sábado, dezembro 29, 2012

Até o derradeiro "lock-in" pode ser torneado

O milhão de portugueses que deixou o país na última década é um sinal de que o "lock-in" mais poderoso pode ser torneado.
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A propósito desta reflexão de Seth Godin "The pitfall of lock in"

Democratizar a inovação

"3-D printers  will be mainstream in the next decade and that they'll completely revolutionize the way we live. The possibilicies are limitless." he said. -We can't even know how exactly they will change our lives yet. It would be like asking someone in the 1970s to guess how the internet would change our lives. It's going to change absolutely everything.
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Best of all, with3-D printers, anytime that anyone comes up with a great object that solves an existing problem, the inventor will be able to disseminate the new invention with unbelievable speed.
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And the factory of the future won't be the mass-production plant in the developing world; it will much more likely be your tech-savvy neighbor's garage ... or anywhere you can rent the use of a 3-D printer. In the same way that the invention of the printing press in the middle of the last millennium democratized knowledge by making it possible for people outside of the elite to get books, 3-D printers promise to democratize innovation for this millennium. It will no longer simply be the connected, corporate-funded elite who will be able to create inventions and designs that reach the masses. In the 21st century, everyone will have the tools necessary to create and spread their creations. Small audiences, even as small as one, will have a voice to ask for a custom product to meet their needs, and individuals will have the power to answer." 

Trechos retirados de "Custom Nation"


À atenção dos senhores jornalistas

A propósito de "Imigrantes romenos explorados na apanha da azeitona no Alentejo".
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Por que é que os jornalistas, sempre tão interessados em publicar notícias sobre os problemas laborais e humanos na Foxconn, não exploram melhor estas notícias?
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Por exemplo, eu gostava de saber quem são os proprietários das quintas onde trabalham esses explorados.
Por exemplo, eu gostava de saber para que marcas segue a azeitona ou azeite dessas quintas.
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Dessa forma, eu e outros como eu, poderíamos penalizar essas cadeias produtivas na próxima ida às compras, optando por outras marcas.

Milagres

"Portugueses vivem sonho asiático na Indonésia"
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"Marcas de calçado resistem à crise com novos mercados"
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"Vendas de vinho para a China crescem 62%" BTW "China and India: The $10 Trillion Engine of Future U.S. Growth"
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O que sublinho nestes três artigos é o que é comum - a procura de novos mercados. É o que dá cabo das tentativas de previsão, quando se decide tentar um novo mercado está-se a provocar uma descontinuidade. Os números do passado tornam-se ainda mais "imperfeitos" para tentar prever os números do futuro.
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Procurar novos mercados é muito mais difícil, as redes de conhecimentos são rudimentares, os modelos mentais de ambas as partes podem estar muito distantes... e, no entanto, têm-se feito milagres.
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"As exportações vão continuar a aumentar?"
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"Porto com taxa de ocupação hoteleira superior aos 90% na passagem do ano" comparado com "Passagem de ano: ocupação nos hotéis do Algarve nos 30%" (mas quando estudamos os proveitos, segundo o INE, quem está a facturar mais do que em 2011 é o Algarve)
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BTW, "Défice externo português aproxima-se de zero" (boletim do INE) e "Queda da actividade económica em Novembro foi a mais baixa em 18 meses"
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sexta-feira, dezembro 28, 2012

