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sábado, julho 16, 2016

Acerca da ligeireza com que se escreve nos jornais

Depois de ler "O que aconteceria se Portugal saísse da União Europeia?".
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Começam por confundir a pertença à União Europeia e ter o euro como moeda. Julgo que é o Montenegro, país que emergiu do fim da Jugoslávia, que tem como moeda o euro apesar de não ser membro da União Europeia.
"com um novo escudo mais competitivo que torna o país uma máquina de exportações e um paraíso de férias que os europeus adoram devido aos preços baratos?"
Ao menos podiam estudar as estatísticas...
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Recordo esta série "Aprenda a duvidar dos media" e esta imagem que usei:

Esta estatística ilustra claramente como ninguém estuda os números, ninguém analisa os factos. Leis, políticas e opiniões são defendidas e atacadas sem qualquer estudo.
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Quanto aumentaram as exportações alemãs de bens e serviços entre 2004 e 2013?
54%
E quanto aumentaram as exportações portuguesas de bens e serviços entre 2004 e 2013?
63%

Confirmem.

Quanto ao turismo batemos recordes atrás de recordes. No último ano os hotéis de 5 estrelas aumentaram os preços em cerca de 30%, por exemplo. Aposto que o mesmo jornalista já escreveu, ou vai escrever para a semana, como já o fizeram no Público, que há turismo a mais e que é preciso pôr um travão ao seu crescimento. Go figure!

Voltar ao escudo é, como se prova, uma artimanha para esconder a incompetência de políticos que pretendem culpar a moeda por fenómenos que só eles geraram por não estudarem e porem a ideologia à frente da simples aritmética. Querem é voltar a poder prometer o céu e a terra e, depois enganar o povo tolo com a ilusão monetária.

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Pensem bem na narrativa


Há dias, citava aqui estas palavras de Esko Kilpi:
"the learned helplessness created during the industrial era. Learned helplessness is a belief that we are at the mercy of external forces, the managers, the employers, the markets, and not in control of what is happening to us. Martin Seligman claims that this feeling is not only learned but built in as a feature in many of our social systems,"
Quem é que nos "ensina a ser desamparados, enfraquecidos, impotentes"?
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As narrativas que nos tornam vítimas, as narrativas que deslocam  o nosso locus de controlo do interior para o exterior de nós.
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Um dos grandes criadores desse tipo de narrativa é, por exemplo, João Ferreira do Amaral. Segundo ele: o euro é a causa de todos os nossos males; não temos economia para competir se tivermos ou continuarmos com o euro como moeda.
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Claro, os media, acríticos, há muito deixaram de mediar, há muito deixaram de investigar e ver se as narrativas aguentam um pouco de contraditório.
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Pergunto, qual é a economia mais forte da zona euro? Ainda há dias no Twitter alguém escrevia que o sucesso das exportações alemãs era tão grande que era sinal de que precisavam de uma moeda mais forte.
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Agora, pensem no que se segue.
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Na senda de "Exportações nacionais cresceram 33% nos últimos cinco anos", posso acrescentar que as exportações de bens portugueses cresceram 60% nos últimos 10 anos.
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E quanto é que cresceram as exportações alemãs entre 2005 e 2015?
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Cresceram...
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Conseguem adivinhar?
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Cerca de 53%
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Além de ser outra vez a fazer sombra aos alemães.
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O que é que isto diz dos nossos media, dos economistas da tríade, e do peso do Estado português sobre a economia portuguesa?

quarta-feira, fevereiro 03, 2016

A seu tempo será outro testemunho, outra prova do tempo

Ainda recentemente em "A fazer sombra aos alemães!" escrevi:
"Ainda ontem à noite ao fazer zapping pelos canais apanhei a ex-ministra, julgo que ainda eurodeputada, Maria João Rodrigues, em plena lengalenga que eu já julgava obsoleta.
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Dizia a técnica que os alemães tinham de aumentar os seus salários para que os europeus do sul pudessem exportar mais para a Alemanha."
 Lembrem-se que para este anónimo da província a causa raiz dos problemas portugueses que levaram ao descalabro das contas públicas tiveram origem na entrada da China no comércio mundial e não no fim do escudo:

