terça-feira, abril 05, 2016

Curiosidade do dia

O dia começou com esta curiosa aceleração, continuou com estas notícias e acaba com esta previsão.


Um canário na mina.

Há dias usei esta figura:

A metáfora do canário na mina, o primeiro a morrer e a dar sinal de que algo está a acontecer.
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Há dias nesta "Curiosidade do dia" dei o exemplo da evolução do desemprego e do emprego na agricultura, um sector que está a demonstrar um forte dinamismo traduzido num forte crescimento das exportações e das produções.
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Entre 2013 e 2015 desapareceram 98,7 mil empregos enquanto que ao mesmo tempo o desemprego tinha esta evolução:
"passou de 18,8 mil no 4º trimestre de 2013 para 14,0 mil no 4º trimestre de 2015."
Entretanto, ontem descobri um gráfico interessante acerca da demografia na agricultura portuguesa:
(Imagem retirada de "Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas 2013" do INE)
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BTW, a idade média em Portugal em 2014 era de 43,1 anos e suspeito, ao olhar para o gráfico, que entre 1960 e 2014 foi em Portugal que a idade média mais cresceu.
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Mais tarde ou mais cedo aquilo que se está a sentir já na agricultura será sentido nos outros sectores, a saída de muita gente, muita gente mesmo, para a reforma.




Muito mais do que água

Já no ano passado tinha escrito sobre ela.
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Entretanto, na última sexta-feira, vi uma garrafa de água de litro e meio da marca "Águas de Monchique" em cima de uma mesa de trabalho numa PME e perguntei:
- De quem é essa garrafa?
- É minha - respondeu a responsável da Qualidade!
- Por que é que escolhe essa marca? - perguntei.
- Por causa do pH alcalino!!!
Depois, ao final da tarde fui com a minha mulher ao Intermarché de Estarreja e juro, a certa altura ela pediu-me para ... ir buscar um garrafão de 5 litros de ... já sabem, "Águas de Monchique" (foi ela que no ano passado me alertou para o atributo do pH alcalino).
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Então, em frente às prateleiras comparei os preços:

  • na prateleira de cima os garrafões de 5 litros da "Águas de Monchique" a 0,95 €;
  • na prateleira do meio os garrafões de 5,5 litros da "Águas de Carvalhelhos" a 0,75 €;
  • na prateleira de baixo os garrafões de 5 litros da "Top Budget" (não posso jurar que era esta a marca) a 0,55 €;
Afinal a "Águas de Monchique" sabe que tem um tesouro nas mãos!!!
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"De acordo com o responsável, a empresa tem necessidade de aumentar a produção para responder à procura dos mercados.
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O mercado asiático é o de maior exportação, nomeadamente para a China, Hong Kong, Singapura e Macau, que importam cerca de 30% do volume de produção da água algarvia. Nestas áreas, “as vendas têm aumentado substancialmente”. [Moi ici: Presumo que tenham uma margem muito boa]
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O responsável acrescentou que a marca Monchique aumentou também em cerca de 60% a sua presença no mercado nacional, apontando o crescimento de “clientes fiéis que conhecem os benefícios que a água tem na saúde"."
Quem compra "Águas de Monchique" não compra água, para isso tem a água engarrafada a metade do preço ou a água corrente da torneira. Quem compra "Águas de Monchique" sabe qual o efeito do pH alcalino, valoriza esse efeito na saúde e está disposto a pagar por esse efeito. A água é um recurso processado pelo cliente e é ele que sente, que experiencia o valor na sua vida.
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Quem não conhece o papel do pH alcalino não consegue, com a mesma água, sentir mais valor na sua vida, logo, não está disposto a pagar mais.
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Como é que a "Águas de Monchique" pode co-criar valor? Apostando na divulgação da mais valia do pH alcalino. O truque não é, neste caso, mudar o produto mas mudar o cliente, prometer-lhe uma transformação que ele ainda não sabe que precisa.


Onde o código pode chegar

Embora a opção seguida pelos empreendedores não tenha sido essa, o texto chamou-me logo a atenção para a integração do "é meter código nisso" até nos tampões:
"the “smart tampon,” outfitted with chips and transmitters"

Trecho retirado de "The Tampon of the Future"
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BTW, importante este ponto:
"People who suffer from a problem are uniquely equipped to solve it. “What we find is that functionally novel innovations — those for which a market is not yet defined — tend to come from users,”
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“The reason users are so inventive is twofold. One is that they know the needs firsthand,” he said. The other is that they have skin in the game."

