quinta-feira, agosto 08, 2024

Começar de onde se está.

Em 2015 tomei consciência da diferença entre o que penso sobre formulação de uma estratégia e o que os livros de gestão apresentam e escrevi este postal: Do concreto para o abstracto e não o contrário. Hoje, sinto que a coragem para assumir a diferença teve a colaboração do que aprendi com a effectuation (começar com o que se tem à mão).

Esta semana li mais um artigo de Roger Martin que me deixou com um sorriso, "The Best Place to Start - It's Where You Are".

O título de Roger Martin realça a importância de iniciar qualquer processo de melhoria ou mudança a partir da realidade actual. 

O título sugere que, para abordar eficazmente qualquer problema ou desenvolver uma estratégia, é necessário primeiro entender e aceitar a situação actual. O planeamento estratégico e a resolução de problemas devem estar fundamentados nas circunstâncias reais e existentes, em vez de em cenas idealizadas ou teóricas. Check!

Roger Martin usa o termo POSIWID, o princípio POSIWID para “The purpose of a system is what it does." Começando de onde se está, pode-se avaliar com precisão o que o sistema actual produz, o que é crucial para tomar decisões informadas e realizar melhorias. Check!

Roger Martin refere um incidente com a equipa de futebol do Canadá nos Jogos Olímpicos que decorrem agora em Paris (a equipa usava um drone para espiar os treinos dos adversários, foram descobertos e o treinador desculpou-se dizendo que aquilo não representava a equipa e os seus valores) para sublinhar a importância de reconhecer e aprender com os resultados reais de um sistema, em vez de negá-los ou distanciar-se deles. Começar de onde se está envolve assumir os resultados e comportamentos presentes do sistema. Check!

Assim, desenvolver uma estratégia deve passar pela compreensão dos resultados reais e das lacunas entre os estados actuais e desejados. Começando pela realidade presente, as estratégias podem ser desenvolvidas e implementadas mais eficazmente, contrastando com começar a partir de uma visão imprecisa ou aspiracional da situação. Check!

quarta-feira, agosto 07, 2024

Curiosidade do dia

Hoje a SIC publicou este texto "Imigrantes que vivem no Reino Unido contribuem mais em impostos do que recebem".

Estranhei, porque a experiência dinamarquesa é bem diferente.

Lendo o artigo e indo às fontes percebem-se duas coisas:

  • afinal a experiência dinamarquesa confirma-se,
  • "The fiscal impact of migration to the UK is small and differs by migrant group (e.g. EEA migrants vs. non-EEA migrants, recent migrants vs. all migrants)."

Pagamento de capacidade?

Pelos vistos no sector eléctrico existe algo que se chama pagamento de capacidade, uma compensação financeira fornecida aos geradores de electricidade para garantir que eles estejam disponíveis para fornecer energia quando necessário. Este mecanismo é utilizado para assegurar a segurança do fornecimento eléctrico, especialmente em momentos de pico de procura ou em situações em que há risco de escassez de energia.

Fiquei a namorar este conceito depois de ler este artigo num WSJ do final de Julho, "A U.S. Maker of a Critical Antibiotic Struggles to Survive in Tough Industry":
"A cavernous factory in northeastern Tennessee is one of the last in the country that makes a vitally important medicine.
Each day the USAntibiotics plant churns out a million doses of the crucial antibiotic amoxicillin that promise to cure Americans of everything from ear aches to pneumonia— and ease a pressing shortage for children. But the plant's prospects are dim. It can't charge enough to cover overhead, because competitors sell their wares at bargain prices. USAntibiotics isn't close to breaking even.
...
[Moi ici: Ao ler os próximos dois parágrafos a resposta de um liberal económico pode ser: Azar, temos pena!] The generic drug business has become a hostile environment for U.S. companies. Prices for the medicines have dropped so low that it has become difficult for U.S. manufacturers to compete with companies overseas.
One after another, generic drug makers have gone bankrupt or moved their operations overseas or cut the number of products they offer. The number of facilities making generic drugs in their final form in the U.S. has dropped by roughly 20% since 2018, to 243, according to federal data.