Outra guerra deste blogue e deste consultor é a de aumentar preços, para baixar os custos unitários do trabalho enquanto se aumentam salários. Recordar:
Ontem, descobri este texto "Why the Neoclassical Story About German Wage “Moderation” Causing the Eurozone Crisis is Wrong". Um artigo longo e que merece uma leitura atenta. Sublinho estes trechos:
"German firms, producing high-tech, high value-added, high-priced and mostly very complex manufacturing goods, do not directly compete with Spanish, Portuguese, Greek or even most Italian firms, which are specializing in lower-tech, lower value-added, low-price and less complex goods (Simonazzi et al. 2013). German firms are price-setters and dominate their niche markets, while Greek and Portuguese firms instead compete with low-cost Asian producers - on costs (but not just labor costs) - and get pushed out from their markets by their Chinese competitors (Straca 2013). [Moi ici: Segue-se algo que só vi escrito por mim e ao arrepio dos gurus tugas... lembrem-se do meu marcador gato vs rato] The upshot is that real-life competition in oligopolistic markets cannot be reduced to just unit-labor-cost competition - whatever the textbooks want us to believe. And if one insists on focusing on unit labor costs, then there is no reason why one should not also look at unit capital costs (or profit margins), as is argued by Felipe and Kumar (2011); oligopolistic firms might as well compete on profit margins."
E ainda:
"Flassbeck and Lapavitsas argue in favor of higher German wages (and higher German inflation), just like Wren-Lewis (2016), in the mistaken belief that this will lower Germany’s cost competitiveness, reduce its trade surplus, and thereby rebalance the Eurozone as a whole. German exports and imports, as I argued above, are not very sensitive to changes in relative unit labor costs, however, and hence there will be only a limited amount of expenditure switching (away from German products and toward foreign goods), as has also been convincingly shown by Schröder (2015). Let me repeat for clarity’s sake that I am strongly in favor of higher nominal wage growth (in excess of labor productivity growth plus 2%) in Germany. It will definitely help Germany. But it will not help the crisis-countries of the Eurozone." 

sexta-feira, janeiro 01, 2016

Quando as velha receitas ficam obsoletas!

"As various central banks loosened monetary policy this year, some economists predicted another cycle of beggar-thy-neighbor currency wars, in which countries race each other to become the cheapest exporter.
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But it hasn’t panned out that way, and now a growing body of evidence suggests why: A shift in trade dynamics is blunting the impact of a weak local currency.[Moi ici: À atenção dos que apostam na desvalorização da moeda, como forma de fugir às reformas de que uma economia precisa quando deixa de ser competitiva]
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When a country loosens its monetary policy, interest rates fall and investors tend to pull their money out in search of higher yields elsewhere, pushing down the currency’s value.
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That is still happening. But the dynamic isn’t affecting trade flows as much as expected. What has changed is where businesses source the things they need to make the products they export. Manufacturers once found most components needed to make their goods at home. Now they increasingly look abroad for such inputs. As a result, exports now incorporate a lot more imports.
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The foreign content of Switzerland’s exports, for instance, increased to 21.7% in 2011 from 17.5% in 1995, while the imported content of South Korea’s exports almost doubled, to 41.6% in 2011 from 22.3% in 1995.
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Economists at the International Monetary Fund and the World Bank have used those measures to assess whether currency movements have the same impact they once did on exports and imports. They found that the effect has in fact reduced over time, by as much as 30% in some countries.
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Policy makers are beginning to take note. “As countries become more vertically integrated via global value chains, exchange-rate variations will have a diminishing impact on the terms of trade,”"
Entretanto, os que aprenderam a usar o câmbio quando tinham 20 anos, continuam agarrados a essa velha receita. Nunca esquecer as palavras de Napoleão.


