terça-feira, junho 17, 2014

A Grande Recessão não o gerou, apenas o acentuou

Via Twitter, fui encaminhado para este texto "The Disappearing Middle Is a Real Market Threat — Here’s What Firms Can Do" onde leio logo à cabeça:
"The Great Recession forced consumers to drastically rethink their purchase behaviors and, even though many have regained their financial footing in the five years since the downturn officially ended, those buying patterns have remained. As a result, more and more products are moving toward the “value” or “premium” ends of the spectrum, leaving a middle market that is struggling to remain relevant."
 Não creio que esta tendência tenha sido criada pela Grande Recessão. Terá, quando muito, acelerado uma tendência que vinha de trás.
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Nunca me esqueço de um brilhante artigo na The McKinsey Quarterly de Novembro de 2005, “The vanishing middle market”. Muito antes do choque da Grande Recessão.
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Recordar também "Polarização do mercado ou como David e Golias podem co-existir"

Uma evolução mais do que previsível

O leite é a commodity alimentar por excelência, lembram-se de "O leite é a commodity alimentar por excelência"?
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Lembram-se da evolução do efectivo médio das explorações leiteiras em Portugal? E da comparação com outros países? Recordar "O leite: Os factos, a treta socialista e os apoios mafiosos".
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Agora, leiam isto "Portugal perdeu 90% das explorações leiteiras em 20 anos":
"A produção leiteira conheceu nas últimas duas décadas uma autêntica revolução. O número de produtores passou de cerca de 61 mil, na campanha de 1993/1994, para menos de 7000, na mais recente campanha (2013/2014).
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A evolução dos números acaba por reflectir uma mudança de paradigma na operação sectorial, que nos finais da década de 1980 estava ainda muito assente numa estrutura de pequenas explorações, com um número muito reduzido de animais e com uma produção muito pouco sustentável. Parte substancial do sector não dispunha de ordenha mecanizada própria, fazendo entregas em postos de recolha que regularmente eram visitados pelos camiões-cisterna das cooperativas ou em instalações de ordenha colectiva – algo que dificultava a operação e punha em risco a qualidade do leite recolhido.
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Fruto deste desenvolvimento empresarial, o potencial das explorações que foram desaparecendo foi sendo transferido para aquelas que tinham capacidade de expansão, de tal forma que, no espaço de duas décadas, a produção média por exploração disparou praticamente dez vezes – de 25 toneladas por exploração, em 1993/1994, para 264 toneladas por leitaria, na campanha mais recente. Só neste século, sustenta Fernando Cardoso, verifica-se “uma multiplicação por três do efectivo leiteiro médio de cada exploração”.
Lembram-se de "Como surgem os Golias e pistas para o aparecimento de Davids" e desta figura?
Uma evolução mais do que previsível.

segunda-feira, junho 16, 2014

Curiosidade do dia


Esta tarde, em Sinde no concelho de Tábua.
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Tentem contar o número de anéis neste pinheiro.
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Cada anel representa um ano.

Bolha de mirtilho?

Ouvi no noticiário das 15h de Domingo, na TSF, que se está a assistir ao entupimento dos canais de escoamento da produção de mirtilhos. A Holanda, tradicional mercado de destino, passou a ser auto-suficiente e, agora, os preços estão em queda livre e, mesmo assim, não há garantias de escoamento.
"O excesso de produção do mirtilo em Portugal, que coloca alguns jovens produtores em apuros, está relacionada com o facto de Portugal ter cada vez menos capacidade de escoar o fruto para mercados externos.
A empresa que concentra a comercialização e exportação de mirtilos em Portugal vai vender este fruto por cerca de metade do preço habitual entre segunda-feira e sábado, por causa do excesso de produção em relação à procura.
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«Para consumirmos tanto mirtilo e tanta plantação que está a ser feita, as pessoas têm de abdicar de todo o género alimentar e comer só mirtilos. Acho que é uma loucura incentivar tanta gente a fazer plantações», acrescentou."
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A ser verdade, trata-se de algo que era expectável, os financiamentos que facilitam, ou valorizam, sobretudo determinados investimentos, mais tarde ou mais cedo, geram estas bolhas (recordar a bolha azeiteira).
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Na fase inicial, em que dizem aos potenciais investidores que o escoamento está garantido, receio que muitos deles se concentrem na exploração, na produção, sem qualquer preocupação sobre o mercado.
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Como produtor, ou como membro de uma cooperativa responsável pelo escoamento, não entraria em pânico. Trabalharia para o futuro, procuraria o exemplo de mercados mais maduros, para aprender que outras formas de trabalhar o mirtilho poderão ser experimentadas. E, introduziria pensamento estratégico no desafio. Já não basta produzir, há que pensar no mercado, em clientes-alvo, em vários tipos de prateleiras, em novas formas de oferta, em subir na escala de valor, em diferenciação.
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Trecho retirado daqui.