[Moi ici: Agora começa o outro lado] Drug shortages have become common. Today, 300 medicines are in short supply, according to the American Society of Health-System Pharmacists. Regularly now, hospitals and patients must scramble to find doses of the drugs they need if there is one hiccup in a pinched supply chain or a quality problem shuts down a manufacturing line.
...
Today some crucial generic drugs now sell for $2 or less a pill or injection. India is now the No. 1 supplier of solid-form generic drugs to U.S. patients, according to the nonprofit U.S. Pharmacopeia. When it comes to making drugs, Asian countries usually have a cost structure 40% to 60% lower than Western nations, University of Minnesota economist Stephen Schondelmeyer told Congress earlier this year.
...
Clients typically pay USAntibiotics $5 for a common 30 pill amoxicillin pack, before marking it up more for patients, Jackson said. That covers the Bristol plant's production costs, which amount to about $4 per unit, but isn't enough to pay for overhead and other facility costs, he said.
To break even, USAntibiotics must double its commercial sales-or line up the U.S. government as a customer."

Queremos medicamentos baratos. Isso consegue-se com uma cadeia de fornecimento baseada na Ásia. No entanto, a incerteza da variabilidade na procura vai gerar falhas no fornecimento.

Por que nunca se pensou num sistema de compensação semelhante ao do pagamento de capacidade no sector eléctrico para o sector farmacêutico? E já agora, por que nunca se pensou num sistema de compensação semelhante ao do pagamento de capacidade no sector eléctrico para o sector agrícola

terça-feira, agosto 06, 2024

Curiosidade do dia

Se o partido comunista tivesse tomado conta do poder no 25 de Novembro de 1975 a vacina teria sido tomada ... infelizmente ...

Tomar consciência é o ponto de partida.

Há tempos vinha num comboio Alfa, após mais dois dias num projecto de mapeamento de processos, e dei de caras com esta frase atribuída a Carl Jung:

“Until you make your unconscious choices conscious, they will direct your life, and you will call it fate.”

Usei-a neste postal "Os NPCs".

Entretanto, no meio de uma conversa sobre processos e sobre o que fazer depois do exercício de mapeamento de processos dei comigo a usar a frase de Carl Jung para ilustrar o que deve ser feito, ou a consequência de realizar o mapeamento de processos.

Mapear processos é como tirar fotografias. Tirar fotografias não altera a realidade, mas melhora a percepção e a consciência sobre essa realidade.

Esta nova percepção ajuda a explicar os resultados obtidos não como fruto do acaso, mas como um produto natural da forma como se trabalha. Ao tomarmos consciência dos processos, podemos compreender as causas subjacentes aos resultados.

Se pretendemos resultados diferentes no futuro, temos de criar uma realidade diferente e modificada. O primeiro passo é reconhecer a realidade actual através do mapeamento. Depois, podemos identificar onde e como podemos intervir para transformar os processos e, consequentemente, os resultados. Portanto, o mapeamento de processos não é apenas uma ferramenta de diagnóstico, mas um ponto de partida crucial para a mudança e melhoria contínua.

É aqui que faço entrar o BSC com o mapa de processos.

segunda-feira, agosto 05, 2024

Curiosidade do dia

Segundo o jornal Público de hoje:

"Governo prevê que apoio de 2,5 milhões servirá para formar mil imigrantes no turismo"

 Sector a bombar como nunca e não tem dinheiro para formar os seus próprios trabalhadores?

Os 2,5 milhões de euros gastos nisto não são gastos noutra coisa, ou são impostos que não baixam.

Recordar a necessidade de aplicar o princípio do empregador-pagador

Um sector económico com acesso privilegiado ao poder usa esse acesso para artificialmente baixar custos distribuindo-os pela sociedade e permitindo perpetuar a alocação de recursos escassos a actividades de baixa produtividade.

