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sexta-feira, novembro 25, 2022

A previsão mais fácil de todas. Socialismo = Sildávia!

No passado Domingo escrevi aqui um postal, Para reflexão, em que referia que a produtividade (euros por hora trabalhada) na Roménia tinha crescido 921% entre 1995 e 2021 (enquanto em Portugal tinha crescido  apenas 123%).

Agora na capa do Caderno de Economia do semanário Expresso de hoje temos:


Vejam só o trajecto da Roménia:
Nos últimos 7 anos já fomos ultrapassados por 4 ou 5 países empobrecidos pelo comunismo, nos próximos 2 seremos ultrapassados pela Roménia e pela Letónia.

Socialismo de direita e de esquerda, esquecer a criação de riqueza e focar tudo na distribuição, do que se criou e do que não se criou, leva-nos até aquela previsão de 2008: à Sildávia.


Só temos o que merecemos como povo. Riqueza sustentável não é um objectivo directo, é uma consequência do que se faz de forma sistemática.







domingo, novembro 20, 2022

Para reflexão

Lembram-se da fábrica de meias lituana que veio para Portugal e os jornais regozijaram-se?

Eu recordo de Julho de 2021- Ultrapassados pelo Leste.

Eu recordo a evolução salarial na Lituânia, de Maio deste ano - A caminho da Sildávia ao vivo e a cores, mais um pacotão.

Entretanto, ontem no Pordata analisei os dados sobre a evolução da "Produtividade do trabalho por hora trabalhada (Euro)". Reparem na evolução da produtividade na Lituânia:


Todo o bloco de países da Europa de Leste está a crescer em produtividade muito mais do que Portugal. Mesmo as humildes Roménia (cresceu 921%) e Bulgária (428%).

Ninguém se interroga a sério sobre o que se passa neste país.


segunda-feira, outubro 03, 2022

A brutal realidade de uma foto

Imaginem uma empresa sujeita ao aumento dos custos. Os aumentos podem ser mais rápidos do que a capacidade de criar valor para os suportar. Por exemplo, no caderno de Economia do semanário Expresso da passada semana, no artigo, "Gerir quando quase tudo É "volátil" e "imprevisível"", encontramos este trecho:

"Já em 2022, quando o custo do aço inoxidável aumentou 300%, voltaram a pensar na Herdmar o mesmo mas, mais uma vez, "felizmente, não se verificou". Mas, desde junho, quando terminou o contrato de preço fixo de eletricidade que tinham, a fatura aumentou 500% face ao que pagavam no início do ano, mesmo com os sistemas de produção em autoconsumo que instalaram em 2021."

Agora olhem para a foto que ilustra o artigo, uma foto da Herdmar:


Espero que a foto seja uma montagem artística e não um apanhado do quotidiano da Herdmar. Imaginem os minutos humanos incorporados na manufactura daquela colher, segundo a foto. Quantas colheres são produzidas por aquele humano por mês? Quanto valor é gerado por essa quantidade mensal de colheres?  Quanto desse valor sobra, depois de pagar matérias primas e consumíveis, para pagar salários e o custo do futuro?

Agora reparem como é o pensamento do mainstream em Portugal (no mesmo artigo):
"Por isso é que o economista Leonardo Costa diz que a prioridade do Governo devia ser o aumento da produtividade, a retenção da mão de obra qualificada no país e a melhoria da gestão nas PME, onde "há chefias que têm menos qualificações que os seus trabalhadores", comenta."

Portanto, o aumento da produtividade que o país precisa será obtido à custa da melhoria da gestão nas PMEs existentes, e para isso será fundamental a actuação do governo... 

Pois, em A amostra errada mostro como essa ideia está errada. A única actuação que vejo para o governo é a de criar condições para que empresas de outro campeonato encontrem interesse em vir instalar-se na Sildávia do Ocidente. Não cabe aos governos guiar as empresas no aumento da produtividade, ou na melhoria da gestão, não cabe aos governos escolher vencedores. Deixem as empresas morrer!!! 

Tanta gente precisava de ter esta citação afixada no local de trabalho:

BTW, olhem para os governos que temos tido... acham mesmo que são um exemplo de gestão? TAP, EFACEC, BES, ...

domingo, junho 05, 2022

Aspirar por objectivos sem ter coragem para a disciplina que requerem

"Primeiro-ministro quer um aumento de “20% no salário médio do nosso país” nos próximos quatro anos. “Nós temos que ter um acordo de médio prazo, no horizonte desta legislatura, sobre a perspectiva da evolução dos rendimentos.”

O primeiro-ministro apelou este sábado às empresas para que contribuam para um esforço colectivo de aumento dos salários dos portugueses, para que haja “maior justiça” e os salários médios em Portugal possam aumentar 20%.

...

“As empresas têm de compreender que se querem ser competitivas a vender, têm de começar a ser competitivas no momento da contratação, se querem, efectivamente, contratar, fixar e atrair o talento que necessitam para poderem ser empresas que produzem, efectivamente, bens e serviços de maior valor acrescentado”, acrescentou." (fonte)

Um texto que desperta várias linhas de reflexão. Uma delas tem a ver com a linha de Avelino de Jesus a emergir contra os "antiquados" como Teixeira dos Santos. Recordar Mea culpa.

Vamos olhar para o desafio através de uma matriz que relaciona a resposta a duas perguntas:

  • as empresas podem pagar um aumento superior a 20% do salário médio?
  • as empresas querem pagar um aumento superior a 20% do salário médio?
Vamos começar por eliminar as opções 2 e 4. Se as empresas podem, queiram ou não serão levadas a fazê-lo, pelo governo de turno ou pelo contexto. Por exemplo, na capa do jornal i de ontem:

Os ignorantes, como o presidente da república, acham que as empresas não aumentam os salários porque não querem. Os ignorantes acham que as empresas nadam em dinheiro e não querem partilhá-lo:

"Marcelo Rebelo de Sousa diz que os salários têm de acompanhar o crescimento da riqueza do país."

