terça-feira, maio 01, 2012

A jihad errada!

De tempos a tempos os jornais dão guarida a uma mensagem esquisita, uma e outra vez repetida, uma espécie de jihad no papel.
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Desta vez foi o Jornal de Negócios, nem o meu jornal preferido escapa ao jihadismo.
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Alguém, com este CV, com a experiência que ele deve encerrar, tem uma receita para Portugal...
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"Os patrões precisam de ir à escola"
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Apetece perguntar, por que não começa por si? Já que foi à escola, arranque com uma empresa, expulse do mercado essa gente que não foi à escola.
"O atraso educacional dos nossos empresários tem implicações evidentes. Num mundo cada vez mais globalizado, o sucesso estará reservado para os que souberem melhorar processos e dinamizar as lideranças, e para os que inovarem e arriscarem descobrindo caminhos que ainda não existem. Muito mais do que sobre os trabalhadores é sobre os patrões que recai a principal responsabilidade de relançar a economia. E para isso elevados níveis de educação são essenciais."
Não sou contra a formação dos empresários, tenho é dúvidas quanto à formação oferecida. A formação só faz sentido se for uma manifestação da procura, algo que vem de dentro e não uma imposição da oferta.
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Só que não ir à escola tem as suas vantagens!!!
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Ainda ontem num postal voltei a referir a passagem bíblica: Lc 10, 21-24
"Naquele momento Jesus exultou no Espírito Santo e disse: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos."
Esta frase invade-me a mente tantas vezes... tantos empresários que, porque não foram à escola, porque não ouviram os economistas da nossa praça, tentaram e fuçaram e triunfaram...
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Se os empresários do calçado fossem à escola teriam dado ouvidos a Daniel Bessa... e hoje não teríamos a indústria de sucesso que temos. Um empresário que não foi à escola está mais próximo de praticar o jogo de soma não nula do que aquele que foi à escola.
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Não foram "patrões que não foram à escola" que defenderam o aeroporto da OTA para exportar hortaliças do Oeste, ou o aeroporto de Beja para exportar peixe, ou o rol de autoestradas vazias.
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O mundo é mais complexo do que aquilo que se aprende na escola e não adianta diabolizar os empresários que não foram à escola, se eles não prestam, não há problema, o mercado há-de expulsá-los desde que não tenham apoios e subsídios e adjudicações directas de amigos no governo e nas autarquias.
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A guerra não devia ser contra os que arriscam ser empresários nos tempos que correm, a guerra devia passar por facilitar a vida a que mais gente arriscasse a pele a ser empresário.
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BTW, não creio que tenham sido os empresários que não foram à escola que faliram o país.
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BTW, há quem tenha passado por Harvard e pelas melhores escolas de gestão da Suiça e tenha esta leitura da produtividade do país.

segunda-feira, abril 30, 2012

Chegou o tempo do pau bater

Se virem o vídeo "Setor do mobiliário de escritório sofre com a crise" não se esqueçam do tempo em que não havia Parque Escolar.
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Uma empresa, numa economia de empreendedores, sujeitos ao funcionamento do mercado e ás regras capitalistas, quando sente, quando pressente uma crise, uma quebra na procura, tem de mudar de vida, tem de se reformular, tem de se transformar... tudo o que se pode imaginar neste exemplo dos anos 80:
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"O que a austeridade provoca (Lc 10, 21-24)"
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Actualmente, vivemos num mercado cada vez mais híbrido e cheio de regras e apoios que perturbam o espírito empreendedor. Os apoios dos governos raramente são vistos como uma botija de oxigénio para mudar de vida, os apoios adiam a mudança de vida, basta recordar o que escrevi no ano passado sobre o assunto:

"Tal é como é sabido, a listagem de empresas é segmentada fundamentalmente por 5 áreas de actividade que são alvo de estudo, sendo elas as seguintes: mobiliário de escritório, hospitalar, hoteleiro, escolar e urbano.Fruto das dificuldades que o mercado impôs em 2009 com um forte decréscimo nas encomendas e o aumento de investimento estatal no Parque Escolar, muitas empresas deslocaram o seu fabrico tradicional para essa área, (Moi ici: Cuidado, comecem já a preparar o depois de amanhã, daqui a 3 anos  a bolha acaba e, nessa altura, ainda vão ter de procurar novos mercados e novos clientes e... com a corda ao pescoço, antecipem o futuro!!!)"
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Portanto, estamos a ver o resultado desse adiar do problema. Enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Agora, chegou o tempo do pau bater em quem não fez o trabalho de casa.


