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sexta-feira, abril 29, 2022

Polígrafo - VERDADE e preconceito

No passado dia 26 de Abril vários jornais replicaram uns números do Pordata sobre a agricultura em Portugal. Eis alguns dos recortes que sublinhei:
"A riqueza criada pela agricultura em 2021 foi de 3,5 mil milhões de euros. Descontando a inflação acumulada ao longo dos anos, este valor tem vindo a diminuir desde o início dos anos 80. Nessa década, a agricultura gerava mais do dobro da riqueza atual", apontou, numa nota divulgada a propósito do dia da produção nacional, que se celebra esta terça-feira.

Em 2020, 1,3% da riqueza gerada pela União Europeia (UE) veio da agricultura, destacando-se a Roménia e a Grécia (3,8% do Produto Interno Bruto). Em Portugal, o peso era de 1,6% do PIB, importância que tem vindo a descer desde 1995, altura em que situava nos 3,7%."(daqui)

A minha primeira interrogação foi: como medem a riqueza criada? 

A minha segunda interrogação foi: começam com um valor absoluto, 3,5 mil milhões de euros, mas será que depois, no resto do parágrafo, falam de percentagem da riqueza criada pela agricultura no bolo total da riqueza criada pelo país?

"Se em 2021 a riqueza criada pela agricultura era de três mil e 500 milhões de euros, nos anos 80 gerava mais do dobro da riqueza.

Tem perdido trabalhadores, quase um milhão em três décadas e os que mantém ganham bem abaixo da média.

Já a produtividade baixou, embora pouco." (daqui)

Este primeiro parágrafo leva a crer que nos anos 80 a riqueza criada pela agricultura era de 7 mil milhões de euros? Nesta fonte encontrei:

"A riqueza criada pelo setor em 2021 foi de 3,5 mil milhões de euros quando, em 1980, o Valor Acrescentado Bruto tinha chegado aos 8183 milhões de euros."

Mais de 8 mil milhões de euros em 1980? 

Confesso que estou confuso ...

Vamos aos dados do Pordata. Qual a evolução do VAB do país e qual a evolução do VAB da agricultura?


Não encontrei no Pordata dados sobre o VAB do país anteriores a 1995, falha minha. Assim, comparando a riqueza criada pela agricultura no âmbito global da riqueza criada pelo país temos: 

Realmente, o gráfico parece responder positivamente à minha segunda interrogação. Começam com milhões de euros, que depois misturam com percentagens e... talvez daí se chegue aos 8 mil milhões de euros.

E aquele último parágrafo, a produtividade baixou? Baixou?!?!?! Como medem a produtividade?

"Os dados compilados pelo Pordata concluem ainda que a agricultura tem cada vez menos trabalhadores: em 1989, Portugal tinha 1,5 milhões de agricultores, o equivalente a 16% da população residente, e, três décadas depois, tinha 650.000." 

Se dividirmos o VAB da agricultura pelo número de trabalhadores ... como fica a produtividade por trabalhador, a riqueza criada por trabalhador? Cresceu 182% Não é esta produtividade? Então qual é?

Há anos que acompanho a evolução estatística da agricultura portuguesa, nomeadamente a nível de exportações. Um claro sucesso económico. Em 2009 não exportávamos nem mil milhões de euros e em 2021 chegámos aos 2,5 mil milhões de euros. Sempre a crescer, só tropeçou em 2020. Não temos crescido como eu gostaria, demasiada produção intensiva, estragação da marca Portugal, mas aqui o tema deste postal é outro.

Fico com a ideia de que muita gente nas redacções dos jornais, orientada por um preconceito negativo acerca da agricultura portuguesa, interpretou os números... e alguns até parecem ter inventado números, para suportar esse preconceito. Depois, a maioria das pessoas acriticamente recebeu a informação e arquivou na mente o preconceito transformado em VERDADE.

Engraçado... ontem ao final da tarde num webinar apresentei esta imagem:

Recolhemos os dados para depois fazer a sua análise. A análise é objectiva. Passa por traduzir tabelas em gráficos, comparar com metas ou critérios de desempenho. Depois da análise vem a avaliação. A avaliação é pessoal, é subjectiva, depende da nossa história, da nossa experiência, das nossas expectativas. A avaliação deve gerar conhecimento, perspicácia, entendimento, para alimentar a tomada de decisões.

