quinta-feira, maio 01, 2025

Curiosidade do dia

No FT de 30 de Abril passado reparei neste título "Spotify adds 5mn subscribers as consumers seek to tune out political 'noise'."

Também ontem percebi que o "Canal Now ultrapassa SIC Notícias":

"O NOW registou, ontem, um share médio global de 1,93%, com perto de 49 mil espectadores a cada minuto, naquele que foi o melhor dia de sempre do canal."

 Ainda me lembro do frenesim das rádios e TVs com a ideia de eleições antecipadas e com a antevisão do circo associado: debates, comentariado, comentariado do comentariado.

Vi/ouvi zero debates.

Será que num KPI que medisse "horas de comentário sobre horas de emissão" a SIC Notícias ficaria à frente?

Onde estás tu, Oliveira de Figueira?

O WSJ de 29 de Abril passado traz um artigo, "Chinese Manufacturers Scour the World for New Buyers", sobre o que é que as empresas chinesas estão a fazer para dar a volta ao desaparecimento do mercado norte-americano por causa do impacte negativo das tarifas impostas pelos EUA sobre as importações chinesas.

"With the White House imposing 145% tariffs this year on Chinese goods, Chinese manufacturers are fanning out around the world.

...

The U.S. is by far the largest single-country buyer of China's exported goods, accounting for roughly half a trillion dollars of products, or about 15% of China's goods exports, last year, according to Chinese customs data.

...

Many Chinese manufacturers have little choice but to find new overseas markets for their goods, since they face brutal competition and a stagnating economy at home.

...

But after an epic property-market collapse and with economic growth slowing, Chinese people are saving more and spending less.

...

Consumer prices have flatlined, factory-gate prices have fallen for more than two years and imports have declined."

As empresas chinesas estão a explorar mercados alternativos como a Europa, Sudeste Asiático, Médio Oriente e África. Nas feiras internacionais, os expositores chineses superam em número os fabricantes locais, oferecendo produtos com excesso de produção devido à queda nas encomendas.

"First-time fairgoer Qian Xichao, a representative of Wujiang City Hongyuan Textile, said factories in China are churning out so many excess goods that price wars have broken out, killing profits.

...

All we can do is go out and look for new opportunities," Qian said.

...

At the Jakarta trade fair, one of the largest for Indonesia's textile and garment industry, Chinese exhibitors outnumbered domestic manufacturers by more than two to one in the directory. About 400 Chinese manufacturers were listed as exhibitors, and many said it was their first time in the country."

Para quem não consegue fugir da competição com as empresas chinesas: mais concorrência, mais pressão sobre preços e margens. Há que reforçar o conhecimento dos mercados internacionais e adaptar produtos às preferências locais. Participar em feiras internacionais e missões empresariais para ganhar visibilidade. Há que investir em certificações, branding e soluções digitais para aumentar a atractividade. Há que antecipar e mitigar o risco de concorrência agressiva nos mercados tradicionais através da inovação contínua.

quarta-feira, abril 30, 2025

Tradição


 

Curiosidade do dia

A propósito de "Faltam eletricistas em Portugal, profissão não atrai jovens" com:

"A transição energética abriu um mercado de oportunidades para as profissões desta aérea, mas falta mão de obra. O trabalho tem crescido com a instalação de mais painéis solares, construção de parques fotovoltaicos e eólicos. E também com a instalação de carregadores elétricos, mas os jovens não estão atraídos pela profissão. Os baixos salário são uma das principais razões."

Recordar de Agosto passado "Subir os salários apostando nas transições verde e digital" e este trecho super-weird:

"O que nos diz o INE? Diz-nos, por exemplo, que agricultura e turismo pagam mal e têm os salários mais baixos do país e que as atividades relacionadas com a eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio, isto é, o sector da energia, são as que pagam salários mais elevados, com salário médio superior a 3500 euros por mês, mais do dobro da média nacional."

Sempre achei estes números absurdos. Falei com alguns quadros bem conhecedores do sector eléctrico e riram-se na minha cara por causa destes valores. 

Eu olho para aqueles 3500 euros por mês e recordo as legiões de electricistas com as botas de segurança rotas, os sinais de trânsito de há dois séculos, ...

Ter um plano é melhor do que estar parado!

