segunda-feira, setembro 07, 2015

Falha nos alicerces


A minha mãe, se ler este texto, "Taking it personally", vai sorrir.
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Todos nós já tivemos esta experiência de encontrar uma loja sem batota.
"I visited a shop that only sells children's books."
Neste caso é ainda mais grave, uma loja que se assume como membro de uma tribo, uma loja que não é generalista.
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E  Seth Godin vai à raiz do problema. A causa, a responsabilidade, nunca é do funcionário, é da gerência que não se importa, que não é exigente, que não está interessada na criação de magia.
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E não há nenhum apoio, subsídio, providência cautelar, proteccionismo que resolva esta falha nos alicerces.

Pergunte-me!

Ao promover a concorrência imperfeita estou a preparar as empresas para se entranharem e ambientarem cada vez mais no Estranhistão.
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Mais um exemplo do que se pode passar no Estranhistão é descrito por este delicioso artigo "Small designers don't need big retailers to find a market".
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Como é que uma peça de vestuário chega à posse do seu utilizador?
Admitamos que o utilizador e o comprador (cliente) são uma e a mesma pessoa.
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1.A fábrica encomenda uma colecção a um criativo. Produz as amostras e prepara as colecções que distribui pelos seus vendedores.
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2.O retalhista, recebeu um vendedor da fábrica de peças de vestuário, inspeccionou a colecção e escolheu os modelos que lhe interessaram e indicou as quantidades e cores que queria de cada um.
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3.A fábrica recebe os pedidos das lojas, consolida-os. Encomenda as matérias-primas, planeia a produção, produz, controla, embala, expede e factura.
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4.A loja recebe os pedidos e expõe-os.
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5.Um comprador entrou numa loja, inspeccionou as prateleiras, escolheu um artigo que gostou, experimentou-o e pagou-o.
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6.No final da época a loja paga à fábrica que entretanto já teve de pagar a matéria-prima, o criativo, os operários e a fábrica.
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É preciso arcaboiço financeiro para avançar com todo este dinheiro durante vários meses até finalmente receber a recompensa.
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Assim, o sistema actual é algo como:
O artigo refere outra possibilidade:
A fábrica pode retirar a loja da equação e substituí-la por uma plataforma onde os clientes vêem a colecção, escolhem e pagam adiantado o que a fábrica irá produzir e entregar. O arcaboiço financeiro reduz-se fortemente, com o cliente a pagar adiantado e, a fábrica a poder interagir directamente com os consumidores, com os utilizadores, e a poder iterar muito mais rapidamente apostando na carta da personalização.
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Ou, sendo ainda mais radical, dada a redução do arcaboiço financeiro necessário, a fábrica pode passar a ser só o fabricante contratado pelo criativo. Ou seja, a relação é entre o criativo e os consumidores, via plataforma:
Muitas fábricas com marca própria não aproveitarão este tipo de ecossistema, com margens muito mais interessantes, porque estão prisioneiras das relações actuais que mantêm com as lojas, terão receio de as prejudicar. Por isso, é mais provável que sejam agentes novos a aproveitar estes novos canais e modelos de negócio.
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A redução do arcaboiço financeiro é uma forte redução nas barreiras à entrada e isso é Mongo!!! A explosão de agentes muito mais pequenos, apostando na criatividade e na interacção em vez de em activos físicos.
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Se isto fosse restrito a Portugal os incumbentes avançariam com pedidos de providências cautelares junto dos tribunais, para impedir o progresso.
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E o que devem fazer as lojas?
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Abraçar a mudança e avançar para o nível seguinte do jogo. Como?
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Pergunte-me!


