quarta-feira, agosto 31, 2011

Para reflexão nestes tempos de recessão (parte III)

Neste postal "Experiências, consequências e atributos" relatámos no final o exemplo da filosofia de Chris Zane na venda de bicicletas.
.
Para reforçar a ideia cá vai mais um relato "Your Business: Customers aren't a fling – build a lifetime bond instead".
.
O mercado está mau?
.
Sim!
.
E vai ficar pior!
.
É uma ameça terrível para estes 36% de empreendedores.
.
Um qualquer Daniel Campelo, defensor dos incumbentes, defensor do status-quo, proibiria a abertura de novas lojas com a desculpa bem suportada de que o mercado está mal, vai ficar pior e já há excesso de oferta.
.
Pois eu defendo, o mercado está bom para quem quiser fazer a diferença... o comércio está tão mal frequentado que qualquer zarolho pode ser rei. O comércio está infestado de gente que pensa que os clientes só apreciam o preço mais baixo.
.
Mas mesmo o cliente que frequenta o Lidl e o Minipreço, para comprar alimentação barata, algures, na sua vida, tem um conjunto de experiências que procura e valoriza sobremaneira. E, relativamente a essas experiências procura algo melhor, algo especial e está farto de encontrar a mesma treta de sempre... talvez um destes 36% de empreendedores seja diferente, faça a diferença e encontre o seu nicho.
.
Boa sorte.

Qual a experiência que os clientes-alvo procuram e valorizam?

O Joaquim do "Portugal Contemporâneo", neste postal "empresários +" põe o dedo na ferida.
.
E esta ferida é comum a muitas, a demasiadas empresas em Portugal, e não só: a incapacidade de identificar e escolher os seus clientes-alvo, e alinhar a organização em torno dessa opção.

Não é por falta de dinheiro nem de talento

Steve Blank neste postal "It’s Not How Big It Is – It’s How Well It Performs: The Startup Genome Compass"
reafirma, assente nos resultados deste projecto "Blackbox's Startup Genome Compass Uses Science To Crack The "Innovation Code"", uma ideia que defende há muito tempo:
.
A maioria das startups não falha por causa de falta de talento ou de dinheiro... falha porque começou em grande, demasiado grande antes de ter percebido quem eram os seus clientes-alvo e qual a sua proposta de valor.
.
"One of the biggest surprises is that success isn’t about size – of team or funding. It turns out Premature Scaling is the leading cause of hemorrhaging cash in a startup – and death. In fact:

  • The team size of startups that scale prematurely is 3 times bigger than the consistent startups at the same stage
  • 74% of high growth Internet startups fail due to premature scaling
  • Startups that scale properly grow about 20 times faster than startups that scale prematurely
  • 93% of startups that scale prematurely never break the $100k revenue per month threshold"

Lição para tanta gente por cá

"It may be that the human race is not ready for freedom. The air of liberty may be too rarefied for us to breathe.
...
While those who will not govern themselves are condemned to find masters to govern over them."
.
Lição para os empresários que, em vez de prezarem a sua independência e distância das relações pedo-mafiosas com o Estado, perante qualquer dificuldade instintivamente chamam pelo papá-Estado à primeira dificuldade.
.
Trecho de Steven Pressfield retirado de "War on Art".

Como uma ameaça pode se transformar numa oportunidade de negócio

O André Cruzzz (esta sucessão de zz faz-me lembrar o "Dragon Ball") enviou-me, sem comentários, este endereço "siesta campers".
.
Voltamos outra vez ao postal "The Future of Pricing and Revenue Models" e, à paleta explosiva de opções para modelos de negócio assentes no aluguer e na posse temporária ou conjunta, como no caso da amante de duas rodas.
.
A razia que vamos viver no nosso nível de vida, basta ler "Vendas no comércio caem 5,5% e emprego no sector atinge valor mais baixo dos últimos dez anos", pode ser vista como uma oportunidade para o desenvolvimento de novos modelos de negócio assentes no aluguer ou na posse conjunta (Recordo este exemplo de Braga "Factory Business Center")

terça-feira, agosto 30, 2011

Outro sintoma da caminhada para Mongo...

