sábado, novembro 09, 2024

Lucro, investimento e produtividade

Acabei a leitura do capítulo 5, "The problem of profitability" do livro "Creative Destruction", de Phil Mullan, mais uma boa leitura.

O autor discute o declínio persistente da taxa de rentabilidade como uma questão crítica que afecta as economias modernas. Este problema é visto como intrínseco ao processo capitalista, ligado à necessidade de aumentar o investimento de capital para aumentar a produtividade. A taxa de rentabilidade diminui geralmente à medida que se aplica mais capital, o que coloca desafios ao crescimento sustentado e ao investimento. Interessante como o autor cita Marx longamente.

A diminuição da rentabilidade prejudica o investimento empresarial, que é um motor fundamental da expansão económica. Quando os lucros descem em relação ao capital investido, as empresas estão menos inclinadas a investir noutras actividades produtivas. Esta situação leva à estagnação económica ou a uma depressão prolongada, como se verifica nas análises históricas.

O capítulo identifica um declínio secular e de longo prazo da rentabilidade desde o boom pós-Segunda Guerra Mundial. As taxas de lucro atingiram o pico na década de 1950, mas diminuíram nas décadas seguintes, com algumas estabilizações e pequenas recuperações após recessões. A tendência tem sido uma trajetória descendente da taxa de lucro ao longo do tempo nas principais economias industriais.

O paradoxo destacado neste capítulo é que os períodos de expansão económica podem acelerar o declínio da rentabilidade. Este declínio ocorre porque a rápida expansão económica requer um investimento de capital substancial, o que aumenta a produtividade mas reduz a taxa de lucro global à medida que se investe mais capital em comparação com os retornos. Esta relação leva à redução da rentabilidade durante períodos de crescimento.

Estão a ver para onde isto nos leva?



A diminuição da rentabilidade desencoraja o investimento empresarial. Esta relutância em investir perpetua a estagnação económica, uma vez que o investimento é crucial para o crescimento e o avanço tecnológico. Por sua vez, o investimento é o motor essencial da produtividade. Contudo, à medida que a rentabilidade cai, o incentivo para investir diminui, o que prejudica o crescimento da produtividade. Isto cria um ciclo de feedback em que a baixa rentabilidade limita o investimento, resultando num crescimento estagnado ou baixo da produtividade. 

Aquele sinal mais quer dizer que o feedback loop é positivo, ou seja, é auto-catalítico, auto-reforça-se a cada volta que dá. Por isso, amplifica os seus próprios efeitos, transformando pequenos problemas em grandes crises. Sem intervenção, cada ciclo piora o resultado, criando uma espiral descendente da qual é difícil escapar.

sexta-feira, novembro 08, 2024

Curiosidade do dia

 

"O nosso modelo de distribuição não é entre os mais ricos e os mais pobres. É entre os mais jovens e os mais velhos. A AD tentou uma solução absurda, tecnicamente inviável com a proposta de IRS jovem, mas tinha um diagnóstico claro: os mais novos não podem pagar mais. Mesmo que não gostemos da solução há uma pergunta que temos de responder: quanto mais podemos exigir aos mais jovens?

Ao longo da vida cada geração recupera na velhice, através da reforma, aquilo que descontou. Porém, esta geração de jovens vai receber relativamente menos do que os seus pais e avós descontaram e pagar mais por benefícios que não gozará."

Trecho retirado de "Até onde vai o egoísmo?"

Sem investimento a produtividade não cresce

Acabei a leitura do capítulo 4, "Why investment matters" do livro "Creative Destruction", de Phil Mullan. 

O capítulo começa com:

"The prolonged weakness of capital investment is the main explanation for the perpetuation of the Long Depression. Without the transforming investments that embody technological advances, innovation will remain deficient, sustained productivity growth will not occur and stagnation will continue. The research and science that come up with new ideas are insufficient to bring about progress on their own. They only acquire social value through the investment that realises them in innovating ways that add to human pleasure or prosperity."

Tal como no capítulo 3 o autor dedica parte importante do capítulo a ilustrar como um mundo de fantasia é criado com a manipulação dos indicadores, alargando o âmbito daquilo a que se chama de investimento.