Venda online - alguns dados

Ainda a propósito de "Qual deve ser o papel de uma associação patronal?" uns factos interessantes sobre o avanço da realidade da venda online:
"Dragging Fashion Wholesalers Into the Digital Age"
"Last year U.S. shoppers spent $141 billion on clothing in brick-and-mortar stores and more than $17 billion online, according to market research firm NPD Group." (Moi ici: Estamos a falar de cerca de 11%, mais de um décimo do comércio já está online... agora pensem nos indicadores tradicionais, seguidos ao longo de décadas e que transmitem um sinal de queda, quando afinal o consumo até existe, está é a passar para outros canais)
E relacionado com o outro postal de hoje "Atento às peças novas para um puzzle em constante evolução":
"The traditional way of doing business via trade shows and showrooms isn’t going away soon
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JOOR’s founder, Mona Bijoor, a 35-year-old former buyer for Chanel, Elie Tahari, and Cynthia Rowley, acknowledges her business is “not a replacement channel but a complementary channel.” A buyer may interact with a designer on her site and then visit their trade show booth or showroom, or vice versa, and that translates into an online order, she explains. And remote retailers who lack travel budgets and use it can find new brands." (Moi ici. E o papel de uma associação patronal não deve passar por estudar e divulgar estas experiências?
Ainda sobre o tema do comércio online este capítulo cheio de números sobre o tema, em especial o papel das compras online no B2B "Online vs. Offline Competition" de Than Lieber e Chad Syverson.
"Looking again at 2008, e-commerce accounted for 39 percent of sales in manufacturing and 21 percent in wholesale trade, but only 3.6 percent in retail and 2.1 percent in services. If we make a simple but broadly accurate classification of deeming manufacturing and wholesale sales as business-to-business (B2B), and retail and services as business-to-consumer (B2C), online sales are considerably more salient in relative terms in B2B sales than in B2C markets. Because total B2B and B2C sales (thus classified) are roughly equal in size, the vast majority of online sales, 92 percent, are B2B related.
That said, B2C e-commerce is growing faster: it rose by 174 percent in nominal terms between 2002 and 2008, compared to the 118 percent growth seen in B2B sectors."
O ponto "3. How Is the Online Channel Different from the Offline Channel?" sistematiza as diferenças:

  • "3.1. Asymmetric Information
  • 3.2. Delay between Purchase and Consumption
  • 3.3. Reduced Consumer Search Costs
  • 3.4. Lower Distribution Costs
  • 3.5. The Geography of Markets
  • 3.6. Tax Treatment"
Ver também as tabelas 1 e 4.
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Atento às peças novas para um puzzle em constante evolução

Ontem, ao criar o primeiro slide, para uma apresentação com que vou arrancar mais um projecto de balanced scorecard numa PME, na primeira semana de 2013, escolhi três imagens:
  • uma bússola;
  • um manómetro industrial; e
  • o símbolo de um caminhante, um trekker.
Um balanced scorecard da 3ª geração é uma ferramenta de transformação de uma empresa actual na empresa do futuro desejado.
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A transformação ocorre ao longo da realização de uma espécie de viagem. A bússola é uma metáfora para a necessidade de uma estratégia, para a necessidade de um caminho, para a necessidade de fazer opções.
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Uma estratégia é uma disciplina para promover o alinhamento interno de uma organização, por isso, tem de ter em conta a realidade interna da empresa. No entanto, uma estratégia também tem de ter em conta a realidade externa, para focar uma vantagem competitiva, para potenciar uma hipótese de diferenciação, para aproveitar uma descontinuidade aberta pela tecnologia ou algo mais.
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Como facilitador da formulação de estratégias, gosto de estar especialmente atento a sintomas da realidade exterior onde actuam as empresas, pode ser útil para uma análise PESTEL, para as Oportunidades e Ameaças de uma análise SWOT, para o desenho de cenários. Diariamente, ao sondar a realidade, cada novidade é como uma peça de um imenso puzzle que recolho e tento encaixar num quadro que nunca terminarei e que está sempre sujeito a alterações.
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Hoje, encontrei mais uma interessante peça de puzzle "2012, el año en que desaparecieron las grandes ferias europeas de prêt-à-porter":
"El reinado actual de la gran distribución y la rotación constante de las colecciones han obligado al multimarca, el principal cliente de los salones de moda, a evolucionar. El cambio en la tienda tradicional ha repercutido en la oferta de los eventos del sector, que tiende hacia la exclusividad y las marcas de fuerte componente moda."
É mais, muito mais do que que concorrência entre empresas... é a própria alteração do habitat onde as empresas actuam, a tal alteração no perfil de enrugamento da paisagem competitiva.
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Neste cenário, a produção no outro lado do mundo está fora de questão.

Qual deve ser o papel de uma associação patronal?