Outro exemplo interessante

Outro exemplo interessante de um país que agarrou o touro pelos cornos:
"Ainda não fazemos parangonas, como o calçado ou o têxtil, mas a verdade é que já começamos a ser conhecidos no estrangeiro também pela iluminação", explica Ricardo Sebastião, diretor executivo da Associação dos Industriais Portugueses de Iluminação (AIPI).
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O setor que a AIPI representa não é tão pequeno quanto isso: engloba cerca de duas centenas de empresas que empregam três mil pessoas, com um volume global de negócios a rondar 185 milhões de euros, e cada vez exporta mais, em média 60% da produção. "Em 2014, as exportações aumentaram 10% para 110 milhões de euros e, este ano, no primeiro semestre, já aumentaram 4%", adianta Ricardo Sebastião.
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[Moi ici: Verifico com bons olhos que estavam preparados, maduros, para o salto] "Tivemos de 'partir muita pedra' para conseguir levar esta ideia avante, porque os empresários portugueses não têm um histórico de cooperação, mas hoje já perceberam que, num mercado global, sem escala, não conseguiam projetar-se de outra forma", revela o diretor executivo da AIPI.
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A mensagem comum baseia-se na "flexibilidade das empresas portuguesas, no tempo de resposta rápido, na criatividade para criar peças únicas ou séries limitadas", precisamente o oposto do que a concorrência asiática consegue oferecer. "Hoje, a nossa concorrência já não é essa - as empresas que concorriam pelo preço acabaram por fechar -, mas a de algumas grandes marcas italianas ou norte-americanas", adianta Ricardo Sebastião.[Moi ici: A mensagem deste blogue, sem tirar nem pôr!!!]
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Com "muitas novas empresas jovens ligadas muitas vezes a estúdios de design", hoje o setor da iluminação cresce com clientes novos e continua a testar mercados "exóticos" como Singapura, Miami ou Estocolmo, dependendo menos das grandes lojas de retalhistas europeus que ainda recuperam da crise, e cada vez [mais] presentes em "projetos completos de cadeias hoteleiras, remodelação de restaurantes e apartamentos de luxo". Ou no cinema."
Trechos retirados de "Iluminação portuguesa sai da sombra"
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Recordando C. K. Prahalad, “Leadership is having a point of view about the future" e "O poder das associações e nas associações"

domingo, setembro 06, 2015

Curiosidade do dia

Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, ... e, de repente são vários milhões a falar, a aprender e a ensinar na mesma língua.
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Sim, os programas são diferentes, o rigor sobre os instalados é diferente.
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Contudo, podia ser uma ideia a trabalhar dentro desta comunidade falante "A Sharing Economy Where Teachers Win"

Usar sempre de dupla precaução quanto aos textos da Agência Lusa

Um jornal como o Observador deve usar sempre de dupla precaução quanto aos textos da Agência Lusa.
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Eis mais um exemplo "Preço do leite cai 16% em Portugal e 20% na UE, em junho"
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Leiam o texto todo, por favor.
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Agora releiam outra vez, por favor.
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Alguma coisa que tenha chamado a atenção?
"Segundo o relatório de julho do observatório, a produção de leite na UE aumentou 2,7% em maio, levando o acumulado dos primeiros cinco meses do ano a um nível 0,2% acima do de 2014."
Parece que não se passa nada ao nível da produção... O que é que eu digo acerca das médias?
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Edgar Allan Poe não esconderia melhor o que se passa com a produção!
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E qual foi a evolução em Portugal? (outra fonte)


Nem um sinal desta posição do crescimento da produção de leite em Portugal no texto da Lusa. Gostava de ouvir a opinião dos produtores sobre esta evolução.
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Estão a ver os partidários de Seguro com vontade de criticar os partidários de Costa? Contudo, como há eleições, optam por escolher um adversário externo para não acabar com a imagem de unidade... é uma metáfora do que sinto que se passa com o leite (como no vinho entre os produtores de uvas e os engarrafadores de marca)
"Em agosto, o comissário europeu para a Agricultura, Phil Hogan, reconheceu que os setores dos laticínios e da suinicultura enfrentam “dificuldades”, mas salientou que as medidas a adotar na segunda-feira “não podem pôr em causa a orientação para o mercado”da política agrícola comum." (fonte)
Vamos lá a ver o que quer dizer "orientação para o mercado" quando se fala da produção de uma commodity. Concorrência perfeita, portanto, temos:
Muito simples!
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O que está a acontecer ao consumo? "Queda no consumo e de 13% no preço do leite esmaga produtores" (Acrescentem ao embargo russo a lição neozelandesa)
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Acham que sou bruxo? Não! Prever fenómenos no mundo das commodities é pouco arriscado. Vejam qual o país em que a produção homóloga de leite mais caiu no segundo gráfico lá em cima.
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Agora vejam o que escrevi aqui em 2008:
"Tudo isto por causa da hecatombe que prevejo para a Roménia... será que os políticos romenos falaram verdade ao seu povo sobre o que vai acontecer como consequência da adesão à UE?"

