sexta-feira, agosto 16, 2024

Curiosidade do dia

Encontrei este texto no jornal The Times do passado dia 31 de Julho.

Voltei a recordar-me dele ao ler que o governo de turno em Portugal resolveu distribuir mais dinheiro por reformados.

Entretanto, vi imagens sem som da senhora da APRE e o texto ficou ainda mais vivo:
  • O texto destaca como as pessoas mais velhas, especialmente os reformados, se tornaram significativamente mais ricas ao longo das últimas décadas, vivendo muitas vezes em famílias abastadas devido a factores como o aumento dos preços dos imóveis e políticas de pensões generosas.
  • O texto defende que muitas doações e benefícios governamentais, tais como pagamentos de combustível de Inverno, passes de viagem gratuitos e receitas(?)/consultas gratuitas do NHS para maiores de 60 anos, já não são justificáveis, dada a riqueza relativa de muitas pessoas mais velhas. O autor sugere que estes benefícios devem ser dados após prova de necessidade, para que apenas aqueles que realmente necessitam deles os recebam.
  • O texto discute a crescente disparidade entre o apoio financeiro prestado aos idosos e o disponível aos mais novos, incluindo crianças, estudantes e famílias trabalhadoras. Exige uma reavaliação de onde os recursos governamentais sejam alocados para garantir a justiça entre gerações.

Conformar-se tem os seus custos

"When your brand has fingerprints, don’t do things that require you to wear gloves."

"Fingerprints" simbolizam a singularidade e a individualidade. Tal como as impressões digitais são únicas para cada pessoa, o estilo ou identidade única de uma marca é o que a diferencia das outras. 

“Wear gloves” representa esconder ou encobrir esta singularidade.

Se uma marca tem um estilo distinto e identificável, não deve escondê-lo, obedecendo às normas ou tentando misturar-se com a multidão.

"If your brand has a unique style, don't hide it by trying to be like everyone else."

A importância de abraçar e mostrar as qualidades únicas de uma marca, em vez de as suprimir na tentativa de se encaixar nas outras.

Se é como todos os outros...

Se uma marca se tornar indistinguível das outras (ou seja, se “usa luvas” para esconder as suas “impressões digitais”), perde aquilo que a torna especial e memorável. Perder a sua identidade distinta, deixar de se destacar ou ser esquecida num mercado sobrelotado.

Porquê?

  • As marcas podem temer que o seu estilo ou abordagem única possa afastar determinados segmentos de clientes. Para atrair um público mais vasto, podem suavizar as suas características distintivas para corresponder às expectativas mais convencionais.
  • Se uma tendência ou estilo específico se torna dominante na indústria, uma marca pode sentir-se pressionada a conformar-se para se manter relevante. Isto pode levá-la a minimizar as suas qualidades únicas em favor do que é popular actualmente.
  • Uma marca pode acreditar que imitar os concorrentes de sucesso levará a um crescimento mais rápido ou à entrada no mercado. Podem deixar temporariamente de lado a sua identidade única na esperança de ganhar uma maior quota de mercado ou competir mais directamente.
  • Se uma marca estiver com dificuldades financeiras, poderá recorrer à adopção de uma abordagem mais “segura” e convencional, acreditando ser menos arriscada. Isto pode envolver minimizar os elementos que a tornaram única em primeiro lugar.

Trecho inicial retirado de "Fingerprints"


quinta-feira, agosto 15, 2024

Curiosidade do dia

Neste mundo insano, algumas palavras sensatas.

Cuidado com as certezas

A propósito disto (1):

Lembrei-me disto (2):

E já agora:

Quando penso no que tem sido a evolução:
  • na habitação;
  • na saúde;
  • nos transportes públicos,
  • na imigração; e
  • na educação.
Penso naquele número 10, "The planner has no right to be wrong."