Este dinheiro gasto agora pouco ou nenhum retorno trará para a comunidade porque o valor criado pelas actividades que apoia é baixo.

Os trabalhadores vão para onde há melhores salários.

Li ontem no JN o artigo "Fuga de talento mina desenvolvimento no Norte de Portugal":

"No relatorio europeu, as regiões com uma baixa percentagem de trabalhadores altamente qualificados podem cair numa "armadilha" que limita a sua capacidade de construir uma economia sustentável, competitiva e baseada no conhecimento.

Para se chegar aqui, houve uma acumulação de fatores. No Interior de Portugal, explica João Cerejeira, professor de economia na Universidade do Minho, "não houve uma industrialização como no Litoral" e aqueles territórios ficaram muito dependentes do setor primário e setores de baixa produtividade, onde os níveis salariais são baixos, o que empurrou muitas pessoas para outras regiões do país ou para o estrangeiro. Sem capacidade de atração de empresas com atividade de maior valor, os salários permanecem baixos."

E ainda:

"Na equação, também entram as políticas públicas. "Não houve investimento para fazer algumas vias e outros investimentos públicos significativos" nem atração de investimento privado, que alavancasse as regiões do Interior."

Este anónimo da província tem uma opinião diferente:

Este anónimo da província tem uma opinião diferente, a verdadeira "armadilha" não é a falta de trabalhadores qualificados, mas sim a falta de condições para atrair empresas com produtividade mais elevada. Os trabalhadores vão para onde há melhores salários. 

domingo, agosto 04, 2024

Curiosidade do dia

 Foto de um centro de saúde em Gaia na semana passada.




Thou shall aim high!

"In 2023, Portugal (down by 3.6% to 81 million pairs) once again performed better than Italy (down by 8.6% to 148 million pairs). In fact, over the last decade, Italian production fell by 26.7% (from 202 million pairs produced in 2013 to 148 last year), while Portuguese production increased by 8% (from 75 million pairs in 2013 to 81 in 2023)."

Terá sido mesmo melhor? Como evoluiu o preço médio de um par? Como evoluiu a margem por par?

Quando o futuro passa por encolher o sector como interpretar os números?

E estamos a falar de calçado ou de calçado de couro? Os números da APICCAPS de 2022 são tão diferentes!!!

  • Em 2022, Itália 216 milhões de pares exportados com um preço médio de 61,54 USD
  • Em 2022, Portugal 75 milhões de pares exportados com um preço médio de 27,99 USD

Os números da APICCAPS de 2019:

  • Em 2019, Itália 201 milhões de pares exportados com um preço médio de 57,11 USD
  • Em 2019, Portugal 76 milhões de pares exportados com um preço médio de 26,26 USD

Estes dados demonstram que, embora Portugal tenha aumentado a produção e exportação em termos de volume, o valor médio por par ainda está muito abaixo do italiano, reflectindo diferentes segmentos de mercado e posicionamento.

Portanto, é crucial analisar os números com cuidado. Não adianta ir de vitória em vitória até à derrota final. É necessário fazer a revolução que criará o futuro do sector do calçado em Portugal. Vai ser doloroso? Vai! Mas sem a revolução resta o definhamento.


Texto inicial retirado de um e-mail recebido há dias, "Global footwear production drops by 6%"

sábado, agosto 03, 2024

Curiosidade do dia

No JdN de ontem de um artigo intitulado "A Alemanha precisa de esteroides":

"A economia alemã está deprimida.

Ponto. Foi o único país do G7 que contraiu no ano passado e, de acordo com as mais recentes projeções do FMI, deverá ser este ano das que menos cresce em todo o grupo das sete economias mais avançadas do mundo. A economista-chefe do Fundo Monetário questionava há dias na rede social X: "O que está a impedir a Alemanha de avançar? Já não são os elevados preços da energia". E ensaiava uma resposta: "Os verdadeiros desafios são o envelhecimento, o subinvestimento e o excesso de burocracia".

