sexta-feira, junho 20, 2014

"O pequeno negócio pode ser muito melhor."

Nada que não se escreva por este blogue há muitos anos e que não se pratique no dia-a-dia na minha actividade de consultoria com PMEs.
"Como é que as pequenas e médias empresas (PME) podem competir contra grandes multinacionais no mercado globalizado de hoje? Que estratégias devem adoptar? .
A maneira mais fácil de determinar a forma de competir com as grandes empresas é olhar para as questões com as quais as multinacionais têm dificuldade em lidar. [Moi ici: Onde é que a PME pode, agindo como David, fazer a diferença?] As multinacionais queixam-se geralmente de que as pequenas e médias empresas são concorrentes difíceis, porque têm produtos de boa qualidade a preços mais baixos, são mais rápidas, mais flexíveis e estão mais perto dos clientes. O meu conselho é do que as PME escolham pequenos mercados e os abordem de formia adequada, em vez de se dispersarem por muitos países. Este é o caminho para construir um negócio sustentável.
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Que lições podem as PME aprender com as multinacionais? .
A primeira lição é a de que  um bom produto é o mais importante para as PME. É necessária dedicação na construção da marca. [Moi ici: Fundamental, desenvolve marca para fugir do granel e ganhar individualidade e potenciar relação, potenciar interacção] As PME devem certificar-se de que as relações com os distribuidores  são excelentes e constantemente estimuladas.
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No actual quadro, qual dos conceitos de negócios é preferível, °small is beautiful" (pequeno é bonito) ou "big is better" (grande é melhor)?
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O pequeno negócio pode ser muito melhor. Tenho clientes de grandes multinacionais que estão a arrancar os cabelos para conseguirem competir com algumas pequenas empresas ágeis e agressivas. [Moi ici: Golias a competir com David? Recordar Arreguín-Toft] Todas as multinacionais são vulneráveis. Se você olhar a lista Fortune 500 de há 25 anos e a actual, concluirá que só menos de 40% das empresas ainda estão nessa lista."
Pena que este discurso, semelhante ao deste blogue, não tenha mais divulgação. Bloquearia os produtores de cortisol que só vêem desgraças e só sabem carpir com saudades de um passado idealizado e romantizado onde eram protegidos, onde não havia globalização, onde... corria leite e mel. E abriria esperança para quem trabalha, para quem experimenta, para quem arrisca.
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Trechos retirados de "Nenad Pacek: "Um bom produto é o mais importante para as PME""
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Continua

A palavra da moda


quinta-feira, junho 19, 2014

Interessante esta evolução

Mal li "TomTom abre portas a programadores de aplicações" relacionei logo com uma tendência que se vê com alguma frequência.
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Interpreto a notícia como uma mudança de foco da TomTom.
O foco deixa de ser o produto!
O produto é transformado numa plataforma, e o rendimento virá não tanto da venda do produto, mas do funcionamento da plataforma.
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E no seu sector, e na sua empresa, faz sentido pensar a nível de plataforma?
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Deixe de pensar no seu negócio em termos concretos e suba na escala de abstracção.
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Engraçado, ainda ontem recebi uma lição de alguém que me chamou a atenção, para a necessidade de eu próprio fazer essa subida na escala da abstracção em relação a um produto clássico.