No entanto, gostava de focar a atenção em dois tópicos:

"The more relevant economic proportionality for assessing investment needs is not between manufacturing and services, but between low value adding and high value adding sectors. Generally it is the low value activities, whether making goods or providing services, that are of low capital intensity. This applies to simple manufacturing assembly operations, as it does to serving food and drink, cleaning, personal care, or shelf stacking.

High value industries, in contrast, whether manufacturing, extractive or services, are more likely to require capital investment to increase their capacity to produce at high levels of productivity. This applies as much to a modern transport system or a communications network as it does to advanced manufacturing. Even agricultural activities like dairy production - traditionally regarded as low-tech and labour intensive - are becoming much more automated and capital intensive: robots now milk cows. A return to durable economic growth will require continuing levels of investment in higher value sectors - services or goods based - to expand, maintain and upgrade capital assets."

Algo que permeia este blogue frequentemente: a importância de subir na escala de valor para aumentar a produtividade à custa da eficácia e não da eficiência. Recordar o que significam as imagens e a sua sequência na figura que ilustra os Fliyng Geese.

"Calling spending on workers' skills 'intangible investment' while downplaying the role of capital investment again mystifies the production process. Production brings workers and tangible capital together; neither is effective on their own. A machine is just an inert piece of kit until humans activate it. A person can work just with their hands without any tangible capital but their activities will remain primitive: crop picking by hand, or a home-visiting masseur. Not much else is possible for humans without some tools, or premises, or raw materials to work with.

Prioritising the role of human capital can divert from the requirement for much more tangible, innovation-carrying, capital investment. Too little of the latter has been undermining effective production, thereby holding back the productivity of the workers who make up the human capital. People who do not have the opportunity of working with modern technology are not that productive, and most do not have fulfilling work experiences either.

...

Increasing workforce skills are of no value economically in the absence of the capital investment, technology and jobs to use them. Devoting extra resources to training will not produce economic benefits if there are insufficient high-skill, high productivity jobs for the workforce. A supply of skilled people does not create a demand for them, and skills that are not used are rapidly lost. To be effective, skills need to combine with other factors in production, especially those deriving from adequate amounts of capital investment in innovation."

O velho tema da "caridadezinha" aqui no blogue. Recordo:

Mas há muito mais.

quinta-feira, novembro 07, 2024

Curiosidade do dia

A propósito de "Não se deixem surpreender" sobre a situação da economia alemã, convém perceber que a coisa não fica por aí.

Ontem no WSJ, "Outlook Is Gloomier For French Factories":

"French manufacturers produced less in September, threatening a bleak end to the year for a European manufacturing sector suffering from high energy bills and tougher competition from China.

...

As the European auto sector shifts to electric vehicles, it suffers from increased competition from abroad, notably China. On Tuesday, French tiremaker Michelin said it would close two plants and German auto supplier Schaeffler said it would reduce operations at some factories, jointly putting more than 5,000 workers in line for layoffs. 

...

Survey data this week suggests France's manufacturing sector is primed for its weakest month since the beginning of the year in October. That is contributing to a continued decline in the wider eurozone, similar surveys show.

Sliding exports remain a major problem for French manufacturers, and October's international sales marked the fastest drop on record, according to survey compiler S&P Global."

Também "French industry stuck in recession and outlook stays bleak, survey finds "

Uns vão olhar para isto e pensar:
  • À medida que as empresas francesas e alemãs procuram deslocalizar ou diversificar as operações devido aos elevados custos energéticos e à concorrência, Portugal pode posicionar-se como um destino atractivo. 
Outros vão olhar para isto e pensar:
  • O declínio da indústria transformadora francesa e alemã poderá levar a uma concorrência mais intensa entre os países europeus para atrair empresas, sobrecarregando potencialmente os recursos e os incentivos de Portugal.

Inovação versus produtividade

Um mundo de fantasia criado pela manipulação de indicadores ao estilo de "wag the dog".

Acabei a leitura do capítulo 3, "Innovation Puzzles" do livro "Creative Destruction", de Phil Mullan, que explora as complexidades e os desafios que rodeiam o conceito de inovação, particularmente nas economias ocidentais, e avalia criticamente pressupostos e medições comuns a ele associados. Algumas das ideias:

Mullan defende que a inovação foi elevada a um estatuto quase sagrado, muitas vezes aplicada de forma ampla a conceitos muito distantes dos avanços tecnológicos reais na produção. Isto levou ao que ele chama de “exagero da inovação”, onde até mesmo pequenas atualizações, como atualizações de software, são celebradas como inovações significativas​.

