sexta-feira, dezembro 06, 2024

Curiosidade do dia


 

"Olhemos para os dados recentemente publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre remunerações. O que nos diz o INE? Diz-nos, por exemplo, que agricultura e turismo pagam mal e têm os salários mais baixos do país e que as atividades relacionadas com a eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio, isto é, o sector da energia, são as que pagam salários mais elevados, com salário médio superior a 3500 euros por mês, mais do dobro da média nacional."

Lembro-me de ler isto em Agosto e sentir que algo não cheirava bem.

Desde então tenho falado com vários agentes do sector da energia e:

  • uns acham que estou a brincar;
  • outros gozam comigo por acreditar no que se escreve;
  • outros partilham da minha perplexidade.
Há aqui qualquer coisa que não bate certo, alguém sabe?

Trecho retirado de "Subir os salários apostando nas transições verde e digital

Vamos repetir outra vez: Um oxímoro!

Ando a ler "Creative Destruction - How to Start an Economic Renaissance" de Phil Mullan (vou no décimo segundo de treze capítulos). Brevemento vou escrever algo sobre os capítulos 11 e 12, uma desilusão (afinal o problema das TAPS e EFACECS não é específico de Portugal, segundo o autor).

O livro é sobre a destruição criativa e os capítulos 11 ("The appeal of muddling through") e 12 ("The limits of muddling through") são sobre os esforços dos governos para manter o status quo económico. No fundo, não há dinamismo económico, mas também não há choques económicos.

Por uma combinação de acasos (embora eles não existam) recordei este postal de 2021, "Preservação versus destruição":

"Leio que "as duas preocupações são, no imediato, a preservação do tecido produtivo existente e, numa visão de médio e longo prazo, enfrentar os problemas que travam a produtividade, a competitividade e o crescimento das empresas."


A preservação do tecido produtivo existente ... onde isto nos pode levar. Levantar barreiras à entrada, como o apoio do governo de turno? Apoios e subsídios?

Depois, relaciono "que travam a produtividade" e "preservação do tecido produtivo existente" e penso que é, em certa medida um oxímoro, se eu confiar nas ideias de Taleb e de Maliranta. Depois, relaciono "preservação do tecido produtivo existente" com o meu grito "DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!" como condição indispensável para aumentar a produtividade. Relaciono também a preservação com o dilema entre resistir ou abraçar a mudança."

Postal que termina assim:

"No dia em que assumirem objectivos, metas e janelas temporais podemos avaliar quem tem razão, até lá é retórica e oratória.

Até lá continuo a preferir a destruição criativa."

Portanto, querer "preservação do tecido produtivo existente" e "aumento a sério da produtividade" é como:






quinta-feira, dezembro 05, 2024

Curiosidade do dia

Tive de bloquear a imagem que tinha preparado para ilustrar este postal sob pena de me ser bloqueado o acesso às redes sociais nos próximos tempos.

A imagem ilustrava um acto sexual que metaforicamente ilustra o serviço prestado por um artigo publicado pelo Banco de Portugal e referido na capa do JdN de hoje e depois apresentado na página 8 sob o título "Descida do IRC não mexe ponteiro do crescimento".

Mal vi o título desconfiei da marosca. Li o artigo, procurei a fonte, que encontrei aqui, e confirmei a marosca. 

O Banco de Portugal entra no jogo político e revela-se ao nível de Alexandra Leitão. Lembram-se do que escrevi acerca da sua intervenção no parlamento sobre o IRC? Eu recordo de Julho passado: "Descida do IRC é injusta"

Triste, muito triste que o Banco de Portugal faça o estudo admitindo uma população de empresas fechada. Repito a pergunta de Julho: 

Acham que a descida do IRC é para facilitar a vida às empresas portuguesas?



Fugir do confronto directo com o gigante

O FT de ontem trazia um artigo intitulado "An audacious gamble in semiconductors" sobre o projecto Rapidus no Japão.

O projecto Rapidus é uma ambiciosa iniciativa do Japão para revitalizar a sua indústria de semicondutores e posicionar-se como um líder global na produção de chips de topo. Lançada em 2020, a Rapidus é uma empresa de fabricação de semicondutores que conta com o apoio do governo japonês e de grandes empresas, como a Toyota, a Sony e a NTT.

Não sei nada de semicondutores, por norma torço o nariz a intervenções dos governos na criação de "campeões nacionais", mas resolvi escrever sobre ele e sobre a sua mensagem acerca de estratégia empresarial.

A certa altura lê-se:

"Ever since TSMC was founded by Morris Chang in 1987, it has been all about scale and Rapidus is really something nobody has ever attempted before."

