sexta-feira, julho 15, 2016

O dedo na ferida

"Na entrevista ao semanário Expresso de 2 de Julho, o chefe de missão do FMI, Subir Lall, teve uma frase espantosa, muito reveladora dos nossos problemas. "Os bancos, de forma geral, não se focam no lucro. Parecem estar muito mais concentrados numa actividade bancária assente nas relações."
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De forma arguta, Lall identifica uma das causas decisivas: os bancos não se focam na rentabilidade. E explica: "Centram-se nos clientes prime, que em muitos casos não querem os fundos (...) a banca portuguesa parece assentar muito nas garantias pessoais."
Uma breve inspecção às recentes catástrofes financeiras mostra essa verdade. O caso BES é um exemplo extremo de "clientes prime", em particular familiares, sem rentabilidade. A obscena luta pelo poder no BCP, em 2007, foi um embate de relações e compadres. Os problemas que assombram o Banif, o Montepio e a CGD, entre outros, resultam sobretudo da prioridade dada às influências, sacrificando a rentabilidade. Em todos estes casos foi um conjunto de poderosos (clientes e accionistas de referência, partidos, ministérios, interesses ou sectores) que recebeu empréstimos com base em garantias pessoais e pouca atenção ao lucro. Enquanto a bolha enchia, tudo parecia fácil; assim que o inchaço parou, desabou como um castelo de cartas.
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Os recentes temores quanto à chamada "espanholização da banca" nascem do mesmo. Diz-se temer que a liderança castelhana não atenda às especificidades das nossas empresas. Mas quando a banca funciona com base no lucro a nacionalidade dos donos das entidades financeiras é irrelevante: quem tiver bons projectos sempre conseguirá financiamento. Só que não é assim que o sistema funciona entre nós. Somos um país de compadres e "quem não tem padrinhos morre mouro". Os padrinhos mais valiosos são dos bancos. É precisamente por isso que a inevitável mudança da nossa elite financeira alarma tanta gente: precisamos de uma banca portuguesa para atender às tais particularidades das nossas empresas.
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A montanha de crédito malparado que se vem revelando na banca, e tem servido de matéria para o jogo de acusações mútuas das nossas elites, nasceu precisamente da influência exagerada dessas elites sobre as instituições de crédito. Agora outras elites estrangeiras irão comprar a banca lusitana, porque as nossas não têm capital para a sustentar. Esperemos que, finalmente, venhamos a ter um sector financeiro que cumpra a sua função, atendendo apenas ao que lhe compete: o lucro."


Trechos retirados de "Uma banca bancária"

E subir na escala de valor para parar com o crescimento canceroso?

A propósito de "Floresta volta aos anos 80 e cria mais riqueza":
"A silvicultura está a crescer desde 2008. No entanto, em 2014 tinha um peso de menos de 0,6% na economia nacional. O papel e o cartão são, de longe, a maior exportação da floresta nacional."
Sim, pode ser verdade. No entanto, este ano tive oportunidade de trabalhar com empresa que usa cartão como matéria-prima e percebi que quem quer cartão de qualidade tem de o importar. O que reforçou a minha opinião de que somos uma espécie de chineses da pasta de papel, produzimos muita quantidade mas com baixo valor acrescentado. Por isso é que o sector para continuar a crescer nas vendas tem de continuar com um crescimento canceroso da área de eucalipto plantado. Em vez de subir na escala de valor continua a predar.
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Faz-me espécie ninguém se interrogar como é que um país tão pequeno como Portugal pode produzir tanta pasta de papel. Por que é que os espanhóis, muito maiores, não aumentam a sua área?

BTW, duvido que isto seja verdade, para não variar acerca do que escreve Nuno Aguiar:
"Embora muito se fale sobre o aumento do eucaliptal no país, os hectares ocupados pela espécie em Portugal continental não aumentaram muito entre 1995 e 2010. Nesse período, passaram de 675 para 760 mil hectares."
Basta olhar para esta figura:

E ler este texto:
"O certo é que segundo os últimos resultados preliminares do Inventário Florestal Nacional, os eucaliptos tiveram um crescimento de 13 por cento entre 1995 e 2010 e são hoje a espécie dominante na floresta portuguesa, com 812 mil hectares plantados." 
O Jornal de Negócios contar a verdade sobre o eucalipto é como esperar que um jornal português, propriedade de general angolano, diga mal de Angola.

