quinta-feira, dezembro 05, 2024

Fugir do confronto directo com o gigante

O FT de ontem trazia um artigo intitulado "An audacious gamble in semiconductors" sobre o projecto Rapidus no Japão.

O projecto Rapidus é uma ambiciosa iniciativa do Japão para revitalizar a sua indústria de semicondutores e posicionar-se como um líder global na produção de chips de topo. Lançada em 2020, a Rapidus é uma empresa de fabricação de semicondutores que conta com o apoio do governo japonês e de grandes empresas, como a Toyota, a Sony e a NTT.

Não sei nada de semicondutores, por norma torço o nariz a intervenções dos governos na criação de "campeões nacionais", mas resolvi escrever sobre ele e sobre a sua mensagem acerca de estratégia empresarial.

A certa altura lê-se:

"Ever since TSMC was founded by Morris Chang in 1987, it has been all about scale and Rapidus is really something nobody has ever attempted before."

E pelo que pesquisei a estratégia da TSMC assenta numa abordagem clássica:

  • Fabrico de alto volume: O modelo de negócio da TSMC assenta a produção em grande escala para servir gigantes tecnológicos globais como a Apple, Nvidia e AMD.
  • Chips padronizados de última geração: A TSMC é especializada na produção em massa de chips padronizados, como os nós avançados de 3nm e 5nm, atendendo à procura em grande escala.
  • Economias de Escala: A escala da TSMC permite reduzir custos e manter rendimentos elevados, o que é fundamental para o seu domínio na indústria. 
O que é que o projecto Rapidus pretende? Fugir de um confronto directo e ir para o lado oposto:
  • Chips personalizados e de pequenos lotes: A Rapidus pretende servir nichos de mercado que exigem chips especializados e personalizados, em vez dos chips padronizados de alto volume que a TSMC produz.
  • Flexibilidade e Especialização: Esta estratégia permite à Rapidus alcançar indústrias ou aplicações que necessitem de designs personalizados, como IA, veículos autónomos ou robótica avançada.
  • Inovação localizada: Ao trabalhar com mercados ou sectores específicos, a Rapidus pode potencialmente preencher uma lacuna no ecossistema de semicondutores que a abordagem de alto volume da TSMC pode não resolver. Lembro-me disto na última empresa que trabalhei como funcionário, a produzir circuitos impressos (postal de 2015 e postal de 2012).
Esta abordagem de nicho pode permitir à Rapidus construir uma reputação em tecnologias de ponta e de alto valor acrescentado, sem competir frontalmente com a TSMC. O grande desafio, e daí talvez o título do artigo, a produção de pequenos lotes tem, geralmente, custos por unidade mais elevados, dificultando a obtenção de rentabilidade, a não ser que a Rapidus consiga estabelecer uma posição sólida em mercados com margens elevadas. Claro que outros desafios, mencionados no artigo incluem o recrutamento de pessoal qualificado, a gestão de elevados custos de produção e a obtenção de taxas de rendimento/eficiência competitivas.

Este exemplo do Projecto Rapidus é uma lição valiosa para as PMEs que enfrentam gigantes em mercados dominados por economias de escala. Em vez de tentarem um confronto directo, que muitas vezes resulta numa batalha perdida à partida, as PMEs podem adoptar uma abordagem estratégica semelhante a esta: encontrar um "bypass", uma obliquidade que as permita prosperar em nichos que os players grandes dificilmente conseguem servir.

Ao focarem-se em necessidades específicas e subatendidas, como produtos personalizados, serviços flexíveis ou soluções inovadoras e adaptadas a mercados específicos, as PMEs podem criar valor onde os modelos tradicionais das empresas grandes não conseguem chegar. Esta estratégia não só evita uma competição desleal, como também posiciona as PMEs como parceiros indispensáveis em cadeias de valor que precisam de agilidade e especialização. Ou seja bolas azuis versus bolas pretas.

O exemplo do Rapidus é um bom lembrete de que nem sempre é necessário jogar o mesmo jogo para ser bem-sucedido. Por isso, cuidado com os artigos das revistas com entrevistas a CEOs das empresas grandes e que são promovidos como tendo lições para aplicação directa nas PMEs. Muitas vezes, redefinir as regras ou criar um caminho alternativo é a chave para abrir novas oportunidades e prosperar mesmo em mercados altamente competitivos. Afinal, ser pequeno também pode significar ser ágil, inovador e mais próximo das reais necessidades dos clientes. Que mais PMEs se inspirem neste tipo de visão estratégica!

quarta-feira, dezembro 04, 2024

Curiosidade do dia

 

"The problem for Germany is that it doesn't have a competitive advantage in other high-value sectors, for example, something comparable to the UK's strong financial sector. Ditto for any kind of burgeoning tech sector. "If you look at a lot of surveys of Germany's adoption of digital technologies, the number of people using various kinds of modern technology, Germany scores very, very poorly," says Kenningham.

Germany ranked sixth in the IMD World Competitiveness Ranking in 2014. By 2023, it had dropped to 22nd as a reflection of that contraction."

Trecho retirado de "Germany's Lost Decade" publicado  na revista Fortune 500 Europe do passado dia 2 de Dezembro.

Ginásios e lições para PMEs

A propósito de "Treino personalizado soma adeptos e motiva aumento de ginásios":

"Os estúdios de treino personalizado, onde o exercício físico é acompanhado por personal trainers (PT), estão a crescer em Portugal, com os praticantes a salientarem a eficácia nos resultados e o benefício para a saúde. As mensalidades podem atingir centenas de euros, "um preço justo" para clientes e profissionais."

Durante e após a pandemia, houve um aumento na sensibilidade para o tema da saúde e bem-estar. O treino personalizado é visto como uma abordagem eficaz e adaptada às necessidades específicas de cada cliente, o que o torna atraente para consumidores dispostos a investir na sua qualidade de vida. Não estamos a falar do maralhal, estamos a falar de um tipo específico de cliente-alvo

Apesar de ser um serviço mais caro, os consumidores percebem o custo como justificado devido à personalização, acompanhamento próximo e resultados mais rápidos e eficientes. Embora sectores muitos tradicionais enfrentem retracção nesta altura, áreas que oferecem experiências diferenciadas ou que se alinham com as novas prioridades das pessoas (como saúde e fitness) têm crescido. 

O crescimento dos espaços de treino personalizado também está associado à diversificação do sector fitness, que agora oferece opções para diferentes gostos e necessidades, como estúdios mais pequenos, serviços a pedido e tecnologias de apoio. Isso serve um cliente-alvo disposto a pagar por essa flexibilidade.

A tendência dos treinos personalizados no sector do fitness oferece uma poderosa lição para PMEs em qualquer sector: valor percebido justifica preço premium. Se consumidores estão dispostos a pagar mais por acompanhamento personalizado, resultados rápidos e experiências diferenciadas, por que não aplicar essa lógica ao seu negócio?