Na ciência, as hipóteses são testadas e refutadas, e os cientistas não são culpados se as suas hipóteses forem refutadas, desde que sigam o método científico. Ao contrário dos cientistas, os políticos não podem dar-se ao luxo de estar errados porque as suas decisões têm consequências no mundo real que têm impacte directo na vida das pessoas.

Os políticos lidam frequentemente com "problemas graves", que são complexos, difíceis de definir e não têm uma solução clara. Estes problemas são ainda mais complicados pela ambiguidade de causas e efeitos e pela diversidade de opiniões públicas, tornando difícil para os políticos encontrar soluções universalmente aceites.

E vejo tantos políticos cheios de certezas.

E recordo Roger Martin em Maio passado:
"Betterment over Perfection
...
In contrast, the mindset of betterment focuses on the journey from the choices producing the current painful gap to enacting a set of choices that eliminates the gap. The current choices, the gap, the journey, and the desired strategic outcome are all front of mind.
In addition, by focusing on one gap at a time, betterment makes the strategy problem more tractable, and tractability is often a challenge in strategy. Executive teams can get overwhelmed by the task of creating from scratch a perfect overall strategy. That often feels too daunting and too abstract. Betterment is a more concrete task that makes it easier for executive teams to stay engaged and power through."

(1) - Fonte

(2) - Fonte

quarta-feira, agosto 14, 2024

Curiosidade do dia

Como se definem objectivos? (parte III)

Parte I e parte II.

Consideremos a Campbell’s Law: “The more any quantitative social indicator is used for social decision-making, the more subject it will be to corruption pressures & the more apt it will be to distort & corrupt the social processes it is intended to monitor".

Nas empresas...

Objectivos de vendas 

Uma empresa estabelece objectivos de vendas agressivos para os seus colaboradores, ligando os bónus e as promoções ao cumprimento desses objectivos.

Consequência: Os colaboradores podem recorrer a práticas pouco éticas, como a venda adicional de produtos desnecessários, a manipulação de dados de vendas ou até mesmo a criação de transacções falsas para atingir os seus objectivos. Isto pode prejudicar a confiança do cliente e prejudicar a reputação da empresa a longo prazo, distorcendo o propósito genuíno de melhorar o desempenho das vendas.

Recordo o caso da Wells Fargo, uma das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos, implementou metas agressivas de vendas e incentivos para que seus funcionários abrissem novas contas bancárias e serviços financeiros para os clientes. Para atingir essas metas e evitar represálias, muitos funcionários começaram a abrir contas falsas e a inscrever clientes em produtos financeiros sem o seu consentimento. Estima-se que cerca de 3,5 milhões de contas não autorizadas foram criadas.

Pontuações de satisfação do cliente

Uma empresa depende fortemente dos índices de satisfação do cliente para avaliar o desempenho dos colaboradores.

Consequência: Os colaboradores podem pressionar os clientes a dar feedback positivo ou a escolher selectivamente os clientes que sabem que darão classificações elevadas, em vez de se concentrarem na melhoria genuína da qualidade do serviço. Isto mina a verdadeira intenção de medir a satisfação do cliente para melhorar o serviço, uma vez que o processo passa a ser uma questão de manipular o sistema em vez de entregar valor real.

Recordo o caso da Uber, a empresa usa um sistema de avaliação em que os motoristas e passageiros classificam-se uns aos outros após cada viagem. Essas avaliações são críticas para os motoristas, pois uma baixa classificação pode levar à desactivação das suas contas ou à perda de acesso a determinados benefícios e incentivos. Para evitar avaliações negativas, alguns motoristas começaram a pressionar os passageiros a dar classificações altas, às vezes até sugerindo diretamente que o passageiro deve dar 5 estrelas. Em outros casos, os motoristas poderiam evitar atender passageiros que acreditavam que poderiam dar uma classificação mais baixa, escolhendo atender apenas aqueles que pareciam mais propensos a dar uma boa avaliação. Essas práticas desviam o foco da melhoria genuína da experiência do cliente e passam a ser sobre como manipular o sistema de avaliação para evitar punições ou maximizar recompensas.