E pelo que pesquisei a estratégia da TSMC assenta numa abordagem clássica:

  • Fabrico de alto volume: O modelo de negócio da TSMC assenta a produção em grande escala para servir gigantes tecnológicos globais como a Apple, Nvidia e AMD.
  • Chips padronizados de última geração: A TSMC é especializada na produção em massa de chips padronizados, como os nós avançados de 3nm e 5nm, atendendo à procura em grande escala.
  • Economias de Escala: A escala da TSMC permite reduzir custos e manter rendimentos elevados, o que é fundamental para o seu domínio na indústria. 
O que é que o projecto Rapidus pretende? Fugir de um confronto directo e ir para o lado oposto:
  • Chips personalizados e de pequenos lotes: A Rapidus pretende servir nichos de mercado que exigem chips especializados e personalizados, em vez dos chips padronizados de alto volume que a TSMC produz.
  • Flexibilidade e Especialização: Esta estratégia permite à Rapidus alcançar indústrias ou aplicações que necessitem de designs personalizados, como IA, veículos autónomos ou robótica avançada.
  • Inovação localizada: Ao trabalhar com mercados ou sectores específicos, a Rapidus pode potencialmente preencher uma lacuna no ecossistema de semicondutores que a abordagem de alto volume da TSMC pode não resolver. Lembro-me disto na última empresa que trabalhei como funcionário, a produzir circuitos impressos (postal de 2015 e postal de 2012).
Esta abordagem de nicho pode permitir à Rapidus construir uma reputação em tecnologias de ponta e de alto valor acrescentado, sem competir frontalmente com a TSMC. O grande desafio, e daí talvez o título do artigo, a produção de pequenos lotes tem, geralmente, custos por unidade mais elevados, dificultando a obtenção de rentabilidade, a não ser que a Rapidus consiga estabelecer uma posição sólida em mercados com margens elevadas. Claro que outros desafios, mencionados no artigo incluem o recrutamento de pessoal qualificado, a gestão de elevados custos de produção e a obtenção de taxas de rendimento/eficiência competitivas.

Este exemplo do Projecto Rapidus é uma lição valiosa para as PMEs que enfrentam gigantes em mercados dominados por economias de escala. Em vez de tentarem um confronto directo, que muitas vezes resulta numa batalha perdida à partida, as PMEs podem adoptar uma abordagem estratégica semelhante a esta: encontrar um "bypass", uma obliquidade que as permita prosperar em nichos que os players grandes dificilmente conseguem servir.

Ao focarem-se em necessidades específicas e subatendidas, como produtos personalizados, serviços flexíveis ou soluções inovadoras e adaptadas a mercados específicos, as PMEs podem criar valor onde os modelos tradicionais das empresas grandes não conseguem chegar. Esta estratégia não só evita uma competição desleal, como também posiciona as PMEs como parceiros indispensáveis em cadeias de valor que precisam de agilidade e especialização. Ou seja bolas azuis versus bolas pretas.

O exemplo do Rapidus é um bom lembrete de que nem sempre é necessário jogar o mesmo jogo para ser bem-sucedido. Por isso, cuidado com os artigos das revistas com entrevistas a CEOs das empresas grandes e que são promovidos como tendo lições para aplicação directa nas PMEs. Muitas vezes, redefinir as regras ou criar um caminho alternativo é a chave para abrir novas oportunidades e prosperar mesmo em mercados altamente competitivos. Afinal, ser pequeno também pode significar ser ágil, inovador e mais próximo das reais necessidades dos clientes. Que mais PMEs se inspirem neste tipo de visão estratégica!

quarta-feira, dezembro 04, 2024

Curiosidade do dia

 

"The problem for Germany is that it doesn't have a competitive advantage in other high-value sectors, for example, something comparable to the UK's strong financial sector. Ditto for any kind of burgeoning tech sector. "If you look at a lot of surveys of Germany's adoption of digital technologies, the number of people using various kinds of modern technology, Germany scores very, very poorly," says Kenningham.

Germany ranked sixth in the IMD World Competitiveness Ranking in 2014. By 2023, it had dropped to 22nd as a reflection of that contraction."

Trecho retirado de "Germany's Lost Decade" publicado  na revista Fortune 500 Europe do passado dia 2 de Dezembro.

Ginásios e lições para PMEs

A propósito de "Treino personalizado soma adeptos e motiva aumento de ginásios":

"Os estúdios de treino personalizado, onde o exercício físico é acompanhado por personal trainers (PT), estão a crescer em Portugal, com os praticantes a salientarem a eficácia nos resultados e o benefício para a saúde. As mensalidades podem atingir centenas de euros, "um preço justo" para clientes e profissionais."