"Acelerou"

A propósito de "Montepio: Crescimento do PIB acelerou no primeiro trimestre" como não recordar "Costa invade Twitter e Facebook" ao ler:
"A economia portuguesa terá crescido entre 0,4% e 0,6% no primeiro trimestre deste ano, o que representa uma aceleração face ao verificado nos três meses anteriores (crescimento em cadeia de 0,2%)"
Agora reparem no título: "acelerou".
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Voemos até 2015 e vejamos o que é que o mesmo jornal dizia acerca do PIB do 1º trimestre de 2015, "INE revê em alta crescimento no primeiro trimestre para máximo desde 2010":
"O PIB cresceu 1,5% no primeiro trimestre face ao mesmo período de 2014, uma revisão em alta de uma décima face à primeira leitura do INE. Trata-se do maior crescimento homólogo desde o terceiro trimestre de 2010.
A economia portuguesa cresceu 1,5% no primeiro trimestre deste ano face ao período homólogo e 0,4% face aos três meses anteriores,"
Acelerou... OK!
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De aceleração em aceleração, até que crescimento? KO!

segunda-feira, abril 04, 2016

Curiosidade do dia



Já oiço os incumbentes do sector de transportes de pessoas a protestar e a exigir apoios, subsídios e a levantar perigos para a saúde provocados pela holoportação

NPE tv online


Convido-os a visitarem este projecto a dar os primeiros passos. Emissão em contínuo aqui.
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Aceitam-se sugestões e críticas.

Alterar o modelo

Já escrevi aqui mais do que uma vez, os agricultores têm de deixar de se ver como os responsáveis por alimentar o mundo, têm sim de se ver como responsáveis pela alimentação dos seus clientes.
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E quem são os seus clientes?
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Para muitos, serão a comunidade onde se inserem:
"calling on farmers to fight industry decline by going back to their roots, and reconnecting with their local communities.
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To save Fordhall Farm, the pair launched a scheme believed to be the first of its kind in England: issuing shares and putting their farm under the ownership of a community farm land trust, controlled by local people and preserved for future generations.
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These shareholders are now brand ambassadors and loyal customers of the farm, which sells its produce via the farm shop and online.
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She is calling on smallholders to copy the Fordhall model and work with local customers. “The British public wants to pay a fair price. They want farmers to make a decent living. The moment farmers cut out the middle men, they can reclaim their livelihoods,” she said.
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“People are more and more aware of where their food comes from. It’s the perfect time for community businesses to be born and farmers to take power back into their own hands.”"

Trechos retirados de "Fordhall Farm pioneers call on fellow farmers to rebuild ties with local community"

O papel da arte!

Sábado, ao ouvir o deputado Pedro Duarte a pedir mais uma revolução no Ensino, desta feita para apostar e quatro vectores: ciência; engenharia; tecnologia e economia, escrevi no Twitter:
É preciso não conhecer a biografia de Jobs, ou os textos de Hilary Austen, ou o futuro de Mongo para esquecer o papel da arte.
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Sem arte como é que a Bang & Olufsen teria o sucesso que teve?
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Sem arte como haveria concorrência imperfeita?
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Esquecer a arte é continuar a pensar que o valor resulta de um cálculo e não de um sentimento. Por tudo isto, recomendo a leitura deste texto "Hedi Slimane: The Steve Jobs of Fashion":
"Like many industries, Big Fashion companies keep acquiring tiny, money-losing, buzz-worthy brands… that never quite go mainstream. They die silently and perhaps mercifully. But the real question is: why is this a pattern, when it’s both predictable and pointless? Because the fashion industry is making stuff for critics. Like many industries, from tech to media to sports, it’s trying to please them, win them over, even pander to them. But the critics aren’t the people who are buying the stuff. Result: shapeless, gigantic, genderless clothes that critics love… but that are driving the business of fashion to stagnation. They’re out of touch with what people actually want, love, hunger for.
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He also, importantly, made clothes people actually wanted to wear, and that looked better up-close in stores than they did on the runway. The fashion world was shocked.
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But collection by collection, he built a devoted cult of fans precisely because he was ahead of even the critics. The self-referential game of pleasing critics might feel good — but it doesn’t necessarily build a business.
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To do that, you have to make products people truly desire. It’s a dirty word in boardrooms, desire. We’re more comfortable with calculative, rational expressions of wants. We can put them in spreadsheets and crunch and process those. There’s just one tiny problem. So can consumers. You don’t pay royally for stuff that you’re running a calculation in the back of your mind about. You pay royally for stuff that enchants, hypnotizes, and entrances you. Stuff you love. Stuff that we love — whether that “stuff” is people or clothes or phones, to be crude — suspends the rational bits of us. It intoxicates us and leaves us giddy. We say to ourselves, “Of course it’s too expensive… but I don’t care. I have to have it.” [Moi ici: Excelente!!! Isto é Mongo! Isto é a concorrência imperfeita! Isto é arte!]
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At the core of this financial success is real artistry.
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Clusters like Brooklyn and Detroit are putting artistry and craft back into products from chocolate to coffee to furniture today. But the harsh truth is that Big Corporations see artisanship as marketing. They try to brand it, tricking people into thinking there’s artistry in things – Tesco’s “fictional farms” marketing ploy is a recent example — not really practicing itor investing in it. They should take a lesson from Slimane and actually do it.[Moi ici: A importância da autenticidade]
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That’s how you get out of the trap of simply riding trends and cashing in on them: ignoring critics, breaking rules, making things people truly desire, and making them with real artistry. It takes a rare combination of personal genius and organizational risk – which is perhaps why we don’t see that many Slimanes out there. Still, we can always hope for more."

