Uns falam em direitos adquiridos.
Quem os suporta?
Ontem comecei a ler um texto que alguns considerarão subversivo, "Making Sense of the Organization, Volume 2 - The Impermanent Organization" de Karl E. Weick.
"Suppose we took seriously the idea that ‘Organization is a temporarily stabilized event cluster’.
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The shorthand for this transient social order with a slower rate of change is the ‘impermanent organization.’
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people build recurrence into portions of ongoing experience by means of texts, conversations, and interdependent activity. The result is that the rate of change in these more organized portions is slowed and therefore feels relatively stable. Change is slowed but it does not stop completely. Recurrent patterns can lose their shape, they can become obsolete, and the pattern can shift each time it is redone.
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Organization resides between smoke and crystal just as it resides between conversation and text. Organization is talked into existence when portions of smoke - like conversation are preserved in crystal - like texts that are then articulated by agents speaking on behalf of an emerging collectivity. Repetitive cycles of texts, conversations, and agents define and modify one another and jointly organize everyday life.
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If we reinvoke the image of smoke and crystal, attempted anchoring by means of organizing is a move away from the impermanence of smoke toward the permanence of crystal. That movement, however, is slowed and counteracted by conditions such as continuing change, reorganizing, forgetting, and adaptation. All of these limit efforts to establish permanence. Organization, therefore, embodies continuing tension in the form of simultaneous pulls toward smoke and crystal. Under such dynamic conditions of continuous rise and fall, it makes sense to study processes of organizing and to treat organization as a reification in the service of stabilizing an event cluster.
Organizations struggle to preserve the illusion of permanence and to keep surprise at a minimum. People create fictions of permanence by means of practices such as long - term planning, strategy, reification of temporary structures, justification, investments in buildings and technology, and acting as if formal reporting relationships are stable."
E pensei o quanto tanta gente está afastada desta realidade... o quanto tanta gente não percebe que "A estabilidade é uma ilusão!":
"a growing emphasis in organizational theory on ‘the acquired ability to create viable realities from equivocal circumstances and to use informed judgment to negotiate prudent courses of action through the realities created’. The ‘creation of viable realities ’ is a continuing activity which means that no one reality is permanent. The ‘wisdom’ of impermanence lies in not clinging to that which will vanish anyway. It also lies in accepting the necessity to reaccomplish realities that seemed to be stable and in action that reflects an awareness of incomplete information, action that blends knowledge with ignorance.
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Impermanence forces people to redo patterns that keep falling apart. To organize is to reaccomplish a sequence of acts and get them to recur. Recurrence is the source of order and redoing is the means to preserve that order. Labeling imposes order, but often at a cost. When organizations generalize and compound their abstractions, they put increasing distance between direct perceptions of continuous flow and indirect recasting of those perceptions into discrete conceptions. The benefits of compounded abstractions are that they facilitate shared images and allow collective coping. The cost of compounded abstractions is that people lose sight of differences that make a difference. Discarding is about the practice of dropping one’s tools in order to adapt to changed circumstances. Discarding reverses the compounding of abstractions and moves closer to mindful perception of change. Enacting reiterates the basic notion that people organize and create the environments that provide many of their constraints and opportunities. Enacting resembles improvisation, albeit ‘wary improvisation’ lest the order already achieved be entirely abandoned. Believing recapitulates many of the dynamics already suggested by our quick gloss of the word ‘faith.’ However, believing is more than faith. In the face of ceaseless change, people who organize strive for simultaneous belief and doubt since change is not total. Today’s truth may be partially false tomorrow. [Moi ici: Pimenta Machado sorriu] Finally, substantiating points to organizing as ongoing efforts to hold collective action together despite a relentless flurry of interruption and recovery."
Recordo um texto escrito algures no blogue sobre os terramotos na Indonésia e sobre o impacte que terão no mindset cultural sobre a estabilidade. Vou procurá-lo...
Ui! Não imaginava que fosse de Agosto de 2007:
"Acredito que temos de encarar o futuro como algo a construir e não como algo pelo qual se aguarda. No entanto, a realidade é uma corrente muito poderosa, por vezes imprevisível. Às vezes penso na mente das pessoas que vivem em regiões, como a Indonésia, frequentemente assoladas por terramotos, essas pessoas terão certamente uma visão do mundo bem diferente da nossa independentemente da cultura. Tudo nos leva, tudo nos encaminha para uma enganadora confiança na linearidade dos acontecimentos, e depois, quando menos se espera "PUM"."
Espera... há outro texto, este de Fevereiro de 2007... engraçado, já na altura falava sobre direitos adquiridos:
"Num mundo instável, incerto, com intervenientes a entrar e a sair do campo de jogo, com várias balizas espalhadas, com n equipas, cada uma seguindo regras, mais ou menos iguais, ou mais ou menos diferentes, até que aparece outra com novas regras, verdadeiros cortes epistemológicos. umas equipas a jogar à defesa, outras ao ataque, ainda outras só em certas partes do terreno,...
... ou seja, uma verdadeira confusão. E é imersos nessa confusão que nós humanos arrogantes, criamos as nossas sociedades e instituições.
Vivemos, no dia-a-dia, convictos da estabilidade do mundo, da perenidade dos direitos garantidos, como se o mundo nos devesse tudo. Ainda hoje, as ilhas Molucas, na Indonésia, foram sacudidas por um terramoto. Um terramoto é uma força da natureza que arrasa a nossa crença na ilusão da segurança e estabilidade, e como não podemos culpar, nem os deuses, nem o Outro, o terramoto remete-nos para a afirmação mais famosa do ex-primeiro ministro Guterres "É a vida". É a vida, e a vida não é justa nem injusta, é a vida.
Ao reconhecer cada vez mais que o mundo é uma confusão, é uma "mess" (como dizem os ingleses), há duas opções: ou ir ao sabor da corrente, experimentar uns palpites, deixar-se conduzir pelos acontecimentos, o mundo é que manda; ou, tal como um castor, construir umas barragens, umas ilhotas de estabilidade pontual, construir e voltar a construir, para voltar a construir novamente (ou porque são destruídas pela corrente, ou porque a experiência nos ensinou uma nova técnica de construção, mais robusta).[Moi ici: Pareço Weick]
Daí que quando ouço alguém falar de direitos adquiridos, compreendo cada vez melhor o quão diferentes somos, não só geneticamente mas também quando comparamos cosmovisões."
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