Neste postal de hoje "Eficácia, eficiência, e produtividade" faço referência ao artigo "Is the concept of service productivity compatible with the framework of service-dominant logic?" de Esa Viitamo e Marja Toivonen de onde retiro esta figura:
E como se refere no artigo, no caso dos bancos:
.
"the empirical results show that it is possible to organize the production and delivery of banking services in very different ways – actually in the ways which in some respects can be regarded as opposite. From the viewpoint of productivity, both of the opposite ways in our cases seem to enable success."
.
Escrevo isto por causa da Big Pharma... a Biga Pharma, por causa do fim do modelo de negócio assente nos blockbusters e com o fim da protecção das patentes, tem enveredado cada vez mais pela produção em escala, pelo aumento da eficiência (e aí têm muito a ganhar, ou tiveram, porque a eficiência não era assunto relevante num sector habituado durante muitos anos a margens pornográficas), ou seja evolução na escala das abcsissas.
.
Pois bem, verifico que há empresas da Big Pharma que afinal também olham para a evolução via ordenadas. Outro sintoma da caminhada para Mongo...
"Meet the new blockbuster: drugs like Xalkori that treat intractable diseases afflicting small numbers of patients shown by testing to likely benefit from the drug. Such targeted therapies can be brought to market faster and at less cost, and health plans will pay high prices even for long courses of treatment.
...
"Perhaps the pharmaceutical industry has come kicking and screaming, but it's now come to realize" that targeting patients likely to benefit can help secure a drug's approval and reimbursement, said Daniel O'Day, who runs Roche's diagnostic division."
"Through this acquisition, Pfizer aims to expand its pipeline of drugs for orphan and rare diseases."

Recordar este postal de Março de 2007 "Evolução: da produção em massa para a produção personalizada!"
.
Sintomas da caminhada para Mongo em todo o lado... e tão pouca gente de olhos abertos para fugir aos modelos mentais obsoletos castradores e enganadores.

Especulação - um epílogo?

Tudo começou aqui no blogue em Agosto de 2008:
Pois bem, penso que a especulação está a chegar ao fim porque se concretizará "China Faces Upgrade-or-Die Deadline as Labor Supply Dwindles".
.
Recordar também isto e isto.
.
Se fosse por cá na Europa, aposto que teríamos empresários a pedir subsídios para fornicação... triste Europa transformada numa união de repúblicas socialistas soviéticas.

É preciso pensamento estratégico primeiro!

A propósito de "Crise provoca descidas acentuadas nos preços dos hotéis em Portugal":

  • para quando um Daniel Campelo do sector a ameaçar impedir a abertura de novos hóteis?
Pessoalmente, não creio que a crise seja a única razão para esta degradação dos preços, basta recordar esta série de postais dos últimos anos:
Conselho para a hotelaria, estudem Marn e Dolan "Pregarás o Evangelho do Valor". Como é a estrutura de custos de um hotel? Qual o peso dos custos variáveis? Qual o peso da redução do preço no lucro?
.
Será que os hóteis conhecem os seus clientes? Será que caracterizam os seus clientes-alvo? Não me parece, basta recordar o Sheraton no Algarve que pagava as portagens aos clientes para os atrair (ver em "I wonder...") (Julho de 2007)
.
Isto exige mais sofisticação intelectual do que a simples redução de preços.
.
É preciso pensamento estratégico primeiro!