Dois pormaiores

Ontem, via Twitter, seguindo uma indicação do @nticomuna cheguei a este texto "Le Mittelstand allemand fascine les dirigeants français".
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Como não recordar o nosso "somos todos alemães" (aqui, o original de 2009).
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Adiante. Queria chamar a atenção para um pormaior tão destratado no nosso país:
"Familiales, non cotées en Bourse, ancrées dans les territoires, elles croissent de façon endogène se finançant au rythme de leurs profits."
Outro pormaior, claro para quem percebe que compete pelo aumento do preço unitário em vez de pela redução do custo unitário, é:
"Autre trait commun de ces groupes familiaux, le patron se comporte davantage en entrepreneur qu’en investisseur. Il a l’obsession de la transmission, pas des dividendes, et développe l’entreprise dans la durée, en investissant massivement dans l’innovation. Accessoirement, le personnel n’est pas un coût à réduire constamment."
Tão diferente da obsessão dos encalhados no Normalistão do século XX e os seus "91 more Oreo bakery workers receive layoff notices"

domingo, abril 03, 2016

Curiosidade do dia

Recordar "Uma visão sensata"

Títulos

"FMI ameaça cortar crescimento potencial de Portugal para 1% ou menos"

O FMI é que ameaça?
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O FMI é que manda no crescimento de um qualquer país?
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Quem faz estes títulos?
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Qual o propósito de quem faz estes títulos?

Não é fácil!


Para quem está preso à cabotagem, para os Pigarros deste mundo com o seu queijo garantido isto não é fácil.

Gráficos e desemprego

A propósito de regras básicas de apresentação de informação em forma gráfica; quando apresentar dados com um diagrama de barras:
Apresentar sempre o eixo das ordenadas a começar pelo zero.
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Desconfie sempre de gráficos de barras que não começam no zero. Compare:
Claro que com o primeiro gráfico a recta que une as barras e que ilustra a baixa do desemprego com base nos números do INE tem um declive muito mais acentuado que a recta que se pode fazer com os dois gráficos inferiores da segunda figura e isso não é cool para quem está do lado da situação.
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Recordar:

Imagem retirada daqui.
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BTW, tem o seu quê de caricato, quando o fenómeno desemprego é medido pelo INE, uns escrevem no Twitter:
  • o desemprego baixou!
Quando o mesmo fenómeno desemprego é medido pelo IEFP, os mesmos escrevem no Twitter:
  • "o desemprego sobe desde o verão, qd esgotaram verbas para políticas activas de emprego" 
Go figure!



"mesmo sem ter nada a ver com tecnologia"

"Hackathons Aren’t Just for Coders" pois não, até poderiam ser úteis na sua PME, mesmo sem ter nada a ver com tecnologia.
"Hackathons are no longer just for coders. Companies far outside the tech world are using these intense brainstorming and development sessions to stir up new ideas on everything from culture change to supply chain management.
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At their best, hackathons create a structure and process around idea development. Sure, breaking out of the day-to-day routine can reinvigorate and inspire staff, but hackathons also demonstrate to employees that innovation is not only welcomed but also expected. Well-run hackathons lead to concrete ideas for new products and processes that can improve the customer experience and increase growth."
O facto de no fim as equipas terem de apresentar uma proposta... não chega mandar bocas e voltar ao ramram.

sábado, abril 02, 2016

Curiosidade do dia

Só com o efeito da demografia, os EUA tiveram esta "onda" de compra de 4 milhões de veículos em 2015.
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No Japão, a mesma evolução demográfica rouba procura agregada todos os dias. Entre 2010 e 2015 o país perdeu quase 1 milhão de habitantes. Em 2010 quase 25% da população tinha mais de 65 anos (mais de 3,5% tinha mais de 85 anos).
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É esquisito um governo querer criar crescimento estatístico quando existe esta realidade demográfica, ver "Can anything rescue Japan from the abyss?".
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BTW, o @nticomuna alertou-me para este tema "Why Japan’s Elderly Are Committing Crimes to ‘Break Into Prison’".
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Também veremos este cenário por cá dentro de 10/15 anos quando se começarem a reformar as pessoas que só vão receber 15/20% do que recebiam quando deixaram de trabalhar.