Monopólios informais (parte II)

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Gosto desta abordagem, recomendo-a a qualquer PME:
"To compete isn’t what you should set out to do. That doesn’t mean you should slack off. To succeed you probably need to work intensely. But you should work on something that others aren’t doing. That is, focus on an area that’s not zero-sum.
Sometimes, though, you need to compete. Monopoly is the theoretical ideal that you should always pursue. But you won’t always find some non-competitive, cornucopian world. You may well find yourself in competitive, zero-sum situations. You must be prepared to handle that competition."
Perseguir um monopólio informal, criar uma exclusividade na cabeça de quem usa ou compra. Em vez de tentar ser melhor que os outros e correr na mesma corrida, tentar criar uma corrida à parte, uma corrida diferente com regras diferentes.
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É, por exemplo, o contrário da corrente por detrás do acordo ortográfico, em vez de convergência, diferenciação.
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BTW, já repararam que anda por aí uma campanha para acabar com as marcas de tabaco, para uniformizar as embalagens de cigarros? Quem ganha com isso? Acabando as marcas, acabando a diferenciação, dá-se a vantagem ao volume, dá-se a vantagem à escala... parece algo encomendado pelas grandes tabaqueiras, para poder vencer as mais pequenas que dependem de marcas, da diferenciação, dos monopólios informais na mente dos apreciadores.

Acham normal?

Leio o que Silva Lopes pensa da austeridade, da necessidade de crescimento, da desgraça, do charco, das medidas para relançar o crescimento, enfim o rol do costume "Silva Lopes: "Insistência germânica na austeridade vai ser a desgraça não só de Portugal mas da Europa"
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Depois, leio o que o mesmo Silva Lopes, no mesmo dia, pensa acerca da Madeira, acerca dos 30 anos de crescimento sustentado em dinheiro de contribuintes "Silva Lopes: "Alguém neste País sabe o que é que se passou com a Madeira?""
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Acham normal?
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BTW, se houvesse por cá um Mike Wallace, talvez perguntasse a estes senhores:

  • mas que medidas concretas de relançamento do crescimento propõe? Dê-nos alguns exemplos.
  • qual seria o impacte dessas medidas no desemprego?
  • qual seria o retorno dessas medidas?

domingo, abril 29, 2012

Um excelente exemplo

Ontem à tarde, passei no centro comercial e vi algumas lojas a publicitar na montra o endereço da loja electrónica, a publicitar promoções a quem adquirisse via loja electrónica, até vi uma que tinha um QR code bem grande na montra.
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Recordo isso na sequência desta leitura "Procura de escritórios e lojas diminuiu 50% num ano".
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A conjugação de crise e ascensão da loja electrónica vai transformar os espaços comerciais como os conhecemos.
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Um grande exemplo do que vai ter futuro, indiferente ao sucesso da loja electrónica, e que pode ocupar espaços crescentes nos centros comerciais, é o que é genuíno e que oferece experiências autênticas. Um excelente exemplo neste artigo "See Why These Chocolate Bars From Brooklyn Cost $12 Each" e neste fime:

Do paradoxo da estratégia à psicologia, passando pelo preço do dinheiro e o horror a perder