Eficácia, eficiência, e produtividade

Basta fazer uma pesquisa neste blogue para perceber que um dos temas mais frequentemente abordados é o da produtividade.
.
A minha visão sobre a produtividade difere da visão do mainstream. A visão do mainstream, que é a que impera por todo o lado, olha para a produtividade como uma medida de eficiência interna de uma empresa.
.
Olhar exclusivamente para dentro de uma empresa foi chão que deu uvas! Sim, ainda faz sentido se uma empresa está num mercado em que a procura é superior à oferta. No entanto, nos mercados em que a oferta é superior à procura, a esmagadora maioria, de nada serve ser muito eficiente se o mercado não está interessado na nossa oferta e, por isso, escolhe outras.
.
Assim, há anos (ver a título de exemplo: aqui, aqui e aqui) que introduzi no meu vocabulário da produtividade a distinção entre produtividade aumentada à custa do aumento da eficiência, e produtividade aumentada à custa do aumento da eficácia. Eficácia porque, à Liedson, resolve. Eficácia porque tem a ver com a opinião do cliente, com a decisão do cliente.
.
No início deste mês fiquei surpreendido por ter encontrado outra voz a chamar a atenção para o problema da eficiência no aumento da produtividade, numa sociedade que assenta cada vez mais em serviço. O que Gronroos e Ojasalo põem preto no branco era algo que eu já defendia mas sem ser capaz de o expressar com a clareza que eles o fazem. Faz sentido concentrar a atenção na eficiência para aumentar a produtividade se a qualidade, se os atributos do output se mantêm constantes. OK!
.
No entanto, se a minha empresa se tornar exímia na eficiência com que produz algo, pode ser facilmente ultrapassada por outra empresa que, em vez de concentrar tudo na eficiência, olha para fora para os clientes-alvo e resolve oferecer-lhes algo diferente... ou seja, mexe na qualidade (atenção, aqui qualidade não é ausência de defeitos), concentra-se na eficácia, descura os custos e foca-se no valor.
.
Escrevo tudo isto porque ontem encontrei, para meu espanto, outras vozes a falar sobre produtividade e a usar o mesmo termo eficácia como eu uso e com um discurso que nunca tinha visto para lá deste blogue (ignorância minha como agora comprovo).
.
"Is the concept of service productivity compatible with the framework of service-dominant logic?" de Esa Viitamo e Marja Toivonen.
.
"the overriding objective of an ‘entrepreneurial’ service firm is high profitability. This profitability is attained through the co-creation of high use value together with the customer. A central tool, which the management employs when pursuing this objective, is productivity. Reflecting the dual perspective of the producer and the user, productivity has two basic components: efficiency and effectiveness. Efficiency growth of a firm can be decomposed into three effects and sources. 1) Improved operational efficiency implies cost reduction given the existing technology and the scale of production. Higher cost-efficiency reduces the waste of resources and moves the actual costs closer to the firm’s average cost curve. 2) Improved scale-efficiency implies a move along the firm’s average cost curve towards the point where the average costs reach the lowest possible level. In the presence of increasing economies of scale this implies an increased volume of production. 3) Technological advance, which reflects improved total factor productivity, shifts the firm’s average cost curve downwards. Effectiveness on the other hand shows the ability of a product or a service to generate high customer value and to meet customer’s preferences. In the operative use and measurement, effectiveness has been interpreted to indicate the consistency of the service outcome in relation to the customer’s needs and expectations – or the perceived value of the customer."
...
Apreciar a figura 1 e "The principal objective of the provider is to stay on the productivity frontier S, where the maximum level of productivity and the right balance between effectiveness and scale-efficiency for different customers and customer segments is reached."
.
E como escrevo desde o primeiro comentário a Marn e Rosiello: "To be operational, the definition of service productivity requires compatibility with the methods of measuring the performance of a service (firm). As quality, productivity and profitability constitute an interrelated triplet for any service business, the most viable index of service productivity is inevitably financial. We posit that the productivity index, which relates revenue and cost (R/C) shows consistency with the suggested argumentation above. It compares the market value of a service outcome (revenue) with the market value of the inputs (cost) related to a service offering."
...
Uma verdade que muitos ignoram: "maximum profit is achieved by standardization and economies of scale, but effectiveness is necessary before efficiency has relevance."
.
BTW, recomendo a leitura do caso sobre os 2 bancos e, sobretudo das suas conclusões, em especial: "banks are not fully aware of the diversity of the business models and the actual competitive advantages of their rivals"
.
BTW, há cada baboseira!!! Os macro-economistas e académicos recorrem a cada treta para poderem modelar a realidade: "The statistics are most often used for macroeconomic studies of industries and the economy, but they draw on firm-level data and apply the economics of a firm and markets. The underlying theories of a firm assume that firms are identical, share perfect information and adapt passively to the industry equilibrium (Moi ici: OMG just treta, treta da mais pura). Hence, in the mainstream of the statistical analysis, the economy and industries are treated technically as if it they were a single firm. (Moi ici: LOL, por isso fogem de estudar as distribuições de produtividade intra-sectorial) This simplification
aims to explain the observed productivity growth. For instance, innovation and technical advances, which are supposed to be exogenous, (Moi ici: LOL, só exógeno?)  are seen to diffuse instantaneously among new and old establishments within an industry. As a result, a new equilibrium will be attained at a level where the total factor productivity (TFP) of the industry is higher. However, the assumptions of economic equilibrium and perfect information fit uneasily with the notion of innovation and productivity growth. (Moi ici: Claro, duhhhhh) Evolutionary and organizational analysts, for instance, argue that innovation and technical change occur as a consequence of information asymmetries. Such asymmetries can scarcely be termed market imperfections as they are necessary for any technical change to occur in a market economy."
.
BTW, estes finlandeses, o Maliranta é outro, são barras no estudo da produtividade!
.
BTW, este fim de semana vi num canal do cabo, tipo National Geographic(?), um documentário sobre os Nabateus e a civilização de Petra. Uma parte desse documentário não me sai da cabeça... a parte em que se refere a técnica dos Nabateus para transportar água ao longo de km e km. Eles desenhavam a inclinação das tubagens não para a máxima eficiência de caudal transportado mas para a mais eficaz. A máxima eficiência leva à rotura frequente das tubagens.

