terça-feira, maio 18, 2010

Medo: this isn’t the end of the “too big to fail” era. It’s the beginning.

"Once a system grows sufficiently complex, it doesn’t matter how badly our best and brightest foul things up. Every crisis increases their authority, because they seem to be the only ones who understand the system well enough to fix it.

But their fixes tend to make the system even more complex and centralized, and more vulnerable to the next national-security surprise, the next natural disaster, the next economic crisis. Which is why, despite all the populist backlash and all the promises from Washington, this isn’t the end of the “too big to fail” era. It’s the beginning."
.
Trecho retirado de "The Great Consolidation"

Podem limpar as mãos à parede...

""O dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. Lamento, mas o país tem de saber". A frase foi dita hoje por Fernando Ulrich, CEO do BPI."
.
""Não se trata de um problema de preço, mas sim de acesso ao crédito. Um problema que não sabemos hoje quando se vai resolver. Por isso mesmo, sugiro ao Governo que não publique cenários macroeconómicos sem explicar como estes se vão financiar.""
.
"O dia em que batermos na parede não está muito longe"
.
BTW, "Senado aprova medidas para bloquear ajudas do FMI"
.
Oh... we are so doomed!!!
.
E ainda em final de Dezembro o DN queixava-se de que os funcionários públicos tinham o "reveillon" estragado porque os aumentos para 2010 estavam tremidos.
.
Sei o que não me disseste na última campanha eleitoral... não, não é o título de um filme, é um dos marcadores mais usados neste blogue no ano passado.
.
Tanta subserviência nos media ao longo destes anos... tantos peresmetelos...
.
Obrigado Camilo Lourenço pela coragem demonstrada ao longo destes anos.

Será que um mestre de xadrez pode jogar contra si próprio?

Claro que não!
.
Será que um macro-economista tem a possibilidade de perceber, à priori, a alquimia que se revela por detrás da originação de valor?
.
Claro que não e pelas mesmas razões que o xadrezista não pode jogar contra si próprio. Assim, só consegue mexer na variável preço/custo, só percebe do denominador na equação da produtividade.
.

Uma nesga...

O Prós e Contras da RTP1 de ontem à noite teve um momento revelador.
.
Foi quando Vieira da Silva e Basílio Horta meteram os pés pelas mãos acerca do TGV para o transporte de mercadorias.
.
Foi como que uma nesga, um espreitar pelo buraco da fechadura, que permite constatar a profundidade com que os temas são conhecidos e debatidos.

Precisamos de novos paradigmas, novas intuições, novos instintos,

"The minute we choose to measure something, we are essentially choosing to aspire to it. A metric, in other words, creates a pointer in a particular direction. And once the pointer is created, it is only a matter of time before competitors herd in the direction of that pointer."
...
"the problem with uniform systems of measurement: The more entrenched a system of measurement , the more difficult it is for a deviant, an outlier, or even an experimenter to emerge."
...
"A funny thing happens the minute you begin to capture comparative differences on paper: There is a natural inclination for folks in the comparative set to focus on eliminating those differences, rather than accentuating them."
...
"it the competition as a whole appears to be moving in a particular direction, the inclination to drift in the same direction can feel natural to the point of automaticity."
...
"convergence toward a single, shared outcome can leave us with an aftermath that is nothing less than stifling."
.
Leio estes trechos e não posso deixar de recordar este postal "O perigo da cristalização".
.
Não posso deixar de pensar que precisamos de novos paradigmas, novas intuições, novos instintos, que precisamos de abater leis, que precisamos de abandonar normas e padronizações que arrastam e condicionam as empresas para uma uniformização de práticas e resultados que descambam na commoditização.
.
Trechos retirados do livro "Different" de Youngme Moon.