Trecho retirado de "Why Weak Currencies Have a Smaller Effect on Exports"

sábado, dezembro 12, 2015

Para reflexão


Há tempos no FB recomendaram-me este artigo, obrigado, "Diagnosing the Italian Disease" de Bruno Pellegrino e Luigi Zingales.
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O abstract é pequeno e directo ao assunto:
"We try to explain why twenty years ago Italy’s labor productivity stopped growing. We find no evidence that this slowdown is due to the introduction of the euro or to excessively protective labor regulation. By contrast, we find that the stop is associated with small firms’ inability to rise to the challenge posed by the Chinese competition and to Italy’s failure to take full advantage of the ICT  revolution. Many institutional features can account for this failure. Yet, a  prominent one is the lack of meritocracy in managerial selection and promotion. Familism and cronyism appear to be the ultimate causes of the Italian disease."
Em Portugal as PME apanharam um choque bem maior com a China, porque estávamos num patamar abaixo dos italianos e, por isso, mais próximo do dos chineses.
"To explain such a sudden stop in productivity growth, we need to focus on what changed in the surrounding world in the mid- to late-1990s. The main exogenous shock is China’s entry in the World Trade Organization (WTO) in 2001. The second shock is the introduction of the euro in 1999. The third and final one is the information technology revolution that took place starting in the mid-1990s. Since all these shocks are more or less contemporaneous, there is little hope of being able to separate one from the other by relying on the timing of the change alone.
To identify the cause of the Italian Disease (as we refer to it), we need to understand why these shocks, which hit all the other major European countries, had much more adverse effects in Italy.
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Finally, we try and quantify how much of Italy’s productivity gap can be explained by difficulties in the adoption of ICT. Looking at the regression in Table 3, we note that almost half of the difference between the Labor Productivity Gap (19.3%) and the Total Factor Productivity Gap (12.8%) can be directly attributed to scarce ICT capital accumulation. In addition, when we “correct” TFP growth by using the estimated response coefficient to the interaction of meritocracy and ICT capital contribution, the unexplained component of Italy’s labor productivity gap drops to just about 3.5%. The reason why lack of meritocracy can explain so much of Italy’s productivity growth gap during the ICT revolution lies in the fact that the managerial model followed by Italian firms appears to be profoundly different from that of other developed countries. Even after controlling for differences in firm size, the mean performance-oriented management index for Italian firms is about 0.8 standard deviations lower than the average for Austrian, French, German, Hungarian, Spanish, and British firms."
Há anos que defendemos aqui no blogue que a causa da doença portuguesa foi a China e que em 2008 o antídoto tinha sido encontrado e estava em disseminação natural por spillover.
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Recordar "Acerca da desvalorização interna" ou "It's not the euro, stupid! (parte IV)".
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Pessoalmente, empiricamente, arrisco dizer que o uso de ICT não está mal por cá na PME-tipo, embora haja espaço para melhorar.
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Quanto à gestão, é claro que em teoria podia ser melhor. Na prática, qualquer empresa viva num dado momento, desde que seja mantida pelos seus clientes e não por apoios e subsídios do Estado, é um caso de sucesso. A única forma adequada é não permitir que uma empresa sobreviva apesar de não ter clientes que a sustentem. A quantidade de empresas supostamente bem geridas que fecharam desde 2008 e a quantidade de empresas supostamente mal geridas que se mantiveram apesar de 2008, 2009 e 2011, 2012 e 2013.

sexta-feira, novembro 27, 2015

Para reflexão

"The simplistic answer is to blame the euro, which hardly helped the country deal with a series of shocks in recent years: the implosion of Nokia, Finland’s biggest employer; the collapse of the paper industry, reflecting the decline of newspapers and the bursting of the commodity bubble; the euro crisis and the European Union’s Russian sanctions regime, which hit Finland’s biggest export markets. The cumulative result is that Finland’s export market share has shrunk by a third since 2008, wiping out what was a large current-account surplus and accounting for much of the decline in growth.
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Finland’s economy today more closely resembles that of France than Sweden. Its public spending and tax revenues account for an eye-watering 59% and 56% of GDP respectively, higher even than France’s. Its labor market is one of the most rigid in the world, ranked 103rd out of 144 countries for labor flexibility in 2015 by the World Economic Forum. That explains why labor costs continued to soar even as the economy dived and productivity tanked; Finnish unit labor costs are now 20% higher than those of Germany. And thanks to Finland’s highly generous benefits system, the proportion of the working-age population that is economically active is five percentage points below that in Sweden—a serious problem for a country whose workforce is already shrinking as a result of having the worst demographic profile in the EU."
Trechos retirados de "Finland’s Problem Isn’t the Euro"

domingo, novembro 22, 2015

"It was never the euro"