Entram os aprendizes de feiticeiro

Cenário 1.
Excesso de produção agrícola?
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Preço baixa, consumidores beneficiam e acabam até por consumir um pouco mais. Abaixamento do preço funciona como um sinal que é analisado pelos produtores, alguns optarão por abandonar a produção, outros por diversificar a produção, outros por reforçar o esforço de comercialização, outros por diminuir a produção.
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E o mercado ajusta-se por iterações.
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Cenário 2.
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Excesso de produção agrícola?
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Entram os aprendizes de feiticeiro "Ministério da Agricultura retira 2.600 toneladas de hortofrutícolas do mercado".
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Que sinais para que os produtores se ajustem à realidade?
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Nenhum!
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Que sinais para que os produtores adoptem mentalidade de "free riders" e continuem a aumentar a produção, ainda que não haja procura, simplesmente porque os aprendizes de feiticeiro vão recompensar esse comportamento?

quinta-feira, julho 14, 2016

Curiosidade do dia

"Para além da decisão sobre quais as sanções que serão aplicadas a Portugal, o Conselho Europeu, sob recomendação da Comissão, deverá nas próximas semanas indicar quais as novas metas orçamentais para este ano e o próximo que gostaria de ver Portugal cumprir. Depois, no prazo de quatro meses, Bruxelas avaliará se os compromissos que o Governo apresenta são suficientes para chegar às metas pretendidas."
A geringonça já começou a preparar listas conjuntas para as autárquicas de 2017?
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LOL

Considerar ainda ""Será dramático se BCE deixar de comprar a dívida""

Trecho retirado de "Bruxelas define novas metas orçamentais para Portugal"

Barreiras que deixam os não-clientes à parte

"O mercado português de fitness cresceu 13% em 2015, somando assim 730 mil pessoas, o que equivale a 7,1% da população total e 8,3% com mais de 15 anos. Enquanto isso, o número de ginásios aumentou para 1.365, levando a uma média de 537 membros por clube no final de 2015. Este número relativamente baixo é explicado pelo facto de Portugal ter uma percentagem relativamente grande de pequenos clubes, com 11% com menos de 200 m² e 34% entre 200 e 500 m².
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Em Portugal, 28% dos entrevistados participam em atividades desportivas regulares ou outras atividades físicas. 17% deles frequentam um clube de fitness, 67% dos quais para melhorar a saúde, seguido de 32% para relaxar. Tempo e Preço foram mencionados por 52% como os principais obstáculos."
Já agora, a propósito dos principais obstáculos, ler "What are the barriers that prevent noncustomers from buying your product?" e pensar que ofertas simples são uma forma de seduzir os não-praticantes

Trechos iniciais retirados de "Mercado do Fitness - Barómetro 2015"

Ainda acerca do banhista gordo

Os combustíveis são uma espécie de banhista gordo numa banheira a transbordar. Assim que o banhista resolve sair da banheira esta fica muito mais vazia.
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Segundo os dados do INE, no acumulado dos primeiros 5 meses de 2016 as exportações para os Estados Unidos caíram 9.8%.
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No entanto:
"O incremento de quase 100 milhões de euros nas exportações das empresas portuguesas de vestuário face ao período homólogo de 2015 resultou de um crescimento (+9,4%) nos envios para os países da UE a 28, destaca, em comunicado, a ANIVEC.
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Fora da União Europeia, os EUA estão a aumentar as suas compras à indústria portuguesa de vestuário, com uma subida de 4,6%. Destaque ainda para o crescimento de 117,9% das exportações para a Arábia Saudita e de 87,1% para a República Checa."
Por que é que no agregado as exportações caem? Por causa dos combustíveis!
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No final do 1º trimestre deste ano o BPI escrevia:



Trechos retirados de "Exportações aceleram em maio"