Ainda na passada sexta-feira de manhã, a conversa, na viagem de carro da Figueira da Foz para Coimbra, veio parar a isto, ao paradoxo da estratégia.
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A conversa começara por causa de um sinal que vimos na autoestrada, aquele que se coloca a 1300 metros a avisar que vai haver um corte de faixa. Um sinal daqueles custa cerca de 700 euros. 
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Fará sentido, para uma empresa que faz uma obra por ano numa auto-estrada, adquirir um sinal? Não fará sentido haver no mercado empresas que aluguem sinais como quem aluga gruas?
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Perguntava-me a jovem:
- Então, se o futuro for no sentido que diz, empresas mais pequenas e especializadas. Elas podem ganhar mais dinheiro enquanto tudo correr bem mas, se o mercado mudar, têm menos hipóteses de escapar?
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Claro que concordei com o seu raciocínio. E tentei descrever esta figura e o seu significado:
Mais foco, mais pureza estratégica, maior rentabilidade e mais risco, logo mais mortalidade.
Menos foco, menos pureza estratégia, menor rentabilidade e menos risco, logo menos mortalidade.
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Este trecho veio-me recordar a conversa da passada sexta-feira:
"As I was reading this book I kept wondering why organizations were so reluctant to employ a strategy. All of this thinking reminded me of another book I had read a few years back on strategy called The Strategy Paradox. What is the paradox?

The most profitable strategies are “extreme” strategies that commit companies to positions of either product differentiation or cost leadership. These extreme positions expose firms to a greater likelihood of bankruptcy by increasing the strategic risk they face. Consequently, the strategies likeliest to succeed are also likeliest to fail. That is the strategy paradox.
At first I thought organizations avoided good strategy simply because it was complicated and involved hard choices. The more I thought about it, however, the more I settled on the fact that people avoid good strategies because they don’t want to be wrong."
E isto leva-me a fazer a ligação com o capítulo 28 do livro de Daniel Kahneman "Thinking, Fas and Slow", um capítulo chamado "Bad Events":
"The concept of loss aversion is certainly the most significant contribution of psychology to behavioral economics. This is odd, because the idea that people evaluate many outcomes as gains and losses, and that losses loom larger than gains, surprises no one. ... The brains of humans and other animals contain a mechanism that is designed to give priority to bad news. ... The brain responds quickly even to purely symbolic threats. Emotionally loaded words quickly attract attention, and bad words (war, crime) attract attention faster than do happy words (peace, love). ... The self is more motivated to avoid bad self-definitions than to pursue good ones. Bad impressions and bad stereotypes are quicker to form and more resistant to disconfirmation than good ones."
E agora estas estatísticas retiradas do golfe:
"Pope and Schweitzer reasoned from loss aversion that players would try a little harder when putting for par (to avoid a bogey) than when putting for a birdie. They analyzed more than 2.5 million putts in exquisite detail to test that prediction. They were right. Whether the putt was easy or hard, at every distance from the hole, the players were more successful when putting for par than for a birdie. The difference in their rate of success when going for par (to avoid a bogey) or for a birdie was 3.6%. This difference is not trivial. ... These fierce competitors certainly do not make a conscious decision to slack off on birdie putts, but their intense aversion to a bogey apparently contributes to extra concentration on the task at hand."
 Como o preço do dinheiro está cada vez mais elevado, são precisas rentabilidades cada vez mais elevadas para remunerar o capital, logo, um desafio interessante em cima da mesa... o paradoxo da estratégia, o preço do dinheiro e o horror às perdas que permeiam a nossa psicologia.

A moral de um pensador

Não é que dedique muito tempo a esse tema. Contudo, às vezes, interrogo-me de onde terá nascido a moral, aquele conjunto de regras que as comunidades humanas seguem, independentemente da cultura, da religião, da  geografia.
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Normalmente, a minha resposta acaba por ir parar ao mesmo sítio, uma espécie de democracia proto-histórica. Essas regras nasceram daquelas acções que cada um poderia executar isoladamente mas que se todos as praticassem em simultâneo, representariam o fim da pequena tribo, o fim da pequena comunidade.
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Recordo isto, a propósito da moral que tem alguém que emigrou e vive há décadas no estrangeiro para criticar os que são atraídos, empurrados para a emigração nos tempos que correm: "Eduardo Lourenço preocupado com emigração jovem":
"O pensador disse estar preocupado com o fenómeno "porque as pessoas formam-se" em Portugal e "em vez de contribuírem para a criatividade do país, nas diversas áreas, vão lá para fora, para países mais ricos e vão a ajudar ainda a riqueza desses países"."
BTW, este trecho é inquietante:
"Disse que naquela época "saiu quase um milhão de pessoas" do país "e isso ainda não aconteceu agora"... Disse que "de repente, em três anos, começou esta coisa toda e a própria Europa está numa grande crise"."
Um pensador tem de associar ao que pensa os dados, os factos, os números que a realidade lhe disponibiliza.
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Um pensador acreditar e proferir a afirmação de que isto começou de repente há três anos é muito grave. Segundo os números de Álvaro Santos Pereira em "The Return of Portuguese Emigration", durante a primeira década do século XXI (até 2008) emigraram cerca de 700 mil portugueses, quase 7% da nossa população.