  • Encontre aquele grupo de clientes que não está a ser bem atendido. Recordar aquela citação ali ao lado "When something is commoditized, an adjacent market becomes valuable". Pergunte-se: o que é que eles desejam, mas não estão a encontrar no mercado? Invista em criar algo exclusivo que se destaque. Por exemplo, maionese com azeite em vez de com óleo de girassol, ou com óleo de colza.
  • Assim como no caso do treino personalizado, projecte os seus produtos ou serviços para resolver necessidades específicas, oferecendo atenção aos detalhes, proximidade e soluções sob medida. Não se vende treino, vende-se o cumprimento de um ou mais objectivos muito concretos, palpáveis, na vida dos clientes-alvo.
  • Cobrar um preço mais elevado exige como contrapartida que se entregue mais: serviços personalizados, qualidade superior, conveniência ou tecnologia inovadora que cativam o cliente e transformem o custo num investimento, não numa despesa.
  • Eduque os seus clientes-alvo sobre o porquê do preço premium. Mostre histórias de sucesso, resultados mensuráveis e depoimentos que reforcem o impacte do que a sua empresa entrega.

O futuro das PMEs está em "fazer coisas que os outros não fazem" e entregar valor que inspire confiança, fidelidade e, sim, disponibilidade para pagar mais. Diferencie-se, especialize-se e conecte-se com os clientes certos — porque quem escolhe qualidade está disposto a investir. 

Recordar de 2012:

"Há tempos, tive acesso ao "Barómetro AGAP" (Associação de Ginásios de Portugal) do 1° trimestre de 2012 e descobri lá esta pérola:

"Os ginásios com mais de um clube (cadeias) registam maiores perdas de clientes que os independentes (um único clube); de forma surpreendente, os clubes independentes que não possuem vantagens de escala, têm recursos mais escassos e menor facilidade de crédito que as cadeias, são mais resistentes e conseguem obter melhores resultados também na variação da facturação""

terça-feira, dezembro 03, 2024

Curiosidade do dia


Ontem vimos o efeito, agora temos a causa:

Purchasing Power Index muito baixo. Com um índice de 55.7, o poder de compra em Portugal (na capital) é um dos mais baixos da Europa Ocidental. Quase não dá para acreditar no número porque é mesmo muito mau.

Portugal está abaixo de países vizinhos como Espanha (92.6) e França (97.5), mas também abaixo da média de muitos países do Leste Europeu, como a Polónia (95.4) e os países bálticos.
Apenas países como a Albânia, Sérvia, Macedónia, Grécia ou a Ucrânia (43.7) têm índices mais baixos na Europa.

Continuemos alegremente a defender o passado, a torrar dinheiro em TAPs e EFACECs, a caminho da Sildávia, não do Ocidente, mas da Europa toda.

Acerca da abordagem por processos

Retirei esta figura que se segue do último número da revista Bloomberg Businessweek:

Sou um adepto incondicional da abordagem por processos ainda antes dela ter sido incorporada na norma ISO 9001.

A abordagem por processos, como ilustrada no fluxograma da imagem, revela-se uma ferramenta valiosa para lidar com questões do quotidiano e, de forma ainda mais relevante, para a gestão empresarial. Para as PMEs, estruturar operações com base em processos claros e bem definidos traz inúmeros benefícios, promovendo eficiência, padronização e maior capacidade de adaptação.

Um fluxograma, como o exemplo apresentado, oferece um mapa visual e lógico que auxilia na tomada de decisões, eliminando incertezas e reduzindo erros. No contexto das PMEs, onde muitas vezes os recursos são limitados, essa clareza permite que os colaboradores compreendam melhor as suas responsabilidades e acções necessárias, optimizando o tempo e aumentando a produtividade.

Além disso, um dos aspectos mais importantes da abordagem por processos é a redução da variabilidade. Nos pontos críticos, os fluxogramas complementados por orientações processuais tornam explícito o que deve ser feito, reduzindo decisões baseadas na subjectividade e no improviso. Isso contribui para que todos os colaboradores sigam o mesmo padrão de acção, mesmo em situações de pressão, assegurando consistência na entrega de produtos ou serviços. Essa uniformidade é crucial para manter a confiança dos clientes e optimizar os resultados operacionais.

A abordagem por processos também facilita a identificação de gargalos operacionais e potenciais melhorias. Ao ilustrar o que se faz numa empresa como um fluxo de actividades entre etapas a empresa consegue analisar o desempenho de cada etapa e implementar ajustes onde necessário.

Outro benefício significativo é a escalabilidade. Com processos bem estruturados, uma PME consegue crescer de forma mais organizada, garantindo que novos colaboradores ou operações seguem os padrões estabelecidos. Isso também ajuda a manter a consistência na qualidade dos produtos ou serviços oferecidos.

Se, como líder de uma PME, reconhece ou suspeita do potencial que a abordagem por processos pode trazer para a sua organização – seja na redução da variabilidade, na optimização de recursos ou na padronização de operações –, saiba que este é um passo estratégico para garantir a eficiência e o crescimento sustentável. Se acredita que esta metodologia pode beneficiar o seu negócio, talvez possamos ajudar na implementação de processos claros e estruturados, adaptados às necessidades específicas da sua empresa. Entre em contacto para explorarmos juntos como esta abordagem pode transformar os seus resultados.

segunda-feira, dezembro 02, 2024

Curiosidade do dia

"Quase um terço dos portugueses (32%) pondera emigrar, e o motivo principal, indicado por 37% das pessoas nessas circunstâncias, é a procura de melhores perspetivas profissionais, segundo o estudo "Consumer Sentiment Survey 2024". ', realizado pela Boston Consulting Group (BCG).

...

Segundo a análise da BCG, quanto mais novos e com mais formação maior a probabilidade de quererem emigrar, sendo que os jovens entre os 18 e 24 anos (64%) e indivíduos com ensino universitário (34%) são os mais propensos a emigrar."

Trechos retirados de "Um terço dos portugueses pensa emigrar" publicado no Caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 29 de Novembro.

A economia não é um jogo de "nós contra eles" (parte II)

Parte I.

Já escrevi aqui que o desporto não é uma boa metáfora para explicar a economia. Na economia, o objectivo não é derrotar os concorrentes, mas conquistar clientes. Ainda assim, vou recorrer a essa analogia porque, no desporto, quando um adversário vence, ninguém pode legitimamente argumentar que a vitória lhe foi "roubada" ou que foi injusta. No desporto, perder faz parte do funcionamento natural das coisas.

Vamos então ao exemplo:

Momento 1
Imaginem uma corrida em que apenas um corredor, o alemão, está na pista. Ele é o único participante.

