sábado, outubro 20, 2012

Provavelmente do mais inconstitucional que há

- Isso é inconstitucional!
- Isso deve ser inconstitucional!
- Mas isso é anticonstitucional!
- Provavelmente não respeita a constituição...
.
E recordo logo as palavras de Tainter sobre a derrocada das civilizações...
.
Lembrei-me disto tudo a propósito da franqueza crua, nua e dura com que Meg Whitman, CEO da HP, retratou a situação da empresa:
.
"She projected that the company would continue its headlong plunge in profits for at least another year—with a full rebound not in sight until 2016. (Moi ici: E seria tão fácil mascarar resultados mais um ano...)
...
Whitman liberally mixed metaphors to describe her awakening to just how screwed HP was. "We all hope we can accelerate the timing of this journey, but as I see the challenges up close and personal, there are no silver bullets," she said. "It's going to take longer to right this ship than any of us would like."
.
Not all of HP's product lines, or the people who make them, will survive the "journey" Whitman outlined. There will be some serious pruning of HP's businesses, and a focus on automating more of manufacturing (and eliminating workers).
...
The "single biggest challenge facing HP," she said, has been the multiple changes in HP's leadership, which caused "inconsistent strategic choices and some significant execution miscues." All that shuffling at the top led to a deficit of actual leadership within the company.
.
The lack of central leadership left individual units to figure out things for themselves. The company's marketing? Totally uncoordinated. Its services unit? Directionless from four changes in the top in as many years, and hurting from changes in the sales force. Its products? Too many, too slowly delivered, poorly packaged. Managerial accountability? What's that?
.
Apparently people at HP spent so much time changing offices that nobody ever got around to actually measuring what the company did. Whitman said there were no real metrics for measuring performance or providing early warnings, and top management had been essentially flying blind. "I've learned at HP, you don't get what you expect," Whitman said. "You get what you inspect."
...
Whitman also shared how out of control the company's product lines were when she arrived a year ago. "When Todd Bradley took over [as executive vice president of] the Personal Systems Group," she said, "he was surprised to find that we made over 2,000 types of laser printers." Whitman said that HP would reduce that number by 20 percent in the next year (Moi ici: Só 20%... Tão pouco!) —the beginning of a larger product merge and purge aimed at simplifying the company's logistics and lowering costs."
.
Este tipo de conversa só se pode ter uma vez. É a conversa que marca a fronteira entre o antes e o depois, para trás podem ter sido tudo e mais alguma coisa, descarregamos aqui e acabou-se, encerra-se o capítulo, enterra-se e põe-se uma lápide por cima. Ter esta conversa uma vez é positivo, ajuda a fazer a limpeza psicológica que prepara o espírito, para o alterar da perspectiva com que se encara a realidade.
.
Recordo um caso em que a cada 3 meses a conversa repetia-se e repetia-se e repetia-se... para desespero de todos.
.
Em quantas empresas portuguesas, grandes e pequenas, habituadas a viver do mercado interno não está a ser precisa esta franqueza e a acção consequente? A exuberância da primeira década do século XXI acabou. Quanto mais cedo se reconhecer isso e, consequentemente se preparar um recomeço, para viver e até ter sucesso numa nova realidade, menos capacidade produtiva salvável se perderá.

Alfaiates de máquinas

Ontem, numa empresa, ouvi estas saborosas palavras:
"Somos alfaiates de máquinas!
Não somos um supermercado de máquinas!
Estudamos o seu caso e oferecemos uma solução adequada à sua realidade!"
 E são mesmo!!!
.
E regressei a Outubro de 2011 com "O regresso do "alfaiate" e da "modista"" (parte I e parte II)

sexta-feira, outubro 19, 2012

Uau!








Por que é que?

