Golias, o campeão
filisteu, desafiou o exército de Saul, rei dos hebreus, para que enviasse um
lutador para um duelo, para um combate que definisse quem iria ganhar a batalha.
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Perante a dimensão
imponente de Golias, ninguém no exército hebreu imaginava que seria possível
defrontá-lo com sucesso. (Moi ici: Olhando para
a estatura, para a dimensão, para a experiência militar de Golias, só um louco
pensaria em enfrentá-lo. Esse é o problema das PMEs que só são capazes de
pensar que a sobrevivência e o sucesso dependem de um confronto directo com a concorrência
num combate para ser o melhor. Não vêem alternativa… os outros, têm mais
experiência, ou menores custos, ou melhor produto, ou… como é possível pensar
em fazer-lhes frente!?!?)
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Assim, os dias iam
passando e Golias repetia o seu humilhante desafio.
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Certo dia, um jovem
pastor hebreu chamado David foi até ao campo militar e ouvindo o desafio de
Golias resolveu aceitá-lo.
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As palavras de David
foram ouvidas e comunicadas a Saul, que o mandou chamar à sua presença.
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David
disse-lhe: «Ninguém desanime por causa desse filisteu! O teu servo irá
combatê-lo. »Disse-lhe Saul: «Não poderás ir lutar contra esse filisteu. Não
passas de uma criança, e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade.» (Moi ici: Resmas e
paletes de comentadores bem intencionados, comportam-se como Saul. “Como é que
as PMEs portuguesas podem ter sucesso? Acaso têm custos mais baixos? Acaso têm
mais dinheiro? Acaso têm…” Alguns até prevêem que só deslocalizando as suas actividades para a Ásia é que as PMEs terão futuro. Outros acham que só saindo do euro é que é possível ter futuro)
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Contudo, David lá
conseguiu convencer o rei Saul a deixá-lo defrontar Golias. Disse-lhe o rei:
«Vai, e que o Senhor esteja contigo.». “Então disse Saul a
David: Vai, e o SENHOR seja contigo. E Saul vestiu David com suas vestes, e pós-lhe
sobre a cabeça um capacete de bronze; e vestiu-o com uma couraça.
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E David
cingiu a espada sobre as suas vestes, e começou a andar; porém nunca o havia
experimentado; então disse David a Saul: Näo posso andar com isto, pois nunca o
experimentei. E David tirou aquilo de cima de si. (Moi ici: Os economistas, os políticos e os comentadores
quando pensam em concorrência, pensam em agentes económicos que se encontram no
mercado, para se enfrentarem com as mesmas armas e argumentos. A isso chamam de
concorrência perfeita. Nesse universo imaginário, existe um grande número de
empresas a produzir o mesmo produto ou serviço, empresas com dimensão e
estrutura semelhante, existe um grande número de consumidores e todos com a mesma
informação disponível sobre as ofertas e o mesmo gosto, existe uma grande
homogeneidade dos produtos e serviços oferecidos e não existem barreiras à
entrada e saída de agentes económicos.
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Ao aceitar enviar
David para o combate com Golias, Saul só conseguia equacionar um combate de
igual para igual, um combate com as mesmas armas. Uma luta por ser o melhor. Quando
um qualquer David resolve combater de igual para igual com um qualquer Golias…
perde!!! Perde sempre!!!
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David recusou a arma,
a armadura, o capacete e as roupas de Saul… David resolveu que não iria
competir com as mesmas armas, com as mesmas tácticas de Golias. Iria competir à
sua maneira, iria combater fazendo uso daquilo em que era bom, daquilo em que
tinha experiência. Ia seguir o caminho da concorrência imperfeita.)
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E tomou o seu cajado
na mäo, e escolheu para si cinco seixos do ribeiro, e pô-los no alforge de
pastor, que trazia, a servir de bolsa. (Moi ici: As PMEs não
têm hipótese de sobrevivência, quanto mais de sucesso, se forem nesta cantiga
dos livros, nesta treta da concorrência perfeita. As PMEs devem fazer tudo para
desnivelar o terreno, devem fazer tudo para alterar as regras do jogo em seu
favor, devem desenhar uma abordagem assente em tudo o torne a concorrência
imperfeita. Só quando a concorrência é imperfeita é que podem maximizar aquilo
em que podem fazer a diferença e minimizar aquilo que favorece os tubarões com
dimensão, com experiência e com capital)
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Depois, lançou mão da
sua funda; e foi aproximando-se do filisteu.
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O filisteu também se vinha aproximando de David; e o que lhe levava o escudo ia adiante dele.
E, o filisteu, ao ver David, desprezou-o, (Moi ici: Os grandes estão habituados a
fazer uso da sua força no terreno que lhes é mais propício. Assim, quando vêem
uma PME a seguir um outro caminho, o caminho menos percorrido, quase sempre
desprezam-nas. Desprezam-nas porque as PMEs concentram-se num nicho e protegem
esse nicho com um mosaico de actividades repleto de sacríficios para quem, sendo grande, as
quiser imitar) porquanto era
moço, ruivo, e de gentil aspecto. (Moi ici: O que é que uma PME pode fazer
contra a empresa-Golias… o Golias quase sempre nem lhe liga … Quando os
gigantes deste mundo detectam a aproximação de um pigmeu normalmente
desprezam-no, não lhe ligam. Acham que são de tal forma superiores… os Davids
são como formigas num piquenique, um incómodo que pode ser espezinhado
facilmente. Só que, “Aqueles que não ouvem a música, acham que o
bailarino está maluco”.
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As empresas-Golias, os comentadores, os políticos e os
economistas estão aprisionados a mapas cognitivos, a modelos mentais
castradores que os impedem de ver a realidade de uma outra forma... não conseguem ouvir a música.)
E sucedeu que,
levantando-se o filisteu, e indo encontrar-se com David, apressou-se David, e correu ao combate, (Moi ici:
Quando as empresas grandes, quando as empresas incumbentes acordam, já as PMEs
adeptas da concorrência imperfeita estão em velocidade de cruzeiro, cheias de
momentum. O sentido de urgência das PMEs, permite aproveitar o à vontade dos
incumbentes, os Davids aceleram e aproveitam ao máximo a brecha temporal que
conseguiram. Assim, quando os Golias perceberem o que lhes aconteceu… já é
tarde de mais) a encontrar-se com
o filisteu.
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E David pôs a mão no
alforge, e tomou dali uma pedra e com a funda atiro-a, e feriu o filisteu na
testa, e a pedra encravou-se-lhe na testa, e caiu sobre o seu rosto em terra.
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Assim David
prevaleceu contra o filisteu, com uma funda e com uma pedra, e feriu o
filisteu, e o matou; sem que David tivesse uma espada na mão.”
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Conceito adaptado de um texto de Malcolm Gladwell, história adaptada de I Sm 17, 1-51