Durante e após a pandemia, houve um aumento na sensibilidade para o tema da saúde e bem-estar. O treino personalizado é visto como uma abordagem eficaz e adaptada às necessidades específicas de cada cliente, o que o torna atraente para consumidores dispostos a investir na sua qualidade de vida. Não estamos a falar do maralhal, estamos a falar de um tipo específico de cliente-alvo

Apesar de ser um serviço mais caro, os consumidores percebem o custo como justificado devido à personalização, acompanhamento próximo e resultados mais rápidos e eficientes. Embora sectores muitos tradicionais enfrentem retracção nesta altura, áreas que oferecem experiências diferenciadas ou que se alinham com as novas prioridades das pessoas (como saúde e fitness) têm crescido. 

O crescimento dos espaços de treino personalizado também está associado à diversificação do sector fitness, que agora oferece opções para diferentes gostos e necessidades, como estúdios mais pequenos, serviços a pedido e tecnologias de apoio. Isso serve um cliente-alvo disposto a pagar por essa flexibilidade.

A tendência dos treinos personalizados no sector do fitness oferece uma poderosa lição para PMEs em qualquer sector: valor percebido justifica preço premium. Se consumidores estão dispostos a pagar mais por acompanhamento personalizado, resultados rápidos e experiências diferenciadas, por que não aplicar essa lógica ao seu negócio?

  • Encontre aquele grupo de clientes que não está a ser bem atendido. Recordar aquela citação ali ao lado "When something is commoditized, an adjacent market becomes valuable". Pergunte-se: o que é que eles desejam, mas não estão a encontrar no mercado? Invista em criar algo exclusivo que se destaque. Por exemplo, maionese com azeite em vez de com óleo de girassol, ou com óleo de colza.
  • Assim como no caso do treino personalizado, projecte os seus produtos ou serviços para resolver necessidades específicas, oferecendo atenção aos detalhes, proximidade e soluções sob medida. Não se vende treino, vende-se o cumprimento de um ou mais objectivos muito concretos, palpáveis, na vida dos clientes-alvo.
  • Cobrar um preço mais elevado exige como contrapartida que se entregue mais: serviços personalizados, qualidade superior, conveniência ou tecnologia inovadora que cativam o cliente e transformem o custo num investimento, não numa despesa.
  • Eduque os seus clientes-alvo sobre o porquê do preço premium. Mostre histórias de sucesso, resultados mensuráveis e depoimentos que reforcem o impacte do que a sua empresa entrega.

O futuro das PMEs está em "fazer coisas que os outros não fazem" e entregar valor que inspire confiança, fidelidade e, sim, disponibilidade para pagar mais. Diferencie-se, especialize-se e conecte-se com os clientes certos — porque quem escolhe qualidade está disposto a investir. 

Recordar de 2012:

"Há tempos, tive acesso ao "Barómetro AGAP" (Associação de Ginásios de Portugal) do 1° trimestre de 2012 e descobri lá esta pérola:

"Os ginásios com mais de um clube (cadeias) registam maiores perdas de clientes que os independentes (um único clube); de forma surpreendente, os clubes independentes que não possuem vantagens de escala, têm recursos mais escassos e menor facilidade de crédito que as cadeias, são mais resistentes e conseguem obter melhores resultados também na variação da facturação""

terça-feira, dezembro 03, 2024

Curiosidade do dia


Ontem vimos o efeito, agora temos a causa:

Purchasing Power Index muito baixo. Com um índice de 55.7, o poder de compra em Portugal (na capital) é um dos mais baixos da Europa Ocidental. Quase não dá para acreditar no número porque é mesmo muito mau.

Portugal está abaixo de países vizinhos como Espanha (92.6) e França (97.5), mas também abaixo da média de muitos países do Leste Europeu, como a Polónia (95.4) e os países bálticos.
Apenas países como a Albânia, Sérvia, Macedónia, Grécia ou a Ucrânia (43.7) têm índices mais baixos na Europa.

Continuemos alegremente a defender o passado, a torrar dinheiro em TAPs e EFACECs, a caminho da Sildávia, não do Ocidente, mas da Europa toda.

Acerca da abordagem por processos

Retirei esta figura que se segue do último número da revista Bloomberg Businessweek:

Sou um adepto incondicional da abordagem por processos ainda antes dela ter sido incorporada na norma ISO 9001.

A abordagem por processos, como ilustrada no fluxograma da imagem, revela-se uma ferramenta valiosa para lidar com questões do quotidiano e, de forma ainda mais relevante, para a gestão empresarial. Para as PMEs, estruturar operações com base em processos claros e bem definidos traz inúmeros benefícios, promovendo eficiência, padronização e maior capacidade de adaptação.