sábado, abril 28, 2012

Pressupostos tótós

Aqui, encontrei esta figura:
Acho a pergunta tão absurda....
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Faz sentido fazer uma pergunta destas em termos tão abstractos?
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Por exemplo, quando compro um detergente para lavar a loiça escolho o Fairy, mais caro, porque julgo que é o melhor.
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Por exemplo, quando compro um vinho tenho em conta a região, o grau alcoólico e estabeleço um preço máximo para limitar a escolha.
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Por exemplo, quando compro um par de sapatos tenho em conta o país de fabricação e um preço máximo para limitar a escolha.
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Por exemplo, quando compro leite escolho o mais barato de entre as marcas conhecidas.
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Por exemplo, quando compro fruta tenho em conta a origem portuguesa.
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Cada caso é um caso e não me parece nada correcto tirar ilações das respostas a uma pergunta tão genérica.
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Quantos estudos andam por aí a influenciar a tomada de decisões sendo baseados nestes pressupostos absolutistas?

E a única alavanca explicativa e descritora da realidade baseia-se em Econs

Daniel Kahneman em "Thinking, Fast and Slow" recorda:
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"One day in the early 1970s, Amos handed me a mimeographed essay by a Swiss economist named Bruno Frey, which discussed the psychological assumptions of economic theory. I vividly remember the color of the cover: dark red. Bruno Frey barely recalls writing the piece, but I can still recite its first sentence: “The agent of economic theory is rational, selfish, and his tastes do not change.” I was astonished. My economist colleagues worked in the building next door, but I had not appreciated the profound difference between our intellectual worlds. To a psychologist, it is self-evident that people are neither fully rational nor completely selfish, and that their tastes are anything but stable. Our two disciplines seemed to be studying different species, which the behavioral economist Richard Thaler later dubbed Econs and Humans. Unlike Econs, the Humans that psychologists know have a System 1. Their view of the world is limited by the information that is available at a given moment (WYSIATI), and therefore they cannot be as consistent and logical as Econs. They are sometimes generous and often willing to contribute to the group to which they are attached. And they often have little idea of what they will like next year or even tomorrow.
...
Most graduate students in economics have heard about prospect theory and loss aversion, but you are unlikely to find these terms in the index of an introductory text in economics. I am sometimes pained by this omission, but in fact it is quite reasonable, because of the central role of rationality in basic economic theory. The standard concepts and results that undergraduates are taught are most easily explained by assuming that Econs do not make foolish mistakes. This assumption is truly necessary, and it would be undermined by introducing the Humans of prospect theory, whose evaluations of outcomes are unreasonably short-sighted. There are good reasons for keeping prospect theory out of introductory texts. The basic concepts of economics are essential intellectual tools, which are not easy to grasp even with simplified and unrealistic assumptions about the nature of the economic agents who interact in markets. Raising questions about these assumptions even as they are introduced would be confusing, and perhaps demoralizing. It is reasonable to put priority on helping students acquire the basic tools of the discipline."
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Só que parece que os estudantes nunca chegam a ter contacto com as tentativas de descrição científica da tomada de decisões entre Humans, para eles as decisões são tomadas por Econs.
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Depois, saem das universidades e chegam a posições de relevo e a única alavanca explicativa e descritora da realidade baseia-se em Econs:
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"Custo do trabalho "reduzido" para estimular economia"
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"Os custos do trabalho estão a ser reduzidos para melhorar a competitividade
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Esta "redução de custos" deverá servir para "impulsionar o setor dos bens transacionáveis até se concretizar o impacto da agenda de reformas estruturais"."
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Estes ex-estudantes não pescam nada da revolução económica em curso... são quase como os políticos da oposição que pedem mais crescimento, que eu traduzo por: mais autopistas e mais empréstimos bancários para consumo.
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Ex-estudantes e políticos da oposição e da situação deviam procurar perceber melhor a economia dos Humans, o advento de Mongo e a recalibração em curso. Se olharmos para a nossa situaçãop actual como uma recessão clássica, então, os estímulos pedidos pela oposição e o discurso do ex-estudante agora ministro das Finanças, apontam para um regresso mais rápido ou mais lento a um set-point já vivido no passado. Ou seja, voltar a ter um PIB medonho assente em construção, comércio e empregos no Estado...
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Estamos é a caminho de um outro set-point, diferente e, por isso, não servem as políticas dinamizadoras de um Grande Líder... a coisa vai mais como o fuçar de um conjunto de empreendedores. Talvez o termo seja próximo deste: efectuação.