Em "Competitivos, mas frágeis: o custo invisível de competir sem diferenciação" escrevi:

"Eu, que estou de fora desta "guerra", e por isso é fácil falar, prefiria encolher agora e explorar outros mercados com potencial para subir na escala de valor."

Em "You discover your true self by participating in life, acting" escrevi:

"Se tivessem recuado ou ficado à espera da "oportunidade perfeita", talvez não estivessem hoje a fornecer componentes críticos para data centers e infraestruturas de Al em todo o mundo. Foi a acção contínua - a fidelidade ao fazer - que lhes abriu um novo caminho.

Num contexto industrial, isto significa que nem sempre é possível antecipar para onde vai o mercado, mas é possível estar preparado para responder, com capacidade técnica e adaptabilidade, quando ele mudar. Muitas vezes, aquilo que parece um declínio é apenas a preparação silenciosa para uma nova função no sistema económico - função essa que só se revela a quem continua em movimento."

 E já agora, não esquecer o Princípio do Progresso.

Na última conversa de Joe Rogan com Jordan Peterson fixei este trecho:



terça-feira, abril 29, 2025

Curiosidade do dia

"Think again, feel differently, he argues. That's how change begins.

In our own troubled times, it's common to dismiss the arts as merely decorative, trivial, distracting. But historians know better, arguing that if you want to identify when change starts, the best place to look for it is in art. So what role can artists play in times of confusion and fear?

...

Picasso's Guernica, perhaps the most famous piece of political art, didn't bring the dictator Francisco Franco to his knees, but as it went on tour in England and the United States, it raised money for the Spanish Republican cause and helped erode American isolationism. Stuck in New York while Franco remained in power, the painting remained a provocation and a litmus test for the fragility of Spanish fascism. When attitudes softened, Barcelona's mayor opened a museum of Picasso's work and Franco's government attempted to lure the picture home; when they hardened, Spanish citizens were jailed simply for receiving a postcard of the painting.

Guernica did and does what art can, holding a mirror up to who and what we are, educating our imagination.

Where propaganda simplifies, urging us to stop thinking, art invites us into the liminal space between what is and what ought to be.

...

The role of art is not to frame policy or propose legislation but to create the conditions in which we can begin to imagine a future different from the present. A fundamental precondition of change is the sense that, as Rea said, movement is possible. A bulwark against sentiment, kitsch and jingoism, artists strive to reignite a sense of agency and possibility.

...

Through the ages, what art and artists provide in times of great uncertainty is a moment and a means for us to feel and think for ourselves, to imagine change. Individually and collectively. To reframe what feels immovable, to revive what feels dead. Or, as Kae Tempest put it at the end of their own version of Philoctetes: Give courage. Take courage."

Trechos retirados de "The role of the artist in difficult times" publicado no FT de 24 de Abril passado. 

Fábricas robotizadas? Só se for para montar iPhones, não sapatos

Em Novembro de 2019 escrevi aqui Mongo e automatização, fiem-se no conto do vigário. Comecei por esta citação:

"Adidas plans to close high-tech 'robot' factories in Germany and the United States, it launched to bring production closer to customers, saying on Monday that deploying some of the technology in Asia would be 'more economic and flexible."

Adidas started production of shoes largely by robots at its "Speedfactory" in the southern town of Ansbach near its Bavarian headquarters in 2016 and opened another near Atlanta in 2017."

Depois refiro que o artigo não é claro quanto aos motivos do encerramento e classifico como estranha a decisão "deploying some of the technology in Asia would be "more economic and flexible.""

Agora, quase cinco anos e meio depois encontro um artigo sobre a Nike que vai no mesmo sentido, mas é mais claro quanto às razões. O WSJ no passado dia 22 de Abril publicou "Nike Finds Robots Struggle to Make Shoes."

O artigo relata os desafios enfrentados pela Nike ao tentar automatizar a produção de calçado nos Estados Unidos. Apesar dos investimentos milionários e da ambição de reduzir a dependência de mão-de-obra asiática e de baixos custos, a empresa confrontou-se com enormes dificuldades técnicas. O fabrico de calçado, altamente artesanal, mostrou-se difícil de automatizar devido à complexidade dos materiais e à variabilidade dos processos. Tentativas de automatização conduzidas por empresas como Flex e outras marcas como Adidas e Under Armour não tiveram sucesso pleno. No final, muitas empresas acabaram por manter ou regressar à produção nos países asiáticos, onde existe know-how específico, apesar dos riscos associados a tarifas e interrupções nas cadeias de abastecimento.