"getting insurgents to behave is fundamentally a math problem."

Ainda me consigo admirar com o que vou descobrindo acerca do impacte dos economistas e da sua visão da sociedade povoada por econs. É impressionante o poder que tiveram e ainda têm.
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Ontem, ao ler mais um capítulo de "David & Goliath" de Malcolm Gladwell apanho com mais esta:
"The same year that Northern Ireland descended into chaos, two economists - Nathan Leites and Charles Wolf Jr.- wrote a report about how to deal with insurgencies. Leites and Wolf worked for the RAND Corporation, the prestigious think tank started after the Second World War by the Pentagon. Their report was called Rebellion and Authority. In those years, when the world was exploding in violence, everyone read Leites and Wolf. Rebellion and Authority became the blueprint for the war in Vietnam, and for how police departments dealt with civil unrest, and for how governments coped with terrorism. Its conclusion was simple:
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Fundamental to our analysis is the assumption that the population, as individuals or groups,
behaves “rationally,” that it calculates costs and benefits to the extent that they can be related to different courses of action, and makes choices accordingly.…Consequently, influencing popular behavior requires neither sympathy nor mysticism, but rather a better understanding of what costs and benefits the individual or the group is concerned with, and how they are calculated.
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In other words, getting insurgents to behave is fundamentally a math problem. If there are riots in the streets of Belfast, it’s because the costs to rioters of burning houses and smashing windows aren’t high enough. And when Leites and Wolf said that “influencing popular behavior requires neither sympathy nor mysticism,” what they meant was that nothing mattered but that calculation. [Moi ici: Apetece dizer; Ah! Percebo agora o pensamento por detrás de certas campanhas publicitárias que, IMHO, só criam inimigos da marca publicitada] If you were in a position of power, you didn’t have to worry about how lawbreakers felt about what you were doing. You just had to be tough enough to make them think twice." [Moi ici: Se lerem este capítulo, pensem em todos aqueles professores que o são, sem vocação, porque não havia outro emprego mais à mão, e que espezinham o futuro de tantas crianças. Porque aplicam Leites e Wolf, autoridade para cima dos miúdos.]
Quantas áreas da nossa vida, da nossa sociedade, da nossa economia, são controladas, são comandadas, são influenciadas por tretas deste tipo, de outros Leites e Wolfs bem intencionados e que infernizam a vida das pessoas?

"Rendimentos dos pescadores "têm de melhorar""

"O presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, salientou hoje que o investimento público em infraestruturas no setor das pescas tem de se traduzir na melhoria do rendimento dos pescadores.
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"Não podemos ficarmo-nos apenas por aquilo que estas infraestruturas significam de construção física, elas têm de ter efeito e o efeito que têm de ter neste caso é o efeito de reverterem em benefício do rendimento dos pescadores e do rendimento de todos aqueles que intervêm nesta cadeia", frisou.
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esse sentido, apelou à "valorização das características das pescas nos Açores","
Leio este texto e fica-me um travo adstringente na boca...
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Quem são os maiores interessados no aumento do rendimento de quem intervêm na cadeia? E se existe esse interesse genuíno dos intervenientes na cadeia, por que é que ele não acontece?
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Quem é que tem a ganhar com a manutenção do status-quo?
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Quais são as barreiras que impedem a entrada de novos actores na cadeia (ecossistema)?
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As novas infraestruturas alteraram alguma dessas barreiras?
"Vasco Cordeiro considerou que deve existir também uma "valorização de espécies que já são capturadas na região, mas não têm aproveitamento comercial", acrescentando que a intervenção da "marca Açores" também deverá contribuir para o aumento do rendimento dos pescadores."
Por que tem de ser um outsider a falar sobre isto?
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Os meus preconceitos levam-me a dizer, aumentem a concorrência, dêem mais liberdade económica aos pescadores, deixem-nos criar novos mecanismos de comercialização do seu peixe.
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Trechos retirados de "Rendimentos dos pescadores "têm de melhorar""