Em linha com o que pensámos e escrevemos neste blogue há muitos anos o problema que nos atingiu no final dos anos 90 e se prolongou até quase 2008 não foi o euro, foi a China:
"Gaia works with a furniture factory that has been in operation for more than 40 years. Sergio Aguilar who owns it, says Mexico's furniture industry was plunged into crisis when China entered the World Trade Organisation in 2001.
"China really hit us," he says. "The competition between China and Mexico has been really tough.""
Nós estávamos no mesmo campeonato em que a China entrou, mesmo com escudo seria impossível resistir com estas diferenças:


Trecho retirado de "Mexico's new furniture revolutionaries"

terça-feira, outubro 27, 2015

Portugal: exportações e o euro (parte III)

Parte I e parte II.
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No documento "Análise das empresas do sector exportador em Portugal", publicado pelo Banco de Portugal em Junho último, pode ler-se:
"No  setor  exportador  são  consideradas  as empresas para as quais o mercado externo tem maior relevância. Para o efeito, pertencem a este setor  empresas  em  que,  em  cada  ano,  pelo menos 50% do seu volume de negócios provém de exportações de bens e serviços ou em que pelo  menos  10%  do  seu  volume  de  negócios provém  de  exportações  de  bens  e  serviços quando estas são superiores a 150 mil euros.
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Foram identificadas, em média, 19 mil empresas exportadoras por ano.
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Em 2013, o setor exportador compreendia 5% do número  de  empresas,  23%  do  número  de  pessoas ao serviço e 35% do volume de negócios das [sociedades não financeiras] SNF em Portugal. Face a 2007 registou-se  um acréscimo da sua representatividade em 1 p.p. no número de empresas, 3 p.p. no número de pessoas ao serviço e 8 p.p. no volume de negócios."
Olhando para estes números "5% do número  de  empresas,  23%  do  número  de  pessoas ao serviço e 35% do volume de negócios", como não recordar um desaparecido Paul Krugman que em 1994 escreveu "Competitiveness: A Dangerous Obsession" ou o Pop Internationalism.

Quando olhamos para os dados do IEFP (desempregados inscritos como candidatos a novo emprego) e esmiuçamos a proveniência do desemprego:
Entre 2002 e 2015, o desemprego proveniente de:
  • Restauração;
  • Comércio;
  • Construção; e
  • Imobiliário
Passou de cerca de 38% para 55% do desemprego.
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Recordo também um célebre relatório sobre o desemprego que teve o mesmo destino do relatório Porter... como revelou uma realidade que não convinha ao discurso político foi esquecido e escondido:
"Quanto mais um sector económico da economia portuguesa é aberto ao exterior, à concorrência internacional, menor é o aumento do desemprego"
"O emprego evoluiu de formais favorável nos sectores transaccionáveis.
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Entre os sectores que apresentam variações percentuais do emprego mais positivas ... estão alguns dos mais transaccionáveis e com elevados graus de abertura""
O sector exportador em Portugal está de saúde e recomenda-se, até à próxima crise (impossível de evitar a nível macro. Será sempre assim). O que me surpreende são os líderes associativos do sector não-transaccionável que acreditam que um aumento do salário mínimo em 20% vai fazer mais bem que mal às empresas que operam no mercado interno.
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Este postal foi uma interrupção do tema principal (euro e exportações) a que voltaremos na próxima parte. No entanto, quero salientar que a mesma receita que as exportadoras seguiram terá de ser seguida pelas empresas que operam no mercado interno. É interessante como as empresas do sector não transaccionável não têm sido despertadas para o desafio da renovação da estratégia e dos modelos de negócio, toda a atenção está no sector exportador que está a bombar e representa apenas 5% do tecido empresarial. Estranho.
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Aquele aumento de 20% vai ocorrer a uma velocidade muito superior à velocidade a que as empresas conseguem transformar-se... não vai ser bonito.
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Ao contrário do sector exportador, onde a receita passou quase sempre pela subida na escala do valor, as empresas que operam sobretudo para o mercado interno terão mais alternativas:

  • aumento da eficiência;
  • mudança de modelo de negócio; e
  • em menor escala, porque o mercado interno não é rico, subida na escala do valor