Um fluxograma, como o exemplo apresentado, oferece um mapa visual e lógico que auxilia na tomada de decisões, eliminando incertezas e reduzindo erros. No contexto das PMEs, onde muitas vezes os recursos são limitados, essa clareza permite que os colaboradores compreendam melhor as suas responsabilidades e acções necessárias, optimizando o tempo e aumentando a produtividade.

Além disso, um dos aspectos mais importantes da abordagem por processos é a redução da variabilidade. Nos pontos críticos, os fluxogramas complementados por orientações processuais tornam explícito o que deve ser feito, reduzindo decisões baseadas na subjectividade e no improviso. Isso contribui para que todos os colaboradores sigam o mesmo padrão de acção, mesmo em situações de pressão, assegurando consistência na entrega de produtos ou serviços. Essa uniformidade é crucial para manter a confiança dos clientes e optimizar os resultados operacionais.

A abordagem por processos também facilita a identificação de gargalos operacionais e potenciais melhorias. Ao ilustrar o que se faz numa empresa como um fluxo de actividades entre etapas a empresa consegue analisar o desempenho de cada etapa e implementar ajustes onde necessário.

Outro benefício significativo é a escalabilidade. Com processos bem estruturados, uma PME consegue crescer de forma mais organizada, garantindo que novos colaboradores ou operações seguem os padrões estabelecidos. Isso também ajuda a manter a consistência na qualidade dos produtos ou serviços oferecidos.

Se, como líder de uma PME, reconhece ou suspeita do potencial que a abordagem por processos pode trazer para a sua organização – seja na redução da variabilidade, na optimização de recursos ou na padronização de operações –, saiba que este é um passo estratégico para garantir a eficiência e o crescimento sustentável. Se acredita que esta metodologia pode beneficiar o seu negócio, talvez possamos ajudar na implementação de processos claros e estruturados, adaptados às necessidades específicas da sua empresa. Entre em contacto para explorarmos juntos como esta abordagem pode transformar os seus resultados.

segunda-feira, dezembro 02, 2024

Curiosidade do dia

"Quase um terço dos portugueses (32%) pondera emigrar, e o motivo principal, indicado por 37% das pessoas nessas circunstâncias, é a procura de melhores perspetivas profissionais, segundo o estudo "Consumer Sentiment Survey 2024". ', realizado pela Boston Consulting Group (BCG).

...

Segundo a análise da BCG, quanto mais novos e com mais formação maior a probabilidade de quererem emigrar, sendo que os jovens entre os 18 e 24 anos (64%) e indivíduos com ensino universitário (34%) são os mais propensos a emigrar."

Trechos retirados de "Um terço dos portugueses pensa emigrar" publicado no Caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 29 de Novembro.

A economia não é um jogo de "nós contra eles" (parte II)

Parte I.

Já escrevi aqui que o desporto não é uma boa metáfora para explicar a economia. Na economia, o objectivo não é derrotar os concorrentes, mas conquistar clientes. Ainda assim, vou recorrer a essa analogia porque, no desporto, quando um adversário vence, ninguém pode legitimamente argumentar que a vitória lhe foi "roubada" ou que foi injusta. No desporto, perder faz parte do funcionamento natural das coisas.

Vamos então ao exemplo:

Momento 1
Imaginem uma corrida em que apenas um corredor, o alemão, está na pista. Ele é o único participante.

Momento 2
O corredor alemão continua a correr, mas agora aparece um segundo competidor: um corredor português.

Momento 3
Enquanto o corredor alemão mantém o ritmo, o corredor português começa a sentir pressão quando surge um terceiro concorrente: um corredor marroquino.

Momento 4
O corredor alemão segue firme na corrida, enquanto o corredor português abandona a competição. Resta apenas o corredor marroquino a disputar a pista.

A Coindu da Parte I está no "Momento 3".

Com a ajuda de um drone observamos o que se passa em cada momento:

O corredor alemão tem-se mantido em prova porque corre numa pista à parte, embora corra como os outros está a competir numa prova diferente. Já o português e o marroquino estão a competir na mesma pista.

Na parte III vamos ligar isto à estratégia, aos Flying Geese e à evolução de uma espécie ou dos indivíduos de uma espécie. Para já fechamos com uma ligação a um outro artigo, "Marisa está entre os 350 desempregados da Coindu e sabe porquê: "Não há mais projetos para nós, não podemos concorrer com o norte de África"":
""Dizem-nos que Portugal começa a ter dificuldades em atrair encomendas de clientes estrangeiros pelos ordenados, mas se formos ver os nossos salários nem são altos, rondam os 900 euros", diz ao Expresso Marisa Sousa, trabalhadora e dirigente sindical da Coindu, em Arcos de Valdevez, onde só tem trabalho até ao final do ano."
Lembram-se da produção de meias que saíu da Lituânia em direcção a Portugal? É a versão oposta do que acontece agora na Coindu.