Entretanto, há dias, mão amiga enviou-me, "Pension wave brings companies into a swim":

"A wave of pensions is rolling into the German labor market, as the dpa informs. Because the so-called baby boomers will soon retire. But in times of a shortage of skilled workers, German companies are literally running out of time. By the middle of the next decade, around four million employees of the strong birth cohorts of 1954 to 1968 will disappear from the labor market, it is said. According to calculations by the local Chamber of Industry and Commerce (IHK), the Berlin economy alone will lack more than 400,000 skilled workers in around 10 years. However, around 90,000 qualified employees were already missing.

Many also want to retire early

To make matters worse, many older people even want to retire early."

Não é impunentemente (parte IV)

Antes de lerem o que cito abaixo quero deixar claro que conheço alguns "contabilistas" que fazem um trabalho notável.

Alinho o que cito abaixo com alguns postais que escrevi recentemente:

Não é impunemente que se contrata alguém com uma experiência que o moldou na forma de ver o mundo e a tomar decisões.

"Call it the revenge of the bean counters. Headhunters say that finance talent is in high demand across the board. Even when CFOs aren't moving into the top job, their sway and stature are growing. 

...

Part of what's driving the ascendance of CFOs is their reputation as staid, risk-averse leaders at a time when the world is in turmoil. During periods of uncertainty, boards tend to default to a steady (some might even say boring) hand at the helm. Managing complex issues such as regulatory challenges, geopolitical tensions, market volatility and higher interest rates-and knowing how to adeptly talk to Wall Street about all of it—plays to a CFO's strengths. "It's absolutely indicative of the current feeling about the global economy," says Ty Wiggins, a leadership adviser to CEOs.

...

But more than anything else, the CFO-turned-CEO movement is a symptom of the priorities prevailing in corporate America right now, many of them of the slashing-and cutting and financial engineering variety.

...

It's that very mindset, one focused on profit rather than growth, that historically held CFOs back from climbing further up the corporate ladder. But now that an emphasis on the bottom line is in fashion, so are CFOs. 

...

Some data suggest that letting the finance folks run the joint doesn't always pay off big. Of the four most common paths to the top job, the CFO-turned-CEO is the least likely to outperform based on gains in shareholder value, according to a 2023 study by executive search company Spencer Stuart. 

...

Human nature may be to blame for the lagging performance. People focus on and excel at the things they're most familiar with-and, no surprise, for finance executives that's profitability. "As CFO, they have to act as the disciplinarian to let the CEO lean into growth," says Claudius Hildebrand, a Spencer Stuart consultant who conducted the study. So when a CFO moves to the top job, "it's a huge mindset shift," he says. "You cannot save your way to prosperity. At some point you need to be careful to not cut too close to the bone."

...

The bigger risk to a company comes when the rise of the CFO reflects a board's desire to make cost-cutting a top priority. Across corporate America, worshipping at the altar of efficiency has taken hold, and that can easily cross over into cutting corners, with disastrous consequences.

There is no more apt case study than Boeing Co. "It's a classic example of what happens when cost-cutters take over a company," says Bill George, the onetime CEO of Medtronic who is now an executive fellow at Harvard Business School. "Boeing had four financially oriented CEOs running the company, and it's paying a tremendous price now."

...

In a 2004 interview with the Chicago Tribune, then-Boeing CEO Harry Stonecipher said the quiet part out loud: "When people say I changed the culture of Boeing, that was the intent, so that it's run like a business rather than a great engineering firm. It is a great engineering firm, but people invest in a company because they want to make money."

That right there is the risk of what happens when you let the number crunchers take over the place. Suddenly a company can forget that its job is to make a quality product, not just a profit."

