domingo, outubro 03, 2010

Para quem se queixa da China... (parte V)

Continuado daqui.
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Ainda ontem na SIC Notícias Cantiga Esteves e Medina Carreira caíam num erro, IMHO, muito frequente: acreditar que o futuro será uma continuação linear do presente.
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É fácil cometermos este erro, basta olharmos para o passado e para o presente... com a vantagem que o posicionamento actual nos dá, é fácil pensar que o presente é um desdobramento linear do passado e não reconhecer a batota subjacente à nossa posição.
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Isto por causa da previsão que faziam para a crescente fatia de criação de riqueza na Ásia em vez de na Europa. Só faz sentido pensar nisso como algo negativo se virmos as coisas como uma guerra, como uma relação ganhar-perder. E por que tem de ser uma relação ganhar-perder? Não pode ser uma relação ganhar-ganhar?
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Há dias a Wired proclamava "The Web Is Dead. Long Live the Internet" e um gráfico demonstrava a eloquência do título... aprisionados pelo mesmo tipo de gráfico que Cantiga Esteves apresentou. Se o máximo é 100% e se a Ásia cresce mais do que a Europa, por mais que a Europa cresça... vai aparecer no gráfico a diminuir. Outro gráfico mostra como a a Web continua a crescer "Is the web really dead?"
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Voltando à Ásia e às previsões sobre o futuro, em Agosto de 2008 especulei sobre algo que deslineariza o caminho para o futuro "Especulação": algo que hoje em dia está, mais do que nunca em cima da mesa:
E para quem, como eu, vai cada vez mais mergulhando as suas convicções no poder do bottom-up, na vantagem anarquista sabe sempre bem ler algo como "India's surprising economic miracle".
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Acredito que estamos a viver as dores do parto de uma nova fase da economia ocidental, uma economia que será muito mais heterogénea, mais próxima do consumidor, mais rápida, menos controlável pelos ditadores do gosto e da moda. Passo a passo, os nossos empreendedores, os nossos empresários hão-de descobrir essa nova economia, mais assente na diferenciação, na oportunidade, na flexibilidade, no efémero, do que hoje. Já o tinha percebido em ""Mavericks no trabalho" de William Taylor e Polly LaBarre (Inovação sem limites, uma rede de gente a trabalhar em "open source") mas é sempre bom descobrir mais crentes:
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"They believe that the inventions and innovations to solve the world’s big problems will come not just from big companies and universities, but from creative and curious people working off their own back, in their own time, on their own ideas." (BTW, vejam este material, o sugru...)
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Continua
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BTW, nada de dúvidas, em tudo o resto de acordo com Cantiga Esteves e Medina Carreira.

Auto-flagelação

Acerca disto... o que me vem à cabeça é isto:

sábado, outubro 02, 2010

Para quem se queixa da China... (parte IV)

Continuado daqui.
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David Birnbaum dá mais uma pista para quem opera no mundo da moda numa sociedade de consumo em que quem manda são mesmo os consumidores. Os imperadores do gosto já não influenciam a maioria dos consumidores, como diz alguém que conheço "Um dia até as tatuadas vão ser avós!".
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Ou seja, na linguagem deste blogue: "Mongo rules!!!" A heterogeneidade alastra por todo o lado e manifesta-se sempre que possível.
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"To survive in a consumer-driven consumer society, the retailer must first determine just what items the consumer wants to buy, leading to some serious problems:

  • the consumer will not know what thet want to buy until they see the garment in the store;
  • the list of potential items is enormous and, even worse, continually changing;
  • few potential items become the real big-selling items;
  • placing standard size orders for all or even most potential items will result in masses of unsold garments and bankruptcy.
In a perfect world, the solution would be TRIAL ORDERS. Arrange for the factory to produce and ship an entire array of styles and looks in small quantities... Let the consumer decide which items they like best. Declare those to be the items and arrange for the factory to quickly produce and ship large quantities.
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Of course, in the old sourcing system, where production and postproduction required 20 weeks, if a trial order arrived in the store on 15 August, you could expect in-store delivery for your large order around the end of the year, provided you made all the necessary decisions ten minutes after the trial order arrived. Not a practical solution." (Moi ici: os que souberem lidar com este desafio, os que aprenderem a aproveitar esta oportunidade vão colher o grosso dos benefícios, não basta esperar pelo regresso dos clientes. Eles vêm à procura, ou podem ser seduzidos, por um outro modelo de relacionamento entre a fábrica e a loja... Será que a fábrica consegue deixar de se comportar como a bronca da relação? Sim, eu sei que os clientes às vezes também agem como broncos...)
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"Working with trial orders in a speed-to-market system allows the retailer to determine just what the consumer wants and to provide that with a minimum of risk. Lowest-common-denominator fashion (Moi ici: essencial para minimizar os riscos no modelo anterior de sourcing) disappears completely. Successful speed-to-market with its accompanying trial orders the retailer to differentiate themselves from other retailers and to maintain design integrity. The whole purpose of moving fast is to create excitement - to continually provide the consumer with items that are new and different (Moi ici: conseguem visualizar, pressentir, cheirar o mundo de oportunidades que se esconde por detrás deste mudança de modelo?).
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"In the 21st century industry, all successful strategies rely on speed-to-market. Speed-to-market, in turn, can operate only where there exists trust, cooperation and collaboration between customer and supplier. To achieve this, we must change the very nature of our industry strategies." (Moi ici: e as fábricas conseguem guarnecer-se de talento para falarem como parceiros com as marcas e não como recebedoras de encomendas? E os fabricantes de máquinas conseguem agarrar a oportunidade de desenhar as máquinas que permitirão trabalhar com estas séries e frequências? E o lean aqui não será de muito uso, estamos a falar de uma nova organização da produção... como a Canon e a minha pedra de Roseta)

Il Duomo

sexta-feira, outubro 01, 2010

se Fátima Campos Ferreira descobre...

Esta manhã assisti à apresentação de Soumodip Sarkar no #tedxedges.
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A certa altura apresenta uma imagem da garagem com nasceu a HP, onde nasceu Silicon Valley.
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Depois, mostra outra imagem de uma garagem ...
... a garagem onde Steve Jobs começou.
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Depois, mostra ainda outra outra imagem de outra garagem...
A garagem onde começou a Google.
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Depois desta sequência lança a sugestão "Se criarmos mais garagens... teremos mais empreendedores"
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Soumodip Sarkar brincava... mas se Fátima Campos Ferreira descobre... vamos ter um Prós & Prós a fazer lobby para que o governo lance uns estímulos a fundo perdido para a construção de garagens

Estímulos e conversa da treta

Ouvi no noticiário das 17h numa rádio, o comentário de Van Zeller à prometida agitação social.
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Houve um tempo em que julgava que esta gente tinha alguma vergonha na cara... ingenuidade minha.
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A mesma gente que há um ano andava com este discurso todo cheio de "caines":
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"O facto de o país poder voltar a entrar numa crise se o Governo decidir retirar os apoios estatais às empresas, preocupa bastante o presidente da Confederação da indústria Portuguesa (CIP), Francisco van Zeller. É preciso « manter os apoios que estão a ter lugar, porque se retiram os apoios há o perigo de se regressar à crise» afirma Francisco Van Zeller. Para o presidente da CIP ainda «não é seguro (retirar os apoios) e é preciso manter muita atenção», apesar da situação actual ser melhor do que há 6 meses."
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Ainda hoje, João Miranda no Blasfémias chamou a atenção para a treta dos estímulos e do seu impacte na economia:
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"Ou seja, por cada 5000 milhões de estímulo keynesiano o PIB cresce uns ridículos 800 milhões de euros. É necessário gastar 6 euros para que o PIB cresça 1 euro. E assim morre a mais recente encarnação do keynesianismo em Portugal. Morre com a confissão de que os políticos não sabem ao certo qual o impacto dos estímulos no PIB e com a admissão de que esse impacto é na melhor das hipóteses ridiculamente pequeno."
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Pois...
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"As painful as it may be, investing in innovation is what will get the pie growing again." (Moi ici: Não são os estímulos!!!)
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"When faced with a shrinking pie, all leaders are faced with a similar calculus: how to focus inadequate resources (when a pie is shrinking resources are always inadequate)" (Moi ici: Com os estímulos, as empresas sustêm a respiração e em vez de se refazerem, aguardam até que tudo e todos volte ao antigo normal... podem tirar o cavalinho da chuva.)
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"Change is never popular, and future investments cannot be completely evaluated until after they have been made, so the natural tendency is to avoid bold initiatives even when they are desperately needed." (Moi ici: E os estímulos só desestimulam a mudança necessária)
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Trechos retirados de "Innovation Economics: The Pie Must Get Bigger"

Para quem se queixa da China... (parte III)

Continuado daqui.
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Já estudaram a batalha de Canas?
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"Batalhas Históricas - Batalha de Canas"
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"Em Canas, os romanos não tinham táctica alguma, simplesmente agiram com força bruta contra um oponente ágil e inteligente."
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Canas é um evento que há muitos anos me seduz... como vencer os mais fortes, os mais dotados de recursos, os mais arrogantes, os mais imperiais, os incumbentes, os mais lentos, os mais instalados.
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Continua!