segunda-feira, maio 17, 2010

Now, something completely different... para nos deixar a pensar

Recentemente fiz uma auditoria interna onde deixei uma sugestão à empresa auditada para repensar a sua actuação relativamente à avaliação da satisfação dos seus clientes.
.
Durante a apresentação das constatações usei, mais ou menos esta argumentação que escrevi neste postal de Maio de 2006:
.
“Não existem empresas perfeitas, existem sim organizações que se querem aperfeiçoar, e que por isso, recorrem ao ponto de vista dos clientes, para detectar oportunidades de melhoria. Assim, quando no final de um processo de avaliação da opinião dos clientes não se detectam oportunidades de melhoria na óptica dos clientes, perde-se uma oportunidade de encontrar oportunidades de melhoria.” Até citei Vítor Constâncio como líder do PS na oposição.
.
Aprendi com Drucker que nos devemos focar nas oportunidades, aprendi com Barney que uma empresa só anda para a frente quando se concentra no aproveitamento da conjugação entre pontos fortes internos e oportunidades externas. Aprendi com Gertz e Baptista que poupar não é o mesmo que ganhar. Aprendi com Rosiello que o sucesso, para uma PME num mercado aberto e competitivo com excesso de capacidade produtiva, passa quase sempre por uma orientação dedicada a trabalhar no quadrante da Especialização ou Diferenciação, ou seja, a trabalhar no numerador da equação da produtividade.
.
No entanto, o que escrevi em Maio de 2006 nunca me causou estranheza, parecia-me natural.
Uma empresa faz um inquérito de avaliação da opinião dos seus clientes usando os parâmetros de a - f medidos em duas dimensões Satisfação e Importância:
e constata que está com uma pontuação muita baixa a nível da satisfação, 59% em vez dos ambicionados 90%. O que fazer?
Este é o ponto de partida:
Olhando para a pontuação da “Importância” acharia que esse é um parâmetro que não posso alterar pois tem tudo a ver com a escala de valores do cliente e a empresa não pode mudá-la. Assim, para aumentar a pontuação do grau de satisfação procuraria melhorar o desempenho relativamente aos parâmetros a, b d, para chegar a este estado futuro desejado:
Imaginemos agora que este inquérito foi criado com a ajuda de um consultor. Imaginemos ainda que este consultor vai trabalhar com mais 2 concorrentes desta empresa e que implementa o uso do mesmo modelo de inquérito com o mesmo tipo de parâmetros e escala.
O que vai acontecer?
.
.
.
.
.
Se as empresas não se limitarem a calcular os graus de satisfação e começarem a usar a informação recolhida para melhorar o desempenho aos olhos dos clientes, mais tarde ou mais cedo… vão estar coladinhas como um rebanho, como um formigueiro em torno dos 4’s em todos os parâmetros… lá se vai a diferenciação, lá se vai a especialização.
.
Como escapar a este fenómeno de atracção progressiva para o rebanho que destrói a diferenciação?
.
E se em vez de apostar em melhorar o desempenho onde estamos mais fracos, desprezássemos esses pontos fracos e apostássemos ainda mais os nossos escassos recursos a melhorar os parâmetros em que já somos bons?
.
Esta é a tese que retiro das primeiras 40 páginas do livro “Different – Escaping the Competitive Herd” de Youngme Moon.
.
Dá para ficar a pensar nas implicações desta abordagem.
.
.
.
BTW, há uma forma de alterar a escala da “Importância”, não se pode mudar o cliente… mas pode mudar-se de cliente, e apostar em diferentes clientes-alvo com outra escala de importância

Um exemplo prático

Um exemplo concreto da aplicação da receita de Charan em "Leadership in the Era of Economic Uncertainty".
.
A quebra das vendas é pontual ou estrutural?
.
Se é estrutural não adianta aguentar e fazer figas à espera de melhores dias.
.
Cortar e desviar recursos para a busca de novas oportunidades de negócio.
.
.
E não esperaram que a crise se declarasse, olharam para os números das vendas e perceberam que nada tinham a ganhar em culpabilizar a sorte, os vendedores, a economia, os clientes, o governo, e actuaram na antecipação.
.
"In that unit, demand for new orders had slipped, inventories had crept up and sales had slowed. He decided not to wait for it to get worse.
In 2007 and 2008, Mr. Babe began cutting costs. He eliminated 15% of the segment's workforce, mostly back office positions like accounting, planning and order processing. "It seemed counterintuitive because we were coming off of some of the best years we ever had," says Mr. Babe.
Then, the recession hit, and sales deteriorated. Revenue in material sciences declined 27% to € 1.5 billion in North America and 23% globally.