sexta-feira, maio 08, 2015

Um novo modelo de negócio, para subir preços

Eis um excelente exemplo que pode ser replicado facilmente, "Plataforma Online para Eliminar Intermediários na Exportação de Produtos Agrícolas". Qual a motivação?
"Plataforma online espanhola tem feito sucesso naquele país, conseguindo aumentos de preço entre 20 a 50% para os produtores.
O Comércio internacional procura a compra direta, sem intermediários, de produtos agrícolas aos produtores, para ganhar em frescura, qualidade e preço. Este é o princípio da plataforma espanhola naranjasyfrutas.com, que pretende com isso eliminar os intermediários no processo de venda, dando aos agricultores a oportunidade de poder vender com maior rentabilidade e aos importadores de comprar a um custo mais baixo um produto mais fresco."
Escrevi que pode ser replicado facilmente... no entanto, talvez precise de uma abordagem diferente. Os produtores portugueses têm áreas produtivas mais pequenas, a produção não é tão comoditizada, não temos "Mar del Plastico", por isso, talvez a ideia deva ser trabalhada para a realidade portuguesa.
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Um exemplo prático do que significa investir numa alteração do modelo de negócio. Neste caso, uma nova prateleira, um novo canal de apresentação dos produtos..
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BTW, em Portugal, no dia em que alguém testar esta abordagem, corre o risco de ter um instalado intermediário a interpor uma providência cautelar a um tribunal, e um juiz a aceitá-la.

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Para memória futura - uma aposta

No passado dia 31 de Janeiro escrevi no Twitter:
" não deviam escrever produção mas embalamento. acredito q vão aproveitar o fim das quotas e importar muito" 
A propósito de "Investimento da Jerónimo Martins vai triplicar produção de leite em Portalegre"
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No passado dia 30 de Janeiro escrevi no Twitter:
"será q se comprometem com a continuação da compra aos produt. alentejanos? a partir de Abril haverá + leite low-cost"
A propósito de "Jerónimo Martins compra fábrica de Portalegre à Serraleite"
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Hoje, li "Produtores receiam perder margem negocial com entrada da JM no sector do leite".
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Posso estar enganado e, por isso, este postal. Uma espécie de aposta acerca do que pode acontecer no futuro assim que a nova fábrica estiver a operar em força.
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A partir de Abril vão acabar as quotas leiteiras, vai ser possível comprar leite  a produtores de outros países, por exemplo, haverá possibilidade de comprar do outro lado da fronteira.

sexta-feira, junho 07, 2013

São as próprias pessoas!!!

Leiam e releiam este artigo "Recursos silvestres são opção para produtores alentejanos".
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Tantas coisas que defendemos no blogue...
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Como é que se conquistam pessoas para os territórios do interior?
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Copiando e fazendo (mal) o que se faz no litoral?
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ERRO! As pessoas preferem o original!
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Apostando naquilo em que se é diferente? Apostando naquilo em que se pode exibir autenticidade? Apostando naquilo que é específico? Apostando na fuga ao vómito industrial?
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CLARO!!!
"Mel, cogumelos, ervas comestíveis (aromáticas) e medronho são alguns dos recursos silvestres que estão a seduzir muitas famílias com explorações agro-florestais no Baixo Alentejo.
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A agricultura tradicional já conheceu melhores dias e há que encontrar alternativas para manter o rendimento familiar. (Moi ici: Há dias, num encontro na AEP,  enquanto João Machado da CAP discursava para uma plateia de urbanos, não aguentei mais e levantei-me e abandonei o local, porque não suportei pactuar com as mentiras que o senhor dizia. Começou por dizer mal de Jaime Silva, o ex-ministro da Agricultura de Sócrates que terá sempre o meu reconhecimento - "Pensamento estratégico" e "Comandar o destino". Depois, disse, qualquer coisa como: "Bastou sair o ministro, que os agricultores são os mesmos e produzem o mesmo e a mudança aconteceu". Esquece-se dos tais 200 jovens que entram na agricultura por mês e do tipo de agricultura que fazem e trazem) Os recursos silvestres são uma aposta que tem vindo a ser assumida como uma boa alternativa, uma vez que está a provar ser uma mais-valia económica que dá trabalho e produz riqueza.
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“Neste momento temos cerca de 10 empresas que já estão a exportar o seu produto para diferentes países”, (Moi ici: Só na zona de Mértola) diz à Renascença. a responsável pela ADPM Sandra Cascalheira, admitindo que estes produtos estão a exercer “uma grande capacidade de atracção para o território de novos produtores, jovens agricultores, algumas pessoas que já tinham uma relação com o território mas que estavam fora e que estão agora a regressar para desenvolver a sua actividade”.
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Os recursos silvestres são vistos como produtos de excelência e qualidade, emergentes e com lugar garantido nalguns mercados estrangeiros.
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(Moi ici: Esta frase final que se segue estraga um pouco a magia do que está para trás) São as próprias “pessoas que já estão a contribuir para a valorização do território e para o seu desenvolvimento socioeconómico”, refere Sandra Cascalheira. (Moi ici: Come on!! Se não são as próprias pessoas quem são? Os ministros? Os bancos? As câmaras? As escolas? A retoma? A troika? Keynes? São as pessoas!!!!.SÃO AS PESSOAS!!!!!!!! E esta é que é a beleza poética da coisa. São as pessoas que ao tratarem dos seus projectos geram um agregado dinâmico, positivo.)
 Sou um adepto confesso da VIA NEGATIVA.