Focar a atenção no desenho e construção de oportunidades

Quando se fala da superioridade dos frutos portugueses não se costuma falar disto:
Que é feito da frescura, sabor, ...?
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A propósito disto:
""Em vez de vendermos as pêras durante 11 meses, teremos de as vender em seis e o sector vai perder rentabilidade, porque contribui para aumentar a ofertar e reduzir os preços, as exportações e os postos de trabalho", afirmou."
Procuro logo oportunidades.
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A pêra rocha portuguesa não poderá ser vendida como antigamente. E a pêra de outros países, não será também afectada? Que oportunidades podem surgir? Que oportunidades podem ser construídas?
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Mais uma vez, a importância da ponderação. Olhar para o filme com algum grau de abstracção, pensar no desafio com antecedência:
"Os últimos três anos funcionaram como prazo de adaptação, em que o setor deveria encontrar alternativas eficazes que, apesar dos vários estudos de investigação em curso, ainda não existem, e pode beneficiar de autorizações especiais para usar um outro antioxidante, a "etoximina"."
Levaram a expoitation até ao fim, e a exploration?
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O pensamento estratégico não pode ser reservado para eventos específicos, tem de ser constante, o que pode vir aí? O que vai ou pode mudar?
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Em vez de concentrar o pensamento na minimização das perdas, focar a atenção no desenho e construção de oportunidades. Nem de propósito este título "Don't Weep For The Past; Plan For The Future"
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Entretanto:

E no seu sector, para onde vai o mundo?

Voltando novamente a:
"Executive programs allow us to watch people who never worked lecture people who never pondered."
Acrescentemos isto:
"You sometimes hear managers complain that their organization has no strategy. This isn’t true. Every organization has a strategy: its strategy is what it does.  Think about it. Every organization competes in a particular place, in a particular way, and with a set of capabilities and management systems — all of which are the result of choices that people in the organization have made and are making every day." 
O problema da não ponderação é a falta de olhar para o que se faz com algum distanciamento que permite uma certa abstracção.
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Por exemplo, a evolução do sector do leite , referida à dias em "Uma evolução mais do que previsível", leva a pensar na vantagem que quem pondera pode ter sobre quem vai andando e vendo.
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E no seu sector, para onde vai o mundo? Que alternativas de actuação?

quarta-feira, junho 18, 2014

Quando o mundo muda, as ideias que funcionavam deixam de ser úteis

Ontem, favoritei este tweet de Nassim Taleb:
"Executive programs allow us to watch people who never worked lecture people who never pondered."
Os gerentes das PMEs, porque não têm tempo ou motivação  para assistir a estes programas executivos, acabam por não serem sujeitos às ideias obsoletas dos que nunca trabalharam e, por isso, têm a mente livre para experimentar, quando são encostados à parede pelo andamento do negócio.
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Quando o mundo muda, as ideias que funcionavam deixam de ser úteis.
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Como é que os que não trabalham, podem descobrir quais são as novas ideias que podem funcionar?
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Continua, porque não ponderar também tem custos graves.

As PMEs anónimas e os outros

Este título "Alemães da Enercon pedem ao Governo português mais espaço para crescer":
"A alemã Enercon, que tem em Viana do Castelo um "cluster" eólico com mais de 1.600 trabalhadores, quer que o Governo português estude soluções para ampliar a capacidade que as suas fábricas têm de continuar a vender torres eólicas para o mercado interno português, de forma a não ficar totalmente dependente das exportações."
Ou seja, uma nova versão das auto-estradas para dar trabalho às construtoras. Assar sardinhas com o lume dos fósforos... a lata desta gente... Gente com o direito adquirido a ter queijo todos os dias.
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Outro título "Sete investimentos de 391 milhões criam 406 novos empregos":
"Paulo Portas anunciou esta terça-feira sete novos projectos de investimento, que totalizam 391,2 milhões de euros e garantem um total de 1.784 postos de trabalho (sendo 406 novos)."
Basta fazer as contas. 391,2 milhões de euros a dividir por 406 novos empregos dá ... cerca de 963 mil euros por posto de trabalho criado... quanto desse dinheiro virá da impostagem aos contribuintes?
"O momento foi ainda aproveitado para fazer um balanço dos três anos de Governo PSD/CDS no que ao investimento diz respeito. O valor captado neste período foi de 1.607 milhões de euros, que receberam incentivos fiscais no valor de 158 milhões, ou seja, cerca de 10% do total.
No último triénio foram criados 2.351 postos de trabalho no âmbito destes projectos. Os investidores estrangeiros tiveram maior preponderância, representando 56% do valor dos investimentos."
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Comparar estas tretas com o desempenho das PMEs anónimas que fazem pela vida sem as benesses do poder...
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Como se pode ler aqui:
"As exportações geram o desenvolvimento virtuoso do consumo e da economia. Em mercados onde o que conta é a capacidade de inovar. De competir. De lutar de forma aberta. Onde Keynes não está. Mas onde estão os empreendedores. Empresários e trabalhadores. Indivíduos. Com visão. E com futuro. E ganha o país."