O capítulo diferencia entre inovação de processo (melhorar os métodos de produção para aumentar a produtividade física) e inovação de produto (criação de novos produtos). Mullan sublinha que, embora ambas sejam essenciais, a inovação de processos desempenha um papel fundamental na condução do crescimento económico, aumentando a produtividade e reduzindo custos. A inovação ocidental recente inclinou-se fortemente para os produtos de consumo em vez dos avanços produtivos​. Talvez este possa ser o ponto de vista de quem está a comentar a partir de uma economia avançada. Eu, a comentar a partir de Portugal, penso que precisamos de mais inovação concentrada na subida na escala de valor (eficácia), que permite preços mais altos, do que focada na melhoria de processos (eficiência), que permite ou melhoria ou manutenção de margens. Recordar Marn e Rosiello e o que significa aumentar preços versus reduzir custos.

Métricas como as despesas em I&D, a contagem de patentes e a frequência das citações são frequentemente utilizadas para avaliar a inovação, mas são indicadores defeituosos. Por exemplo, as despesas em I&D não garantem resultados bem-sucedidos e a contagem de patentes pode refletir estratégias jurídicas ou financeiras, em vez de inovação genuína. Estas métricas centram-se mais nos inputs da inovação do que nos seus impactes qualitativos na produtividade e no crescimento económico​.

Existem evidências de que a inovação não tem tido os efeitos transformadores esperados na produtividade, especialmente desde a década de 1970. Apesar dos avanços nas tecnologias de informação e comunicação, o crescimento da produtividade nas economias ocidentais abrandou. Esta estagnação é atribuída a investimentos insuficientes em capital transformador e a inovações de processos que melhorem genuinamente as capacidades de produção​.

Mullan sublinha que a difusão da inovação – através da qual os avanços tecnológicos se espalham pela economia – é crucial para o crescimento global da produtividade. No entanto, muitas economias ocidentais sofrem de baixo dinamismo económico, com recursos retidos em áreas de baixa produtividade, limitando os benefícios generalizados da inovação. Esta quebra da “máquina de difusão” exacerbou a estagnação da produtividade​.

quarta-feira, novembro 06, 2024

Curiosidade do dia

A propósito da vitimização: 

Recordar o termo "priming" (ou pré-activação):

Daí o tweet:



Não se deixem surpreender

Não se deixem surpreender:


No FT de ontem um artigo interessante na coluna "FT BIG READ" intitulado "A broken business model?" acerca da situação da economia alemã:

  • Dependência energética: O sucesso industrial da Alemanha tem dependido fortemente do gás russo barato. As tensões geopolíticas e a subsequente redução do fornecimento de gás levaram ao aumento dos custos energéticos, impactando a produção industrial.
  • Declínio industrial: Sectores como o automóvel, o químico e o da engenharia estão a atravessar crises. A produção industrial tem vindo a diminuir desde 2017 e a Alemanha regista um crescimento mínimo do PIB desde finais de 2021.
  • Desafios do sector automóvel: A mudança para veículos eléctricos e a concorrência dos fabricantes chineses afectaram negativamente a indústria automóvel da Alemanha, tradicionalmente uma pedra angular da sua economia.
  • Alterações geopolíticas: As alterações na dinâmica do comércio global, especialmente no que diz respeito à China, perturbaram o modelo orientado para as exportações da Alemanha, necessitando de uma reavaliação das relações comerciais.
  • Instabilidade política: O governo de coligação liderado pelo Chanceler Olaf Scholz enfrenta dificuldades em lidar eficazmente com estes desafios económicos, conduzindo à instabilidade política. Isto resultou num crescente apoio aos partidos da oposição que defendem reformas económicas.
Fico a pensar nas consequências do pântano alemão na economia portuguesa ...

