sábado, abril 23, 2022

"decaedere"

Recentemente, nesta apresentação, "Rouxinóis, fiambreiras e resultados!", a certa altura apresentei estas imagens (noutro contexto):


Por que é que Cavaco Silva recentemente criticou António Costa? Por falta de coragem para fazer reformas.

Costa é o político que nos propõe uma vida sem sacrifícios:

Quando lido com empresas apresento esta imagem para dar a entender o ponto acerca da estratégia. Estratégia é escolha, mas também é renúncia. Costa propõe-nos "Saúde e Riqueza", e quem é que não quer isso?

Contudo, não acredito que esse modelo seja sustentável. Assim, uma verdadeira estratégia implica uma escolha dolorosa:
  • ter saúde, mas ser pobre, ou
  • ser rico, mas ser doente
Jorge Moreira da Silva segue o caminho de Costa, esconde que é preciso fazer escolhas dolorosas, e refugia-se na "catequese". Acham mesmo que o PS não está de acordo com isto "Defendo um Estado que dignifique os cidadãos, promova a equidade social, liberte a iniciativa da sociedade civil e fomente o crescimento económico"? Se está de acordo com isto, porquê mudar?

De certeza que já escrevi sobre este tema no passado aqui no blogue. No entanto, agora não encontro um postal à mão melhor do que este.

Muitas vezes tomamos decisões e clarificamos e somos claros sobre o que decidimos, mas quase sempre esquecemos de enunciar, de tornar claro e transparente aquilo a que renunciamos, e quais são os pressupostos e implicações das nossas decisões.


Por exemplo, vejo muitas empresas entusiasmadas com a aplicação das metodologias lean desenvolvidas na Toyota, mas poucas sabem que o Toyota Production System parte do pressuposto que o planeamento da produção está congelado 8 semanas para a frente

Porter escreveu várias vezes: “the essence of strategy is choosing what not to do”.

Entretanto, ontem de manhã, durante a caminhada à chuva, encontrei este trecho:
"We obtain a better understanding of the meaning of the verb to decide by considering its Latin origin, decaedere, which means “to cut off” (derived from de [off] and caedere [to cut]). What is cut off are alternative options or courses of action. In other words, it means coming to a resolution or choice in the mind as a result of discernment, consideration, or settling an argument."
Fantástico, a origem da palavra decidir está no acto de cortar com uma(s) alternativa(s). Quantas decisões são tomadas sem perceber quais são as suas implicações
Quantas decisões são tomadas escondendo as suas implicações?

Saúde e riqueza em simultâneo rima com cativações, o que rima com, por exemplo:

Ou:

Eu acredito que lá no fundo, no fundo, a maioria das pessoas não acredita na promessa da riqueza e saúde em simultâneo, mas pensa: enquanto o pau vai e vem folgam as costas e depois alguém mais tarde há-de tratar da confusão acumulada. Um Passos qualquer que há-de fazer o papel de bode expiatório e nele será corporizada a culpa pela austeridade violenta. Em 2018 aqui no blogue escrevi:
"Depois da expulsão do paraíso, porque descobrimos que éramos mortais, porque descobrimos que havia uma coisa chamada futuro tivemos de começar a trabalhar. Trabalhar gera frutos que podem ser consumidos de imediato, ou podemos atrasar a gratificação e investir alguns desses frutos em busca de um futuro melhor. Ora uns investem muito, outros investem menos, outros não investem nada. Assim, quando o futuro chega, uns têm mais retorno, outros menos e outros nenhum. Nessa altura cresce a inveja e Caim mata Abel.

Acho sintomático que @s polític@s que se alimentam da inveja andem tão aliad@s às políticas@s que se alimentam da desvalorização do atraso na gratificação."

Trecho retirado de "The Root Cause: Rethink Your Approach to Solving Stubborn Enterprise-Wide Problems" de Hans Norden.

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