The Waterboys - The Whole Of The Moon


.
1985 - Ano em que ajudei a constituir a Quercus (a Quercus original não esta coisa d'agora)

Para reflexão nestes tempos de recessão (parte II)

Continuado da parte I.
.
A propósito de um comentário do Aranha vale a pena divulgar estes números "Estudo de Empresas Constituídas PORTUGAL – 1º Trimestre 2011/ 2010".
.
O número de insolvências é sempre alvo de preocupação dos jornais... arrisco dizer que é por causa da nossa costela nacional de incumbentes militantes, recordar "O país dos incumbentes".
.
Menos noticiado é o número de novas empresas constituídas. No primeiro trimestre de 2011 foram constituídas em Portugal mais 18% de empresas do que em igual período de 2010. (Os números para o mesmo trimestre de 2010 face a 2009 foram de 5%)
.
Tão importante quanto o número é a tipologia dessas empresas.
Com a crise que está a ser vivida pelo sector do comércio, onde fecham cerca de 100 lojas por dia, estou admirado de ainda não ter aparecido nenhum Daniel Campelo a avançar com a ideia de proibir a constituição  de novas empresas no sector do comércio, para proteger os incumbentes.
.
Interessante perceber que cerca de 36% das novas empresas constituídas são-no em sectores que vão estar em forte retracção!
.
Boa sorte para os que melhor perceberem quem são os seus clientes-alvo e como os servir melhor... e boa sorte para os incumbentes que conseguirem continuar a seduzir a sua clientela.

segunda-feira, agosto 29, 2011

Falam, falam, falam e não dizem nada

Quantos, de toda a gente que bota faladura sobre competitividade e produtividade, olham para números?
.
Falam, falam, falam...
Impressiona o abismo que nos separa de outros países... e querem aumentar a produtividade mexendo nos custos... (ver significado da nota a))
.
O calçado dá uma sugestão:

Em tempos escrevi que os que falam, falam, falam, nunca fizeram contas para uma empresa em concreto... ficam no reino dos mitos.
.
Quadro retirado de "Competitive, but too small - Productivity and entry-exit determinants in European business services" de Henk Kox, George van Leeuwen e Henry van der Wiel.
.
Gráfico feito com base em dados retirados de "Calçado, Componentes e Artigos de Pele - Monografia Estatística 2011"