Métricas de produtividade em Logística

Uma empresa de logística utiliza métricas quantitativas, como o número de artigos separados por hora, para avaliar a produtividade dos trabalhadores de armazém.

Consequência: Os trabalhadores podem concentrar-se apenas na quantidade, descurando a qualidade do seu trabalho. Podem manusear artigos incorrectamente ou embalar produtos de forma inadequada para aumentar o seu número, levando a mais erros, produtos danificados e taxas de devolução mais elevadas, o que acaba por prejudicar os resultados financeiros da empresa e a experiência do cliente.

Recordo o caso da Amazon que usa sistemas de monitorização rigorosos para acompanhar a produtividade de seus trabalhadores em centros de distribuição. Esses trabalhadores são frequentemente avaliados com base no número de itens que conseguem processar por hora, com metas de produtividade que podem ser muito elevadas. Sob a pressão de atingir essas metas, alguns trabalhadores podem-se concentrar exclusivamente na quantidade, tentando processar o maior número possível de itens em detrimento da qualidade. Isso pode resultar em manuseamento inadequado de produtos, embalagem defeituosa ou apressada, e maior risco de erros. Esses problemas podem levar a um aumento nas taxas de produtos danificados e devoluções, impactando negativamente a satisfação do cliente e os resultados financeiros da empresa.

E nos governos, imaginem o manancial de oportunidades...

terça-feira, agosto 13, 2024

Curiosidade do dia

O académico versus o empírico.



 

Come on. Como se pode ser tão básico?

Acerca do vinho tenho escrito alguns postais ao longo dos anos. Recordo de há anos um focado no problema de fundo, a incapacidade de subir na escala de valor: O crescimento canceroso (de Dezembro de 2018).

Recentemente escrevi sobre a incapacidade de todos os intervenientes, desde o governo aos produtores de uva, enfrentarem a situação de frente e falarem verdade. Não falando verdade, qualquer hipótese de melhoria fica ferida de morte (recordar o que Roger Martin escreveu recentemente). Por isso escrevi:
Em Julho escrevi "Julgo que nunca verei esse dia... uma tristeza." onde citei dados da produção e consumo mundial de vinho e do crescente desencontro. Consumo desce e produção sobe. Qual a reacção em Portugal? Destilar vinho e culpar importações. E mudar? Não isso não é com os produtores.

Ontem, no FT li "Australian wine sector suffers from shift upmarket":
""Three years ago, the industry was in the best position it has been in. Now it's the worst it's been," he said.
The woes of the sector, which employs more than 160,000 full and part-time workers, have prompted an exodus of established operators.
Treasury Wine Estates, Australia's largest wine producer and the maker of some of the best-known labels on UK supermarket shelves, including Wolf Blass and Blossom Hill, announced this week that it would sell its commercial wines division with a A$290mn (US$189mn) writedown.
It was the latest in a series of deals involving Australian wine.
...
Globally, wine consumption has also been declining. UK per capita wine consumption peaked in 2009, except for a temporary boost during the coronavirus pandemic, with British drinkers now consuming 14 per cent less than they did in 2000.
Some of the world's largest alcohol companies are shifting from the commercial end of the wine marketbrands that retail for less than $10 a bottle - towards higher-margin and faster growing segments, such as spirits and premium wine.
...
"The reality is biting in Australia. [Moi ici: Esta é a linguagem de olhar para os factos e não de arranjar culpados ou pedir botijas de oxigénio, aka destilação] We are in a global oversupply situation. This is a crucible moment in the industry."
Trevor Stirling, an analyst at Bernstein, said winemakers globally had been forced to cut prices to remain competitive. "Wines that were once upon a time considered premium are now seen as mainstream," he said. "The only bit of 'Three years ago, the industry was in the best position it has been in.
Now it's the worst it's been' the wine industry in the world making money is rosé and upmarket wines.""