Mr. Babe cut more costs. But because he had made cuts earlier in the two years prior, he had the flexibility to invest in other areas of the business at the same time.
He reduced travel budgets, implemented a pay freeze and reduced spending on consulting and training. He analyzed manufacturing operations, closing one plant in Connecticut and shutting some operations at others. Overall, he reduced manufacturing capacity by 40% in 2009, saving on raw material, labor and electricity costs.
At the same time, Bayer ramped up spending on research and development. "Our plan was very focused on innovation," says Mr. Babe. In 2009, Bayer North America spent €507 million on R&D, up from €459 the prior year. The company as a whole had a record R&D spend of €2.8 billion in 2009 and has budgeted 5% more for 2010. Mr. Babe shifted his hiring priorities as well, focusing on engineers and scientists rather than back office jobs.
Also in 2009, Mr. Babe created a team of four people to identify business opportunities related to climate change legislation, environmentally-friendly construction and alternative energy. The material sciences business creates products used in solar applications, wind turbines, fuel-efficient cars and insulation, and Mr. Babe considered them ripe for growth.
The cost cutting and refocusing paid off. The unit rebounded in the first quarter, with sales in North America rising 16.6% to €436 million."

Para reflexão

"‘Mummy’ Merkel battered as Germans lose faith in EU"
.
"Europe is unprepared for austerity"
.
"Guest post: El-Erian on the difficult choices still facing Europe" a destacar: "Industrial countries are running out of balance sheets that can be levered safely in order to minimize the disruptive impact of past excesses."
.
""Se nada mudar, daqui a três anos ainda vamos ter uma crise pior"" a destacar: e se os PIIGS seguissem o exemplo do Paraguai e avançassem para reestruturar a dívida? Seria uma dor suficiente para originar uma mudança?
.
"European Interbank Markets Stress Rises Over Counterparty Fears"
.
"Spain is the perfect example of a country that never should have joined the euro zone"
.
"Forget the wolf pack – the ongoing euro crisis was caused by EMU", Trichet e Ambrose de braço dado "A vida para além do défice"
.
.
Sintomático, revelador, emblemático, paradigmático, provocador de náuseas... "Governo "congelou" valor do défice de 2009 contra as previsões da DGCI" e ""Eu engano-me, mas não engano"" enquanto isto acontecia, os dirigentes do Banco de Portugal queriam auto-aumentar-se 5%, lembram-se?
.
Sintomático, revelador, emblemático, paradigmático, doentio... "Frasquilho elogia para o estrangeiro Governo do PS"
.
Enquanto listo estas ligações Peres Metelo tem o desplante.. prever uma década de crescimento, e prever o aumento da receita sem aumento de impostos... qual o modelo que ele tem? Será que sabe fazer contas ou o seguidismo cega-o completamente?
.
ADENDA das 08h15: Acabo de ouvir no RCP que ... o mais provável é que estes impostos extraordinários virem ordinários e que se mantenham para lá de 2014... pois, qual o modelo de negócio incluído no Plano de Negócio... Grhhhhh!

domingo, maio 16, 2010

Imaginemos...