A propósito de "Saldos: Confederação do Comércio estima que crise seja de liquidação para fecho".
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Não quero pôr em causa a veracidade da mensagem, gostava sim de uma reflexão sobre qual deve ser o papel de uma associação patronal durante um período de crise.
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Penso que a realidade já ensinou a associação têxtil nacional (ATP), quando se diz mal de um sector, está-se a transmitir a mensagem de que os melhores não devem procurar ou aceitar emprego nesse sector.
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Sim, 2012 foi um ano terrível para o comércio, traduzido em falências e desemprego. Contudo, fará sentido um discurso que apela à defesa do passado, apesar desse passado não ser sustentável? Não fará mais sentido um discurso de construção de um futuro possível?
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Não fará mais sentido um discurso de alento e de promoção da procura da transformação e renovação?
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Ainda ontem à noite ouvi um pouco do programa "A Quadratura do Círculo", bastou-me ouvir Lobo Xavier uns 2 minutos antes de desligar a televisão e dedicar-me aos Sudokus. Ao ouvi-lo lembrei-me logo de uma das melhores leituras de 2012 "Deep Survival" de Laurence Gonzales...
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É como se a nossa economia fosse um conjunto de pessoas que viajava de avião. O avião despenhou-se e, agora, as pessoas encontram-se numa floresta tropical cheia de perigos e riscos. Há uns que querem aventurar-se e procurar a salvação atravessando a floresta, há outros que querem permanecer junto ao avião esperando que ele volte novamente a levantar vôo, há outros que gritam por ajuda e esperam um milagre. O que aprendi com Gonzales, e chocou com o que ouvi de Lobo Xavier, é que os que decidem aventurar-se e procurar a salvação, enfrentando o desconhecido, ao fazerem essa viagem, acabam por se transformarem a eles próprios e o mais interessante é que quando chegam à "civilização", ou quando são encontrados, já não estão perdidos, já se encontraram, já se adaptaram a uma nova realidade.
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Não estamos a falar só da crise que baixa o poder de compra, estamos a falar também da invasão crescente das vendas online, da emergência de modelos de negócio assentes na partilha e aluguer, da crescente ascensão da 2ª mão como uma alternativa interessante. É um mundo novo que precisa de um discurso novo.
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Qual a razão de ser de uma associação patronal?
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Ainda esta semana uma PME que esteve quase a quinar e que deu a volta, agradeceram-me a confiança que tive neles e o alento que lhes dei. Depois, perguntaram-me se eu tinha mesmo acreditado neles ou tinha representado.
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Creio que a pergunta sobre o que eu pensava sobre as suas possibilidades é irrelevante. Sem optimismo não há empreendedorismo, não se arrisca, não se levanta da cama e não se sai de casa para tentar pela enésima vez.
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E não há nada melhor do que ganhar autonomia e deixar de se sentir perdido.

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Alfaiates e modistas: o modelo de negócio do futuro

"Fabrica por encomenda ao gosto do cliente"
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"Eu todos os dias faço modelos novos"
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Eficiente? Não!
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Eficaz? Muito!

Um exemplo da realidade concreta que permite esta consequência:

"O preço médio do calçado português subiu para 25 euros, o segundo valor mais elevado a nível internacional, tendo aumentado 20% desde 2009, quando foi lançada uma campanha promocional que conta com mais 12 milhões de euros para 2013."
Trecho retirado daqui "Preço do calçado português é o segundo mais alto a nível mundial"

Num pequeno país, o truque, no maior número possível de sectores, passa por desenvolver modelos de negócio que trazem de volta o artesão que produz arte em vez da repetição, para aumentar os preços.
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BTW, quando é que a academia começa a estudar o sucesso deste sector?

Acerca do impacte da CEE na indústria

A propósito deste estudo "Maior queda nos bens e serviços transaccionáveis aconteceu entre 1988 e 1993" recordar:

Custa-me a crer neste número:
"Um estudo publicado no Núcleo de Investigação em Políticas Económicas da Univerdade do Minho conclui que, desde a entrada na Comunidade Económica Europeia, mais de metade da queda de sectores como a indústria ou a agricultura, no total da economia portuguesa, aconteceu entre 1988 e 1993."
Gostava de ver mais detalhe, para retirar o peso da agricultura e das pescas. Não acredito que a China tenha provocado menos "mortalidade" industrial que a adesão à então CEE.
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Depois de escrever o último parágrafo fui à procura do estudo e aqui está "“Portugal before and after the European Union: Facts on Nontradables”" e confirma-se a minha suspeita, o peso da agricultura e pescas:
 Com a adesão de Portugal à CEE o emprego cresceu na indústria:
Foi a entrada da China na arena é que deu cabo da nossa vantagem competitiva dos baixos salários:

Nunca esquecer esta tabela de custos horários da mão-de-obra.
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BTW, só agora, por estes anos é que estamos a descobrir nichos onde podemos ser competitivos na agricultura, com gente nova, como circuitos de distribuição novos e com novas culturas e abordagens.


Emprego e internet

Interessante ter lido, no mesmo dia, várias perspectivas sobre o mesmo tema:

Onde no final se pode ler:
"Every wave of innovation raises a concern that higher productivity will simply mean fewer jobs. In today’s context of high unemployment, this concern is especially acute. As in the past, technological innovation will make some jobs redundant. But it will create new ones and, if the impact on global growth is as strong as we believe, it will certainly create more jobs overall. But the education system will need to ensure that the supply of skills matches the evolving demand."

Onde se pode ler:
"Ah, you ask, but what about the people? Very good question. Smart machines may make higher GDP possible, but also reduce the demand for people — including smart people. So we could be looking at a society that grows ever richer, but in which all the gains in wealth accrue to whoever owns the robots."
A minha leitura dos acontecimentos futuros ajusta-se mais à primeira versão. Quando olho para trás e procuro prever o que é que a internet das coisas, a internet industrial, vai fazer ao emprego, pressinto facilmente a destruição líquida de emprego.
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Depois, penso na multidão de oportunidades que a internet industrial pode criar, e pressinto facilmente a criação de empregos novos. Ainda ontem, numa PME, vi uma nova máquina a ser finalizada, e toquei nuns clássicos sensores de temperatura... e pensei no Twine.
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Há cerca de um mês li um artigo de Clayton Christensen que ajuda a desenvolver melhor o tema. Muitas vezes, quando se fala em inovação, dá-se especial relevo à capacidade das novas tecnologias contribuírem para o aumento da eficiência e, isso destrói emprego líquido. Contudo, Christensen propõe que olhemos para outros tipos de inovação que acabam por criar emprego líquido.
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Por fim, estamos a falar de emprego como o conhecemos desde a Revolução Industrial, a minha metáfora sobre o futuro, Mongo, não se restringe a esse tipo de emprego. Será que os criadores que vendem na Etsy têm um emprego clássico? Como classificar os números do emprego numa economia DIY ou CIY?

quarta-feira, dezembro 26, 2012

O demónio tenta-nos sempre com a austeridade

Se desse ouvidos ao clero, para lá da religião, teria de acreditar na magia e nos duendes:


A tradição popular, que se confunde com a tradição cristã, ensina-nos sempre a desconfiar de quem promete caminhos pavimentados com facilidades e coisas boas. 
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O demónio, nos contos populares, nunca nos vem tentar com a austeridade, com a dificuldade, com o risco, com a incerteza.
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Senhor bispo, para si Marcos 8, 33

O futuro a entranhar-se



Aquela afirmação "…it’s difficult to print an object in more than one or two materials…". Parte do baixo impacte das impressoras 3D hoje em dia é explicado por isto. E, por isto mesmo é que a surpresa vai ser grande para muitos no futuro. E, por isto mesmo é que o impacte disruptor no futuro vai ser muito forte. Por causa desta dificuldade ou falha da tecnologia actual, a impressão 3D vai começar por nichos e não vai afectar o mainstrean, que a vai olhar com distância. Depois, a tecnologia há-de sucessivamente ir melhorando e resolvendo as suas lacunas até que ...

A quantidade de artigos que vão aparecendo sobre o fabrico e a comercialização de coisas via Internet.

Quantos?