Li algures na semana passada que a montagem de veículos eléctricos na Alemanha era 10 vezes mais do que em Portugal. Quais os veículos mais caros? Pois.

Recordo a superior produtividade física da fábrica polaca da Fiat a fazer … os carros mais simples e mais baratos. BTW, cuidado com a produtividade física.

domingo, dezembro 01, 2024

Curiosidade do dia

"Second, when politicians try to back national champions in areas where technology is rapidly evolving, they are likely to waste several electric lorryloads of taxpayers' money. That is especially true if the champion in question is far behind the market leaders. Governments often base their industrial policies on the "infant-industry" argument, which says that domestic firms in new industries need protection until they are viable. The trouble is, if they are too far behind, they may never catch up with their foreign rivals-and support may simply allow them to grow flabby."

Trecho retirado de "Lessons from Northvolt's failure" publicado na revista The Economist do passado dia 30 de Novembro.

A economia não é um jogo de "nós contra eles" (parte I)

A economia não é um jogo de "nós contra eles" (sendo eles os concorrentes).

Leiam se puderem o artigo "Sindicato acusa Coindu de mudar produção "para outros países"" publicado no DN de ontem:

"O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA) acusou, ontem, o grupo Coindu de encerrar a fábrica de Arcos de Valdevez para deslocalizar a produção para outros países, nomeadamente para a Tunísia.

...

os operários vão ser despedidos porque "não há trabalho. E não há trabalho porque lhes foi roubado. Foi para outros países. Roubaram aqui em Portugal para porem noutros países", acrescentou que já pertencia a este grupo, vai captar o trabalho daqui [da unidade de Arcos de Valdevez]."

Este texto permite iniciar aqui uma série sobre o que é a economia a sério.  A economia não é um jogo de "nós contra eles" (sendo eles os concorrentes). Eles não nos roubam trabalho. Por que se pensarmos assim: Curioso como a economia funciona de forma "normal" quando somos os beneficiados, mas torna-se um "roubo" quando somos os prejudicados. Não me lembro de ouvir os sindicatos portugueses clamarem pelos direitos dos trabalhadores alemães quando as fábricas se deslocaram para cá. Parece que, nessa época, as oportunidades vinham ‘naturalmente’ para Portugal, sem que ninguém questionasse as regras do jogo. Agora que o Norte de África está a ganhar competitividade, o discurso muda. 

Quem sabe um dia consigamos entender que a economia global não é um jogo de "nós contra eles", mas sim uma dança constante onde o ritmo nem sempre nos favorece.

Imaginem um jogo de cadeiras musicais global, onde todos dançam ao som da mesma música. Quando a música pára, os países que conseguem sentar-se primeiro ficam com o "trabalho", enquanto os outros reclamam que a cadeira foi "roubada". Curiosamente, esquecem-se de que, na rodada anterior, também tinham conseguido sentar-se antes de alguém. A questão não é o "roubo" da cadeira, mas sim quem consegue adaptar-se à música em constante mudança.

Continua.

sábado, novembro 30, 2024

Curiosidade do dia

"Anyway, the general angst of Westerners for other people's forests has inspired them to instate various laws to Protect Our Planet's Trees. One such law is the European Union Timber Regulation (EUTR), which passed in 2010.

...

This new law would target wood, yes, but it would also go after other products like beef, cocoa, soy, palm oil, coffee, tyres, chocolate, leather and furniture. Anybody bringing these commodities to market in the EU should have to "prove that the products do not originate from recently deforested land or have contributed to forest degradation." This new draft legislation would really put a stop to deforestation, they thought, and so in May 2023 - largely out sight and with nobody paying attention - the EU Parliament and the member states made the EU Regulation on Deforestation Free Products the 1,115th regulation passed that year. 

...

That feeling did not last very long. As I write this, basically nobody thinks the Deforestation Regulation is a good idea any longer. Olaf Scholz, the German Chancellor, is against it, as are (according to Welt 20 other EU heads of government (the EU only has 27 member states). The United States thinks it is a bad idea and all of South America thinks it is a terrible idea. Even the Greens think it is stupid now. Still more amazing, a lot of people in Brussels in the very same legislative and executive bodies that passed this law in 2023, have now also decided that their own law is shit."

Trechos retirados de "How the European Union passed a brave new law to protect our planet's forests, only to realise that it is a logistical and bureaucratic nightmare that nobody wants

Abraçar a mudança!!!

"Paul Ormerod highlighted that growth can't happen without openness to change and disruption. The absence of this outlook brings a reluctance to engage in innovation and transformative investing. Crucial to research and the subsequent innovation is the 'willingness of a country to embrace, rather than resist, change'."

