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segunda-feira, dezembro 27, 2010

Cuidado com os macro-economistas

Não acredito em acasos!
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Já escrevi várias vezes:
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Não há coincidências, todos os acasos são significativos!
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Ontem, ao princípio da tarde descobri na net este saboroso artigo "Why Do Firms Differ, And How Does It Matter?"
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Já por várias vezes neste blogue chamei a atenção para a diferença entre os macro-economistas e a micro-economia e, para a minha perplexidade perante a disparidade entre as receitas e teorias económicas versus a realidade concreta das empresas, uma versão moderna de manipuladores de bosta.
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Os macro-economistas só sabem usar a variável preço/custo e falam de uma realidade que eu não vejo. Eu visito as PMEs e vejo outra realidade muito mais optimista. Por isso, ao encontrar o artigo de Richard R. Nelson, com cerca de 20 anos mas tão actual, não pude deixar de sorrir perante estes trechos:
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"I would argue that the most important difference is that economists tend to see firms as players in a multi actor economic game, and their interest is in the game and its outcomes, rather than in the particular play or performance of individual firms. … This perspective is quite different, it seems to me, than that of a student of management who is concerned with the behavior and performance of individual firms in their own right. My objective in this essay is to make a strong case for the economic significance, in the sense above, of discretionary firm differences. My position certainly has been influenced by the work of scholars of firm management who have persuasively documented significant differences among, firms in an industry in behavior and perform-lance, and proposed that these differences largely reflect different choices made by firms. However, because the interests of those authors have differed from the interests of economists, almost no attention has been paid to the industry or economy wide implications of such different choices.

The tendency to ignore discretionary firm differences in part reflects that economists are not interested in behavior and performance at the level of firms, but rather in broader aggregates-industry or economy wide performance. It reflects, as well, some strong theoretical views held by most main line economists about what economic activity is all about, and about the role and nature of firms in economic activity. My argument that discretionary firm differences within an industry exist and do matter significantly is part and parcel of my broader argument that neoclassical economic theory is badly limited."
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Ontem à noite, via @EskoKilpi, cheguei a este artigo da revista The Economist "Why Do Firms Exist?" onde encontrei estes trechos:
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"The young Mr Coase first grew interested in the workings of firms when he travelled around America’s industrial heartland on a scholarship in 1931-32. He abandoned his textbooks and asked businessmen why they did what they did. He has long chided his fellow economists for scrawling hieroglyphics on blackboards rather than looking at what it actually takes to run a business. So it seems reasonable to test his ideas by the same empirical standards.
...
But it also vindicates the twin decisions that Mr Coase made all those years ago as a young student at the London School of Economics: to look inside the black box rather than simply ignoring it, and to examine businesses, not just fiddle with theories."

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Os encalhados

Neste trabalho da TSF "A flexibilidade laboral em Portugal" Octávio Teixeira chama a atenção para a diferença entre os níveis de produtividade das empresas de capital estrangeiro instaladas em Portugal  e as empresas de capital português para os mesmos sectores.
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Para explicar tal diferença, julgo que o ouvi dizer que tinham uma produtividade duas vezes superior, argumenta que o factor crítico é a organização.
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A organização é importante, mas não pode responder por uma diferença tão grande. Defendo que a diferença reside sobretudo no valor acrescentado de cada produto.
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Por exemplo, uma fábrica que produz vestuário para a empresa da marca X, vende uma T-shirt por 1,30 euros pelo trabalho, pelos minutos. A marca X vende a T-shirt a 15 euros nas lojas.
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Agora imaginem que a fábrica começa a produzir T-shirts com a sua marca Z e que as consegue colocar nas prateleiras visitadas pelos consumidores a 10 euros.
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Assim, é fácil perceber de onde vem a diferença na produtividade.
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Os macro-economistas ainda se encontram encalhados num modelo mental onde os factores intangíveis: marca, novidade, diferenciação; não entram.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

À atenção de macro-economistas simplistas

"Strategy isn't an arms race. As Michael Porter has tirelessly pointed out, strategy isn't about arms races, where we strive to do the same things as everyone else, just a tiny bit more efficiently. It's about making choices which lead to sustainable differences."
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Trecho retirado daqui.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

"Exige um pouco mais de sofisticação intelectual do que ir comprá-la simplesmente ao supermercado" (parte II)