"MIT's Smart Customization Group, estimates that within the next decade as much as 15 percent of the clothing Americans buy will be customized, and that as much as 5 percent of the manufactured food and drink items they buy will be customized. These statistics might seem small percentage-wise. But in absolute numbers, they're enormous. Americans spend roughly $250 billion a year on clothing and roughly $1 trillion a year on manufactured (processed and/or pre-made) food and drinks. This means that by 2020 the annual market for customized clothing will be worth an estimated $37.5 billion and that the annual market for customized food and drinks will be worth an estimated $50 billion.
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As consumers come to expect greater levels of customization in everything they purchase, companies are increasingly seeing geographic proximity to their consumers as a serious competitive advantage. This is especially true as wages are rising rapidly in many of the countries America uses for outsourcing. (For example, pay for factory workers in China climbed by 69 percent between 2005 and 2010.) Companies that are closer to their customers can instantly respond to changes in demand and deliver customized goods without incurring sky-high shipping costs."
Fazendo o paralelo para o mercado europeu, mais sofisticado, talvez os números sejam ainda mais interessantes, afinal foi aqui que nasceu o modelo Zara e, afinal foi lá que nasceu o modelo Gap, é muito por aqui que vejo um futuro para as nossas PMEs.
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Alguns empresários à frente de PMEs até estão a avançar para tornar as suas linhas de produção mais rápidas e flexíveis, para aproveitar a proximidade geográfica. Contudo, ou falham ou arriscam demasiado, ou preparam-se para, inevitavelmente, deixar muito dinheiro em cima da mesa, quando continuam a olhar para dentro da sua empresa, para as suas máquinas e pessoas, para a sua querida Produção.
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O fundamental é o contacto, a relação, com os clientes-finais.
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Quantos empresários industriais estão a trabalhar para aproveitar a internet como prateleira? Quantos se estão a associar a lojas online? Quantos estão a criar a sua própria loja online? Quantos estão a criar unidades independentes para explorar a vertente comercial?
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Quantos abdicam do contacto com os clientes-finais, para apostar no desenvolvimento de sistemas de trabalho com os lojistas online para criar laços especiais ganhar-ganhar, que minimizem o rolo compressor na negociação?
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Quantos pensam num modelo de negócio diferente?
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Trechos retirados de "Custom Nation".

terça-feira, dezembro 25, 2012

"What If — ?"

A propósito deste texto "The Christmas Truce of World War I" e da ucronia com que nos deixa no final.
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Este trecho:

E esta música de McCartney:

Turn, turn, turn, turn

Tudo é efémero, tudo é breve:
"Amazon Is Ripe For Disruption"
Uma palavra que se tem mantido perto de mim por estes dias: descontinuidade.
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Uma descontinuidade é uma oportunidade para os aspirantes e uma potencial ameaça para os incumbentes. Uma descontinuidade abre uma racha, muitas vezes escondida, no edifício dos estabelecidos e cria as condições para a mudança.
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Interessa-me o perceber como é que os agentes descobrem, pressentem, criam essas descontinuidades...   que comichão os desperta?

segunda-feira, dezembro 24, 2012

Natal!

"Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas"
Marcos 1, 3


Votos de um Natal em comunhão com o menino Jesus.