Daqui:
""Milk went from a local industry to a national one, and then it became international. The technological advances that made the Fulpers more productive also helped every other dairy farm too, which led to ever more intense competition.""
Daqui:
“World markets are oversupplied with dairy commodities after farmers globally increased production in response to the very good milk prices paid 12 to 18  months ago,”
Depois temos políticos e produtores incapazes de enfrentar a realidade.
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A UE quer mercado mas com commodities só há duas soluções:


O fim das quotas implica que só haja uma solução... a tal que nem Jaime Silva foi capaz de levar até ao fim.
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Claro que se deixarmos de olhar para o leite como uma commodity, um mundo de alternativas acaba por se abrir, mesmo para os pequenos. No entanto, para isso era preciso começar a falar a verdade nua e crua, em vez de os tratar como coitadinhos. BTW, esse é o meu mundo, o mundo da concorrência imperfeita.

Querem ver outro padrão?

O vinil com "Não há receitas... cada caso é um caso!"
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E agora as cassetes audio "This Company Is Still Making Audio Cassettes and Sales Are Better Than Ever". Confesso que pensei nesta possibilidade quando vi "Guardians of the Galaxy"; contudo, parece que o movimento retro é anterior e devido sobretudo às pequenas bandas independentes... sempre o delicioso Mongo a entrar no nosso mundo por todo o lado.
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E pensava eu na uniformização ocidental fordista como o futuro do mundo, quando olhava para o mapa do planeta Mongo no final dos anos 70 do século passado...
Graças a Deus que 1984 não foi como como estava escrito.

Querem ver um padrão?



Da produção em massa
para a variedade, rapidez, flexibilidade, personalização:
Da produção de grandes séries, baixo custo unitário, longos prazos de entrega, pouca variedade, para "Portuguese Shoemakers Get Fancy" (um filme por demais divulgado neste blogue desde... 2008)
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Da produção de vómito industrial para "Wheels with soul"
"Brompton is already the country’s largest bike manufacturer, yet the company did not make them on a large scale until the early 2000s. Its rise happened against a backdrop of the almost complete collapse of Britain’s bicycle industry, once a world leader. Raleigh, the most famous volume bike-maker, based in Nottingham, had moved all its production to low-cost Asia by 2002. Now the vast majority of the 3.25m bikes sold in Britain annually are made abroad.
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Brompton has bucked this trend by carving out a niche as a producer of high-end, handmade folding bikes with global appeal. The bikes are pricey, but every steel frame is fitted together using brazing rather than welding. The company makes much of its “Made in London tag”, as British craftsmanship is still valued overseas. About 80% of its bikes go abroad now, where Koreans, Japanese and others cherish them as fashion accessories as much as modes of transport.
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Britain’s few other remaining bike-makers have survived using similar tactics. Pashley, based in Stratford-upon-Avon, has been making classic bikes, often seen in advertisements, since 1926.
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The brand is all about old-world heritage. Adrian Williams, Pashley’s boss, describes his products as “beautiful and useful”. Like Brompton, the firm is export-focused, selling to over 50 countries, mainly in Asia. Moulton, another brand, also sells well in the Far East."






As melhores inovações começam assim

Há tempos favoritei mais um tweet de @EskoKilpi:
"The best opportunity to differentiate yourself and do something big and unique may be by defining a problem that no one else has seen"
Quando vejo alguém a apresentar algo inovador que vai mudar o mundo, lembro-me sempre do exemplo da Segway, o veículo que ia revolucionar o transporte urbano. Depois, lembro-me do comboio... começou como uma inovação a ser utilizada num campo muito restrito, o transporte de minério, porque o preço da alimentação das mulas de carga tinha disparado.
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Assim, quando vejo uma inovação a ser aplicada num nicho muito específico fico sempre a pensar nos usos generalizados que pode vir a ter.
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Aqui vai mais um caso "A New Facial Recognition Mobile App From Listerine Helps Blind People See Smiles".
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As melhores inovações começam assim, dedicadas a um nicho muito específico, depois, com o tempo, a evolução leva-as para destinos nunca equacionados à partida.

sábado, setembro 05, 2015

Curiosidade do dia

Recordo muitas vezes as palavras de Flávio Silva no final do filme "Massada"
- Cometi o erro do principiante. Sobrestimei a força do meu inimigo!
Quando a informação é incompleta podemos cometer três tipos de erro:
  • Sobrestimar o concorrente; 
  • Subestimar o concorrente; ou
  • Pensar demasiado no concorrente.
Ao ler "NOS lança serviço N Play para concorrer com a Netflix" interrogo-me, será que faz sentido este choque frontal?
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A Netflix vai entrar a servir os overserved ou os underserved?