Momento 2
O corredor alemão continua a correr, mas agora aparece um segundo competidor: um corredor português.

Momento 3
Enquanto o corredor alemão mantém o ritmo, o corredor português começa a sentir pressão quando surge um terceiro concorrente: um corredor marroquino.

Momento 4
O corredor alemão segue firme na corrida, enquanto o corredor português abandona a competição. Resta apenas o corredor marroquino a disputar a pista.

A Coindu da Parte I está no "Momento 3".

Com a ajuda de um drone observamos o que se passa em cada momento:

O corredor alemão tem-se mantido em prova porque corre numa pista à parte, embora corra como os outros está a competir numa prova diferente. Já o português e o marroquino estão a competir na mesma pista.

Na parte III vamos ligar isto à estratégia, aos Flying Geese e à evolução de uma espécie ou dos indivíduos de uma espécie. Para já fechamos com uma ligação a um outro artigo, "Marisa está entre os 350 desempregados da Coindu e sabe porquê: "Não há mais projetos para nós, não podemos concorrer com o norte de África"":
""Dizem-nos que Portugal começa a ter dificuldades em atrair encomendas de clientes estrangeiros pelos ordenados, mas se formos ver os nossos salários nem são altos, rondam os 900 euros", diz ao Expresso Marisa Sousa, trabalhadora e dirigente sindical da Coindu, em Arcos de Valdevez, onde só tem trabalho até ao final do ano."
Lembram-se da produção de meias que saíu da Lituânia em direcção a Portugal? É a versão oposta do que acontece agora na Coindu.

Li algures na semana passada que a montagem de veículos eléctricos na Alemanha era 10 vezes mais do que em Portugal. Quais os veículos mais caros? Pois.

Recordo a superior produtividade física da fábrica polaca da Fiat a fazer … os carros mais simples e mais baratos. BTW, cuidado com a produtividade física.

domingo, dezembro 01, 2024

Curiosidade do dia

"Second, when politicians try to back national champions in areas where technology is rapidly evolving, they are likely to waste several electric lorryloads of taxpayers' money. That is especially true if the champion in question is far behind the market leaders. Governments often base their industrial policies on the "infant-industry" argument, which says that domestic firms in new industries need protection until they are viable. The trouble is, if they are too far behind, they may never catch up with their foreign rivals-and support may simply allow them to grow flabby."

Trecho retirado de "Lessons from Northvolt's failure" publicado na revista The Economist do passado dia 30 de Novembro.

A economia não é um jogo de "nós contra eles" (parte I)

A economia não é um jogo de "nós contra eles" (sendo eles os concorrentes).

Leiam se puderem o artigo "Sindicato acusa Coindu de mudar produção "para outros países"" publicado no DN de ontem:

"O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA) acusou, ontem, o grupo Coindu de encerrar a fábrica de Arcos de Valdevez para deslocalizar a produção para outros países, nomeadamente para a Tunísia.

...

os operários vão ser despedidos porque "não há trabalho. E não há trabalho porque lhes foi roubado. Foi para outros países. Roubaram aqui em Portugal para porem noutros países", acrescentou que já pertencia a este grupo, vai captar o trabalho daqui [da unidade de Arcos de Valdevez]."

Este texto permite iniciar aqui uma série sobre o que é a economia a sério.  A economia não é um jogo de "nós contra eles" (sendo eles os concorrentes). Eles não nos roubam trabalho. Por que se pensarmos assim: Curioso como a economia funciona de forma "normal" quando somos os beneficiados, mas torna-se um "roubo" quando somos os prejudicados. Não me lembro de ouvir os sindicatos portugueses clamarem pelos direitos dos trabalhadores alemães quando as fábricas se deslocaram para cá. Parece que, nessa época, as oportunidades vinham ‘naturalmente’ para Portugal, sem que ninguém questionasse as regras do jogo. Agora que o Norte de África está a ganhar competitividade, o discurso muda. 

Quem sabe um dia consigamos entender que a economia global não é um jogo de "nós contra eles", mas sim uma dança constante onde o ritmo nem sempre nos favorece.

Imaginem um jogo de cadeiras musicais global, onde todos dançam ao som da mesma música. Quando a música pára, os países que conseguem sentar-se primeiro ficam com o "trabalho", enquanto os outros reclamam que a cadeira foi "roubada". Curiosamente, esquecem-se de que, na rodada anterior, também tinham conseguido sentar-se antes de alguém. A questão não é o "roubo" da cadeira, mas sim quem consegue adaptar-se à música em constante mudança.

Continua.

sábado, novembro 30, 2024

Curiosidade do dia

"Anyway, the general angst of Westerners for other people's forests has inspired them to instate various laws to Protect Our Planet's Trees. One such law is the European Union Timber Regulation (EUTR), which passed in 2010.

...

This new law would target wood, yes, but it would also go after other products like beef, cocoa, soy, palm oil, coffee, tyres, chocolate, leather and furniture. Anybody bringing these commodities to market in the EU should have to "prove that the products do not originate from recently deforested land or have contributed to forest degradation." This new draft legislation would really put a stop to deforestation, they thought, and so in May 2023 - largely out sight and with nobody paying attention - the EU Parliament and the member states made the EU Regulation on Deforestation Free Products the 1,115th regulation passed that year. 

...

That feeling did not last very long. As I write this, basically nobody thinks the Deforestation Regulation is a good idea any longer. Olaf Scholz, the German Chancellor, is against it, as are (according to Welt 20 other EU heads of government (the EU only has 27 member states). The United States thinks it is a bad idea and all of South America thinks it is a terrible idea. Even the Greens think it is stupid now. Still more amazing, a lot of people in Brussels in the very same legislative and executive bodies that passed this law in 2023, have now also decided that their own law is shit."

Trechos retirados de "How the European Union passed a brave new law to protect our planet's forests, only to realise that it is a logistical and bureaucratic nightmare that nobody wants

Abraçar a mudança!!!

"Paul Ormerod highlighted that growth can't happen without openness to change and disruption. The absence of this outlook brings a reluctance to engage in innovation and transformative investing. Crucial to research and the subsequent innovation is the 'willingness of a country to embrace, rather than resist, change'."

Ao longos anos aqui no blogue:

Trecho retirado do capítulo 9, "The intellectual crisis of capitalism", do livro de Phil Mullan "Creative Destruction".

sexta-feira, novembro 29, 2024

Curiosidade do dia


Ontem na última página do JdN podia ler-se ""Chairman" da Sonae deixa apelo: "compre menos"":
""O nosso apelo é: temos de deixar de o transformar [omundo] em poluentes e resíduos, mas sim transformá-lo em coisas úteis. Vamos usar menos". apelou. "Sim, eu sei que somos uma retalhista. E, sim, percebo que estou a dizer 'compre menos'" , afirmou Paulo Azevedo, perante a estupefação da plateia. Com esta nuance: "Queremos vencer num mundo sustentável. Não queremos vencer num mundo insustentável. Compre menos... de preferência, compre ainda menos dos nossos concorrentes", rematou, com alguma graça, o "chairman" da Sonae."