Não acredito que a "Festa" seja o caminho

Consideremos uma paisagem competitiva:
Sou o primeiro a criticar a descrição da economia portuguesa no seu todo como algo homogéneo. Contudo, há boa maneira dos economistas, vou simplificar, densificar e concentrar a economia portuguesa num ponto homogéneo e colocá-lo num pico de uma paisagem competitiva pré-2007.
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Trata-se de um pico muito baixo, porque tínhamos taxas de crescimento do PIB raquíticas. Em boa verdade, não sei se o ponto devia estar num pico, talvez estivesse melhor representado num vale, é preciso recordar que a nossa economia estava a viver à custa de empréstimos do exterior. Os famosos 2 milhões de euros por cada hora que passava.
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Depois, deu-se o 8 de Agosto de 2007 e o mundo sofreu uma descontinuidade que muitos não perceberam (recordar a entrevista do ministro Pinho ao Diário Económico (reparar no marcador utilizado) na primeira quinzena de  Setembro de 2007) e a paisagem competitiva mudou, com picos a tornarem-se vales e vice-versa.
O tempo que a nossa economia, no seu todo, vive neste momento é um tempo de transformação para que possa começar a escalada para um outro pico, ou pelo menos para longe do vale.
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Escrevo tudo isto por causa da visão do mundo que encontro aqui "“O pior ainda está para vir”":
""Tinha que ser possível uma trajectória que nos aproximasse da Europa", afirma Maria de Lurdes Rodrigues que prevê que 2013 trará "tempos difíceis""
Se calhar, só agora, com uma economia a exportar mais do que importa, com uma economia a poupar mais do que gasta, é que nos estamos a aproximar da Europa.
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Em 2007, a descontinuidade foi tal que o mundo económico que existia até então deixou de ter alicerces para se aguentar. Descontinuidade é isso, é essa incapacidade para continuar a repetir o que se repetia até então. Uma descontinuidade introduz um corte que não pode ser escondido por muito tempo.
"Muitas vezes, para se fazer uma reforma estrutural que vai levar a diminuição do défice é preciso fazer um investimento inicial."
O que estamos a fazer é uma reforma estrutural e, o investimento inicial está a ser feito, nos subsídios de desemprego e apoios sociais que tentam minimizar o impacte do choque da mudança. Numa mudança estrutural como a que vivemos não existe mapa, não existem "doutores", nem gurus capazes de indicarem onde se deve apostar, onde se deve criar empresas. Há demasiada incerteza, é uma autêntica Terra Incógnita, por isso, tem de se tactear, tem de se experimentar, tem de se arriscar, com pouca ou nenhuma informação. Meter o Estado a fazer investimentos iniciais é o contrário do que se deve fazer, o Estado aposta sempre em grande, e isso é demasiado perigoso neste ambiente de incerteza e de descoberta.
"Tendo em conta o OE 2013 adivinha que vamos ter um ano complicado?
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Adivinho tempos muito difíceis. Acho que o pior ainda está para vir. Aumento de desemprego, baixa do rendimento das famílias e mais empresas a falir. Ficaremos mais pobres, de todos os ponto de vista. Pobres nas infra-estruturas que criámos. Não teremos jornais, não teremos televisões e não teremos restaurantes. (Moi ici: As prioridades da senhora) Vamos perder uma série de instituições que demoraram anos a criar. Tinha que ser possível, com uma mobilização diferente, (Moi ici: Qual, a da "Festa"? Podia concretizar?) fazer o que é preciso (Moi ici: Podia concretizar? Qual é a receita que tem e que todos devíamos pagar? ) e continuar numa trajectória que nos aproximasse da Europa e não o contrário.(Moi ici: A "Festa" punha-nos na trajectória?) "
O que vale é que o país não é o mundozinho dependente do OE como o ecossistema "lesboeta" crê, pelo contrário. Neste mundo de incerteza, arrisco aqui prever que 2013 não vai ser tão mau quanto o pintamos.
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Pela minha conta muito pessoal, entre empresas com quem lido directamente, já vai em 5 o número das que vão ter um Janeiro de 2013 muito, mas muito melhor que o de 2012, com a particularidade de duas delas trabalharem para o mercado interno.

domingo, dezembro 23, 2012

Mais dois sintomas de Mongo

Mais dois sintomas de Mongo:

"A BILLION dollars is a lot of hay for knicknacks. But craftsmen and vintage collectors on Etsy, a dedicated online marketplace, are on course to sell wares worth that much in 2012. That is nearly double the tally for 2011 and three times as much as in 2010. Etsy's gross merchandise sales exceeded $800m by the end of November, its first $100m month. December, with its Christmas shopping, is likely to be better yet. Etsy charges $0.20 per listing, of which there were 17m in November, and takes a 3.5% cut of the sales price.
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To be fair, Etsy sells plenty of useful things besides bric-a-brac. But all products listed on the site must fit into one of three categories: handmade, vintage (defined as at least 20 years old) or raw supplies (like beads or ribbon and trim)."
Como referem os autores em "Custom Nation" o acrónimo CIY (create it yourself) é mais apropriado que DIY (do it yourself).

"Three decades ago home schooling was illegal in 30 states. It was considered a fringe phenomenon, pursued by cranks, and parents who tried it were often persecuted and sometimes jailed. Today it is legal everywhere, and is probably the fastest-growing form of education in America."