Segue-se uma lista de hiperligações que giram, de alguma maneira, em torno das ideias deste postal acerca do pós-Torre de Babel.

domingo, dezembro 05, 2010

"Exige um pouco mais de sofisticação intelectual do que ir comprá-la simplesmente ao supermercado"

Ontem de manhã, no âmbito de uma pós-graduação, quando regressávamos do intervalo, para concluir uma daquelas conversas que se iniciam nos intervalos, fiz uns esquemas para suportar o meu pensamento.
O progresso dos meios de transporte, o boom das comunicações, o desenvolvimento de métodos de planeamento  superiores, o imperialismo cultural, a derrocada do comunismo e muitos mais factores contribuíram para que nas últimas décadas assistíssemos ao fenómeno da globalização, uma força homogeneizadora tremenda.
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A homogeneização permite, para quem produz e vende, ganhos de escala. Grandes fábricas podem ser construídas para produzir grandes quantidades de produtos a custos muito competitivos. Grandes fábricas requerem muita mão de obra, logo, assistimos à deslocalização das grandes fábricas dos países mais ricos para países como Portugal primeiro, para, depois, o fenómeno continuar para a China e, depois desta, para o Vietname e outros países.
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Thomas Friedman escreveu um livro interessante mas deprimente "O Mundo é Plano". Nele expunha a sua admiração com a descoberta da globalização, nele evangelizava as pessoas para se prepararem para um mundo em que a "China era a fábrica do mundo".
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Não consigo deixar de associar este fenómeno da globalização a uma
Torre de Babel!!!
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Sabem o que é que aconteceu à Torre de Babel?
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A força esmagadora imparável da globalização homogeneizadora ... está a auto-destruir-se.
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Não sei se o 11 de Setembro de 2001 não terá sido também, de certa forma, um grito contra a força niveladora da globalização.
Ghemawatt escreveu um livro que me alertou para um fenómeno que eu sentia mas não tinha a certeza de ser algo de palpável, ou de ser imaginação ou de ser um acidente de percurso. Em "Redefining Global Strategy" Ghemawatt alertou-nos para a realidade... afinal o mundo não é assim tão plano!
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Nos gabinetes dos macro-economistas, o mercado é visto como racional, onde os agentes são racionais, onde os agentes tomam decisões racionais...
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Mas os agentes não são racionais!
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Os agentes são humanos!!!
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Os humanos, aprendemos todos com
não somos racionais, somos meta-racionais... não somos definíveis.
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Não queremos ser iguais, não queremos ser Alfas e Gamas de um admirável mundo novo.
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Assim, paralelamente à força da globalização, apareceu, reforçou-se e está a triunfar a força da heterogeneidade individual, a força das tribos, em vez da grande escala, a atomização do gosto.
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Por isso, em todos os sectores assistimos à explosão dos SKUs nas lojas de calçado, de vestuário, de cosméticos e perfumes, de livros, de motos, de bicicletas, de desporto, de...
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Produzir pequenas séries de items que têm um tempo de novidade na prateleira cada vez mais reduzido... não é lá muito económico produzir na China... é muito longe, demora muito tempo, os contentores são muito grandes, geram sellouts não repostos e markdowns medonhos.
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Como consequência, assistimos ao renascimento de uma nova economia nos países desenvolvidos. PMEs que apostam na diferença. PMEs que não competem com a China pelos custos, PMEs que competem pela diferença, pela flexibilidade, pela rapidez, pelo design, pela tecnologia.
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Nesta nova economia, diferentes empresas, no mesmo sector de actividade, fazem escolhas diferentes, trabalham para clientes diferentes, seguem diferentes percursos evolutivos daí que, cada vez menos, se possa, se deva falar de um sector económico como uma realidade homogénea.
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Assim, quando olho para um sector económico vejo um prado colorido em plena Primavera repleto de biodiversidade.
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Em Agosto passado escrevi:
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"Leis e abordagens top-down nunca serão eficazes numa economia plena de biodiversidade bottom-up, cada empresa é um caso, e não é uma questão de honestidade, é uma questão de atender à história e personalidade de cada empresa… e a algo mais que a consciência de cada um dita… daí a pressão reactiva ao medo do comunismo, ou a pressão proactiva decorrente do personalismo."
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No apogeu da globalização esta estilhaçou-se, qual Torre de Babel, nesta diversidade competitiva para servir gente, pessoas, e não "agentes racionais"... e é isto que os macro-economistas ainda não perceberam... como é que eles podem perceber isto?
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Agora reparem como tudo isto se encaixa com os últimos postais de Pedro Arroja:

  • Anything goes "O seu anarquismo metodológico proclama que não existe um único caminho para se chegar à Verdade. Mas isso é precisamente o que proclama a Igreja Católica, de que não existe um único caminho para se chegar à Verdade (Deus). Existem muitos, tantos quantos as pessoas. Cada pessoa tem de procurar o seu. Anything goes - qualquer caminho é válido." (Moi ici: Em vez de Verdade, penso em sucesso das PMEs, não há soluções centrais definidas por um qualquer comité de ministros, de sábios, de curandeiros, cada caso é um caso)
  • Uma loja gourmet "Tem um problema na vida? Pode ser um problema financeiro, um problema emocional, um problema de saúde, um problema qualquer. Procure no Catecismo da Igreja Católica e encontrará lá a solução racional para o seu problema. Não espere, porém que a solução esteja na montra; seria necessário uma montra muito grande para mostrar as soluções pessoalizadas para os milhares de problemas que cada pessoa tem, e para os milhares de milhões de pessoas que existem no mundo. Você vai ter de entrar na loja e procurar. Entre, procure e vai encontrar." (Moi ici: Isto é Bach para mim e não digo mais nada)
  • Uma Tragédia Portuguesa "A razão das nossas dificuldades actuais (como no século XIX e na Primeira República), não está no catolicismo. Está em nós termos procurado imitar o protestantismo (democracia-liberal, social democracia, Estado de Direito, Estado-providência, etc.). Se nós voltarmos à nossa tradição católica, tudo se resolve. (Moi ici: Se voltarmos à anarquia, se as empresas não seguirem todas a mesma cartilha, se se diferenciarem) Por outras palavras, onde o Nogueira Leite (Moi ici: desiludiu-me este fim de semana... escreve no Sol que a solução para as PMEs exportadoras passa por reduzir os salários... mais um caso perdido, é desesperante, é inútil ) vê o problema eu vejo a solução. Porém, como notei no post anterior, esta solução não está no supermercado. Está numa loja gourmet, e isso exige um pouco mais de sofisticação intelectual do que ir comprá-la simplesmente ao supermercado."
Cumpro a promessa, sempre que alguém propõe a redução de salários para que as empresas exportadoras se tornem mais competitivas eu ponho o porco:
O porco adora a brincadeira...
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Constantinos Markides escreveu na revista Sloan Management Review (Spring 1999) o artigo "In Search of Strategy":
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"These examples show that no advice - however sound and practical - will apply to all firms all the time. What a firm should do depends on its own particular circunstances, which are, in turn, determined by its stage of evolution. Strategic advice that fails to put the company in its historical context runs the risk of being dangerous."

sábado, dezembro 04, 2010

Repeat after me, “5 minutes + Calculator = GOOD”

Os macro-economistas que propõem a redução dos salários para tornar as empresas exportadoras mais competitivas, porque não fazem contas, deviam aprender esta lição "Groupon Photography Sessions vs. Working @ McDonald’s".

sexta-feira, novembro 26, 2010

O macro-economista nu

"Só vejo uma saída. O FMI, que é muito nosso amigo, vai fazer-nos uma proposta que nós não podemos recusar: seremos nós a pedir a exclusão."
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Tenho deixar de ler Daniel Amaral... faz mal à saúde mental, incute em mim um desprezo generalizado por todos os macro-economistas, o que será injusto para a maioria deles.
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Então não há alternativa? O homem não tem nenhuma proposta?
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No semanário Vida Económica Diogo Vasconcelos, presidente da APDC, dá a RECEITA ""Só a inovação garante aumentos radicais de produtividade"" Só o trabalhar no numerador é que permite pensar em dar o salto:
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"A produtividade do trabalho em Portugal é igual a 56% da média da Zona euro e a 47% da dos Estados Unidos: as diferenças são abissais e sem indícios de melhoria."
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Mas Daniel Amaral continua algemado mentalmente ao denominador e ao corte de custos para aumentar a produtividade... como é que essas melhorias incrementais permitirão colmatar aquela lacuna de 56%? No way!!
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Ou, na linguagem de Larreché, Daniel Amaral está preso ao interior da empresa, à extracção de valor... certamente que se trata de resquícios de marxianismo entranhado, e esquece-se... aliás, foi educado, tirou o seu curso num tempo em que não se falava da originação e da captação de valor.