Rumo à subversão!

Para formadores, professores, apresentadores

Encontrei mais um interessante sítio na internet com ideias, experiências e sugestões para melhorar as apresentações e o uso do Powerpoint "18 Tips on How To Conduct an Engaging Webinar" de Olivia Mitchell.

Pode ser positivo

Esta acção "Madeiras, mobiliário e colchões fundem-se".
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Não conheço pormenores da movimentação.
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Penso apenas no mundo de possibilidades que se abre quando uma empresa deixa de pensar no que faz, e começa por pensar nos clientes.
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"the goal is not to find customers for your products, it's to make products for your customers." (Moi ici: quem são os clientes-alvo? Quais são as suas necessidades? O que procuram? O que lhes faz falta?)
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Pode ser que esta fusão obrigue, facilite uma nova abordagem das empresas ao mercado, começando pelos clientes e pelas suas necessidades e não pelos produtos.

A heterogeneidade não é bem vista pelo poder

A heterogeneidade não é bem vista pelo poder pois impede-o de seguir (na verdade não impede e esse é um dos males) as tão amadas estratégias top-down.
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Basta recordar esta série "O lugar do Senhor dos Perdões" para perceber que esta linguagem "«Maioria das empresas não têm condições para aumentar salários»" é absurda.
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Não faz sentido olhar para os sectores económicos como entidades homogéneas:
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"Quando os macro-economistas falam sobre o desempenho, sobre a produtividade de um sector de actividade, como o calçado, como o têxtil, como o mobiliário, falam de um bloco homogéneo, coerente, maciço... como se todas as empresas, imersas no mesmo ambiente competitivo, tivessem o mesmo comportamento".
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Só há uma alternativa: bottom-up; bottom-up; bottom-up

Desafiar a nossa visão do mundo

"We found that China’s export sector contributed 19 to 33 percent of total GDP growth between 2002 and 2008"
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"exports have been an important driver of China’s growth, but not the dominant one, and that most common wisdom overestimates the role of exports while underestimating the role of domestic consumption for China’s growth. Any Chinese or multinational company that currently manufactures goods in China and primarily exports them to other countries should ask itself whether it needs to scale up its domestic strategy to get a bigger piece of the pie. This involves developing a more granular understanding of the Chinese market, making products that appeal to the Chinese consumer, and finding ways to market and distribute them effectively—all while contending with increasingly formidable Chinese competitors."
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Trechos retirados de "A truer picture of China’s export machine" incluído no The McKinsey Quarterly.

quinta-feira, setembro 30, 2010

O Estado Moloch

Ulrich também tinha falado nesta possibilidade

Ontem à noite:

Para quem se queixa da China... (parte II)

Continuado daqui.
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FULL VALUE COST = EXPECTED RETAIL PRICE - PROFIT
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"Clearly it is also the retailer's primary goal to ensure that ALL GARMENTS IN THE STORE SELL AT FULL RETAIL PRICE.
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Just to repeat, the difference between that goal and the present situation is markdown. Markdown is time-related. The longer the lead time, the greater the markdowns. Fashion designed a year in advance is an oxymoron and will simply be "in fashion". When lead times between designer's first sketch and in-store stock delivery approach a full year, we must expect that many garments will not sell and a 30%+ markdwn rate should be expected. As end consumers recognize that by waiting they can buy the same garment at a much reduced price, the markdown percentage of total sales can only continue to rise.
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The only way to break this vicious cycle is through SPEED-TO-MARKET."
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Speed-to-market... proximidade, proximidade.
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"With the move to a consumer-dominated consumer society and the ensuing markdown epidemic, speed-to-market has now evolved from being an interesting secondary cost advantage to a fundamental requirement in order to survive."
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"The advantages of speed-to-market are so compelling that brand name importers and retailers must make the necessary changes, regardless of how painful they are. Three potential benefits stand out:
  • The garments will reflect the latest item;
  • The garments will have design integrity;
  • The customer can place trial orders.
O mundo de oportunidades que esta mudança acarreta... pena que muitas empresas portuguesas fiquem contentes com o regresso dos clientes que tinham ido para a Ásia sem perceber por que é que eles regressaram. Assim, não vão fazer valer uma proposta de valor do serviço e, muito provavelmente, continuarão na proposta de valor do preço mais baixo.
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Continua.