Continua.

sábado, outubro 10, 2015

Contradição

Já repararam que os mais sonoros defensores de que o futuro da economia portuguesa não passa por salários baixos, são os mais sonoros defensores da saída de Portugal do euro.
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Por que será?

segunda-feira, agosto 17, 2015

Aprendizes de feiticeiro e o Armagedão

Havia de ser lindo se esta proposta fosse avante "PSOE quer o mesmo salário mínimo e idade da reforma para todos os países da UE".
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Como é possível ser tão demagogo, tão perigosamente incendiário e ocupar a função que ocupa.
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Outra ideia boa, a juntar à ideia da saída do euro, para criar uma novela ou um filme sobre o day-after.

Euro e China, duas variáveis

Estamos habituados, desde a escola primária, a estudar a influência das variáveis num sistema, variando uma variável de cada vez e analisando o resultado.
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Este método tem uma falha grave, não permite detectar interacções entre variáveis.
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Muita gente culpa a entrada no euro como a culpada de uma série de desgraças que assolaram a economia portuguesa. Como se a única variável a mudar durante esse período fosse a entrada no euro.
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E a entrada da China no mercado mundial?
Qual a sua influência?


segunda-feira, agosto 03, 2015

À atenção dos economistas "reputados" (parte II)

Parte I.
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Na parte I escrevi:
"Em Janeiro de 2002 o número de desempregados que não pertenciam à Construção + Restauração + Comércio + Imobiliário rondava os 186 mil, em Junho de 2015 ronda os quase 202 mil."
Há um pormaior que não referi na altura e que mostra como o sector transaccionável português deu uma volta enorme.
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Quando comparamos 2002 com 2015:
186 mil menos 202 mil dá uma perda de 16 mil empregos
 Só que esta análise é demasiado simplista. Basta recordar o que aconteceu ao número de trabalhadores numa série de sectores. Por exemplo:


Recordar que entre os anos 80 e o final de 2013 a ITV perdeu de 117 mil postos de trabalho.

Entre 2002 e 2014 o sector perdeu cerca de 17,5 mil postos de trabalho.
Três sectores que estão bem, que crescem nas exportações, que ultrapassaram a debandada das multinacionais com a entrada da China no comércio mundial, que ultrapassaram a derrocada do mercado interno e que se viraram para fora, mais do que nunca.
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O desemprego actual no sector transaccionável, mais do que sinal de crise é sinal de aumento brutal da produtividade.


quinta-feira, julho 23, 2015

À atenção dos economistas "reputados"

Segundo os dados publicados pelo IEFP, relativos a desempregados à procura de emprego, tendo em conta a sua origem profissional, fizemos esta a comparação entre o mês mais recente e o mês mais antigo com registos disponíveis, Janeiro de 2002.
Em Junho de 2015 há mais 150 mil desempregados do que em Janeiro de 2002.
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É realmente interessante perceber como o impacte chinês já foi digerido pelos sectores transaccionáveis:

  • Em Janeiro de 2002 o número de desempregados que não pertenciam à Construção + Restauração + Comércio + Imobiliário rondava os 186 mil, em Junho de 2015 ronda os quase 202 mil.
A grande diferença, o grande responsável pelo acréscimo de 150 mil desempregados está naqueles 4 sectores não transaccionáveis:
  • Em Janeiro de 2002 o número de desempregados que pertenciam à Construção + Restauração + Comércio + Imobiliário era pouco superior a 116,5 mil, em Junho de 2015 ronda os quase 250 mil.
Acreditam que os economistas "reputados", que defendem a saída de Portugal do euro, para baixar o desemprego, conhecem estes números?
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BTW, isto "Finns Told Pay Cuts Now Only Way to Rescue Economy From Failure". Numa economia aberta esta mensagem e terapia é necessária para os sectores não transaccionáveis quando o sistema fica insustentável. A mensagem é irrelevante para os sectores transaccionáveis porque o acerto ocorre a toda a hora e momento.

domingo, abril 12, 2015

Até onde teriam ido?