sábado, maio 25, 2013

"Heaven will direct it" ?


"Ricardo Salgado: “Portugueses preferem o subsídio de desemprego”" e "Alentejo com a décima maior subida do desemprego jovem na Europa"
Imaginem uma zona do interior rural. Os jovens são integrados na escola e são submetidos entre 9 a 12 anos de uniformização e mentalização.
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Ao fim desse período estão preparados para trabalhar na cidade grande do litoral. Nada na escola os preparou para a vida laboral numa pequena cidade do interior.
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Acaso alguma vez os programas escolares falaram sobre as tradições da sua região sem ser em linguagem museológica? Acaso alguma vez os programas escolares falaram sobre as actividades económicas da sua região? Acaso alguma vez os programas escolares falaram sobre o que se pode fazer com as diferenças do interior? Acaso alguma vez os programas escolares apostaram em algo mais do que formatar mentes para serem funcionários e obedecerem?
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Admito que os jovens não queiram trabalhar na agricultura, não por causa de um eventual magro salário, mas porque não joga com o modelo mental em que a escola os formatou.
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É como uma empresa que rejeita uma encomenda de um potencial ciente sério, honesto, disposto a pagar o preço do mercado, porque o cliente e a encomenda não estão em sintonia com o que a empresa faz ou quer fazer, ou se quer especializar.

segunda-feira, abril 01, 2013

Agricultura com futuro

Mais um exemplo da aplicação das principais recomendações deste blogue no âmbito da agricultura:
"Figo-da-índia está na moda"
Nichos, novidades, produtos de elevado valor acrescentado, vantagem do clima.
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BTW, há trabalho de marketing a fazer por parte dos muitos anónimos, não dos já conhecidos:
"Exportações de vinhos portugueses aumentam e superam 700 milhões de euros"

terça-feira, março 26, 2013

Apesar do euro e da TSU


"Exportámos 356 milhões de euros, mais 4 milhões face ao exportado em Janeiro de 2012. Os artigos têxteis confeccionados (capítulo 63) exportaram mais 4,8 milhões, registando assim uma taxa de crescimento de 12,3%. As exportações de vestuário de malha cresceram 1,7%, tendo exportado mais 2,5 milhões de euros.
Em termos de produtos têxteis, um bom desempenho para as fibras sintéticas ou artificiais descontínuas, para as pastas, feltros e artigos de cordoaria e para os tecidos em malha que, respectivamente, cresceram 8,1%, 6,2% e 9,5%." (Pormenores aqui)


sexta-feira, outubro 19, 2012

O que pode acontecer quando o espírito comercial chegar ao sector primário

Às vezes, deparo com boas notícias que surpreendem até um optimista militante, acerca da micro-economia, como eu. 
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Por exemplo "Investidores alemães já compraram produtos regionais no valor de 700 mil euros":
"O AgroCluster Ribatejo promoveu uma visita de dois importadores alemães à região, com o objetivo de promover os produtos e serviços desta região. Apenas 4 meses após esta ação de promoção, os importadores alemães já compraram 50 tipos de produtos ribatejanos, no valor de 700 mil euros.
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Foi entre os dias 18 e 21 de junho que o AgroCluster Ribatejo recebeu a visita de dois importadores alemães à região, SPEUSER KG e BOM DIA - Agentur für Direkt-Importe, interessados em comercializar no seu país produtos alimentares da região do Ribatejo. Como promotor da iniciativa, coube ao AgroCluster Ribatejo, com o apoio da NERSANT, acompanhar a visita dos dois importadores a diversas empresas da região, de acordo com os produtos alvo definidos por cada um dos negociantes.
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Entre os diversos produtos em exposição, contaram-se queijos, frutos secos, enchidos de fumeiro, conservas diversas, como compotas, doces, frutas, pickles, azeitonas, peixes e patés, doçaria tradicional, pão, mel e afins, frutos secos, vinhos, licores, azeite, e produtos e alimentos congelados."
 E se isto for um exemplo do que pode acontecer quando o espírito comercial chegar ao sector primário de outras zonas do país? Nunca tinha sido tentado...
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Há exactamente um ano menos uma semana estava a começar algo do mesmo género numa empresa de calçado técnico na zona Norte, também com sucesso.