A propósito de "Produtividade ainda é o maior problema em Portugal":
""A produtividade é o problema base" do País, garante José Gonzaga Rosa, na Conferência Portugal - Desafios para 2013 que ontem se realizou em Lisboa. "Produzimos a um custo de 19 euros por hora, o que equivale a 57% da média europeia", acrescenta."
É sempre a mesma coisa... outro exemplo:
"o aumento deve-se ao facto de o ritmo de aumento do desemprego estar a ser superior ao ritmo de quebra no PIB. "Ou seja, estamos a fazer um bocado menos, mas ainda com menos pessoas""
Olhem para a fórmula da produtividade:

A primeira citação preocupa-se com o denominador, com os custos.
.
A segunda citação justifica o aumento da produtividade da seguinte forma: o valor gerado baixou, mas os custos baixaram ainda mais.
.
Por que é que num mundo em mudança acelerada as conferências económicas continuam a pensar à moda antiga? Por que é que só pensam no denominador? Por que é que partem do princípio que se mantém a "qualidade" do que se produz? Essa é a via, a médio prazo, da redução dos salários e do emprego.
.
Por que é que nunca abordam a perspectiva do aumento da produtividade via aumento do valor? Não necessariamente por causa de um aumento da frequência de produção, mas por causa da subida na escala do valor.


Em busca de um pouco de realidade

Um excelente artigo sobre Mongo, sobre as vantagens competitivas de um povo informal, com uma cultura de artesanato e pouco propenso a padronizações e produções em massa "The Story Behind The Stuff: Consumers' Growing Interest In "Real" Products":
"Sure, your sweater might be genuine wool. But can you trace its fibers back to the very sheep from which it was shorn? This is the granular level of "realness" consumers now increasingly seek. What is your company doing about it?"
Em Magnitograd, paradigma do modelo de produção do século XX, a produção é em massa... imaginem linhas de montagem a "vomitarem" milhões de produtos indistintos, sem mácula, cheios de "qualidade = cumprimento integral das especificações".
.
Em Mongo temos a revolta contra a padronização, contra a superficialidade... quem produziu? De que sobreiro veio a cortiça desta rolha? Quem foram as pessoas que pisaram as uvas deste vinho? Posso ver a sua cara? Posso ser um dos que pisa o vinho?
"There’s evidence all around us--whether it’s watching someone gush over the sleek design of a new phone and then seek out the perfect hand-carved, petrified-jungle-wood case to put it in, or the proliferation of farmers markets in big cities--people are looking for, and need, realness. There is a powerful urge to get in touch with what they believe is a more “real” world, and it’s leading us to a place where signs of realness take on greater value"
Como escrevi na passada quarta-feira é para este mundo que a PME-tipo portuguesa se deve virar, um mundo mais caótico... estou a escrever isto e estou a visualizar o trânsito num cruzamento, numa cidade da Índia ou do Vietname, para um outsider parece caótica... mas não há nem um acidente e o trânsito flui misteriosamente.
.
Um mundo mais caótico mas um mundo onde o nosso ADN cultural, o nosso desenrascanço, a nossa tradição de comerciante estão como peixe na água.

O que pode acontecer quando o espírito comercial chegar ao sector primário

Às vezes, deparo com boas notícias que surpreendem até um optimista militante, acerca da micro-economia, como eu. 
.
Por exemplo "Investidores alemães já compraram produtos regionais no valor de 700 mil euros":
"O AgroCluster Ribatejo promoveu uma visita de dois importadores alemães à região, com o objetivo de promover os produtos e serviços desta região. Apenas 4 meses após esta ação de promoção, os importadores alemães já compraram 50 tipos de produtos ribatejanos, no valor de 700 mil euros.
.
Foi entre os dias 18 e 21 de junho que o AgroCluster Ribatejo recebeu a visita de dois importadores alemães à região, SPEUSER KG e BOM DIA - Agentur für Direkt-Importe, interessados em comercializar no seu país produtos alimentares da região do Ribatejo. Como promotor da iniciativa, coube ao AgroCluster Ribatejo, com o apoio da NERSANT, acompanhar a visita dos dois importadores a diversas empresas da região, de acordo com os produtos alvo definidos por cada um dos negociantes.
...
Entre os diversos produtos em exposição, contaram-se queijos, frutos secos, enchidos de fumeiro, conservas diversas, como compotas, doces, frutas, pickles, azeitonas, peixes e patés, doçaria tradicional, pão, mel e afins, frutos secos, vinhos, licores, azeite, e produtos e alimentos congelados."
 E se isto for um exemplo do que pode acontecer quando o espírito comercial chegar ao sector primário de outras zonas do país? Nunca tinha sido tentado...
.
Há exactamente um ano menos uma semana estava a começar algo do mesmo género numa empresa de calçado técnico na zona Norte, também com sucesso.

quinta-feira, outubro 18, 2012

Cuidado com o que escreve

Mais do que uma "escola do futuro"

