quarta-feira, novembro 06, 2024

Não se deixem surpreender

Não se deixem surpreender:


No FT de ontem um artigo interessante na coluna "FT BIG READ" intitulado "A broken business model?" acerca da situação da economia alemã:

  • Dependência energética: O sucesso industrial da Alemanha tem dependido fortemente do gás russo barato. As tensões geopolíticas e a subsequente redução do fornecimento de gás levaram ao aumento dos custos energéticos, impactando a produção industrial.
  • Declínio industrial: Sectores como o automóvel, o químico e o da engenharia estão a atravessar crises. A produção industrial tem vindo a diminuir desde 2017 e a Alemanha regista um crescimento mínimo do PIB desde finais de 2021.
  • Desafios do sector automóvel: A mudança para veículos eléctricos e a concorrência dos fabricantes chineses afectaram negativamente a indústria automóvel da Alemanha, tradicionalmente uma pedra angular da sua economia.
  • Alterações geopolíticas: As alterações na dinâmica do comércio global, especialmente no que diz respeito à China, perturbaram o modelo orientado para as exportações da Alemanha, necessitando de uma reavaliação das relações comerciais.
  • Instabilidade política: O governo de coligação liderado pelo Chanceler Olaf Scholz enfrenta dificuldades em lidar eficazmente com estes desafios económicos, conduzindo à instabilidade política. Isto resultou num crescente apoio aos partidos da oposição que defendem reformas económicas.
Fico a pensar nas consequências do pântano alemão na economia portuguesa ...

  • Redução dos fundos europeus, e toda a gente sabe o quanto este país vive da poupança dos frugais com a Alemanha à cabeça.
  • A queda da procura alemã pode afectar as exportações portuguesas, especialmente industriais, impactando a produção e o emprego.
  • Menor consumo alemão pode reduzir o turismo em Portugal, prejudicando o sector turístico.
  • Empresas alemãs podem suspender ou reduzir investimentos em Portugal, afetando o crescimento e o emprego local.
  • A crise pode levar o BCE a ajustar as taxas de juro, elevando o custo da dívida para Portugal e limitando o orçamento do governo.
  • A UE pode exigir reformas em Portugal para aumentar sua resiliência económica e reduzir a dependência de subsídios.
  • A crise alemã pode abalar a confiança na zona euro, afectando empresas portuguesas que dependem de mercados externos e financiamento estrangeiro.
Mas, por outro lado, a crise também pode levar empresas alemãs a procurar parcerias em energias renováveis, onde Portugal, com o seu potencial em energia solar e eólica, pode atrair novos investimentos.

BTW, o artigo começa asim:
"I an 30-plus-year career in corporate restructuring, consultant Andreas Rüter has seen it all: the dotcom bust, September 11, the global financial meltdown, the euro crisis, Covid-19. But what's happening right now in corporate Germany is "unprecedented" and "of a completely different order of magnitude", says Rüter, the country head of AlixPartners.
The federal republic's all-important automotive sector, chemical industry and engineering sector are all in a slump at the same time. Rüter's firm is so overwhelmed by demand for restructuring that it's turning potential clients away." 

1 comentário:

Joao Rocha disse...

O drama da industria automóvel alemã não é a dependência do gás russo barato, mas da ruinosa transição energética. A Alemanha tinha a energia mais barata e mais limpa do mundo, a nuclear, arruinaram-na. Por trás deste desastre iminente existe uma longa cadeia de cumplicidades e dependências que, a longo prazo, a transformaram no pior reflexo da burocracia excessiva que domina a UE.
A industria automóvel alemã, e europeia, apesar da sua tradição inovadora, deixou de atender às leis do mercado e tornou-se numa industria intensamente politizada, da qual dependem milhoes de familias e é dirigida por políticos, executivos e sindicalistas.
Os burocratas de Bruxelas na sua "estratégia" de transição para a electrificação total, estabeleceram um prazo limite para o fabrico de motores de combustão. A electrificação tinha que ser total e em tempo recorde. Foi aí que a tragédia começou.
Quiseram replicar o modelo da Tesla, mas ignoraram diferenças importantes e muito menos favoraveis com a indústria europeia.
A conversão do enorme ecossistema industrial europeu num negócio que, embora conceptualmente possa parecer o mesmo (fabrico de automóveis), é radicalmente diferente devido à tecnologia, aos processos, aos materiais, às cadeias de abastecimento e à formação, representa uma transformação drástica a todos os níveis. Para além de um grande investimento e, consequentemente, de uma redução dos custos operacionais que compense os custos financeiros, é fundamental não só reciclar os quadros, como também reestruturá-los; Isto é, eliminando dezenas de milhares de postos de trabalho, talvez centenas de milhares.