198 trabalhadores

Julgo que foi em 1997 que conheci a Eical, uma empresa têxtil nas margens do Cávado, no âmbito dum trabalho relacionado com a implementação de um sistema de garantia da qualidade segundo a então ISO 9002.
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Ontem à noite voltei a recordar esse nome, essa empresa e algumas pessoas (recém-licenciados) com quem trabalhei nessa altura, por causa deste artigo "Trabalhadores da Eical pedem rescisão após quatro meses sem salários".
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A frase inicial do artigo, a mim, especulador-mor, conta-me a história toda:
"Os 198 trabalhadores da empresa têxtil Eical, de Barcelos, decidiram avançar para a rescisão dos contratos, por "não terem qualquer sinal" da administração sobre o pagamento dos quatro meses de salários em atraso, informou esta sexta-feira fonte sindical."
O ponto-chave é aquele: "Os 198 trabalhadores da empresa têxtil Eical".
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198 trabalhadores!!!
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É claro que tenho de ter cuidado com as médias, as médias escondem muita coisa, as médias são uma informação insuficiente. Contudo, a média tem algum valor informativo. Qual é a dimensão média das empresas têxteis portuguesas nos tempos que correm? A informação que consegui recolher foi esta:
E, recordando alguns postais escritos ao longo dos anos, por exemplo este "Exemplo da diversidade intra-sectorial" e, recordando que não me canso de defender que o nosso sucesso no têxtil:
está a passar pela rapidez, pela flexibilidade, pelas pequenas séries, pelas pequenas quantidades... e acabo a recordar os dinossauros azuis deste postal:
Quando se tem uma estrutura competitiva preparada para tirar partido das bolas azuis e se compete num mercado onde a estrutura competitiva que está a dar é a das bolas pretas, acaba-se a ser nem carne, nem peixe, situação representada pelas bolas vermelhas... o mesmo erro da Mirandela.
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198 trabalhadores parece-me muito trabalhador...
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Quando esta semana ouvia na rádio um empresário, que lidera uma associação católica de empresários, quase a declarar como 11º mandamento um "Não despedirás!"... quando a economia muda e não se tomam as decisões estratégicas que têm de ser tomadas... acaba-se por prejudicar todos os elementos da empresa, porque em vez de alguns despedidos são todos que ficam sem trabalho.
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BTW, no meu primeiro dia de trabalho na Têxtil Manuel Gonçalves (TMG), em Fevereiro de 1988, o senhor que me explicava o controlo da qualidade do algodão a certa altura, com orgulho diz, e 24 anos depois ainda não me esqueci do gosto, do sentimento com que o disse:
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- Nós, na TMG, só no controlo da qualidade somos 300!

sexta-feira, abril 27, 2012

O futuro não é, necessariamente, uma projecção do passado

Leio "Valores chineses?" e sorrio. O artigo começa logo com uma afirmação com a qual discordo:
"Não podem restar hoje muitas dúvidas de que a República Popular da China dominará o mundo do século XXI."
Joschka Fischer não lê este blogue ("As mudanças em curso na China" parte I, parte II e parte III), senão sabia que está a projectar um futuro com base em pressupostos que já não se verificam.
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Este artigo "How To Move Away from the Industrial Age Company Model" aborda um tema que Fischer só há-de detectar daqui a uns anos.
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Por exemplo, este título "Pela primeira vez em 40 anos há mais mexicanos a sair dos EUA do que a entrar" o artigo não refere a realidade do regresso das "maquiladoras" que estão cada vez mais competitivas face à China. (Por isso o PIB do México cresceu 5,5% em 2010, 4,5% em 2011 e prevê-se que cresça 3,6 em 2012)

Fischer também pode encontrar alguma utilidade em ler "3 Fundamental Shifts in the Basis of Competition" para perceber melhor o mundo que aí vem.