O apelo de Paulo Azevedo para "comprar menos" soa como uma ideia contraintuitiva vinda de um chairman de uma grande empresa de retalho, especialmente de uma que não é exactamente famosa por praticar uma abordagem de longo prazo na sua estratégia, nunca esqueço o caso da Berg. 

Se compararmos essa postura com o grupo Inditex, percebemos um abismo estratégico. A Inditex aposta fortemente em eficiência operacional e inovação nos modelos de negócios, especialmente ao integrar sustentabilidade no próprio core business, em vez de fazer um apelo que pode soar simplista e contraditório para o consumidor. Afinal, como é possível apelar ao consumo consciente e sustentável, enquanto a própria natureza do negócio incentiva a compra e reposição constante? 

Sem uma visão clara de longo prazo, restam apenas mensagens de curto prazo.

Em vez de abraçar a destruição criativa ...

O capítulo 9, "The intellectual crisis of capitalism", do livro de Phil Mullan "Creative Destruction", explora como a mudança na atitude das elites ocidentais contribuiu para aquilo a que o autor chama de "Longa Depressão". Após a Segunda Guerra Mundial, o optimismo em relação ao capitalismo diminuiu à medida que as elites começaram a questionar a sua capacidade de gerar progresso. Esse pessimismo foi agravado pelo colapso da União Soviética, que deixou o capitalismo sem um inimigo claro e exposto às suas próprias falhas.

"The reorientation of state institutions from growth to stabilisation is mostly implicit. Governments continue to pay lip service to the objective of economic growth. Doubtless many establishment politicians would like to have both stability and a bit more growth. However, there is a big gap between this latent attachment to growth and embracing the level of social dislocation needed to bring it about. In practice the policy inclination towards stability is at the expense of sustained growth. Economic dynamism is not restorable except through disruptive destabilisation involving the widespread destruction of old capital values.

The precondition for escaping the Long Depression is to challenge and overturn the conservator activities of the state."

Os governos têm dado prioridade à estabilidade em detrimento do crescimento económico, evitando as políticas disruptivas que seriam necessárias para revitalizar a economia. Este foco conservador limita o progresso e reflecte uma perda de confiança na capacidade humana de liderar transformações significativas.

"Uncertainty is now widely regarded as a constraint on the economy. In fact, the perception of uncertainty is more important for what it says about the intellectual climate than for the economic one.

Viewing uncertainty as detrimental represents a turnabout in social attitudes. For most of the history of capitalism, uncertainty was regarded neutrally or positively: it was sometimes embraced as an opportunity for gain and advancement. Businesses in the past were not deterred by future uncertainty, but accumulated capital to secure increased means to control the future. The classic financial investment advice to 'buy when there's blood in the streets' revelled in periods of acute political uncertainty.' In contrast, it is now a cliché to say that business and markets 'hate uncertainty'. 

Business leaders, as well as many pundits, attribute uncertainty as the reason for putting off investment decisions. A frequent survey finding is that business is not investing because of its lack of confidence in the face of an uncertain future.

...

As Mazzucato later put it, echoing his sentiments: 'Without uncertainty there would be no point in even trying to form competitive strategies.'& If everything were predictable there would be a limited possibility of gaining competitive advantage. Uncertainty provides the terrain for individual businesses to make superprofits, when they risk their capital to get ahead of competitors by deploying the latest innovations and cutting prices.

Uncertainty was for a long time recognised as the basis for markets to function. This refutes the assertion that markets 'hate uncertainty': they need uncertainty."

A incerteza, que historicamente era vista como uma oportunidade para inovação e lucro, passou a ser percebida como um obstáculo às decisões económicas. Esta mudança espelha um desconforto generalizado da sociedade com o risco e a transformação.

"Today's greater anxieties about uncertainty are driven by a loss of belief in the benefits of progress and of humanity's ability to make a better world

The humanist pursuit of progress is now seen by many across the political spectrum to cause problems and, sometimes, to be downright destructive: socially, environmentally, materially, and morally. 

As a society we have become reluctant to validate and promote the active, positive side of humanity to change things for the better. This represents a turn against a central Enlightenment perspective: seeing man as rationally capable of making a better future. Instead individuals these days are frequently presented as weak, sometimes irrational, and often requiring restraint from above. The humanist essence of Enlightenment thought has lost its appeal. The potential for meaningful, purposeful human intervention is frequently doubted and questioned.

Hence, the disposition for extending regulation, not just of the economy, but of all areas of human life."

A crítica crescente ao empreendedorismo tradicional e à tomada de riscos, frequentemente rotulados como irresponsáveis ou perigosos, reforça a predominância da regulamentação e da gestão de riscos. Estas abordagens sufocam o dinamismo essencial ao crescimento económico.

Culturalmente, há um declínio na crença nos benefícios do progresso, o que reduz as aspirações e alimenta expectativas mais baixas. A sociedade tende a considerar a mudança conduzida por humanos como problemática, incentivando o excesso de regulamentação e uma visão pessimista das capacidades humanas.

Este desconforto com a mudança contradiz a necessidade do capitalismo por "destruição criativa" - o processo de eliminar sistemas obsoletos para abrir espaço à inovação. A resistência das elites e dos decisores políticos às disrupções necessárias perpetua a estagnação económica. Por fim, o receio do desconhecido desincentiva investimentos ousados, reforçando um ciclo de baixo crescimento. O espírito cultural atual privilegia a conservação em vez da transformação, dificultando a revitalização económica.

"The enlightened humanist view of the relationship between the state and the public has become reversed. The state is no longer an institution that needs to be controlled by people. It is now the state's role to judge what is good for people, to raise public awareness, and to socially engineer people to do the right thing'. The earlier emphasis on the importance of human agency has been replaced by an emphasis on human vulnerability and powerlessness. And because people are so powerless and vulnerable this is seen to justify that we need the support of public institutions.

Just as the ascent of Enlightenment ideas informed the economic advances of industrial capitalism, so the reverse applies with today's slow-drift capitalism. Discomfort with change is antithetical to the business dynamism that the market system relies on to move forward. Cultural uneasiness with disruptive change runs counter to the creative destruction that is essential for capitalist growth and economic progress. This discomfiture informs the mainstream political inclination for stability over disorder."

A incapacidade das elites de articular uma visão positiva para o futuro do capitalismo prejudicou a sua capacidade de implementar as reformas necessárias para restaurar o crescimento económico. Em vez de abraçar a destruição criativa como um motor de progresso, as elites tornaram-se mais avessas ao risco e mais focadas na preservação do status quo. 