A experiência da Nike, descrita no artigo do Wall Street Journal, e a estória da Adidas, publicada no blogue, convergem num mesmo ponto central: a ilusão de que a automatização pode facilmente substituir trabalho humano especializado em indústrias com elevada variabilidade e exigência manual.

"Factory production never became as automated as envisioned." "The robots struggled to handle the soft, squishy and stretchy parts that are integral to shoemaking." [Moi ici: A Nike tentou replicar o sucesso obtido na produção automatizada de produtos electrónicos (como os Mac Pros da Apple), mas rapidamente percebeu que o fabrico de calçado exige uma flexibilidade e sensibilidade que as máquinas ainda não consequem replicar.]

Tanto a Nike como a Adidas subestimaram a complexidade técnica e humana envolvida na produção de calçado. O "conto da automatização" ignora que:

  • Nem todos os processos são escaláveis ou automatizáveis. 
  • A diferenciação não está só no design, mas na execução artesanal. 
  • A automação só funciona bem em ambientes com baixa variabilidade e alta repetibilidade.

segunda-feira, abril 28, 2025

Curiosidade do dia


É tão estranho ... subitamente os políticos deixaram de falar do que verdadeiramente interessa, produtividade, e focam-se em algo traiçoeiramente perigoso, competitividade.

Por que será? 


Desta vez é Cecília Meireles num artigo publicado no semanário Expresso no passado dia 18 de Abril intitulado "Esquecer a competitividade é comprometer o futuro."
"O único caminho sólido para um país com mais oportunidades e melhores salários é um país com empresas mais competitivas, com maior dimensão e mais capitalizadas." [Moi ici: A sério? Desde 2013 que as empresas portuguesas têm demonstrado elevada competitividade, ganhando quota de mercado]
Depois, Cecília Meireles prepara a argumentação para a redução do IRC:
"Em 2023, Portugal tinha a taxa máxima de IRC mais elevada dos países europeus da OCDE.
...
Segundo o Índice de Competitividade Fiscal Internacional 2024, Portugal estava em 35.º em 38 lugares.
...
Devia ser evidente que um dos passos cruciais para aumentar a competitividade das empresas portuguesas é precisamente baixar o IRC."

Tudo o que Cecília Meireles escreveu é verdade mas se o IRC baixar e considerarmos apenas as empresas portuguesas ... vamos ter um cenário deste tipo "Competitivos, mas frágeis: o custo invisível de competir sem diferenciação."

Precisamos de baixar o IRC mas para atrair empresas estrangeiras como aqui refiro "Falem mal delas, mas imaginem o que poderiam fazer por nós."

Percepções de valor

O WSJ do passado dia 26 de Abril publicou o artigo "Companies Struggle to Set the Right Price":

"The business world's tariff problem is turning into a real-world price problem."

O artigo aborda como várias empresas estão a lidar com o aumento de tarifas sobre bens importados, particularmente nos EUA, adoptando estratégias de aumento de preços para proteger margens. Enquanto marcas premium como a Hermès conseguem facilmente aumentar preços ...

"Birkin handbag maker Hermès last week said it would raise its prices in the U.S., making American buyers swallow the entire cost of tariffs on European goods."

... e fazer com que o consumidor assuma o impacto tarifário devido ao forte posicionamento e ao elevado poder da sua marca, outras empresas enfrentam mais dificuldades. Por exemplo, marcas que vendem produtos mais baratos, como a Five Below, precisam de fazer ajustes subtis ou absorver parte dos custos para não ultrapassar barreiras psicológicas de preço.

O artigo fortalece a ideia de que a capacidade de transferir custos de tarifas para os consumidores depende fortemente do posicionamento e poder de mercado da empresa. E volto ao texto recente "Competitivos, mas frágeis: o custo invisível de competir sem diferenciação," empresas com baixo poder de mercado e fraca diferenciação são obrigadas a absorver custos adicionais como tarifas, sacrificando as suas margens. Isto contrasta nitidamente com o exemplo da Hermes:

  • A Hermès consegue transferir integralmente o custo das tarifas aos consumidores americanos, dado o seu elevado poder de marca e diferenciação, permitindo-lhe manter ou mesmo aumentar as suas margens.
  • As empresas portuguesas optam predominantemente por absorver esses custos, revelando uma fragilidade estrutural devido à ausência de diferenciação suficiente para justificar aumentos de preço.