sábado, setembro 29, 2012

Subsidio dependência

Subsidio dependência.
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Por cá, na agricultura, segundo o INE em "A Atividade das Empresas Agrícolas em Portugal
2004-2010":
"A atividade agrícola foi a atividade mais subsidiada em 2010, detendo 20,4% do total de subsídios à exploração afetos às empresas não financeiras, apenas seguida de perto pela Educação (19,2%).
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Esta situação está em linha com os resultados do RA 09, em que 60% dos produtores agrícolas declararam beneficiar de ajudas/subsídios, dos quais 11% indicaram que a sua importância no rendimento da exploração agrícola foi superior a 25%."
Em Espanha, nas pescas, o relato do caos em "Bound to Sea but Buried in Debt, Spain’s Fishermen Blame Bloc’s Policies" onde se pode ler:
"In one of the more daunting estimates of decline, a study published a year ago by Oceana, which promotes ocean conservation, said that of the bloc’s 27 countries, 13 had been getting more subsidies than the value of the fish that arrive in their ports."
O artigo é deprimente... pescadores que não assumem erros próprios, as consequências da "Tragedy of the commons" no ecossistema, a interferência doentia e criadora de incentivos a-económicos de governos e da U(RS)E.
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BTW, a migração de valor em Espanha:
"Spanish consumers are downgrading to cheaper and largely imported fish, with prices for products like swordfish dropping 40 percent this year.
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was now paying less than 35 cents for a pound of mackerel, down almost 9 cents since two years ago, he said."

quinta-feira, abril 21, 2011

Acerca da agricultura

Houve um tempo em que falar da CAP era falar de iniciativa privada, era falar de iniciativa, era falar de independência. Hoje, é falar de funcionários públicos encapotados, dependentes de apoios, de subsídios e de toda uma panóplia de benesses que tornam a produção secundária.
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Claro que no discurso tem de estar:
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""Temos 3.500 milhões de euros em importações anuais, que podem ser substituídas por produção nacional; é isso que queremos que a 'troika' perceba", (Moi ici: E em tempos de austeridade no bolso das pessoas, fica mais barato comprar cá ou fora?) disse João Machado à saída da reunião com os peritos do Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia.
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O presidente da CAP frisou que o sector agrícola "pode dar um grande contributo" ao país e "prevenir o abastecimento nacional", lembrando que Portugal "ainda importa 30 por cento do que consome" e que "parte pode ser produzido no país se os fundos forem mantidos" e o país continuar a investir.
João Machado frisou que os fundos comunitários da política agrícola comum "são fundamentais", assim como "o são os fundos nacionais".
"Pedimos que seja mantido o investimento nacional para podermos aceder aos fundos comunitários e também uma melhor gestão do governo e do ministério da agricultura para os agricultores receberem a tempo e horas as comparticipações a que têm direito", reforçou."
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Um dia vamos todos... quase todos, perceber que os fundos fazem mais mal do que bem, que os fundos atrasam, impedem a reconversão estratégica da exploração agrícola.
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Saudação para o ex-ministro Jaime Silva que teve a coragem de dizer umas verdades e que, por isso, foi "expulso" de Portugal.
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No semanário Vida Económica:
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"Com a globalização que a partir dos anos 90 foi um choque para a nossa agricultura, repare-se que hoje em dia chegam-nos cá preços imbatíveis, mas mesmo assim a agricultura portuguesa e europeia são capazes de se preparar para aguentar este choque da concorrência. Nós, em Portugal, temos sectores, como o vinho, que têm conseguido crescer e afirmar-se na exportação nos mercados mundiais, um sector com grande dinâmica e que conta com gente muito nova, jovens profissionais do marketing e gestão, de enologia e viticultura. Há ainda o sector da horticultura e floricultura que tem crescido bastante nos últimos anos no que diz respeito à exportação, aliás estes sectores já exportaram em 2010 tanto como o vinho ( cerca de 700 milhões de Euros). (Moi ici: Estes números deviam ser mostrados e divulgados) O sector do Azeite está também em franca expansão, e conseguimos também colocar o azeite na moda, ou seja, nas refeições diárias dos portugueses; O sector do leite conseguiu manter-se bem, (Moi ici: Quem protesta são os que ficam para trás) por força de uma boa base cooperativa, e o sector das carnes tradicionais, com a parte dos bovinos e dos ovinos, aguentou-se, o sector da castanha, uma grande fileira, que teve um investimento enorme está em franca expansão. Em suma, nós temos um conjunto de fileiras que têm grande sucesso. Não temos os sectores tradicionais como os cereais ou girassol, (Moi ici: Mas os senhores da CAP querem obrigar-nos a comprar o cereal caríssimo que produzem apesar de subsidiado) mas, por outro lado, somos bons a fazer milho, arroz, tomate para a indústria, sectores onde temos possibilidade de crescer.
Hoje em dia, voltou a sentir-se que a agricultura tem uma importância estratégica única. Porque há 20 anos para cá o grande problema da Europa é que havia produção em excesso face àquilo que o mercado consumia, hoje em dia estamos num outro patamar. Com a emergência dos países da Ásia, que melhoraram a sua qualidade de vida devido à globalização, designadamente com o incremento do comércio internacional, essas populações melhoraram as suas dietas, e hoje em dia as estimativas internacionais apontam para um aumento da procura de bens alimentares em 50% até ao ano 2050. (Moi ici: Em vez de estudar as oportunidades onde podemos ser competitivos, onde podemos ser independentes, onde podemos ganhar dinheiro... a atenção de muitos recai sobre a procura, a negociação, a luta por subsídios, a luta pela sua entrega a tempo e horas... e já não sobra atenção para o depois de amanhã) Isto vem criar mercado para os bens agrícolas e como tal oportunidades para o sector."