Trechos retirados de "More CFOs Are Getting CEO Jobs. Beth Kowitt on what's behind that trend"

sexta-feira, agosto 02, 2024

Curiosidade do dia

 

Arte, estratégia e epifanias

"Eisner is known most for being a champion of art in education. He argued that the de-prioritization of the teaching of art across the formal educational system is bad for students and for the world in general. 

...

Sadly, their fight (and mine too) has been like attempting to hold back the tide. Art was continuously deprioritized throughout Eisner’s career and has continued to be ever since. The things with greatest sex appeal in business today are data analytics and artificial intelligence (AI). Quants and coders dominate — and the education system has followed suit. It is sad but true.

...

Perhaps what was most outraging was that Eisner argued that it is possible to be rigorous in qualitative research. That is an anathema to most: rigor is associated solely with quantitative research. And I felt that way when I was first exposed to his thinking. But in due course, I came to appreciate that he was right and virtually everything I had been taught about rigorous analysis was substantially wrong.

It took me on a long journey of connoisseurship. For the three decades since, I have been working on my ability to make ever finer qualitative distinctions in my field of strategy. In some sense, I have been working to become a sommelier of strategy. That is, I want to be able to determine that this strategy is superior to that one in these subtle ways — like a sommelier can make distinctions between different wines. My task requires the ability to understand how qualitative dimensions relate to one another — i.e., this aspect of customers interacts with that aspect of competitor dynamics in this particular way.

...

We are all taught to converge on the ‘right answer.’ If you get the right answer, you get a red check, a gold star, and/or full marks. The quest is for that singular right answer. It characterizes powerfully our entire educational experience.

In contrast, Eisner argued that in most domains of human endeavor there are multiple solutions to problems. There isn’t one answer that is obviously ‘right’ and the rest therefore ‘wrong.’ There are different solutions each of which with its own set of benefits and drawbacks."


Trechos retirados de "Artistry & Strategy" escrito por Roger Martin.

Recordar os postais neste blogue, ao longo dos anos, sobre a arte:

Por fim recordo as palavras do presidente do so-called Forum para a Competitividade e como se relacionam com a arte.





quinta-feira, agosto 01, 2024

Curiosidade do dia

 "A gestão da Inapa acusou o Governo de ter decidido deixar cair a empresa sem dados para tomar essa decisão. É justa a critica e, por outro lado, quanto é que o Estado arrisca perder numa liquidação da empresa? 

A situação da Inapa decorre da gestão da empresa. A empresa ViU-se com uma situação de ruptura de tesouraria na Alemanha e aquilo que o Governo fez foi defender o dinheiro dos contribuintes. Colocar dinheiro numa empresa, numa operação para proteger 800 empregos na Alemanha, não nos pareceu a melhor utilização dos dinheiros públicos, e não quisemos ter, ao contrário do Governo anterior, uma nova Efacec a sugar dinheiro dos contribuintes, a despejarmos dinheiro dos contribuintes nessa empresa. Veremos o que é que acontece, se há compradores para aqueles activos ou se a empresa segue um processo de insolvência."

Trecho retirado de entrevista com Ministro das Finanças, Miranda Sarmento, no jornal Público de hoje 

O princípio do empregador-pagador (parte II)

Externalidades Negativas são custos não reflectidos directamente no preço de mercado de bens ou serviços e que são geralmente suportados por terceiros não envolvidos directamente na transacção económica. 

No passado dia 30 de Julho no DN li "Febre dos frutos vermelhos gera milhões, mas paga impostos no estrangeiro". O artigo lista toda uma série de custos em que a sociedade incorre por causa de uma entrada elevada de imigrantes num espaço limitado.