Também ontem, mas no JdN, apanhei, "Exportações de vinhos crescem até junho 8,6% em volume, mas só 1,25% em valor" [Moi ici: Esta matemática é impressionante!]

"As exportações totais de vinho português aumentaram nos primeiros seis meses deste ano 8,58% em volume, mas apenas 1,25% em valor, comparativamente com o mesmo período de 2023. 

...

[Moi ici: Os dois parágrafos que se seguem são de chorar. Não percebem como isto não tem nada a ver com sustentabilidade? Basta recordar os números de Simon e Dolan e o impacte assimétrico da redução de preços na rentabilidade. Esta gente não percebe que vender mais, e ganhar menos dinheiro, apesar de ter mais trabalho, mais custos, mais inventário é uma forma antieconómica de operar?] Em seu entender, "o aumento de 8,58% em volume demonstra a forte procura pelos nossos vinhos nos mercados internacionais, contribuindo para a sustentabilidade do setor".

No entanto, salienta que "continuamos a ter um desafio no que toca ao preço médio, que reduziu em vez de aumentar, como era a nossa expectativa"."

Não enfrentamos os problemas de frente, não olhamos para os dados e iludimos-nos com "vanity metrics": aumentar vendas, enquanto se perde dinheiro. Come on. Como se pode ser tão básico?

O mundo muda e temos de mudar de vida, mudar de estratégia, mudar de mercado, mudar de clientes, mudar de produto, mudar de modelo de negócio. Não podemos querer perpetuar uma postura de mercado e esperar que outros nos paguem para a manter.

O mais grave é ninguém falar como adulto suportado em números... sempre a velha estória da festa de Natal do nosso filho de cinco anos...

segunda-feira, agosto 12, 2024

Curiosidade do dia

"Things must not go on as they have been. The test of the UK's democracy is whether that reality is recognised and options for improvement discussed. That, one might have thought, is what a general election is for. But political commentators mostly seem to agree that this is hopelessly naive: the electorate does not want to be told the truth and could not understand it if they were. They should be kept in the dark and fed on manure, like the mushrooms they are. This is what the sophisticated political gurus advise. What has been the result? Disenchantment. Any political system, especially a democracy, has to deliver results."

Trecho retirado de "UK election draws a veil of silence over bitter economic truths

Exportações dos primeiros seis meses de 2024

 


Portugal exportou bens no valor de 40 mil milhões de euros no primeiro semestre, uma quebra de 0,9%, o que equivale a menos 376 milhões de euros do que em igual período de 2023.

De salientar o grande salto nas exportações de produtos farmacêuticos. Nos primeiros cinco meses as exportações caíam mais de 10% face ao valor homólogo e agora estão a crescer 3,9%. Julgo que isto tem a ver com o ciclo trimestral de exportações para alguns mercados.

As exportações de calçado e dos animais vivos continuam o seu calvário. 

domingo, agosto 11, 2024

Curiosidade do dia

"You don’t get to support those things without consequences, buddy."

Em tempos no Twitter brinquei com o que ouvia no programa Prós e Contras. Se tantas empresas de sucesso no mundo nasceram numa garagem, então, quanto mais garagens forem construídas, mais empresas inovadoras serão criadas. Este é o erro de quem confunde correlação com causalidade.

Em 2008 escrevi um postal aqui no blogue onde citei:

"if companies are not hiring, job training is irrelevant.

...

if you really want to reduce unemployment and poverty, it is obvious from recent history that job training has nothing to do with it."

Mais educação não quer dizer menos desemprego, não quer dizer melhores empresas.  

Recordo isto na sequência da leitura de um texto no Público de 8 de Agosto passado, "Notícia de um país sábio, mas pobre":

"numa década, o número de doutorados a residir no pais aumentou 73%, chegando à muita razoável cifra de 43 mil. 

...

Tanta ciência e tanto estudo serve, afinal, para quê, se os salários continuam baixos, se a economia permanece débil e o destino parece condenado à eterna e desesperada luta por uma casa para alugar ou dinheiro para o fim do mês? [Moi ici: O autor espera uma causalidade entre mais doutorados e melhor economia. Depois, no parágrafo que cito a seguir, culpa os patrões por a causalidade não se verificar]

...