O presidente que achava que as 35 horas semanais na função pública não iam aumentar os custos, acha que o país está a enriquecer... Ricardo Reis tem de aprender economia com ele - A caminho da Sildávia ao vivo e a cores, mais um pacotão.

O que é mais interessante, na minha opinião, são as opções 1 e 3. Se as empresas não podem o que têm de fazer?

Recuemos a Abril de 2013, Cargo cult, e às palavras de Avelino de Jesus:

"«Por cada hora de trabalho só produzimos 17 euros»

Professor do ISEG diz que actual crise está na origem da baixa produtividade dos trabalhadores de Portugal."

As empresas não podem porque têm uma baixa produtividade, porque geram pouca riqueza, porque geram pouco valor acrescentado.

Assim, o que António Costa quer tem consequências que ele não está disposto a defender. Se ele quer atingir o objectivo de aumentar o salário médio em 20% em 4 anos, então tem de concluir que tem de promover a morte das empresas que não podem, para desviar recursos para as empresas que terão de surgir e podem. Recordar que vivemos no país do Chapeleiro Louco e da violação do 1º Princípio de Deming. Não escrevi este título em 2019 porque me apeteceu, "Espero que não vos tremam as pernas quando as empresas começarem a cair como tordos". Mesmo que ele tivesse coragem para o fazer, será que é moralmente correcto este tipo de activismo?

Sim, basta voltar a ler Reinert e a Teoria dos Gansos:

Basta recordar Maliranta e a lição finlandesa ou as palavras de Nassim Taleb:
"Systems don’t learn because people learn individually – that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game"

isto cheira-me que vai acabar em mais apoios às sonaes deste país.

terça-feira, maio 31, 2022

A caminho da Sildávia ao vivo e a cores, mais um pacotão

Lembram-se da vitória sobre a Lituânia?

Pois...


Entretanto no Caderno de Economia do semanário Expresso do último Sábado Ricardo Reis em "Uma família em declínio":
"O crescimento económico é uma desilusão em Portugal há mais de vinte anos. Primeiro pedimos emprestado usando a capacidade de liquidez de um Estado. Depois, veio o FMI, e com ele a austeridade e a emigração. As eleições têm produzido persistentes escolhas em não fazer reformas arriscadas que busquem o crescimento económico. Já há dez anos que estamos a vender património. Primeiro foram algumas grandes empresas. Agora são casas e terrenos. Sonhamos que o capital de fora venha com investimento direto e novos negócios, mas os números mostram que recebemos antes uns estrangeiros pensionistas com riqueza do passado. Hoje, preocupa-me ver partes significativas da economia especializadas em captar dinheiro de vistos gold ou estrangeiros que se mudem para Portugal, focando-se na construção, imobiliário e não-transacionáveis com baixa produtividade. Ao mesmo tempo, é uma tristeza ver as partes mais belas do país ficar na mão de estrangeiros.
É sina de economista alertar para os perigos, ser ignorado, e passar por pessimista maldisposto. Mas tenho receio que daqui a uma ou duas gerações olhem para nós como a geração que desbaratou a fortuna da nação por não ter coragem para encarar o declínio de frente e fazer tudo para o reverter."

Como não recordar Jonas e os ninivitas em 2008 Os habitantes de Nínive


quinta-feira, abril 21, 2022

Sildávia, exportações em alta e crescimento anémico

Ontem no Jornal de Negócios podia ler-se na capa:

Como não recuar de imediato a 2008 e à previsão mais fácil de todas as que foram feitas neste blogue: É triste ... (BTW, em Julho de 2018 Nuno Garoupa escrevia no Público "Quer isso dizer que, dentro de dez anos, com enorme probabilidade, apenas a Bulgária e a Roménia serão mais pobres que Portugal." Sorry, estamos em 2022 e a Roménia está à beira de nos ultrapassar.) Sim:

Interessante ... pensem bem naquela capa do JdN:

As exportações dos primeiros dois meses do ano 2022 superam as de 2021 em praticamente todos os sectores económicos. Por exemplo calçado 24%; mobiliário 11%; metalomecânica 9%; têxtil e vestuário 20%; plásticos 30%; borracha 15%; cerâmica 29%; farmacêuticos 13%; fertilizantes 137%, ... (OK, automóveis -4%)

Por exemplo, achei interessante encontrar em "Europe Wants Its Supply Chains Close to Home But It's Complicated" este relato:

"Maia & Borges, a toymaker based in northern Portugal, is on course for 12 million euros (almost $13 million) of revenue in 2022, up from 1.5 million euros in 2019, having won multiple orders from Europe, and the U.S when Asian supply chains were snarled up in the early months of the pandemic. Patricia Maia, chief executive officer, said the family firm will make 10 million toys this year and is building a third factory to cope with demand expected to hit 40 million by 2024. "From a business perspective, we've had a good two years,' she said."

Há menos de um mês escrevi Pergunta sincera, pergunta honesta sobre os dois cenários: com ou sem China. Onde discorro sobre a competitividade sem produtividade. Por fim, volto a Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”.

Lembrem-se, a culpa nunca é dos empresários no terreno. Esses dão o melhor que podem e sabem, alguns conseguem subir na escala de valor. Devemos sempre recordar o cão dos Baskerville: quem é que não está no terreno e porque não aparecem? 

Ainda esta semana foi-me roubada a atenção para esta notícia, por exemplo: "Simoldes investe 45 milhões em nova fábrica em Espanha". Não pela empresa, mas pelo sinal, mas pelo exemplo. Por que acontecem coisas deste tipo?