A doença está por todo o lado

Agora até nos EUA é crime montar uma banca de venda de limonada "The Inexplicable War on Lemonade Stands"...
.
Empreender é crime...
.
Tudo o que cheire a liberdade é crime...
.
O mundo há-de ir longe assim.
.
Os vampiros dos impostos atacam por todo o lado ... até as bancadas de limonada Senhor!?
.
É a mesma doença, começa nas bancadas de limonada e acaba no empreendedor que hesita em avançar porque à partida tem de assumir milhares de euros que não tem, em compromissos socialistas-burocráticos

Por que será?

Este artigo "Falta de matéria-prima ameaça indústria nacional" devia envergonhar toda a fileira...
.
Não conseguem gerir a fileira sozinhos? Precisam de uma troika também?
.
Por que será que não há interessados em produzir madeira de pinho para a indústria de mobiliário?
.
Um ecossistema é um ecossistema, se uma peça é desprezada... todo o ecossistema pode ruir com o fim do jogo de equilíbrios.

Ainda e sempre a batota

Em Maio de 2008 comecei uma série de postais com o título "Uma apologia da batota". O propósito era reflectir sobre a criação, desenvolvimento e melhoria das experiências dos clientes durante a realização de um serviço. Todos nós temos a experiência de sermos mal servidos, não por causa da má educação de quem nunca foi ensinado, mas por causa de gente comum ter sido apanhada e lançada sem qualquer preparação para a frente de um balcão para interagir com clientes.
.
Pois bem, o tema da batota está sempre presente na minha mente e foi nele que pensei ao ler estes trechos de Kaj Storbacka e Jarmo Lehtinen em "Customer Relationship Managenent":
.
"Customer share can be improved by increasing the depth or breadth of customer relationships. When relatioship depth is increased, the customer is encouraged to concentrate his purchases to one company. Concentrating purchases can be encouraged in two ways. One involves creating benefits related to resource exchange for the customer, who then brings his business to a certain provider. … The second way is to have such a good understanding of the customer’s value creation process that the points in the process where a company product would be suitable for the customer can be identified, and this product can be made easily available. In other words, it is important to determine at what point in value creation processes a company’s product would be interesting to customers.

When a provider develops relationship breath, it should offer the customer additional product components that fit the relationship.

Every relationship is made up of different types of encounters. The encounters may aldo involve different types of activities. To effectively manage a relationship, it is essential to define the possible types of encounters the relationshio will encompass.

After the relationship has been analyzed, the kinds of encounters that it will give rise to are recorded. This needs to be done since every relationship is different: different customers require different kinds of encounters.

Managing encounters (Moi ici: Este "managing encounters" é a batota de que falo) is an operational issue. The aim is to make encounters as efficient as possible and make them generate value.

The value of customer relationships resides in relationship activities, i.e. in the details. Managing the details of a script may sometimes feel like a waste of time, but if the aim is a long-term relationship, the significance of the details increases."
.
Há tanto por fazer a este nível...
.
Na semana passada, por exemplo, desvio-me da A25 em Mangualde para comprar um frango de churrasco no Pingo Doce de Mangualde:

  • Às 19h20 não há frangos de churrasco, só daí a 15 minutos ... então, quando é que vão vender? (não há o produto)
  • As funcionárias estão mais interessadas em conversar entre elas do que em servir os clientes (o serviço deixa a desejar)
  • Para levar uma embalagem de arroz de pato para quatro, sem ninguém à frente na fila devo ter demorado 20 minutos (o tempo do cliente é demasiado precioso)
Ontem fui a uma outra loja do Pingo Doce, fui parar a uma caixa com um funcionário novo no posto de trabalho. No tapete da caixa, em cima do frango de churrasco, da garrafa de vinho, dos tomates, coloquei um saco plástico com o semanário Espesso. O funcionário olhou para dentro do saco, viu o jornal e colocou-o à parte sem passar o código de barras. Antes de pagar ainda perguntei "Considerou o jornal?". O funcionário olhou para mim com cara de não perceber o que eu estava a dizer... desisti. Trouxe o jornal sem o pagar. O miúdo na caixa ainda não percebeu que aí a uns 2 metros estão à venda os semanários dentro de um saco plástico e que eu não o trouxe de fora da loja. A culpa é minha?!