Por muito mais sábios e competentes que os portugueses sejam, as suas aspirações continuam a ser travadas por uma espécie de imposto cobrado pelos arcaísmos do antigamente. A qualificação dos donos das empresas é baixa e amarra-os à condição do velho patrão."

O que é que o autor quer? Se a economia que nunca precisou de doutorados não morrer, ou não for complementada por outra economia que precise de doutorados continuará a não haver causalidade. Recordo de 2007:

"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled." [Moi ici: A crença do autor do texto e de muitos outros, a maioria] In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."[Moi ici: O nosso foco está totalmente ao lado]

BTW, também seria interessante saber quais as áreas de doutoramento, se a maioria for em Sociologia ou História...

E volto à cena dos mastins dos Baskerville e à lição das duas economias na Irlanda. Só que o autor do texto está alinhado com esta mentalidade “Descida do IRC é injusta”.

- You don’t get to support those things without consequences, buddy.

sábado, agosto 10, 2024

Curiosidade do dia

Salazar também tinha um lápis azul do mal. 

Como se definem objectivos? (parte II)

Parte I.

Consideremos a Goodhart’s Law: “When a metric becomes a target, it ceases to be a good metric".

O NHS do Reino Unido implementou uma meta para garantir que os doentes eram atendidos num período de tempo específico nas Emergências, normalmente no prazo de 4 horas.

Embora a intenção fosse melhorar os cuidados prestados aos doentes e reduzir os tempos de espera, os hospitais começaram a concentrar-se em cumprir a meta em vez de melhorar a qualidade global do serviço. Alguns hospitais manipularam os números, mantendo os doentes em ambulâncias ou áreas de detenção temporária até que pudessem ser admitidos dentro do prazo previsto, melhorando assim artificialmente as suas métricas sem necessariamente melhorar os resultados dos doentes.

A métrica (tempo de espera de quatro horas) passou a ser a meta e, com isso, deixou de ser um indicador fiável da real qualidade dos cuidados de emergência prestados.

Lembro-me de me contarem o caso de uma empresa pertencente a uma multinacional com um objectivo ditado pela casa-mãe de reduzir o consumo de água por tonelada de produto produzida. A água que contava para o cálculo era a água comprada à companhia fornecedora. O que fez a empresa? Fez um furo, legalizou-o e começou a usar água que não contava para o cálculo do objectivo.

Exemplos recentes em Portugal.

  • Nos últimos anos, o governo português colocou uma grande ênfase na redução do défice orçamental para cumprir as exigências da União Europeia.

Efeito da Lei de Goodhart: Embora a redução do défice seja importante, a fixação nesse alvo levou a cortes em áreas críticas, como a saúde e a educação. A obsessão com o défice fez com que outras métricas de bem-estar económico e social fossem negligenciadas. Por exemplo, os cortes no investimento em infraestruturas hospitalares contribuíram para a degradação da qualidade dos serviços de saúde, um efeito colateral negativo que não é capturado pela simples métrica do défice orçamental.

  • O governo português adoptou várias políticas para melhorar o desempenho de Portugal em rankings internacionais de educação, como o PISA.
Efeito da Lei de Goodhart: Em resposta à pressão para melhorar os resultados nestes rankings, algumas escolas começaram a focar-se excessivamente em "treinar" os alunos para os exames, baixando o nível e o governo em baixar o grau de dificuldade das provas. Isso pode resultar em melhorias nos rankings, mas não necessariamente em melhorias reais nas competências dos alunos ou na sua preparação para o futuro.

Continua.


sexta-feira, agosto 09, 2024

Curiosidade do dia

Não use máscaras, dão uma falsa sensação de segurança. 

 


Se for verdade ...