Lembram-se dos jogadores de bilhar amador contentes por terem roubado uma empresa aos lituanos? Em Ultrapassados pelo Leste

Como diria a Red Queen, in order to stay in a (competitive) place you have to run very hard, whereas to get anywhere you have to run even harder. Mas to get anywhere, como referem Taleb e Maliranta, é preciso sexo, Sexo, jardineiros, intervencionistas, Taleb e Cavaco Silva (parte III), não como estão a pensar, mas como mecanismo que permite o unlearn e o relearn.

sexta-feira, outubro 15, 2021

Quando o povo estiver maduro os diques e comportas serão abertos

Aprendi com Joaquim Aguiar uma frase que não largo: "O povo tem sempre razão, mesmo quando não a tem"

Entretanto esta semana li e guardei esta frase: "But politicians can only convince us of things we already want to believe."

Há dias li um tweet simples, mas poderoso. só factos:

  • Pagamos 40% de impostos na habitação
  • Pagamos 50% de impostos nos salários
  • Pagamos 60% de impostos nos combustíveis

Socialismo!

Cavaco veio recordar o facto de estarmos a ser ultrapassados pelos países da Europa de Leste (somos a Sildávia do Ocidente) 

Já aqui referi que sou um pessimista-optimista. Quando o povo estiver maduro, mudamos de referencial. Não vale a pena desesperar, há que esperar e ir empobrecendo até que o povo fique maduro. 

Não sou bruxo mas já sei o que aí virá.

Lembram-de da primeira maioria absoluta de Cavaco? No dia seguinte, uma segunda-feira, 20 de Julho de 2017, fui à minha primeira entrevista de trabalho. Uma conversa com um alemão que trabalhava na Chocolates Imperial. A certa altura alguém abre a porta, interrompe a conversa e pergunta ao meu interlocutor se ele viu as imagens das peixeiras em Caxinas a agitar as bandeiras do PSD. Lembram-se desse tempo? Lembram-se do que é que Cavaco fez? Libertou a economia e a sociedade das amarras que o PREC revolucionário tinha criado e impediam o país de crescer. Sou desse tempo. Os bancos só podiam ser públicos, só havia a televisão pública, jornais e empresas estavam nacionalizados, ...  

Estes anos de geringonça são uma espécie PREC institucionalizado, onde ano após ano a capacidade de criar riqueza é esganada em nome da ideologia. 


Quando o povo estiver maduro há-de aparecer alguém que proporá abrir as comportas, libertar os diques e o país voltará a crescer.

Até lá trocar de líderes partidários para melhorar combates de retórica e oratória será mais do mesmo. Mesmo que cheguem ao poleiro, o goa'uld socialista entra dentro deles e fazem o mesmo, só que com a comunicação social assanhada.

Ontem, o meu parceiro das conversas oxigenadoras disse-me que esta história do PRR e do dinheiro da UE para projectos é uma espécie de economia de planos quinquenais. São apresentados projectos feitos em nome das empresas e depois, quem escolhe o que passa e não passa não é o mercado, é uma comissão que avalia os projectos. Quantos empresários, se tivessem o capital consigo, aplicariam o dinheiro nos projectos que apresentam? Quase nenhum, remata ele!

E eu fiquei a pensar na solução grega, aproveitar a bazuka para financiar o estado e baixar os impostos... ou seja, dar ao mercado a capacidade de escolher.

sábado, setembro 04, 2021

- Drop your tools!!! Ou porque não era o verdadeiro socialismo

No Twitter volta e meia aparece um tweet sobre o tema "não era o verdadeiro socialismo".

Por exemplo:

Por cá, a erosão mais ou menos rápida que nos coloca a caminho de ser a Sildávia do Ocidente continua:

 c
Por que não se muda?
Por que é que apesar de resultados trágicos as pessoas não mudam?

Há dias comecei a ler um livro de poesia que já aqui citei, "Making Sense of the Organization, Volume 2 - The Impermanent Organization" de Karl E. Weick. Poesia porque tem textos de uma beleza impressionante. Ontem li um capítulo muito interessante: "Drop Your Tools: An Allegory for Organizational Studies"

Weick há anos escreveu sobre dois acidentes com bombeiros, aliás foi assim que o conheci no início deste século. Em 1949, e em 1994, um total de 27 bombeiros morreram ao fugir de dois fogos (14 num e 13 no outro). Muitos desses bombeiros morreram a correr a fugir do fogo. No entanto, apesar da fuga desesperada e da sua vida depender da velocidade alcançada, esses bombeiros não largavam as ferramentas, corriam com kg de material, alguns morreram com as pesadas motoserras agarradas às mãos. Por que é que apesar dos chefes e colegas gritarem:

- Drop your tools!!!

Eles foram incapazes de as largar?