Qualificações vs instituções

Ontem, antes da minha caminhada do final da tarde, li este artigo, "Do topo à base, as empresas precisam de mais qualificações para garantirem o seu futuro", onde encontrei esta pérola:
"Tal como os países, as empresas produzem mais riqueza quanto maiores forem as qualificações de quem as compõe.
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A opinião é unânime entre os especialistas, que apontam o défice de qualificações como uma das debilidades da economia nacional."
Depois, durante a minha caminhada, li mais uns trechos de "Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty" de Daron Acemoglu e James Robinson, nomeadamente o capítulo 2, "Theories that don't work". Nesse capítulo, os autores explicam várias teorias que, segundo eles, não explicam a pobreza no mundo:

  • não é por causa da geografia;
  • não é por causa da presença ou ausência de recursos naturais;
  • não é por causa da adopção ou não adopção de novas tecnologias;
  • não é por causa da presença ou ausência endémica de animais ou cereais para alimentação;
  • não é por causa de diferenças culturais;
  • não é por causas de diferenças religiosas.
Depois destas hipóteses todas aparece mais uma, "The Ignorance Hypothesis":
"The final popular theory for why some nations are poor and some are rich is the ignorance hypothesis, which asserts that world inequality exists because we or our rulers do not know how to make poor countries rich.
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if ignorance were the problem, well-meaning leaders would quickly learn what types of policies increased their citizens’ incomes and welfare, and would gravitate toward those policies. [Moi ici: Atentar no discurso, na exortação de Vasco Cordeiro aos pescadores açorianos. Se se sabe, por que não acontece?]
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The ignorance hypothesis differs from the geography and culture hypotheses in that it comes readily with a suggestion about how to “solve” the problem of poverty: if ignorance got us here, enlightened and informed rulers and policymakers [Moi ici: Ou Patróes e empregados no caso das empresas] can get us out and we should be able to “engineer” prosperity around the world by providing the right advice and by convincing politicians of what is good economics. ... the main obstacle to the adoption of policies that would reduce market failures and encourage economic growth is not the ignorance of politicians but the incentives and constraints they face from the political and economic institutions in their societies."
Depois da caminhada, à noite, li este artigo "Where are Greece’s missing exports?", onde encontrei:
"Institutional weaknesses are mainly to blame for Greece’s dire trading performance, with exports around a third smaller than they should be, according to a new paper from staff at the European Commission.
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“Competitiveness depends crucially on a more comprehensive notion of the cost of doing business – which in turn depends on the rule of law, property rights, the ability to enforce contracts, flexible labour market arrangements, the available transport infrastructure and many other factors besides the recorded cost of capital and labour. Customs formalities, administrative procedures, and regulatory transparency are directly linked to the trading process.”"
À luz da hipótese de Acemoglu a explicação para a pobreza das nações reside nas instituições:
"Countries differ in their economic success because of their different institutions, the rules influencing how the economy works, and the incentives that motivate people.
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Inclusive economic institutions foster economic activity, productivity growth, and economic prosperity. Secure private property rights are central, since only those with such rights will be willing to invest and increase productivity.
A businessman who expects his output to be stolen, expropriated, or entirely taxed away will have little incentive to work, let alone any incentive to undertake investments and innovations. But such rights must exist for the majority of people in society.
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This book will show that while economic institutions are critical for determining whether a country is poor or prosperous, it is politics and political institutions that determine what economic institutions a country has."


 Estou a recordar "The Predator State"

domingo, junho 15, 2014

O que pensa desta alternativa?