  • Redução dos fundos europeus, e toda a gente sabe o quanto este país vive da poupança dos frugais com a Alemanha à cabeça.
  • A queda da procura alemã pode afectar as exportações portuguesas, especialmente industriais, impactando a produção e o emprego.
  • Menor consumo alemão pode reduzir o turismo em Portugal, prejudicando o sector turístico.
  • Empresas alemãs podem suspender ou reduzir investimentos em Portugal, afetando o crescimento e o emprego local.
  • A crise pode levar o BCE a ajustar as taxas de juro, elevando o custo da dívida para Portugal e limitando o orçamento do governo.
  • A UE pode exigir reformas em Portugal para aumentar sua resiliência económica e reduzir a dependência de subsídios.
  • A crise alemã pode abalar a confiança na zona euro, afectando empresas portuguesas que dependem de mercados externos e financiamento estrangeiro.
Mas, por outro lado, a crise também pode levar empresas alemãs a procurar parcerias em energias renováveis, onde Portugal, com o seu potencial em energia solar e eólica, pode atrair novos investimentos.

BTW, o artigo começa asim:
"I an 30-plus-year career in corporate restructuring, consultant Andreas Rüter has seen it all: the dotcom bust, September 11, the global financial meltdown, the euro crisis, Covid-19. But what's happening right now in corporate Germany is "unprecedented" and "of a completely different order of magnitude", says Rüter, the country head of AlixPartners.
The federal republic's all-important automotive sector, chemical industry and engineering sector are all in a slump at the same time. Rüter's firm is so overwhelmed by demand for restructuring that it's turning potential clients away." 

terça-feira, novembro 05, 2024

Curiosidade do dia

Há quase um ano escrevi isto "Menos dor na transição" acerca da Coloplast. 

Agora, mão amiga manda-me "Nova empresa a 10 minutos de Vizela quer contratar 1000 pessoas e vai esclarecer interessados":

"Inicialmente, a dinamarquesa está à procura de operadores de produção, técnicos de manutenção e outros qualificados técnicos, todos com formação ao integrarem a empresa. A experiência não é, por isso, um requisito obrigatório."

BTW, a primeira vez que escrevi sobre a Coloplast foi em 2014.

Anichar

Faz hoje uma semana que li no WSJ em "Hectic Is Normal for Whirlpool Factory Boss" este trecho:

"CLYDE, Ohio - Ryan DeLand arrives at Whirlpool's washing-machine factory at 6:53 a.m., not long after dayshift workers have settled into their stations.

He steps into his office and is greeted by a whiteboard that bears the motto "stable and predictable."

He will spend the day chasing that goal despite a never-ending stream of complications in a plant that 1s as big as 30 football fields put together.

A lot can go wrong. The plant has more than 25 miles of conveyors and uses more than 2,000 parts. Robotic and human-piloted vehicles zip through its aisles, while an overhead crane carries huge coils of steel.

Going full blast, the factory can pump out 22,000 washing machines in a day, but even a brief mishap can stop production cold."

22 mil máquinas de lavar roupa por dia ... fiquei a pensar no que o número representa em termos de filosofia de produção e de comercialização.

Entretanto, ontem no FT li "Niche bike makers bank on quality to ride out dip":

"They work for Moulton Bicycle Company, a maker of small-wheeled bikes with distinctive steel-lattice frames that is one of several specialist UK manufacturers betting on quality, design and customer service to help withstand brutal conditions in the global market.

...

Carlton Reid, an author on cycling issues and close observer of the sector, said the "cottage industry" of niche operators was less focused on meeting sales and revenue targets than the dominant bike brands Trek and Specialized of the US and Taiwan's Giant.

Manufacturers such as Moulton differentiate themselves by offering unique designs. Others offer products made with unusual materials such as titanium or that are personalised to individual customers' requirements.

...

Dan Farrell, Moulton's technical director, said it was relying on selling its bikes in small volumes but at high prices. It sells about 700 units a year, ranging from a £2,100 entry-level machine to a £21,950 "double-pylon" model made of stainless steel.

...

The approach of Atherton Bikes, based in Machynlleth, west Wales, is still more personalised, with each of the company's premium mountain bikes built to order. For its top-end "A" range, it uses 3D printers to produce titanium and carbon-fibre frame parts tailored to users' needs.

...

Reid said such an approach had proved successful for many high-value

UK bike brands. "They all have a certain price point where they're immune from the bottom-feeding," he said. "They have good margins and some of them have been going for a while."

