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Acredito que o problema está mais na cabeça dos contadores de cêntimos que se comportam como o servo que um recebeu um talento na parábola do Novo Testamento. Em vez de arriscar, poupam. E ao poupar, perdem a oportunidade de ganhar!

Miyuki Creative Studio disse...

Eu partilho a sua opinião, mas acho difícil essas "cadeias" não reverem indicadores...o que acho é que chegam à conclusão que esse tipo de tratamento não é suficiente para afastar pessoas, e então mantêm a satisfação a esse nível, sabem que podiam melhorar mas não é importante.

Acredito que eles estão bem focados no preço/comodidade que oferecem, e como a adesão é forte e crescente assim ficará até existir uma mudança nos seus indicadores.

Portugueses gostam de fado e de historias para fazer o dito fado :).

Acho que somos o único país da Europa com Starbucks em Shoppings...e somos dos que melhor clima tem...eles foram para o Shopping por alguma razão...indicadores...indicadores..indicadores...

(*eu sou fan do comercio de rua)

CCz disse...

Caro João julgo que vai apreciar:

http://www.openforum.com/idea-hub/topics/marketing/article/3-ways-you-can-compete-with-big-retailers-lydia-dishman

Miyuki Creative Studio disse...

a ver agora... ;)