A produção em massa já era

"Les produits et les services doivent céder la place aux expériences.
Le monde est consciemment devenu plus expérientiel. Mais, il faut continuer à renforcer l’idée que cela représente un virage fondamental dans l’économie globale. Se concentrer uniquement sur les produits et les services conduit à l’austérité économique. Les expériences sont un nouveau type d’offre économique et à ce titre sont un argument clé pour promouvoir le retour à la prospérité. Le fait que tant de gens attendent le retour en force des industries traditionnelles et rêvent de relance de l’emploi industriel et de la production de masse est un sérieux frein au progrès. Aujourd’hui, les produits et les services doivent céder la place aux expériences en tant que format dominant du nouveau paradigme économique, de facteur de croissance du PIB et des emplois."
Os que sonham com novas Autoeuropas são os que ainda não perceberam que o consumo em massa está a desaparecer e, sem ele, já não se justifica a produção em massa.
Trecho retirado daqui.

JTBD

"By adopting to jobs-to-be-done theory, the role of marketing can move from passively pushing product information to an active and more integrated part of designing the service experience.
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The job is the single most important thing for a service  -  it’s the sun your touch points, products, features and marketing spin around.
...
This changes marketing’s primary goal of passively telling about the product, to actively helping people solve their jobs
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Without a context, it’s harder for potential customers to relate.  ... Value is always relative to the context in which a job is done. Make sure your marketing is based on contexts discovered in research, so people can relate and understand your value proposition faster. Knowing the context is also crucial to design the whole service and develop products within.
...
First off, never see your product in a vacuum  -  people don’t think in terms of products, they think about getting a job done. ... This changes marketing’s view of the ‘product as the sun’ to ‘the job as the sun’."
A mesma pessoa pode usar cada um destes sapatos numa mesma semana. Em função do contexto e do job to be done.
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E a sua empresa... trabalha para que clientes-alvo? Qual é o seu job to be done? Qual é o contexto em que vão usar a sua oferta?
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Que mensagens usa para lhes chegar ao coração?
Que canais usa?
Que prateleiras frequenta?
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Trechos retirados de "Evolving the role of marketing"

Advogado do diabo

"that you are very busy all the time is actually a bit of problem when you are in charge of your company or unit’s strategy, and responsible for organizing it. Because it means that you don’t have much time to think and reflect. And thinking is in fact quite an important activity when it comes to assessing and developing a strategy.
...
If you are in charge of an organization, force yourself to have regular and long stretches of uninterrupted time just to think things through. When you do so – and you should – here are five guiding questions that could help you reflect on the big picture.
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1. What does not fit?
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2. What would an outsider do?
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3. Is my organization consistent with my strategy?
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4. Do I understand why we do it this way?
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5. What might be the long-term consequences?
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Strategy, by definition, is about making complex decisions under uncertainty, with substantive, long-term consequences. Therefore, it requires substantial periods of careful, undisturbed reflection and consideration. Don’t just accept the situation and business constellation you have arrived at. Leadership is not just about doing things, it is also about thinking. Make time for it."
E se precisar de um advogado do diabo, alguém que desmascare as incoerências das respostas e tenha a coragem de ser provocador e iconoclasta... contacte-nos!
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Um anónimo da província habituado a estas coisas.
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Trechos retirados de "5 Strategy Questions Every Leader Should Make Time For"

sexta-feira, setembro 04, 2015

Curiosidade do dia

Cuidado com o que desejam:
""Acreditamos que vamos ter de pedir à comunidade científica e quem sabe aos nutricionistas que nos ajudem a resolver este problema e que tenhamos discussões esclarecidas na praça pública e que se perceba exatamente quais as vantagens e desvantagens do consumo destes produtos"
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Ana Isabel Trigo Morais frisa que o comportamento do consumidor "está a ficar muito consistente" que as constantes quebras no consumo de laticínios já "não são uma tendência, mas uma realidade".
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"O leite está a ser muito penalizado por esta mudança de hábitos no consumidor que acreditamos estar a ser influenciada por esta discussão sobre os impactos do consumo do leite e derivados", afirmou, acrescentando que a quebra de vendas é contínua e causa "grande preocupação".
Pode ser que saia o tiro pela culatra:
""‘My guess is that it’s the milk that makes up the lion’s share of the carbon footprint.’"