Escreve Chris Anderson em "Makers - The New Industrial Revolution":
"Making something that starts virtual but quickly becomes tactile and usable in the everyday world is satisfying in a way that pure pixels are not. The quest for "reality" ends up with making real things.
.
This is not just speculation or wishful thinking - it can already be felt in a movement that's gathering steam at a rate that rivals the First Industrial Revolution and hasn't been since, well, the Web itself.
.
Today there are nearly a thousand "makerspaces" - shared production facilities - around the world, and they're growing at an astounding rate: Shanghai alone is building one hundred of them. Many makerspaces are created by local communities, but they also include a chain of gym-style membership workshops called TechShop, run by a former executive of the Kinko's printing and copying chan and aiming to be as ubiquitous. Meanwhile, consider the rise of Etsy, a Web marketplace for Makers, with nearly a million sellers who sold more than $0.5 billion worth of their products on the site in 2011. Or the 100,000 people who come to the Maker Faire in San Mateo each year to share their work and learn from other Makers, just as they do at the scores of other Maker Faires around the world."
Agora vem uma citação que me deprime:
"Recognizing the power of this movement, in early 2012 the Obama administration launched a program to bring makerspaces into one thousand American schools over the next four years, complete with digital fabrication tools such as 3-D printers and laser cutters. In a sense, this is the return of the school workshop class, but now upgraded for the Web Age. And this time it's not designed to train workers for low-end-blue-collar jobs, but rather it's funded by the government's advanced manufacturing initiative aimed at creating a new generation of systems designers and production innovators."
Os funcionários de cá, entretiveram-se numa festa a torrar dinheiro na transformação arquitectónica de escolas em bunkers que consomem o triplo da electricidade, têm candeeiros Siza e ...
.
O que vai fazendo cada vez mais diferença é a iniciativa privada. Há quinze dias, na zona da Grande Braga, fui visitar as obras de construção de uma "escola do futuro", uma versão de makerspace, hackerspace, montra virtual, espaço de troca de experiências, troca de conhecimentos, indutor de fertilização cruzada de diferentes tipos de Makers - malta das aplicações, da tecnologia, da culinária, do têxtil, da marroquinaria, da jardinagem...
.
Ainda não tenho autorização, nem a pedi, para revelar mais sobre o projecto, mas não resisto a publicar algumas fotos do telemóvel:







Perversões socialistas?

.
Primeiro os factos:
"Ao todo foram produzidas cerca de 1,2 milhões toneladas de tomate em 13 mil hectares, ficando, segundo a AIT, acima de todas expectativas traçadas antes de a campanha começar. "Na origem dos resultados de 2012 estiveram não só as excelentes condições climatéricas como também o grau de competitividade, qualidade, inovação e desenvolvimento, (Moi ici: Isto não é factual, é uma opinião, respeitável mas ainda assim uma opinião, adiante) que caracteriza o sector", justifica a mesma associação.
As empresas nacionais consolidaram assim a 5.ª posição que Portugal ocupa na produção mundial de tomate, num sector de atividade que contribui ativamente para equilibrar a balança de pagamentos ao exportar 95% da produção. E, durante as últimas décadas o sector tem obtido um crescimento médio de 5% ao ano."
O que me faz espécie é:
"grau de competitividade, qualidade, inovação e desenvolvimento ... O agricultor de tomate português, altamente especializado, é, em termos de rendimento agrícola por hectare, o 2.º maior do mundo, só ultrapassado pela Califórnia."
Não conjugar bem com:
"A mesma associação (Associação dos Industriais do Tomate - AIT) destaca que, na proposta de renegociação do PAC, as ajudas comunitárias à produção poderão passar, em dois anos, de 2100 euros por hectare para apenas 179 euros.
A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, já deu garantias de que vai lutar pelos interesses portugueses em sede europeia, mas a AIT receia que os "produtores venham a abandonar a produção de tomate, levando ao desmantelamento de um dos sectores mais exportadores da agro-indústria nacional."
Há aqui qualquer coisa que não bate certo... alguém consegue explicar-me?

quarta-feira, outubro 17, 2012

É preciso pensar estrategicamente

Ontem de manhã escrevemos "Para reflexão".
.
Ao final da tarde li "Armindo Monteiro: "Exportações portuguesas estão a ser feitas em dumping"":
“Estamos a ser competitivos apenas pelo preço. Não estou a generalizar, mas a falar de um sector em concreto
O mais fácil, o instintivo é vender pelo preço.
.
É preciso pensar estrategicamente, perceber como se pode subir na escala de valor. É preciso deixar de pensar em produzir e pensar em seduzir, pensar em marketing, pensar em diferenciação.