Por isto é que March defende a ambidestralidade das empresas.

E volto ao postal acerca da eventual bolha nos mirtilhos.
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Ontem à noite, numa breve troca de tweets acerca do tema e, sobretudo, acerca da reacção do presidente da cooperativa, fiquei encravado numa reflexão.
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Pelo calendário da reacção:
"lembrou que a Holanda vai deixar de comprar o fruto a Portugal na próxima semana"
Parece que só agora acordaram para o que vai acontecer para a semana...
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Entretanto, após alguma investigação, fico perante duas posições. Esta:
"Em declarações à TSF, o presidente da Mirtilusa explicou que o aumento de produção de 70 para cem toneladas pode colocar em causa alguns dos projetos de financiamento que alguns produtores se candidataram.
«Se não conseguirmos exceder [Moi ici: Presumo que seja "escoar"] o stock esta semana o mais provável é interromper a apanha do fruto. Só que isso vai ser o caos, porque vai toda a gente refletir em relação à produção de mirtilos», explicou José Carlos Sousa."
E esta outra, daqui:
"No final deste ano, as plantações de mirtilos em Portugal irão atingir os mil hectares. Segundo várias previsões, o crescente aumento do número de plantações que atualmente se verifica levará a que a produção deste pequeno fruto venha a atingir as quatro mil toneladas anuais em 2018, a maioria destinadas à exportação para países da União Europeia."
Entretanto, em 2010 escrevia-se:
"A produção actual, que ronda as 120 toneladas anuais, [Moi ici: Há aqui qualquer incoerência entre a produção de 2010 e a referida lá em cima. Acredito que a lá de cima seja a prevista para recolher só esta semana] deverá atingir as 419 toneladas em 2014, prevê a AGIM - Associação para a Gestão, Inovação e Modernização do Centro Urbano de Sever do Vouga, instituição criada pelo município para, entre outras tarefas, apoiar o desenvolvimento e a promoção do mirtilo enquanto recurso do concelho."
Sem querer ser mal educado, ao ler isto:
"segundo dados do Ministério da Agricultura, o setor da produção e comercialização do mirtilo já é responsável por mais de 36 milhões de euros de exportações e, segundo algumas previsões, poderá ultrapassar a barreira dos 50 milhões de euros dentro de cinco anos, podendo chegando chegar aos 215 milhões de euros em 2023." 
Recordo-me deste título "Why Trends Are For Suckers":
"It feels good to be trendy.  You can be sure that you’ll have a lot of company.  And that’s exactly the problem.  It’s easy to go wrong when everybody around you thinks it’s right.
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All trends fail at some point because they sow the seeds of their own demise."
 Aquela previsão do Ministério da Agricultura faz-me lembrar aqueles esquemas das paisagens competitivas enrugadas e a exploração & exploração de March.
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Em 2010 estávamos aqui:
Em 2013 tínhamos feito esta evolução:

Depois, quando equacionávamos um novo t3 ainda mais alto... a paisagem mudou:
Por isto é que as estratégias nunca são eternas...
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Por isto é que March defende a ambidestralidade das empresas. Têm de, ao mesmo tempo, fazer a "exploitation" do negócio actual e, nunca confiando no amanhã como um prolongamento assegurado do hoje, fazer a "exploration", procurar as actividades que hão-de dar vida e continuidade ao negócio no futuro.
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Mas isto implica pensar que o pior pode acontecer, é um produto tremendo da inteligência humana, sermos capazes de, além do polegar oponível, apostarmos numa ideia ao mesmo que a pomos em causa com a sua ideia oposta. Ou seja, implica pensar estrategicamente... recordar a casca de noz no meio do oceano, não o podemos mudar, mas podemos tentar perceber para onde pode ir:

Um conselho para os produtores de mirtilho. Agora, estão a chegar ao primeiro degrau desta escada:

Têm uma commodity.
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Já têm marca? Já têm marketing? Já vendem mais do que o fruto simples?