Imaginemos que JS e PPC tinham de apresentar o plano que negociaram esta semana, a um conjunto de pessoas com capital e tinham de as convencer a emprestarem dinheiro.
.
Ou seja, tinham de lhes apresentar um Plano de Negócio atraente, um Plano de Negócio que demonstrasse que haveria um retorno do investimento e quanto tempo demoraria a obter esse retorno.
.
O que caracteriza um bom Plano de Negócio?
.
.
.
.
Sigamos os conselhos de William Sahlman na revista Harvard Business Review no artigo "How to write a Great Business Plan", publicado em Julho de 1997:
.
Um bom Plano de Negócio deve conter quatro tópicos fundamentais:
  • As Pessoas;
  • A Oportunidade;
  • O Contexto;
  • Os Riscos e as Recompensas.
Consideremos apenas dois, as pessoas e a oportunidade.
.
Acerca da oportunidade: "The model should also address the break-even issue: At what level of sales does the business begin to make a profit? And even more important, When does the cas flow turn positive?"
.
Por que será possível, no final de 2011, levantar estes impostos extraordinários?
.
O que vai mudar, na vida e na gestão do Estado que permita que isso aconteça? Que actuação sobre as causas-raiz se propõem desenvolver?
.
Acerca das pessoas: "When I receive a business plan, I always read the resume section first. Not because the people part of the new venture is the most important, but because without the right team, none of the other parts really matter.
I read the résumés of the venture's team with a list of questions in mind. All these questions get at the same three issues about the venture's team members:
  • What do they know?
  • Whom do they know?
  • How well are they known?
What and whom they know are matters of insight and experience. How familiar are the team members with industry players and dynamics?"
.
Que experiência, que CV, carrega a equipa que está à frente deste Governo?
.
Alguns subsídios:
Julgo que se trata de uma equipa que segue o aqui descrito :
.
"Planning is an unnatural process; it is much more fun to do something. And the nicest thing about not planning is that failure comes as a complete surprise rather than being preceded by a period of worry and depression." (Sir John Harvey-Jones)
.
Emprestava o seu dinheiro a esta gente?
.
.
.
.
.
.
.
Cuidado com a resposta, se ela for negativa vão apelidá-lo de perigoso especulador.

Para reflexão

"Germans lead gold rush frenzy" o objectivo não é ganhar dinheiro é defender o que se tem, sintoma de descrença e desconfiança. Nunca tiveram um chanceler FDR se não sabiam que estão encurralados e que nem o ouro os vai salvar.
.
Os beneficiários dos OEs em cada país são como cucos normandos que açambarcam a riqueza criada em seu benefício à custa da impostação cada vez mais violenta aos saxões indefesos. "Lessons for the U.S. in Greece’s National Meltdown"
.
"One in three Greeks works for the government. Government employees enjoy higher wages, more munificent benefits, and earlier retirements than private-sector employees. Civil servants can retire after 35 years of service at 80 percent of their highest salary and enjoy lavish health plans, vacations, and other perks. Because they are so numerous, and because Greece is highly centralized, public-sector unions hardly have to negotiate. They simply vote in their preferred bosses. Some civil servants receive bonuses for using computers, others for arriving at work on time. Forestry workers get a bonus for outdoor work.(Moi ici: Era capaz de jurar que isto também há por cá) All civil servants receive 14 yearly checks for twelve months’ work. And it’s almost impossible to fire them — even for the grossest incompetence.

Public-sector unions are growing in the U.S. More than 50 percent of all union members are now public employees, and their unions have negotiated sweet deals with local, state, and federal governments. As economic historian John Steele Gordon points out, “Federal workers now earn, in wages and benefits, about twice what their private-sector equivalents get paid. State workers often have Cadillac health plans and retirement benefits far above the private sector average: 80 percent of public-sector workers have pension benefits, only 50 percent in the private sector. Many can retire at age 50.” While private employers were shedding jobs during the recession, state and local governments hired 110,000 new workers." (Moi ici: Picanços e Avoilas are everywhere)
.
A propósito da distribuição dos sacrifícios por todos: Quantos funcionários públicos estão no desemprego? "Impostos só descem se o Estado emagrecer"

Especuladores... agências de rating ...

