Todos sabemos que Passos Coelho chamou a troika.*
Todos sabemos que aplicou a austeridade porque quis.*
Todos sabemos que havia outra alternativa.**
Quando um país chega à situação de pré-bancarrota e precisa de mais dinheiro tem de acordar as condições em que quem empresta aceita conceder mais um empréstimo.
O governo de Sócrates negociou as condições e chegou-se a um acordo.
Houve eleições, outro governo foi constituído e teve de aplicar o acordado.
Com o país à beira do abismo seria de esperar que o país mudasse de vida. E enquanto a troika andou por cá assim foi, ou antes assim parecia. À primeira oportunidade, assim que surgiu um alívio, voltámos às velhas práticas indiferentes ao destino onde nos voltarão a levar. Não é uma questão de se, mas de quando.
Interessante como no caso grego o acordo e a mudança foi feita pela extrema-esquerda e uma vez finda a legislatura o novo governo continuou o mesmo projecto. E agora, pasme-se, parte importante do dinheiro da bazuca para a Grécia será para ... compensar a baixa de impostos. Já estão no bom caminho e vão voltar a ultrapassar Portugal.
Nós por cá já estamos, no que depende de nós, pior do que em 2011. Confesso que não sei como será quando aquilo que não depende de nós, política do BCE e taxas de juro, tiverem de mudar forçados pelas circunstâncias.
Tudo isto a propósito da conversa com João César das Neves ontem. Alguém que ao fim de 30 anos percebeu que não mudamos ponto. Por isso, não perde tempo à espera que mudemos. Talvez por aquilo a que Nuno Garoupa chama de “displicência de Bruxelas”.
Entretanto, esta manhã na minha caminhada matinal leio este texto e percebo que tudo se encaixa em mais uma mensagem do Cosmos para me educar acerca da natureza humana.
"In his book Change or Die, Alan Deutschman reports a truly amazing statistic: After undergoing coronary artery bypass grafting, most people—not surprisingly—attempt to improve their health by undertaking radical changes to their lifestyle, for example eating a healthier diet or quitting smoking or exercising more. However, people slowly start to drift back to old habits and—here is the amazing thing—90 percent end up with the same lifestyle as before within two years of their operation. Take a moment to absorb this information. There are two insights that immediately pop out. First, change is hard. It is so hard that even fear of death is not enough to convince people to change for good.”
Trecho retirado de “Organizing for the New Normal” de Constantinos Markides
* Para os mais distraídos, estou a ser irónico.
** O "amigo" bicicletas já virou adepto da TINA (there is no alternative), o tal que durante a troika dizia que a solução era o crescimento.