No DN do passado dia 7 de Agosto li "Consumo de calçado cresceu 9,5% em Portugal à boleia das compras dos turistas" de onde sublinho:

"A atestar a maior atenção dos fabricantes portugueses pelo mercado nacional está o facto de a orientação exportadora da indústria portuguesa ter sido, em 2023, de 81,9%, face aos 89,1% de 2022."

Aindo segundo o artigo:

"Os dados são do World Footwear 2024, o anuário estatístico que a APICCAPS publicou pelo 14.° ano consecutivo. "É um facto que hoje há cada vez mais consumidores portugueses a procurarem calçado nacional e Portugal é já um mercado relevante na estratégia de muitas das nossas empresas. Por outro lado, essas são compras feitas por portugueses, mas também pelos muitos turistas que visitam o país", diz o porta-voz da associação." 

O que escrevo aqui no blogue há vários anos? Basta recordar o comentário que fiz acerca de uma opinião do Bicicletas: 

"O nível de vida em Portugal não é alto. Por isso, os portugueses optam por comprar bens transaccionáveis baratos. Esses bens entram em Portugal, importados da Ásia a preços muito baixos, e levam a melhor sobre o "Made in Portugal". Por exemplo, Portugal exporta sapatos caros e importa sapatos asiáticos para consumo interno. Portugal exporta mobiliário caro e importa mobiliário asiático para consumo interno."

Recordo o que escrevi acerca das conservas e do custo de oportunidade: Como se pode ser tão burro e cometer sempre os mesmos erros???

"Os portugueses importam produtos baratos e exportam os produtos mais caros. Olhando para os dados de 2016, o kg de conserva importada era cerca de 73% do kg de conserva exportada."

Se for verdade que os fabricantes portugueses estão a dar mais atenção ao mercado nacional, então estarão a dar menos atenção ao mercado de exportação, então estarão a enterrar-se com um mercado que não pode suportar melhores margens, que leva a produtividades mais baixas numa altura em que os custos sobem acma da taxa de inflação.

Por favor, assumam os problemas de frente, não os escondam, não os embelezem.

quinta-feira, agosto 08, 2024

Curiosidade do dia

Recentemente mão amiga mandou-me este link "China picks Morocco for Europe's EV battery supply" com uma pergunta interessante: "Tornar-se-á Marrocos o que o México tem sido para os EUA?"

Também recomendo "Made in Morocco - industrial giants just keep on investing".


Começar de onde se está.

Em 2015 tomei consciência da diferença entre o que penso sobre formulação de uma estratégia e o que os livros de gestão apresentam e escrevi este postal: Do concreto para o abstracto e não o contrário. Hoje, sinto que a coragem para assumir a diferença teve a colaboração do que aprendi com a effectuation (começar com o que se tem à mão).

Esta semana li mais um artigo de Roger Martin que me deixou com um sorriso, "The Best Place to Start - It's Where You Are".

O título de Roger Martin realça a importância de iniciar qualquer processo de melhoria ou mudança a partir da realidade actual. 

O título sugere que, para abordar eficazmente qualquer problema ou desenvolver uma estratégia, é necessário primeiro entender e aceitar a situação actual. O planeamento estratégico e a resolução de problemas devem estar fundamentados nas circunstâncias reais e existentes, em vez de em cenas idealizadas ou teóricas. Check!

Roger Martin usa o termo POSIWID, o princípio POSIWID para “The purpose of a system is what it does." Começando de onde se está, pode-se avaliar com precisão o que o sistema actual produz, o que é crucial para tomar decisões informadas e realizar melhorias. Check!

Roger Martin refere um incidente com a equipa de futebol do Canadá nos Jogos Olímpicos que decorrem agora em Paris (a equipa usava um drone para espiar os treinos dos adversários, foram descobertos e o treinador desculpou-se dizendo que aquilo não representava a equipa e os seus valores) para sublinhar a importância de reconhecer e aprender com os resultados reais de um sistema, em vez de negá-los ou distanciar-se deles. Começar de onde se está envolve assumir os resultados e comportamentos presentes do sistema. Check!