Tendências

Tendências há muito pressentidas e divulgadas neste blogue:
"the Post Mass Production Paradigm (PMPP) as a system of economic activity, capable of encouraging and sustaining economic growth without depending on mass production and mass consumption of artefacts. PMPP may be seen as a way of decoupling economical growth from resource /energy consumption and waste creation thus pursuing global sustainability.
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The markets changed from mass production to a higher variety and diversity towards customisation. Shorter life time, shorter time-to-market and higher functionalities are consequences of the technical development of products and market requirements. Mass production followed the migration to regions with lower costs of manufacturing. The structural change of manufacturing industries – driven by competition and technical innovations – is still going on.
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The manufacturing industries in Europe are fighting for competition because of high wages and costs of resources. Companies learned to concentrate operations towards customisation and niches of higher profitability. Taking into account the high skill of workers and engineers customisation changes the structure of manufacturing:
• increasing variants and customer specific products,
• lower batches and resulting costs for transformation,
• increasing complexity of products,
• increasing costs of product development.
The transformation from mass production to customised production is the new challenge of manufacturing
."
O que é que há de novo nos últimos dois anos?
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A par desta evolução que se mantém e acentua, cresce em paralelo o retorno de produções de preço da Ásia para a Europa.

Trechos retirados de "The ManuFuture Road Towards Competitive and Sustainable High-Adding-Value Manufacturing" de Francesco Jovane, Engelbert Westkämper e David Williams.

Trabalhadores, salários e produtividade

O que diria muito boa gente se ouvissem um empresário a afirmar:
"A produtividade da minha empresa não aumenta por causa dos meus trabalhadores porque não se esforçam"
No entanto, passamos a vida a ouvir afirmações deste tipo, pela mesma boa gente:
"“Paying workers better will lead to reduced turnover, better morale and higher productivity.”
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paying workers more will pay for itself through increased productivity."
Um absurdo!
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Os segundos, para suportar estas afirmações, recuam a Henry Ford:
"In 1914, Henry Ford famously announced that his company was doubling wages for most of its male factory workers, raising them to $5 a day. ... examined Ford’s decision in a 1987 paper, and found that the move reduced turnover, boosted productivity and profits, and attracted even more candidates to apply." 
O que estes segundos ignoram é que a economia não é física newtoniana!!! Aquilo que funcionava em 1914, aquilo que funcionava no tempo das linhas de montagem, aquilo que funcionava quando produtividade era produzir mais depressa, não é o que funciona hoje.
Há dias sublinhava a metáfora da economia como uma paisagem movediça. O que funcionava em 1914, quando reinava a produção em massa, quando Magnitogorsk (Metrópolis) estava a caminho do seu apogeu, era o aumento da produtividade com base no denominador da equação:
O numerador mantinha-se constante!
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Hoje, a caminho de Mongo (Estranhistão), aumentos a sério da produtividade são conseguidos só quando se olha e se actua sobre o numerador, e quem é que tem autoridade para o fazer? A gestão de topo, o empresário.
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Acreditar que o que funcionava em 1914 ainda funciona hoje faz-me lembrar o ir de carro para o interior do Porto e circular por ruas que conhecia como a palma da mão nos anos 80. Muros erguidos, sentidos proibidos, túneis criados, ruas novas ... a memória já não serve. Por exemplo, sair da igreja do Bonfim e seguir pela rua São Roque da Lameira até à estrada para Valongo...
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Trechos retirados de "Do CEOs Really Have the Power to Raise Wages?"






quarta-feira, julho 13, 2016

Curiosidade do dia

"Os economistas da Universidade Católica estão mais pessimistas sobre a evolução da economia nacional este ano. Segundo as previsões actualizadas do Núcleo de Estudos sobre a Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP), o produto interno bruto (PIB) deverá crescer apenas 0,9% em 2016, metade do valor inscrito pelo Governo no Orçamento do Estado. E mesmo esta estimativa apresenta riscos descendentes, conclui a Folha Trimestral de Conjuntura do NECEP."
Isto não vai acabar nada bem, mas também ninguém pode reclamar surpresa, estava escrito nas estrelas:
 Trecho retirado de "Católica vê Portugal crescer menos de 1% este ano"

Configurar como deve ser

Continuando a leitura de "Monetizing Innovation" de Ramanujam e Tacke, depois de "Segmentar como deve ser", os autores propõem: configurar como deve ser:
"But first, a clarification: Our definition of product configuration refers to the decision of which features and functionalities will be included in a product. In some industries, like software and tech, product configuration is also referred to by the term packaging. By bundling, we mean combining a product or service with other products and services.