Julgo que é a mesma incapacidade de largar "o socialismo" apesar das tragédias e pobreza que gera.
"dropping one’s tools to gain speed in life - threatening conditions is tougher than it looks.
...
Suffering occurs when people become attached to impermanent things that disappear in a changing world. In a world of ceaseless change, no tool, including the tool of an organized form, is indispensable. To take impermanence seriously is to recognize that, ‘In pursuit of knowledge, every day something is acquired; In pursuit of wisdom, every day something is dropped.’ (Lao Tzu). Wisdom is the acceptance that things of the world go away.
If we do drop our tools, then what are we left with? Why is wisdom a possible byproduct of dropping? Consider the tools of traditional rationality as expressed in the rational actor model. Those tools presume that the world is stable, knowable, and predictable. To set aside some of those tools is not to give up complete reliance on the tools that are ill-suited to the impermanent, the unknowable, and the unpredictable. To drop some tools of rationality is to gain access to lightness and wisdom in the form of intuitions, feelings, stories, improvisation, experience, imagination, active listening, awareness in the moment, and empathy.
...
tools preclude ways of acting. If you preclude ways of acting, then you preclude ways of seeing. If you drop tools, then ideas have more free play. 
...
The reluctance to drop one’s tools when threat intensifies is not just a problem for firefighters.
...
Dropping one’s tools is a proxy for unlearning, for adaptation, for flexibility, in short, for many of the dramas that engage organizational scholars. It is the very unwillingness of people to drop their tools that turns some of these dramas into tragedies.
...
Explanations for the Failure to Drop Tools
There are at least ten reasons why firefighters in both incidents may have failed to drop their tools:
1. Listening. There is some evidence that the sheer roar of the fire precluded people from hearing the order to drop their tools and run.
...
2. Justification. People persist when they are given no clear reasons to change.
...
3. Trust. People persist when they don’t trust the person who tells them to change.
...
4. Control. ... knowledge of cause-effect relations
...
5. Skill at dropping. People may keep their tools because they don’t know how to drop them. I know how absurd that sounds. But think again.
...
6. Skill with replacement activity. People may keep their familiar tools in a frightening situation because an unfamiliar alternative, such as deploying a fire shelter, is even more frightening.
...
7. Failure. To drop one’s tools may be to admit failure. To retain one’s tools is to postpone this admission and to feel that one is still in it and still winning.
...
8. Social dynamics. People in a line may hold onto their tools as a result of social dynamics such as pluralistic ignorance.
...
9. Consequences. People will not drop their tools if they believe that doing so won’t make much difference.
...
10. Identity. Finally, implicit in the idea that people can drop their tools is the assumption that tools and people are distinct, separable, and dissimilar. But fires are not fought with bodies and bare hands, they are fought with tools that are often distinctive trademarks of firefighters and central to their identity. Firefighting tools define the firefighter’s group membership, they are the firefighter’s reason for being deployed in the first place, they create capability, they are given the same care that the firefighters themselves get (e.g., tools are collected and sharpened after every shift), and they are meaningful artifacts that define the culture. Given the central role of tools in defining the essence of a firefighter, it is not surprising that dropping one’s tools creates an existential crisis. Without my tools, who am I? A coward? A fool? The fusion of tools with identities means that under conditions of threat, it makes no more sense to drop one’s tools than to drop one’s pride. Tools and identities form a unity without seams or separable elements."
Daí que seja mais fácil interpretar os factos como:
  • não era verdadeiro socialismo;
  • é por causa do embargo americano;
  • a causa da terceira vinda do FMI foi externa; 
  • a culpa foi do Passos
Joaquim Aguiar costuma escrever que não se pode seguir em frente sem primeiro reconhecer os erros do passado. Por isso, ele usa a metáfora das rotundas. O país está numa rotunda há mais de 20 anos, focado na distribuição de riqueza que é gerada por outros povos e que se transforma em dívida para as gerações de escravos no futuro.

E eu, que ferramentas tenho largado?
Ao longo da minha vida acredito ter feito uma transição pessoal importante, embora ainda não completa, para apreciar e até abraçar a impermanência e a incerteza. Daí que alguns no Twitter me vejam como negacionista, quando na verdade o que tento ser é não crente em verdades absolutas. Por exemplo, duvido da validade real, na prevenção de infecções, de algo como um certificado de vacinação. Duvido, até que fique convencido, que realmente um vacinado transmite menos que um não vacinado.  
Outra transição em curso na minha vida? Cada vez me convenço mais que a União Europeia é mais perniciosa para Portugal do que benéfica, os políticos deste país montaram um "modelo de negócio" em que o país vive à custa de esmola, atrás de esmola. É como se a União Europeia fosse o novo ouro do Brasil, gerando toda uma mentalidade e comportamentos doentios.
Outra transição em curso na minha vida? Esta é mais recente e ainda está a dar os primeiros passos. A leitura de "The Visionary Realism of German Economics: From the Thirty Years' War to the Cold War" realmente abriu uma brecha na minha crença na bondade das economias abertas. Não falo a nível do país, mas do bloco económico em que se insere. Perceber porque é que Ricardo defendeu as ideias que defendeu, quando a Inglaterra era o único país industrializado. Perceber como é que os americanos passaram de um estado agrícola para um estado industrial... sim, o senhor Reinert pôs cá uma semente.

quarta-feira, setembro 01, 2021

"Lives of quiet desperation" (parte II)

Parte I.

Tweet publicado na sequência da leitura de "Da EFACEC". 

Não escrevo estas coisas porque tenho mau feitio, mas porque tenho um blogue desde 2004. Comecei a escrever o blogue com o propósito de funcionar como um auxiliar de memória (depois a criação tomou vida própria, mas isso é outra estória). E ter memória é um castigo dos Deuses (diziam os gregos antigos).

Nas notícias:

Ao mesmo tempo no blogue:
BTW, gastar dinheiro em inovação não é o mesmo que ter retorno em vantagens competitivas decorrentes de factores inovadores. Recordar de Dezembro de 2015 nas notícias, "Inovação. Efacec. Duplo ataque em I&D". Ainda uma última questão, qual terá sido a rentabilidade deste negócio "Efacec exporta transformadores recorde para os Estados Unidos"?

Antes da compra da Efacec por Isabel dos Santos a empresa tinha uma orientação estratégica mais virada para os Estados Unidos. Depois da compra, como refiro nos textos do blogue, mudou de orientação estratégica e virou-se para África. Escrevi que era uma decisão legítima, mas representava uma decisão virada para o preço e para produtos maduros, não novidades tecnológicas. É por aí que começam os cortes. A verdade é que antes de Isabel dos Santos, a Efacec dava prejuízo, e com ela começou a dar lucro. Por causa da empresa? Ou por causa da sua nova dona? Recordar de Maio de 2017, "Angola torna-se o maior mercado externo da Efacec". O que fazia o pai de Isabel dos Santos até Setembro de 2017? Ouso parafrasear o ainda CEO da Efacec, que em Julho de 2016 afirmava "Ângelo Ramalho: “Notoriedade de Isabel dos Santos é uma mais-valia”". 

Talvez a mais-valia da Efacec, antes de Setembro de 2017, fosse mesmo a sua proprietária. You know what I mean...

E volto à citação e à estupefacção de há um ano:
"Lives of quiet desperation. 
What is called resignation is confirmed desperation" 

"os comentadores do regime alinhavam com o governo e diziam amém a duas nacionalizações. Nem uma voz contra, nem uma voz a desdizer a narrativa oficial sobre a EFACEC ou sobre a TAP.

