terça-feira, dezembro 29, 2020
"todos têm de mudar (porque mudou o campo de possibilidades)"
Interessante traduzir este texto de Joaquim Aguiar no Jornal de Negócios de ontem para o mundo das empresas.
"E se a
política[estratégia] for entendida como a articulação sustentada entre as possibilidades e os interesses, a estabilidadepolítica[de gestão] não poderá ser concebida como a eterna repetição do mesmo. A estabilidadepolítica[de gestão] só existe se houver o permanente ajustamento dos interesses às possibilidades.E se as possibilidades mudam (estão sempre a mudar), os interesses também terão de mudar (mas resistem sempre à mudança, mesmo quando se trata apenas de mudar o modo de realizar interesses que persistem na sua forma inicial apesar do que já mudou).
As crises políticas surgem quando todos têm de mudar (porque mudou o campo de possibilidades) mas há muitos que não querem mudar (nem se resignam a reconhecer que a realidade efectiva das coisas já não é o que costumava ser). E a crise é
política[de estratégia], porque é apolítica[estratégia] que tem a função de articular as possibilidades com os interesses, configurando as expectativas e os comportamentos sociais em função do que é a alteração das circunstâncias.Numa crise
política[empresarial] provocada pelo desajustamento dos interesses às possibilidades, a resposta dospolíticos[líderes] reformistas consiste na reconfiguração dos interesses para os tornar compatíveis com as possibilidades realmente existentes, mas a resposta dospolíticos reversionistas[espertos] insiste na conservação dos interesses mesmo que tenham de impor a redefinição do que são as possibilidades e procurem ocultar quem teve responsabilidades na alteração das circunstâncias que reduziu o campo de possibilidades."
segunda-feira, dezembro 28, 2020
IFAQs
Mais um trecho retirado de SMASH: Using Market Shaping to Design New Strategies for Innovation, Value Creation, and Growth de Kaj Storbacka e Suvi Nenonen. Este fez-me logo recordar o esforço do meu parceiro das conversas oxigenadoras:
"Focus on the IFAQs. Here’s another rule of thumb for leaders wishing to improve their organization’s peripheral vision. Dwell less on answers and more on questions. Especially worthwhile are the infrequently asked questions - call them IFAQs if you will. And since we’ve been citing notable quotes from quotable notables, when approaching market shaping, leaders should take Voltaire’s advice. The French philosopher and wit tells us to “judge a man [sic] by his questions rather than by his answers.” Questioning orthodoxies makes your firm more inquisitive, intelligent, and vital. Finding a single pertinent new question can generate more insight into your market system’s resource potentiality than studying all the existing answers. After all, those answers share the bias of being framed by the old questions. Yet, while management consultants and incoming CEOs as new brooms sweeping clean are in the habit of asking tough, fundamental questions, it’s far rarer to find a leader who will build and maintain a culture of continuing to ask the hard questions."
Quando se quer moldar o mercado a uma nova realidade é preciso olhar para a realidade, olhar para as peças do mercado e procurar imaginar outras possibilidades, procurar conceber outras combinações.
domingo, dezembro 27, 2020
Uma sequência de projectos em vez de um único projecto
Na linha do que escrevi em:
"First, it is hard to envision the specific tasks that actually need to get done to achieve a big goal. No matter how well you plan for a big task, there are certain details that are not obvious until you have completed it....Second, for very large tasks you often do not get feedback on your success until many of the pieces of that project are in place. Even if particular elements of the task appear to be going well, the success of the large-scale project requires integrating all of the specific tasks in a coordinated fashion....By starting out with smaller projects that encompass the range of tasks involved in larger projects, you help to deflate some of this overconfidence. You learn what is involved in expert performance, and you get plenty of chances to refine your abilities."
sábado, dezembro 26, 2020
Em Portugal ...
Tremendamente familiar
"There are always limits to the effectiveness of any unbalanced growth model....After the global financial crisis, the Chinese government responded to the collapse in external demand for Chinese manufactures by ramping up domestic investment even further. Without a commensurate increase in profitable investment projects, however, the result was simply a sharp increase in the domestic debt burden....In China, the GDP growth rate is an input into the system. It is set early in the year as the GDP growth target for that year and represents the amount of growth needed to accommodate social and political objectives, among which of course is the desire to keep unemployment low....This creates powerful—and dangerous—incentives. China’s provincial and municipal governments control most of the credit creation within the banking system, and Chinese banks rarely have to write down loans for projects that cannot service the debt. The easiest way for officials to hit their targets is therefore to tell the state-run banks to lend to favored companies to invest in as much infrastructure, manufacturing, and real estate as necessary. Whether the investments are worthwhile is irrelevant. [Moi ici: Lembram-se dos arrepios?] All that matters is that the quantity of spending generates enough reported GDP to meet the central government’s objectives."
sexta-feira, dezembro 25, 2020
Um Santo Natal!