Criar novos mercados

Um exemplo interessante sobre a criação de novos mercados.
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"Why All the Locals Are Lounging in the Hotel Lobby"
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Há sempre mais uma oportunidade à espera de ser criada a partir do nada!!

Para reflexão

Algumas pérolas de sabedoria sublinhadas por Guy Kawasaki:
"1. Experts are clueless Experts—journalists, analysts, consultants, bankers, and gurus can’t “do” so they “advise.” (Moi ici: Lembram-se destas previsões? E destas? Claro, eu também faço parte deste clube) They can tell you what is wrong with your product, but they cannot make a great one. They can tell you how to sell something, but they cannot sell it themselves. They can tell you how to create great teams, but they only manage a secretary."
"3. Jump to the next curve
Big wins happen when you go beyond better sameness. (Moi ici: A guerra de sempre, o nosso conselho de apostar na concorrência imperfeita, de fugir da competição por ser o melhor. Recordar as quatro etapas de "Não faz sentido, para uma PME, procurar ser a melhor") The best daisy-wheel printer companies were introducing new fonts in more sizes. Apple introduced the next curve: laser printing. Think of ice harvesters, ice factories, and refrigerator companies. Ice 1.0, 2.0, and 3.0. Are you still harvesting ice during the winter from a frozen pond?"
"8. “Value” is different from “price”
Woe unto you if you decide everything based on price. Even more woe unto you if you compete solely on price. Price is not all that matters—what is important, at least to some people, is value. And value takes into account training, support, and the intrinsic joy of using the best tool that’s made. It’s pretty safe to say that no one buys Apple products because of their low price." (Moi ici: A minha pregação preferida, a do "Evangelho do Valor",  a da subida dos preços, a do caminho menos percorrido

quinta-feira, abril 26, 2012

Conhecer, escolher e visitar os clientes-alvo

"mais do conquistar mercados, o importante é conhecer os consumidores.“Hoje não é importante enviar camiões cheios de produtos, é importante conhecer as regiões onde se trabalha”.
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“As empresas devem escolher bem os segmentos de mercado” notou sustentando que cada uma deve escolher o seu “foco” para trabalhar.
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Com o financiamento em “seca, sem apoios do Estado, as empresas portuguesas só podem sobreviver se conhecerem o consumidor e só assim podem atingir o sucesso”.
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aconselhando os empresários portugueses a “ir aos países” onde querem operar e “não vender para os países” onde colocam os seus produtos."
Uma voz em sintonia com o que apelidamos de pedra basilar em qualquer estratégia: identificar, definir e caracterizar muito bem para quem se trabalha, ou seja, quem são os clientes-alvo.
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Ou melhor, qual o ecossistema para quem se trabalha. Conhecer os consumidores, conhecer os donos das prateleiras que vendem aos consumidores, conhecer os que distribuem aos donos das prateleiras, conhecer os que influenciam os gostos e as apostas de consumidores e donos das prateleiras.
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Um pouco de pensamento sobre estratégia por entre algumas verdades ditas sobre a realidade da economia e do seu financiamento em "Conhecer consumidores para exportar com mais marcas"

Estratégia, ou falta dela

Segundo a narrativa predominante os empresários portugueses são os piores do mundo e, por isso...
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Outras narrativas importante que procuram explicar os problemas das empresas portuguesas passam por:
  • culpa dos chineses;
  • culpa do euro;
Sempre uma explicação geral, uma explicação macro, simples e errada. 
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Assim, recomendo a leitura deste postal de Mary Kay Plantes "Reflections on business model innovation from a company strategy retreat".
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E a sua empresa? Como é que ela lida com as alterações no ecossistema de que faz parte?