Mais dinheiro impostado aos contribuintes torrado em delírios da corte lisboeta. Mais pedras no saco às costas das empresas que têm de fazer corridas com empresas de outros países com governos menos atreitos a orgias socialistas.

Isto nunca vai ter fim, este país nem com 5 troikas vai mudar. Ingenuidade pensar que a UE nos ia proteger...

A 1 de Setembro de 2007 no Expresso, Daniel Bessa escreveu:

"... faltou sempre o dinheiro que o "Portugal profundo" preferiu gastar na "ajuda" a "empresas em situação económica difícil"..."

Estão a ver como se caminha para ser a Sildávia do Ocidente sob o aplauso e beneplácito do comentariado nacional?


Reparem no salto da Roménia, da Polónia, da Lituânia e da Letónia...



quinta-feira, julho 29, 2021

Ultrapassados pelo Leste

No JdN de ontem encontrei "Dinamarca abre fábrica de meias em Famalicão e cria 130 empregos".

Fábrica de meias? Que meias? 

"meias desportivas de alta "performance"

Faz sentido, trabalhar para nichos, subir na escala de valor. A minha receita!

No entanto, produção de 4 milhões de pares de meias por ano, facturação de 6 milhões de euros por ano. Ou seja, preço médio de um par de meias à saída da fábrica 1,5 euros. Parece-me um valor baixo. Quão alta será a tal performance? Por exemplo, trabalhar para a Decathlon? Sorry, low-cost.

130 trabalhadores significa 46,1 mil euros facturados por trabalhador. 130 pessoas para este tipo de produto?! Sorry, não é nicho!

O que me faz espécie é isto:

"Depois de cerca de 16 anos de produção na Lituânia, e devido sobretudo à falta de mão de obra qualificada local, começaram a olhar para outros mercados, como a Bulgária, a Ucrânia ou a Roménia, para deslocalizar a sua fábrica, e escolheram o nosso país", contou o diretor-geral"

Qual o salário mínimo na Lituânia? Qual a evolução salarial na Lituânia?

Salário mínimo na Lituânia 642€ versus em Portugal  665€. Qual a evolução salarial na Lituânia? "Lithuania posts 13 percent wage growth for 2020"

Sinto que é um sinal preocupante. Os antigos países comunistas começam a ter um nível de vida demasiado caro para este tipo de produtos. Nos anos 60 e 70 do século passado as fábricas alemãs e francesas fechavam para abrir em Portugal, agora fecham na Lituânia e vêm para Portugal...

Benvindos à Sildávia do Ocidente.


segunda-feira, maio 03, 2021

Os académicos não percebem nem metade do que acabei de escrever!

Nos últimos dias vi várias referências no Twitter ao tema da baixa produtividade portuguesa. Esta manhã vi que até Paulo Portas terá falado do tema no seu comentário semanal:

Não esqueçam, a produtividade é um rácio. Um rácio de alavancagem. Quanta riqueza consigo criar a partir da que tenho de consumir?

Quando olharem para a produtividade de um país não se esqueçam que ela resulta de dois mundos: 

  • sector privado; e
  • sector público.
Como se calcula a produtividade no sector público? Como não há mercado para avaliar o resultado da sua produção assume-se que a produtividade é neutra, as entradas são iguais às saídas. A sério! Assim, quanto maior a taxa de trabalhadores na administração pública mais baixa é a produtividade. Não acredita? Já tratamos disto em 2010.

Como é que o sector privado olha para a produtividade? Claro que o sector privado não é homogéneo, mas a maioria, diria mesmo a larga maioria, olha para a produtividade à la século XX. O jogo do gato e do rato que o ex-ministro Teixeira dos Santos queria evitar. Recordar 2010 e "O jogo do gato e do rato (parte I)" (Reparem, Teixeira dos Santos era professor universitário, passou a ministro e tinha este modelo mental herdado do século XX, herdado do Normalistão). 

Qual o erro desta abordagem? Não sei se é um erro, mas é de certeza uma lacuna importante. Aquilo a que chamei de pensamento à engenheiro neste postal de 2009, "Actualizem o documento por favor".

Eu comecei por dizer que a produtividade é um rácio. Vejamos:
Qual é o erro da mentalidade do século XX?
Assumir que as saídas são um dado do problema e trabalhar a única variável, as entradas. Isso faz com que o desafio de aumentar a produtividade se transforme num desafio de eficiência: Aumentar a produtividade é produzir o mesmo com menos.

Aqui entra o truque alemão. Pensem nas saídas como uma outra variável. Assim, aumentar a produtividade passa por aumentar o numerador ou manter ou diminuir o denominador.

Alguns vão dizer: as empresas não podem ser como os governos, que aumentam impostos sem contrapartidas. Se as empresas aumentarem os preços os clientes vão para a concorrência.

Sim, se as empresas aumentarem os preços os clientes vão para a concorrência. A menos que aumentem os preços porque dão mais valor em contrapartida!!! Sim, a menos que produzam um produto ou serviço melhor, mais adequado.

Sim, muita gente tem de aprender as contas de Marn e Rosiello que eu descobri em 1992 e demorei quase 15 anos a perceber!!! Recuo a 2015 e a "E o burro era eu!":

Quando só se trabalha o denominador, 1% de melhoria nos custos fixos permite uma melhoria na margem operacional de 2,3%.

Quando se sobe na escala de valor e se oferece algo mais atractivo, com maior WTP, um aumento de 1% no preço tem um impacte tremendo nas contas, na produtividade, na alavancagem!!!

Podemos obrigar os legítimos proprietários das empresas em Portugal a aumentarem a produtividade por esta via? E eles sabem? E eles acreditam?

Só resta um caminho DEIXEM AS EMPRESAS MORRER! Aprendam com Maliranta e Nassim Taleb!!!