O texto do blog defende precisamente a ideia de que reduzir preços e absorver custos adicionais sem estratégia é perigoso, porque corrói directamente a rentabilidade, reforça um ciclo de baixas margens, e degrada a percepção de valor do produto no mercado. Já a estratégia da Hermès é exactamente a oposta: ao aumentar preços, reforça a percepção de valor dos seus produtos e protege a sua rentabilidade, demonstrando como uma diferenciação robusta gera poder negocial com a cadeia a jusante.

domingo, abril 27, 2025

Curiosidade do dia

O último número da revista The Economist traz um artigo sobre o Canadá e o seu vizinho do sul, que se aplica em parte a Portugal e o seu "vizinho" do norte.

O artigo intitula-se "To see off the Trump challenge, Canada must fix its productivity problem, says Michael Ignatieff":

"Canada's GDP per person has been shrinking by 0.4% a year since 2020—the worst rate of the 50 most developed economies. Productivity fell from 81% of the American level in 2000 to 68% in 2023. In the same period, Canadian investment per worker tumbled from 60% of America's to 41%.

Lagging productivity has cascade effects: stagnating revenue means higher debt-servicing costs, crumbling hospitals, schools and roads, and stagnating wages that leave young families priced out of housing. Public discontent feeds political disillusion. People lose faith in government because they feel a growing disconnect between its capacity to deliver on basic expectations and the promise of Canadian life. If the gap between American and Canadian living standards continues to grow, the threat to the future of the country will come not from Washington, but from the steady haemorrhage of young Canadians moving south for a better life."

Acerca da incerteza

"What is uncertainty?
Most formal definitions say it is a 'lack of certainty', so we need to look at definitions of 'certainty'. The onsensus is along the lines of
Certainty: firm conviction, with no doubts, that something is the case.
This clearly expresses the idea that certainty is a personal feeling. Therefore so is uncertainty, which occurs when someone does not have firm convictions and does harbour doubts. This is reflected in a more formal definition,? which I personally find appealing:

Uncertainty: the conscious awareness of ignorance

The crucial issue reflected in these definitions is that we shall not be thinking of uncertainty as a property of the world but of our relationship with the world. This means that two individuals or groups can, quite reasonably, have different degrees of uncertainty about exactly the same thing, due to them having different knowledge or perspectives
...
  • Uncertainty is a relationship - with a subject who observes, an object that they are uncertain about, a source, a mode of expression, and sometimes an emotional response. 
  • ...
  • Uncertainty is personal, and our own knowledge can mean we have very different uncertainty to someone else."
A expressão "A incerteza é pessoal e contextual" significa que a forma como percebemos e sentimos a incerteza depende da pessoa (ou grupo) e da situação concreta em que se encontra.

A incerteza varia de pessoa para pessoa, mesmo quando o facto ou evento é o mesmo. Porque cada um tem níveis diferentes de conhecimento, experiência, acesso à informação ou até de confiança.

O nível de incerteza também depende das circunstâncias e do momento. Numa fábrica, uma falha no fornecimento pode ser altamente incerta e crítica em plena época de pico de produção, mas irrelevante noutra altura. Ou, numa decisão médica, a incerteza pode ser mais tolerável se houver tempo, mas inaceitável numa situação de emergência.

Formular uma estratégia numa PME é, antes de mais, lidar com a incerteza. Não uma incerteza abstracta ou puramente racional, mas uma incerteza vivida - pessoal e contextual. Cada decisor tem um nível diferente de conhecimento, experiência e acesso à informação, o que faz com que perceba o futuro com graus distintos de convicção ou dúvida. E o contexto — económico, competitivo, tecnológico ou mesmo interno — amplifica ou reduz essa incerteza, dependendo do momento e das circunstâncias. O que para um gestor pode parecer uma oportunidade clara, para outro pode ser um risco intolerável. Esta natureza relacional da incerteza ajuda a explicar porque é que tantas PME hesitam ou adiam decisões estratégicas (vou escrever sobre isto a propósito de um podcast e do final deste postal): não é falta de visão, mas sim a consciência aguda de que estão a escolher caminhos em terreno instável. Entender a incerteza desta forma permite tornar o processo estratégico mais humano, mais dialogado e, paradoxalmente, mais robusto.