Product Configuration Done Right.
Doing product configuration right means you design a product with the right features for a segment—that is, just the features customers are willing to pay for. This is a core tenet of designing new products that will succeed in the marketplace. Too many features lead to feature shock products, especially if your customers are not wild about those features. If they are wild about them and you didn't realize it, you design a minivation. Products with features that customers won't pay for wind up undead.

By having their feature sets tailored to each segment's needs, value, and WTP, each offering finally had a distinct value proposition. The design of these products also minimized the chances they would cannibalize one another, since customers clearly saw what they gave up at the lower price points. [Moi ici: Como não recordar a beleza da solução Dow vs Xiameter] The way we like to put it is that the company established clear "fences" between its products. Customers only get a low price if they go without extra product or logistics services; the company can offer a low price on this product because value and costs are lower."
E na sua empresa... que configuração faz?

Online conjugado com a economia das experiências

Pode não ser à velocidade do Pokemon Go mas um dia também veremos esta evolução nos centros comerciais em Portugal:

"At the Florida Mall in Orlando, Nordstrom was torn down and replaced with a Dick’s Sporting Goods store and a crayon-based family attraction called the Crayola Experience.
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Once the linchpin of American shopping malls, department stores are being displaced by newer types of retailers that do a better job of driving shoppers to the centers and lifting overall mall sales.[Moi ici: Atenção PME exportadoras, cuidado com os vossos clientes B2B. Eles podem até gostar de vocês e muito mas ... eles podem simplesmente desaparecer, comidos pelo online. E quanto maiores e mais famosos maior o perigo]
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Landlords are nudging out the once-coveted big box chains in favor of sporting-goods retailers, fast-fashion chains, supermarkets, gyms, restaurants, movies theaters and other types of entertainment as they seek to keep their properties relevant in an age increasingly dominated by online shopping.[Moi ici: A conjugação de duas correntes, a evolução do online e a ascensão da economia das experiências]
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“The definition of an anchor has changed,”
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“The dependence of malls on department stores isn’t what it was 25 years ago,” said Sandeep Mathrani, CEO of another big mall owner General Growth Properties Inc.
Since 2011, General Growth has taken back space from 65 department stores, or about 15% of its anchors, and filled the locations with new occupants that include H&M Hennes & Mauritz AB, 24 Hour Fitness, Wegmans Food Markets Inc., Dave & Buster’s and other restaurants.
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Fast-fashion chains, restaurants, specialty stores do a better job of driving mall sales and drawing shoppers"

Trechos retirados de "Mall Owners Push Out Department Stores"

Acerca das importações

Ontem à tarde, um amigo escreveu no Twitter:
"Em Maio as importações caíram 3,6%. Estamos a espetar-nos ao comprido"
Aqueles 3,6% dizem respeito à variação homóloga em Maio.
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Vamos lá olhar para os números do acumulado do ano até Maio:
Ou seja, no acumulado do ano as exportações caíram 1,6%, cerca de 394 milhões de euros.
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Agora vamos fazer um pequeno exercício. Por um lado, Portugal importa muito petróleo para processamento e posterior consumo e exportação. Por outro lado, os chineses estão a inundar o mercado com aço muito barato. Qual a evolução das importações sem estes dois componentes:
Sem contar com o petróleo e o aço as importações acumuladas nos primeiros 5 meses de 2016 cresceram 1133 milhões de euros. Ou seja, um crescimento de 5,5%.

É preciso ter cuidado com os números quando existe um banhista gordo na banheira.