Fornecer a Autoeuropa não é necessariamente uma boa decisão para uma PME portuguesa-tipo

Este artigo ""90% das abordagens [para ser fornecedor da Volkswagen] falham"" desperta-me uma torrente de ideias...
.
No meu primeiro emprego, na Divisão Automóvel da TMG em Campelos-Guimarães, tinha como missão estudar formulações de couro artificial que respondessem aos requisitos super-exigentes do cliente Volkswagen. Eu adorava trabalhar para a Volkswagen!!! Eu adorava o desafio de uma especificação que me obrigava a estudar e a experimentar dezenas de misturas de e-PVCs, de plastificantes, de modificadores reológicos, de estabilizantes térmicos, de sei lá que mais... percebia o jogo de constrangimentos que impunham: baixo nível de fogging; limite superior de líquidos; resistência térmica e alongamento superior, ...
.
Se estivesse a ler o artigo lá de cima em Outubro de 1988 não pensaria duas vezes, daria a António Melo Pires toda a razão.
.
Hoje, passados 24 anos a experiência de vida ajuda-me a encaixar estas palavras do director-geral da Autoeuropa num outro patamar. Hoje, tenho medo da forma como os media interpretam e veiculam estas mensagens.
.
Os media acreditam que existem boas-práticas!
.
Boas-práticas serão práticas recomendáveis e aplicáveis a todas as empresas e sectores de actividade.
.
Por mim, já aprendi, não existem, não confio nessas boas-práticas universais.
.
A Autoeuropa é uma empresa que pertence ao grupo Volkswagen, um grupo automóvel particularmente bem sucedido na produção em massa, o paradigma da economia do século XX.
.
Quando discuto a operacionalização de uma estratégia assente no custo mais baixo, assente na produção em massa, como a produção de automóveis Volkswagen ou a produção de hambúrgueres numa cozinha McDonalds, dou sempre o exemplo da paragem num pit da Formula 1:

Se olharem para o filme verão como funciona uma empresa que aposta nos custo mais baixo como o factor competitivo de eleição:

  • não há invenções;
  • não há prima-donas;
  • não há liberdade;
  • um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar;
  • um lugar para cada interveniente e cada interveniente no seu lugar;
  • planeamento central conhecido e obedecido.
Por isto é que António Melo Pires critica o nível de informalidade das nossas empresas:

"O director-geral da Autoeuropa, António Melo Pires, disse que as empresas nacionais funcionam num registo de informalidade que não facilita a sua inserção nos mercados internacionais."
Imaginem uma organização que funciona como um relógio, como uma sinfonia harmoniosa, ter de lidar com um grupo de agentes habituados a informalidade e fantásticos no desenrascanço. Choques!!! Vamos ter choques!!! Vamos ter duas civilizações a não conseguirem encaixar-se.
""Os alemães têm uma personalidade muito própria, e o desenrascanço não é nada bem visto", defendeu.
...
Melo Pires disse que quem aposta na informalidade não inspira confiança."
Diz Melo Pires:
"O responsável do gigante do sector automóvel justificou ainda os problemas de competitividade das empresas portuguesas com a sua escala. “Temos muitas microempresas e que não conseguem ter produtividade para ser concorrenciais”, rematou."
 Quando uma PME, como aconteceu no ano passado, vem ter comigo a dizer que anda a ser assediada pela Autoeuropa, para começar a ser fornecedora. Digo sempre:
Cuidado com a pedofilia empresarial!!!!
Como é que uma PME tenta competir pelo preço mais baixo?
Como não pode usar o trunfo da produção em larga escala, opta por uma organização muito enxuta, eu a algumas chamo anorécticas. Organizações muito enxutas são muito flexíveis, não combinam com funções rígidas... logo, daí nasce a propensão para a informalidade.
.
Quem acredita nas boas-práticas acha que temos de mudar, temos de nos tornar máquinas competitivas super-eficientes.
.
Hoje, 24 anos depois, estou noutra. A nossa cultura é a do desenrascanço, é a da flexibilidade, é a da rapidez, não é a da uniformidade, é da liberdade, não a do planeamento central. Hoje, em vez de querer mudar de povo, defendo é que temos de mudar de referencial, o nosso referencial não pode ser o da produção em massa, não pode ser o da eficiência. O nosso referencial tem de ser o da pequena série, o da novidade, o do artesanato, o da autenticidade, o da originalidade. Nesse referencial, a nossa cultura de informalidade, em vez de ser um empecilho, é uma vantagem cultural.
.
Basta recordar a figura:
Aquilo que é uma má-prática para uma proposta de valor, pode ser uma boa-prática para outra proposta de valor.
.
Fornecer a Autoeuropa não é necessariamente uma boa decisão para uma PME portuguesa-tipo.