Ao longos anos aqui no blogue:

Trecho retirado do capítulo 9, "The intellectual crisis of capitalism", do livro de Phil Mullan "Creative Destruction".

sexta-feira, novembro 29, 2024

Curiosidade do dia


Ontem na última página do JdN podia ler-se ""Chairman" da Sonae deixa apelo: "compre menos"":
""O nosso apelo é: temos de deixar de o transformar [omundo] em poluentes e resíduos, mas sim transformá-lo em coisas úteis. Vamos usar menos". apelou. "Sim, eu sei que somos uma retalhista. E, sim, percebo que estou a dizer 'compre menos'" , afirmou Paulo Azevedo, perante a estupefação da plateia. Com esta nuance: "Queremos vencer num mundo sustentável. Não queremos vencer num mundo insustentável. Compre menos... de preferência, compre ainda menos dos nossos concorrentes", rematou, com alguma graça, o "chairman" da Sonae."

O apelo de Paulo Azevedo para "comprar menos" soa como uma ideia contraintuitiva vinda de um chairman de uma grande empresa de retalho, especialmente de uma que não é exactamente famosa por praticar uma abordagem de longo prazo na sua estratégia, nunca esqueço o caso da Berg. 

Se compararmos essa postura com o grupo Inditex, percebemos um abismo estratégico. A Inditex aposta fortemente em eficiência operacional e inovação nos modelos de negócios, especialmente ao integrar sustentabilidade no próprio core business, em vez de fazer um apelo que pode soar simplista e contraditório para o consumidor. Afinal, como é possível apelar ao consumo consciente e sustentável, enquanto a própria natureza do negócio incentiva a compra e reposição constante? 

Sem uma visão clara de longo prazo, restam apenas mensagens de curto prazo.

Em vez de abraçar a destruição criativa ...

O capítulo 9, "The intellectual crisis of capitalism", do livro de Phil Mullan "Creative Destruction", explora como a mudança na atitude das elites ocidentais contribuiu para aquilo a que o autor chama de "Longa Depressão". Após a Segunda Guerra Mundial, o optimismo em relação ao capitalismo diminuiu à medida que as elites começaram a questionar a sua capacidade de gerar progresso. Esse pessimismo foi agravado pelo colapso da União Soviética, que deixou o capitalismo sem um inimigo claro e exposto às suas próprias falhas.

"The reorientation of state institutions from growth to stabilisation is mostly implicit. Governments continue to pay lip service to the objective of economic growth. Doubtless many establishment politicians would like to have both stability and a bit more growth. However, there is a big gap between this latent attachment to growth and embracing the level of social dislocation needed to bring it about. In practice the policy inclination towards stability is at the expense of sustained growth. Economic dynamism is not restorable except through disruptive destabilisation involving the widespread destruction of old capital values.

The precondition for escaping the Long Depression is to challenge and overturn the conservator activities of the state."

Os governos têm dado prioridade à estabilidade em detrimento do crescimento económico, evitando as políticas disruptivas que seriam necessárias para revitalizar a economia. Este foco conservador limita o progresso e reflecte uma perda de confiança na capacidade humana de liderar transformações significativas.

"Uncertainty is now widely regarded as a constraint on the economy. In fact, the perception of uncertainty is more important for what it says about the intellectual climate than for the economic one.

Viewing uncertainty as detrimental represents a turnabout in social attitudes. For most of the history of capitalism, uncertainty was regarded neutrally or positively: it was sometimes embraced as an opportunity for gain and advancement. Businesses in the past were not deterred by future uncertainty, but accumulated capital to secure increased means to control the future. The classic financial investment advice to 'buy when there's blood in the streets' revelled in periods of acute political uncertainty.' In contrast, it is now a cliché to say that business and markets 'hate uncertainty'. 

Business leaders, as well as many pundits, attribute uncertainty as the reason for putting off investment decisions. A frequent survey finding is that business is not investing because of its lack of confidence in the face of an uncertain future.

...

As Mazzucato later put it, echoing his sentiments: 'Without uncertainty there would be no point in even trying to form competitive strategies.'& If everything were predictable there would be a limited possibility of gaining competitive advantage. Uncertainty provides the terrain for individual businesses to make superprofits, when they risk their capital to get ahead of competitors by deploying the latest innovations and cutting prices.

Uncertainty was for a long time recognised as the basis for markets to function. This refutes the assertion that markets 'hate uncertainty': they need uncertainty."

A incerteza, que historicamente era vista como uma oportunidade para inovação e lucro, passou a ser percebida como um obstáculo às decisões económicas. Esta mudança espelha um desconforto generalizado da sociedade com o risco e a transformação.

"Today's greater anxieties about uncertainty are driven by a loss of belief in the benefits of progress and of humanity's ability to make a better world

The humanist pursuit of progress is now seen by many across the political spectrum to cause problems and, sometimes, to be downright destructive: socially, environmentally, materially, and morally. 