Para reflexão

"Descobri ainda, debaixo do Sol,
que a corrida não é para os ágeis,
nem a batalha para os bravos,
nem o pão para os prudentes,
nem a riqueza para os doutos,
nem o favor para os sábios:
todos estão à mercê das circuns­tâncias e da sorte."
Eclesiastes 9:11
Está cá tudo.
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Isto retrata porque é que as estratégias mesmo quando resultam no presente, não duram sempre.

E por cá, quantos anos mais vai demorar?

Quantos anos mais vai demorar, por cá, a fazer-se esta mudança de paradigma?
"Bad ideas don’t die just because they are bad. They hang around until a consensus forms around another idea that is better. This is what’s happening now with a stupid idea has dominated American business for the last four decades: that the purpose of a firm is to maximize shareholder value. The massive problems that this notion has caused for business and society have been documented. Even Jack Welch has called it “the dumbest idea in the world.” Yet it remains the conventional wisdom throughout much of big business. What’s different now is that a consensus is forming around a better idea."
Teremos de esperar pela contribuição dos cemitérios?
"The report’s most important finding is that majority of the thought leaders who participated in the study, particularly corporate executives, agreed that “the primary purpose of the corporation is to serve customers’ interests.” In effect, the best way to serve shareholders’ interests is to deliver value to customers." 
E os novos que continuam a ser formatados pelos velhos?
"“If [corporations] make it their purpose to maximize shareholder value, shareholders are likely to suffer because that cravenness turns off customers, employees, and the world in general. If they make it their purpose to serve customers brilliantly, be a fabulous place to work, and contribute meaningfully to the communities in which they operate, chances are their shareholders will be very happy.” The key is to see that it’s not a tradeoff." 
Trecho retirado de "Why The World's Dumbest Idea Is (Finally) Dying"

Curiosidade do dia



17h de ontem.
Roriz, Penalva do Castelo.
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Deve ser isto a que se chama de tabique.

terça-feira, junho 17, 2014

David contra Golias no ténis

Mais um relato do confronto de David contra Golias, "The Strategy Behind Serena’s Worst Ever Grand Slam Loss".
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Recomendo a leitura especial daquele trecho "Where to Play?"
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Nunca combater um adversário no terreno que lhe dá mais vantagem. Ou, na linguagem da Teoria dos Jogos:
  • "Lesson #1: Do not play a strictly dominated strategy"

"Think Differently About Scale"

Outra nota retirada de "The Disappearing Middle Is a Real Market Threat — Here’s What Firms Can Do" que muito nos apraz é esta:
"Think Differently About Scale.
Historically, we have thought about the benefits of scale as being cost or supply based — with more scale comes the ability to offer the same set of benefits at lower cost. But this is no longer the case. Indeed, in category after category, technology and the globalization of production has made smaller offerings more economically viable. An offering that is tailored to appeal to a small segment of people — who are willing to pay a lot for it — is far more likely to be successful in today’s global, digitally-connected business environment. [Moi ici: I rest my case. O que é isto senão a base para Mongo, para o Estranhistão onde "we are all weird"]
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As a result, aiming for the “middle of the market” is no longer necessary to drive business success. For large companies, the advantage of scale will no longer come from applying it just to the supply side of the business, but also the demand side. With scale comes the ability to generate superior consumer understanding, something most companies spend relatively little to understand."