Trechos retirados de "The Art of Uncertainty: How to Navigate Chance, Ignorance, Risk and Luck" de David Spiegelhalter

sábado, abril 26, 2025

Curiosidade do dia

No FT do passado dia 22 de Abril encontrei "Neuroscientists race to turn brainwaves into fluent speech" sobre os avanços científicos recentes na tentativa de transformar ondas cerebrais em fala fluente, visando ajudar pessoas que perderam a capacidade de falar devido a doenças neurológicas ou lesões. Investigadores nos Estados Unidos, como os da empresa Precision Neuroscience e de universidades como a de Califórnia, estão a combinar implantes cerebrais com inteligência artificial para gerar fala sintética natural.

Destacam-se desenvolvimentos como a redução do tempo de latência entre sinais cerebrais e a fala gerada (de 8 segundos para cerca de 1 segundo), e uma precisão de 98% na descodificação do que alguém está a tentar dizer. Contudo, o som ainda não é instantâneo nem reproduz bem o tom da voz humana. Os investigadores esperam miniaturizar os componentes e torná-los biocompatíveis para implante permanente.

Mais um recorte para a longa lista Ver para lá do que se conhece (parte IV) e Ver para lá do que se conhece (parte III) ou manifestações em 3, 2, 1 ...


"Trump's Protectionist Bunker"

A fazer lembrar o velho @anticomuna 

"Focus on the margin of the products flowing cross-border. Apple has 34% operating margins. Foxconn, which assembles trade-deficit-boosting iPhones, has operating margins of 3%. Which would you prefer?
TVs, cars, clothes, toys and lumber that we import are all low-margin and usually labor intensive businesses. We export high-margin software, financial services, drugs and AI applications, all intelligence-intensive businesses. I like to say, "We think, they sweat." Meanwhile, Commerce Secretary Howard Lutnick says, "Human beings screwing in little screws to make iPhones, that kind of thing is going to come to America." You first, Howard.

Note to Trump yes-men: Low-wage jobs aren't the American dream either. Populist protectionism, worsened by tariffs, has been shown to destroy more jobs than it creates. Even the lower-valued jobs that the Trump administration hopes will return may not exist. Most machine and metalworking shops now use programmable machine tools. Factory jobs will require proficiency in operating robots. Fixing education is critical.

"Boo hoo," one can almost hear, "collapsing stocks only hurt the rich." Yeah, but it also severely limits access to capital for U.S. companies to fund growth and create better jobs-let alone build new factories. Do we really want that? America can stay first only by sitting on top of a horizontal empire, not by reconstructing a retro isolated vertical island. Going backward is a meathead move. Stop trying to bring back the "All in the Family" nostalgia: "Those were the days!""

Lembrei-me daqueles vídeos que chineses colocaram no Twitter sobre o regresso da manufactura à China:

Portanto, o que está a ser proposto é regredir na cadeia de valor, um erro estratégico que subverte a lógica da teoria dos Flying Geese.

Enquanto a teoria sugere que o desenvolvimento saudável depende de subir progressivamente em direcção a sectores mais sofisticados, o proteccionismo descrito no texto quer trazer de volta o passado — um voo ao contrário, onde os gansos líderes tentam aterrar de novo nos campos que já deviam ter deixado para trás.

A evolução natural de uma economia saudável não é o regresso à produção de bens baratos, mas sim a subida na cadeia de valor: é o abandono progressivo de actividades que não geram margens suficientes para sustentar níveis salariais atractivos. Reindustrializar pode ser necessário em certos sectores estratégicos, mas é ilusório pensar que se pode reconstruir a base industrial do passado sem custos económicos e sociais profundos.

Trechos retirados do WSJ de 14.04.2025 do artigo "Trump's Protectionist Bunker".  

sexta-feira, abril 25, 2025

Curiosidade do dia


Aqui no blogue comecei por ser um ingénuo ao imaginar que um dia os trabalhadores poderiam ser tratados como Figos.