Já por várias vezes critiquei aqui o movimento de concentração em mega organizações hospitalares, para aumentar a eficiência.
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Aumentar a eficiência na Saúde pode ser um desígnio louvável; contudo, acredito que na maioria das vezes o tiro sai pela culatra.
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A culpa não é dos profissionais, ou dos governos, ou até mesmo dos utilizadores. A culpa é da incapacidade humana de gerir mega organizações plenas de complexidade.
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Acredito em organizações mais pequenas, e mais concentradas, mais focadas em certas especialidades. Na folha de cálculo, podem parecer mais caras; no entanto, na realidade o resultado deve ser outro.
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Entretanto, encontrei um exemplo que não conhecia e que me deixa a pensar, "Inside India's 'No-Frills' Hospitals, Where Heart Surgery Costs Just $800".
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Fico a pensar que isto só funciona num país pobre habituado a valorizar o custo do dinheiro, desde que me disseram que na mesma universidade, na mesma faculdade, no mesmo edifício, mas em pisos diferentes, tem de haver duplicação de equipamentos caríssimos, pois os catedráticos não se entendem entre si.
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O que pensa desta alternativa?

"in strategy there is no single right answer to find"

Este texto, "Why Smart People Struggle with Strategy", de Roger Martin, sintetiza muitas das razões porque gosto de trabalhar no desenvolvimento da estratégia das empresas.
"The problem with smart people is that they are used to seeking and finding the right answer; unfortunately, in strategy there is no single right answer to find. Strategy requires making choices about an uncertain future. It is not possible, no matter how much of the ocean you boil, to discover the one right answer. There isn’t one."
Primeiro, não existe estratégia certa a estudar nos livros, a copiar dos casos, a observar na concorrência. Como consultor, desenvolver uma estratégia implica trabalhar em interacção com a equipa de gestão e co-desenhar, co-formular, co-construir um roteiro para a viagem rumo ao futuro desejado. Implica atender à especificidade de cada empresa, da sua dimensão, da sua história, do seu campo de possibilidades e ajudar a conceber uma escolha. Uma escolha com possibilidades de sucesso num segmento de mercado e, que esteja em sintonia com a individualidade da organização.
"To be a great strategist, we have to step back from the need to find a right answer and to get accolades for identifying it. The best strategists aren’t intimidated or paralyzed by uncertainty and ambiguity; they are creative enough to imagine possibilities that may or may not actually exist and are willing to try a course of action knowing full well that it will have to be tweaked or even overhauled entirely as events unfold."
Segundo, não existe sucesso estratégico sem imaginação e criatividade, sem imaginar possibilidades. E, cada vez mais, olhar para o mundo, olhar para a realidade, olhar para o ecossistema e, em vez de o considerar um dado do desafio, considerá-lo como mais uma variável que podemos tentar manipular, convidando outros actores para uma dança simbiótica.
"The essential qualities for this type of person are flexibility, imagination, and resilience. But there is no evidence that these qualities are correlated with pure intelligence." 
Por isso, dá-me um gozo enorme mostrar que o mundo da estratégia não é o das folhas de cálculo.

Curiosidade do dia

Fico triste com estas cenas...
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Quantos ratinhos não serão comidos por esta cobra morta?
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Quantos kg de milho serão comidos por esses ratinhos?

sábado, junho 14, 2014

"Old men forget; yet all shall be forgot, But he'll remember, with advantages"




Acerca da variedade intra-sectorial.

Uma economia saudável funciona assim, sem caminho único, sem a Grande Estratégia delineada por um Grande Planeador e que todos devem seguir. De um lado, o caminho da eficiência, da escala, do volume, da organização, da logística:

Do outro, o caminho da personalização, do pessoal, da autenticidade, da narrativa:
"Todos os produtos são produzidos por encomenda em Portugal. Desta forma conseguimos corresponder a pedidos de personalização do móvel, respeitando sempre a qualidade de desenho. Alterações de dimensões, acabamentos, cores são possíveis. Alterações mais profundas poderão estar sujeitas a uma comissão de desenvolvimento/produção. Todo o mobiliário é produzido manualmente por oficinas de pequena escala e por artesãos. Grande parte dos fornecedores são empresas familiares locais. Fazemos um esforço para que os nossos fornecedores estejam sediados perto do nossa unidade de produção. Neste momento, grande parte dos nossos fornecedores distam cerca de 15km."
Há bocado, numa conversa no Twitter, lembrei-me disto:
 'Amateurs talk strategy, Professionals talk logistics' 
Aqui os termos amador e profissional estão relacionados com a aplicação dos conceitos estratégia e logística no ambiente militar. Um amador pode entreter-se com cogitações estratégicas sobre como vai ganhar uma guerra. Contudo, sem uma logística capaz de suportar o exército, qualquer estratégia é um ídolo de pés de barro, porque os soldados precisam de comer e beber.
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A malta da Aquinos deve ser craque, mas craque mesmo, de  logística.
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Quantas empresas em Portugal podem dizer que controlam essa vertente de forma profissional? Faz sentido impor um modelo de negócio único a todos? Uma economia saudável é esta diversidade...
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E volta a 2003, a Setembro de 2003, nunca me esqueço desse mês:
"Every business is successful until it’s not. What’s amazing is how often top management is surprised when “not” happens. This astonishment, this belated recognition of dramatically changed circumstances, virtually guarantees that the work of renewal will be significantly, perhaps dangerously, postponed.
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Why the surprise? Is it that the world is not only changing but changing in ways that simply cannot be anticipated—that it is shockingly turbulent? 
Como reduzir o risco de obsolescência de um sector económico?
"Valuing Variety
 Life is the most resilient thing on the planet. It has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it pos-sesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience? Just this: Variety matters. Genetic variety, within and across species, is nature's insurance policy against the unexpected. A high degree of biological diversity ensures that no matter what particular future unfolds, there will be at least some organisms that are well-suited to the new circumstances."
Permitindo, promovendo e valorizando a diversidade, a variedade intra-sectorial.


Do Twitter

Tweets favoritados nos últimos tempos:
"Creativity is ruthlessly inefficient."
Por isso é que foi tão difícil às PMEs portuguesas dar a volta quando a China invadiu com sucesso o campeonato do custo baixo onde eram muito boas. Era impossível competir de igual para igual com a China no terreno onde ela tinha vantagem. Migrar para outros segmentos implicava ir contra o que ouviam os "doutores" dizer em todo o lado: "Há que ser eficiente!"
Dar a volta, fugir do campeonato com a China implicava estar no campeonato da diferenciação e criatividade, logo, menos importância para a eficiência.
" No love = no excellence, no wow, no customer cuddling, no employee respect and growth. Can we please talk about love already? :) "
Há anos que escrevo aqui no blogue sobre a necessidade de desenvolver relações amorosas com clientes e fornecedores, como a forma de ultrapassar a linearidade básica e asséptica da folha de cálculo.
"No product deserves its price because of its features or your costs to make it"
O Evangelho do valor passa por aqui, por uma história, por uma narrativa, por calçar os sapatos do cliente e oferecer-lhe recursos que ele possa operar para criar os resultados que procura e valoriza.
"Don't be the first, be the only one" 
Fugir da concorrência, fugir do Salon, procurar um nicho, um segmento, uma diferenciação, uma tribo.
"Storytelling has become story yelling. It should be about engagement through interaction." 
Há anos que promovo aqui o poder da interacção. O ginásio não vende equipamentos para que os clientes façam exercício, o ginásio vende o sonho da transformação, que é pessoal, que é único. Só a aposta na interacção evita a homorragia da rotação e a vulnerabilidade face à guerra de preços.
 

Vai ser uma leitura interessante

Actualmente, aproveito as minhas caminhadas para ler "Why Nations Fail - The Origins of Power, Prosperity and Poverty" de Daron Acemoglu e James Robinson.
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Um primeiro tópico é a colonização da América Latina:

  • Muito interessante a descrição do colonialismo espanhol e inglês na América do Norte sob uma perspectiva que nunca tinha visto, a dos modelos de negócio e, porque é que o que resultou numa não resultou na outra;
  • Fiquei a pensar no que poderá acontecer aos terrestres se alienígenas-espanhóis, ou portugueses, entrarem em contacto connosco...
  • Nunca me esqueço que o triunfo português, espanhol e de outros na colonização, é uma história alternativa do filme Avatar, aquela em que os humanos tomam efectivamente o controlo de Pandora como os seus donos.
Um segundo tópico, enquanto leio as notícias do BES, enquanto recordo os postais que aqui costumo escrever sobre assar sardinhas com o fogo dos fósforos, enquanto recordo os defensores dos "campeões nacionais", enquanto recordo Daniel Bessa a defender há oito dias que alguns sectores deviam ser protegidos (de quem e para quem? Ele que fale com as empresas que, sem apoios, tiveram de aguentar a concorrência da Aerosoles, apoiada em dinheiro impostado aos contribuintes emprestado ao Estado e que agora está a ser impostado aos contribuintes para o pagar com juros), é este trecho:

"When the elite invested, the economy would grow a little, but such economic growth was always going to be disappointing"
É uma descrição de toda a primeira década do século XXI em Portugal
Por elite entenda-se dinheiro emprestado ao Estado e "despejado" por este em projectos ruinosos para o país mas bom para as elites. E começo logo a pensar na motivação para regular o crowdfunding... como a protecção dos bancos...
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Vai ser uma leitura interessante...
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Entretanto, a meio da caminhada, a minha mente começou a processar a diferença entre a economia americana e mexicana do século XIX e, aquilo que ainda hoje se vê por cá e imagino um programa tipicamente português. Em vez de Shark Tank, o Tanque dos Robalos (nome proposto pelo Tiago Pascoal no Twitter). Em vez de lucros obtidos no mercado servindo clientes, no Tanque dos Robalos, os entrepreneurs seriam substituídos por rentistas que procurariam financiar projectos onde fosse possível sacar mais rendas ao Estado. Imagino banqueiros, políticos da oposição e da situação, jornalistas, economistas, académicos...

sexta-feira, junho 13, 2014

Curiosidade do dia


Restos do paradigma colonial.
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Num país não-católico o burburinho e a celeuma que isto originaria, agora.

Dois universos distintos

Há dias, ao consultar o portefólio de organizações com as quais já desenvolvemos e implementamos um balanced scorecard, comecei, instintivamente, a nomear numa palavra ou pequena frase a motivação por detrás do projecto.
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Um dos motivos destacava-se claramente: "o mundo mudou". O mundo onde essa empresa operava mudou e alguém sentiu necessidade de dar uma sapatada.
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Interessante verificar que os primeiros projectos com esta motivação apareceram em 2004 e diziam respeito a PMEs no sector de bens transaccionáveis e, os mais recentes, de 2013, já incluíam uma maioria de empresas de sectores não-transaccionáveis.
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Lembrei-me disto ao ler no DE "Negócios nos têxteis e transportes foram os que resistiram melhor à crise" e, em particular, este trecho:
"antes da crise, eram sobretudo as empresas mais jovens que iam à falência, enquanto no período seguinte a idade média de empresas que deixaram de estar activas foi de 16 anos, o que demonstra que empresas que tinham conseguido ultrapassar períodos de crise anteriores, nomeadamente a recessão de 2003, acabaram por sucumbir à violência das contracções registadas em 2009 e 2011."
 Penso que são dois universos distintos. O primeiro, afectou sobretudo as empresas sujeitas à concorrência internacional, independentemente de operarem no mercado interno ou externo, ou em ambos. O segundo, afectou sobretudo as empresas protegidas da concorrência internacional.

Vão ter de pensar de forma mais geral

Quando os políticos, de forma genuinamente bem intencionada, falam da necessidade de investimento directo estrangeiro em Portugal, sonham em emular o investimento da Autoeuropa.
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Investimentos como o da Autoeuropa trazem emprego e contribuem muito positivamente para o PIB, com os anos podem ter um efeito de spill-over interessante para o ecossistema da procura no país onde estão instalados.
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Talvez seja de reflectir sobre estas palavras:
"Is your job high volume, well defined, and repetitive; one that needs tight quality control and involves a lot of lifting and moving? If yes, you’re likely in greater danger of being replaced by a robot. Robots won’t replace workers in jobs that require imagination, creativity, empathy, solution making and a “human touch.” But they will take on work that’s dull, dirty, and dangerous."
Vantagem da mão-de obra barata? Irrelevante.
Preço da energia? Preço da burocracia? Preço da instabilidade legislativa? Risco fiscal?
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Que ambiente facilitará o aparecimento e o investimento não de gigantes mas de empresas mais pequenas que requeiram "imagination, creativity, empathy, solution making and a “human touch."?
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Não vai dar para soluções caso-a-caso, personalizadas para cada empresa, vão ter de pensar de forma mais geral.
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Trecho retirado de "Use Robotics to Reimagine Your Business, Not Re-Engineer It"

Cuidado com as pessoas que querem fazer engenharia social nos países, na economia,...