Escreve Teixeira dos Santos em "Crescimento, precisa-se":
"Herdamos do passado um setor produtivo subcapitalizado e com baixa produtividade que apostou numa competitividade assente em atividades trabalho-intensivas, de mão de obra barata e pouco qualificada. Sobreviveu à custa da desvalorização da moeda, uma terapia que deixou de ser possível com o euro. Desde então, a nossa competitividade deteriorou-se, alimentando o desequilíbrio externo crónico do país. Em consequência, o endividamento agravou-se. A necessidade de aumentar a poupança, para aliviar o peso do endividamento, não permite que seja a procura interna a puxar pela economia."
Não sei se alguma vez vai ser possível provar ou rejeitar a opinião que vou emitir de seguida.
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A adesão à então CEE, que proporcionou liberdade comercial, conjugada com a "terapia" da desvalorização da moeda, fez de Portugal um paraíso europeu para a mão-de-obra barata. A taxa de desemprego chegou a baixar dos 4%, na primeira metade dos anos 90 do século passado.
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O que deu cabo disso não foi o euro. Poderíamos ter continuado a ser o paraíso da mão-de-obra barata dentro da "fortaleza UE", mesmo com os países do bloco de Leste, haveria trabalho para todos.
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O que deu cabo disso foi esta diferença:
Os números são de 2013. Há uma década que os salários chineses crescem bem, por imposição governamental, por isso, já só são uma pálida ilustração do que se passava aquando da liberalização comercial de 2001, que coincidiu com o big bang do euro.
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Imaginem que Portugal não estava no euro. Imaginem a pressão dos empresários, imaginem o choradinho no parlamento... se não fosse o euro, até onde é que os políticos portugueses iriam na desvalorização da moeda para tentar competir com a China?

quinta-feira, fevereiro 19, 2015

O melhor ano de sempre


A acrescentar ao melhor ano do calçado, do têxtil, do mobiliário, à duplicação da taxa de exportações da cerâmica, ao forte crescimento das exportações agro-alimentares, ...
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Com euro e apesar dos socialistas no governo

sexta-feira, janeiro 09, 2015

Treta e mais treta!

Apesar de não concordar com a ideia de que a seguir a uma falência, a austeridade deve ser evitada, li com interesse o que se escreve aqui "Welcome to the Hunger Games, Brought to You by Mainstream Economics".
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Lentamente, muito lentamente, demasiado lentamente, lá vão surgindo brechas no pensamento único que defende que a culpa da situação actual na zona euro decorre dos "baixos"salários alemães.
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Continuo a crer que o abaixamento de salários para tornar mais competitivos os sectores exportadores é conversa da treta. Contudo, continuo a crer que pode fazer a diferença entre mais ou menos desemprego nos sectores não-transaccionáveis.
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Algo que sempre achei e continuo a classificar como absurdo é a ideia de que as economias da Europa do Sul competem de igual para igual com a economia alemã, mais treta da grande.
"The surge in imports created deficits on the trade balances of the Southern European economies, but these imbalances had nothing to with rising relative unit labor costs or “excessive” wage growth in the periphery."
Mesmo que os salários na Europa do Sul não tivesse subido um cêntimo, durante a primeira década do século XXI, mesmo assim, muita da indústria exportadora da Europa do Sul teria o mesmo destino, a falência às mãos da concorrência com a China. Interessante como no texto não há nem uma palavra sobre o impacte da China na competitividade das indústrias da Europa do Sul.
"First, Germany’s superior export performance has nothing to do with labor cost competitiveness. Demand for Germany’s exports has not been sensitive to changes in the cost of labor, as we show and as other studies (including ones by IMF, World Bank and ECB economists) confirm. German firms do not compete on “costs” but on factors other than price: things like product design, quality, high-tech content, and reliability."
E, por isso, é que a China não teve um impacte tão grande na Europa do Norte.
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Há algumas passagens que me fazem duvidar da honestidade intelectual das pessoas:
"To illustrate, the ECB sent a letter to the Spanish government in August 2011 asking for wage cuts and the creation of “mini-jobs” to address the issue of youth unemployment in exchange for buying Spanish government bonds in the secondary market. These “mini-jobs” would pay salaries below the Spanish minimum wage. How to square this with the aim to turn Spain into a more competitive economy? I don’t know, unless one wants Spain to directly compete with China."
Qual a percentagem do PIB espanhol que está associado a sectores não-transaccionáveis?
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Ou socialismo adepto do Grande Planeador:
"Europe needs a hand-on industrial policy with government investment in innovations like renewable energy systems, public transport and education and health. Countries like Greece in the periphery need help in the task of industrial restructuring and upgrading. Resources should be going from countries like Germany to them instead of the other way around."
Quem é que sabe que indústrias é que vão ter futuro?
A velha ideia, desmascarada tão bem por Spender, (recordar a série "Shift happens!") de que um negócio não está repleto de incerteza, de que não depende do contexto e da idiossincrasia de quem investe, de que basta escolher o negócio e obter os recursos. Treta!