E precisamos de ter mais empresas em sectores com maior valor acrescentado. Lembrem-se, os macacos não voam! Um empresário têxtil com muita vontade não monta um negócio de têxteis de alto valor acrescentado do pé para a mão, sem know-how, sem conhecimento do mercado, sem ... para dar saltos no tempo temos de importar esse know-how. Sim, a receita irlandesa. Fazer em grande a mesma coisa que se fez com a AutoEuropa. Não pensem que o aumenta da produtividade irlandesa foi feito à custa de empresários irlandeses. Estudem os números primeiro, porra!

A produtividade não cresce porque fazemos bem ou melhor as coisas (isso são "peaners"), a produtividade cresce a sério é quando fazemos bem o que deve ser feito. E o que deve ser feito é radicalmente diferente do que estamos a fazer. Recordar "A caminho da Sildávia, portanto"

Vejam o que acontece à produtividade de um sector quando morre a empresa menos produtiva!

Os académicos não percebem nem metade do que acabei de escrever!


terça-feira, março 23, 2021

Subir na escala de valor e calçar os sapatos do outro (parte II)

Parte I.

A empresa A do exemplo anterior, apesar de preguiçosa, apesar de ter um desempenho de zombie vai sobrevivendo à custa de artimanhas legais e desinteresse dos outros concorrentes em servir os seus clientes.

Entretanto, a China entra em jogo e começam a aparecer os produtos superbaratos com os quais as empresas A não podem competir:
E assim, em t4 as empresas tipo A morrem às mãos da concorrência amarela (chinesa).
Em t5, as empresas A já não existem, e agora a perseguição é às empresas C.

A velocidade de subida na escala de valor das empresas chinesas, e a constante entrada em campo de players com custos baixos (Turquia et al) dizima empresas em Portugal a uma velocidade superior aquela a que as empresas, ou os sectores se podem regenerar naturalmente.

A incapacidade de calçar os sapatos do outro impede ver que o que chineses e turcos nos fazem, é o que nós fizemos aos alemães e franceses que trabalhavam nas indústrias tradicionais, quando o país aderiu à EFTA. Por isso, falam em dumping social, ou em batota, ou associam o sucesso a negócios como o contrabando de droga.

Também existem os Peter Pan. Os Peter Pan são as empresas que operam em mercados em que os chineses ainda não entraram, mas que também sentem a concorrência de quem oferece o mesmo produto ou serviço por um preço extremamente mais baixo. Os Peter Pan não conhecem, ou não ouviram falar do modelo de Kano:
Sentem-se injustiçados, então até dão boas condições aos seus trabalhadores e aparecem uns maus que praticam preços de arrasar a estragar tudo.

Como o ginásio de topo com que trabalhei em 2011 e que se zangava com os velhos clientes que o trocavam por opções mais baratas em pleno descalabro do mercado interno. Não, não são os clientes os maus, os maus são os que não evoluem e não arranjam mais truques, mais novidades para continuar a seduzir os clientes.

E assim chegamos aos truques, e ao truque alemão. A necessidade imperiosa de estar sempre a trabalhar para subir na escala de valor, para aumentar o peso do numerador na equação da produtividade. A velocidade a que a empresa portuguesa-tipo faz isto é muito baixa. Maliranta e Nassim Taleb explicam (ver parte I).

E aqui entra o exemplo irlandês. O exemplo irlandês não tem a ver com os empresários irlandeses, tem a ver com o capital estrangeiro injectado como investimento directo:

Recordar Irlanda e João Duque:

Em 1990 a trabalhar com uma empresa japonesa levei-os a visitar uma fábrica de grades de cerveja na Figueira da Foz. Apesar da desarrumação, da sujidade, das máquinas da empresa, o japonês gostou da empresa, confidenciou-me que a super-ocupação do espaço com máquinas o faziam lembrar as fábricas japonesas (BTW, outro japonês com que trabalhei, chegava a uma empresa e via-a super arrumada e com muito espaço e não conseguia compreender o desperdício de dinheiro, o valor do m2 no Japão era exorbitante, ficava logo de pé atrás). Imaginem, uma fábrica de grades de cerveja arrastada por uma empresa estrangeira para uma subida na escala de valor... qual o valor líquido co-criado por grama de polímero, ou por minuto de injecção, a fabricar grades de cerveja ou componentes para automóveis. Hoje, essa empresa é um player no negócio de componentes para automóveis.

A rapidez e a dimensão da subida na escala de valor requer este know-how estrangeiro como semente para puxar pelas empresas portuguesas. A seguir ao 25 de Abril o que interessava era produzir, mas num mundo com excesso de produção quem manda é quem compra (B2B). E quem compra tem de dominar as cadeias de fornecimento, tem de mandar nas prateleiras. Um país sem marcas não pode ter essa veleidade, mas pode trabalhar e subir na escala de valor ao servir essas empresas.










sexta-feira, março 19, 2021

"why some countries grow faster than others"

Mais uns trechos de "Windows of Opportunity: How Nations Make Wealth".

Recordar Irlanda e João Duque:

"If we want to know why some countries grow faster than others, it is also important to understand that there is a ladder of economic development, the rungs of which represent different types of industry. It is a ladder developing countries have to climb in order to be successful - no developing country tries to start growing by creating a pharmaceutical industry, and no country has ever achieved a high GDP per capita by having a cheap garment industry

...

perhaps a more useful way of thinking about the rungs of the ladder of economic development is to see them as representing industries which require increasingly complex organisational and technological capabilities. On the bottom rungs are simple industries involved in, for example, the production of cheap clothes, the assembly of electronic components and the making of simple toys. On the top rungs are industries requiring complex organisational and technological capabilities that can only be acquired experientially, cumulatively and collectively; such as the aerospace, pharmaceutical and semiconductor industries. In simple industries, such as the production of cheap clothes or the assembly of electronic components, it is difficult for any firm to gain a competitive advantage. Consequently, the value-added per capita of firms is low, and the wages and salaries they can pay is also low.