Farrell agreed. There was enough demand for highly specialised bikes to keep operations like Moulton's going, he said. "Providing you're not thinking that you're going to sell millions of these things, you can charge a premium for it," he added. "So you can manufacture in what is a relatively expensive area.""

PMEs que se concentram em qualidade, personalização e design, com preços elevados para mercados de nicho, têm um caminho promissor, especialmente em países onde o custo de vida é alto e quase impossibilita a produção. Este modelo permite que as PMEs diferenciem os seus produtos e serviços, escapando da pressão dos preços baixos e das estratégias de volume que predominam entre os fabricantes grandes. Enquanto gigantes como Whirlpool apostam em alta produção e eficiência para manter competitividade, as empresas mais pequenas, como a Moulton Bicycle Company, vêem o nicho como uma oportunidade para se posicionarem com produtos de qualidade e exclusividade.

O foco em nichos de mercado significa investir em algo que o consumidor médio não está nem à procura nem disposto a pagar, mas que um público específico e exigente valoriza profundamente. Para esses clientes, o valor do produto está não apenas na sua função, mas também em aspectos como o design, a durabilidade, a personalização e até a experiência de compra. Isso permite que este tipo de PMEs trabalhem com margens mais altas e construam uma reputação de exclusividade e inovação.

Contudo, existem erros comuns que muitas PMEs cometem ao tentar trabalhar para nichos e que podem comprometer o sucesso da estratégia. Um dos principais é subestimar o custo e a complexidade de manter uma produção de alta qualidade e personalizada. Produtos de nicho exigem atenção ao detalhe e flexibilidade na cadeia de fornecimento, o que requer investimentos robustos e processos bem estruturados. Sem uma infraestrutura adequada, a empresa corre o risco de comprometer prazos e qualidade, frustrando os clientes.

Outro erro recorrente é a falta de compreensão do cliente-alvo. As PMEs de sucesso em nichos conhecem profundamente o seu público, mas muitas acabam por adoptar uma abordagem mais genérica, acreditando que qualidade é suficiente para atrair clientes. Esse desconhecimento leva a falhas em marketing, preço e distribuição. Para que um produto de nicho seja realmente valorizado, ele tem de estar alinhado com as necessidades e desejos específicos do cliente-alvo.

Além disso, algumas PMEs tentam crescer rapidamente para maximizar vendas, mas expandir sem uma base de clientes sólida e leal pode ser arriscado. Para essas empresas, aumentar a produção pode significar abrir mão da exclusividade e da personalização, pontos-chave para sua proposta de valor. Em vez de procurar volumes maiores, PMEs de nicho devem focar-se na construção de um relacionamento de longo prazo com os clientes, apostando na inovação e lealdade. Recordo sempre o exemplo da Frank Perdue Chicken Farms que recusou vender através da distribuição grande para poder criar a sua marca e manter margens. O contrário da Raporal.

segunda-feira, novembro 04, 2024

Curiosidade do dia

 



Atolados no presente

"Why We Get Stuck in the Present 

If Newton's first law is the law of inertia, it is also, alas, the first law of incumbent organizations. When they are at rest, they tend to stay at rest. And when they are moving in a certain direction, it requires a great deal of energy and effort to alter their courses. Most incumbent organizations are led by people who are much less future-facing than their founders.
...
In brief, if you want to understand a company's strategy, don't listen to what it says; look at where it spends its money. Disruption tends to start at the low end of the market and only gradually work itself upward; compared to what the core regularly delivers, disruptive products can seem less relevant at first, and hence more dispensable. That said, prioritizing the tried and true over the not-yet-known is not foolish or irrational; it's sound management until it's not, when disruptive developments are reaching full boil."

Dar prioridade ao que é “seguro” só é uma boa prática enquanto o mercado não muda de forma significativa. Para as PMEs, a “gestão prudente” deve ser equilibrada com uma abertura para a experimentação controlada. Isso pode significar realizar pilotos em áreas de inovação com um impacto mais modesto ou que ofereçam um ganho incremental, (pensamento estóico) possibilitando ao mesmo tempo o teste de novas abordagens que podem, mais tarde, levar a ganhos maiores em produtividade. 