Os malvados terroristas que fizeram tudo mudar nos últimos 15 dias...
.
"Para Trichet, a responsabilidade pela agitação que conduziu o euro ao mais baixo nível em ano e meio (1,2358 dólares) não pode ser atribuída aos mercados onde se formam os câmbios. Deve ser colocada nos governos que deixaram que os seus défices crescessem em desvario.

A crise actual "não tem nada a ver com ataques especulativos. Tem a ver com as finanças públicas e, portanto, com a estabilidade financeira da zona euro. A responsabilidade dos europeus é tomar medidas que contrariem as actuais tensões nos mercados", defendeu o homem que comanda a política monetária no espaço da moeda única."
.
.
.
"Para Trichet, a responsabilidade pela agitação que conduziu o euro ao mais baixo nível em ano e meio (1,2358 dólares) não pode ser atribuída aos mercados onde se formam os câmbios. Deve ser colocada nos governos que deixaram que os seus défices crescessem em desvario"
.

sábado, maio 15, 2010

Só há uma alternativa para um país pequeno

Estando muitas empresas e, por isso, a nossa economia como resultado agregado, encalhadas no quadrante da Estagnação, os políticos e os macro-economistas querem que nós voltemos ao lado direito da figura, querem que a gente volte a ter uma grande vantagem competitiva.
.
As multinacionais que nos invadiram desde a adesão à CEE vieram para aproveitar as vantagens de um país em que as empresas grandes poderiam triunfar no quadrante do Volume.
.
O euro, a China na OMC e a Europa de Leste na UE, retiraram-nos, corroeram-nos essa vantagem.
.
Ainda hoje no i, Ricardo Reis, "Uma alternativa fiscal para responder à crise" volta a brandir a variável custo para recuperar a economia portuguesa... it's useless... não temos dimensão para abraçar uma proposta de valor assente na escala.
.
Só há uma alternativa para um país pequeno, o quadrante da Especialização.
.
Não nos obriga a grandes dimensões, não nos obriga a combater por quotas de mercado, não nos obriga a correr desalmadamente só para ficar no mesmo sítio do ano passado. Obriga-nos, sim, é a mudar de modelo mental, obriga-nos sim é a retirar o disco do custo e do preço e a aprender a disciplina do valor.
.
Simon Sinek neste postal ajuda, através de uma metáfora, a mergulhar no mundo do valor... muito diferente do mundo preço = custo + mais margem.
.
BTW, quais são as indústrias que mais apoios recebem do Estado? Desconfio que se fizerem as contas vão descobrir que são as do passado, as do modelo mental em que assenta o quadrante do Volume: AutoEuropa, Quimonda, cereais, leite, ...
.
Precisamos deste Grande Reset de que fala Richard Florida, embora não esteja de acordo com a parte em que defende a drenagem para as grandes cidades.
.
BTW... reset, uma palavra usada neste blogue já há alguns anos

Não há acasos, somos clones de Ripley

sexta-feira, maio 14, 2010

Gostava que me explicassem...


... como se eu fosse muito burro, o que é que se vai fazer ali, no interior da nuvem, no meio do novelo, no próximo ano e meio para que se possam retirar estes impostos ditos de "extraordinários" no final de 2011.
.
Gostava de saber que medidas vão ser tomadas para reduzir a despesa corrente do Estado, até porque, mais ano menos ano temos de começar a pagar as PPP de Cravinho. Porque sem redução da despesa corrente, estamos só debaixo de água a apertar o nariz e a suster a respiração... e isso não é vida sustentável.