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E onde é que está a maior fatia de valor?
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Vou tentar deixar de ser masoquista e vou prometer-me a não mais ler e comentar Daniel Amaral.
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BTW, não há nenhum macro-economista capaz de desmontar esta abordagem sombria, obsoleta, que nos condena à pobreza, sem passar pelas alucinações bloquistas ou pelos sonhos cor-de-rosa superficial de Nicolau Santos?

sexta-feira, novembro 19, 2010

É inútil...

Os modelos mentais são terríveis, agarram-se à nossa mente e castram-nos a imaginação.
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Que sentido faz um funcionário do Estado central dizer isto "Portugal deve seguir uma política de "contenção e disciplina" salarial":
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"toda a actividade económica portuguesa deve seguir uma política de "contenção e disciplina" salarial para que a competitividade do país não seja prejudicada"
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1º Estes políticos de todas as cores e da oposição e da situação não têm direcção, decidem para onde está o vento, não há pensamento estratégico... política de carrinho de choque, muito barulho, muito movimento, mas na média não se sai do sítio.
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2º O ministro olha para a economia como:
Um bloco homogéneo... e só sabe mexer na alavanca do custo para aumentar a produtividade, ou seja, está algemado mentalmente ao jogo do gato e do rato (parte I, parte II, parte III, parte IV, parte V, parte VI, parte VII)
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3º O ministro não faz a mínima ideia de como competir num país com moeda forte (parte I a V, parte VI)
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O ministro e os macroeconomistas foram educados num mundo onde aprenderam:

  • o mercado é composto por um conjunto de agentes;
  • os agentes são racionais;
  • os agentes tomam decisões racionais; 
  • e outras tretas do género, simplificações usadas para poder modelar a realidade.
Por isso, não conseguem perceber o optimismo não documentado, por que o modelo não permite jogar xadrez contra ele próprio, as regras racionais são conhecidas e as pessoas seguem as regras racionalmente... logo, não é possível jogar contra si próprio.
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Agora reparem, esta manhã estive numa reunião onde alguém esteve em Lisboa num evento mundial ligado ao marketing que contou a seguinte história:
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Uma empresa americana com 3 anos factura 40 milhões de dólares a produzir embalagens com 3 meias descasadas. As meninas de 12 anos pedem às mamãs para comprarem as meias e para... pesquisarem num rede social quem é que tem meias que façam par com as que elas têm em casa...
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Podem voltar a ler, eu sei o que escrevi... pois, racionalidade... LOL 
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E está uma economia nas mãos de gente que não acompanha a evolução do campeonato económico e quer não perder jogando com as tácticas do tempo do Eusébio e do Coluna. 

segunda-feira, novembro 08, 2010

Não fazem ideia do poder da imaginação, da subversão das regras. (parte II)

Recentemente, encontrei no twitter duas afirmações cheias de valor e que merecem reflexão por causa da sua aplicação aos tempos que vivemos:
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"The role of the manager is thought to be reduction of uncertainty rather than the capacity to live creatively in it"
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Algumas PMEs com que lido assentam parte do seu sucesso no caos, na incerteza, e não tentam reduzi-la, procuram sim, formas criativas de lidar com ela. Por exemplo, quando os clientes são desorganizados, quando o mercado está caótico... agir organizadamente é uma receita para o falhanço.
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Assim, nada mais verdadeiro que:
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"today an entrepreneur is closer to artists than managers"
Daí que faça sentido encontrar um artigo deste tipo na revista Forbes "Teaching Business Leadership As Fine Art":
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""Of course art doesn't serve up answers to specific business problems on a plate," she says. "But what it can do is get you to step back, reflect and come up with your own solutions, solutions that are often beyond the constraints of accepted practice.""

sexta-feira, julho 17, 2009

Acordar as moscas que estão a dormir (parte XXX)

O artigo de Daniel Amaral no Diário Económico de hoje toca na ferida "A dívida".
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Como macro-economista, propõe uma solução de curto-prazo que pode muito bem, se aplicada, transformar-se em mais uma adição para o nosso tecido empresarial, que todos os anos vai voltar a querer a boleia de um abaixamento de salários.
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Esta semana estive em várias PME's que até ao Natal têm de trabalhar todos os sábados, dado que estão soterradas de trabalho. E continuam a ganhar mais encomendas.
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Como macro-economista que se preza não profere nem uma palavra sobre o peso do cuco.
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"Como imaginam, nenhum partido vai falar disto no decorrer da campanha eleitoral. Mas um deles vai ter de formar governo. E aqui, uma de duas: ou não faz nada, e será um desastre económico, ou reduz mesmo os salários, e será um suicídio político. O mais provável é que não dure 6 meses.