Acerca do desemprego em 2016

A propósito da evolução do desemprego em 2016, eis os números do IEFP:

Apesar da sazonalidade, que afecta sectores como o calçado ou o vestuário, todos os sectores de actividade económica registaram variações negativas do desemprego, ou seja, abaixamento do nível de desemprego.
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Tendo em conta o que os políticos costumam dizer sobre o desemprego, começo por sugerir que se compre o número de desempregados no sector dos serviços com o número de desempregados na "Indústria, energia e água e construção".
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Depois, sublinho o impacto do turismo na recuperação do parque habitacional de Lisboa e Porto e a consequente redução do desemprego no sector da Construção.
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Depois, a propósito da necessidade de reduzir o IVA para criar emprego na restauração, por favor olhar para a taxa de abaixamento do desemprego no sector "Alojamento, restauração e similares", quase -17%.
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Estão a ver a necessidade de criar um inimigo externo?

terça-feira, julho 12, 2016

Curiosidade do dia

"Algumas instituições (FMI, Bruegel) estimam que até ao final do ano o BCE deixe de poder de comprar títulos do Tesouro português (por violar os limites impostos no programa). Depois, os juros em 3% escondem uma diferenciação clara já feita pelo mercado entre Portugal e o restante "Sul", visível no aumento comparativo dos "spreads" de Portugal face a Espanha e Itália. Esta diferenciação custa muito dinheiro aos contribuintes - e é um sinal preocupante para o futuro pós-programa do BCE.
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É olhando para este cenário que a Comissão se empertiga com Portugal, que há bancos estrangeiros que avisam para o risco de resgate, que há recados assassinos de um ministro alemão. Já sabemos que muitos destes agentes seguem as suas agendas - este filme não é, nem nunca foi, o Bambi. Mas isso não deve servir para esconder a necessidade de maior prudência por parte da política portuguesa - nem para eleger infantilmente toda e qualquer pressão de Bruxelas como "inimiga" do "interesse nacional". Há que pôr os olhos na bola e ler todo o campo. Com mais ou menos auto-estima, neste jogo seremos sempre "underdogs" - e aqui não há nenhum Éder mágico."

Trecho retirado de "No outro jogo não há Éder que nos salve dos erros"

Experiências, hollowing e o futuro das marcas

Primeiro, a parte com que concordo:
"Retailers the world over need to understand that we have entered the Experience Economy. Goods and services are no longer enough; what consumers want are experiences — memorable events that engage each individual in an inherently personal way.
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The primary reason people will come into physical places in the future is because they seek experiences, so retailers must design and build places that showcase the “experience” of the merchandise they have for sale. If you get your customers to experience your goods, the chances they will buy those goods increases."
Segundo, a parte com que não concordo:
"Consumers will want to buy goods at the cheapest possible price and the greatest possible convenience. Meaning, they will continue to buy more and more merchandise online. Only hypermarkets that pile it high and wide have any hope of competing on price. Everyone else will have to subsume their merchandise within an experience that engages consumers."
Terceiro,
"If you think retail faces commoditisation, imagine how badly off manufacturers are! As they see their margins pinched and their channels marginalised, more and more manufacturers will decide to go into retail themselves, creating relationships with end consumers while showcasing their own offerings."
A ilusão da segunda parte leva ao que há anos aqui chamo de hollowing. O hollowing leva os consumidores a duvidarem das marcas clássicas e a virarem-se para o genuíno, o autêntico. Uma oportunidade para o fenómeno do "Terceiro".

Trechos retirados de "Stage Experiences or Go Extinct"

Transformar a empresa!

Ontem, durante uma reunião numa empresa, pediram-me para explicar a metodologia que proponho para implementar um sistema de gestão da qualidade concentrado no negócio.
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Cá vai um esquema do que expus:

1. Como nos vemos e como trabalhamos
  • qual o âmbito do sistema;
  • qual o ecossistema da procura;
  • qual o mapa de processos.
2. Quem servimos e para onde vamos
  • Em que somos bons;
  • Que oportunidades podemos aproveitar;
  • Quem são os clientes-alvo;
  • Quem são os outros intervenientes no ecossistema;
  • Desenhar o mapa da estratégia;
  • Estabelecer os indicadores e metas;
  • Definir as iniciativas estratégicas;
3. O que é a ISO 9001
  • Que conselhos nos dá;
  • Distribuir as cláusulas da norma pelos processos e outros componentes do sistema;
4. Transformar a empresa
  • Melhorar a empresa, tendo em conta os conselhos e as iniciativas estratégicas
5. Monitorizar a transformação

Em boa verdade, todos os primeiros 3 pontos são só uma preparação para o essencial, o que vem a seguir: transformar a empresa para a tornar numa máquina obcecada a servir os clientes-alvo e os outros intervenientes no ecossistema da procura.