sábado, março 05, 2011

Um monumento - Um símbolo - Um exemplo

Porque é que eu apreciava o ministro da Agricultura Jaime Silva?
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Tinha pensamento estratégico!!!
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Qual era o seu ponto fraco, IMHO, não tinha coragem de levar para a sua governação as consequências desse pensamento estratégico.
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Acabo de deparar com palavras do actual ministro da Agricultura que cumprem a sua missão no cargo:

  • "Embalar os agricultores!"
  • "Adormecer os agricultores"
  • "Manter a relação de dependência com o Estado como verdadeiros funcionários públicos encapotados"
As palavras são um monumento à falta de estratégia, à falta de pensamento estratégico...
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São palavras que vão custar caro a quem as seguir...
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"«Todas as áreas são importantes, desde as mais tradicionais às menos tradicionais," (Moi ici: Primeiro erro de palmatória: se todas as áreas são importantes... então, nenhuma área é importante)
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"os agricultores portugueses devem produzir «tudo aquilo que puderem, seja na área dos cereais, em que os stocks são reduzidos e a procura mundial é grande, (Moi ici: E a que custo? E vão vender a quem? E vão competir com quem? E como é que vão criar valor acrescentado?) seja no olival, na vinha e no vinho, ou em áreas mais novas como as hortícolas ou frutícolas», sector que hoje representa 36 por cento do produto agrícola.

«Não existe um sector estratégico, a agricultura é ela própria estratégica para o país», vincou." (Moi ici: Recordo as palavras de Jaime Silva, moi je a citar as palavras de um ministro porque acredito nelas como se fossem minhas " "as fileiras estratégicas são aquelas que, tendo elevado potencial de desenvolvimento sustentado, associado a factores de mercados (competitividade), climáticos, ambientais e naturais, se encontram num nível de aproveitamento insuficiente face às suas potencialidades."")
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Trechos retirados de "Serrano pede a agricultores para aumentar produção"
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Esta semana tive uma série de conversas com empresários em que o mote foi "Não basta produzir!!!"
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Se todos os ministros da Agricultura da UE fizerem o mesmo que este, adivinhem quem vai ter vantagem competitiva na produção de cereais, por exemplo? Terá lido alguma coisa sobre a teoria de jogos? Se classifico uma jogada como positiva, o que impedirá outros, com vantagens competitivas, de aplicar a mesma classificação? Quem ganhará?
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Sempre, sempre a guerra do preço... quando é que esta gente começa a pensar na criação de valor?!
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Quando o anterior ministro Jaime Silva dizia umas verdades, como a de existirem fileiras estratégicas e fileiras não-estratégicas, agia como um paí a explicar, a impor, a persuadir o filho a mudar, a ver mais além.
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Os sindicatos de funcionários públicos encapotados, como a CAP, comportavam-se como as crianças revoltadas com os métodos educativos e as ideias dos pais.
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Os políticos da oposição e mesmo alguns da situação, agiam como pedófilos a tentar cativar a atenção, a preferência das crianças contra os pais.
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Caldinho perfeito para um jogo psicológico velhinho e que qualquer formação de auditores, formação decente, aborda:

  • a vítima (o pobre coitado do agricultor)
  • o vilão (o mauzão  do ministro)
  • e o salvador (os partidos da oposição)
Os auditores são avisados para nunca entrarem neste jogo, como salvadores a favor do auditado e contra a chefia, porque assim que se entra neste jogo perde-se a capacidade de agir racionalmente e a auditoria/acção/decisão fica inquinada.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Escolher, optar, ter uma estratégia

"A grande mudança foi mesmo na orientação da produção, que se deslocou da vinha, do azeite e dos figos, que até aí dominavam o dia-a-dia da quinta, para um leque mais diversificado de produtos. As hortícolas ganharam peso, o vinho perdeu e o esforço de levar produtos ao mercado internacional deu lugar a uma aposta exclusiva no mercado local. Para o produtor, a situação é a ideal. Conseguiu garantir um portefólio de produtos com maior margem e sabe que o espaço para crescer é grande porque, mesmo com o mercado ainda a dar os primeiros passos, a procura de produtos de agricultura biológica em Portugal é hoje maior que a oferta"
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Trecho retirado de "Regresso aos sabores da terra"
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Ter uma estratégia é, também, escolher o caminho menos percorrido. O essencial é fazer a experiência de sair fora do corpo e tentar perceber qual o fluxo onde se está inserido, perceber se há fluxos alternativos mais atraentes e escolher.
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Interessante esta tabela do artigo:
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"Onde estão as oportunidades
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- Produtos transformados
- Leite
- Fruta
- Hortícolas"
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Leite... LEITE!!!
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Depois deste postal recente sobre o jogo de sombras e biombos no negócio do leite é interessante perceber que existe uma alternativa para fugir da treadmill que obriga a aumentar a dimensão das explorações leiteiras numa correria louca... Leite biológico!!! Boa!

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Quando se começará a criar o futuro na narrativa oficial?

"Mas a principal queixa nesta conversa com a «Vida Económica» foi a falta de orientação do PRODER para apoiar investimentos dos proprietários de explorações de mais reduzida dimensão. António Pinto explicou que o Programa de Desenvolvimento Rural «foi pensado para grandes investimentos e não se ajusta ao minifúndio, não olha para a pequena e média agricultura». Aliás, no universo dos associados da Horpozim, de 18 candidaturas apresentadas «apenas foi aprovada uma»."
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Qual o futuro da agricultura portuguesa? Onde está o futuro da agricultura portuguesa?
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Escrevo estas linhas enquanto o deputado Mota Soares, no RCP, fala sobre como aumentar a competitividade da agricultura portuguesa... aumentando os subsídios para os agricultores... eheheh se não fosse trágico era cómico.
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Os subsídios são torrados a atrasar a inevitável reconversão da agricultura portuguesa. E o futuro está nas grandes extensões? E o futuro está em produzir o mesmo que outros podem produzir com vantagens competitivas?
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De certa forma este postal podia ser uma parte III desta série de postais. Os subsídios funcionam como uma redução de custos, ou seja, uma concentração no denominador.

domingo, dezembro 13, 2009

O socialista Paulo Portas

"Quando no final forem feitas as contas, Portas acredita que “cada cêntimo que for investido na agricultura (Moi ici: hoje, agora) não apenas gera riqueza e emprego (Moi ici: esta agricultura de que fala Portas é o outro TGV para os contribuintes), como vai permitir exportar mais e importar menos”, e assim contrariar “a vertigem perigosa do endividamento”." (Moi ici: só gostava de saber, mas a sério que gostava, que modelo de negócio, que mecanismo de geração de riqueza é que Paulo Portas consegue ver numa agricultura subsidiada que não passa de um bibelot)
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Paulo Portas é uma espécie de Picanço ou Avoila dos funcionários públicos encapotados, também conhecidos como agricultores portugueses subsidiados. Sinceramente que gostava que ele explicasse como é que um sector que compete no negócio dos produtos agricolas do preço-baixo, em que a extensão é fundamental para as economias de escala quer competir e exportar com agriculturas naturalmente mais vocacionadas para essas produções. Enquanto os subsídios aguentarem os funcionários públicos encapotados, nunca haverá "sentido de urgência", nunca haverá uma "burning platform" que empurre as pessoas para a necessária mudança.
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Trecho retirado de "CDS-PP dedica dia à agricultura e apresenta mais de 20 propostas ao Governo"