Depois, comecei a apanhar chapadas, esta e esta outra, por exemplo.

Depois, os patrões descobriram que podiam manipular o poder e começaram as paletes (exemplos aqui, aqui e aqui).

A China ilustra o que acontece num país sem paletes e com uma demografia ainda mais idosa do que a nossa:
"Increasingly, though, factory managers say it is becoming difficult to attract a new generation of workers to physically intensive manufacturing jobs, which offer long hours and low pay.
"Good workers are hard to find and they are getting older," said a manager in Suzhou named Xu. "If the factories pay too low, they will not negotiate as a labour union but vote with their feet."
...
Social media platforms have become an important resource for labourers to share insights on which factories to avoid - and which offered better conditions."
E o resultado:
"Many labour-intensive industries have begun to shift production of low-cost goods to countries such as Vietnam, Malaysia and Bangladesh. In 2009, average manufacturing labour costs were almost 20 per cent lower in China than in Malaysia. Now, they are about 30 per cent higher, according to Frederic Neumann, chief Asia economist at HSBC."
Trechos retirados de "Long hours and low pay the harsh reality of factory jobs White House wants from China" publicado pelo FT a 24 de Abril último.

Dois mundos opostos


Na primeira página do WSJ do passado dia 21 de Abril encontrei um artigo estranho, "A Ceramics Maker Is Rarely Open. Obsessed Fans Trek There Anyway." O artigo relata a história de Torben e Susanne Lov, ceramistas na ilha dinamarquesa de Bornholm, que gerem a loja "Lov i Listed". Apesar de estar fechada a maior parte do ano e sem presença online, a loja atrai entusiastas de todo o mundo que procuram adquirir as suas peças artesanais. A colaboração com o chef Michelin Nicolai Norregaard, que utiliza exclusivamente as cerâmicas de Lov nos seus restaurantes Kadeau, aumentou ainda mais a procura. No entanto, Torben Lov mantém uma produção limitada, recusando expandir para manter a qualidade e autenticidade do seu trabalho.

"Dinnerware that emerges from this two-room store... is in such high demand that fans share stories of making repeated trips to the island, hoping a visit will overlap with Lov i Listed's limited hours. [Moi ici: Produção limitada e procura elevada]
...
A ceramics store in town that is dark 348 days out of the year, has no online shop and is never open past 2 p.m. [Moi ici: Exclusividade e ausência de presença online]
...
He has at various points tried to increase production with hired hands. No one has ever performed to his standards. [Moi ici: Rejeição de expansão para manter qualidade]
...
The transformation of a line of humble ceramics into quiet status symbol is owed to... its creator's refusal to keep pace with soaring demand." [Moi ici: Valorização do artesanal e da autenticidade]

Recordo o recente Competitivos, mas frágeis: o custo invisível de competir sem diferenciação que destaca a fragilidade das empresas que competem principalmente por preço, tornando-se vulneráveis às flutuações do mercado e às pressões de custos. Em contraste, a história de "Lov i Listed" exemplifica como a diferenciação baseada na autenticidade, qualidade artesanal e exclusividade pode criar uma procura sustentada, mesmo com oferta limitada e sem estratégias tradicionais de marketing.

Enquanto muitas empresas procuram escalar e automatizar para reduzir custos, Torben Lov opta por manter a produção manual e limitada, assegurando a excelência e unicidade das suas peças. Esta abordagem não só preserva a integridade do produto, mas também cria um valor percebido elevado, permitindo preços premium e uma base de clientes leais.

Assim, "Lov i Listed" serve como exemplo de que a competitividade não depende exclusivamente de preços baixos ou escala, mas pode ser alcançada através de uma proposta de valor única que ressoe profundamente com os consumidores. 


quinta-feira, abril 24, 2025

Curiosidade do dia

No JdN de 22 de Abril passado,  "Patrões querem que habitação substitua mais de 12% do salário mínimo"

No DN de 22 de Abril passado, "Desempregados inscritos nos centros de emprego aumentaram 1,5% em março".

Interessante, num ano, o desemprego cresceu:

  • 14,3% no "Alojamento, restauração e similares";
  • 20,8% na "Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca";
  • 93,2% na "Construção"
Deve ser por isso que o "suicida empático" estima que sejam precisos 100 mil imigrantes por ano.