terça-feira, outubro 16, 2012

Publicidade descarada


Em colaboração com os meus amigos Factoryanos (Factory Business Center and Cowork) , que acompanho desde o tempo em que ainda era uma ideia a precisar de ser projecto, um programa designado "Porque Gerir Melhor é Essencial" desdobrado ao longo de 5 sessões em Setembro e Outubro de 2012".


  • De 17 de Setembro a 15 de Outubro de 2012 (Total 5 sessões) às 2ª feiras em Braga


Em colaboração com a Associação Portuguesa para a Qualidade, formação sobre "Indicadores de Monitorização de Processos"
  • Dia 25 de Setembro em Lisboa 
Inscrições

Em colaboração com os meus amigos do COMENIUS - Centro de Formação, um conjunto de Workshps. O primeiro "Workshop - Gestão Estratégica: a batota do David contra Golias"
  • Dia 10 de Outubro no Porto

Para reflexão


Nas exportações, nem tudo é um mar de rosas. Não basta exportar, é preciso ganhar dinheiro.
.
Recentemente tivemos este caso "Cerâmica Valadares insolvente"... basta recordar este outro postal de Dezembro de 2011 que denotava a "Curiosidade" de uma empresa que exportava 60% da sua produção não ter dinheiro para pagar o gás.
.
Ontem neste artigo "El precio medio de la prenda importada de China se dispara un 34,5% desde el inicio de la crisis"  descobri este pormenor preocupante:
"el valor medio de la prenda importada de Portugal ha disminuido un 7,2% desde el inicio de la crisis, al pasar de los 5,9 euros en 2007 a los 5,5 euros actuales."
A par desta realidade, estes sintomas:
"El precio medio de una prenda procedente de Marruecos se ha encarecio un 27,8% desde 2007. De los principales proveedores de la moda española, el país africano es el que registra un valor medio por prenda más elevado. En el primer semestre de 2012, España importó prendas marroquís por un precio medio de 7,3 euros, por encima de los 5,5 euros de Portugal."
La prenda procedente de Turquía ha aumentado su precio medio un 1,8%, entre 2007 y 2012. El valor medio de la prenda importada de Turquía ha pasado de 5,3 euros en 2007 a 5,4 euros en 2012. En este periodo, España ha incrementado las compras a Turquía tanto en volumen como en valor."
 Não basta exportar, é preciso ganhar dinheiro.
.
O  meu lado optimista pensa "so many low-hanging fruits"!!!
Um pouco de pensamento e de disciplina estratégica pode fazer maravilhas. Não basta produzir, é preciso ser especialista...

Sintomas da economia DIY a regressar

Mais um trecho de "Makers: The New Industrial Revolution" de Chris Anderson:
"The past ten years have been about discovering new ways to create, invent, and work together on the Web. The next ten years will be about applying those lessons to the real world.

Wondrous as the Web is, it doesn’t compare to the real world. Not in economic size (online commerce is less than 10 percent of all sales), and not in its place in our lives. The digital revolution has been largely limited to screens. We love screens, of course, on our laptops, our TV’s, our phones. But we live in homes, drive in cars, and work in offices. We are surrounded by physical goods, most of them products of a manufacturing economy that over the past century has been transformed in all ways but one: unlike the Web, it hasn’t been opened to all. Because of the expertise, equipment, and costs of producing things on a large scale, manufacturing has been mostly the provenance of big companies and trained professionals.

That’s about to change.