domingo, novembro 15, 2009

Insurgente Visionário versus Gestor de Paradigmas Obsoletos

Costumo escrever neste blogue afirmando que precisamos cada vez mais de insurgentes visionários em detrimento de gestores de paradigmas obsoletos.
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Um insurgente visionário não começa por ouvir... um insurgente visionário é como Caio Mário, quando chega ao poder traz uma ideia, traz uma vontade de mudar, traz uma visão e conquista as pessoas para a sua visão.
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Acham que numa empresa a visão deve sair da cabeça de um colectivo? Cada vez mais estou convencido do contrário... a visão tem de ser gerada na cabeça de quem manda. Moisés não se reuniu com os anciãos para decidir para onde viajar, Moisés falou-lhes da Terra Prometida, falou-lhes de uma terra onde corria leite e mel. Contou-lhes, descreveu-lhes uma imagem do futuro e as pessoas sentiram-se possuídas e arrebatadas.
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E se Moisés se tivesse reunidos com as forças vivas do colectivo hebreu?
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""Vamos ouvir os técnicos, os agricultores, as confederações, perceber qual a margem que têm para melhorar, para simplificar, não colocando em causa regulamentos e leis que estão em vigor, quer no país, quer na União Europeia. Vamos em conjunto encontrar soluções, umas para serem aplicadas de imediato, outras para serem aplicadas ao longo 2010", afirmou.
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Frisando que está ainda no início do seu mandato, o ministro afirmou que começou por "ouvir a casa" para perceber "o que é preciso fazer nos principais serviços", tendo depois dado prioridade à audição de todas as confederações que representam o sector."
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Qual é a missão do ministério? Servir a comunidade? Ou servir os serviços?
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“António Serrano, que hoje visitou a Feira Nacional do Cavalo, na Golegã, disse que as medidas, que estão a ser preparadas em diálogo com as diversas confederações de agricultores, irão ser "transversais às necessidades de todos os sectores" (Moi ici: tendo definido uma Visão e uma Missão, a seguir definem-se estratégias, fazem-se opções seleccionam-se prioridades, quem quer ir a todas... não vai a nenhuma), mas também direccionadas àqueles que "têm estado na ordem do dia", como o leiteiro ou da produção de arroz. (Moi ici: e se os apoios apenas adiarem a re-estruturação que os sectores precisam?)
Assegurando que a sua preocupação é encontrar respostas para as dificuldades sentidas pelos produtores portugueses, o ministro reconheceu a existência de "limitações", sublinhando que as medidas a adoptar terão de se enquadrar dentro das "disponibilidades orçamentais"." (Moi ici: E se os ministros da Economia tivessem tomado a mesma decisão, ou seguido a mesma abordagem desde a adesão à então CEE? Protecção e apoio às fábricas de todos os sectores!!!)
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Trecho retirado daqui.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Deitar dinheiros nos problemas e esperar que a tormenta passe...


Ontem ao final da tarde, sentado num banco da estação de Coimbra-B, enquanto aguardava pelo Intercidades, descobri este artigo no Público “Sarkozy anuncia plano “sem precedente” para a agricultura francesa” onde se pode ler:
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““Vim propor-lhes um plano sem precedente de apoio excepcional para a nossa agricultura que inclui mil milhões de empréstimos bancários e 650 milhões de euros de apoio excepcional do Estado”, disse o Presidente francês.”.
Enquanto lia o artigo recordei logo este outro que li na noite de segunda-feira passada no Financial Times “Living strategy and death of the five-year plan” onde sublinho:
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“This hedgehog-style approach – roll up into a ball and wait until things are less scary – may keep a company alive temporarily, but does little to prepare it for the future.
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Analysis by Boston Consulting Group suggests that corporate hibernation only works if
recessions are short, if the outside world goes back to the way it was before, and if all your competitors are equally inactive, tucked up for the economic winter. In 2009, not one of these conditions applies.”
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Há uma série de sessões que realizo em empresas e que começam com esta imagem:
O mundo está em mudança acelerada, tudo está a mudar, podemos ficar parados à espera que passe? Ou temos de nos transformar?
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Existe um universo alternativo num estado futuro desejado em que a agricultura francesa possa ser competitiva e proporcione aos seus trabalhadores um bom nível de vida?
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É possível descrever esse universo? O que o separa da situação actual? Que acções, que transformações temos de promover para lá chegar?
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Deitar dinheiros nos problemas e esperar que a tormenta passe é uma actuação perigosa... tipicamente portuguesa.