Falem mal delas, mas imaginem o que poderiam fazer por nós

No passado dia 22 de Abril o jornal ECO publicou o artigo “Multinacionais em Portugal pagam salários 61% mais altos que restantes empresas. Produtividade é superior em 57%.”

 

Let that sink in ...

 

A produtividade e os salários médios são mais elevados nas multinacionais a operar em Portugal face às restantes empresas.

...

Um estudo publicado na Revista de Estudos Económicos do Banco de Portugal (BdP), com base em dados de 2014 a 2022, conclui que as multinacionais, em média, pagam salários médios quase 61% mais elevados, são cerca de 57% mais produtivas, utilizando a produtividade do trabalho, e 65% utilizando a receita por trabalhador.

...

Embora ambas registem desempenhos superiores na produtividade e nos salários face à outras empresas, existem diferenças consoante a detenção do capital. Os autores do estudo indicam que as multinacionais portuguesas pagam salários médios cerca de 48% mais elevados do que aqueles pago por empresas não multinacionais e são 39% mais produtivas. No entanto, o prémio das estrangeiras chega aos 68%, sendo 73% mais produtivas do que as empresas não multinacionais.

...

"Do ponto de vista de política económica, as conclusões deste estudo sugerem que as políticas industriais, fiscais ou de comércio internacional que afetem diretamente as EMNs a operar em Portugal e, em particular, as EMNs estrangeiras, podem ter implicações agregadas importantes", defendem.[Moi ici: EMN = Empresas multinacionais. Recordar "Descida do IRC é injusta"]

...

"Embora o número de EMNs com atividade em Portugal seja reduzido, estas empresas representam uma parte desproporcional da atividade económica, sobretudo nos fluxos comerciais internacionais (mais de 60% para as exportações, cerca de 60% para as importações, 50% da receita, 40% da massa salarial e 30% do emprego)", referem.”

 

Este postal de Setembro passado lista um conjunto de postais aqui no blogue sobre o tema: "empresas que não há" - espero que seja um bom sinal.

 

Recordar o impacte do “sector estrangeiro” na economia irlandesa e comparar com o “sector doméstico” em Em Portugal, a conversa de café é a norma (parte II).

 

O artigo do ECO fornece números que validam uma tese recorrente aqui no blogue: Portugal precisa de atrair mais multinacionais para que a produtividade média do país suba. A presença de multinacionais eleva a fasquia interna, cria oportunidades de transferência de práticas e talento, e dá ao país uma alavanca que não depende apenas da transformação lenta do tecido empresarial local.


Sem isso, continuaremos a fazer de conta que acreditamos nas reuniões sobre o futuro organizadas pela “equipa dos DVDs”.

quarta-feira, abril 23, 2025

Curiosidade do dia

O FT do passado dia 21 de Abril trazia um artigo, "Hospitality turns to baby boomers to ease staff shortage", que podia ser enviado ao sector do turismo português logo no dia em que o presidente da Confederação do Turismo aparece no JdN.

"Now, hospitality, once a long-hour, hard-graft, high-turnover culture, has evolved to be a more flexible working environment and as a result, is drawing more older workers back. Employers say they are attracted by the wide range of roles the industry offers as well as the social element. They have found hiring more in this age group boosts staff retention rates compared with, for example, more transient younger people and students.

...

Some of the UK's biggest hospitality companies are now directly targeting older workers. Pub and hotel chain, Fuller's, for example, has partnered with Rest Less, an over-50s digital community and job site and has adapted its recruitment strategy to attract this cohort."

O sector da hotelaria no Reino Unido está a tornar-se um dos principais empregadores para pessoas com mais de 50 anos, oferecendo flexibilidade, sentido de propósito e conexão social, especialmente após a reforma ou mudanças de carreira. 

O número de trabalhadores com mais de 50 anos aumentou significativamente no sector da hospitalidade O sector apresenta a segunda maior taxa de crescimento de emprego para este grupo etário, atrás apenas do "care sector".

As empresas reconhecem o valor da experiência, responsabilidade e capacidade de adaptação dos profissionais seniores. E estes continuam activos, encontram um novo propósito ou complementam rendimentos após a reforma. 