Quem é que ainda liga ao "princípio da eficiência económica"?

Neste blogue e no meu trabalho com as empresas tento passar a mensagem acerca de uma maneira diferente de fazer os preços. Tento que as empresas abandonem a velha prática marxiana de considerar que preço é igual ao custo mais uma margem.

A nossa proposta é outra: preço não tem nada a ver com custo, preço tem tudo a ver com o valor.
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Quem determina o valor? O valor é definido pelo cliente, o valor não resulta de um cálculo numa folha de excel, o valor resulta de um sentimento baseado na experiência, ou na expectativa de uma experiência, que a integração do recurso comprado produzirá na vida do cliente.
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Quando falo disto aqui no blogue uso o marcador "value-based pricing".
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No entanto, não se julgue que o que este anónimo da província propõe é o caminho mais seguido. Pelo contrário, recuando a 2011 podemos recordar "Basear o preço no valor".
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Por que escrevo isto? Por causa deste artigo no Expresso "Vender por €100 mil aquilo que se produziu a €100: o incrível negócio dos medicamentos inovadores" onde encontro um economista agarrado a fórmulas do século XX, desenhadas para um tempo em que só havia um pico na paisagem e, por isso, todos competiam pela mesma posição:
Em Mongo, no Estranhistão, existem muitos picos e o tipo de competição é diferente.
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O Estranhistão não é o Kansas do século XX!
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Por isso, surpreende-me que um professor universitário não esteja mais actualizado:
"A pergunta impõe-se: como é que um medicamento pode ser vendido por cerca de mil vezes do que custou a ser produzido? Na génese do problema, aponta Pedro Pita Barros, está o facto de o mercado farmacêutico assentar num sistema de patentes que cria situações de monopólio onde, sem a ameaça da concorrência, as farmacêuticas fixam o preço que entenderem. E fazem-no tendo como referência não o custo de produção mas o valor que consideram que criam para o paciente, ou seja, o valor mais elevado que o cliente está disposto a pagar. Uma política que o economista contesta. [Moi ici: E lá vem a fórmula criada por seres racionais para um mundo que não existe] “O princípio da eficiência económica é que o preço se aproxime do custo unitário de produção, não do valor máximo que o beneficiário está disposto a pagar.”" [Moi ici: Isso faria sentido num mundo sem marcas, sem marketing, não em Mongo. É uma justificação tão ... pobre]
Pessoalmente, a minha solução para esta inflação dos preços passaria por destruir o actual regime de patentes. Basta pensar como o Brasil e a África do Sul se marimbaram para as patentes dos retrovirais.
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E, por fim, não creio que o fim do sistema de patentes diminuísse o ritmo de inovação. Pelo contrário, obrigaria a acelerá-lo.
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Uma coisa é certa, não faz sentido nenhum que o preço se aproxime do custo de produção se o mercado for imperfeito. E o que é que somos?
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Promotores da concorrência imperfeita e de monopólios informais.
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Reparem, "monopólios informais". Monopólios que se criam na cabeça dos clientes, com experiências, serviços e produtos superiores.

E a sua empresa, para onde vai?

Excelente reflexão em "Riding a Bike In Tuscany Taught Me Why People Don't Set Goals":
"That's when I figured out why people [Moi ici: PME] don't set goals. Because they answer the question the way I did--"I'm not lost, I just don't know where I am." On that same late stretch today where I was now trying to hone in on the villa, I realized that I actually do get lost, and I do it once on every ride; when I'm trying to get home; when I finally have a goal.
...
When I have nowhere I need to be, I'm simply on a glorious adventure with no constraints, no rules, no timelines, and no pressure to perform. Nothing to measure in the long run. I truly am not lost, I just don't know where I am. But that's okay, because I have nowhere I need to be.
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But as soon as I ask, "Where is home?", I'm immediately lost, because now I have somewhere I need to be, and at first I don't know how to get there.
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We can live reactively and any road will do, or we can live on purpose, design our future, and become intentional about getting somewhere. We get what we intend, not what we hope for."

O mindset do século XX na mente dos investidores do século XXI?