Um exemplo a emular por tantas empresas

Um exemplo para todos aqueles que julgam que a sua empresa não tem saída, que os clientes a estão a abandonar, que não consegue custos mais baixos que a concorrência.
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Não desespere, talvez haja uma alternativa:
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"reflects a new direction for a company that had previously based its competitive strategy on price and location." (Moi ici: uma estratégia que deixou de funcionar, em vez da lenta erosão... decidir mudar)
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"In a bland, undifferentiated market, consumers tended to buy paper and ink at one store or the other based on convenience, rather than any sense of brand loyalty" (Moi ici: se são todos iguais... que sentido faz ser leal? Não há diferença!)
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"the goal is not to find customers for your products, it's to make products for your customers." (Moi ici: quem são os clientes-alvo? Quais são as suas necessidades? O que procuram? O que lhes faz falta?)
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"If you wanted to understand the behaviors of a long lost tribe in the Amazon, you wouldn't send them a census survey. You'd observe them," ... "Ethnographies are a critical component of our innovation process.""
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Trecho retirado de "How to Kick Off an Innovation Project"

Novos tempos - não é o stock é o fluxo

Comparar esta abordagem "Don't Protect Your Property" com esta outra experiência "How Chocolate Can Save the World"

Quem me dera não ter memória... era muito mais feliz

Hoje leio isto "Por favor, entendam-se" escrito pela mesma mão que há dois anos escrevia "O fundamental, neste momento, é que haja investimento. Sob a forma de investimento público ou em articulação com o sector privado. Já nem interessa se esse investimento é rentável ou não"
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Agora serve de pouco dizer que sempre tivemos razão "Nós vamos pagar caro este deboche, muito, mas muito caro."

quarta-feira, setembro 29, 2010

Quem me dera não ter memória... era muito mais feliz

"Ora, a execução orçamental do primeiro semestre de 2010 mostra que o programa de consolidação está a produzir resultados. A despesa pública está abaixo do padrão de segurança. A receita fiscal aumentou, com especial significado para o IVA, o que é efeito e indicador da reanimação económica. De Janeiro a Junho, a receita fiscal aumentou 6,3%, cinco pontos acima do orçamentado. Também aumentou o volume das contribuições para a Segurança Social, outro sinal de recuperação da actividade das empresas.

Estamos, pois, a percorrer o caminho da consolidação das contas públicas. É um caminho necessário, para que Portugal contribua para a defesa da moeda única e disponha das melhores condições possíveis para o financiamento da sua economia!"
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"Estes são factos. Factos indesmentíveis. Uma boa execução orçamental no primeiro semestre, com a despesa abaixo do padrão de segurança. A economia está a crescer, puxada pelas exportações, e o desemprego registado começa a cair. Reduziram-se as desigualdades e o risco de pobreza atingiu o valor mais baixo de sempre. Caiu a taxa de abandono escolar, ou seja, há mais alunos na escola durante mais tempo e com melhores resultados."
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O meu irmão algures nos anos 80 apareceu em casa com um LP de música e anedotas de um tal Juca Chaves "Sou sim e daí?" O cantor, no refrão ao menos era feliz

Trabalhar com um artesão não tem nada a ver com a experiência de trabalhar com um funcionário

Já aqui falei da minha oficina "Capital intelectual, a teoria e a prática."
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Hoje voltei à oficina para ir buscar um VW Golf com matrícula de 94 que guardo como recordação do meu pai.
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O mecânico, dono da oficina, contou-me, mostrou-me o que fez com o problema que o carro tinha.
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O que me impressionou foi o lidar com alguém que gosta do que faz, que conta as histórias com um brilho nos olhos. O homem não faz um frete, cada carro é um desafio pessoal.
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Haviam de ver o gosto com que contou como finalmente descobriu onde é que a ficha de testes deste modelo estava localizada.
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Trabalhar com um artesão não tem nada a ver com a experiência de trabalhar com um funcionário. E não é preciso ser patrão como a Linda demonstra ""

Mambo-jambo, treta, mitologia, optimismo não documentado exuberante

"Para aumentar a produtividade, o economista defende que é necessário implementar "reformas estruturais em vários sectores", sublinhando a Educação como uma das prioridades, e ainda no mercado laboral."