LUCAS 2:8-11
"Naquela região havia pastores que passavam a noite no campo guardando os rebanhos. Apareceu-lhes um anjo e a luz gloriosa do Senhor envolveu-os. Ficaram muito assustados, mas o anjo disse-lhes: «Não tenham medo! Venho aqui trazer-vos uma boa nova que será motivo de grande alegria para todo o povo. Pois nasceu hoje, na cidade de David, o vosso Salvador que é Cristo, o Senhor!"
quinta-feira, dezembro 24, 2020
Um pessimista-optimista
quarta-feira, dezembro 23, 2020
A fase "wonder"
"dei comigo a pensar que a inovação que o calçado precisa nesta altura não é mais do mesmo, não é a “sustained innovation” de que Clayton Christensen falava, e ao qual o fluxograma acima se aplicaAs empresas de calçado devem manter e tirar o máximo partido da actividade que conseguem ter através do modelo de negócio actual. Paralelamente, devem criar uma empresa, ainda que virtual, dedicada a desenvolver o negócio do futuro. E para desenvolver o negócio do futuro essa empresa tem de se comportar como uma startup: sem clientes, sem negócios, apenas com hipóteses de produtos e de clientes."
terça-feira, dezembro 22, 2020
Com quem temos de contar?
"Picking up on those necessary actors, the first step in promoting a market-shaping vision is to figure out the “minimum viable system” of your market. What channels are needed to reach the customers? What happens between your customers and the end user? What kind of sub-contractors and business partners will you require? Working out the requisite value chain is only half the job, though. In addition to the physical value chain, your future market system most likely needs other actors in it....Okay, so you’ve identified the actors in your minimum viable market system. Now do some math. How does the envisioned change impact each respective actor? Who stands to gain? Who will lose? Will some actors remain unaffected? Anecdotal evidence suggests that those market-shaping initiatives which both (1) create a positive change to all actors involved and (2) distribute the added value relatively evenly across the network enjoy the best chances of succeeding....Note the limits to spreading your market-shaping love, though. It’s only the actors in your minimum viable market system whom you have to treat nicely and fairly! Market shaping can, and does, generate losers! That’s why ignoring market shaping just isn’t an option. And it’s half the reason we’ve urged you to shape markets yourself lest some other player who doesn’t need you in their minimum viable system gets in first and forces you out. Some market-shaping strategies have, in fact, bankrupted companies. And while the word “disruption” may inspire dreams of deliciously unreasonable wealth in the minds of would-be disrupters, it will strike fear into the hearts of the professions and sectors that would be disrupted."
segunda-feira, dezembro 21, 2020
Não percebo a lógica...
"Pergunta - Avizinha-se um volume de investimento comunitário inédito em Portugal, mas há um domínio espanhol nas grandes obras. Há capacidade nacional? [Moi ici: Antes de mais recordemos que o negócio da construção pública é um negócio de preço. Ganha quem apresentar a proposta com o preço mais baixo. Preço mais baixo é o negócio em que as empresas grandes, eficientes, organizadas, capazes de tirar partido da escala têm vantagem competitiva]Resposta - Capacidade tem de haver. O sector da construção sofreu muito. Subsistem no mercado poucas empresas grandes, como acontecia há 10 anos. Mas também se está a formar uma nova geração de empresas, com muita qualidade, que também precisam de oportunidade de crescer, e essa dimensão tem de ser dada cá....Pergunta - Com que tipo de apoios?Resposta - Em termos de concorrência, tem de ser repensada a questão dos preços anormalmente baixos, porque vai pagar-se no futuro. E depois há que aproveitar alguma da capacidade instalada que existe. A construção também precisa do ‘compre português’ e de apoios à internacionalização. [Moi ici: Portanto, as empresas espanholas, maiores que as portuguesas, conseguem ganhar os concursos públicos em Portugal. Presumo que sem necessidade de apoio do governo português]...Pergunta - Mas como?Resposta - Basta olhar para os nossos vizinhos de Espanha. Sabe de alguma empresa estrangeira — não é portuguesa — que lá esteja a trabalhar? Uma só? Francesa, inglesa ou brasileira? Eu não.Pergunta - É possível proteger o mercado sem violar a legislação europeia? [Moi ici: Por que é que o jornal parte logo do princípio que as empresas espanholas precisam de ser protegidas nos concursos públicos? Se elas são maiores...]Resposta - Se em Espanha o conseguem proteger sem violar a lei, nós também o deveríamos fazer."[Moi ici: Que provas tem o presidente da Mota-Engil de que há protecção?]