No estoicismo, uma das práticas fundamentais é o preparatio malorum (preparação para dificuldades futuras), que incentiva a antecipação de possíveis cenários adversos. Esse pensamento lembra a necessidade de não confiar cegamente na "gestão prudente" que ignora o potencial de mudanças disruptivas. Assim como os estoicos incentivam a preparar a mente para o que pode acontecer de inesperado, as PMEs também devem estar prontas para responder a transformações no mercado que podem inicialmente parecer distantes, mas que se revelam inevitáveis.

Outro conceito estóico relevante é a flexibilidade mental e a capacidade de não se agarrar ao status quo. Para os estoicos, aceitar que o mundo e as circunstâncias estão em constante mudança permite que as pessoas ajam com serenidade, sem se paralisarem com o apego ao que é confortável.  


Trecho retirado de "Lead from the Future" de Josh Suskewicz.

domingo, novembro 03, 2024

Para reflexão

 

Imagem retirada do Twitter.

Curiosidade do dia

"Before the general election, Rachel Reeves told The Times:

"If I become chancellor, the next Labour government is going to be the most probusiness government this country has ever seen." Last Wednesday, she confirmed:

"Economic growth will be our mission for the duration of this parliament.""

Entretanto o orçamento inglês é apresentado e ...

Os Goa'uld nunca falham...



Acerca da importância da destruição criativa (parte III)


Parte I e parte II.

Ainda no segundo capítulo de "Creative destruction" de Phil Mullan, intitulado "Productivity in Decline", o autor aborda o tema da divergência entre os Estados Unidos e a Europa relativamente à evolução da produtividade, encontrando uma explicação diferente da avançada por Drahgi:

Em Creative Destruction, o autor atribui a falta de aumento da produtividade na Europa, em comparação com os Estados Unidos, a vários factores-chave:
  • Apesar da adopção generalizada das tecnologias de informação e comunicação (TIC) em ambos os lados do Atlântico, o crescimento da produtividade europeia continuou a abrandar. Robert Gordon defendeu que o aumento da produtividade nos EUA resultou de mais do que apenas as TIC, uma vez que as empresas europeias também utilizavam tecnologias semelhantes, como os PCs e os telefones móveis. De facto, a Europa estava à frente dos EUA em algumas áreas de adopção das TIC, como as redes de telefones móveis
  • Os EUA tinham uma maior dependência do consumo, particularmente impulsionada pelos gastos das famílias suportados em dívida. Esta economia centrada no consumo, especialmente no sector do retalho, contribuiu para uma parte substancial do diferencial de produtividade entre os EUA e a Europa.
  • O crescimento da produtividade nos EUA esteve fortemente concentrado em sectores específicos como o comércio grossista, retalhista e financeiro, onde as TIC foram amplamente utilizadas. No entanto, estes sectores tiveram um alcance limitado na economia em geral, indicando que o aumento da produtividade não foi tão generalizado ou transformador em todas as indústrias. 
Estas observações sugerem que as diferenças de produtividade têm menos a ver com as disparidades tecnológicas e mais com as diferenças estruturais e económicas entre os EUA e a Europa.

sábado, novembro 02, 2024

Curiosidade do dia


O relatório anual da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) revelou que no final de 2023:

  • O número total de estrangeiros a viver em Portugal ultrapassou 1 milhão pela primeira vez, chegando a 1.044.6061.
  • Isso representou um aumento de 33,6% em relação a 2022.

Entretanto, de acordo com o IEFP, o desemprego em termos homólogos (Setembro de 2024):

  • cresceu 3,7% na Agricultura
  • cresceu 8,4% na Construção
  • cresceu 13,1% no Alojamento, Restauração e similares
  • cresceu 7,2% no Comércio por grosso e a retalho
Quando é que a esquerda vai acordar para o problema dos baixos salários?


Estratégia versus plano

"Strategy myopia occurs when we fail to identify who we seek to serve, and focus on what we seek to produce instead. Empathy gives us a strategic advantage.