Ontem, no DN encontrei este texto "A iconomia" de André Macedo.
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André Macedo percorreu um longo caminho...
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Hoje usa o sector do calçado como um exemplo do que o país precisa fazer.
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Em 2008 o mesmo André Macedo, cheio de certezas, escrevia:
“Acontece que o abandono progressivo das actividades com baixo valor acrescentado (têxteis, calçado) é uma estrada sem regresso possível e sem alternativa. Vai doer, mas só assim o país ficará mais forte e competitivo.”
Nós, trabalhamos com empresas não com países, ajudamos as empresas a reflectirem sobre como podem ter futuro e o que devem fazer para o construir.
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Daí a querermos trabalhar com países vai um grande salto... fico a pensar numa outra pessoa que muda de opinião sem retratação, João Cravinho:
imagem retirada daqui
 (um excelente repositório de informação)
Cuidado com as pessoas que querem fazer engenharia social nos países, na economia, ...
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BTW, recordar esta opinião de André Macedo de 2011, ainda não tinha mudado de opinião.

As empresas que trabalham connosco não precisam destes estudos

Há muitos anos que este é o nosso Evangelho junto das PMEs:

  • rapidez;
  • flexibilidade; 
  • pequenas séries;
  • diversidade;
  • diferenciação;
  • personalização.
"A flexibilidade é um dos principais trunfos das empresas portuguesas da indústria de engenharia, cujo desempenho está “ao nível do que melhor se faz internacionalmente”
...
as três principais vantagens comparativas da indústria de engenharia portuguesa são a flexibilidade (enquanto capacidade de resposta a prazos de entrega curtos e/ou a quantidades de produção pequenas), a qualidade, a entrega e o custo/produtividade.
...
“Medimos quatro dimensões que cobrem o espectro da performance industrial e, em todas elas, Portugal estava ao nível do que de melhor se faz em todo o mundo. Ficámos surpreendidos com os resultados porque, por exemplo, em comparação com o inquérito anterior, o estudo revelou em Portugal não só um desempenho ao nível (se não melhor) do que se faz internacionalmente, mas também “níveis de desempenho muito elevados” em relação à Europa,"
As empresas que trabalham connosco não precisam destes estudos:


quinta-feira, junho 12, 2014

Acerca das desvantagens

Agora percebo porque é que o livro de Gladwell, "David & Goliath" levantou tanta polémica.
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Quando entramos na segunda parte, que começa com uma citação da II Carta de S. Paulo aos Coríntios, 12:7-10, entramos numa proposta diferente:
"So far in David and Goliath, we've looked at the ways in which we are often misled about the nature of advantages. Now it is time to turn our attention to the other side of the ledger. What do we mean when we call something a disadvantage? Conventional wisdom holds that a disadvantage is something that ought to be avoided - that it is in a setback or a difficulty that leaves you worse off than you would be otherwise. But that is not always the case."
Depois, Gladwell apresenta várias histórias de pessoas que, porque tinham uma desvantagem, a dislexia por exemplo, conseguiram algo que a maioria não consegue.
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E penso nas empresas que, para quem está de fora e só conhece uma forma de competir - servir econs - são vistas como sem futuro. Para os que não conhecem outra alternativa de actuação no mercado, uma empresa que não prima pela eficiência, pelos muito baixos custos, pelos volumes elevados, está condenada, é uma empresa cheia de desvantagens e condenada a morrer.
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E, no entanto, todos os dias encontro exemplos de empresas sem hipóteses, segundo os outsiders, e que encontram um nicho, um segmento, onde fazem a diferença.
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Um pouco como o que Laurence Gozales escreveu sobre os que sobrevivem num desastre numa zona remota, os que sobrevivem não são os mais fortes, ou os mais inteligentes, são os que deixam de estar perdidos... não são os que são encontrados, são os que se encontram. São os que em vez de copiar os outros e tudo fazer para entrar no Salon, encontram o seu espaço próprio, onde podem fazer a diferença.
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Já quase no final do capítulo que inicia a segunda parte do livro Gladwell escreve:
"being on the outside, in a less elite and less privileged environment, can give you more freedom to pursue your own ideas"
E fico a pensar em algo que escrevi, não sei se aqui no blogue ou num outro lugar, quando ouvi a notícia de que a Roménia queria aderir à UE e percebi que a UE ficaria composta por 27 países. O que vai dar, é estar fora da UE e aproveitar essa situação.