Um modelo para explicar a evolução da competição (parte I)

A consultora BCG em tempos concebeu esta matriz, esta ferramenta para avaliar o ambiente competitivo num sector de actividade:
Se uma empresa pode deter uma grande vantagem competitiva e há poucas hipóteses disponíveis para diferenciação e construção dessa vantagem, então trata-se de um negócio de volume (o preço/custo é rei).
.
Se uma empresa pode deter uma grande vantagem competitiva e há muitas hipóteses disponíveis para diferenciação e construção dessa vantagem, então trata-se de um negócio de especialização (o valor é rei).
.
Se uma empresa não pode, não consegue deter uma grande vantagem competitiva e há poucas hipóteses disponíveis para diferenciação e construção dessa vantagem, então trata-se de um negócio em que reina a estagnação (margens apertadas e poucas possibilidades de crescimento).
.
Se uma empresa não pode, não consegue deter uma grande vantagem competitiva e há muitas hipóteses disponíveis para defender essa magra vantagem, então trata-se de um negócio em que reina a fragmentação.
.
Portugal antes do 25 de Abril estava em pleno espaço de Fragmentação. Práticas arcaicas de produção, distribuição atomizada, fronteiras fechadas e proteccionismo face ao exterior, concorrência minimizada pela legislação e pelas corporações
Com a abertura das fronteiras, com a adesão à então CEE, com a chegada da grande distribuição moderna, com a redução do esforço para chegar a todo o lado no país (auto-estradas e IPs), em muitos sectores de actividade a competição migrou para uma nova paisagem competitiva onde triunfa o Volume. Muitas marcas desapareceram, muitas marcas foram adquiridas e fundidas. É uma paisagem onde imperam os custos, a quota de mercado, a dimensão, o efeito da escala. Neste mundo parece que os grandes ficam cada vez mais grandes e não há fuga.
Depois de uma fase de triunfo deste modelo de Volume surge uma outra. A vantagem competitiva do mundo do volume começa a sofrer uma erosão ... margens cada vez mais pequenas, poucas hipóteses de expansão... é uma fase de Estagnação.
Esta é a fase em que grande parte da economia deste País se encontra... Estagnação sem perspectivas de melhoria. Discutem-se os custos, pede-se a redução dos salários da economia de bens transaccionáveis, o mundo afunila cada vez mais, o paradigma parece que se encaminha para a implosão.
.
O que faz a micro-economia que consegue vencer os modelos mentais incumbentes?
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Aposta na criação de valor! Aposta na diferenciação, aposta na Especialização, concentra-se, foca-se, não para reduzir custos mas para ser exímia, para ser diferente, para ser superior, para originar valor.
Por exemplo, neste blogue, sem acesso a números, critiquei a decisão da Unicer de fechar a unidade que tinham no Algarve. A competição entre as duas grandes cervejeiras portugueses deve-as ter colocado em trânsito do quadrante 2 para o quadrante 3. Os gestores cristalizados no modelo mental decorrente do passado, instintivamente, reagem com o corte nos custos, receita adequada para o quadrante 2 mas insuficiente no quadrante 3. A única saída confortável em termos de aumento das margens é a do quadrante 4, a que requer flexibilidade de produção, a que está menos dependente dos custos.
.
Continua.

O todo e as partes

Quando começo uma acção de formação sobre "A abordagem por processos" costumo apresentar estes acetatos:
Isto a propósito dos silos mentais que pensam que os desafios de uma organização podem ser tratados como disciplinas isoladas, como refere o Aranha aqui.
.
Já agora Aranha, se há disciplina que precisa de ser repensada é a da Qualidade... que sentido faz montar um sistema de gestão da qualidade sem a noção de clientes-alvo ou de proposta de valor... é quase como dizer que o Marketing nas empresas é para escolher os postais e as mensagens a enviar por altura do Natal.