...
Empathy begins with the humility to acknowledge that you don't know what others know, want what they want, or believe what they believe ... and that's okay. If we're not prepared to move to where our customers are hoping to go, it's unlikely that they'll care enough to adopt what we care about.
...
You cannot compromise your way to an elegant strategy. Effective strategies come from tiny teams and insightful individuals, not committees. While it's tempting to invite people with power on the org chart to sit with us as we develop our strategy, this myopic move will likely amplify the defense of sunk costs.
...
To avoid strategic myopia, begin by looking for problems.
Problems demand solutions, and solutions become projects, and then, eventually, projects become industries.
...
An ongoing study of strategy implementation has repeatedly found that leaders typically spend less than one day a month working on and discussing the organization's strategy. The likely reason: It's easier to focus on plans and performance instead. Strategy feels soft, while there's "real work" to be done right now. [Moi ici: Isto faz-me lembrar algo que li há mais de 20 anos: "Nobody takes them seriously. They do "sissy work"... compared to "real men" who toil in "steel mills." (Oops, the latter are about gone.)" retirado de "Re-Imagine" de Tom Peters]
But as many other strategy experts have warned over the years, if you're going in the wrong direction, it doesn't matter how fast you're going.
Work on strategy today. You can always make plans tomorrow."

Trechos retirados de "How to Avoid Strategy Myopia" de Seth Godin.

sexta-feira, novembro 01, 2024

Curiosidade do dia

 

Muitos países apresentam uma tendência geral ascendente na cobrança de impostos em percentagem do PIB ao longo das últimas décadas. Os governos dependem cada vez mais das receitas fiscais em relação à dimensão das suas economias.

Os pontos vermelhos indicam que vários países, incluindo a Austrália, a Dinamarca, a França, a Alemanha, a Itália, o Japão, Portugal, a Espanha e os EUA, estão em ou perto dos seus níveis recorde de cobrança de impostos. Em alguns países, como Portugal, Noruega e Grécia, a receita fiscal tem aumentado significativamente nos últimos anos, atingindo ou aproximando-se de picos históricos.

Acerca da importância da destruição criativa (parte II)


O segundo capítulo de "Creative destruction" de Phil Mullan, intitulado "Productivity in Decline" discute o papel crítico da produtividade como motor central do progresso económico e a sua recente estagnação nas economias avançadas. 

O capítulo sublinha que o crescimento da produtividade impulsionou historicamente o progresso social através da criação de riqueza e da elevação dos níveis de vida. Esta tendência ascendente definiu em grande parte as fases de expansão capitalista, mas desde a década de 1970, o crescimento da produtividade abrandou, sinalizando uma contínua estagnação económica, ou o que o autor designa por “Longa Depressão”.
"Productivity tells us two main things about what an economy can provide. Its absolute level tells us how wealthy we are today. Its pace of change tells us how much wealthier we could be tomorrow.
Increasing productivity means an increasing amount of goods or services produced in a given time. A doubling of productivity should mean a doubling of wealth as expressed in double the volume of units produced.
...
The power of productivity is enhanced because its growth is cumulative: productivity growth begets more productivity growth. It generates the extra resources that can be devoted to the next round of productivity-enhancing investments. Also more productively created, lower-cost goods or services feed back into production by stimulating productivity improvements to bring costs down in other areas.
...
Unfortunately this virtuous cycle turns into the opposite when productivity slows: weak productivity also becomes self-reinforcing. Productivity sclerosis also diffuses."
O capítulo examina vários padrões e causas por detrás deste declínio da produtividade. Em primeiro lugar, os países que sofreram destruição de infra-estruturas durante a guerra, como a Alemanha e o Japão, conseguiram reestruturar eficazmente as suas economias e, assim, registaram ganhos robustos de produtividade no pós-guerra. Contudo, esta dinâmica vacilou na década de 1970 e o crescimento da produtividade tem registado uma trajetória descendente, especialmente depois de booms temporários, como a revolução das tecnologias de informação e comunicação no final da década de 1990, não terem conseguido sustentar o crescimento a longo prazo. Os esforços para aumentar temporariamente a produtividade, tais como medidas de redução de custos, expansão do crédito e financeirização, muitas vezes inflacionavam os ganhos de curto prazo, mas careciam de impacto sustentável, deixando as economias vulneráveis ​​uma vez dissipados estes efeitos temporários. Assim, o declínio da produtividade tornou-se auto-perpetuante, influenciando a estagnação dos salários, a melhoria limitada do nível de vida e o aumento da insegurança económica. Sem um foco renovado na inovação e no investimento sustentado em tecnologia e investigação, é pouco provável que o crescimento da produtividade recupere de forma significativa, afectando a saúde económica a longo prazo dos países desenvolvidos.