...

Knowledge involves understanding the relationships or linkages between entities, and being able, therefore, to predict the outcome of events without having to act them out. 

...

Knowhow is different, as it involves the capacity to perform tacit actions; that is actions that cannot be explicitly described.

...

Before knowledge and knowhow can be used to make new products and services, they have to be embodied in individuals and organisations. The knowledge and knowhow that a single individual can acquire is limited, as an individual can only absorb so much information. Therefore, the knowledge and knowhow to make complex products and services have to be embodied in a number of different individuals and co-ordinated by a firm's organisation.

...

This point about the difficulty of accumulating the knowledge and knowhow to make products and services is important for two reasons. Firstly, neoclassical economists tend to assume that demand and incentives are enough to stimulate the production of a product or service anywhere in the world, and if they don't it must be because the system of allocating resources is not working efficiently. However, while incentives and demand may be enough to motivate intermediaries and traders, the people who produce goods and services also need to know how to make them.

Secondly, if the ability to accumulate the knowledge and knowhow to make products and services is difficult, it is likely that countries will have accumulated varying levels of knowledge and knowhow on their economic history, and therefore the complexity of the products and services they can produce will vary.

...

products requiring a large input of knowledge and knowhow would tend to be exported from only a few countries. Some of the products exported by a large number of countries include simple garments, such as underwear, shirts and pants; while some of the products exported by a relatively few countries include optical instruments, aircraft and medical imaging devices. Such a simple scan suggests that industries requiring less knowledge and knowhow are present in more places, as one might expect."

segunda-feira, dezembro 07, 2020

"Come on! Esta gente não analisa os números?"

O título tirei-o deste postal de Outubro último, "Tamanho, produtividade e a receita irlandesa".

Se há coisa que não gosto é de gente que não analisa os números. Gente que fala de cor e constrói explicações assentes em areia.

Em Junho último em "that model died this year" escrevi: 

"México = Marrocos, Turquia, Roménia e Bulgária."

Em Agosto passado em "A caminho da Sildávia, portanto" escrevi:

"No final da conversa João Duque brinda-nos com uma ilustração da ligeireza com que o mundo académico segue a micro-economia. Segundo João Duque o sucesso do calçado nos últimos anos foi baseado no desenvolvimento de marcas... de marcas? Come on! Quantas marcas ganham dinheiro? Quantas marcas ao fim de 5 anos ainda estão vivas? Desenvolver marca é uma forma de sacar dinheiro de projectos europeus, mesmo que bem intencionada, mas que morre quando acaba o financiamento. O que foi desenvolvido e bem foi a marca "Made in Portugal" para que marcas estrangeiras viessem para Portugal aproveitar a sua "uniqueness" da proximidade produção-consumo (rapidez, flexibilidade, qualidade). BTW, mas é outra conversa, esta uniqueness já se foi graças à Turquia, Roménia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Bulgária, ..."

Pelos vistos também estava a incorrer num erro, porque não tinha olhado para os números com olhos de ver. Assim, aproveitei o empréstimo que a colega Rita me fez do World Footwear 2020 Yearbook, publicado pela APICCAPS, e olhei para os números.

Primeiro, na tabela que se segue não vamos encontrar a Argélia porque as exportações são residuais, não chegaram a um milhão de pares em 2019.

Afinal a Roménia e Marrocos passaram a década em queda na exportação de calçado. A Tunísia está, ao fim de 10 anos, a voltar ao nível das exportações de 2010. Foram 5 anos a cair com a Primavera Árabe, e 5 anos a recuperar. A Bulgária tem-se mantido estagnada em torno dos valores de 2010. 

O que ressalta é a evolução turca e albanesa. Em 2010 a Turquia exportava cerca de 75 milhões de pares de sapatos, em 2019 exportou 275 milhões de pares a um preço médio de 3.29 USD. A Albânia em 10 anos duplicou as suas exportações. Presumo, pelo preço médio de cada par, que há ali mão de know-how italiano.

Assim, temos dois países próximos do centro da Europa com custos de produção muito baixos.

Lá em cima fala-se de uniqueness, no postal anterior falava-se, metaforicamente, em superpoderes. O factor proximidade ... foi-se. Como li há dias no livro SMASH: Using Market Shaping to Design New Strategies for Innovation, Value Creation, and Growth de Kaj Storbacka e Suvi Nenonen. 

"finding a sustainable competitive advantage may not be that important. What is important, however, is that companies have a contingency plan to deal with the upcoming prospects for an expansion of available resources or possible constraints created by other actors in the market."

Tudo é transiente, tudo é temporário. 


 

segunda-feira, agosto 31, 2020

Sem estar com as mãos na massa...

Há dias em "A caminho da Sildávia, portanto." escrevi:
"Acham que as universidades ensinam a gerir empresas no mundo complexo em que vivemos? Vejam a SONAE, mal foge do negócio do preço, perde dinheiro."
Na altura quando escrevi a frase "Acham que as universidades ensinam a gerir empresas no mundo complexo em que vivemos?" ainda pensei: "estarei a exagerar?"

Agora posso afirmá-lo: Não, não estava a exagerar!

Qual foi a grande mudança da microeconomia nos últimos 40/50 anos? O fim da supremacia da economia do século XX.

O avatar da economia do século XX é este pico único na paisagem competitiva:
Uma empresa para ter sucesso tinha de subir aquele pico único do lado esquerdo. Quanto mais subisse, mais sucesso tinha.

Num mundo em que os clientes/consumidores são na sua grande maioria metidos numa gande categoria de "Grande Centrão" ganha quem fornecer ao preço mais baixo.

Os professores nas universidades foram formatados nesta lógica. Por isso, a previsão falhada por Daniel Bessa.