"Desde que o Sudoeste Alentejano foi descoberto como o melhor lugar da Europa, tão bom ou melhor que os vales da Califórnia, para produzir frutos vermelhos, o setor não mais parou de crescer e o Concelho de Odemira nunca mais foi o mesmo. Atraídos pelo oásis alentejano de brisa atlântica, vieram as multinacionais que lideram o mercado mundial e chamaram muitos produtores nacionais, expandiu-se a área de cultivo para 12 mil hectares e importou-se mão-de-obra de forma massiva para um território que estava em risco de desertificação. De 2800 imigrantes em 2011, o número quintuplicou para cerca de 15 mil em dez anos e já equivalem a 37%, mais de um terço da população. ... Hoje, após mais de uma década de expansão e de investimento privado intensivo, o setor das frutas e legumes Made in Odemira é reconhecido no mercado internacional como um polo de excelência e representa negócios de mais de 300 milhões de euros anuais, sobretudo para exportação. O outro lado da moeda é uma transfiguração da paisagem e do tecido social do concelho, onde convivem 80 nacionalidades, de culturas e religiões muito diversas que, na sua esmagadora maioria, não falam Português e "exercem uma brutal pressão urbanística e em todos os serviços públicos", disse o presidente da Câmara Municipal de Odemira, Hélder Guerreiro, em entrevista ao DN.

...

O Reagrupamento Familiar criou também pressão sobre os Serviços de Saúde, relacionada com a saúde materna", diz o autarca. "Tivemos de abrir cinco salas de aula em Brejão, Cavaleiro e São Teotónio, pois quase todas as semanas chegavam crianças, e também no Pré-escolar". O problema, como aponta o edil, é que "não temos funcionários públicos suficientes". No caso das escolas, por exemplo, "se tivermos uma turma de 20 alunos com 15 nacionalidades diferentes, como aqui acontece em Almograve, é complicado de gerir. Nesses casos precisamos de mais de um professor por turma".

...

"Faltam agentes de segurança, mais 10 pessoas nas Finanças, três na Segurança Social, 14 na Saúde e quatro na conservatória, sem esquecer as escolas e a Autoridade para as Condições do Trabalho e ASAE, "porque a atividade económica precisa de Estado no território".

...

Segundo o autarca socialista de Odemira, devido à acelerada metamorfose social do concelho, e à "dificuldade de aceder com facilidade aos Serviços Públicos", que agora têm uma procura cinco vezes maior, "a população local tem a sensação de que a sua qualidade de vida baixou, o mesmo acontecendo à coesão social".

...

Mesmo que o setor retire mais de 300 milhões de euros anuais do solo abençoado que vai de Sines a Lagos, "os impostos pagos, a título de Derrama, são apenas da ordem dos 70 mil euros anuais", disse o autarca. O maior volume de negócios é gerado por multinacionais e, essas, "têm as sedes fora", o que significa que pagam impostos nos países onde estão sedeadas. Diferente é o contributo a nível de Segurança Social, mas essa coleta é feita a nível nacional e não municipal.

...

Outra fonte de preocupação é a carência de habitação para a nova e acrescida procura. O município lançou um aviso no âmbito do Instituto de Reabilitação Urbana (IHRU) - para investir 15 milhões de euros em habitação, ao abrigo do PRR. "Mas não temos sinal de que venha a ser aprovado", disse Hélder Guerreiro. Do Governo, a autarquia reclama também melhores acessibilidades, nomeadamente ao litoral, para, por exemplo, encurtar a distância de um hospital."

Recordar o que escrevemos no passado Sábado, "O princípio do empregador-pagador."

Pensar nas empresas e na poluição que podem gerar. 

quarta-feira, julho 31, 2024

Curiosidade do dia

Li algures que em 2024 a SATA ainda tem várias lojas abertas, apesar de perder dinheiro, apesar dos clientes que a elas recorrem serem residuais. Agora que resolveu fechá-las parece que há uns partidos políticos preocupados com o seu encerramento.

Ninguém olha para os números? Parece que há anos que a medida está prevista mas nunca avança, será desta?

No futuro, em que negócio estar?