Why? Because making things has gone digital: physical objects now begin as designs on screens, and those designs can be shared online as files. This has been happening over the past few decades in factories and industrial design shops, but now it’s happening on consumer desktops and in basements, too. And once an industry goes digital, it changes in profound ways, as we’ve seen in everything from retail to publishing. The biggest transformation is not in the way things are done, but in who’s doing it. Once things can be done on regular computers, they can be done by anyone. And that’s exactly what we’re seeing happen now in manufacturing.

Today, anyone with an invention or good design can upload files to a service to have that product made, in small batches or large, or make it themselves with increasingly powerful digital desktop fabrication tools such as 3-D printers. Would-be entrepreneurs and inventors are no longer at the mercy of large companies to manufacture their ideas."
Ainda esta manhã, durante o noticiário das 8h00 na Antena 1, um repórter em Bragança relatava que está a regressar o hábito de fazer o pão em casa... mais um sintoma da economia DIY a regressar. Sim, não é só a tecnologia de ponta: é a cultura que vê como natural produzir comida, roupa, agricultura, jardinagem. Prosumers com indústrias de vivenda... o velho casal Toffler acertou em toda a linha. 

Pensamento estratégico impõe-se

Para um país com pouco capital, com propriedades agrícolas muito divididas e de reduzida dimensão, com um clima invejável - quase não neva no Inverno - a 2 dias do centro da Europa e com instituições certificadoras credíveis. Competir com os produtores de grandes quantidades, com custos imbatíveis proporcionados pelo efeito da escala e por estarem submetidos a Estados menos vampirescos, é impensável. Por isso, o pensamento estratégico impõe-se:
"Em Portugal, as vendas no retalho de alimentos provenientes de agricultura biológica foram estimadas em 2010 em cerca de €22 milhões pela Interbio, associação do sector. No total do consumo alimentar do país a quota é de 0,2%, mas o mercado está em forte crescimento, que em 2011 atingiu 20%. A agricultura biológica e o consumo de produtos orgânicos continuam a disparar na Europa. Segundo dados divulgados na BioFach, feira na Alemanha dedicada ao sector, a liderar está a Dinamarca, onde mais de 7% do consumo alimentar no país é de origem biológica."
Claro que não basta produzir, pensem também no marketing, na criação de uma marca com mística.
.
Trecho retirado de "O triunfo da comida biológica"
.
PS: Relativamente ao artigo, tenho pena que dependam tanto da grande distribuição

segunda-feira, outubro 15, 2012

Perdidos e a espalhar a confusão

Na senda de um tema que temos aqui desenvolvido no blogue há vários anos, o da guerra entre o gato e o rato, o da eficácia versus a eficiência, o da massa versus a arte, este texto de Seth Godin "Redefining productivity".

"Lowering labor costs is the goal of the competitive industrialist, because in the short run, cutting wages increases productivity. (Moi ici: Basta procurar o marcador sobre a guerra do gato e do rato)
.
This is a race to the bottom, (Moi ici: A única forma de aumentar a produtividade que os académicos e outros membros da tríade conhecem) with the goal of cutting costs as low as possible as your competitors work to do the same.
.
The new high productivity calculation, though, is very different:
.
Decide what you're going to do next, and then do it. Make good decisions about what's next and you thrive.
.
Innovation drives the connection economy, not low cost.
.
The decision about what to do next is even more important than the labor spent executing it. (Moi ici: Como repito sem nunca me cansar "O mais fácil é produzir, difícil é decidir o que produzir para quem)  A modern productive worker is someone who does a great job in figuring out what to do next."
Seth termina o artigo com a frase "the sort of high-productivity work we create today, but would make no sense at all just a generation ago", por isso, os académicos andam perdidos e a espalhar a confusão. Os modelos e fórmulas que têm ainda não estão adaptados à realidade desta geração. 