As a society we have become reluctant to validate and promote the active, positive side of humanity to change things for the better. This represents a turn against a central Enlightenment perspective: seeing man as rationally capable of making a better future. Instead individuals these days are frequently presented as weak, sometimes irrational, and often requiring restraint from above. The humanist essence of Enlightenment thought has lost its appeal. The potential for meaningful, purposeful human intervention is frequently doubted and questioned.

Hence, the disposition for extending regulation, not just of the economy, but of all areas of human life."

A crítica crescente ao empreendedorismo tradicional e à tomada de riscos, frequentemente rotulados como irresponsáveis ou perigosos, reforça a predominância da regulamentação e da gestão de riscos. Estas abordagens sufocam o dinamismo essencial ao crescimento económico.

Culturalmente, há um declínio na crença nos benefícios do progresso, o que reduz as aspirações e alimenta expectativas mais baixas. A sociedade tende a considerar a mudança conduzida por humanos como problemática, incentivando o excesso de regulamentação e uma visão pessimista das capacidades humanas.

Este desconforto com a mudança contradiz a necessidade do capitalismo por "destruição criativa" - o processo de eliminar sistemas obsoletos para abrir espaço à inovação. A resistência das elites e dos decisores políticos às disrupções necessárias perpetua a estagnação económica. Por fim, o receio do desconhecido desincentiva investimentos ousados, reforçando um ciclo de baixo crescimento. O espírito cultural atual privilegia a conservação em vez da transformação, dificultando a revitalização económica.

"The enlightened humanist view of the relationship between the state and the public has become reversed. The state is no longer an institution that needs to be controlled by people. It is now the state's role to judge what is good for people, to raise public awareness, and to socially engineer people to do the right thing'. The earlier emphasis on the importance of human agency has been replaced by an emphasis on human vulnerability and powerlessness. And because people are so powerless and vulnerable this is seen to justify that we need the support of public institutions.

Just as the ascent of Enlightenment ideas informed the economic advances of industrial capitalism, so the reverse applies with today's slow-drift capitalism. Discomfort with change is antithetical to the business dynamism that the market system relies on to move forward. Cultural uneasiness with disruptive change runs counter to the creative destruction that is essential for capitalist growth and economic progress. This discomfiture informs the mainstream political inclination for stability over disorder."

A incapacidade das elites de articular uma visão positiva para o futuro do capitalismo prejudicou a sua capacidade de implementar as reformas necessárias para restaurar o crescimento económico. Em vez de abraçar a destruição criativa como um motor de progresso, as elites tornaram-se mais avessas ao risco e mais focadas na preservação do status quo. 

Em suma, o capítulo 9 argumenta que a crise intelectual do capitalismo é um factor fundamental na perpetuação da Longa Depressão. A falta de fé no capitalismo e o medo da mudança criaram um ambiente onde a estagnação económica se tornou a norma.

quinta-feira, novembro 28, 2024

Curiosidade do dia

"Things aren't looking good at Nissan. Dealers are selling cars at a loss, production has slowed, and more recently, the company cut thousands of jobs and sold a third of its stake in Mitsubishi. But it all may have been too little too late.

A new report suggests that the automaker's days are numbered. In an interview with the Financial Times, two unnamed Nissan executives said the company has "12 to 14 months to survive." "This is going to be tough. And in the end, we need Japan and the US to be generating cash," they said."

Surpreendente ler que a Nissan, outrora considerada uma marca sólida no sector automóvel, enfrenta uma crise tão severa que alguns executivos estimam ter apenas "12 a 14 meses de vida". Esta situação é alarmante, especialmente para uma empresa com uma história tão rica e uma presença global significativa. 

As dificuldades financeiras, os cortes de postos de trabalho e a procura urgente por novos investidores sugerem problemas profundos.

É a destruição criativa a funcionar, a menos que apareça um Pedro Nuno com dinheiro de contribuintes.


Trecho retirado de "Nissan Has '12 to 14 Months' Left"


Acerca do crescimento canceroso

Ao arrepio do mainstream, na linha de "Teoria versus estatística (realidade)":
"It's conventional wisdom in business that bigger is better, and that being able to scale is an essential element of a company's success. ...