domingo, agosto 28, 2011

Aplicável ao têxtil e a todo o resto. Lucas 8,8

A indústria têxtil e do vestuário ao longo das duas últimas décadas tornou-se numa operação global, fruto das alterações dramáticas que ocorreram no contexto mundial, quer a nível político quer a nível económico. (Ainda ontem folheava as minhas revistas Time, encadernadas, do primeiro trimestre de 1985... o mundo era tão diferente, Gorbatchev, Shevardnadze, Khol, Thatcher, Reagan, Noriega, Corazon Aquino...)
.
Nos países industrializados assistiu-se a uma importante transformação da estrutura do retalho, da distribuição ao consumidor, com o aumento da concentração do mercado em grandes cadeias de lojas associadas a marcas nacionais ou internacionais.
.
Esta tendência de concentração a nível da distribuição não teve paralelo no sector produtivo que continua muito fragmentado e dominado por PMEs.
.
"Developing and emerging economies on the other hand become clothing manufacturing locations of choice as their economic and financial systems improved, their industrial and logistic infrastructure was developed rapidly and a massive migration of rural work force to the industrialising cities and development zones provided an abundance of cheap manual labour for a manufacturing system that does not required very high levels of skill and knowledge from its production workers. In some emerging countries like China, India, Pakistan or Turkey the expanding clothing manufacturing sector also increasingly benefits from abundant local supplies of textiles  thanks to the build-up or massive expansion of textile-production capacity from fibre - mostly cotton and man-made fibres such as polyester - often led by government-owned companies or private companies benefiting from privileged access to public funding.
.
Globally sourcing retailers and wholesalers massively exploited this opportunity for significant reduction of their purchasing prices to the detriment of textile and clothing manufacturers in industrialised countries which due to their higher input costs (labour, capital, energy, environmental and consumer-protection compliance, etc) were increasingly unable to match prices offered by developing country producers. This led to constantly shrinking margins, thousands of company closures and contributed significantly to the job losses that occurred over the last two decades. Despite this, the EU textile and clothing industry in 2007 still employed 2,5 million people across some 160,000 companies generating a combined annual turnover in excess of 210 billion Euros.
.
In order to stay competitive companies have been undergoing continuous restructuring and modernisation processes. As part of these processes they often invested heavily in new technology, research, product development and innovation capacities, resulting in continuous and recently accelerating productivity growth.
...
The industry's response of a major shift of manufacturing to low labour costs countries often far away from the point of sale/consumption of the final product has in turn introduced additional complexities, risks and costs. Long lead times, challenging logistics and quality assurance procedures, a lowly skilled work force as well as a higher vulnerability to IPR infringments plague these operations sometimes coupled with political or social instability or higher economic and financial volatility in these off-shore manufacturing countries. The related costs and risks are borne by manufacturers and distributors alike and also limit tem in the adoption of new business models based on:
  • ultra-fast response to end market changes;
  • deeply consumer involved industrial scale customisation and personalisation of products;
  • smart flexible networking in open value chains and business communities; 
  • use of the latest b2b and b2c e-business technologies.
Such new business models have, in a number of significant individual cases, provem their potential for significant economic value creation in an end market that becomes more and more segmented, fragmented and fast moving. (Moi ici: Não, o que se segue não foi escrito por mim... mas podia ser) However, for a majority of industry players  (Moi ici: E académicos, e macro-economistas, e políticos, e jornalistas, e dirigentes associativos, e...locked into the 20th-century paradigm of labour intensive mass production at low labour cost locations using 19th-century manufacturing technology concepts, such value creation remains an elusive potential."
.
Trechos retirados de "Transforming Clothing Production Into a Demand-Driven, Knowledge-Based, High-tech Industry: The Leapfrog Paradigm" de Lutz Walter,George-Alexander Kartsounis e Stefano Carosio


sábado, agosto 27, 2011

Impaciente com os lucros e paciente com o volume (parte II)