Uma lição para fazer pensar quem tem de regressar à terra-natal dos pais e avós

Um artigo com um exemplo interessante a vários níveis "Exportações. Orivárzea vende arroz para Macau, China e Brasil":
"A Orivárzea, uma pequena PME portuguesa que nasceu da associação de uma dezena de orizicultores ribatejanos, está hoje a exportar arroz para a China e para o Brasil, dois dos maiores produtores/consumidores do mundo." (Moi ici: São pequenos, resultam de uma associação de produtores de uma commodity básica e estão a exportar para dois países que são grandes produtores... algo que não bate certo... pequenos produtores a exportarem uma commodity para países que são produtores grandes. Tem de haver estratégia...)
"A ideia de uma empresa portuguesa vender arroz para a China parece tão improvável que nenhum responsável da empresa integrou a comitiva de 50 empresários que o ministro Paulo Portas levou àquele país, no início de Julho. “Nunca ninguém do governo nos contactou, nem nos perguntou nada. O mais provável é que talvez nunca tenham pensado que fosse possível vender arroz para a China”, diz o presidente da empresa, António Madaleno." (Moi ici: Os campeões anónimos são assim, não têm tempo para se fazerem conhecer nos corredores e carpetes do poder. O tempo, esse recurso precioso, tem de ser canalizado para seduzir e cativar clientes)
"Apesar disso, a empresa tem vindo a traçar o seu caminho e nos últimos dois anos registou taxas de crescimento superiores a 30% e vende actualmente mais de 5 milhões de quilos de arroz por ano." (Moi ici: Esta é a realidade dos campeões escondidos. Pequenos, vendem uma commodity para países que são grandes produtores e crescem a 30% ao ano... tem de haver uma estratégia na base disto)
...

"O arroz que interessou os chineses não é um arroz qualquer, é baby rice (arroz para bébé), uma inovação que faz com que este seja o único arroz do género certificado pela Direcção-Geral de Saúde. (Moi ici: Cá está!!! Inovação, certificação, diferenciação. Tinha de haver uma estratégia que não passasse só pela produção pura e simples com apoios da UE)
Se as coisas correrem bem, será necessário canalizar para aí uma parte da produção que a Orivárzea tem reservada para vender à indústria: a empresa vende farinha de arroz à Milupa (através da Polónia) e arroz à Nestlé (através da Bélgica, onde é transformado para papas). (Moi ici: Cá está!!! Clientes-alvo que procuram e valorizam algo mais do que arroz a um preço baixo. Por exemplo, também valorizam segurança alimentar... começa a desenhar-se um retrato)
.
É que este negócio da China visa um mercado gourmet, (Moi ici: Gotcha!!!) estimado em 300 milhões de pessoas. Para já, a experiência está a ser feita com uma encomenda de quatro toneladas (duas para a China e duas para Macau) – embora os chineses tenham querido desde logo o dobro da quantidade.
.
Deixar de fornecer a indústria não é opção (representa aproximadamente 35% das vendas), por isso a Orivárzea quer aumentar a sua área de cultivo. “A ideia é continuar a crescer na produção”, afirma o presidente da sociedade."
"A Orivárzea é a única empresa que está presente em todo o processo do arroz, desde a preparação da semente à venda do produto embalado com as suas marcas. Além disso, a sociedade tem vindo a empenhar-se na investigação e desenvolvimento bem como na certificação."
O resto do artigo é uma referência a produtos em desenvolvimento e às negociações em curso com a distribuição.Sobre este último tópico, a linguagem utilizada pelo presidente da empresa é uma lição que devia ser estudada pelos gestores à frente das multinacionais representadas na Centromarca.
.
Alguns sublinhados com lições para todos os sectores de actividade:

  • Não basta produzir; 
  • Não basta produzir; 
  • Não basta produzir; 
  • Apostar na inovação; 
  • Apostar na diferenciação; 
  • Começar debaixo para cima; 
  • Não ter pressa de escoar produção pela distribuição; 
  • Não ter pressa de escoar produção pela distribuição; 
  • Nunca esquecer, o mercado mais ocupado (China e Brasil) pode esconder nichos interessantes. 


Além do arroz, o que nos pode reservar o sector primário?

