Nos últimos dias vi várias referências no Twitter ao tema da baixa produtividade portuguesa. Esta manhã vi que até Paulo Portas terá falado do tema no seu comentário semanal:
Não esqueçam, a produtividade é um rácio. Um rácio de alavancagem. Quanta riqueza consigo criar a partir da que tenho de consumir?
Quando olharem para a produtividade de um país não se esqueçam que ela resulta de dois mundos:
- sector privado; e
- sector público.
Como se calcula a produtividade no sector público? Como não há mercado para avaliar o resultado da sua produção assume-se que a produtividade é neutra, as entradas são iguais às saídas. A sério! Assim, quanto maior a taxa de trabalhadores na administração pública mais baixa é a produtividade. Não acredita?
Já tratamos disto em 2010.
Como é que o sector privado olha para a produtividade? Claro que o sector privado não é homogéneo, mas a maioria, diria mesmo a larga maioria, olha para a produtividade à la século XX. O jogo do gato e do rato que o ex-ministro Teixeira dos Santos queria evitar. Recordar 2010 e "
O jogo do gato e do rato (parte I)" (Reparem, Teixeira dos Santos era professor universitário, passou a ministro e tinha este modelo mental herdado do século XX, herdado do Normalistão).
Qual o erro desta abordagem? Não sei se é um erro, mas é de certeza uma lacuna importante. Aquilo a que chamei de pensamento à engenheiro neste postal de 2009, "
Actualizem o documento por favor".
Eu comecei por dizer que a produtividade é um rácio. Vejamos:
Qual é o erro da mentalidade do século XX?
Assumir que as saídas são um dado do problema e trabalhar a única variável, as entradas. Isso faz com que o desafio de aumentar a produtividade se transforme num desafio de eficiência: Aumentar a produtividade é produzir o mesmo com menos.
Aqui entra o truque alemão. Pensem nas saídas como uma outra variável. Assim, aumentar a produtividade passa por aumentar o numerador ou manter ou diminuir o denominador.
Alguns vão dizer: as empresas não podem ser como os governos, que aumentam impostos sem contrapartidas. Se as empresas aumentarem os preços os clientes vão para a concorrência.
Sim, se as empresas aumentarem os preços os clientes vão para a concorrência. A menos que aumentem os preços porque dão mais valor em contrapartida!!! Sim, a menos que produzam um produto ou serviço melhor, mais adequado.
Sim, muita gente tem de aprender as contas de Marn e Rosiello que eu descobri em 1992 e demorei quase 15 anos a perceber!!! Recuo a 2015 e a "
E o burro era eu!":
Quando só se trabalha o denominador, 1% de melhoria nos custos fixos permite uma melhoria na margem operacional de 2,3%.
Quando se sobe na escala de valor e se oferece algo mais atractivo, com maior WTP, um aumento de 1% no preço tem um impacte tremendo nas contas, na produtividade, na alavancagem!!!
Podemos obrigar os legítimos proprietários das empresas em Portugal a aumentarem a produtividade por esta via? E eles sabem? E eles acreditam?
E precisamos de ter mais empresas em sectores com maior valor acrescentado. Lembrem-se, os
macacos não voam! Um empresário têxtil com muita vontade não monta um negócio de têxteis de alto valor acrescentado do pé para a mão, sem know-how, sem conhecimento do mercado, sem ... para dar saltos no tempo temos de importar esse know-how. Sim, a receita irlandesa. Fazer em grande a mesma coisa que se fez com a AutoEuropa. Não pensem que o aumenta da produtividade irlandesa foi feito à custa de empresários irlandeses.
Estudem os números primeiro, porra!
A produtividade não cresce porque fazemos bem ou melhor as coisas (isso são "peaners"), a produtividade cresce a sério é quando fazemos bem o que deve ser feito. E o que deve ser feito é radicalmente diferente do que estamos a fazer. Recordar "
A caminho da Sildávia, portanto"
Os académicos não percebem nem metade do que acabei de escrever!