Em suma, o capítulo 9 argumenta que a crise intelectual do capitalismo é um factor fundamental na perpetuação da Longa Depressão. A falta de fé no capitalismo e o medo da mudança criaram um ambiente onde a estagnação económica se tornou a norma.

quinta-feira, novembro 28, 2024

Curiosidade do dia

"Things aren't looking good at Nissan. Dealers are selling cars at a loss, production has slowed, and more recently, the company cut thousands of jobs and sold a third of its stake in Mitsubishi. But it all may have been too little too late.

A new report suggests that the automaker's days are numbered. In an interview with the Financial Times, two unnamed Nissan executives said the company has "12 to 14 months to survive." "This is going to be tough. And in the end, we need Japan and the US to be generating cash," they said."

Surpreendente ler que a Nissan, outrora considerada uma marca sólida no sector automóvel, enfrenta uma crise tão severa que alguns executivos estimam ter apenas "12 a 14 meses de vida". Esta situação é alarmante, especialmente para uma empresa com uma história tão rica e uma presença global significativa. 

As dificuldades financeiras, os cortes de postos de trabalho e a procura urgente por novos investidores sugerem problemas profundos.

É a destruição criativa a funcionar, a menos que apareça um Pedro Nuno com dinheiro de contribuintes.


Trecho retirado de "Nissan Has '12 to 14 Months' Left"


Acerca do crescimento canceroso

Ao arrepio do mainstream, na linha de "Teoria versus estatística (realidade)":
"It's conventional wisdom in business that bigger is better, and that being able to scale is an essential element of a company's success. ...

For some time, scale and scaling - meaning that a business grows to ever-greater size — have been the holy grail of the startup and corporate world. Implicitly many believe that if something doesn't scale, then it's a failure. Bigger means better, and not-bigger means failure.
...
Can we say why getting bigger does not always equal success? Others have done so, including famed economist E.F. Schumacher in his book, Small Is Beautiful. There is a flaw at the heart of the concept of scaling, though it can be hard to articulate in the face of "bigger is better." Looking back to the roots of "scale" can help us pinpoint what conventional wisdom might be missing."
Alternativas à escala tradicional:
  • Scaling a Model, Not a Company
  • Scalling Impact, Rather than a Company
  • Scaling Humanity, Instead of Scaling Companies

"If we could broaden the lens of what we consider success and scale, we might be able to create more space for a healthier, happier economy. [Moi ici: Recordar o recente "Fugir da "rat race""] Sometimes we think that because something happens on its own — Adam Smith's famous invisible hand — that makes it good. But cancer gets bigger on its own. [Moi ici: Interessante como uso a mesma linguagem aqui no blogue - crescimento cancerosoThere are places where scale makes sense, but places where it does not. Perhaps one day we could celebrate a company like Huit Denim changing the conversation or an organization like Blue Hill at Stone Barns scaling a model that creates healthier farms and more delicious food as an equal, maybe even bigger, success than a tech company."

Trechos retirados de "It's time to reimagine scale"

quarta-feira, novembro 27, 2024

Curiosidade do dia

 
"Today you need to eat between eight and 21 oranges to get the nutrients your grandparents received in a single orange because soil has been stripped by fertilizer, pesticide, and monocrops of the microbiological community that creates flavor and nutrition. Anyone who has tasted massproduced strawberries and tomatoes knows firsthand that they often taste like bags of water compared to their more delicate, flavorful cousins raised in good soil. In the pursuit of scale, we have created efficient food that can be shipped long distances but is not delicious. How can we bring these measures into the conversation — not just in food, but across all of business?"

Trecho retirado de "It's Time to Reimagine Scale

Uns artistas!


Há anos estava a fazer uma auditoria a uma empresa e ao analisar a evolução do indicador "Taxa de cumprimento dos prazos de entrega" verifiquei que o desempenho estava bem abaixo do objectivo da empresa. Quando questionei a empresa sobre o que tinha feito para lidar com tal evolução ouvi uma resposta do tipo "vamos ter mais cuidado no próximo ano".

Esse é o tipo de resposta que não aprecio. Por isso, depois de algumas perguntas e respostas concluímos que o problema estava na forma como o indicador era calculado. A empresa dividia os clientes entre clientes para os quais o prazo de entrega era chave, e clientes para os quais o prazo de entrega não era crítico. Assim, nos períodos de pico de produção a empresa deliberadamente atrasava produção e entrega aos segundos para satisfazer os primeiros, mas ao calcular o indicador a empresa não distinguia os diferentes tipos de clientes na sua relação com os prazos de entrega. Portanto, o melhor que a empresa tinha a fazer era focar-se apenas nos clientes para os quais o prazo de entrega era crítico aquando do cálculo do indicador.

Lembrei-me de tudo isto por causa de um artigo publicado no JdN do passado dia 15 de Novembro, "Governo francês recorre a economistas para evitar previsões erradas". Apetece exclamar: Brincamos!!!!
"Com os "tiros ao lado" nas previsões económicas para este ano, em particular no que respeita às finanças públicas, o Governo francês decidiu recorrer à ajuda de economistas externos.
O grupo de especialistas, que reúne esta quinta-feira pela primeira vez, irá procurar formas de adaptar as previsões a um cenário global cada vez mais volátil e instável e aumentar a visibilidade quanto à forma como são conduzidas as finanças públicas.
Este passo foi tomado depois de as projeções do Ministério francês das Finanças para receitas fiscais este ano se terem revelado demasiado otimistas. O resultado? Um inesperado défice orçamental de 6,1% do produto interno bruto (PIB) em vez dos 4,4% estimados no Orçamento do Estado."

Parece que o Governo francês decidiu transformar o seu próprio optimismo fiscal numa tragédia anunciada. Primeiro, pintam o quadro de receitas a brilhar como o sol de Verão, tudo para agradar ao eleitorado (houve eleições em 2024) e mostrar que "está tudo sob controlo." Mas agora, com as contas a rebentar pelas costuras, toca a chamar um comité de especialistas para dizer o óbvio: "ups, afinal fomos um bocadinho demasiado optimistas."

Este "comité de sábios" é quase uma versão doméstica da troika, mas com sotaque francês. O que falta explicar é como o governo vai justificar as medidas de austeridade que provavelmente virão a seguir, enquanto os eleitores piscam os olhos, confusos, e perguntam-se onde está aquele orçamento mágico prometido antes. A cereja no topo? Culpam a volatilidade global e não, vejam só, a sua própria visão de túnel na política fiscal.