A Grande Recessão não o gerou, apenas o acentuou

Via Twitter, fui encaminhado para este texto "The Disappearing Middle Is a Real Market Threat — Here’s What Firms Can Do" onde leio logo à cabeça:
"The Great Recession forced consumers to drastically rethink their purchase behaviors and, even though many have regained their financial footing in the five years since the downturn officially ended, those buying patterns have remained. As a result, more and more products are moving toward the “value” or “premium” ends of the spectrum, leaving a middle market that is struggling to remain relevant."
 Não creio que esta tendência tenha sido criada pela Grande Recessão. Terá, quando muito, acelerado uma tendência que vinha de trás.
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Nunca me esqueço de um brilhante artigo na The McKinsey Quarterly de Novembro de 2005, “The vanishing middle market”. Muito antes do choque da Grande Recessão.
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Recordar também "Polarização do mercado ou como David e Golias podem co-existir"

Uma evolução mais do que previsível

O leite é a commodity alimentar por excelência, lembram-se de "O leite é a commodity alimentar por excelência"?
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Lembram-se da evolução do efectivo médio das explorações leiteiras em Portugal? E da comparação com outros países? Recordar "O leite: Os factos, a treta socialista e os apoios mafiosos".
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Agora, leiam isto "Portugal perdeu 90% das explorações leiteiras em 20 anos":
"A produção leiteira conheceu nas últimas duas décadas uma autêntica revolução. O número de produtores passou de cerca de 61 mil, na campanha de 1993/1994, para menos de 7000, na mais recente campanha (2013/2014).
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A evolução dos números acaba por reflectir uma mudança de paradigma na operação sectorial, que nos finais da década de 1980 estava ainda muito assente numa estrutura de pequenas explorações, com um número muito reduzido de animais e com uma produção muito pouco sustentável. Parte substancial do sector não dispunha de ordenha mecanizada própria, fazendo entregas em postos de recolha que regularmente eram visitados pelos camiões-cisterna das cooperativas ou em instalações de ordenha colectiva – algo que dificultava a operação e punha em risco a qualidade do leite recolhido.
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Fruto deste desenvolvimento empresarial, o potencial das explorações que foram desaparecendo foi sendo transferido para aquelas que tinham capacidade de expansão, de tal forma que, no espaço de duas décadas, a produção média por exploração disparou praticamente dez vezes – de 25 toneladas por exploração, em 1993/1994, para 264 toneladas por leitaria, na campanha mais recente. Só neste século, sustenta Fernando Cardoso, verifica-se “uma multiplicação por três do efectivo leiteiro médio de cada exploração”.
Lembram-se de "Como surgem os Golias e pistas para o aparecimento de Davids" e desta figura?
Uma evolução mais do que previsível.

segunda-feira, junho 16, 2014

Curiosidade do dia


Esta tarde, em Sinde no concelho de Tábua.
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Tentem contar o número de anéis neste pinheiro.
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Cada anel representa um ano.

Bolha de mirtilho?

Ouvi no noticiário das 15h de Domingo, na TSF, que se está a assistir ao entupimento dos canais de escoamento da produção de mirtilhos. A Holanda, tradicional mercado de destino, passou a ser auto-suficiente e, agora, os preços estão em queda livre e, mesmo assim, não há garantias de escoamento.
"O excesso de produção do mirtilo em Portugal, que coloca alguns jovens produtores em apuros, está relacionada com o facto de Portugal ter cada vez menos capacidade de escoar o fruto para mercados externos.
A empresa que concentra a comercialização e exportação de mirtilos em Portugal vai vender este fruto por cerca de metade do preço habitual entre segunda-feira e sábado, por causa do excesso de produção em relação à procura.
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«Para consumirmos tanto mirtilo e tanta plantação que está a ser feita, as pessoas têm de abdicar de todo o género alimentar e comer só mirtilos. Acho que é uma loucura incentivar tanta gente a fazer plantações», acrescentou."
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A ser verdade, trata-se de algo que era expectável, os financiamentos que facilitam, ou valorizam, sobretudo determinados investimentos, mais tarde ou mais cedo, geram estas bolhas (recordar a bolha azeiteira).
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Na fase inicial, em que dizem aos potenciais investidores que o escoamento está garantido, receio que muitos deles se concentrem na exploração, na produção, sem qualquer preocupação sobre o mercado.
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Como produtor, ou como membro de uma cooperativa responsável pelo escoamento, não entraria em pânico. Trabalharia para o futuro, procuraria o exemplo de mercados mais maduros, para aprender que outras formas de trabalhar o mirtilho poderão ser experimentadas. E, introduziria pensamento estratégico no desafio. Já não basta produzir, há que pensar no mercado, em clientes-alvo, em vários tipos de prateleiras, em novas formas de oferta, em subir na escala de valor, em diferenciação.
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Trecho retirado daqui.

