"Com os "tiros ao lado" nas previsões económicas para este ano, em particular no que respeita às finanças públicas, o Governo francês decidiu recorrer à ajuda de economistas externos.O grupo de especialistas, que reúne esta quinta-feira pela primeira vez, irá procurar formas de adaptar as previsões a um cenário global cada vez mais volátil e instável e aumentar a visibilidade quanto à forma como são conduzidas as finanças públicas.Este passo foi tomado depois de as projeções do Ministério francês das Finanças para receitas fiscais este ano se terem revelado demasiado otimistas. O resultado? Um inesperado défice orçamental de 6,1% do produto interno bruto (PIB) em vez dos 4,4% estimados no Orçamento do Estado."
Parece que o Governo francês decidiu transformar o seu próprio optimismo fiscal numa tragédia anunciada. Primeiro, pintam o quadro de receitas a brilhar como o sol de Verão, tudo para agradar ao eleitorado (houve eleições em 2024) e mostrar que "está tudo sob controlo." Mas agora, com as contas a rebentar pelas costuras, toca a chamar um comité de especialistas para dizer o óbvio: "ups, afinal fomos um bocadinho demasiado optimistas."
Este "comité de sábios" é quase uma versão doméstica da troika, mas com sotaque francês. O que falta explicar é como o governo vai justificar as medidas de austeridade que provavelmente virão a seguir, enquanto os eleitores piscam os olhos, confusos, e perguntam-se onde está aquele orçamento mágico prometido antes. A cereja no topo? Culpam a volatilidade global e não, vejam só, a sua própria visão de túnel na política fiscal.
Conclusão: quando o défice dá "tiros ao lado", é sempre mais fácil chamar uns especialistas para dizer "foi o mercado!" do que admitir que se apontou a arma ao próprio pé.