For some time, scale and scaling - meaning that a business grows to ever-greater size — have been the holy grail of the startup and corporate world. Implicitly many believe that if something doesn't scale, then it's a failure. Bigger means better, and not-bigger means failure.
...
Can we say why getting bigger does not always equal success? Others have done so, including famed economist E.F. Schumacher in his book, Small Is Beautiful. There is a flaw at the heart of the concept of scaling, though it can be hard to articulate in the face of "bigger is better." Looking back to the roots of "scale" can help us pinpoint what conventional wisdom might be missing."
Alternativas à escala tradicional:
  • Scaling a Model, Not a Company
  • Scalling Impact, Rather than a Company
  • Scaling Humanity, Instead of Scaling Companies

"If we could broaden the lens of what we consider success and scale, we might be able to create more space for a healthier, happier economy. [Moi ici: Recordar o recente "Fugir da "rat race""] Sometimes we think that because something happens on its own — Adam Smith's famous invisible hand — that makes it good. But cancer gets bigger on its own. [Moi ici: Interessante como uso a mesma linguagem aqui no blogue - crescimento cancerosoThere are places where scale makes sense, but places where it does not. Perhaps one day we could celebrate a company like Huit Denim changing the conversation or an organization like Blue Hill at Stone Barns scaling a model that creates healthier farms and more delicious food as an equal, maybe even bigger, success than a tech company."

Trechos retirados de "It's time to reimagine scale"

quarta-feira, novembro 27, 2024

Curiosidade do dia

 
"Today you need to eat between eight and 21 oranges to get the nutrients your grandparents received in a single orange because soil has been stripped by fertilizer, pesticide, and monocrops of the microbiological community that creates flavor and nutrition. Anyone who has tasted massproduced strawberries and tomatoes knows firsthand that they often taste like bags of water compared to their more delicate, flavorful cousins raised in good soil. In the pursuit of scale, we have created efficient food that can be shipped long distances but is not delicious. How can we bring these measures into the conversation — not just in food, but across all of business?"

Trecho retirado de "It's Time to Reimagine Scale

Uns artistas!


Há anos estava a fazer uma auditoria a uma empresa e ao analisar a evolução do indicador "Taxa de cumprimento dos prazos de entrega" verifiquei que o desempenho estava bem abaixo do objectivo da empresa. Quando questionei a empresa sobre o que tinha feito para lidar com tal evolução ouvi uma resposta do tipo "vamos ter mais cuidado no próximo ano".

Esse é o tipo de resposta que não aprecio. Por isso, depois de algumas perguntas e respostas concluímos que o problema estava na forma como o indicador era calculado. A empresa dividia os clientes entre clientes para os quais o prazo de entrega era chave, e clientes para os quais o prazo de entrega não era crítico. Assim, nos períodos de pico de produção a empresa deliberadamente atrasava produção e entrega aos segundos para satisfazer os primeiros, mas ao calcular o indicador a empresa não distinguia os diferentes tipos de clientes na sua relação com os prazos de entrega. Portanto, o melhor que a empresa tinha a fazer era focar-se apenas nos clientes para os quais o prazo de entrega era crítico aquando do cálculo do indicador.

Lembrei-me de tudo isto por causa de um artigo publicado no JdN do passado dia 15 de Novembro, "Governo francês recorre a economistas para evitar previsões erradas". Apetece exclamar: Brincamos!!!!
"Com os "tiros ao lado" nas previsões económicas para este ano, em particular no que respeita às finanças públicas, o Governo francês decidiu recorrer à ajuda de economistas externos.
O grupo de especialistas, que reúne esta quinta-feira pela primeira vez, irá procurar formas de adaptar as previsões a um cenário global cada vez mais volátil e instável e aumentar a visibilidade quanto à forma como são conduzidas as finanças públicas.
Este passo foi tomado depois de as projeções do Ministério francês das Finanças para receitas fiscais este ano se terem revelado demasiado otimistas. O resultado? Um inesperado défice orçamental de 6,1% do produto interno bruto (PIB) em vez dos 4,4% estimados no Orçamento do Estado."

Parece que o Governo francês decidiu transformar o seu próprio optimismo fiscal numa tragédia anunciada. Primeiro, pintam o quadro de receitas a brilhar como o sol de Verão, tudo para agradar ao eleitorado (houve eleições em 2024) e mostrar que "está tudo sob controlo." Mas agora, com as contas a rebentar pelas costuras, toca a chamar um comité de especialistas para dizer o óbvio: "ups, afinal fomos um bocadinho demasiado optimistas."

Este "comité de sábios" é quase uma versão doméstica da troika, mas com sotaque francês. O que falta explicar é como o governo vai justificar as medidas de austeridade que provavelmente virão a seguir, enquanto os eleitores piscam os olhos, confusos, e perguntam-se onde está aquele orçamento mágico prometido antes. A cereja no topo? Culpam a volatilidade global e não, vejam só, a sua própria visão de túnel na política fiscal.

Conclusão: quando o défice dá "tiros ao lado", é sempre mais fácil chamar uns especialistas para dizer "foi o mercado!" do que admitir que se apontou a arma ao próprio pé.