Continuado da parte I.
.
Talvez o que se abordou na parte I seja uma explicação lisonjeira para esta notícia "Facebook ending Deals product after four-month test"
.
"However, Facebook's decision not to pursue the business may mean the company thinks the approach lacks merit."

Uma contribuição para a discussão sobre a agricultura com futuro

O Pedro Soares deixou uma interessante reflexão na caixa de comentários de um postal de ontem:
.
"Ideias rediradas do blog BSC:

- A Agricultura de escala e de preço não funcionará em Portugal pq não temos a necessária escala (por exemplo para sermos competitivos a produzir cereais)
- A Agricultura deveria esquecer subsidios e deixar o mercado fazer o seu trabalho. Ou seja, pensar a agricultura tirando os subsidios da equação. Os subsidios seriam um extra agradável.
- A Agricultura Portuguesa deveria assumir-se como de nicho. Fornecer Maracujá, Mirtilos, frescos, etc etc. Isto pq não temos condições nem terrenos para fornecer numa lógica de escala e de preço. Qualquer Nortenho sabe que os campos do Norte não têm condições para produzir escala...
- Não nos deveremos colocar em luta contra a Globalização já que iremos gastar dinheiro e forças contra um monstro que nos acabará por vencer no fim. Ou seja, não utilizar subsidios para tornar sectores não competitivos em competitivos só pq existe falta de imaginação ou pq os agricultores assim o querem.

Agora sugestões e ideias minhas (PAS):
- Iniciar estudo junto com as diversas Universidades, sobre quais, de entre os frutos e produtos agrícolas importados pelo Norte da Europa, de fora da Europa e da bacia do Mediterrâneo, poderiam ter boas condições para ser produzidos em cada Região de Portugal. (Moi ici: O Pedro Soares começa aqui um exercício de balanced centricity: actor - Universidades. Construir a paleta de oportunidades competitivas. Não é preciso ir muito longe, por exemplo, Portugal é competitivo na produção de cereais biológicos para a produção das multinacionais do agro-alimentar. Porquê? Por causa do clima e, nesse caso, porque a escala deixa de ser um factor crítico já que quem tem escala a sério não se dedica aos cereais biológicos, é uma questão de modelo mental)
- Criar legislação para sistema de "aluguer" de terrenos agriculas não explorados. Pq? Porque assim, uma pessoa que queira arrancar na agricultura sem dinheiro (pq está desempregada) poderia iniciar no terreno abandonado de um terceiro pagando somente um aluguer ou um valor indexado ao rendimento final do mesmo terreno. Para o proprietário do terreno tem a vantagem de, além do potêncial rendimento, ter o terreno tratado e limpo. (Win-Win) (Moi ici: Bom ponto. Não sei como está a legislação agora, recordo ouvir conversas na casa dos meus pais e avós sobre os "trabalhos" em que se metia quem "alugava terras para trabalhar" o proprietário ficava quase impossibilitado de as reaver tal o regime de protecção de quem trabalhava a terra. A opção era, deixar a terra em pousio!!! Outro actor - Estado legislador. Não director mas facilitador)
- Pq legislação? - como a ideia é a de incorporar pessoas com baixa formação, para os proprietários e produtores se sentirem seguros e não terem de batalhar em contratos complexos o mercado deveria ser regulamentado à partida.
- Instituto do emprego poderia inicialmente oferecer sementes e formação sobre estes produtos a desempregados (só funciona em conjunto com a medida anterior, aluguer de terrenos). (Moi ici: Instituto do emprego? Come on Pedro! Preferia o exemplo dos pares. No livro Switch de Chip e Dan Heath há a minha solução preferida "Find the Bright Spots". Melhor do que uns profs, ou uns consultores, ou uns mordomos de Gondor... o exemplo dos pares, a visita ao terreno e a conversa para trocar experiências, é o "see and feel" first and only then... change behavior de John Kotter. Ainda este mês de Junho numa visita a um produtor de mirtilhos aqui da terra, constatei que estava a ser visitado e a conversar com um grupo de wannabe empresários que queriam arrancar com uma exploração de mirtilhos noutra zona do país. É a rede essencial que suporta e dá vitalidade aos clusters fazendo circular informação)
- Finalmente, e mais difícil, criar uma rede regional que facilite a logistica, negociação e gestão da produção destes novos produtores de nicho. Não podemos pedir a esta gente para colocar produtos na Alemanha pq eles não dispoem de contactos nem de capacidades para isso. Não sei bem como agilizar isto... (Tv alguém tenha uma boa ideia.)" (Moi ici: Pois, aqui é preciso outro actor, alguém que faça o que Steve Jobs fez com a música. A tentação é a sedução da quantidade e ir bater à porta da grande distribuição... cuidado com a pedofilia empresarial. Garantem escoamento sim mas sugam tudo, julgo que querem pagar por kg o que o consumidor paga por 125g (no caso do mirtilho). O conselho é crescer com uma marca e testar as lojas gourmet, a restauração, a venda directa via internet, o circuito de "vending machines", o circuito dos "coffee-breaks" nas empresas. Para a exportação cada vez me convenço mais que o essencial é escolher e participar em meia-dúzia de feiras internacionais. Mais uma vez o exemplo dos pares é fundamental)
.
Repare Pedro, as CAPs hoje em dia, encontram justificação na discussão, gestão, distribuição dos subsídios e outras benesses. Serão o maior entrave a qualquer mudança, ainda para mais uma mudança que privilegie os pequenos em outras culturas que não o cereal. 