Para reflexão
“Spain’s experience was not unusual or unrepresentative. Lottery winners often do worse in life than if they had bought a losing ticket. The sudden infusion of money acts like a hit of cocaine and distorts behavior in similarly unhealthy ways. Something similar happens to countries on the receiving end of unsolicited financial inflows. Few societies have been able to absorb sudden, large sums of capital from abroad without experiencing soaring debt, asset bubbles, and economic crises. It is an almost inevitable consequence of a rapid and unexpected increase in real purchasing power.”
Trecho retirado de “Trade Wars Are Class Wars” de Matthew C. Klein.
Até que enfim!
O dia mais importante do ano do meu calendário profano, o dia em que finalmente os dias deixam de diminuir, o Solstício de Inverno:
domingo, dezembro 20, 2020
Market shaping e o timing
"In market shaping as in comedy, timing is everything....shapeability: is your market system currently hot and malleable, or frozen stiff?...mapping the life of market ecosystems over sustained periods, our work has confirmed that markets can behave quite differently over time. Long eras may exhibit relative calm and stability some gradual development, perhaps, but more or less constant basic structure and rules of the game. Punctuating the stability, however, come times of turbulence. At such points, the market undergoes rapid changes and perhaps becomes a completely different market ecosystem.Savvy market shapers seek to time their efforts to coincide with these latter periods of instability, rapid change, or discontinuity....While acknowledging the issue of timing is as much art as science, we offer three more generalized and enduring signs of shapeable markets. First, any major shock or crisis brings turbulence....Short of obvious shocks or crises, a second sign of a shapeable market is rising dissonance or debate in the market from controversy to simply a buzz abroad that “something should change.” Such dissonance is an especially strong indicator of a market-shaping window if it is sustained for a long period of time or if it seems to be increasing in intensity rather than gradually subsiding. Finally, the recent history of the market ecosystem may also divulge clues about its malleability. Recent studies suggest that markets that have assumed their current form through a government-led process or the deliberate market-shaping efforts of a particular firm are more susceptible to continued market shaping than those which have evolved organically, without strong influence from any particular market actor."
Vivemos tempos maduros para a aplicação generalizada da capacidade de "moldar mercados".
Trechos retirados de SMASH: Using Market Shaping to Design New Strategies for Innovation, Value Creation, and Growth de Kaj Storbacka e Suvi Nenonen.
sábado, dezembro 19, 2020
"Easy in, easy out, next!"
O Hélder Ferreira publicou há dias este texto no FB:
Fez-me logo lembrar este trecho que li há dias em "The practice: shipping creative work" de Seth Godin."Years ago, I produced a record for a very skilled duo. They were incredibly hardworking and committed to their art. In order to survive, they performed three hundred days a year, and they lived in a van, driving each day to a new town, playing at a local coffeehouse, sleeping in the van, then repeating it all the next day.In most towns, there are a few places like this—if you’ve issued a few CDs and are willing to work for cheap, you can get booked without too much trouble.These cafés are not good clients. Easy in, easy out, next!What I helped these musicians understand is that going from town to town and working with easy gigs was wasting their effort and hiding their art. What they needed to do was stay in one town, earn fans, play again, earn fans, move to a better venue, and do it again. And again.Working their way up by claiming what they’d earned: fans."
Como são os clientes da sua empresa? "Easy in, easy out, next!"
Para reflexão!
“By 1825 problems were already beginning to lay themselves out in a pattern that would later become familiar. It became clear, for example, that many of the investments were of very questionable value, a common problem whenever a small country attempts to absorb large financial inflows. There are simply not enough productive opportunities available. Instead, the excess credit invariably finances boondoggles, surging imports of consumer goods, or, as was often the case in the 1820s, imports of weapons to fight one of the many civil wars that immediately broke out after independence from Spain.”