"getting insurgents to behave is fundamentally a math problem."

Ainda me consigo admirar com o que vou descobrindo acerca do impacte dos economistas e da sua visão da sociedade povoada por econs. É impressionante o poder que tiveram e ainda têm.
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Ontem, ao ler mais um capítulo de "David & Goliath" de Malcolm Gladwell apanho com mais esta:
"The same year that Northern Ireland descended into chaos, two economists - Nathan Leites and Charles Wolf Jr.- wrote a report about how to deal with insurgencies. Leites and Wolf worked for the RAND Corporation, the prestigious think tank started after the Second World War by the Pentagon. Their report was called Rebellion and Authority. In those years, when the world was exploding in violence, everyone read Leites and Wolf. Rebellion and Authority became the blueprint for the war in Vietnam, and for how police departments dealt with civil unrest, and for how governments coped with terrorism. Its conclusion was simple:
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Fundamental to our analysis is the assumption that the population, as individuals or groups,
behaves “rationally,” that it calculates costs and benefits to the extent that they can be related to different courses of action, and makes choices accordingly.…Consequently, influencing popular behavior requires neither sympathy nor mysticism, but rather a better understanding of what costs and benefits the individual or the group is concerned with, and how they are calculated.
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In other words, getting insurgents to behave is fundamentally a math problem. If there are riots in the streets of Belfast, it’s because the costs to rioters of burning houses and smashing windows aren’t high enough. And when Leites and Wolf said that “influencing popular behavior requires neither sympathy nor mysticism,” what they meant was that nothing mattered but that calculation. [Moi ici: Apetece dizer; Ah! Percebo agora o pensamento por detrás de certas campanhas publicitárias que, IMHO, só criam inimigos da marca publicitada] If you were in a position of power, you didn’t have to worry about how lawbreakers felt about what you were doing. You just had to be tough enough to make them think twice." [Moi ici: Se lerem este capítulo, pensem em todos aqueles professores que o são, sem vocação, porque não havia outro emprego mais à mão, e que espezinham o futuro de tantas crianças. Porque aplicam Leites e Wolf, autoridade para cima dos miúdos.]
Quantas áreas da nossa vida, da nossa sociedade, da nossa economia, são controladas, são comandadas, são influenciadas por tretas deste tipo, de outros Leites e Wolfs bem intencionados e que infernizam a vida das pessoas?

"Rendimentos dos pescadores "têm de melhorar""

"O presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, salientou hoje que o investimento público em infraestruturas no setor das pescas tem de se traduzir na melhoria do rendimento dos pescadores.
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"Não podemos ficarmo-nos apenas por aquilo que estas infraestruturas significam de construção física, elas têm de ter efeito e o efeito que têm de ter neste caso é o efeito de reverterem em benefício do rendimento dos pescadores e do rendimento de todos aqueles que intervêm nesta cadeia", frisou.
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esse sentido, apelou à "valorização das características das pescas nos Açores","
Leio este texto e fica-me um travo adstringente na boca...
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Quem são os maiores interessados no aumento do rendimento de quem intervêm na cadeia? E se existe esse interesse genuíno dos intervenientes na cadeia, por que é que ele não acontece?
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Quem é que tem a ganhar com a manutenção do status-quo?
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Quais são as barreiras que impedem a entrada de novos actores na cadeia (ecossistema)?
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As novas infraestruturas alteraram alguma dessas barreiras?
"Vasco Cordeiro considerou que deve existir também uma "valorização de espécies que já são capturadas na região, mas não têm aproveitamento comercial", acrescentando que a intervenção da "marca Açores" também deverá contribuir para o aumento do rendimento dos pescadores."
Por que tem de ser um outsider a falar sobre isto?
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Os meus preconceitos levam-me a dizer, aumentem a concorrência, dêem mais liberdade económica aos pescadores, deixem-nos criar novos mecanismos de comercialização do seu peixe.
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Trechos retirados de "Rendimentos dos pescadores "têm de melhorar""