Monopólios informais

Quando neste blogue nos assumimos como "Promotores da concorrência imperfeita e dos monopólios informais" é disto que falamos:
"One of his core points is that we tend to confuse capitalism with competition. We tend to think that whoever competes best comes out ahead. In the race to be more competitive, we sometimes confuse what is hard with what is valuable. The intensity of competition becomes a proxy for value.
In fact, Thiel argues, we often shouldn’t seek to be really good competitors. We should seek to be really good monopolists. Instead of being slightly better than everybody else in a crowded and established field, it’s often more valuable to create a new market and totally dominate it. The profit margins are much bigger, and the value to society is often bigger, too.
Now to be clear: When Thiel is talking about a “monopoly,” he isn’t talking about the illegal eliminate-your-rivals kind. He’s talking about doing something so creative that you establish a distinct market, niche and identity. You’ve established a creative monopoly and everybody has to come to you if they want that service, at least for a time."
 E da próxima vez que ouvirem alguém falar em competitividade pensem em:
"We live in a culture that nurtures competitive skills. And they are necessary: discipline, rigor and reliability. But it’s probably a good idea to try to supplement them with the skills of the creative monopolist: alertness, independence and the ability to reclaim forgotten traditions.
Everybody worries about American competitiveness. That may be the wrong problem. The future of the country will probably be determined by how well Americans can succeed at being monopolists."
Isto implica fugir do espírito da manada, implica seguir o caminho menos percorrido, implica procurar ser diferente e fazer a diferença. Este é o caminho que recomendo!
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E a sua empresa, está a construir o seu próprio monopólio informal?

 Trechos retirados de "The Creative Monopoly".

quarta-feira, abril 25, 2012

Os ingleses nunca deviam ter aderido ao euro.

"Britain Faces First Double Dip Recession Since the 1970s"
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"The UK is back in recession"
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Os ingleses nunca deviam ter aderido ao euro.
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Ao fazê-lo, perderam a capacidade de manipular o câmbio da sua moeda, perderam a capacidade de usar uma moeda própria para estimular uma economia.

Por que não se fala nisto?

Costuma dizer-se "nas costas dos outros podemos ver as nossas".
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Uma proposta de valor que passa pelo preço mais baixo não é a minha preferida. Contudo, trata-se de uma opção perfeitamente honesta.
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Assim, escapa-me, por que é que poucas ou nenhumas vozes alertam para esta oportunidade:
  • "Trabalhadores portugueses são os quartos mais baratos da zona euro"
  • "Portugal entre os países da Zona Euro com custos de trabalho mais baixos"
  • "Outros fatores também terão um impacto sobre o aprovisionamento e as decisões da cadeia de fornecimento, incluindo fatores de tempo, à medida que as exigências do “fast fashion” racionalizam revolucionam o modelo tradicional de até um ano entre a pesquisa de produto e a colocação à venda para os consumidores.

  • Em particular, o relatório descreve como este processo tem evoluído através de uma versão do modelo de fornecimento “just-in-time” e do modelo Zara, através do qual a empresa de vestuário espanhola afirma ser capaz de colocar um novo produto no mercado em apenas oito semanas." (aqui) (Moi ici: Aqui a proposta de valor não é o preço, é a rapidez, a flexibilidade, a novidade, é o fim do modelo que acaba na época de saldos)
Quando, entretanto, temos:
  • "China offshores manufacturing to the U.S."
  • "More Than a Third of Large Manufacturers Consider Reshoring from China to the U.S."
  • "Pequim está a cumprir promessas antigas de redirecionar a sua economia para o crescimento interno em vez das exportações. Isso irá envolver um duro princípio base do capitalismo: destruição criativa. As empresas que não se adaptarem irão falhar. ... As novas encomendas para exportação no negócio de Chen caíram este ano 30% a 40% até agora em comparação com o ano anterior. Os salários mensais dos trabalhadores, por outro lado, subiram 10% a 20%, a somar aos 40% a 50% já registados no ano passado." (aqui)
  • "Pela primeira vez em 40 anos há mais mexicanos a sair dos EUA do que a entrar" (O artigo nem por uma vez avança com o factor "crescimento da economia mexicana" que está a criar empregos e mais empregos (espera-se que no final de 2012 a economia mexicana cumpra 3 anos seguidos de crescimento médio de 4,5%. O México está a captar muito investimento que está a sair da China, as "maquiladoras" estão de volta em grande")
Sendo mauzinho arrisco escrever, sem informação suficiente que suporte o que escrevo, o governo devia estar mais atento ao que pode atrair empresas deste tipo a Portugal, porque não são só os engenheiros que precisam de um call-center para trabalhar, há muito não-licenciado, e muito ex-trabalhador da construção civil que também precisa.