Uns gabinetes de apoio... (continuação)

Logo em 2003, mal soube do lançamento, encomendei o livro de Tom Peters "Re-imagine!".
.
O segundo capítulo ficou-me na mente e alimentou várias reflexões ao longo de 2004, sobretudo quando tive a oportunidade de facilitar uma reflexão estratégica numa empresa gerida por alguém que acreditava mesmo na inovação e teve de fazer uma revolução a nível dos comerciais. E deixar de ter comerciais que negociavam preço e passar a ter técnicos que dialogavam com técnicos e demonstravam o desempenho e capacidade técnica dos produtos (relacionar este pormenor com "Acerca das experiências de compra no B2B").
.
Alguns excertos desse segundo capítulo "2 Control Alt Delete: The Destruction Imperative"
.
"We must "destroy," in effect, the military and domestic-security structures of yesteryear... structures that have proven inflexible in the face of new and hyper-flexible enemies.
...
"We must destroy barriers everywhere."
...
"Change-watcher Kevin Kelly told me it's "much easier to kill an organization than change it substantially."
.
Recordo esta frase, tantas vezes, quando é preciso mudar comportamentos numa organização e começam logo a emergir os primeiros sintomas de resistência à mudança.
.
Anos depois adquiri, em segunda-mão, o livro de 2001 "Creative Destruction" de Richard Foster e Sarah Kaplan. Os autores chamam a atenção para a importância da cultura das organizações e como ela pode bloquear a mudança.
.
"As useful as mental models are for a while, they clearly have a dark side," ... When faced with discontinuous conditions, the mental factors that people generally favor, based on experience, expertise, knowledge, and learning, becoming liabilities. The very mental models that are at the heart of managerial strength are also at the heart of managerial weakness in an age of discontinuity."
.
E o que aconteceu à economia portuguesa com a adesão ao euro, com a entrada da China na OMC e com a entrada dos países da Europa de Leste na UE? Uma grande descontinuidade... como os modelos mentais são difíceis de mudar... (basta atentar nos nossos políticos que ainda não perceberam como o dinheiro fácil e barato acabou)... estão a ver a tentação da alternativa?
.
.
.
.
.
"The evidence is overwhelming that mental models, built to assist in decision making, once constructed often become the single most important barrier to change. We believe this problem will become increasingly pervasive as discontinuous shifts occur in industry after industry.
...
In this era of rapid change and increasing complexity, mental models represent a tool of tremendous promise - but also of tremendous risk. To the extent they are built on the assumption of continuity, they are more of a liability to the user than a benefit. We cannot avoid using mental models, however. It is the way we are wired. Our only choice lies in deciding which one to use, and how to use it. This means recognizing the need to change mental models, and finding a way to change them that is less costly than holding on to mental models that do not work."
.
Por isto é que é tão difícil mudar as empresas, por isto é que é tão tentador preferir deixar que as empresas fechem e canalizar os recursos da sociedade para novas experiências.
.
Também por isto, é preferível deixar o mercado actuar, deixar que as mensagens do mercado empurrem rapidamente as empresas para a necessidade de repensar a sua vida, em vez de desperdiçar recursos a diluir o poder do mercado, a adiar a tomada de decisões e a tentar convencer quem não percebe que precisa de mudar de vida.
.
Também por isto, é preferível derrubar as barreiras que dificultam o encerramento das empresas e a criação de novas empresas... não estamos a falar de apoios para quem a eles recorre e concorre, estamos a falar de reduzir barreiras para todos, sem concursos, sem PINs, sem segredos e datas alteradas à última hora.


quinta-feira, maio 13, 2010

Imaginem...