Assim, desenvolver uma estratégia deve passar pela compreensão dos resultados reais e das lacunas entre os estados actuais e desejados. Começando pela realidade presente, as estratégias podem ser desenvolvidas e implementadas mais eficazmente, contrastando com começar a partir de uma visão imprecisa ou aspiracional da situação. Check!

quarta-feira, agosto 07, 2024

Curiosidade do dia

Hoje a SIC publicou este texto "Imigrantes que vivem no Reino Unido contribuem mais em impostos do que recebem".

Estranhei, porque a experiência dinamarquesa é bem diferente.

Lendo o artigo e indo às fontes percebem-se duas coisas:

  • afinal a experiência dinamarquesa confirma-se,
  • "The fiscal impact of migration to the UK is small and differs by migrant group (e.g. EEA migrants vs. non-EEA migrants, recent migrants vs. all migrants)."

Pagamento de capacidade?

Pelos vistos no sector eléctrico existe algo que se chama pagamento de capacidade, uma compensação financeira fornecida aos geradores de electricidade para garantir que eles estejam disponíveis para fornecer energia quando necessário. Este mecanismo é utilizado para assegurar a segurança do fornecimento eléctrico, especialmente em momentos de pico de procura ou em situações em que há risco de escassez de energia.

Fiquei a namorar este conceito depois de ler este artigo num WSJ do final de Julho, "A U.S. Maker of a Critical Antibiotic Struggles to Survive in Tough Industry":
"A cavernous factory in northeastern Tennessee is one of the last in the country that makes a vitally important medicine.
Each day the USAntibiotics plant churns out a million doses of the crucial antibiotic amoxicillin that promise to cure Americans of everything from ear aches to pneumonia— and ease a pressing shortage for children. But the plant's prospects are dim. It can't charge enough to cover overhead, because competitors sell their wares at bargain prices. USAntibiotics isn't close to breaking even.
...
[Moi ici: Ao ler os próximos dois parágrafos a resposta de um liberal económico pode ser: Azar, temos pena!] The generic drug business has become a hostile environment for U.S. companies. Prices for the medicines have dropped so low that it has become difficult for U.S. manufacturers to compete with companies overseas.
One after another, generic drug makers have gone bankrupt or moved their operations overseas or cut the number of products they offer. The number of facilities making generic drugs in their final form in the U.S. has dropped by roughly 20% since 2018, to 243, according to federal data.

[Moi ici: Agora começa o outro lado] Drug shortages have become common. Today, 300 medicines are in short supply, according to the American Society of Health-System Pharmacists. Regularly now, hospitals and patients must scramble to find doses of the drugs they need if there is one hiccup in a pinched supply chain or a quality problem shuts down a manufacturing line.
...
Today some crucial generic drugs now sell for $2 or less a pill or injection. India is now the No. 1 supplier of solid-form generic drugs to U.S. patients, according to the nonprofit U.S. Pharmacopeia. When it comes to making drugs, Asian countries usually have a cost structure 40% to 60% lower than Western nations, University of Minnesota economist Stephen Schondelmeyer told Congress earlier this year.
...
Clients typically pay USAntibiotics $5 for a common 30 pill amoxicillin pack, before marking it up more for patients, Jackson said. That covers the Bristol plant's production costs, which amount to about $4 per unit, but isn't enough to pay for overhead and other facility costs, he said.
To break even, USAntibiotics must double its commercial sales-or line up the U.S. government as a customer."

Queremos medicamentos baratos. Isso consegue-se com uma cadeia de fornecimento baseada na Ásia. No entanto, a incerteza da variabilidade na procura vai gerar falhas no fornecimento.

Por que nunca se pensou num sistema de compensação semelhante ao do pagamento de capacidade no sector eléctrico para o sector farmacêutico? E já agora, por que nunca se pensou num sistema de compensação semelhante ao do pagamento de capacidade no sector eléctrico para o sector agrícola