Decoupling

Ontem, no noticiário das 19h da Renascença ouvi uma versão longa desta conversa "Suinicultores pedem “solidariedade” e querem fim de embargo à Rússia".
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Agora a sério, muito a sério, não há ninguém que pense posicionamento e estratégia do lado da suinicultura?
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Olhando para estes números percebe-se que a carne de porco fresca e refrigerada importada é paga a um preço superior ao da carne de porco fresca e refrigerada que exportamos. A mim, isto diz-me que o problema dos produtores nacionais não é o custo, é outra coisa qualquer mas não é o custo.
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Voltando ao texto da Renascença, uma parte da conversa que ouvi foi dedicada a aprofundar este tema no texto:
"a reutilização das proteínas animais nas rações"
Depois, da crise das vacas loucas, dos nitrofuranos, da carne de cavalo, de ... a tendência é para a autenticidade e transparência, não para o retorno ao passado.
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Quem está no modelo da competição pelo preço entra facilmente nesta espiral de redução de custos a todo o custo.
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Consequência? Cada vez mais compradores especializados vão querer garantias de que o fornecedor não faz batota. E mesmo que as proteínas animais voltem às rações, será que os consumidores vão estar dispostos a consumi-las?
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Julgo que há aqui um decoupling entre o rumo da transparência e autenticidade na alimentação e o dos manifestantes mediáticos... talvez por isso recorram à rua.

Quando os ecossistemas encontram o "é meter código nisso"

"The Internet of Things is a good example of this change. Every industry, no matter how traditional — agriculture, automotive, aviation, energy — is being upended by the addition of sensors, internet connectivity, and software. Success in this environment will depend on more than just creating better digital-enabled products; it will depend on building ecosystem-level strategies that encompass the many moving pieces that come together to create the new value proposition.
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Understanding and deciphering ecosystem-level disruption will be the key for executives in the coming decade.
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The first step to taking an ecosystem perspective is to distinguish between situations where your ability to create value depends mostly on your own execution (product-based world) and situations where your value creation is critically impacted by the activities of other firms and technologies (ecosystem world). If you are competing in an ecosystem world, you must pay as much attention to the progress of co-innovators as to your own innovation efforts. This means recognizing when their slow development will act as a bottleneck to your own growth and when their accelerating development can fuel the growth of substitutes."
Um excelente texto, "Many Companies Still Don’t Know How to Compete in the Digital Age", para ler mais do que uma vez e ficar a ruminar nas ligações à série "É meter código nisso"

O ponto de partida afecta a forma de ver o mundo (parte II)

Parte I e tendo em conta também "Um templo de experiências".
"she decided, was starting an online market stocked with artisan works made by survivors of war, genocide, human trafficking and other abuses. The site To the Market would put much-needed money into their hands.
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Each handmade piece on the site has a powerful back story,
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But in cyberspace, goods can’t be touched. So Ms. Morris, ... turned to pop-up stores as a way to sell the jewelry, handbags and other items that carry these powerful stories.
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Entrepreneurs like Ms. Morris are helping revitalize pop-up stores, a decades-old retail concept. More party than hard sell, this new breed of pop-ups is becoming increasingly innovative and fun — far more than the seasonal pop-ups that once prevailed. And they are also increasingly profitable, experts say, since consumers crave these new experiences.
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For their part, consumers can meet the designers and touch and feel their works, which cannot be done online. In the process, brands can be built more quickly, sales can be increased and new products can be tested.
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“Pop-up stores are a tremendous format,” ... “They are exponential ways to build a brand.”
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These stores, and e-commerce, are putting big dents in older retail chains"
O poder da experiência. Por que é que as lojas não investem mais nisto?


"Jongleurs" - Precisam-se (parte II)

Parte I, "5 empresas numa" e "Jongleurs: será mesmo assim?"
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Isto a propósito de "Great Innovators Create the Future, Manage the Present, and Selectively Forget the Past".
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Quero salientar esta perspectiva:
"the challenge goes beyond being ambidextrous enough to manage today’s business while creating tomorrow’s. There is a third, and even more intractable, problem: letting go of yesterday’s values and beliefs that keep the company stuck in the past.
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the future is not located on some far-off horizon, and you cannot postpone the work of building it until tomorrow. To get to the future, you must build it day by day. That means being able to selectively set aside certain beliefs, assumptions, and practices created in and by the past that would otherwise become a rock wall between your business of today and its future potential.
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Even as old ideas and practices choke off the new future they’re trying to create, organizations find it very difficult to overcome the power of the past."
A capacidade para atirar fora a parte do passado que não nos deixa subir para o futuro é crucial