sexta-feira, agosto 26, 2011

Um país desesperante

A propósito deste país de incumbentes e dos aprendizes de feiticeiro "Daniel Campelo equaciona proibir novas licenças de plantação de vinha no Douro" lá para o final do ano, quando começar a colheita da azeitona, vamos começar a ouvir outro choradinho a pedir para impedir a plantação de mais oliveiras.
.
Uma semana em Tikrit 1 permitiu-me constatar que este ano vai ser um ano excepcional de produção de azeitona:
Este país é desesperante!

Os mordomos de Gondor e os outros

Ao ler este postal de Steven Blank "There's Always a Plan B" e em especial:
.
"I realized that this was a real-world example of the difference between an entrepreneur and an operating executive.
.
There’s Always a Plan B
My formal definition of a startup is a temporary organization in search of a scalable and repeatable business model. Yet if you’ve founded a company you know that regardless of any formal definition, startups are inherently pure chaos. As a founder, keeping your company alive requires you to think creatively and independently because more often than not, conditions on the ground will change so rapidly that any original well-thought-out plan quickly becomes irrelevant. (It’s equally true for startups, war, love and life.)
.
The reality is that to survive requires a mindset which can quickly separate the crucial from the irrelevant, synthesize the output, and use this intelligence to create islands of order in the all-out chaos of a startup.
.
To do this you are instinctually creating and testing multiple hypotheses which are creating an infinite number of possible future plans. And when the inevitable happens and some or all your assumptions were wrong, you pivot your model into the next plan and continue forward. You do this until you find a scalable and repeatable business model or you die by running out of money."
.
Eu acrescentaria, e não é só na fase de start-up, é para sempre. Basta estar atento e perguntar se a empresa tem futuro a fazer o que faz actualmente daqui a 5 anos, e perceber as ameaças e perceber as oportunidades, para começar a namorar com uma alternativa onde se poderá estar melhor dentro de 5 anos...
.
Claro que os incumbentes já não são empreendedores, são gestores do que existe... são mordomos de Gondor, têm medo de perder o pé, têm medo de arriscar, têm medo ...