Quando vejo o Shark Tank e oiço Kevin O'Leary, penso sempre nos tópicos deste texto "Twitter works just fine – but for investors, anything except total market domination is a disaster".
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Continua-se agarrado ao paradigma do século XX, ao sucesso do BIG HIT, ao bezerro dourado da quota de mercado.
"The longer Twitter has existed, the more this essential fact has become clear. It will grow, but not spectacularly; make profits, but not spectacular ones. And it works
...
But to tech investors this is a bad thing. It means share prices calibrated for exponential growth cannot be justified. Any company that cannot demonstrate a clear route to monopolising its space, monetising its users’ data on a vast scale, is to be discarded, targeted for acquisition, consigned to perpetual dowdiness.
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Nothing better illustrates our addiction to illogic than the mismatch between Twitter’s workability and its unpopularity with investors. And it’s a question with systemic importance."
No Estranhistão onde somos todos weird, o BIG HIT tem cada vez menos lugar.

Interacção e eficiência

E volto uma vez mais ao Montepio e à sua busca da eficiência.
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Há dias no Twitter @EskoKilpi sublinhou uma das mensagens queridas deste blogue:
"Work is solving problems. The industrial approach was detached from customers and there are many problems without a mass-market solution.
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The new rules 1/ Work in the future is still going to be solving problems, but in interaction with customers
...
2/ The solutions to problems are more contextual
...
3/ Work, then, cannot be based on preconceived competences, but work is learning
...
4/ Work should be understood as interaction between interdependent people
...
5/ The basic unit of work is not a task or a role, but interaction"
"Interaction" exige qualidade da interacção não se compadece com eficiência.
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Em conjugação com este texto de @rshevlin   "The Truth About Customer Relationships" para reflexão profunda.

quinta-feira, setembro 03, 2015

Curiosidade do dia

Ou, sonho de um anarco-libertário.
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Acho que faz sentido começar com a canção de Paul McCartney:

Sim, esta espécie de inveja:
"In Years To Come They May Discover
What The Air We Breathe And The Life We Lead
Are All About
But It Won't Be Soon Enough
Soon Enough For Me
No It Won't Be Soon Enough
Soon Enough For Me
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Já não será no meu tempo...
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Ao ler "Are Floating Farms in Our Future?" a primeira coisa que me veio à cabeça foi a possibilidade de criar "comunas independentes" capazes de viverem isoladas do continente com as suas próprias regras.

Dick Dastardly é um mau exemplo

Do outro lado do Atlântico e do equador, o @AllanMoura  mandou-me este texto "Por que deixar de lado a competição" de onde sublinhei:
"embora seja difícil encontrar um ramo empresarial sem concorrentes, é possível e desejável deixar de lado o sentimento de competição. Isso faz bem não só para a saúde, mas para o negócio também, diz Kiechel. Se a fixação por derrotar os “adversários” se tornar objetivo prioritário, um desempenho indesejado pode levar ao sentimento geral de autodepreciação dentro da empresa, à caça às bruxas na equipe e, principalmente, a deixar para trás os focos principais do negócio.
...
Em outras palavras, concentrar o foco em alguém a quem servir, não derrotar.”"
Um conselho deste blogue e também de Buffett.
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Como não recordar Dick Dastardly!

Não é passado, é futuro!

No Caderno de Economia do semanário Expresso do último fim de semana encontrei o texto "Como valorizar a lã portuguesa?". Sublinhei 7 trechos. Um deles sobre a necessidade sentida por artesãos e makers por serviços industriais ajustados à sua dimensão e outro que associei logo ao caso da artesã de Bragança e ao da tapeçaria de Beiriz:
"Será preciso pagar mais para ter uma marca de lã portuguesa, para comprar uma meada de lã da Serra da Estrela. Mas as tendências de mercado têm mostrado que isso é possível: se algo for único, se preservar um modo de vida, porque não pagarmos mais um pouco"?
...
Esta actividade perdeu importância económica, mas com boas ideias, é possível que nasçam projectos interessantes. Não podemos é ver isto como uma actividade de pobre, do passado", diz."
Um pouco na linha desta série recente acerca da concorrência imperfeita, o interessante é que dificilmente os antigos artesãos percebem e conseguem fazer essa transição, dado estarem como Saul, prisioneiros de modelos mentais tornados obsoletos... podem e são exímios a produzir. No entanto, não chega produzir, é preciso ter um modelo de negócio diferente e uma proposta de valor diferente e canais e clientes-alvo diferentes.
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É mais provável que a mudança seja assumida e feita por gente como a Rosa Pomar, mencionada no artigo do Expresso e referida em "Qual é o nicho?"