terça-feira, outubro 27, 2009

Comandar o destino

Agora que Jaime Silva deixou de ser ministro da Agricultura e que até o seu sucessor fez declarações no mínimo dúbias quanto ao seu consulado, aproveito para saudar o ex-ministro a 50%.
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Saúdo o Jaime Silva que foi ridicularizado pelos funcionários públicos encapotados da CAP, da fileira do leite e pelos media quando defendeu que o futuro da nossa agricultura estava no kiwi e no diospiro.
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Saúdo o Jaime Silva que teve coragem de dizer alguma da verdade que os agricultores precisam de ouvir.
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Não saúdo o Jaime Silva que pactuou com as políticas que vão adiando o inevitável, o dia em que os contribuintes europeus vão dizer basta.
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Enquanto os agricultores por cá continuam o seu choradinho de coitadinhos, de gente que não etende como o mundo mudou podemos ler isto num jornal inglês:
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"Food will never be so cheap again" (Ao ler este título não posso deixar de recordar que a Rússia tem uma área de terra arável inculta, boa para cereais, seis vezes superior à área arável inglesa, mas adiante).
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Os coitadinhos, perante um mundo em mudança pedem mais apoios e mais subsídios e mais isto e mais aquilo.
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Gente previdente olha para as mudanças em curso e identifica oportunidades e ameaças, desenha cenários e faz opções com base nos seus pontos fortes e minimizando a importância ou influência dos seus pontos fracos, e transforma a sua realidade, comanda o seu destino.

sexta-feira, agosto 28, 2009

quinta-feira, agosto 27, 2009

Uma pergunta que gera muitas outras perguntas (parte III)

Continuado de: parte I e parte II.
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Afinal, vou remeter a ponte para o mapa da estratégia para amanhã. Hoje durante o meu jogging resolvi ligar os temas: clientes-alvo; proposta de valor; disciplina de valor; mapa da estratégia e modelo de negócio.
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Entretanto, após a leitura de um artigo publicado na Harvard Business Review de Setembro de 2009, “How Strategy Shapes Structure” de W. Chan Kim e de Renée Mauborgne resolvi relacionar alguns pontos do conteúdo com as questões da parte II.

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Os autores escrevem “a strategy’s success hinges on the development and alignment of three propositions: (1) a value proposition that attracts buyers; (2) a profit proposition that enables the company to make money out of the value proposition; and (3) a people proposition that motivates those working for or with the company to execute the strategy.”

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Ainda “Each proposition may need to address more than one group of stakeholders, as when successful strategy execution rests on the buy-in of not only an organization’s employees but also groups outside it, such as supply chain partners. Similarly, a company in a business-to-business industry may have to formulate two value propositions: one for the customer and another for the customer’s customers.” (por exemplo, clientes-alvo a grande distribuição e as suas prateleiras, e consumidores-alvo, os clients dos clients-alvo).

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Relacionemos isto com as 20 questões de ontem e com as 3 proposições através de um código de cores:

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1.Quem são os clientes-alvo da sua empresa?"

2.Por que é que esses são os clientes-alvo e não outros?
3.Como é que consegue reconhecer os seus clientes-alvo se chocar contra eles?
4.O que querem, o que procuram, os seus clientes-alvo?
5.Qual é a proposta de valor da sua empresa?
6.Quais são as consequências de assumir essa proposta de valor?
7.Quais as vantagens competitivas em que se baseia a proposta de valor oferecida?
8.Quais são as contradições que vão suportar a vantagem competitiva de servir esses clientes-alvo?
9.Como é que vai ser defendida, mantida, e desenvolvida essa vantagem competitiva?
10.Quais são os processos críticos que suportam essa proposta de valor e essa vantagem competitiva?
11.Qual é a disciplina de valor?
12.Que recursos, que infra-estruturas, que competências necessárias para desenvolver e manter a vantagem competitiva?
13.Quem não são os seus clientes-alvo?
14.Por que não são os seus cliente-alvo?
15.Quem está entre a sua empresa e os clientes-alvo?
16.Por que é que os distribuidores aceitarão distribuir os seus produtos?
17.Quais são os distribuidores que servem os seus clientes-alvo?
18.Quem são os seus distribuidores-alvo?
19. Qual a proposta de valor que a sua empresa lhes oferece?

Os autores chamam a atenção para um ponto importante que muitas vezes parece ser desprezado:

“Even when an industry is attractive, if existing players are well-entrenched and an organization does not have the resources and capabilities to go up against them, the structuralist approach is not going to produce high performance. In this scenario, the organization needs to build a strategy that creates a new market space for itself.

A nossa agricultura e muita da nossa indústria estão nesta situação, precisam de desenhar estratégias que criem novos mercados, novas oportunidades, não têm vantagens competitivas sustentáveis se forem, como dizem os americanos “me to run” ou “also run”. E pedir a ajuda do papá Estado não vai resolver nada de fundo... pois, mais "fixes that fail".