Qualificações vs instituções

Ontem, antes da minha caminhada do final da tarde, li este artigo, "Do topo à base, as empresas precisam de mais qualificações para garantirem o seu futuro", onde encontrei esta pérola:
"Tal como os países, as empresas produzem mais riqueza quanto maiores forem as qualificações de quem as compõe.
...
A opinião é unânime entre os especialistas, que apontam o défice de qualificações como uma das debilidades da economia nacional."
Depois, durante a minha caminhada, li mais uns trechos de "Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty" de Daron Acemoglu e James Robinson, nomeadamente o capítulo 2, "Theories that don't work". Nesse capítulo, os autores explicam várias teorias que, segundo eles, não explicam a pobreza no mundo:

  • não é por causa da geografia;
  • não é por causa da presença ou ausência de recursos naturais;
  • não é por causa da adopção ou não adopção de novas tecnologias;
  • não é por causa da presença ou ausência endémica de animais ou cereais para alimentação;
  • não é por causa de diferenças culturais;
  • não é por causas de diferenças religiosas.
Depois destas hipóteses todas aparece mais uma, "The Ignorance Hypothesis":
"The final popular theory for why some nations are poor and some are rich is the ignorance hypothesis, which asserts that world inequality exists because we or our rulers do not know how to make poor countries rich.
...
if ignorance were the problem, well-meaning leaders would quickly learn what types of policies increased their citizens’ incomes and welfare, and would gravitate toward those policies. [Moi ici: Atentar no discurso, na exortação de Vasco Cordeiro aos pescadores açorianos. Se se sabe, por que não acontece?]
...
The ignorance hypothesis differs from the geography and culture hypotheses in that it comes readily with a suggestion about how to “solve” the problem of poverty: if ignorance got us here, enlightened and informed rulers and policymakers [Moi ici: Ou Patróes e empregados no caso das empresas] can get us out and we should be able to “engineer” prosperity around the world by providing the right advice and by convincing politicians of what is good economics. ... the main obstacle to the adoption of policies that would reduce market failures and encourage economic growth is not the ignorance of politicians but the incentives and constraints they face from the political and economic institutions in their societies."
Depois da caminhada, à noite, li este artigo "Where are Greece’s missing exports?", onde encontrei:
"Institutional weaknesses are mainly to blame for Greece’s dire trading performance, with exports around a third smaller than they should be, according to a new paper from staff at the European Commission.
...
“Competitiveness depends crucially on a more comprehensive notion of the cost of doing business – which in turn depends on the rule of law, property rights, the ability to enforce contracts, flexible labour market arrangements, the available transport infrastructure and many other factors besides the recorded cost of capital and labour. Customs formalities, administrative procedures, and regulatory transparency are directly linked to the trading process.”"
À luz da hipótese de Acemoglu a explicação para a pobreza das nações reside nas instituições:
"Countries differ in their economic success because of their different institutions, the rules influencing how the economy works, and the incentives that motivate people.
...
Inclusive economic institutions foster economic activity, productivity growth, and economic prosperity. Secure private property rights are central, since only those with such rights will be willing to invest and increase productivity.
A businessman who expects his output to be stolen, expropriated, or entirely taxed away will have little incentive to work, let alone any incentive to undertake investments and innovations. But such rights must exist for the majority of people in society.
...
This book will show that while economic institutions are critical for determining whether a country is poor or prosperous, it is politics and political institutions that determine what economic institutions a country has."


 Estou a recordar "The Predator State"