Precisa-se de um "inimigo externo"

Agora, relacionar esta "Curiosidade do dia" com esta realidade "Acerca das exportações dos primeiros 5 meses de 2016", tendo por pano de fundo "Barclays arrasa com economia portuguesa".
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É preciso arranjar um culpado para o regresso da austeridade. O mais fácil é arranjar um "inimigo externo" do tipo: a nossa economia está bem, o problema são as exportações que estão a falhar.
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Interessante que a Harvard Business Review republique hoje no Twitter este artigo, "Leading Change: Why Transformation Efforts Fail", de John Kotter e publicado em Janeiro de 2007. O artigo é um clássico e Kotter é um clássico na minha vida profissional. Aqui no blogue citei-o pela primeira vez em Maio e em Julho de 2006.
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É por cauda da primeira regra que Kotter enumera no artigo que o meu avatar no Twitter é:
Regra nº1 - Criar uma burning platform para gerar um sense of urgency
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Porque relaciono o primeiro parágrafo deste postal com Kotter?
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Por causa da regra nº 7 e do erro associado:
"Error 7: Declaring Victory Too Soon
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After a few years of hard work, managers may be tempted to declare victory with the first clear performance improvement. While celebrating a win is fine, declaring the war won can be catastrophic. Until changes sink deeply into a company’s culture, a process that can take five to ten years, new approaches are fragile and subject to regression."
A transformação que Portugal iniciou nos anos da troika, apesar dos resultados muito positivos, ainda não estava nem concluída nem consolidada.
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Agora, vão precisar de um bode expiatório.

Acerca das exportações dos primeiros 5 meses de 2016

Parte I e parte II.
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E continuo no mesmo registo de sempre:
  • Qual foi a diferença homóloga do acumulado das exportações nos primeiros cinco meses? E a resposta é -343 (-319 nos primeiros quatros meses) milhões de euros.
  • Sem combustíveis e pópós como se comparam os primeiros cinco meses de 2016 com os de 2015? As exportações de combustíveis caíram 543 milhões e as exportações de pópós caíram 57 milhões de euros! Quer isto dizer que sem contar com combustíveis e pópós as exportações dos primeiros cinco meses de 2016 cresceram 257 (145 nos primeiros quatros meses) milhões de euros!!!
Segue-se uma comparação homóloga em vários sectores (a preto o desempenho no trimestre, a vermelho o desempenho no quadrimestre e a azul nos primeiros 5 meses. A percentagem representa a variação no período homólogo):
  • as exportações de mobiliário cresceram 59(77(14%) 95(14%)) milhões de euros;
  • as exportações de máquinas, aparelhos e material eléctrico cresceram 49 (84(6%) 134(8%)) milhões de euros;
  • as exportações de produtos farmacêuticos cresceram 45(59(23%) 61(18%))  milhões de euros;
  • as exportações de vestuário e seus acessórios de malha cresceram 41(73(12%) 98(13%))  milhões de euros;
  • as exportações de plásticos e suas obras cresceram 37(54(6%) 57(5%))  milhões de euros;
  • as exportações de aeronave e outros aparelhos aéreos cresceram 26(13(16%) 15(16%))  milhões de euros;
  • as exportações de produtos cerâmicos cresceram 16(19(9%) 28(10%))  milhões de euros;
  • as exportações de borracha e suas obras cresceram 15(19(5%) 22(5%))  milhões de euros;
  • as exportações de cortiça e suas obras cresceram 15(26(9%) 29(8%))  milhões de euros;
  • as exportações de aparelhos de óptica e fotografia cresceram 15(18(8%) 23(9%))  milhões de euros;
  • as exportações de calçado cresceram 10(19(3%) 18(2%))  milhões de euros;
  • as exportações de plantas vivas e floricultura cresceram 10(12(40%) 14(37%))  milhões de euros;
  • as exportações de animais vivos cresceram 14 (29%) milhões de euros;
  • as exportações de frutas cresceram 8 (5%) milhões de euros;
  • as exportações de papel e pasta cresceram 27 (4%) milhões de euros;
  • as exportações de preparados de produtos hortícolas e de fruta  cresceram 10 (5%) milhões de euros;

Continuo optimista!