Conclusão: quando o défice dá "tiros ao lado", é sempre mais fácil chamar uns especialistas para dizer "foi o mercado!" do que admitir que se apontou a arma ao próprio pé. 

terça-feira, novembro 26, 2024

Curiosidade do dia

 



Recordar "Acerca da subida na escala de valor em negócios B2B" de Novembro de 2014:

"No escritório, tenho 4 ou 5 caixas que foram para sapatos, onde guardo relíquias do passado - peças de telemóvel, moleskines preenchidos, relógios avariados, ... - uma caixa é uma caixa ponto. Há dias, visitei uma empresa que fabrica caixas. Uma caixa é um produto funcional, serve para transportar sapatos. Até que no final da visita fui presenteado com uma caixa... nunca mais verei uma caixa da mesma maneira. Uma caixa fora da caixa!!!

Por alguma razão se exportam cada vez mais caixas vazias e montadas... porque têm muito valor acrescentado. São para o cliente clássico? Não!"

Lições de uma falência

No WSJ da passada sexta-feira, "Spirit Is Lesson in 'Airline-nomies'".

"Spirit Airlines is both reviled for its bare-bones service and beloved for exerting a downward pull on airfares. Its bankruptcy might be a good opportunity for travelers, investors and regulators to get an updated course on airline economics."

Competir apenas pelo preço pode expor vulnerabilidades, sobretudo em mercados margens muito apertadas e sujeitos a choques imprevisíveis como o aumento do preço dos combustíveis ou pandemias.

"Yet Spirit and Frontier became hated. In the latest American Customer Satisfaction Index, they ranked below broadband providers. Delays and cancellations are partly responsible, but there is a backlash to paying for add-ons, even if the final price tag is lower."

Ainda que o preço mais baixo seja aliciante para uma fatia importante do mercado, isso não quer dizer que seja o factor determinante para a satisfação dos clientes. Sem satisfação a lealdade a uma marca é frágil e isso limita a rentabilidade a longo prazo

"Breakneck growth allowed Spirit to keep unit costs low, but made it enter crowded markets: Only 6% of Spirit's seats are flown on basically uncontested domestic routes, such as Atlantic City-Orlando, even though the carrier still ranks sixth by size. Ryanair has 30% of its capacity in markets with no competition, despite having grown to Europe's largest airline. Before Covid, it was 49%.

In September, Spirit and Frontier were selling 27% and 50% more seats than before the pandemic, respectively.

The problem is an ultradiscounting strategy no longer insulates these airlines from competition."

 O rápido crescimento da Spirit sobrecarregou os recursos, obrigou a empresa para crescer a ter de entrar em rotas com mais concorrência, enquanto a sua dependência de “tarifas simples” dificultou a absorção dos aumentos de custos em toda a indústria. A Ryanair opera em nichos de mercado com concorrência mínima (rotas mal servidas).

Em mercados muito competitivos a adaptabilidade é fundamental. A resposta das transportadoras tradicionais aos ULCC (Ulta Low Cost Carriers) (por exemplo, maior eficiência e programas de fidelização) demonstra como os incumbentes podem neutralizar os disruptores ao longo do tempo.

segunda-feira, novembro 25, 2024

Curiosidade do dia

""Os problemas do SNS são problemas que a semana de quatro dias pode resolver", nomeadamente no que toca ao absentismo e à insatisfação dos trabalhadores do setor público pela elevada carga laboral, afirmou Pedro Gomes, que esteve hoje a ser ouvido na comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, na Assembleia da República, para apresentação das conclusões do relatório final sobre o projeto-piloto da Semana de quatro dias, na sequência de um requerimento do Bloco de Esquerda (BE) e do Livre."

Ah, claro, a solução mágica para os problemas crónicos do SNS: a semana de quatro dias. Porque, obviamente, cortar um dia de trabalho resolve a falta de profissionais, as filas intermináveis, os equipamentos avariados ou em falta e a sobrecarga dos profissionais. Basta contratar "mais uns trabalhadores" ... (como se houvesse uma fila de profissionais à porta dos hospitais) e adoptar a inteligência artificial (quem precisa de camas e medicamentos quando se tem algoritmos, não é?). Talvez devêssemos aplicar a mesma lógica à educação: menos dias de aulas para melhorar o ensino! Genialidade sem limites. 

Trecho retirado de ""Os problemas do SNS são problemas que a semana de 4 dias pode resolver"

Reduzir custos não é estratégia


"Today in business, the term 'race to the bottom' refers to companies cutting costs, prices and customer value to compete with one another - resulting in a sick industry that serves no one well, whether customers, companies, shareholders, employees, or society in general.
...
In each industry, the emphasis is on taking out costs to improve price competitiveness, which just begets copycat competitive responses and, depending on the state of evolution, an ever-worsening customer experience — with US air travel being the perfect exemplar.
But the cycle is the result of their pursuit of faux low cost strategies, not the real thing." [Moi ici: As empresas adoptam frequentemente métodos de redução de custos, como a subcontratação ou a racionalização, que são necessidades operacionais, mas não estabelecem uma diferenciação competitiva. Estas "faux low cost strategies" levam à comoditização e à “race to the bottom” em toda a indústria. Recordo de 2006 "Redução dos salários em Portugal"]
Muitas empresas equiparam erradamente a eficiência de custos a uma “estratégia de baixo custo”, levando a acções competitivas que não produzem vantagens significativas. As verdadeiras estratégias de baixo custo envolvem escolhas estratégicas fundamentais que criam diferenças de custos sustentáveis ​​em relação aos concorrentes.
"In a cost leadership or low cost strategy (I generally use the latter term but you should use whichever you prefer), the company opens a meaningful and sustainable cost gap with all relevant competitors. That is, for the customers you are targeting, you produce their desired offering at a meaningfully lower cost than any competitor. To be a real cost leadership strategy, it needs to conform with the fundamental rule of strategy: if opposite of your choice is stupid on its face, it isn't a strategy choice. The great low cost strategies that have stood the test of time are all underpinned by choices for which the opposite is definitively not stupid on its face." [Moi ic: Recordar ser pobre ou ser rico]

A verdadeira liderança em termos de custos requer escolhas distintas, em que o oposto da escolha não seja inerentemente “estúpido”. 