Contudo, o século XXI é diferente. O século XXI é cada vez mais uma multidão de picos, como no lado direito da figura acima. As regras para ter sucesso na escalada ao longo de um pico são, em parte crescente, diferentes das regras para ter sucesso e trepar os outros picos. Quem está longe do terreno continua a repetir as velhas fórmulas aprendidas no século XX. Por isso, escrevi aqui tanto sobre a tríade: os académicos, os políticos e os comentadores que apenas conheciam as regras do século XX aí e ficaram encalhados.

Por esquecimento ou ignorância, quando se discute estratégia muitas vezes deixam-se de fora os pressupostos. E os pressupostos são fundamentais.

BTW, no mundo competitivo do lado direito não só há uma multidão de picos como cada vez mais há uns picos que afundam e outros que nascem, tudo com uma frequência crescente. Sem estar com as mãos na massa é difícil perceber o que é que é preciso fazer para ter sucesso... e mesmo assim, o que era verdade ontem amanhã já é mentira.


sábado, agosto 29, 2020

A caminho da Sildávia, portanto.

Na passada quinta-feira, Camilo Lourenço moderou mais uma conversa do MEL Talks, deste feita com João Duque. O objectivo era falar sobre a formação de salários em Portugal, sobre como sair da espiral dos baixos salários e como analisar a questão do salário mínimo.

Confesso que estranhei a direcção inicial imposta pelo discurso de João Duque para a conversa, e na qual Camilo Lourenço embarcou: salários e catequese. Sim, tinhamos um académico de economia a proferir julgamentos sobre a enormidade que ganham futebolistas e artistas. Enfim, conversa de taxista. Até que Jorge Marrão entra para impor algum discurso racional e falar da procura e da oferta.

Comecei a ouvir a conversa com uma ideia feita e cheguei ao fim com a mesma ideia.

A produtividade e os salários não sobem porque temos mais gente formada, ou doutorada ou com cursos profissionais. É a velha estória da caridadezinha (2008).

A produtividade não cresce porque fazemos bem ou melhor as coisas (isso são "peaners"), a produtividade cresce a sério é quando fazemos bem o que deve ser feito. E o que deve ser feito é radicalmente diferente do que estamos a fazer.

Tenho ouvido e lido muita coisa sobre o Plano Costa e Silva e uma das coisas que mais espécie me faz é a distinção entre estratégia e execução. Estou a recordar-me de um projecto onde estive envolvido há anos. Talvez por causa do meu voluntarismo, talvez por causa de má comunicação entre as partes (nem sempre a gestão de topo tem a coragem de assumir o que quer), eu entrei para o projecto decidido a fazer o que gosto: implementar um sistema de gestão da qualidade não para certificar, mas para ganhar dinheiro, para optimizar a rentabilidade da empresa focando-a na execução da estratégia. A empresa, soube-o mais tarde, só queria a certificação, a bandeira e o certificado. Resultado, desenhamos um sistema bonito, intelectualmente brilhante (OK, elogio em boca própria é vitupério), que permitiu que a empresa fosse certificada, mas que nunca gerou a mais valia prevista porque a empresa não tinha a motivação nem o know-how(?) para o usar.

Querer mudar top-down uma economia é cometer o mesmo erro que cometi nesse projecto. Admitamos que se consegue desenhar um programa brilhante (hipótese académica apenas, o mundo é demasiado complexo e volúvel para alguém ser capaz de conceber tal plano) quem é que o vai executar? Acham que são os mais formados?
Acham que as universidades ensinam a gerir empresas no mundo complexo em que vivemos? Vejam a SONAE, mal foge do negócio do preço, perde dinheiro.

No final da conversa João Duque brinda-nos com uma ilustração da ligeireza com que o mundo académico segue a micro-economia. Segundo João Duque o sucesso do calçado nos últimos anos foi baseado no desenvolvimento de marcas... de marcas? Come on! Quantas marcas ganham dinheiro? Quantas marcas ao fim de 5 anos ainda estão vivas? Desenvolver marca é uma forma de sacar dinheiro de projectos europeus, mesmo que bem intencionada, mas que morre quando acaba o financiamento. O que foi desenvolvido e bem foi a marca "Made in Portugal" para que marcas estrangeiras viessem para Portugal aproveitar a sua "uniqueness" da proximidade produção-consumo (rapidez, flexibilidade, qualidade). BTW, mas é outra conversa, esta uniqueness já se foi graças à Turquia, Roménia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Bulgária, ...

A única maneira de salários e produtividade darem um salto é mudar de áreas de actividade. Quem segue este blogue pensará: Está a meter a pata na poça... os macacos não voam!

Sim, os macacos não voam, Hausmann tem razão.

Ou seja, e essa é a minha ideia feita, o salto de produtividade só pode ser conseguido com know-how e capital estrangeiro. A única coisa que há a fazer, algo de muito difícil num país socialista, agarrado à adicção da distribuição sem criação prévia de riqueza, é criar condições para que quem quiser investir cá tenha vantagens em o fazer, sem ter de as negociar com um Galamba qualquer.

Este investimento criaria as condições para o spill out que permitiria que projectos portugueses também subissem a sério na escala de valor.

Reparem neste exemplo irlandês:

Acham que os irlandeses são super? Não, basta terem a legislação e o contexto que atraiu investimento nas indústrias química e farmacêutica.

Até lá teremos esta cultura de sacar, de captar, de sifonar:

Ao qual criar riqueza não lhe assiste. Por isso, a caminho da Sildávia.

sexta-feira, julho 31, 2020

«Portugueses merecem o que vão ter em agosto»


O governo celebrava, e os comentadeiros do regime apoiavam:

- Portugal está a crescer mais do que a média da UE.

Agora, até os "espertos" do Polígrafo são obrigados a reconhecer "Portugal está a ser "ultrapassado no PIB 'per capita'" pelos 10 países que aderiram à UE em 2004?"

A caminho da Sildávia, agora movidos a hidrogénio, para acelerar ainda mais.

Cada vez mais verdade: «Portugueses merecem o que vão ter em agosto»