Ele há coisas ... há um mês escrevi este postal Cuidado com a miopia que terminei escrevendo:

"As empresas não devem definir-se de forma estreita pelo produto que fabricam, mas sim pela necessidade do cliente que servem. Para as empresas de componentes automóveis, isso implica:
  • Redefinir-se como "fornecedores de soluções de mobilidade" ou "especialistas em engenharia de precisão".
  • Encontrar aplicações das suas competências noutros sectores, como o aeroespacial, as energias renováveis ou a tecnologia médica.
...
Assim, à medida que a indústria automóvel evolui, é crucial que os fabricantes de componentes portugueses se expandam para além dos mercados tradicionais. Abracem o desafio de:
  • Explorar novos sectores.
  • Focar em produtos de valor acrescentado.
  • Inovar para outros sectores.
  • Redefinir a identidade do seu negócio, deixarem de ser meros fabricantes para se tornarem fornecedores de soluções, atendendo a necessidades mais vastas de mobilidade e engenharia.
Ontem, no JN encontrei, "Indústria automóvel aliciada a produzir para aeronáutica"

"O crescimento da indústria da aeronáutica a nível mundial e a vontade de Bruxelas de reduzir a dependência externa da Europa nesta área estão a levar os grandes fabricantes internacionais a desafiarem as empresas portuguesas de produção de componentes para o setor automóvel para passarem a produzir, também, para o setor aeroespacial. A Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) confirma o interesse e tem condições para dar resposta.

...

O líder da AFIA explica que os empresários, fornecedores tradicionais do setor automóvel, estão a "enveredar por este caminho por necessidade de diversificação do negócio. Viram uma oportunidade. As margens de lucro são maiores na aeronáutica do que na indústria automóvel" ', concretiza ainda."

I rest my case.

terça-feira, julho 30, 2024

Curiosidade do dia

 

Recordar Ver para lá do que se conhece (parte III) ou manifestações em 3, 2, 1 ...

Picking winners

"Xi Jinping seeks "high quality" rather than "high speed" growth, [Moi ici: Hmmm, turismo] he told the Chinese Communist Party's Third Plenum, held last week to decide the country's economic policy over the next five years.
...
Mr. Xi seeks to apply this approach to technologically important and advanced sectors as part of his high-quality-growth mantra. The problem is that there is no escaping the iron laws of economics. The massive assistance that the government provided to Chinese firms on solar led to a predictable oversupply of panels domestically and in global markets. Even as global demand fell, Chinese companies ramped up production of panels to remain in business, and this was possible only due to even more subsidies worth billions of dollars. China did achieve its objective of dominating the global solar-panel industry. But applying this state-led approach to an ever-expanding list of advanced and green sectors will only worsen the problems of overcapacity, indebtedness and inefficiency  [Moi ici: Hmmm, rings a bell?] that Mr. Xi is seeking to alleviate.
...
If Mr. Xi really wanted to supercharge growth in productivity, wages and household income, he could do it through the systematic transfer of economic access and opportunity away from state-owned firms and nominated national champions toward the much more efficient and innovative private sector. But this would foster a powerful independent business class and undermine Beijing's greater goal of further centralizing power and economic activity under his command.
Finally, there is a broader problem that weighs on Mr. Xi's ambition. He openly criticizes predecessors for ideological laxness and impurity and for leaving China vulnerable to domestic and external threats. He insists that letting individuals and firms choose their paths will lead to national distraction and decay."

Trechos retirados do WSJ de 25.07 passado em "China Can't Evade the Iron Laws of Economics" 

segunda-feira, julho 29, 2024

Curiosidade do dia

No último podcast de Joe Rogan com Jordan Peterson, o #1280, a certa altura ambos concordam que tudo o que é bom, em demasia, transforma-se em mau.

A tragédia dos baldios...


De vez em quando escrevo aqui sobre o bicicletas, com o qual estou sempre em desacordo em termos económicos. Desta vez sinto que o bicicletas tem um ponto a favor dele, "Quando vamos assumir que o turismo se tornou um problema?" no jornal Público de hoje.