domingo, dezembro 14, 2014

"But it’s in China’s interest to get out of toys and T-shirts"

E volto a Agosto de 2008, "Especulação", a propósito de "A  Currency War With Japan Won’t Help China Reform Its Economy", onde se pode ler:
"“But it’s in China’s interest to get out of toys and T-shirts, and that’s what they are going to do.”"
E dedicado a Ferreira do Amaral, Medina Carreira et al:
"“There is a lot of work that shows exchange rates are less important than quality, marketing strategies, backup and service. If you have those, exchange rates are not unimportant, but it may take big moves in exchange rates to have an effect.” [Moi ici: Parágrafo importante, à atenção dos que querem sair do euro e voltar ao laxismo do escudo]
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Japan’s pressure on the renminbi could be little more than an irritating distraction as China focuses on the more important task of escaping the so-called middle-income trap. [Moi ici: Se a carga fiscal fosse menor e as empresas pudessem capitalizar-se mais rapidamente, talvez escapássemos a este middle-income trap de forma mais evidente]

Recordar:

quinta-feira, dezembro 11, 2014

É isto que a UE e o euro minimizam

Volto ao exemplo brasileiro "Manifesto por um Brasil mais rico, não um Brasil mais caro":
"Nesta semana, tivemos mais um. Para lidar com dificuldades da nossa indústria, o governo e o Banco Central vem adotando uma série de medidas, incluindo redução temporária de impostos para alguns subsetores, aceleração da queda da taxa de juros, adoção de restrições à entrada de capitais estrangeiros para enfraquecer nossa moeda e elevação de impostos sobre produtos importados.
 .
Além de sujeitarem o país a eventuais retaliações comerciais, estas medidas criam um Brasil mais caro, não mais rico. Quem pagará a conta do encarecimento dos produtos importados e da redução da competição com os nacionais é você, o consumidor. Aliás, já paga. No ano passado, impostos sobre importação arrecadaram mais que o Imposto de Renda Pessoa Física. Você pagou ambos. Os primeiros, nos preços elevadíssimos praticados no Brasil e o IRPF, na fonte."
Lá, como cá, o monstro do gasto público é insaciável.

segunda-feira, setembro 15, 2014

"É preciso sair do euro, para salvar os exportadores" dizem os ilusionistas

"Nos últimos anos observou-se uma tendência de redução do peso relativo dos países da Zona Euro como países de destino das exportações portuguesas. No ano 2005, 68,5% dos bens nacionais exportados tinham como destino os países da Zona Euro, tendo o seu peso descido para 59,3% em 2013."
Cada vez mais é uma certeza para mim, os que querem sair do euro usam como argumento a dificuldade em ser competitivo nas exportações. Contudo, isso não passa de uma desculpa, na verdade querem é poder voltar a enganar as pessoas com a ilusão da inflação, porque o desempenho dos exportadores está aí para os desmentir.
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Trecho retirado de "Estatísticas do Comércio Internacional 2013" publicado pelo INE.

quinta-feira, setembro 11, 2014

Coisas que deveriam dar que pensar

Parem por um instante. Pensem na quantidade de especialistas, académicos, políticos, consultores, gurus, ... que nos últimos anos afirmam a pés juntos que o Apocalipse vem aí.
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Recordem, por exemplo, esta cena "Indústria nacional "vai sofrer muito com a valorização do euro"" de 29 de Abril de 2011.
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Depois disto o que é que tem acontecido às nossas exportações para fora da zona euro?
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Depois disto o que é que tem acontecido ao emprego nos sectores mais abertos à concorrência internacional?
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Ouviram alguma retratação?