E comparar com:
"A comissária europeia Elisa Ferreira assinalou esta quinta-feira, num evento online, que, "ao fim destes anos todos de apoio maciço de fundos estruturais, Portugal ainda é um país atrasado", e apelou a "uma leitura territorializada das políticas"."
Trecho retirado de “Trade Wars Are Class Wars” de Matthew C. Klein.
sexta-feira, dezembro 18, 2020
Evolução, eficiência, inovação (parte II)
Ainda ontem na parte I escrevi:
"pensei naqueles membros da tríade que no tempo da troika diziam que o problema era o euro... santa ignorância - na fase da paz todos ganham até que aparece alguém, que está do outro lado daquela barreira negra que promove a inércia, e come quota de mercado aos que ainda estão na fase da paz..."
Estava longe de pensar que logo no próprio dia seria brindado com esta pérola:
"Os que, à direita, criticam a estagnação económica do país nos últimos 20 anos fazem-no sem nunca referir o principal fator de estagnação: a adesão ao euro."
— Bloco de Esquerda (@EsquerdaNet) December 17, 2020
Postado por @vicenteaferreir em @LadrBic https://t.co/1ydODjGOfy
Vinte anos de mudanças tremendas no contexto, provocadas pela adesão da China à Organização Mundial do Comércio e pela internet, foram aumentando as possibilidades de quebrar as barreiras da inércia.
Por que é que tantos países que eram mais pobres do que nós e que também aderiram ao euro, já nos ultrapassaram?
Vamos ficar todos bem
"o setor europeu de retalho de vestuário e calçado está a ser altamente penalizado pela pandemia. Até setembro, a queda acumulada ascende a 24,4%, de acordo com dados do World Footwear.
O índice de volume de negócios no setor de retalho na União Europeia nos artigos especializados de vestuário, calçado e artigos em couro tem revelado perdas constantes ao longo dos primeiros nove meses do ano, sempre na casa dos dois dígitos, revelando-se mesmo superior a 20% quando comparado com o mesmo período do ano anterior. No verão, nos meses de julho a setembro, verificou-se uma ligeira recuperação, ainda assim insuficiente para a hecatombe desde o início pandemia.
“Trata-se da confirmação de um sentimento generalizado, mas que ajuda a perceber melhor a dinâmica do mercado”, considera Luis Onofre. Para o Presidente da APICCAPS “estas quebras afetam particularmente as empresas portuguesas que, exportando mais de 95% da sua produção, têm na União Europeia o seu mercado de referência”.
Curiosamente, é em Espanha a e Portugal onde o setor do retalho na fileira moda mais está a sofrer, com perdas acumuladas de 33 e 31%, respetivamente. Os melhores registos ocorrem na Polónia (quebra de 10%), Lituânia (perda de 12%) e Estónia (recuo de 14%).
Entre os mercados de referência para as empresas portuguesas de calçado, o retalho de moda no Reino Unido caiu 29% entre janeiro a setembro deste ano. Em Itália o recuo acumulado é de 27% e em França 25% relativamente ao ano anterior. Na Alemanha o prejuízo ronda os 22% e na Holanda 16%."
Trechos retirados de "Retalho europeu colapsa"
quinta-feira, dezembro 17, 2020
Evolução, eficiência, inovação
- a tendência é a caminhada inexorável da concorrência para a extrema direita onde está a comoditização e reina o eficientismo
- a libertação de recursos proporcionada pela eficiência permite a emergência de novas práticas na fase de novo "wonder" que geram novas fontes de valor
quarta-feira, dezembro 16, 2020
As associações e o status quo
Um texto interessante retirado do livro SMASH: Using Market Shaping to Design New Strategies for Innovation, Value Creation, and Growth de Kaj Storbacka e Suvi Nenonen.
"An industry association promotes an ordered market that is hospitable and less risky for participants. It does so not only by standardizing market elements but by creating a confident common language. Furthermore, governments prefer to deal with associations rather than with more nakedly self-interested individual firms.
However, like events and awards, industry associations generally favor the status quo. Worse, a reactionary association might actively oppose market-wide changes if detrimental to some members. And, unlike events and awards, industry associations derive authority by being exclusive. So, if your market-shaping strategy is clearly at odds with the current association’s agenda, our advice is to prepare for conflict."
Quantas vezes, ao longo dos anos, escrevi aqui sobre os conservadores lideres das associações empresariais, mais preocupados em salvar o passado do que em abraçar o futuro... dizem que tenho mau feitio.