terça-feira, abril 24, 2012

Para arquivar e usar no futuro:

Para arquivar e usar no futuro:
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A conversa que encontro em "Como é que se muda isto?", por exemplo:
"Estas pessoas, ou algumas delas com quem falei demoradamente, querem reforçar a competitividade do Brasil no mundo e regulam os seus padrões pelos da América do Norte."
É conversa de diletante académico brasileiro para  enganar o tuga que não está atento e se ilude com as aparências. Um país com taxas alfandegárias tão altas alguma vez consegue uma massa crítica de empresas exportadoras?
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O Brasil vive a sua fase Expo98.
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Duvidam que um brasileiro chegado a Lisboa em 1998 não transmitiria o mesmo ao chegar à sua terra?
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BTW, "Brasil: dívida pública cresce 7,6 mil milhões num mês"
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Quando um dia começarem as manifestações contra o neo-liberalismo dos mercados que atacam a dívida do Brasil, não se esqueçam deste postal.
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O nível de vida dos brasileiros está a subir muito e muito rapidamente, julgo que foi em Dezembro de 2011 que li que o consumo de combustível no Estado de S. Paulo tinha crescido 37%. As exportações brasileiras não estão a subir, as protecções alfandegárias impedem a concorrência que faria com que a indústria brasileira subisse na escala de valor. Por exemplo, no calçado, com um salário mínimo cerca de metade do português, o sector está a sofrer com as importações chinesas... enquanto por cá exportamos 98% da produção, na boa, com preços quase iguais aos do calçado italiano.
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Tudo suportado em endividamento, suportado em petróleo... se vierem ao concelho de Estarreja, ou da Murtosa, falem com um reformado que tenha trabalhado nos anos 60 do século passado na Venezuela... vai  relatar-vos a história de um paraíso na terra.

Diferenciação, diferenciação, diferenciação

Recordar este postal sobre a convivência pacífica de diferentes espécies no mesmo meio abiótico consumindo diferentes recursos "OMG... e vão viver de quê? (parte VIII) ou Mt 11, 25".
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Depois, ler este pequeno texto de Scott McKain "Another’s distinction does not prohibit yours" onde se pode ler esta mensagem importante:
"You see, just because another is distinctive within your field does not prohibit you from finding a way to stand out and move up."
 Uma versão ilustrada pode ser esta:
BTW, ler o que se descreve aqui como a "beach theory" e a introdução do capítulo 25 de "Thinking, Fast and Slow":
"One day in the early 1970s, Amos handed me a mimeographed essay by a Swiss economist named Bruno Frey, which discussed the psychological assumptions of economic theory. I vividly remember the color of the cover: dark red. Bruno Frey barely recalls writing the piece, but I can still recite its first sentence: “The agent of economic theory is rational, selfish, and his tastes do not change.” I was astonished. My economist colleagues worked in the building next door, but I had not appreciated the profound difference between our intellectual worlds. To a psychologist, it is self-evident that people are neither fully rational nor completely selfish, and that their tastes are anything but stable. Our two disciplines seemed to be studying different species, which the behavioral economist Richard Thaler later dubbed Econs and Humans. Unlike Econs, the Humans that psychologists know have a System 1. Their view of the world is limited by the information that is available at a given moment (WYSIATI), and therefore they cannot be as consistent and logical as Econs. They are sometimes generous and often willing to contribute to the group to which they are attached. And they often have little idea of what they will like next year or even tomorrow."