Proponho uma via melhor: uma vez que o futuro governo vai sair do bloco PS/PSD, que tal estes partidos discutirem o problema entre si e definirem para ele uma solução conjunta?"

domingo, maio 31, 2009

Somos todos alemães (parte III)

José António Saraiva na sua coluna no semanário Sol escreveu "O fim das vacas gordas"
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Concordo, e já o escrevi várias vezes neste blogue, que o futuro, um futuro sustentável, passa pela adopção da via espartana.
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Discordo, e já o escrevi várias vezes neste blogue, que o futuro tenha de passar, como o autor defende, por uma sociedade mais competitiva e mais desumana.
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O autor descreve o futuro que aí vem da seguinte forma:
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"Certos produtos do Oriente, feitos nalguns casos por uma mão-de-obra quase escrava, que antes praticamente não saíam dos locais de origem, circulam hoje às toneladas por todo o mundo ao preço da chuva – esmagando os correspondentes produtos feitos nos países ocidentais.
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A população migrante flutuante – oriunda do Brasil, da África, da América do Sul –, aceita nos locais de destino (sobretudo América e Europa) tarefas e salários que a população aí residente já não aceita – baixando a fasquia dos salários e das regalias sociais nessas regiões.
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As mudanças de linhas de produção de um local para outro (as célebres ‘deslocalizações’) criam atritos entre os trabalhadores dos vários países – aumentando a margem de manobra das administrações das empresas."
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"Se outros produzem os mesmos produtos que nós a preços inferiores; se os imigrantes aceitam trabalhos que nós não aceitamos, recebendo salários inferiores; se as empresas que cá estão podem mudar-se para outros países onde conseguem fabricar as mesmas encomendas com menores custos – então ninguém tenha dúvidas de que vamos ter de ceder nos salários, nas regalias, nas benesses, etc.
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No novo capitalismo global, só há duas alternativas: ou somos competitivos e conseguimos sobreviver ou somos engolidos.
E, para sermos competitivos, temos de passar a viver pior.
Para nós, o tempo das vacas gordas acabou para sempre."
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Ao ler estas linhas lembrei-me logo da célebre previsão de Sérgio Figueiredo e Daniel Bessa qie referi em Para reflectir e Quantas pessoas se aperceberam desta revolução?
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"No livro “How we compete” de Suzanne Berger and the MIT Industrial Performance Center, publicado em Janeiro de 2006, pode ler-se:.Na página 255: “… there are no “sunset” industries condemned to disappear in high wage economies, although there are certainly sunset and condemned strategies, among them building a business on the advantages to be gained by cheap labor” (Please rewind and read again!!!)
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Quando José António Saraiva escreve "E, para sermos competitivos, temos de passar a viver pior." está a seguir as pisadas dos macro-economistas que não têm relações amorosas com clientes, fornecedores e produtos, só consegue jogar com as regras e o cenário que está montado, só vislumbra manobras lineares de Lanchester e esquece as sábias palavras de Hayek:
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" Never will a man penetrate deeper into error than when he is continuing on a road that has led him to great success."
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Não basta trabalhar, há que reflectir sobre as mudanças em curso e reformular as apostas estratégicas, sob pena de se gastarem recursos, sob pena de se continuar a trabalhar em apostas que deixaram de funcionar.
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Voltemos às palavras de Suzanne Berger:
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“… there are no “sunset” industries condemned to disappear in high wage economies, although there are certainly sunset and condemned strategies, among them building a business on the advantages to be gained by cheap labor”
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Ainda ontem referi um exemplo de um futuro alternativo que nenhum macro-economista pode equacionar: Proposta de valor: inovação
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Convido José António Saraiva a procurar nas livrarias a versão portuguesa deste livro Blue Ocean Strategy, a solução não é continuar a produzir os mesmos produtos e serviços, porque além da corrosão mais ou menos lenta do seu valor, há cada vez mais concorrência do preço para aquilo que não é novidade. Quando não se cria valor resvala-se para o mercado da competição pelo preço... e aí até poderemos tentar competir, mas num oceano habitado por muitos tubarões que se comem uns aos outros tingindo o oceano do vermelho do sangue, há sempre mais um new kid in town que pode apresentar preços de arrasar e obrigar os trabalhadores dos concorrentes a "pagar para trabalhar".
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A solução é propcurar oceanos azuis onde a concorrência é menor porque nos concentramos na criação de valor.
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O que José António Saraiva ainda não descobriu é que com a adesão ao euro a nossa salvação e o nosso futuro não é tornarmo-nos romenos ou vietnamitas, é tornarmo-nos alemães como defendi aqui Effectiveness, leapfroging, learning, tails and dogs, aqui Somos todos alemães, aqui Chamem-me bruxo!!! e aqui Somos todos alemães (parte II)
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A micro-economia, feita por pessoas concretas, pessoas que agem com a razão e sobretudo com a emoção, com o lado emocional, pessoas que arriscam, que apostam... iludem qualquer estratégia linear de macro-economista e de burocrata bruxelense.