Números retirados do Boletim do INE sobre o comércio internacional publicado ontem.

segunda-feira, julho 11, 2016

Heróis!!!

"Dois capitães e um tenente-coronel morreram, hoje ao final da manhã, depois de um acidente na base aérea do Montijo, no distrito de Setúbal.
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Ao que o Notícias ao Minuto apurou junto de fonte militar, os dois capitães conseguiram sair do avião C130 antes que este se incendiasse, mas voltaram atrás para ajudar o tenente-coronel que havia ficado preso no interior do aparelho.
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Os dois capitães não conseguiram salvar o tenente-coronel a tempo e acabaram, os três, por perder a vida."
Neste dia de alegria, uma pausa para reflexão e oração para estes heróis que arriscaram a vida para tentar salvar um camarada.
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Uma oração especial para as famílias enlutadas.

Trecho retirado de "Base aérea: Capitães morreram a tentar salvar tenente-coronel"

Isto é poesia para quem acredita na vantagem de Mongo para as PME


Para quem segue este espaço de reflexão, há muito que aqui se escreve sobre Mongo. Mongo é a metáfora de um mundo económico pouco amigável para os gigantes. Ainda ontem escrevemos "Acerca de Mongo".
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Agora, descubro na revista The Economist outro texto, "Invasion of the bottle snatchers", com uma mensagem já habitual por aqui:
"Smaller rivals are assaulting the world’s biggest brands
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trouble lurks for the giants in consumer packaged goods (CPG), which also include firms such as General Mills, Nestlé, Procter & Gamble and Unilever. As one executive admits in a moment of candour, “We’re kind of fucked.”
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From 2011 to 2015 large CPG companies lost nearly three percentage points of market share in America, according to a joint study by the Boston Consulting Group and IRI, a consultancy and data provider, respectively. In emerging markets local competitors are a growing headache for multinational giants.
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For a time, size gave CPG companies a staggering advantage. Centralising decisions and consolidating manufacturing helped firms expand margins. Deep pockets meant companies could spend millions on a flashy television advertisement, then see sales rise. Firms distributed goods to a vast network of stores, paying for prominent placement on shelves.
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Yet these advantages are not what they once were. Consolidating factories has made companies more vulnerable to the swing of a particular currency,
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The impact of television adverts is fading, as consumers learn about products on social media and from online reviews. At the same time, barriers to entry are falling for small firms. They can outsource production and advertise online. Distribution is getting easier, too: a young brand may prove itself with online sales, then move into big stores.
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Most troublesome, the lumbering giants are finding it hard to keep up with fast-changing consumer markets.
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In America and Europe, the world’s biggest consumer markets, many firms have been similarly leaden-footed. If a shopper wants a basic product, he can choose from cheap, store-brand goods from the likes of Aldi and Walmart. But if a customer wants to pay more for a product, it may not be for a traditional big brand. This may be because shoppers trust little brands more than established ones. One-third of American consumers surveyed by Deloitte, a consultancy, said they would pay at least 10% more for the “craft” version of a good, a greater share than would pay extra for convenience or innovation. Interest in organic products has been a particular challenge for big manufacturers whose packages list such tasty-sounding ingredients as sodium benzoate and Yellow 6.
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All this has provided a big opening for smaller firms. In recent years they contributed to a proliferation of new products
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EY, a consultancy, recently surveyed CPG executives. Eight in ten doubted their company could adapt to customer demand. Kristina Rogers of EY posits that firms may need to rethink their business, not just trim costs and sign deals. “Is the billion-dollar brand,” she wonders, “still a robust model?”"