Recordo Depois não se venham queixar das empresas zombies (parte II)

Chocolate - luxo e massificado - diferentes comportamentos


No FT do passado dia 21 de Abril encontrei um artigo muito interessante, "Appetite for luxury boosts premium chocolatiers":
"Luxury chocolatiers are shrugging off volatile raw material costs to enjoy a boom in demand, saying some consumers are responding to the higher prices and reduced cocoa content in mass-market products by trading up to premium offerings."
Apesar da forte escalada dos preços do cacau — que triplicaram no último ano devido às más colheitas na África Ocidental — o segmento do chocolate de luxo está a prosperar. Marcas como Venchi, Domori (Rococo e Prestat), Neuhaus, Jeff de Bruges, Corné Port-Royal, Artista e Läderach registaram crescimentos robustos. Em contraste, os grandes fabricantes de chocolate de consumo massificado, como a Hershey's, a Mondelez (Oreo), a Nestlé (KitKat) e a Barry Callebaut, enfrentam quebras nas vendas e alertam para pressões acrescidas sobre a rentabilidade.

Com o aumento do custo do cacau, o chocolate tornou-se um bem mais caro. Para o segmento massificado, este cenário representa um desafio: os consumidores mais sensíveis ao preço reduzem o consumo, pressionando tanto as vendas como os lucros. Já as marcas premium, com maior capacidade de diferenciação e dirigidas a públicos menos sensíveis ao preço, conseguem repercutir parte dos custos e, ao mesmo tempo, reforçar a sua imagem de exclusividade — o que lhes permite continuar a crescer, mesmo num contexto adverso.

Está a verificar-se um fenómeno de "fuga para cima" no mercado: perante chocolates mais caros e de menor qualidade — com menos cacau e ingredientes substituídos por alternativas mais baratas — muitos consumidores optam por pagar um pouco mais por chocolates de qualidade superior. As marcas premium têm investido fortemente em inovação, apostando em sabores diferenciados e experiências únicas, capazes de atrair consumidores dispostos a pagar mais por produtos verdadeiramente distintos.

O chocolate de luxo mostra-se, assim, mais resiliente à crise. As suas margens elevadas permitem absorver os custos acrescidos, e nem mesmo a pressão do custo de vida tem travado a procura por pequenos prazeres — quando o quotidiano aperta, há quem escolha um momento de indulgência bem justificado.

Faz-me lembrar um artigo que escrevi aqui no blogue há quase 10 anos, "E, no fim, ganha a Alemanha."

Sempre que se diminui a diferença entre o low-cost e o premium, o premium capta clientes.


terça-feira, abril 22, 2025

Curiosidade do dia



No Caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 18 de Abril li, com alguma tristeza: "Empresários apelam a reforma "urgente" nos fundos europeus - Líderes associativos denunciam burocracia, lentidão e exclusão no acesso aos apoios comunitários"

Ah... Portugal e os fundos europeus: um daqueles casamentos longos, cheios de amor... e papelada.

Segundo as associações empresariais, os fundos são “fundamentais” para a competitividade, mas curiosamente continuam a ser geridos como se estivéssemos a preparar um dossiê para conquistar Marte — com ênfase no protocolo, não no resultado.

A crítica é unânime: demasiada burocracia, lentidão, rigidez, exclusões. 

Curiosamente, no meio deste consenso absoluto sobre o absurdo da máquina, ninguém parece fazer a pergunta mais óbvia:
  • Porque é que continuamos sempre no mesmo ponto?
  • Porque é que um país com décadas de fundos e programas continua pobre, lento e dependente de ajudas externas?
É como ver um carro constantemente na oficina, com diagnósticos brilhantes sobre o estado do motor, da embraiagem, do óleo... mas ninguém se atreve a perguntar se o problema não estará no condutor — ou no mapa.

Ano após ano, as empresas queixam-se das regras, dos formulários, das plataformas que não funcionam. Mas o modelo em si, esse, nunca se discute. Como se fosse normal — inevitável até — que o crescimento económico dependa eternamente de ajudas, subsídios e medidas “de reforço”.

Competitividade? Inovação? Reforma estrutural a sério? Isso fica para depois do próximo aviso de candidatura. 

E assim vamos ficando para trás nos rankings, com empresas cronicamente dependentes de apoios — como quem vive de suplementos vitamínicos mas nunca trata a doença.