quinta-feira, abril 16, 2009

Um macro-economista não sabe e não consegue sair do seu molde mental

Ontem, o Jornal de Negócios publicou a tira que se segue:
A tira caricaturiza uma das afirmações que o governador do Banco de Portugal fez, que será a retoma da Europa a puxar pelo retoma portuguesa...
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Esta mentalidade faz-me recordar uma conversa com um familiar no passado Domingo, perguntaram-me "Conheces algum sector de actividade onde haja uma oportunidade para arrancar com um negócio?"
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Os macro-economistas olham para uma época de crise como uma maré-baixa:
Assim, esperam que a maré suba.
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Quando a maré sobe, todos os barcos aproveitam. Até lá há que aguardar.
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"Conheces algum sector de actividade onde haja uma oportunidade para arrancar com um negócio?"
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Todos os sectores estão cheios de oportunidades!
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Quem procura uma nesga de terreno livre, um mercado com procura superior à oferta, segue uma miragem.
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A micro-economia não se pode fiar em marés que subam. Tem de seleccionar clientes-alvo concretos, não abstracções estatísticas e procurar satisfazê-los, oferecendo-lhes uma proposta de valor superior.








quinta-feira, janeiro 22, 2009

A microeconomia descobre caminhos que escapam aos macroeconomistas

"Upbeat on Cape Cod, Despite a Recession" no The New York Times.
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"“Entrepreneurs are by definition more creative and more resilient than big companies,” ... “They’ve been struggling with the economic downturn since September, and now they’ve figured out ways to deal with it.”"

domingo, dezembro 28, 2008

A ingenuidade humana (á inglesa)

Há dias a minha amiga Teresa, em comentário a um postal, escreveu uma frase que atribuiu a Francis Bacon: "Não acredito em nada. Eu sou um optimista"
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Mal li a frase veio-me logo à mente esta outra: "The world can only be grasped by action, not by contemplation." (Jacob Bronowski)
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Hoje ao procurá-la neste blogue, por que já a usei, encontrei mais estas que já não recordava:
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“… the way people make most decisions has little to do with logic, and a lot to do with using simple rules and learning by trial and error. In particular, people try to recognize patterns in the world and use them to predict what might come next.”

“… people tend to hold a number of hypotheses in their heads at once, and to act on whichever seems to be making the most sense at the time.”

Agora vem uma citação que parece retirada de Karl Weick: “One of the best ways to go about a task, anything from putting up some shelves to finding a job, is often to just get started, even if you have no clear idea of the best way to proceed. You try something, then you learn and adapt. “The world,” as Jacob Bronowski once put it, “can only be grasped by action, not by contemplation.” Following this way of thinking, Arthur replaced rationality with a view of people as acting on the basis of simple theories, while adapting along the way.”