Acerca do futuro da economia

"The history of the past two decades online is one of an extraordinary explosion of innovation and entrepreneurship. It’s now time to apply that to the real world, with far greater consequences.
We need this. America and most of the rest of the West is in the midst of a job crisis. Much of what economic growth the developed world can summon these days comes from improving productivity, which is driven by getting more output per worker. That’s great, but the economic consequence is that if you can do the same or more work with fewer employees, you should. Companies tend to rebound after recessions, but this time job creation is not recovering apace. Productivity is climbing, but millions remain unemployed.
Much of the reason for this is that manufacturing, the big employer of the twentieth century (and the path to the middle class for entire generations), is no longer creating net new jobs in the West. Although factory output is still rising in such countries as the United States and Germany, factory jobs as a percentage of the overall workforce are at all- time lows. This is due partly to automation, and partly to global competition driving out smaller factories.(Moi ici: A nossa realidade é completamente diferente neste ponto. A globalização aniquilou as empresas grandes, as fábricas que sobreviveram foram as que se reinventaram e ficaram mais pequenas)
Automation is here to stay— it’s the only way large- scale manufacturing can work in rich countries. But what can change is the role of the smaller companies. Just as startups are the driver of innovation in the technology world, and the underground is the driver of new culture, so, too, can the energy and creativity of entrepreneurs and individual innovators reinvent manufacturing, and create jobs along the way.
...
The great opportunity in the new Maker Movement is the ability to be both small and global. Both artisanal and innovative. Both high-tech and low-cost. Starting small but getting big. And, most of all, creating the sort of products that the world wants but doesn’t know it yet, because those products don’t fit neatly into the mass economics of the old model."

Trechos retirados de "Makers - The New Industrial Revolution" de Chris Anderson

domingo, outubro 14, 2012

Outras coisas que deviam fazer os académicos pensarem

Por que é que os sectores tradicionais, apesar de denegridos pelos políticos e restante inteligentzia durante décadas, estão a ter comportamentos deste tipo?
"Indústria têxtil é o único sector onde o desemprego continua a descer"
"As exportações de calçado continuaram a aumentar de forma acentuada no mês de agosto. O acréscimo foi de quase 20%, num valor de mais de mil milhões de euros. A APICCAPS espera que o setor atinja um saldo positivo para a balança comercial de 900 milhões de euros.
Nos oito primeiros meses, o setor do calçado exportou cerca de 95% da respetiva produção para 132 países, sendo que o crescimento é o dobro das importações. "Não obstante estar a registar o melhor desempenho das duas últimas décadas, a indústria nacional do calçado prepara-se para um novo ciclo, que se antevê de grande exigência."
 "Produtos tradicionais geram riqueza"
Será porque abandonámos o euro?
Será porque a TSU baixou?
Será porque as universidades se colocaram ao serviço das PMEs dos sectores tradicionais?
.
Como é que os modelos da academia explicam estas coisas que violam tudo o que nos vêm dizer quando comentam nos media tradicionais?
.
Há os que fazem e os que dizem como se faz.
Os que dizem como se faz tiveram de ver primeiro como se faz.
Quando os que viram começam a modelar o que viram, já realidade mudou e está noutra.
E, tal como no mundo do futebol, o que era verdade ontem deixou de ser verdade hoje. E quando os académicos chegam com o seu modelo... já está obsoleto.
A realidade hoje move-se a uma velocidade vertiginosa.
.
Os que fazem são como os ratinhos do "Quem mexeu no meu queijo" não estão à espera de direitos adquiridos, nem da ajuda de ninguém, fuçam por aqui e por ali até que descobrem uma alternativa.

Mongo também passa por aqui

"Why College May Be Totally Free Within 10 Years"
"there will always be students able and willing to pay for a traditional college experience and for them it will be a worthwhile investment. But for the vast majority, from a financial standpoint that kind of education makes no sense and is fast becoming unnecessary."
A escola do século XX prepara-nos para sermos funcionários, trabalhadores, gestores, de empresas. E se as empresas desaparecem? E se deixam de ser necessárias empresas?
.
Por que é que um jovem que termina o 12º ano em Pousafoles do Bispo sente que tem de deixar a sua terra e emigrar para a Guarda, ou para Castelo Branco, ou para o litoral (Lisboa ou Porto)?
.
Porque a escola preparou-o para ser um profissional numa vida que nem no Sabugal existe, quanto mais em Pousafoles do Bispo... o século XX queria-nos à saída da escola como todos iguais, como rodas dentadas que saem impecáveis de uma linha de fabrico: novas, brilhantes, limpas, aos milhares e intermutáveis.
.
E agora que esses empregos ou profissões já não existem como antigamente nas cidades do litoral, após o fim dos subsídios de desemprego as pessoas vão voltar à sua terra-natal, ou até mesmo à terra-natal dos seus pais, e vão descobrir que essa terra afinal tem oportunidades escondidas que os programas escolares nunca revelaram.