Imaginem que em vez da classe de funcionários que temos tido a gerir a coisa pública, tínhamos, desde Setembro de 2007 (data do primeiro marcador "desde que ouvi o ministro pinho dizer que a crise financeira não afectará a economia...,"), alguém que partilhasse as ideias que defendemos ao longo dos postais com os três marcadores abaixo...
.
Estaríamos melhores ou piores do que agora como País?
.
Escreve Pedro Guerreiro no JdN "Sócrates andou a jogar ao Verdade ou Consequência com os portugueses durante os últimos anos, as últimas eleições, os últimos meses, as últimas semanas. Deu-lhes verdade a menos, agora dá-lhes consequência a mais. Impostos extraordinários, impostos ordinários, uma sangria desatada das veias dos exangues contribuintes." (Moi ici: "sei o que não me disseste na última campanha eleitoral" e "moscas", são outros dois marcadores que permitem provar que o que nos está a acontecer não é nenhum resultado do ataque de especuladores, são as consequências, perfeitamente normais, da irresponsabilidade de quem toma conta da coisa pública)
.
Ainda do editorial de Pedro Guerreiro no JdN retiro: "Esta vertigem fiscal é odiosa mas deixou de ser evitável. Agora, que venha por bem. Que venha regenerar a economia e preparar a nova vida depois da mortandade." (Moi ici: Ainda há momentos, no Twitter, Nassim Taleb escreveu "Deficits are similar to carbs: the more you eat, the hungrier you get." Assim, é voluntarioso e whishfull thinking acreditar que esta vertigem normanda de impostar os indefesos saxões mais uma vez sirva para regenerar a economia... é antes mais uma espia cravada na parede onde se vai amparar um novo status-quo de impostagem em Portugal, para ganhar balanço para o próximo salto. Basta recordar que ainda não começamos a pagar as SCUT de Cravinho).
.
Uma pergunta para Pedro Guerreiro: Como pode a crise acabar se só se atacam os sintomas e não se vai às causas-raiz?
.
Há algo pior do que o casamento da mentalidade socialista com os interesses da banca? Com que então saúdam... normandos.
.
.
Para acabar em beleza apreciar este filme de 50 segundos.

Acerca das experiências de compra no B2B

Artigo recente na The McKinsey Quarterly "The basics of business-to-business sales success".
.
"B2B customers say they care most about price, but what they really want is a great sales experience. For sales reps, that means getting the basics right"
.
"When it comes to building valuable relationships with customers, sales representatives are critical players on the front lines. But are they getting the basics right? Customers want to be contacted just enough, not bombarded. Sales reps should know their products or services intimately and how their offering compares with those of their competitors. Customers need information on exactly how a product or service will make a difference to their businesses. And while they may say price is their biggest concern, a satisfying sales experience is ultimately more important.
These were the key findings of a survey we conducted of more than 1,200 purchasing decision makers in small, medium, and large companies throughout the United States and Western Europe who are responsible for buying high-tech products and services."
...
"We found a big difference between what customers said was important and what actually drove their behavior. Customers insisted price was the dominant factor that influenced their opinion of a supplier’s performance and, as a result, their purchasing decisions. Yet when we examined what actually determined how customers rated a vendor’s overall performance, the most important factors were product or service features and the overall sales experience."
.
Assim, segundo o inquérito:
.
  • 35% dos vendedores estragam uma relação porque são umas carraças, sempre a ligar, sempre a massacrar;
  • 20% dos vendedores não conhecem os produtos que vendem nem os da concorrência;
  • 9% não conhece o sector ou indústria.
Depois queixam-se que a única alavanca dos vendedores é o preço...
.
Pudera, como é que podem comunicar valor? Se são umas lapas, se não têm conhecimento,

Os supersimplificadores

"Western consultants, academics, and executives express a preference for oversimplifications of reality and cognitively linear explanations of events... [there is] a tendency to overlook the process through which organizations experiment, adapt, and learn... How an organization deals with miscalculation, mistakes, and serendipitous events outside its field of vision is often crucial to success over time."
.
Trecho retirado de "Perspectives on Strategy: The Real Story Behind Honda's Success" de Richard Pascale, publicado em 1984 no número 26 da California Management Review.
.
A propósito, a comentar o sucesso da Honda nos Estados Unidos, Richard Rumelt, em 1980 escreveu:
.
"The fundamental contribution of BCG is not the experience curve per se, but the everpresent assumption that differences in cost (or efficiency) are the fundamental components of strategy."
.
Pascale escrevia sobre os consultores e economistas que só conhecem o custo como factor competitivo...
.
No artigo publicado na California Management Review, Pascale entrevistou os gestores da Honda que lançaram a marca nos Estados Unidos e demonstrou que o sucesso nada tinha a ver com o factor preço.