“… we’re adaptive rule followers, rather than rational automatons. But the model is surprisingly realistic.”
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“We are alive today because our ancestors had hardwired into their behavior a set of simple rules for making decisions that gave pretty good results – enough for their survival – but have little to do with rational calculation.” (“Inductive Reasoning and Bounded Rationality (The El Farol Problem), por W. Brian Arthur.)
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Tudo isto se conjuga com a mensagem que retiro deste artigo de opinião de Jorge Fiel no DN de hoje "Prever é conduzir com olhos vendados" algo na linha da minha diatribe contra as vistas curtas dos modelos dos macro-economistas (eles são bons, muito bons mesmo, a documentar o que se passou e o que está a ocorrer, como aqui Isto dá quer pensar ... , mas porque só trabalham com modelos hard (Martelar modelos "hard" para explicar a realidade (parte II) ) só podem prever o pior, porque não podem incorporar a ingenuidade (à inglesa) humana.
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E os governos com a sua gestão de expectativas também não ajudam, porque deixam de ser uma referência para informação e passam a ser vistos como centros de propaganda.
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Assim, o que espero para 2009 é que a ingenuidade humana de pessoas anónimas "You try something, then you learn and adapt", um pouco à Mao "Que mil flores floresçam", ajudem a melhorar o panorama, apesar dos planos quinquenais soviéticos e do Grande Planeador.

sábado, dezembro 27, 2008

Martelar modelos "hard" para explicar a realidade (parte II)

Continuado daqui.
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Ontem escrevi isto ...
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"Os burocratas e macro-economistas, por que estão longe da realidade concreta das pessoas e organizações que operam no terreno, só conseguem modelar segundo as leis de Lanchester e equacionar guerras de confronto aberto, em que o mais fortes, os mais armados, os mais poderosos estão em vantagem e ganham sempre."
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... inspirado pelo que li neste artigo do WSJ "Is Productivity Growth Back In Grips of Baumol's Disease?"
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Segundo Baumol, o crescimento da produtividade vai ser cada vez mais baixo porque os serviços têm cada vez mais peso na economia. Como os serviços requerem normalmente mais pessoas e essas pessoas não podem ser 'cortadas' ("Their famous example was a classical string quartet -- there are always four players in a quartet and it always takes about the same amount of time to perform a set piece of music. You can't get any more music out of the same number of musicians over that same period of time.").
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Na indústria é que podíamos assistir a importantes aumentos na produtividade porque era/é possível automatizar e 'cortar' pessoas e, assim, produzir mais com menos ("Sectors where productivity is high and average labor cost low "are those things that can be automated and mass-produced," Mr. Baumol, now in his mid-80s and still teaching, said in an interview. "And things where labor-saving is below average are things that need personal care -- these are health care, education, police protection, live stage performance... and restaurants."")
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São textos destes que me tiram do sério com uma facilidade que nem imaginam. Porque são escritos por gente longe, distante da realidade. Gente que vê os humanos como máquinas racionais que seguem modelos matemáticos à la Lanchester. E que têm a sua mente manietada por essas leis. Não conseguem sair dali.
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Exemplo flagrante é este:
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"Going back to Baumol's disease, it still takes a bartender the same two minutes it always has to make a gin-and-tonic. And an "end to the drops" in productivity referred to in the Fed paper may not be enough to sustain living standards over generations."
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Julgo que esta banda desenhada que se segue é suficiente para ilustrar como a doença de Baumol não faz sentido.
Os macro-economistas só conseguem lidar com a guerra de confronto aberto das 4 primeiras tiras. O que costumo mostrar a seguir nas minhas acções de formação é uma imagem de um míssil SS20.
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Esta guerras de confronto aberto levam sempre a vitórias pírricas, levam sempre à "Destruição mútua assegurada" ("If the sides are pretty evenly matched, the outcome of a war of attrition is likely to be a pyrrhic victory." aqui)
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A quinta tira mostra como se cura a doença de Baumol ponto.
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O bartender pode continuar a fazer gin-tónicos e a demorar dois minutos, mas pode fazê-lo num ambiente diferente. Se ele se concentrar no produto básico, o gin-tónico, então concentrou-se em algo que é fotocopiável e portanto produz uma commodity.
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O bartender pode, além de gin-tónicos, preparar outras bebidas.
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Aquele pormenor "And things where labor-saving is below average are things that need personal care" revela tudo!!!
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Os macro-economistas só conseguem olhar para o denominador da equação da produtividade, onde se cortam os custos, por que isso é algo que podem matematizar e meter nos seus modelos hard.
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Agora meter num modelo hard o lado soft, o lado da criação de valor, o lado do numerador da equação da produtividade, a mensagem principal do gráfico de Rosiello ... isso é matéria de outra galáxia.