"All great cost leaders make choices for which the opposite is definitively not stupid on its face — it is what everyone else does. And it generates much lower costs than all competitors. Does the resulting offer appeal to all customers? Hell no! But for many, it is just perfect!" [Moi ici: a importância de não querer ser tudo para todos e escolher os clientes-alvo]

"Faux low cost strategies are ones in which the company makes choices about costs where the opposite is stupid on its face. These companies drive out waste. They outsource activities that outside providers can do more cheaply. They streamline processes. They deploy information technologies. They merge with competitors to reduce corporate overhead costs. They source from low-cost jurisdictions, etc.
But none of that is going to produce a low cost strategy because everyone else is doing it too. They will get you a good cost position. And that is superimportant for a successful differentiation strategy. But those are all choices that any competent manager would make in a similar situation. That is not strategy. Those are operating imperatives - smart things that any smart company would do. You can't open a meaningful and sustainable cost gap with competitors by doing what they do, even if you do it a little bit better." [Moi ici: Tanta gente precisava de ler este parágrafo e reflectir profundamente nas suas implicações]
O parágrafo que se segue também devia ser de leitura obrigatória para a maioria, os que acreditam que excelência operacional é estratégia:
"The best way to spur a race for the bottom is for the competitors in an industry to drive down costs in the same way — and for each to focus on that as its hoped for way to win. That is, they each incur the same set of costs in similar ways. That approach doesn't produce competitive advantage. However, very often each will continue to pursue that approach, believing that if it just cut costs a little bit more, it will eventually win. They will sacrifice innovation — too costly. They will sacrifice any attempt to be unique — too costly. They will commoditize their industry. And they will shape a miserable industry for all involved."

Strategy is and will always be an integrated set of choices that compels desired customer action. And to produce distinctively meritorious results, those choices must be distinctive. And to be distinctive, the opposite of the choices can't be stupid on their face.
These rules apply equally to low cost and differentiation strategies. A company does not have a low cost strategy just because it is cost effective. That is not to imply that being cost effective is unimportant. It is super important. For example, the only way to be a strong differentiator is to have no excess costs. Every dollar of wasted costs takes away from the strength of the differentiator.
...
If you want to have a real low cost strategy, you can't simply look cost item by cost item and attempt to reduce each. Instead, you need to figure out how to remove a cost item entirely ... This is where the Where-to-Play choice comes to the fore. You can't make distinctive choices compared to competitors that appeal to all customers. If you could, the opposite of your choices would be stupid on their face — because there is an obvious set of choices that wins with all customers. A set of choices can only not be stupid on its face if it alienates some customers, which competitors will serve.
As I always say, my dream for any competitive landscape is the separation of competitors, not overlap. You should aim to serve some customers exceedingly well while competitors serve others equally well — whether you are a differentiator or cost leader. It is that sort of real strategy choice that averts races to the bottom. That kind of choice is better for everyone — the company, its competitors, customers, employees, and society in general."
As PME devem evitar em entrar em "races to the bottom". Daí a citação recente de Tabeb sobre a importância de fugir das "rat races". Como enfrentam frequentemente uma forte e intensa concorrência podem sentir-se tentadas a competir apenas com base nos custos. Roger Martin mostra os perigos desta abordagem, destacando como pode levar à comoditização, à redução da rentabilidade e à diminuição do valor do cliente. As PME podem utilizar esta visão para se concentrarem na criação de vantagens competitivas sustentáveis, em vez de apenas na redução de custos.

A verdadeira liderança em custos implica fazer escolhas distintas que reduzam significativamente os custos de formas que os concorrentes não conseguem replicar facilmente (por exemplo, eliminando categorias inteiras de custos, como o modelo de mobiliário desmontado da IKEA). As PME, ao identificarem estas inovações estratégicas, podem diferenciar-se eficazmente sem se envolverem simplesmente em medidas de redução de custos. Para as PME, é vital compreender que uma estratégia deve ter como objectivo servir extremamente bem segmentos de clientes específicos (enquanto potencialmente aliena outros). Este foco pode ajudá-los a alocar os recursos de forma mais eficiente e a evitar uma dispersão excessiva.

Para as PME, é vital compreender que uma estratégia deve ter como objectivo servir extremamente bem segmentos de clientes específicos (enquanto potencialmente aliena outros). Este foco ajuda a alocar os recursos de forma mais eficiente e a evitar uma dispersão excessiva. A diferenciação não exige gastos excessivos, mas sim uma alocação inteligente e estratégica de recursos para criar valor que tenha uma ressonância única junto do seu público-alvo. As PME podem aproveitar esta visão para encontrar formas inovadoras de se destacarem sem aumentar desnecessariamente os custos.

Trechos retirados de "Faux 'Low Cost' Strategies" de Roger Martin.



domingo, novembro 24, 2024

Curiosidade do dia


 


Leio isto e a minha mente dá um salto ao passado e ao desafio de reduzir a violência doméstica. Recuo a Junho de 2007 e a "Mais um monumento à treta - parte Il".

Entretanto no WSJ do passado dia 21 li, "The DOGE Plan to Reform Government," que avança com uma tentativa de proposta de Elon Musk e Vivek Ramaswamy. (BTW, o que tenho lido de Phil Mullan em  "Creative Destruction" faz-me pensar no impacte que Milei poderá ter no Ocidente. Interessante que Peter Zeihan sempre achou a Argentina um país de futuro apesar da loucura socialista, por causa da agricultura, do potencial industrial e da demografia).

Os autores defendem que o actual sistema de burocratas não eleitos e entrincheirados que promulgam regras e regulamentos é ineficiente, dispendioso e prejudica a responsabilização democrática. O seu plano depende da criação de um novo Department of Government Efficiency (DOGE) que visa reduzir a burocracia federal, revogar regulamentos desnecessários e implementar reformas que se alinhem com os precedentes do Supremo Tribunal.

Mais informação sobre o artigo aqui.

Lições para PMEs


No passado dia 13 o FT publicou um artigo intitulado, "Family-run Astonish's cut-price goods clean up in supermarkets".

Um potencial ponto forte das PMEs é a sua rapidez e flexibilidade.

A Astonish é uma empresa familiar em Bradford, Inglaterra, que produz produtos de limpeza e de higiene pessoal a um custo competitivo. As suas origens remontam a um único produto criado em 1969, e agora expandiu-se significativamente. A empresa opera uma fábrica moderna e automatizada e produz 90 produtos.

A estratégia da Astonish é oferecer produtos que reproduzam o desempenho das marcas líderes a um preço significativamente mais baixo, competindo mesmo com as marcas próprias do retalho (marcas brancas). 

A marca prioriza a qualidade e a inovação, produzindo produtos eficazes e ecológicos sem testes em animais, o que está alinhado com os modernos valores éticos e ambientais do seu consumidor-alvo.

A Astonish passou de expositora em feiras de limpeza de nicho para se tornar um fornecedor convencional presente nos principais supermercados e nas cadeias de desconto. A empresa investe em I&D, o que lhe permite colocar produtos no mercado mais rapidamente do que as grandes multinacionais.