Um ponto importante, em linha com o que este blogue refere sob o lema "Deixem as empresas morrer!":
"Complementing the technological upgrading of existing businesses, sustained productivity growth therefore requires having a sufficient degree of turnover of businesses. Healthy business dynamism, in the sense of businesses closing and opening, is necessary to facilitate a continuing shift of resources from low productivity to higher productivity areas. Unless resources of people and capital can move out of less productive areas to allow more productive ones to establish and expand then economy-wide productivity languishes."

E mais à frente:

"the major economic problem of the Long Depression is not an absolute disappearance of investment and innovation but the wider economic atrophy that hinders their spread. When too many resources are stuck in low productivity areas and in zombie businesses - businesses that are too weak to invest in their underlying operations but have enough income from somewhere to survive - then the potential for the wider positive impact of particular innovative business investments will be frustrated."

 

quinta-feira, outubro 31, 2024

Curiosidade do dia

No jornal Público de ontem:

"Muito lucro, pouca margem

Tal como a poderosa indústria alemã se vê ultrapassada pelo marasmo (nas palavras da agência Bloomberg, tratou-se de abandono) em que se deixou cair, também a VW ficou a colher louros e a distribuir dividendos apesar de todos os sinais de alarme que vinham de longe.

Basta olhar para os resultados dos últimos quatro trimestres (de Junho a 2023 a Junho de 2024). O grupo sediado em Wolfsburgo liderou a indústria automóvel em receitas (350 mil milhões de euros) a larga distância do segundo, a Toyota (300 mil milhões). Mas quando se avalia a margem operacional (isto é, o lucro que fica na empresa por cada euro gasto em custos variáveis como salários e matérias-primas), a VW cai para o 27º lugar, numa lista de 63 fabricantes de automóveis de todo o mundo."

Típico do Público, confundir vendas com lucro. Aliás, uma tradição.

Acerca da importância da destruição criativa

 
"As Martin Wolf put it: 'the financially-driven capitalism that emerged after the market-orientated counter-revolution has proved too much of a good thing'. From this perspective, unrestrained market forces, expressed in diverse forms of speculation, lavish executive bonuses and increasing social inequalities, led inexorably to the crash.
...
we question this consensus, which is often proclaimed mistakenly as the triumph of 'neoliberalism'. Rather, markets are even less free than they used to be. The state did not retreat from economic life in the 1980s. Under the banner of deregulation', the form of state intervention changed significantly. While retreating from the traditions of economic policy aiming to encourage growth, the state offered subsidies to sustain industry and encouragements to the financial sector. Nor was there much evidence of an unleashed entrepreneurial spirit among capitalists. They preferred to avoid the risk of investment in new technologies or new areas of production, in pursuit of quick returns through financialised activities.
Policymakers have generally stumbled into solutions for immediate problems when they could no longer evade them.
...
Government policies have attempted to restore economic stability at the expense of establishing a solid dynamic for growth. Yet such state-led measures are ultimately counterproductive. Trying to stabilise the economy in its current state has the perverse effect of preserving its moribund features and stunting its development. While state intervention has moderated the worst features of decay, the economy has become increasingly sclerotic.
Short-term expedients have brought temporary respite while allowing deeper problems to fester. These policies have ultimately made the slump worse. By sustaining a stagnant productive base, the state has forestalled the process that Joseph Schumpeter named 'creative destruction'. Instead of encouraging the replacement of ailing companies by more dynamic enterprises, the government has opted to maintain a 'zombie' economy. Various forms of state support prop up firms that are incapable of boosting productivity through investing in new technologies. A dead economy is thus given the semblance of life and the appearance of resilience disguises a continuing process of decay. It will not be easy to escape the grip of the Long Depression. Though a comprehensive restructuring of production is needed to restore capitalism's value-creating capacity, the default option is always to avoid disruption. But 'creative destruction' on a significant scale is essential to restore growth. Older, less productive capital assets will have to be written off and replaced by a wave of transformative outlays on the latest technologies in newly emerging sectors of production."
Total alinhamento com o que aprendi com Maliranta em 2007:
"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."
Mas, e como isto é profundo:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."
Trechos retirados de "Creative destruction" de Phil Mullan.