Limões

A propósito desta notícia na primeira página do semanário Sol "Clientes acusam o BCP de burla":
"Clientes do Private Banking do BCP viram todas as economias desaparecer. Julgando que estavam a investir em produtos seguros, apostavam afinal, a conselho do banco, em activos tóxicos."
Recordar este artigo histórico "The Market for "Lemons": Quality Uncertainty and the Market Mechanism" de George A. Akerlof e publicado no The Quarterly Journal of Economics, Volume 84, Issue 3 (Aug., 1970), 488-500.

sábado, dezembro 22, 2012

Quando a mudança é descontínua... não há tradição que salve os incumbentes

Pelo vistos, um dos artigos de 2012 da The Economist mais vistos na internet foi "The last Kodak moment?". Vale a pena ler para perceber como um Golias complacente, confiante na longa sucessão de vitórias, pode cair.
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Entretanto, em "Custom Nation" descubro a Shutterfly:
"When Silicon Valley entrepreneur Jim Clark started Shutterfly in December 1999, his idea was to give American consumers the ability to print photographs from their digital cameras. Back then only a tiny number of Americans had digital cameras. With a simple two-megapixel camera costing as much as $800, its not hard to see why. But Jim was convinced that the world would switch to digital: in retrospect, his prediction couldn't have been more prescient.
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Around 2004, when it became clear to everyone (and not just Jim) that Americans were, in fact, swapping film for digital, hundreds of companies rushed into the digital photo printing space.
At the time, Shutterfly was far from a household name. The company had just $50 million in annual revenue in 2004 and was barely turning a profit. Meanwhile, Kodak—the age-old king of American photography—had, by 2005, surged to the No. 1 spot in U.S. digital camera sales and was pulling in $5.7 billion annually. Back then, if you had to bet on which company would be filing for bankruptcy protection in 2012, the smart bet would have been Shutterfly by a mile. But, of course, history tells a different story.
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Although Kodak had embraced digital cameras, the company failed to see what people would want to use them for. Kodak kept thinking consumers would still want standard 4 x 6 photographs. In 2005 Shutterfly hired eBay's customer acquisition guru. Jeffrey Housenbold, to take over as its new CEO. Jeff had a different idea, which he told me when I spoke to him in the spring of 2012:
When I walked in [as CEO of Shutterfly], we were largely undifferentiated from the competition. It was all about 4 x 6 prints and price. We were not helping people do more with their images and memories. We were much more along the old paradigm, which was: Drop off a roll of film, develop prints and place them in clear sleeves for users to put in a binder on a bookshelf. I brought a different perspective and said, "My wife and I use Shutterfly to stay connected in this dual-income, geographically fragmented, time-compressed society where we have friends and family all over the world." I thought of it as a social connection and a way to share life's memories with friends and family.
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Shutterfly dropped the "photo printers" tagline and started calling itself an "Internet-based social expression and personal publishing service." And while Kodak remained focused on the old 4 x 6 photo for the bookshelf binder, Shutterfly turned its eye to more customized and lucrative products like custom calendars, custom greeting cards, custom photo books, custom mugs and custom mouse pads. The company also started putting an enormous value on gaining the trust and loyalty of their customers. Unlike many of its competitors, Shutterfly never deleted a single photo its users uploaded, regardless of whether that customer bought anything. As Jeff said, We have always had this customer-centric approach, where it is not about photos and it is not about this month's revenue. It is about a lifelong relationship."
Jeff's vision paid off. In January 2011 Shutterfly became one of the world's first true customizers to break the $1 billion mark for a public company valuation. Soon after, in January 2012, the less customizing Kodak filed for bankruptcy protection: two months later, the once-iconic photo company sold its online arm, the Kodak Gallery (complete with 75 million users), to Shutterfly for $23.8 million."
Ainda ontem, num jantar de Natal alguém comentava exemplos do mercado em que actuava, uns afundam-se e outros crescem e crescem e crescem. Voltando ao modelo de Ian McCarthy:
Bastou à Shutterfly estar atenta e trabalhar duas vertentes, a mudança descontínua na "Procura" e nos "Produtos"...
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Quando a mudança é descontínua... não há tradição que salve os incumbentes.