Algumas lições para PMEs:
  • Tirar partido da inovação. As PME podem competir com marcas de maior dimensão, fornecendo alternativas de elevada qualidade a preços mais baixos, concentrando-se na relação qualidade/preço sem sacrificar o desempenho.
  • Concentrar a atenção num nicho. Ao identificarem-se e distinguirem-se num nicho específico (como os produtos de limpeza ecológicos), as PME podem diferenciar-se e atrair clientes fiéis.
  • Flexibilidade e rapidez. A diversificação das linhas de produtos e a adaptação às exigências do mercado (como a higiene durante a pandemia) são fundamentais para a resiliência e o crescimento.
  • Operação eficiente: Investir em automação e instalações modernas pode ajudar as PME a crescer de forma eficiente, mantendo a qualidade e reduzindo os custos.
  • Consistência e confiança da marca. Estabelecer uma reputação de produtos fiáveis ​​constrói a confiança do consumidor e a lealdade a longo prazo.
  • Resiliência para os períodos de incerteza económica. A capacidade da Astonish para prosperar durante as crises económicas demonstra a importância de estar preparado para responder às exigências em constante mudança com uma produção adaptável e um planeamento estratégico.

sábado, novembro 23, 2024

Curiosidade do dia

Julgo que Confúcio disse algo parecido com:

"O homem sábio aprende com os erros dos outros, o homem comum aprende com os próprios erros, e o tolo não aprende nem com os próprios erros."

Este artigo, "5 Notorious ERP Implementation Failures (& Why They Flopped)" é muito interessante. 




Teoria versus estatística (realidade)

Quem lê os jornais e vai a conferências sobre o que é preciso fazer para aumentar a produtividade das empresas portuguesas inexoravelmente acaba por ouvir que as empresas precisam de ser maiores, que as empresas portuguesas são demasiado pequenas.

Por exemplo, recordo de Maio de 2013, "Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província", e de Outubro de 2020, "Tamanho e produtividade".

Penso que esta receita é demasiado simplista. Considerem um sector económico onde actuam as nossas PMEs. O mercado servido por uma empresa de 40 trabalhadores é muito diferente do mercado servido por uma empresa com 200 trabalhadores. O modelo de negócio, os clientes-alvo e a proposta de valor são diferentes. Recordo o que tenho escrito sobre o papel da experiência anterior para limitar o campo de possibilidades do futuro, por exemplo de "Não é impunemente ...".

Entretanto, encontrei uma revista incluída no jornal Labor do passado dia 14 de Novembro. Muitos artigos sobre o calçado. Destaco este, "45 Novas empresas de calçado desde o início do ano", e esta citação:

"A nota divulgada pela APICCAPS refere ainda que, segundo o Eurostat, até ao final de 2022 (altura em que foram disponibilizados os últimos dados), Portugal tinha 2.428 empresas de calçado, responsáveis por 41.170 postos de trabalho, menos 380 (2.808) do que as registadas em Espanha (26.622 trabalhadores) e 3.953 a menos do que em Itália (73.218 trabalhadores).

"Feitas as contas, uma das particularidades da indústria portuguesa de calçado prende-se com a dimensão média das suas empresas, consideravelmente maior do que a dos concorrentes externos. Cada empresa portuguesa emprega, em média, 30 trabalhadores, enquanto as italianas apenas nove e as espanholas seis", conclui a nota da APICCAPS."

O que tenho escrito aqui ao longo dos anos sobre o futuro do calçado?

"O sector do calçado vai encolher, e vai ter de subir ainda mais na escala de valor, ou seja, vai ter de anichar e trabalhar para segmentos de muito maior valor acrescentado, luxo mesmo talvez." 

Retirado de "De liana em liana" de Outubro de 2024 e de "e sinto que algo não bate certo" de Fevereiro de 2024.

Ei, mas eu só sou um anónimo da província.

sexta-feira, novembro 22, 2024

Curiosidade do dia

"Ana Lehmann, antiga secretária de Estado da Indústria no primeiro governo de António Costa, não poupa críticas à "falta de estratégia" na alocação dos fundos comunitários em Portugal, "muitos deles focados em temas não transacionáveis", diz. Para a ex-governante, o acesso a fundos "viciou o mindset de alguns agentes" e os investimentos ocorrem "em função de haver apoios para eles ou não", o que conduz a uma "certa paralisia" numa economia em que as empresas estão "descapitalizadas".

...

Considerando que a indústria portuguesa poderia ter um “papel de liderança” em alguns nichos, como os têxteis técnicos, e outros, porque, apesar de ser um país pequeno, tem uma “tradição industrial notável”, esta responsável lamenta que os responsáveis políticos tenham optado, em geral, por “iniciativas políticas de pequeno fôlego”, atribuindo vales e vouchers."

Trechos retirados de "Ana Lehmann: "Fundos europeus promoveram uma certa paralisia em Portugal"".



Fugir da "rat race"

Nassim Taleb em "The Bed of Procrustes":

"True success is exiting some rat race to modulate one's activities for peace of mind."

Quantas PMEs precisam de reflectir profundamente nesta frase. 

E recordo a 1ª lei da Teoria dos Jogos: "Do not play a strictly dominated strategy"

Em vez de ser definido pelo esforço incansável, pela competição ou pela validação externa (a “corrida desenfreada”), o sucesso implica recuar, recuperar o controlo e encontrar um equilíbrio na vida que priorize a tranquilidade interior e a autonomia em vez da luta perpétua .

O verdadeiro sucesso não consiste em vencer os outros num frenesim competitivo, mas em alcançar um estado de independência onde se possa decidir o ritmo e a natureza das suas actividades. É um apelo para redefinir o sucesso em termos de valores pessoais, em vez de parâmetros sociais como a riqueza, o estatuto ou o reconhecimento. De certa forma também relacionado com o "Volume is vanity. Profit is sanity."

A ideia é fugir dos oceanos de tinta vermelha. As PMEs apanhadas num mercado altamente competitivo ("rate race" ou "race to the bottom") esgotam frequentemente os seus recursos tentando superar os rivais num campeonato onde não têm, nunca terão hipóteses (formigas num piquenique), levando a rendimentos decrescentes. A perspectiva de Taleb incentiva a concentração em nichos ou “oceanos azuis”, onde a concorrência é menos intensa e as empresas podem prosperar através da criação de propostas de valor únicas.

Uma estratégia empresarial bem-sucedida pode visar a autonomia operacional, evitando a dependência excessiva de factores externos voláteis (por exemplo, flutuações do mercado ou pressões competitivas). Isto poderá passar pela construção de processos internos sólidos, pela diversificação dos fluxos de receitas ou pela promoção da inovação.

quinta-feira, novembro 21, 2024

Curiosidade do dia

Primeiro, no JdN de 18 de Novembro passado, "Fusion Fuel com fábrica parada e sem dinheiro para salários":

"Perante a falha de um investimento de 33,5 milhões de dólares, que devia ter sido concretizado até ao final de outubro, a tecnológica que fabrica eletrolisadores para projetos de hidrogénio verde abriu falência em Portugal. Estão em risco 100 postos de trabalho."

Segundo, recordar alguns postais:

Terceiro, recordar alguns tweets: